Cap. 97 – Banquete das Chamas (2)
O súbito aparecimento do gigante do fogo transformou o salão em caos em um instante.
— Meu cacete!
— Vazaaaaaaa!
As pessoas ficaram assustadas e se espalharam, acabando colidindo umas com as outras. A maioria dos presentes era incompetente. Como resultado, não conseguiram manter sua razão e entraram em pânico.
O gigante abriu a boca ao vê-los. Quando a boca animalesca cheia de presas afiada se abriu, o que foi visto dentro era uma chama vermelha brilhante como a do fundo do inferno que queimava a pele deles mesmo de longe.
Com trajes pretos, os guardas, prontos para caso algo acontecesse graças à presença de pessoas importantes, agiram e sacaram a espada na cintura na mesma hora. Por mais que o número de guardas não fosse grande, considerando que um cavaleiro era igual a várias dezenas ou mais mercenários, a segurança não era pouca.
A primeira espada brandida atingiu a chama, a cortando com a aura contida na lâmina e desviando o fogo para outra direção. Um longo fluxo de chamas engoliu o teto que nem círculos concêntricos, o que destruiu todos os luxuosos lustres.
O candelabro, incapaz de suportar o calor, derreteu e caiu.
— Desviem!
— Fujam!
Gritos ressoaram em todos os lugares.
As pessoas em pânico esbarraram umas nas outras e caíram, mas outras pisaram nelas e continuaram correndo, como uma reminiscência de um campo de batalha. Foi então que os professores de Sören agiram.
— Por aqui!
— Devagar! Saiam com calma!
Espíritos apareceram em todos os lugares para bloquear ou remover detritos que caíam do céu. Espíritos de vento ajudavam os caídos, enquanto os da agua extinguiam as chamas.
Outros magos também não ficaram parados, algo nítido nos vários feitiços advindos de todos os lugares ao mesmo tempo em direção ao inimigo em comum. O gigante de fogo resistiu à magia com seu corpo.
— Devemos derrotar esse monstro!
— De onde diabos veio isso?!
— Apenas ganhem tempo! A evacuação vem em primeiro lugar!
Rudger olhou para a figura do gigante. Foi a primeira vez que o viu, mas aquela energia parecia familiar. Era claro que era o espírito de fogo de nível avançado que encontrou na floresta.
“‘Avançado? Não. É mais forte do que isso.”
Na hora, sentiu que era pelo menos um espírito de nível avançado; agora que o via, notou sua majestade extraordinária. Neste nível, era próximo a um espírito supremo de baixíssima probabilidade de ter nascido da essência da natureza.
“O nível supremo é o nível diretamente abaixo dos senhores elementais representando os atributos. E pensar que ela chamou um assim.”
No continente, os espíritos eram classificados do mais baixo para o mais alto. Entre eles, os espíritos de nível avançado pertenciam ao quarto e quinto grau em comparação com os magos, e os de nível supremo estavam perto do sexto. Acima disso estava o senhor elemental.
“Esmeralda… onde ela está?”
Rudger revirou os olhos. A pessoa mais suspeita era uma garota chamada Joanna Lovett, de quem Selina estava falando. Ela não foi vista desde que o gigante surgiu.
Ele precisava encontrá-la.
Assim que pensou, o gigante de fogo, que estava sob ataque, se mexeu de novo. O fogo no teto se esticou, como se respondesse ao grito do monstro, e se assemelhou mais a um líquido espesso com alta viscosidade do que um gás.
Quando caiu, os guardas se moveram com pressa.
— Não deixem os convidados se machucarem!
— Cortem ou se livrem! Façam o que quiserem!
Um dos guardas que gritou imediatamente balançou a espada e cortou as gotas que caíam.
— O quê?
A chama grossa que ele havia cortado não estava devidamente cortada, mas sim presa à lâmina. Se isso fosse tudo, não teria sido um problema, mas a chama se espalhou para o corpo dele em um instante. Mesmo sendo um cavaleiro, não tinha poder o suficiente para resistir a isso.
— Todo mundo, tenham cuidado! Vocês não devem tocá-lo!
— Se isso se prender à espada de vocês, joguem fora, caso contrário, morre!
Talvez porque o aviso foi um pouco tarde, mas mais três guardas foram queimados até a morte após a primeira vítima. Rudger franziu a testa com a visão.
“É porque o espírito usou o elemento? Não é como um fogo normal, mas mais como magma.”
Para um espírito ígneo, a forma das chamas era muito definida. Na verdade, se alguém olhasse com atenção para o gigante, veria manchas pretas por todo o seu corpo. Era literalmente a personificação do magma vivo.
“Ouvi dizer que os espíritos costumam mostrar o mistério e a magnificência da natureza.”
Dizia-se também que sua forma não era fixa, porém existiam algumas regras. Basicamente, um espírito assumia a forma de um animal, planta ou outras estruturas deformadas.
Quanto mais elevada o grau, mais forte a energia da Mãe Natureza, e quanto mais forte ela era, mais ela se diferenciava de um ser vivo.
Muito tempo atrás, vagando pelo mundo com sua mestra, Rudger testemunhou uma vez o senhor elemental da água. A aparência dele no momento era bem diferente do que as pessoas supunham e falavam. Parecia uma mistura de dragões orientais e baleias gigantes.
O ser, que era maior do que uma ilha, se movia acima do nível do mar, espalhando inúmeras ondas enormes e brancas como uma enorme névoa marítima pelas costas. Literalmente abraçava as maravilhas da natureza.
Mas o gigante de fogo à sua frente não fazia isso. Estava perto de ser adaptado aos sentidos humanos.
“Um espírito de nível supremo com forma humana.”
Forma humana com os braços cruzados. Embora fosse grande, parecia mais um pedaço bizarro de gordura do que músculos. As manchas pretas tornaram a sua aparência ainda mais medonha.
“Um espírito distorcido.”
Essa era a melhor maneira de descrevê-lo. E, enquanto olhava para o espírito, notou algo estranho.
“Não tem parte inferior do corpo?”
Em comparação com a parte superior do corpo peculiarmente ampliada do gigante, a parte inferior era quase invisível. Por não ter uma, soube imediatamente que era porque não foi convocado do jeito certo.
“Ela usou um mediador.”
Havia duas maneiras de tornar um espírito manifesto: a primeira era invocar um espírito através da sua magia. No entanto, se esse método fosse usado, pessoas sensíveis à magia poderiam reconhecer a identidade do invocador.
Nesse caso, o segundo método era usado. Ou seja, usava um mediador para invocar um espírito. Depende do tipo de mediador, um espírito de primeira linha não poderia ser invocado do jeito certo, a menos que um minério muito caro fosse usado.
“Mas a vantagem de usar um mediador é que o invocador não será descoberto… Foi a bandeja de prata na mesa.”
Era obviamente a bandeja que Joanna havia trazido no meio do salão de banquetes em segredo. Mesmo que estivesse incompleto, não era uma bandeja comum se tivesse poder suficiente para convocar um espírito supremo.
Foi uma sorte a identificação de Esmeralda. Todavia, a situação também não estava muito favorável para ele, já que ele não podia ir atrás de Joanna até que cuidassem do espírito.
“Agora não é hora.”
Ele olhou em volta. Os guardas estavam trabalhando duro para conter o gigante, e alguns magos também estavam atingindo-o com água e gelo. E na situação caótica, ele encontrou uma pessoa que ainda não havia evacuado.
“Isso…”
Sua expressão endureceu rapidamente.
* * *
“O que está acontecendo?”
René abriu os olhos. Ela se lembrava de estar andando servindo às pessoas até um tempo atrás, mas não conseguia se lembrar de nada depois de uma explosão na sua frente. Ela desmaiou?
Levantando a parte superior do corpo segurando a cabeça tonta, enfim percebeu o que havia acontecido no salão.
— O quê?
O meio, onde a festa deveria estar em pleno andamento, estava uma desordem completa por conta de um gigante de fogo causando estragos.
“Um espírito? Isso é um espírito?”
Um ser de grande estatura estava lutando contra os guardas e professores de magia no salão. Ele era tão poderoso que ela não conseguia adivinhar seu nível.
“Não é hora para isso. Eu tenho que correr!”
Enquanto Rene tentava mover seu corpo, ela sentiu uma dor ardente no tornozelo e franziu a testa.
“Minhas pernas.”
Ela tinha uma marca sangrando no tornozelo. Não era profunda, mas ela não conseguia se mover.
“Eu tenho que rastejar!”
Naquele momento, o gigante espalhou chamas ao redor. Devia ter a intenção de se livrar de todas as moscas que o incomodavam de uma só vez.
Rene viu e percebeu que não poderia evitar as bolas de fogo cujo poder transformava uma pessoa em cinzas, então fechou os olhos com força e esperou pela morte. Entretanto, naquele momento teve a sensação de ter sido coberta e puxada fortemente para algum lugar.
“Hã? Não dói?”
Rene abriu com cuidado os olhos fechados e viu Rudger olhando para ela.
— Rene.
— Senhor Rudger.
— Você está bem?
Por que ele estava aqui? Não, mais do que isso… ele a salvou? Ela estava virando a cabeça em desespero, o que não funcionou bem, e percebeu o que estava acontecendo.
Rudger salvou a vida dela.
— Senhor…
— Não se mexa.
Rene lutou para sair com o rosto tingido de vermelho, porém Rudger permaneceu imóvel. Ele segurou-a em seus braços, retirou-se para um lugar seguro e checou os ferimentos nas pernas dela.
— Não tem nada profundo. Uma pílula de recuperação resolve. Espere.
Vendo Rudger logo pegando uma garrafa de remédio, ela sentiu algo estranho.
“O que é isso?”
Obviamente, Rudger e ela tinham pouco contato; ela não tinha muito a ver com ele. Contudo, ele a salvou de uma crise e estava até tratando-a. Ocorreu-lhe que ela vira isso em algum lugar.
— Professor?
— O que houve?
Ela não sabia por que estava dizendo isso, mas queria muito perguntar.
— Nós já nos encontramos antes?