Arena – Capítulos 41 ao 50 - Anime Center BR

Arena – Capítulos 41 ao 50

Volume 1

Capítulo 41: O Rancho (1)

Nós matamos três licantropos no primeiro confronto e sete no segundo. Como eles iriam reagir, já que possuem intelecto semelhante ao dos humanos? Depois de tantas fatalidades, eles não continuariam descuidados. No mínimo nos atacariam em grande número.

Nessa situação, mesmo que andássemos mais rápido, não teria jeito de fugir dos licantropos. E, no fim, não teríamos opção que senão encarar eles. Nessa hipótese, estaríamos em desvantagem.

Na última noite, encurralamos sete licantropos com uma armadilha e aniquilamos todos com facilidade, mas essa foi uma vitória de estratégia. Se tivéssemos que lutar na floresta cheia de obstáculos com um grupo grande… não tenho confiança de que sairíamos vitoriosos.

“Contudo, não há exame que não possa ser completado.”

Acredito que a pista para resolver esse exame esteja nessa vila. Quer dizer, nas pessoas que vivem nessa vila, bem no meio do território dos licantropos.

Eles eram muito despreocupados, não tinham armas, nem mesmo cães de guarda!

“Não faz sentido não terem cachorros.”

É uma verdade que deduzi pouco tempo atrás, considerando que licantropos podem se transformar em humanos. Para identificar eles, cães seriam extremamente necessários. Uma vila hostil para com os licantropos deveria ter cães de guarda na entrada.

Porém, nessa vila, não havia nem um mísero cachorro.

“Vou investigar um pouco mais.”

Invoquei Sylph e comecei a examinar a vila para reunir informações.

 

***

 

Na praça, uma dezena de pessoas se aproximou do chefe, que tinha acabado de retornar após acompanhar o grupo para a casa vazia.

— Chefe, o quê aconteceu?

— Eu coloquei eles na casa em que o Jason morava.

— Isso não é muito perigoso, chefe? Eles disseram que lutaram contra os monstros.

— Meu, eles disseram que mataram dez…

As expressões dos moradores estavam tingidas de medo.

— Eles são perigosos…

Conforme conversavam, o chefe se perdeu em pensamentos.

Os licantropos que controlavam essa área, o Clã Prata, eram motivo de terror para os moradores dessa vila. Eles os temiam ao ponto de sequer pensar em se opor a seu domínio. Com isso, a aparição de viajantes que enfrentaram e mataram dez membros daquele clã foi suficiente para deixar a vila em estado de choque.

— Talvez estejam mentindo… Viajantes que andam por aí têm o costume de se gabar.

— Isso aí, também acho. Tenho certeza que eles só querem mostrar que são superiores a nós.

— Acredito que eles não encontraram nenhum licantropo ou mal conseguiram escapar de um ou dois.

Os homens falavam mal dos visitantes e tentavam desmerecê-los, mas o chefe balançou a cabeça.

— Eles não pareciam estar mentindo, pareceram sinceros demais para ser mentira.

Com essas palavras, a atmosfera se acalmou.

— E se eles forem viajantes poderosos? Ajumma Barry disse isso, ela disse que não pareciam ter medo dos licantropos…

— Isso mesmo. E se eles forem tão fortes que consideram os licantropos um aperitivo?…

— Isso é impossível.

O chefe disse, firme.

— Pode ser verdade que mataram dez licantropos, mas eles não devem ser tão fortes assim.

— Você acha?

— Não temos como saber.

Para as contestações dos homens, o chefe falou de novo.

— Seus idiotas, esqueceram daquele líder prateado?

Com essas palavras, as expressões se transformaram.

O líder prateado, por si só já é surpreendentemente assustador. Era provável que no mundo todo não existisse entidade mais forte que ele.

— Não há pessoa que possa olhar para aquilo e não sentir medo. Os viajantes simplesmente não viram ele por si mesmos.

— Então, nesse caso, o que fazemos?

— Continuamos como sempre.

Os olhos do chefe ficaram frios.

— Coloquem soníferos na comida que for servida a eles. Eles podem perceber algo estranho, então dividam entre o almoço e o jantar. E informem isso tudo ao Clã Prata, é provável que já saibam que eles estão aqui.

— Certo.

— Entendido, chefe.

Quando se virou, o chefe murmurou.

— Como sempre, isso é o que fazemos. Não precisamos de nenhuma mudança brusca.

Conforme voltava para casa, ele resmungou para si mesmo.

— Vivemos bem até agora…

Acima, havia algo pequeno observando a cena.

— Miau.

A forma de vida em forma de gato, feita de vento, abanou sua cauda suavemente.

 

***

 

O chefe prosseguiu conforme programado. Enviou um homem ao Clã Prata para transmitir as informações e ordenou as mulheres da vila para que servissem comida ao viajantes. Claro, refeições com sonífero.

De modo regular, procurou perguntar como os viajantes estavam, assim como observava sua movimentação. Talvez devido ao sonífero, ou por terem relaxado, o grupo foi dormir cedo.

“Tudo conforme planejado.”

O chefe sorriu silenciosamente para si mesmo e foi para casa. O lar do chefe, que vivia sozinho, sem uma família, era sombrio.

Ele pegou um pouco de vinho de uma prateleira, colocou em uma taça e bebeu. Era a parte do dia que ele mais gostava. Nesta vila “seca”, não há privilégio como o seu.

Envelhecer por envelhecer era um luxo ali, onde sobreviver por mais um dia é sorte. E o chefe era a pessoa mais velha da vila.

Isso era poder.

O chefe encontrou prazer a cada dia com o sabor do poder. De repente, pensou nos viajantes que vieram para a vila.

Sem dúvida, eles passaram por várias aventuras para sobreviver até este ponto. Esses viajantes eram fortes o suficiente para vencer licantropos. Eram mais incríveis que um velho chefe em uma pequena vila.

“Lamentável. Eles são jovens que com certeza viveram vidas muito mais incríveis que a vivida por esse homem velho, mas seus destinos não passarão desta noite.”

Ele lamentava o destino trágico deles. O fato de ainda poder sentir pena o fez se sentir alegre e satisfeito, porque pôde concluir que ele era melhor, já que, no final, ele ainda estaria vivo.

— Vocês são jovens e com futuros promissores à frente, não nos odeiem tanto.

Ele murmurou e tomou outro gole do seu vinho. Mas, então: — Você sabia que, se faz algo que mereça ressentimento, deve estar preparado para receber esse ressentimento?

Ouvindo uma voz atrás dele, o chefe engasgou, sentindo como se seu coração fosse parar de repente.

No susto, ele derrubou sua taça, que se quebrou e pintou o chão com vinho. O chefe se virou e olhou para atrás.

Seus olhos se arregalaram.

Alguém que deveria estar em sono profundo por causa do sonífero estava de pé diante dele.

 

***

 

É óbvio, não tocamos na comida. As mulheres que trouxeram a comida batizada para nós, e nos falaram para comer bem, eram assustadoras, mesmo tentando sorrir.

Imagino quantos viajantes eles enganaram, para estarem tão confortáveis com isso.

Conforme escureceu, usei as habilidades de Sylph para eliminar qualquer barulho e me infiltrei na casa do chefe.

Para uma pessoa que armou contra um grupo de visitantes, ele não mostrou nenhuma culpa e seu espírito livre e descontraído era desprezível.

— Você… você… como você…?!

— Eu vim lhe agradecer pela “maravilhosa” refeição.

— Oh, é mesmo? Haha, não há necessidade disso…

— Por que não me deixa sentar? Não tem mais cadeiras?

— Haha, claro, na verdade deixe-me chamar alguém para pegar algo para você beber.

Chamar alguém.

Posso dizer muito coisa a partir desse comportamento trivial: chamar alguém para algo tão pequeno. Esse chefe estava exercendo seu poder como a pessoa mais poderosa na vila.

De onde veio esse poder que está com um homem velho? Agora entendo o que é.

— Cala a boca e senta aí.

— …

Com minhas palavras, o chefe, que estava tentando deixar a casa, congelou.

— Se você não calar a boca e sentar, vou arrancar seus olhos com dois dedos.

Ameacei-o mais uma vez. Bem, essa é uma expressão que aprendi com Kang Chun-seong.

Felizmente, o chefe pareceu acreditar que eu sou uma pessoa capaz disso. Golpeado pelo medo, ele se sentou de forma obediente.

Olhei em volta, peguei uma cadeira e me sentei de frente para ele.

— No meio da noite não há ninguém vigiando, e sentinelas você tem apenas dois. — Continuei a falar. — Você tem um acordo com os licantropos, ou vocês são governados por eles. Ou um, ou outro. Estou certo?

— Isso, hm… 

— Se você não responder, vou cortar seus dedos um por um e te fazer comer.

— Tudo bem! Eu falo!

— Então, de que maneira você mantém sua relação com os licantropos? Eu pensei bastante sobre isso e formulei algumas hipóteses, escute. — Continuei. — Você disse que a vila é composta por pessoas fugindo de um lorde corrupto. Penso que essa parte seja verdade, só assim isso faria sentido. Pessoas fugindo de impostos abusivos continuam a vir para essa vila, e, toda vez, vocês dão a eles comidas batizadas. Depois, entregam os pobres coitados para os licantropos e, por causa disso, vocês mantêm suas vidas. Você deve ter pessoas coagindo outros para virem para esta vila estranha… Se não fizerem isso e não oferecerem essas pessoas, vocês é que serão as refeições. Estou enganado?

— Você está certo. — O chefe falou com uma voz trêmula. — Não é como se gostássemos de fazer essas coisas. Se fôssemos fortes como vocês, tenho certeza que teríamos enfrentado estes abomináveis licantropos. Mas, não somos fortes…

Os olhos do chefe começaram a lacrimejar e ele continuou falando, como se isso fosse libertador para ele.

— O número de moradores que se tornaram refeições deles! Se penso sobre todas as famílias e conhecidos que tivemos que sacrificar para sobreviver…

Não consegui continuar escutando e falei.

— Sylph, corte um dedo.

— Miau.

Com “lâmina de vento”, Sylph cortou o polegar direito do chefe.

Tendo visto sua mão direita com um dedo a menos, ele arregalou seus olhos e gritou. O grito desse velho desprezível não saia dessa habitação porque usei o poder de Sylph para eliminar o som.

Ele continuou gritando alto. Parecia que estava tentando chamar os moradores com seus gritos. Até nessa situação o desgraçado mantinha seus truques sujos. Eu ri, debochando e falei.

— Cale-se.

Bati em suas bochechas até ele ficar pálido. Parecia não conseguir acreditar que alguém mais jovem, como eu, estivesse estapeando ele.

— Que foi? Está confuso?

Segurei e ergui o queixo dele. Olhei no fundo de seus olhos e continuei.

— Você viveu governando essa vila como um rei, nunca pensou que estaria aqui, nessa situação?

— Isso, eh… 

— Um lixo de pessoa como você… acho que entendi como você vive aqui, tratando os outros como servos.

— …

— Nesse vila com mais de 200 habitantes, de gente com mais de 50 anos, só tem você.

Seus olhos ficaram esbugalhados. Acertei em cheio. Dei uma risada cínica.

— Você deve ter entregado qualquer pessoa de idade para os licantropos e quem decide quem vai virar refeição também é você. Tendo recebido essa responsabilidade dos licantropos, você se colocou como líder.

— Isso, isso era algo que alguém tinha que fazer. Se não fosse por mim, esta vila…

— Então deveríamos testar sua boa vontade, considerando seu sacrifício para com essa vila?

Puxei seu colarinho, aproximei seu rosto do meu e falei.

— Você chamou os licantropos para essa vila, não foi? Vou te usar e matar todos aqueles malditos. Mas, “pensando na segurança da vila”, você não pode se aliar a nós e fazer dos licantropos seus inimigos. Mas é claro que, se você não cooperar, eu vou te matar. E então, como vai ser? Quer fazer um nobre sacrifício?

Volume 1

Capítulo 42: O Rancho (2)

Percebi que estava preparado para fazer todo tipo de coisa terrível contra esse “chefe”. Não havia nada que me impedisse de acabar com um homem miserável que servia humanos como comida para monstros. Ele era um homem cem vezes pior que Park Go-chan.

Mas essa minha convicção era desnecessária.

— E-eu vou! O-o que for, eu vou ajudar! O que eu preciso fazer?

Sorri com a resposta assustada do chefe.

“Eu sabia que você iria.”

Os forasteiros que vieram para essa vila em necessidade… mesmo os moradores: ele ofereceu todos como comida para os licantropos. É praticamente um agente infiltrado dessas malditas criaturas. Não tem como uma pessoa como ele ter algum pingo de altruísmo.

— Quando os licantropos vão chegar aqui?

— Estão vindo essa noite. Devem chegar logo.

— Quantos?

— Geralmente vêm dois deles.

— Eles entram pela entrada da vila?

— Isso…

— Me fale tudo que sabe sobre os licantropos.

Com minhas palavras, o chefe pausou por um momento e, então, começou a explicar.

— Os licantropos que controlam essa área possuem pelo prateado e são conhecidos como Clã Prata. Até onde sei, seus números estão acima de uma centena no momento.

— UMA CENTENA?!

Fiquei surpreso. De acordo com o Centro Coreano de Pesquisa da Arena, os grupos de licantropos eram formados por cerca de vinte membros, em média.

Mas, uma centena?

— Eles não eram tantos no começo. Há uns anos eles mal eram 20.

Seguindo a informação do centro de pesquisa, os licantropos viviam em grupos familiares. O pai se tornava o líder do grupo, no qual viviam suas esposas e filhos. De acordo com suas habilidades, ele poderia reunir mais esposas e ter mais filhos.

O tamanho do grupo era determinado pela quantidade de terras que controlavam. Isso porque a prole era proporcional ao número de presas possíveis de se capturar na caçada.

Contudo, no clã Prata, esses licantropos foram bem-sucedidos em aumentar os membros de seu grupo através de um novo método de sobrevivência.

“Uma revolução incrível! O líder do Clã Prata deve ser formidável!”

Isso poderia ser comparado a maneira como o homem pré-histórico aumentou a população graças à agricultura. Os malditos passaram de comida proveniente de caça para “criar gado”!

“Criar gado!”

É uma expressão nojenta.

Por acaso, enquanto humanos surgiam no seu território, o líder do Clã Prata captou uma nova oportunidade. Deixar que os humanos desenvolvessem uma vila própria, e então dirigir isso como um rancho, uma fonte constante de comida.

Assim, reuniram alimento com segurança e se propagaram bem rápido, tendo sucesso em ampliar os números do clã a uma centena.

Ampliando os números do grupo familiar cinco vezes em 20 anos, isso significa que o líder do Clã Prata tinha grandes ambições. E, para ter sucesso nisso, ele aumentou o poder do seu clã.

“Que merda… A posição do Centro de Pesquisa estava errada. Deveríamos ter escolhido passar pelo território dos trolls!”

Se os inimigos fossem um grupo normal de licantropos, as habilidades da nossa equipe teriam sido mais que suficientes para derrotar eles. Porém, o inimigo era um grupo de mais de cem, liderados por um líder inteligente o suficiente para se modernizar.

Sério, teria sido melhor termos ido pelo território dos trolls. Não importa o quão fortes os trolls fossem, eles não andavam em grupos. Sendo assim, poderíamos escapar e passar por eles.

“Se a gente não usar esta vila, não vamos conseguir completar essa missão!”

Havia grandes chances de eu ter que tomar uma decisão cruel, muito pior das que esse chefe infeliz tomou.

Naquela noite, usei o bendito para falar aos moradores não saírem de suas casas. Então, fui para a entrada da vila com meus colegas de equipe e ficamos de tocaia por ali.

O plano era eliminar os licantropos de uma vez assim que chegassem na vila.

— Miau!

Um pouco depois, Sylph retornou da patrulha e desenhou o número 4. O que significava que vieram 4 licantropos.

Falei com Kang Chun-seong.

— Quando eu der o sinal, saia e chame a atenção deles, para que olhem para você por um instante. Vou usar esse momento para atirar neles, mas lembre-se que temos que deixar um deles vivo para que volte.

— Entendido.

Enfim os licantropos apareceram. Os desgraçados entraram confiantes através da entrada principal.

E agora era o começo.

— Certo… agora!

Dei um tapa no ombro do chefe.

— Uh…!

O chefe estava tão atemorizado que no começo nem conseguiu se mover. Assim, me aproximei ao ouvido do chefe e sussurrei.

— Se tentar alguma coisa, Sylph cortará sua garganta.

— E-entendi.

— Agora vá.

O chefe parecia estar à beira do choro quando foi empurrado por mim. Ele se aproximou dos licantropos que vieram para a vila. O chefe, que estava aterrorizado como nunca antes, inclinou sua cabeça e cumprimentou os recém-chegados.

— Oh, bem-vindos! Estávamos esperando ansiosos a sua chegada.

Não foi uma saudação. O infeliz estava quase abrindo as pernas para eles.

— Onde eles estão?

Um dos licantropos perguntou, e o chefe apontou para o nosso alojamento.

— Como de costume, botamos soníferos na janta e colocamos eles para dormir. Esses tipos não suspeitaram de nada e desmaiaram.

— Nos guie.

— Sim, sim. Me sigam.

O chefe assumiu a frente e começou a andar.

Uma atuação impressionante. O segredo dessa atuação era confiança. Até hoje ele ofereceu sua própria gente como comida para esses monstros. O simples pensamento disso me enoja.

— Agora.

Nas minhas palavras, Kang Chun-seong assentiu com a cabeça e saiu correndo. No mesmo momento, executei outra ação.

— Arma.

Mosin-Nagant apareceu na minha mão direita. Entreguei para Sylph.

— Huh?

— O que é isso?

O licantropo olhou para a figura Kang Chun-seong, que passou correndo de repente, com suspeita. Para eles, era estranho ver uma presa correndo na sua direção nesta vila que era como uma despensa ao ar livre.

Contudo, eles logo ficaram desorientados.

Com um disparo, a cabeça de um deles explodiu.

— Não, NÃO!

Sem saber a causa, um camarada que havia vindo com eles morreu do nada e isso lançou os licantropos no caos.

Grito!

— Me salva! Me salva!…

Com gritos apavorados, o chefe saiu correndo. Sem perder esse momento, Kang Chun-seong, com audácia, correu e deu um chute giratório no ar.

Contudo, talvez o movimento de ataque tenha sido muito longo, os licantropos de imediato se espalharam.

Ele pousou e imediatamente avançou para o licantropo a sua direita.

— Como se atreve, humano!

O licantropo irritado rasgou o redor com suas longas e hediondas garras.

Kang Chun-seong chicoteou seu braço esquerdo e neutralizou o ataque. No mesmo instante, com sua mão direita, agarrou e puxou o joelho do licantropo que, no momento crítico, perdeu o equilíbrio e caiu.

Kang havia alcançado a posição superior e deus socos rápidos como se fossem disparos.

Socos.

Kang Chun-seong deixou o licantropo em frangalhos com seus incríveis socos consecutivos.

Nesse intervalo, Sylph puxou o ferrolho, se livrou do cartucho vazio e mirou de novo.

Disparo!

Grito!

Dessa vez, um licantropo havia sido atingido no coração. Segurando o buraco no seu peito, e com um olhar vazio, sua fisionomia morta deixou uma impressão assustadora.

Agora, só restavam dois. Não.

Ossos quebrando!

O soco de Kang Chun-seong esmagou o pescoço do licantropo, agora só restava um.

— Como, como isso pode acontecer! Eles nos enganaram!

O licantropo restante olhou com ódio para o chefe, que estava distante e, sem saber o que fazer, estremeceu.

— Só espere! Vamos punir todos vocês!

O licantropo se virou e começou a correr.

— Seria estranho deixar ele voltar sem machucados. Sylph, atire na perna esquerda dele.

— Miau.

Com minhas palavras, Sylph puxou o gatilho sem nenhuma hesitação.

Disparo!

Grito!

Um som triste pôde ser ouvido e o corpo manco de um licantropo logo desapareceu na escuridão.

Bem, quatro licantropos foi uma vitória fácil. Sem falar que não foi um confronto direto, mas uma emboscada unilateral. Contudo, o chefe, quem contribuiu para esse grande sucesso estava quase explodindo em lágrimas.

— Mas, agora, o que está por vir para essa vila…

“O quê, vocês estavam todos condenados pelos licantropos.”

O chefe, que contribuiu para o ataque, sem dúvida desejava que todos os licantropos tivessem sido mortos. Dessa maneira, não seria descoberto que ele cooperou conosco. Porém, de propósito, deixei um deles retornar vivo, de modo que em breve o Clã Prata saberia que ele trocou de lado, e que os levou direto para uma armadilha.

Essa vila se tornou inimiga dos licantropos.

— Agora, os desgraçados vão tomar esse incidente como sinal de que essa vila se aliou a nós para derrotar o Clã Prata.

— …

— Portanto, você e a tua gente não têm escolha, senão juntar forças conosco e enfrentar eles.

— Você fala algo impossível…!

— Você não acabou de ver com seus olhos? Digo, o quão fácil os eliminamos.

— Sim, mas mesmo assim: os números do Clã Prata estão acima de uma centena! Mesmo com vocês sendo seres fortes, mesmo que todos nós nos juntemos para derrotar eles, não há chance de vitória!

— E então o quê? Você vai colocar o rabo entre as pernas? Tentar explicar que tudo isso foi um mal-entendido, que você estava sendo ameaçado por nós, que não teve escolha?

Sorri de forma fria para o trêmulo chefe.

— Claro, se implorar bastante, talvez a vila continue existindo, mas você acha que o líder poupará sua vida?

— …!

— Mesmo que você tivesse sido ameaçado, você ajudou a matar alguns deles. É improvável que deixem você vivo. Acredito que farão de você um exemplo, e vão te matar de alguma forma bem grotesca.

— Então, então, o que eu faço agora?

— Como eu disse, lute conosco. Você não deveria estar desesperadamente convencendo os moradores a lutarem contra os licantropos para que possam salvar sua própria vida?

Os moradores da vila, que estiveram por um longo tempo sob o controle dos licantropos, não teriam coragem para pegar em armas e lutarem, não agora.

Mas se eles dissessem que não lutariam por medo, o chefe seria um homem-morto. Ele teria que pagar por cooperar conosco. Sendo assim, visando salvar apenas a sua própria vida, ele teria que instigar os moradores a lutar.

— O líder do Clã Prata é uma fera inacreditável. Sé-sério, vocês confiam que podem vencer?

— Você viu a arma que eu tenho, não viu? Com isso, não importa o quão forte o desgraçado seja, ele vai morrer em um instante. — falei de forma confiante.

O chefe com um corpo trêmulo, concordou com a cabeça.

— Entendi, eu vou convencer o pessoal e vamos enfrentar eles.

— Você tomou a decisão correta. Vamos pensar positivo, não é essa uma boa oportunidade para escapar dessa vida patética de fornecedor de gado?

— …

O chefe teve que carregar um fardo pesado e, cabisbaixo, desapareceu em algum lugar.

— Hyung, você é incrível! Esse era o seu plano desde o começo?

Joon-ho correu para a minha frente com admiração e eu assenti.

— O chefe é um homem egoísta, foi fácil de manipular.

Deve ter sido por esse motivo que os licantropos fizeram dele seu agente.

— Se lutarmos com o pessoal da vila, deve ser o suficiente para enfrentar os licantropos.

Hye também estava feliz, porém balancei minha cabeça.

— Não vai funcionar.

— Hm?

— Esqueceu? Nós só temos alguns dias restantes. Nossa missão não é eliminar os licantropos, mas sim escapar da floresta.

— Oh! Então o que você está fazendo?

Para essa questão, eu respondi com um tom frio.

— Nós colocamos essa vila e os licantropos em uma batalha e usaremos isso para fugir

Volume 1

Capítulo 43: Fuga (1)

— Enfim chegou o momento de romper o domínio dos licantropos!

O chefe tinha reunido todos os moradores e estava fazendo um fervoroso discurso.

— Nos criando como animais para nos usar como alimento… QUANTO TEMPO VAMOS VIVER ABAIXANDO NOSSAS CABEÇAS DESSE JEITO?!

Aquilo não deveria ser algo para se falar, visto que ele havia sido o primeiro a se curvar. Os moradores estavam confusos pela súbita mudança do chefe, que de repente havia se transformado em um combatente.

— Eh, chefe, qual é o motivo de você falar essas coisas assim, de repente?

— Não é como se vivêssemos submissos porque gostamos deles, mas como vamos enfrentá-los?

Um homem levantou uma boa pergunta, a qual o chefe apontou para nós e falou.

— Isso é graças a essas pessoas estarem aqui!

A atenção de todos se voltou para nós.

Hye-su, com uma expressão desconfortável, curvou seu pescoço. Joon-ho também parecia que tinha levado uma facada.

Depois que escutaram meu plano, os dois ficaram daquela maneira.

Reunir os moradores da vila para que eles enfrentem os licantropos, fingindo que lutaremos lado a lado, e então fugir. Era um plano cruel: usar os moradores como simples sacrifícios para que ganhássemos mais tempo.

“Eu também sei disso.”

Isso era pior que as coisas que o chefe veio fazendo todo esse tempo. O velho ao menos tinha a desculpa de que tudo o que fez foi para a sobrevivência da vila.

Por outro lado, eu tinha dado a eles a esperança da liberdade e, ao invés disso, estava guiando-os para a morte para que minha equipe sobrevivesse.

“Seja como for, os moradores não podem ajudar muito.”

Eles eram pessoas que há muito tempo vinham sendo controlados sem poder fazer nada. Unir forças com esse povo não nos daria a oportunidade de vencer contra mais de 100 licantropos. Sem falar que o líder do Clã Prata é bem inteligente e forte.

“Nesse caso…!”

Com isso, sacrificar essas pessoas para que pudéssemos fugir era o melhor a se fazer. De qualquer forma, uma vila como essa desapareceria em algum momento.

…Ao menos é como eu tentava dar sentido a isso

E daí? Onde havia nesta vila uma pessoa sem nenhum pecado?

Ali não estava cheio de pessoas fracas sem culpa. Eles ofereceram outros seres humanos para os monstros, para que se salvassem. Ser fraco e ser bom não são sinônimos.

Então, mesmo que lançássemos essas pessoas para a morte seria legítima defesa!

— Esses viajantes disseram que vão nos libertar dos nossos carrascos! Eu vi: os quatro licantropos que vieram para a vila… eles cuidaram deles em um instante! Uma façanha difícil de acreditar!

Sabendo minhas intenções ou não, o chefe os convenceu com sua voz firme. De forma inacreditável, os moradores que haviam perguntado como poderiam lutar, foram convencidos pelo líder.

Acabou que eles tinham um olhar cheio de esperança quando nos olhavam. Seus olhares eram como se vissem os “enviados” para trazer sua libertação. Do meio deles, um homem de repente perguntou.

— Vocês vão mesmo lutar por nós?

Com essa pergunta, Hye-su e Joon-ho se encolheram e eu dei um passo à frente.

— Lutar por vocês? Essa frase é um pouco bizarra.

— Hm?

— Você fala como se nós fossemos lutar pela liberdade de vocês em vez de dizer que vocês mesmos lutarão pela sua liberdade. Nós não vamos lutar “por” vocês, vamos lutar “com” vocês.

Na menção de “lutar” as expressões dos moradores se escureceram de novo, eles estavam com medo.

— Se todos não levantarem suas armas e enfrentarem os licantropos, nós, com certeza, não teremos motivo para lutar. Se for assim, nós simplesmente vamos fugir. Vocês provavelmente vão sofrer retaliação pelas mortes dos quatro licantropos. Os desgraçados devem pensar que vocês se aliaram a nós contra eles.

— Não fomos nós que matamos os licantropos!

— Vocês que mataram eles! Essa situação é culpa de vocês!

— É isso mesmo, nós não somos os culpados aqui!

Eles tentaram passar a culpa para nós e seu comportamento quase me fez vomitar.

— Vocês querem dizer que não tem culpa? Que não foi errado colocarem soníferos na nossa comida? Mesmo aqueles que tentaram nos oferecer como “comida de lobo” estão todos reunidos aqui? Se eu quisesse eu poderia me vingar por isso e matar todos vocês agora e partir.

Misturando ameaças e uma fala forçada, os moradores recuaram com medo. O único jeito de trabalhar com eles, era por meio do medo.

— Decidam se vão lutar ou não. Se não quiserem lutar, iremos embora agora.

Eles olharam uns para os outros.

— Claro que lutaremos! Essas pessoas falaram que vão lutar ao nosso lado, não teremos outra oportunidade como essa! — Falou o chefe.

As mulheres foram tomadas pelo nervosismo e os homens um a um confirmaram.

— Eu, eu vou lutar.

— Já que a situação está assim, não há outra escolha senão lutar.

— Mesmo que continuemos vivendo assim, não vai demorar muito para virarmos comida de qualquer jeito.

O chefe comemorou e falou para mim.

— Você viu? Decidimos lutar.

— Então se preparem para a batalha. Não temos muito tempo. Vocês têm armas?

— Temos alguns arcos que usamos para caçar e alguns machados que usamos para cortar lenha. Todas as outras armas que tínhamos foram confiscadas…

“Claro que foram.”

Sem chance que eles deixariam os escravos ficarem armados.

— Preparem o máximo de arcos e flechas que conseguirem e, conforme o número de pessoas, façam algumas lanças de madeira.

— Entendido. Todos ouviram isso?

— Sim!

Os homens puseram a mão na massa e eu fiz mais solicitações para o chefe.

— Reúna os homens capazes em grupos de quatro e peça a eles que se revezem para patrulhar a cerca. Quando os desgraçados aparecerem eles devem gritar avisando.

— Certo, entendi. E…  quanto a vocês?

— Primeiro vamos patrulhar a área em volta e nos livrar desses cadáveres.

Apontei para os três licantropos mortos.

— Tudo bem.

O chefe acreditou nas minhas palavras sem suspeitar de nada. Gesticulei para meus colegas.

— Vamos, Joon-ho e Kang Chun-seong, peguem um cadáver cada.

— Sim, hyung.

— Vou pegar.

Carregamos os corpos nos nossos ombros. Hye-su nos seguiu e juntos saímos da vila.

— Hyung, por que trouxemos os corpos com a gente?

— Primeiro temos que coletar o majeong.

— Ah… 

— Também vamos usar os cadáveres para outra coisa, mas, primeiro, vamos pegar o majeong.

Sylph pegou o majeong de dentro dos corpos e Hye-su os colocou na sua bolsa.

Olhei em volta, cortei alguns cipós e os enrolei ao redor dos pescoços dos cadáveres e pendurei os três em uma árvore.

Três corpos de licantropos pendurados em uma árvore, esse foi um bom arranjo para provocar o pessoal do Clã Prata.

— Hyung, isso…

— É uma provocação. Quando virem isso, eles ficarão furiosos. Somado a isso, como acha que vão reagir quando virem os moradores segurando armas prontos para lutar?

— Eles… vão atacar?

— Exato, temos que eliminar qualquer chance de diálogo. Temos que ter certeza de que ambos os lados lutem.

Para os licantropos, essa vila era uma importante fonte de alimento. Se matassem todos os moradores, também seria uma perda muito grande para eles.

Mas, assim, eles pensariam que não fazia sentido tentar dialogar e logo atacariam. Enquanto os moradores resistiriam.

Enquanto eles estivessem se enfrentando, teríamos que fugir para o mais longe possível.

“Então vai ficar tudo bem.”

Não havia nada mais importante que completar o exame.

— Vamos, não temos muito tempo.

— Está bem…

A resposta de Hye-su foi um pouco fraca. Vi ela se sentir culpada, e isso deixou meu coração inquieto.

Contudo, me convenci de que estava certo, que essa era a única maneira de completar esse exame.

Seguimos sentido Oeste.

 

***

 

— Portanto, você é o único que sobreviveu?

— Sim, pai! Aquele velho chefe nos enganou!

Os irmãos que haviam sido enviados para a vila, morreram. Só um deles voltou, e mancando.

A notícia de que a vila ousou se rebelar, fez com que o clã ficasse furioso.

— Temos que matar todos eles!

— Como ousam matar nossos irmãos?! Os humanos enlouqueceram?!

— Temos que matar eles de forma brutal!

Os licantropos rosnavam conforme condenavam os humanos. Parecia que sua natureza selvagem, que gostava de matar, foi despertada.

Contudo, o pai continuou sangue-frio. Pensou profundamente e, então, perguntou para o seu filho sobrevivente.

— E você sobreviveu?

— Por sorte fui atingido na perna e consegui fugir.

— E quanto a arma dos humanos?

— Como o Helgi disse, com um barulho alto “disparo”, alguma coisa voou tão rápido que eu não consegui ver direito e entrou em nós. Com o som, meus irmãos morreram.

— Mesmo assim você conseguiu sobreviver?

— Eu tive sorte.

O pai olhou com frieza para seu filho e depois rompeu em um sorriso.

— Acho que não.

— Não?

— Da forma como vejo, acredito que os malditos deixaram você vivo para retornar.

— …?

Ignorando seu filho que não conseguia entender, o pai se levantou e falou para todos os licantropos que estavam reunidos na encosta.

— Todos, se preparem para a batalha. Antes do dia clarear vamos terminar isso!

Os licantropos ficaram alegres e entusiasmados. A palavra “batalha” fez o sangue dos licantropos ferver.

“Rugidos”

No meio da noite, o terrível uivo dos licantropos de cima da encosta se espalhou pelo céu noturno.

O pai acenou para Helgi, que imediatamente se aproximou.

— Sim, pai.

— Pegue todos e ataque a vila.

— Eu? Então, pai…

— Tem outra coisa que eu preciso verificar.

Isso foi tudo que ele disse enquanto sorria.

 

***

 

Os homens seguraram suas lanças, prontos para a batalha. Todos estavam bem determinados.

Eram pessoas que fugiram de impostos abusivos. Porém, depois de escaparem de um lorde tirano se escondendo na floresta, um “governante” ainda mais assustador estava esperando por eles.

Os licantropos não coletavam dinheiro ou grãos, mas, sim, vidas humanas.

Todos viviam sofrendo sob a pressão de que seu destino, algum dia, seria o de se tornarem comida para lobo. Essa era uma vida tão miserável que eles chegavam a ansiar pela vida sob a tirania do lorde.

Incapazes de conviver mais tempo com isso, houve aqueles que tentaram fugir da floresta. Mas, no fim, suas cabeças apareciam na frente da vila no dia seguinte.

Viviam sem viver, mas isso terminaria ali.

Depois de decidirem que lutariam, os moradores, que sofreram aterrorizados, explodiram de raiva. Em vez de voltar a viver como antes, eles definiriam se viveriam ou morreriam, iam dar um fim para isso.

Então…

“Rugidos.”

O uivo dos licantropos ressoou por toda parte. Os moradores estavam morrendo de medo.

— Sã-são eles!

— Eles já estão aqui!

— Todos! Trabalhem juntos! Temos que lutar!

Os moradores tinham vivido bastante tempo vendo os licantropos e, com isso, sabiam que os uivos de agora mostravam muita raiva.

— Mas… o que aconteceu com aquelas pessoas? — Alguém perguntou.

Os homens se olharam entre si, se perguntaram e, por fim, olharam para o chefe.

— Aquelas, aquelas pessoas, disseram que estavam indo patrulhar…

A cara do chefe estava em confusão.

Por que as pessoas que disseram que estavam indo patrulhar não apareceram mesmo quando os licantropos chegaram tão perto?

Volume 1

Capítulo 44: Fuga (2)

Um plano difícil. Liderei meus colegas de time no ritmo mais rápido possível.

“Não temos tempo.”

Se eu fosse o líder dos licantropos, exterminaria a rebelião o mais depressa possível. Não tinha necessidade de dar aos moradores da vila tempo para se preparar para a batalha.

Contudo, eu podia garantir que eles não atacariam a vila de forma precipitada. Os infelizes “sabiam” que estávamos ali. Temendo o poder da arma de fogo, eles não agiriam por impulso, mas seriam cuidadosos.

Quanto mais longa a batalha, melhor. Quanto mais tempo ela durasse, mais tempo nós teríamos para fugir.

“A essa altura, os moradores devem ter percebido que nós fugimos…”

O chefe, que era acostumado a pregar truques, já devia ter percebido. Mas era inútil.

A sorte já havia sido lançada, e, mesmo sem nós, eles não tinham escolha senão lutar. Se eles se rendessem agora, não havia garantias de que os licantropos os perdoassem.

Viver, nem sempre envelhecer, e virar comida.

Como se pode viver sob essas circunstâncias? Eu não sei se poderia viver de forma tão miserável, sem futuro. Devia ser assim que os moradores se sentiam.

O que eles precisavam era de alguma coisa que explodisse o “barril de pólvora” que tinham reprimido. E ele explodiu agora. Sendo assim, eles lutariam como se não houvesse amanhã.

O fato de que centenas morreriam graças a mim… É um fardo pesado no meu peito.

“Meus olhos não estavam enganados. Eu não disse? Participante Kim Hyun-ho é uma pessoa capaz.”

As palavras do Anjo Bebê passaram pela minha cabeça.

“Todo momento, cada segundo, suas tomadas de decisão e ações foram decisivas e calculadas. Que humano comum seria capaz de fazer o exame como o participante Kim Hyun-ho fez? Agora você percebe que não é uma pessoa comum, mas, definitivamente, um humano especial?”

— Aquele desgraçado…

Sem perceber, soltei um xingamento.

— O que foi?

Joon-ho perguntou, surpreso. Hye-su e Kang Chun-seong também estavam olhando para mim.

— Vocês acham que o que fiz foi errado?… — perguntei. — Havia outra opção além sacrificar todos os moradores?

O clima ficou pesado.

— Você fez o certo. — respondeu Kang Chun-seong. — As pessoas daquela vila não eram apenas fracos e inocentes. Se você não tivesse descoberto o plano daquele chefe, está claro qual teria sido o nosso destino.

Fiquei sem palavras, e ele continuou.

— Aquelas pessoas tentaram nos matar para que pudessem viver. Como humanos, em vez de defender princípios morais, eles priorizaram a própria sobrevivência. Nós apenas fizemos a mesma escolha. Se eles tivessem se aproximado de nós com boas intenções, não teríamos tomado esta decisão.

— Você acha isso?…

— Sim, então nem pense sobre isso.

Joon-ho e Hye-su também falaram algumas palavras encorajadoras.

— Eu também acho que você fez certo, hyung.

— Também não acho que você fez errado, oppa. É só que… eu acho que este tipo de situação, em que temos que tomar esse tipo de decisão, é bem dura.

— Eu compreendo… Também não gostei de tomar aquela decisão. Certo, vamos continuar.

Continuei a me mover e meus colegas me seguiram.

Kang Chun-seong falou que se eles tivessem se aproximado com boas intenções, nós não teríamos sido capazes de tomar tal decisão.

“Não teríamos?… Se eles fossem pessoas gentis, eu não teria sido capaz de usar eles? Não tenho certeza disso…

“Que tipo de pessoa eu sou e como esses exames estão transformando meu caráter, não estou certo disso.

“Quanto mais o tempo passa, mais exames vivenciaremos. Pode ser que, com o tempo, eu não sofra mais dessa angústia. Essas emoções podem diminuir ao ponto de eu ansiar por elas.

“Depois de me tornar uma pessoa assim, eu serei capaz de rir com a minha família?

“Não sei…

“Vou parar de pensar nisso. Primeiro, tenho que sobreviver.”

Caminhamos distraídos, sem trocar palavras. Apenas andamos. Por fim, uma exausta Hye-su falou.

— Vamos descansar um pouco, depois continuamos.

— Ah, desculpe. Agora que penso sobre isso, nós não descansamos nenhuma vez. Seus pés estão bem?

— Não é grande coisa, mas é que as bolhas estouraram, e tá um pouco desconfortável. Vou tratar um pouco delas.

— Certo.

Descansamos um pouco. Hye-su tirou suas botas e meias. Seu pequenino pé estava uma bagunça, repleto de bolhas novas e outras já estouradas.

Ainda bem que tínhamos uma poção de cura muito boa, dada pelo participante veterano do time de Yoo Ji-soo.

Hye-su abriu a tampa da garrafinha, derramou uma pequena quantidade em uma bolha estourada no seu pé e espalhou como se fosse uma pomada. Então, de forma surpreendente, o machucado se fechou.

Joon-ho e eu olhamos para isso com olhos arregalados.

— Uau, o resultado é mesmo rápido!

— Realmente!

Nesse ritmo, acho que até mesmo uma grave lesão seria curada de imediato. Depois de tratar de todas suas feridas, Hye-su vestiu as botas e meias de novo.

Invoquei Sylph.

— Sylph, patrulhe para nós, por favor.

— Miau.

Sylph desapareceu, mas retornou muito mais rápido que o comum, soltando um miado agudo.

— Miau!

Nos surpreendemos e ficamos de pé imediatamente.

— É um inimigo?

Sylph assentiu e desenhou um número com seu corpo. 1.

— Um inimigo?

— Miau. — Sylph assentiu.

— É um licantropo?

Perguntei incerto; porém, Sylph assentiu de novo.

Um licantropo nos seguiu. O que ele estava pensando? Tinha esqueceido que 13 licantropos já morreram por nossa causa?

— Qual a distância?

Sylph desenhou o número 272.

“Certo, um disparo com a arma.”

— Arma.

Mosin-Nagant apareceu na minha mão. Peguei as balas que estavam guardadas no meu bolso, carreguei, e entreguei para Sylph.

— Vamos terminar isso agora.

— Miau.

Sylph assentiu, assumiu a posição de atirador e puxou o gatilho.

O disparo soou ao longe.

— Você o pegou?

Sylph balançou a cabeça. “Isso é suspeito, Sylph atirou e não conseguiu finalizar com um disparo? Sylph não cometeria um erro…”

— Atire até você pegar ele.

— Miau.

Assim, Sylph atirou 4 vezes consecutivas. Depois de disparar as cinco balas carregadas ela olhou para mim com uma expressão envergonhada.

Dei a ela outros cinco cartuchos com balas.

Sylph continuou atirando.

“Ela atirou todas essas vezes e ainda não acertou ele?”

— Ele está segurando algo como um escudo?

Sylph assentiu.

“Eu sabia.”

Da última vez, um deles usou um cadáver dos seus como escudo e fugiu. Parece que esse infeliz ouviu sobre isso e está usando algo similar para se aproximar.

— Todos! Se preparem! Alguma coisa está errada!

— Certo, hyung.

— Entendido.

Joon-ho e Hye-su pegam suas respectivas armas, mas então.

— Miaaaaaaauuuuuu!

Sylph soltou um grito estridente. Ela parecia estar nos avisando de algo. Quando ficamos surpresos pelo barulho dela, alguma coisa voou com um flash.

Impacto. Grito.

Com um terrível som de impacto e um grito mortal. Era a voz de Joon-ho.

— AAAAA! JOON-HO! — Hye-su gritou.

“O que diabos aconteceu?” Eu me virei.

“…?”

Fiquei tão chocado que não consigo falar nada. Uma flecha estava fincada no peito de Joon-ho, bem fundo no seu coração.

Os olhos de Joon-ho estavam esbugalhados. Sem brilho. Mortos.

Eles estava assim, morto. Quando apenas alguns instantes atrás, ele, Joon-ho, estava vivo.

— Sylph! Se livre de todas flechas que vieram em nossa direção!

— Miau! — respondeu Sylph.

Contudo, foi uma medida tardia. Joon-ho já estava morto.

“Seria bom saber que isso ia acontecer só um pouco antes…”

Me irritei comigo mesmo. O inimigo estava usando um escudo e possuía inteligência similar a um humano. Sendo esse o caso, eu deveria ter imaginado a possibilidade dele usar armas.

Tive vontade de culpar Sylph, “por que ela não nos avisou disso? Por que ela apenas gritou um alerta e não bloqueou a flecha voando em direção ao Joon-ho?”

Mas os espíritos são limitados, e não podem falar ou agir sem um comando. Não podem ser proativos.

— Miau.

Sylph me alertou com um miado baixo e outra flecha veio voando. Dessa vez, ela usou suas lâminas de vento para despedaçar a seta.

A flecha foi cortada em vários pedaços e caiu no chão. Ela me mirava.

— Então você é o invocador do espírito.

De algum lugar à frente, uma imponente voz masculina pôde ser escutada. Era um licantropo. O desgraçado continuou a falar.

— Hm, esse item que o espírito está segurando é a problemática arma…

— …

— Formato longo, afiado e com um buraco… então o metal é lançado desse buraco? Sendo assim, só preciso esquivar de onde o buraco esteja apontando…

Uma impressionante observação e excelente tomada de decisão.

— Parece que vocês só tem uma dessa arma, sendo assim, isso não faz as coisas muito fáceis?

— …

— Nosso clã também, licantropos, desprezam demais os humanos. Por isso não usamos muitas coisas feitas pelo homem, porém, se usado de forma adequada, os resultados são muito bons. Como agora mesmo.

O desgraçado é incrível, suspeito, perguntei.

— Você é o líder dos licantropos?

Ele respondeu pronto.

— Sou.

Claro! Para ser tão cuidadoso…”

Uma criatura de mente aberta, que sabe como usar itens feitos pelo homem.

Esse era o líder que introduziu a “criação” e aumentou em cinco vezes os números do Clã Prata.

A conversa parou aí.

O inimigo estava se escondendo em algum lugar e não falou mais nada. Nós não podíamos fazer nada mais a não ser nos preparar para o próximo ataque.

Com um som cortante, outra flecha voou e Sylph usou suas lâminas de vento para eliminá-la.

As ações e comportamento do líder do Clã Prata, não nos atacando, parecia muito estranha. Se o tempo estiver ao seu lado ele não precisaria se apressar…

“Espera… tempo? Tempo!”

Agora eu percebi o plano do líder do Clã Prata

O desgraçado sabia sobre invocação de espíritos, e sabia muito bem que o tempo para manter um espírito invocado era limitado. Ele estava esperando que o tempo de invocação de Sylph acabasse!

— Sylph, onde ele está?

Sylph apontou com sua pata dianteira.

— Distância?

Dessa vez, usando sua cauda, ela desenhou o número 16 no chão.

16 metros, uma distância curta.

Assim, atacar o desgraçado agora parecia ser o melhor plano para alcançar a vitória. Conforme o tempo passava, nosso time, com tempo limitado de invocação de espírito, estaria em desvantagem.

Mas então, Sylph desenhou outro número no chão, 32.

Logo apagou e corrigiu para outro número, 59.

Surpreso, perguntei para ela.

— Ele está recuando?

— Miau!

Sylph assentiu e eu senti um arrepio tomar conta do meu corpo.

O inimigo recuou longe o suficiente para não ser atingido pelos ataques do espírito. Ele sabia bem que o tempo de invocação dos espíritos é limitado e que, quanto mais longe, mais fraco o poder dele.

Seu plano era claro. Mantendo uma distância moderada, ele pretendia arrastar o andamento da batalha. Se eu tentasse poupar o tempo de Syph e chamá-la de volta, ele se aproximaria de novo e dispararia mais flechas.

“Tenho que invocar Sylph frequentemente para poupar o tempo de invocação…

“O inimigo é muito inteligente.”

Meu coração estava batendo forte, o medo se instalou em mim.

“Com o quê e como vamos lutar com um monstro que além de poderoso é astuto? Não consigo pensar em nenhuma ideia para superar a situação.”

Mas, primeiro, temos que nos mover.

— Vamos, temos que fugir.

— E o maldito? — perguntou Kang Chun-seong.

— Ele quer uma batalha demorada. Conforme o tempo passa, ficamos em desvantagem. Não temos outra opção senão fugir dessa floresta.

— Entendi.

— Oppa… e o Joon-ho… e-ele… — perguntou Hye-su, quase chorando.

Vendo Joon-ho caído morto com uma flecha no seu peito, senti como se meu coração fosse arrancado. Parecia que ele ia se levantar a qualquer momento e me chamar de “hyung”.

— Vamos, temos que ir.

Assumi a liderança. Hye-se me seguiu, segurando as lágrimas. Kang Chun-seong caminhou atrás, vigiando nossa retaguarda.

Volume 1

Capítulo 45: Fuga (3)

Quando se usa a habilidade “invocar espírito” e o tempo de invocação acaba, ele pode ser recuperado enquanto o espírito não estiver invocado. A restauração ocorre em um minuto para cada cinco corridos.

Por causa disso, eu costumava invocar Sylph a cada cinco minutos, e a enviava para patrulhar por um minuto inteiro. Era incômodo invocá-la de tempos em tempos para chamá-la de volta em seguida em um ciclo quase infinito, mas eu era capaz de poupar tempo para o caso de uma batalha surpresa.

Contudo, a situação agora era bem diferente.

Eu nunca imaginaria que o líder do Clã Prata surgiria do nada e começaria a atirar flechas sem que percebêssemos. Não podíamos ficar sem Sylph por cinco minutos inteiros, então, reduzi o tempo de cinco minutos para 25 segundos.

Sempre que a invocava, perguntava: — Onde ele está?

Em seguida, ela desenhava um número, que representava a distância entre ele e nós. Depois, eu retornava Sylph antes que cinco segundos tivessem passado, e voltava a chamá-la em 25 segundos, repetindo o processo.

A distância variava. Às vezes, o líder prateado estava a mais de 100 metros, e, na checagem seguinte, a 60. Isso se repetia, perto e longe, nos deixando nervosos.

1 segundo, 2 segundos, 3 segundos, 4 segundos…

Essa situação, em que cada segundo era contado, estava me enlouquecendo. Porém, estava nela porque precisava economizar tempo de invocação, se não, estaríamos perdidos.

“Droga… Nesse ritmo, vou ser o primeiro a ficar exausto…”

Ter que contar os segundos enquanto fugia era horrível, mas nosso maior problema era nossa resistência.

“Ele deve estar pensando de um ponto de vista tático, fica só metade de um dia nos caçando.”

A gente poderia correr por meio dia sem descansar? Era possível. Mas o caso era outro com perseguidores em nossa cola.

Sem parar, ele diminuía e aumentava a distância entre nós, nos deixando nervosos. De vez em quando, nos surpreendia disparando flechas em nossa direção. Ele parecia gostar da tensão de caçar suas presas em fuga.

Estávamos mentalmente exaustos.

Eu estava com dificuldade, mas Hye-su estava sofrendo ainda mais. Tendo o físico mais fraco, e sofrido um choque com a morte de Joon-ho, ela ficou exausta ainda mais rápido que o normal.

“Isso não vai dar certo…”

Eu tinha que terminar a batalha de qualquer jeito, e rápido.

Não importa o quão forte ou inteligente o maldito fosse, morreria de qualquer jeito se acertado na cabeça.

Dei uma ordem a Sylph.

— Sylph, pegue a arma, vá por trás dele e atire.

— Miau!

A força dela diminuía conforme se afastava de mim, seu invocador, mas ela não deveria ter problema para puxar o gatilho. Assim, ela pegou o Mosin-Nagant e foi. Alguns momentos depois, pode-se escutar o disparo.

O som de disparo e de metais se chocando anunciou uma falha.

Ele bloqueou o tiro com seu escudo.

Os disparos continuaram a soar, mas o barulho que os seguia era sempre o som do escudo bloqueando. Em pouco tempo, Sylph havia disparado todas as cinco balas e voltou.

“Como ele sabe de que direção o disparo está vindo?”

Era impossível pra ele notar a bala na velocidade dela, isso indicava que ele sentia o disparo antes de ocorrer.

“Ele tem alguma forma de sentir onde o espírito está?”

Eu não conseguia entender. Estava tão exausto mentalmente que minha cabeça parecia estar girando. Mesmo assim, tentei atirar mais algumas vezes, mas todas falharam. Só serviram pra gastar tempo de invocação.

O tempo passou lentamente, mas logo amanheceu.

— Oppa…

Hye-su me chamou com uma voz cansada e entregou sua mochila para mim.

— Oppapega isso…

— Quê?

Para a minha surpresa, Hye-su sorriu conforme falava

— Só para o caso, você sabe…

Em caso…

Hye-se devia estar pensando que, dentre nós três, ela seria a primeira a morrer.

— Não pensa assim…

— Pega logo.

— Hye-su…

— Meus braços estão doendo!

Por fim, peguei a mochila de suas mãos.

— Vou te devolver isso depois do exame.

— Certo, quando o exame acabar.

Com o item em mãos, disse “desequipar”. Logo que fiz isso, a mochila desapareceu, o que significava que o item agora estava em minha posse.

Hye-su se cansou mais rápido.

Com um nervosismo pesado, não descansamos e continuamos a andar. Para ela, isso era muito difícil. Embora eu também estivesse morrendo de cansaço, sabia que ela estava sofrendo bem mais.

Essa pressão que sufocava o peito…

Meu senso de dever, que me falava para não deixar Hye-su morrer também, só piorava a minha situação.

Invoquei Sylph mais uma vez.

— Sylph, ataque ele mais uma vez, dessa vez pela direita.

— Miau!

Sylph pegou o rifle e se moveu para a direita.

“Tenha sucesso dessa vez!”

Mesmo orando pelo sucesso, outra falha aconteceu.

Como um som desesperador, o ruído da bala contra metal soou. Os cinco disparos consecutivos foram bloqueados pelo escudo.

Porém, depois disso: — Miauuu!

Sylph voltou às pressas e deu um aviso agudo.

“Sem chance… Não é possível…”

Uma flecha veio voando. O maldito tinha se aproximado e começado o contra-ataque. Ainda bem que a flecha foi bloqueada pelas lâminas de vento de Sylph. Ela havia entendido o comando de antes, para bloquear qualquer flecha que viesse.

As flechas continuaram a voar e, toda vez, as lâminas de vento destroçavam-nas. Contudo, as lâminas usavam bastante poder e, quanto mais poder usado, mais o tempo de invocação diminuiria.

— Sylph, rápido! Recarregue!

Eu gritei e entreguei cinco cartuchos.

Sylph continuou a derrubar as flechas com suas lâminas de vento conforme recarregava a arma. Entretanto, logo quando ela fez isso, como se nunca tivesse ocorrido, o ataque de flechas parou.

“Merda…”

Nenhum de nós foi ferido, mas o dano sofrido foi grande. Só de bloquear a chuva de flechas gastamos muito do tempo de Sylph. O líder do Clã Prata era muito inteligente. Tão inteligente que sua esperteza era assombrosa.

— Ele percebeu que temos que recarregar a cada cinco disparos. Por isso contra-atacou depois de bloquear as cinco balas.

Com as minhas palavras, Kang Chun-seong soltou um leve suspiro.

“Para um licantropo que nunca teve experiência com uma arma ter descoberto isso… é um feito impressionante.”

— Alguém tá ferido?

Kang Chun-seog assentiu para as minhas palavras, porém Hye-su estava em um péssimo estado. Ela não estava machucada, mas segurava bem firme sua espada com as mães trêmulas.

— Eu não aguento mais!

Hye-su derrubou a espada e explodiu em lágrimas, ela estava em um estado de completo pânico e exaustão.

— Hye-su, eu sei que é difícil, mas você tem que aguentar.

Ela sentou no chão enquanto chorava.

— Me desculpe, oppaEu… eu acho que nã-não consigo fazer isso, é-é muito difícil continuar ca-caminhando.

— Vamos, só um pouco mais Hye-se.

— Só me deixa pra trás e vai embora! Por favor! Eu não consigo! Tô exausta!

— Para de falar besteiras como essa! — gritei, irritado.

— Me desculpe, oppa…

Ela caiu em prantos de novo. Kang Chun-seong, que estava nos observando, falou.

— Vamos descansar e depois continuamos, também estou cansado.

— Isso… soa bem.

Todos caímos no chão onde estávamos para descansarmos um pouco. Porém, não descansamos nem por um minuto quando escutamos o maldito falar: — Vocês estão cansados?

A voz dele parecia estar a uma curta distância. Nos assustamos e levantamos.

— Tenho certeza que o poder do espírito já deve estar quase acabado também.

— Por que você não testa isso?

Ele foi bem preciso. Mas, visando esconder isso dele, não recuei e respondi. Contudo, foi possível escutar o maldito rindo à nossa volta.

— Você não pode me enganar. Eu peguei muitas das suas obstinadas tentativas de acabar com a luta.

— Venha nos testar, então.

— Hahaha, você é um humano engraçado. De todos os humanos que já vi, você é o mais inteligente e forte psicologicamente.

Fiquei em silêncio, ouvindo ele continuar.

— Você jogou todos os moradores daquela vila como uma isca, na tentativa de escapar… Impressionante! Eu pensei em uma possibilidade e, assim, persegui vocês. Você está sendo parte da primeira caçada divertida que eu tenho em um tempo.

“Caçada…”

Para ele, tudo isso era uma mera caçada.

Cerrei meus dentes.

— De vez em quando, alguns humanos fugiam daquela vila e toooda vez eu ia em uma caçada. Como essa! Eu ia devagar… Atirava flechas para instigar o medo, atormentá-los; você sabe. Até o humano cair amedrontado e exausto. — Ele riu. — Você pode imaginar isso? Quando eu me revelava, eles ficavam aliviados! Me imploravam para matar eles e acabar logo com isso! Ver esse momento, quando o terror supera o desejo de sobreviver… Eu via isso e sentia um senso de dever cumprido!

Ele era tão perverso, maligno e inteligente, gostava de brincar com as mentes humanas como se fossem brinquedos. Ele ser esse tipo de criatura deve ser o motivo de ter a ideia de criar humanos como gado em um rancho.

— Tudo bem estarem orgulhosos. Estive bem entretido até aqui, e de todos os, bem…, “jogos”…, nenhum aguentou tanto quanto vocês. Eu meio que queria estender isso mais um pouco, mas vou acabar logo para vocês. Vamos terminar  isso agora.

Peguei a arma de Sylph. A uma distância pequena, as lâminas de vento são melhores que o rifle.

O mato à nossa frente se mexeu e uma criatura se revelou. Se mostrando para nós pela primeira vez, ele estava em sua forma humana. Era um homem bonito, alto e com um brilhante cabelo prateado.

Com uma mão em um escudo e outra em uma besta, ele falou, se curvando com um sorriso debochado: — Apresentações primeiro. Sou o líder do Clã Prata, Leon Silver.

A aparência dele começou a mudar. Pêlo começou a crescer por seu corpo e seu físico ficou maior. Suas garras alongaram. O que ele virou não era humano, nem animal. Ele estava coberto de pêlo prateado.

Era um licantropo maior que qualquer outro.

Fui tomado por um momento de pânico, porém voltei aos meus sentidos e gritei para Sylph.

— Ataque!

— Miau!

Sylph lançou suas lâminas de vento e, ao mesmo tempo, Leon Silver também se moveu.

O maldito foi para a esquerda e para a direita em um zig-zag relâmpago, se esquivando de todas as lâminas.

Kang Chun-seong avançou com um chute. Mas Leon agachou e se esquivou. Nas quatro patas, ele se aproximou de mim bem rápido.

Carreguei o Mosin-Nagant, mirei e puxei o gatilho.

Uma árvore foi atingida pela bala.

Então, ele veio com suas garras.

Rugido!

Surpreso, caí de costas, e suas garras roçaram o topo da minha cabeça.

— Miau!

Sylph gritou, enquanto lançava suas lâminas de vento. Como um fantasma, o inimigo pulou e se esquivou de todas.

Ele pousou de forma tranquila e, dessa vez, foi atrás de Hye-su.

— Hye-su!

Eu logo puxei o gatilho, mas minha mira imprecisa não podia acertar o maldito que se movia com agilidade.

Hye-su estava cerrando os dentes e empunhando com força sua espada. Leon Silver riu de forma leviana, como se tudo isso fosse ridículo.

— Vou fazer isso de forma agradável, senhorita.

— Ahhhh!

Hye-su gritou e balançou sua espada, em uma resistência inútil.

Corte!

Naquele segundo, era como se o mundo tivesse parado. Nesse tempo “congelado”, observei inexpressivo a cena que se passava em frente aos meus olhos.

Era um sonho.

Não.

Era um vil pesadelo.

Quatro longas garras atravessadas no corpo de Hye-su.

Gemido!

Ela soltou um gemido e desabou sem vida. Seu corpo caiu sem forças no chão. Em seus últimos momentos ela estava olhando para mim. Me olhava com olhos lacrimejados. Olhos tristes.

“Me desculpe, oppa… Ao menos, Hye-su pôde descansar em paz…”

— Hye… Hye-su!

Gritei, quase chorando.

Leon Silver me encarou. Vendo meu estado, seus olhos estavam sorrindo. Como se estivesse esperando para ver o desespero em meu rosto.

— Ugh, AHH!

Mirei nele e puxei o gatilho.

Disparo!

Assim que o som do disparo soou, o maldito se moveu para o lado e desviou sem problemas. Ele estava se movendo para fora do alcance do rifle, com base na direção do cano.

Puxei o gatilho, me livrei do cartucho e atirei de novo, mas não houve disparo. Eu tinha usado todas as cinco balas.

Peguei a reserva do meu bolso e recarreguei. Minhas mãos não me obedeciam. Estavam trêmulas. Eu não conseguia segurar direito as balas, nem mesmo colocá-las na câmara.

O maldito estava me observando tentar. Enquanto ria.

Volume 1

Capítulo 46: Retorno

Em um mundo completamente vazio, não havia nada além de branco. Eu havia retornado para esse enfadonho mundo branco.

— Você veio, participante Kim Hyun-ho.

O Anjo Bebê me cumprimentou depois que atravessei a porta do exame. Talvez ele tivesse algum respeito pelos sentimentos dos outros, já que, dessa vez, ele não tocou sua detestável buzina.

Me sentei no mesmo lugar que apareci. Ao passar pela porta do exame, todo meu corpo foi curado, mas não minha exaustão mental.

Com um desolado tom de voz, o Anjo Bebê falou: — Você veio sozinho.

— …

“Vim.”

Eu estava sozinho. Só uma pessoa havia retornado para aquele lugar. Apenas eu retornei daquele inferno.

Joon-ho e Hye-su estavam mortos. E eu não vi Kang Chun-seong morrer, mas, vendo que ele não voltou, era óbvio que tinha morrido.

Naquele dia, perdi a razão depois que Hye-su morreu e quem me salvou foi Chun-seong.

— Vá em frente, eu cuido disso.

Nessas palavras, retornei à realidade. Contudo, como eu poderia escapar sozinho?

Eu hesitei. Tínhamos que lutar juntos!

Porém, eu já não era de ajuda. O tempo de invocação de Sylph havia acabado e ela desapareceu.

Kang Chun-seong, tirou a atenção de mim, seus olhos estavam focados apenas no poderoso Leon Silver. O maldito olhava para ele como se tivesse encontrado um novo brinquedo.

— Vá! Eu vou colocar um fim nisso e já te sigo. Não importa quanto tempo leve, eu vou voltar.

E, assim, deixei Kang Chun-seong para trás e fugi.

Não importava se era dia ou noite, corri como um louco. Minha sorte foi que meu físico com “fortalecimento corporal” nível inicial 4 era capaz de suportar isso.

Antes que eu percebesse, a floresta acabou. Quando cheguei a uma montanha alta e íngreme, a porta do exame apareceu na minha frente. Olhei para ela e desabei no chão, chorando.

Joon-ho assassinado em vão.

Hye-su, olhando para mim com seus tristes olhos no momento de sua morte.

Kang Chun-seong, me mandando fugir enquanto continuava a lutar sozinho.

Nesse momento, com um sentimento de solidão, percebi que estava sozinho. Senti como se fosse enlouquecer. Como líder do time, não só sacrifiquei os moradores da vila, como também sacrifiquei meus companheiros para sobreviver.

— Você parece triste.

Ouvindo as palavras do Anjo Bebê, voltei do meu flashback.

— Contudo, você completou o exame. Então, meus parabéns, participante Kim Hyun-ho, você recebeu a pontuação mais alta dessa vez também.

— …

— Amigo, você não tem energia, isso não é engraçado.

O Anjo Bebê tentou brincar comigo de forma delicada, mas eu não tinha forças para responder, ele olhava para mim e então falou.

— Sendo assim, aí vem um teste para te dar energia!

— …

— Quando você usava Sylph para disparar, como Leon Silver sabia a direção da qual a arma estava disparando sem ver?

Com essas palavras, meus olhos arregalaram.

Sim, eu também achei isso estranho. “Como ele sabia de onde o disparo vinha? Ele não conhecia os movimentos de Sylph, então…”

Pensei profundamente e respondi com o que me veio à mente.

— Olfato…

— Correto!

— Maldito seja!

Era o cheiro. Sylph, claro, não tinha cheiro ou ruído, mas o Mosin-Nagant sim. Atiramos tantas vezes, devia ser o cheiro de pólvora.

“Fui estúpido. Se eu tivesse percebido isso antes… Usando o poder de Sylph, seu eu tivesse eliminado o cheiro antes de disparar, talvez tivéssemos um resultado diferente. Depois da morte de Joon-ho e com os jogos mentais do maldito… eu não pensei com clareza. Se eu tivesse feito só um pouco melhor… Hye-su não tinha que ter morrido!”

— Já sei, huh.

O Anjo Bebê falou após ler meus pensamentos.

— Se o participante Kim Hyun-ho tivesse feito um pouco melhor, a participante Lee Hye-su provavelmente não teria morrido.

— Seu desgraçado!

— Hehehe.

Estava furioso e olhei para ele com ódio, porém o Anjo Bebê voou em círculos e riu.

— Você aprendeu uma pequena lição hoje!

— Que lição? Que se for estúpido você morre?

— O que você quer dizer com estúpido? Participante Kim Hyun-ho fez muito bem nesse exame também. Mas, mesmo assim…

Ele bateu suas asas e voou em minha direção, com seu rosto perto do meu.

— Você precisa fazer melhor que isso.

— …

— Em situações de tensão, mesmo quando próximo à morte, o participante Kim Hyun-ho deve ser sangue-frio e sensato. Você entende? Pois, estou torcendo para que você chegue ao fim.

— …

— Agora, você deve se apressar e ir, te vejo de novo no próximo exame.

Logo que o Anjo Bebê estalou seus dedos, a porta do exame apareceu. Eu a abri e caminhei em direção à luz intensa.

E, assim, o terceiro exame acabou.

 

***

 

O Centro de Pesquisa estava em pânico. Incluindo Cha Ji-hye, todos se moviam ocupados.

Lee Joon-ho, Lee Hye-su e Kang Chun-seong estavam sendo tirados de seus quartos em macas.

Os três haviam morrido de parada cardíaca. Esse era o último passo para aqueles que morriam na Arena. Contudo, ao menos no mundo real, seus corpos estavam inteiros, o que era um pouco reconfortante. Ao menos aqui eles pareciam em paz.

— Você está bem?

Cha Ji-hye veio e me perguntou. Respondi de forma débil.

— Eu pareço bem?

— Me desculpe, foi uma pergunta inútil.

— O que vai acontecer com Joon-ho e Hye-su agora?

— Estamos levando eles para o hospital. Eles serão tratados como mortes súbitas e então suas famílias serão notificadas.

— Acredito que isso é o que vai acontecer comigo também.

— Se você perder sua vida na Arena, sim.

Conseguia imaginar isso fácil. A cena da minha família agarrando meu cadáver aos prantos. Para a família é um choque inesperado.

— Por hoje, volte para casa e descanse. Podemos escutar o seu relatório sobre o terceiro exame quando estiver estável e recuperado mentalmente.

— Certo.

Cha Ji-hye disse uma breve despedida. Talvez ela estivesse com pressa, porque desapareceu em algum lugar.

Então, o time de Yoo Ji-soo terminou seu exame e saiu.

Yoo Ji-soo, Cha Jin-hyuk e Lee Jin-yong, 19ª rodada. Não, Agora era a 20ª rodada do time deles. Todos os três retornaram em segurança. Invejei eles.

— Uau! Há quanto tempo não te vejo! Tinha esquecido completamente de você! Qual o seu nome mesmo?

A loira Yoo Ji-soo fez um alvoroço quando me viu.

“Faz tanto tempo que esqueceu meu nome?”

Achei o comportamento dela estranho, mas o bondoso Lee Jin-yong explicou para mim.

— Vocês estão na sua terceira rodada, então seu exame durou no máximo umas duas semanas. Nós tivemos que completar uma missão de três meses.

— Ah…

Eu passei dez dias na Arena. Eles passaram três meses. E, mesmo assim, todos acordamos no mesmo dia. Era estranho. Retornamos ao mesmo tempo, mas havíamos vivido quantidades diferentes.

— E os outros membros? — perguntou Cha Jin-hyuk.

— Você quer dizer a maldição das segunda e terceira rodadas?

Aquela resposta foi suficiente. Os rostos de Yoo Ji-soo e Lee Jin-yong congelaram.

— Droga…

Cha Jin-hyuk coçou a cabeça

— Todos morreram menos você? Um time como o de vocês? Impossível! Que raios de exame foi esse? Aquele cara, Kang Chun-seong, suas habilidades eram incríveis!

Disse Yoo Ji-soo, incapaz de acreditar nisso.

— Foi tudo minha culpa.

— Merda… e agora? Você vai ter que completar os exames sozinho?

— Suponho que sim.

Então, Lee Jin-yong veio até mim e tocou o meu ombro.

— Não desista porque você está sozinho. Existe uma maneira de conseguir ajuda de participantes em áreas próximas.

— Outros participantes?

— Sim. Participantes em áreas próximas, às vezes, resgatam equipes em dificuldades como você. O Centro de Pesquisa provavelmente vai verificar se há algum time próximo para te resgatar.

— Às vezes eles só desistem dos times sem expectativas também. — disse Cha Jin-hyuk.

— Ei! — repreendeu Lee Jin-yong.

Cha Jin-hyuk não ligou e continuou.

— Não confie tanto no Centro de Pesquisa. Eles não são uma organização beneficente. Mesmo que pareça que eles estão ajudando de forma incondicional os participantes, eles não são gentis o suficiente para investir mão de obra e recursos em um time sem expectativas. Ainda mais em um time como o seu, com todos os membros mortos, só com um solitário novato de terceira rodada.

— Ei! Pare de falar suas merdas desnecessárias!

Yoo Ji-soo gritou irritada com Cha Jin-hyuk.

— Eu só tô explicando. Ele deve perceber a facada nas costas antes que seja tarde demais, precisa se preparar. — Cha Jin-hyuk continuou a falar para mim: — Escute com cuidado. Sua gerente Cha Ji-hye é uma mulher sincera, mas as pessoas acima dela não são assim. Ela está em uma posição em que tem que reportar de forma regular seu desempenho para os poderosos acima dela, e eles não vão fazer nada que os prejudique. Eles provavelmente vão destruir seu contrato e descartar você.

— …

— Prepare seu espírito para isso, e não importa o que, tente o seu máximo para sobreviver. Antes de ir para casa, peça pra Cha Ji-hye te dar toda a informação que ela tiver da Arena. Caso você seja descartado, não terá mais como ter acesso a essas informações.

O aviso de Cha Ji-hyuk foi frio, mas de grande ajuda para mim.

Depois de escutar tudo, isso fez sentido.

Não parecia lógico o Centro de Pesquisa gastar um monte de dinheiro, tempo e esforço em um time como o meu, com uma grande probabilidade de morte.

Além disso, não era um contrato longo, mas de apenas um ano, de modo que seria ainda mais fácil se livrar dele.

Me curvei de forma profunda para Cha Jin-hyuk

— Obrigado pelo aviso.

— De nada, agora vá.

— Calma, espere!

Yoo Ji-soo me segurou e entregou seu celular.

— Seu número.

— Desculpe?

— É bom estar em contato com camaradas participantes, você sabe.

— Ah, sim.

De maneira obediente, inseri meu número no celular de Yoo Ji-soo e ela deu umas palmadinhas no meu ombro.

— Aguente firme. Além disso, não há nada que possamos falar.

— Obrigado.

Com o aviso de Cha Jin-hyuk, eu de imediato fui procurar Cha Ji-hye.

Ela não me parecia ser uma mulher ardilosa, assim falei de forma honesta.

— Me fale a verdade. Quais são as probabilidades do Centro de Pesquisa continuar a me fornecer suporte?

A expressão de Cha Ji-hye ficou sombria. De fato. Cha Jin-hyuk estava certo.

— Por favor, me dê toda a informação que puder sobre a Arena. Se acontecer do Centro de Pesquisa não me fornecer mais ajuda, ainda terei que completar os exames e sobreviver.

— Eu não posso falar, com certeza, qual será a decisão que os superiores tomarão no que diz respeito a você. Mesmo que você possua uma habilidade principal bem especial, você ainda está na sua terceira rodada, e perdeu todos os membros do seu time. Eles verão isso de forma bem negativa.

— Eu entendo.

Ela assentiu.

— Vou dar a você toda a informação que tenho. Porém, eu não tenho as informações de alto-nível. Ainda assim, será melhor que nada.

Cha Ji-hye pegou seu notebook, moveu alguns arquivos para um pendrive que me entregou.

— Por hora, pegue isso. Independentemente do que o centro de pesquisa decidir, vou continuar a contatar você e farei o meu melhor para ajudá-lo.

— Obrigado.

— Não. Como a sua gerente no Centro de Pesquisa, foi minha incompetência que produziu esses resultados. Só posso pedir desculpas.

Às vezes ela tinha um semblante duro, mas eu podia dizer que Cha Ji-hye era uma pessoa sincera.

Disse adeus e peguei o helicóptero, depois o carro e voltei para Cheonan. O tempo decorrido no mundo real havia sido de apenas um dia, mas eu sentia como se não fosse para casa há anos.

Volume 1

Capítulo 47: Habilidade Especial

Fui para casa e todos estavam fora. Naquele momento isso era melhor, precisava de um tempo em paz para me acalmar.

Peguei alguma coisa para comer. Enquanto comia, meu telefone tocou, recebi uma mensagem de alguém que não conhecia.

[Número desconhecido: Dentre as habilidades de apoio, tem uma habilidade especial, pegue esta primeira. Da linda noona Ji-soo <3]

Era Yoo Ji-soo me contatando para dar um conselho, fiquei agradecido. Contudo, não estava certo da parte do “linda”.

“Agora que paro para pensar sobre isso, não verifiquei quanto karma eu recebi.”

Chamei a placa de dados.

 

Nome: Kim Hyun-ho

Classe: 7

Karma: +1300

Missão: Descanse até o próximo exame

Limite de Tempo: 19 dias e 16 horas.

Você pode receber seu prêmio karma. Para receber o prêmio, invoque sua placa de dados e diga “prêmio karma”.

 

Estava bem surpreso. Saltei duas classes e recebi a incrível quantia de 1300 karma. Tinha recebido 900 na 2ª rodada e mesmo aquela quantia já era a maior para aquela rodada. Mesmo assim, agora eram 400 karma a mais que daquela vez.

“De novo, eu desempenhei um papel importante.”

Eliminei 12 licantropos e ameacei o chefe da vila para influenciar os moradores. O responsável pelos resultados, com certeza, fui eu.

“Pode-se dizer que matei todos meus colegas de time…”

Sorri com amargura. Que pontuação excelente para um líder que destruiu toda a sua equipe.

De qualquer forma, decidi pegar meu prêmio.

“Ela disse para pegar a habilidade especial.”

Desde que esse era o conselho de uma participante veterana de 19ª, não, de 20ª rodada, Yoo Ji-soo, pensei que havia sentido. Contudo, por hora, decidi pedir primeiro a opinião de Cha Ji-hye.

Não sabia como seria meu futuro relacionamento com o Centro Coreano de Pesquisa da Arena, mas por hora ainda estava contratado. Pelo contrato, Cha Ji-hye era minha gerente e eu não podia usar meu karma sem me consultar antes com ela.

Enviei uma mensagem para Cha Ji-hye.

[Eu: Estou querendo escolher meu prêmio karma. Ouvi que eu deveria pegar primeiro a habilidade especial, isso é verdade?]

Uma resposta veio na hora, ela era mesmo diligente.

[Cha Ji-hye: Quanto karma você recebeu?]

[Eu: 1100]

Diminuí um pouco. Pensei que não deveria revelar tudo, já que não sabia como seria minha relação com eles dali para a frente.

[Cha Ji-hye: Você realmente recebeu um monte. Sendo assim, receber a primeira habilidade é o correto. Por favor, pegue sua habilidade especial primeiro e depois me chame novamente.]

[Eu: Certo]

Falei para a minha placa de dados.

— Prêmio karma.

Por favor, escolha seu prêmio.

  • Habilidade: ganhe uma aptidão.
  • Item: ganhe uma arma ou outro item.
  • Outro: transforme um objeto do mundo em um item. Algo transformado em item pode ser carregado para o exame.

Karma restante: 1300

 

— Habilidade.

 

Por favor, escolha uma habilidade.

  • Habilidade principal: uma habilidade básica necessária para o exame. Como é a habilidade mais importante e determina a competência do participante, apenas uma escolha é possível.
  • Habilidade de apoio: uma habilidade que auxilia o participante em complemento a habilidade principal, pode ser selecionada de acordo com as circunstâncias.

Karma restante: 1300

 

— Habilidade de apoio.

Então apareceu uma lista completa com habilidades que eu poderia aprender. Havia todo tipo de habilidade de apoio, eu continuei “rolando a tela”, quando encontrei a habilidade especial.

 

  • ??? (Habilidade especial): A habilidade especial é determinada pela constituição e aptidões do participante. Apenas uma habilidade especial pode ser selecionada. É desconhecida qual habilidade irá se manifestar e ela não poderá ser cancelada ou trocada. (-300) 

 

Eu não sabia qual habilidade seria. Com isso, eu poderia receber uma boa habilidade, assim como uma completamente inútil.

Hesitei por um momento, mas Yoo Ji-soo e Cha Ji-hye haviam sugerido para que primeiro eu pegasse essa, assim me decidi e segui o conselho delas.

— Selecionar habilidade especial.

Pat!

Uma luz brilhou da placa e se infiltrou em mim. Logo, algumas palavras apareceram na placa.

 

Você recebeu a habilidade especial “sintetizar habilidade”

Sintetizar habilidade (habilidade especial): Uma “habilidade” com “habilidade” ou uma “habilidade” com um “item” que você possua podem ser unidos e criar uma habilidade. Recupere a placa de dados e diga “selecionar habilidade”.

  • O item utilizado na sintetização será consumido.
  • A habilidade criada por meio da sintetização, não poderá ser usada para sintetizar.

Karma restante: 1000

 

“Sintetizar habilidade?”

Entendi que era uma habilidade com a qual eu poderia unir duas habilidades que já possuía para criar uma nova.

“Em outras palavras, isso quer dizer que eu posso ganhar uma nova habilidade sem usar karma?”

Adquirir uma nova habilidade custaria ao menos 100 karma, mas uma habilidade por meio de “sintetizar habilidade” seria grátis.

Isso era uma grande vantagem!

“Que habilidade maravilhosa! Então foi por isso que elas falaram para pegar essa primeiro…”

Ver para crer…

Decidi tentar usar a habilidade e recuperei a placa de dados.

— Sintetizar habilidade.

As palavras na placa de dados mudaram.

 

Selecione uma habilidade ou item para sintetizar.

  • Habilidades disponíveis para sintetização: invocar espírito (Sylph), fortalecimento corporal, guia.
  • Itens disponíveis para sintetização: Mosin-Nagant, item mochila.

 

Sintetizar um item faria com que ele desaparecesse. Assim, eu não deveria testar dessa forma. Eu deveria sintetizar somente habilidade com habilidade.

Não havia necessidade muito nisso. Sintetizei elas em ordem.

— Sintetizar “invocar espírito” e “fortalecimento corporal”.

 

Invocar Espírito (Sylph) e Fortalecimento Corporal estão sendo sintetizados.

 

Pat!

Uma luz cintilou na placa de dados e então foi absorvida no meu corpo. Era uma visão similar a quando adquiri uma habilidade com prêmio karma.

 

Sintetização bem-sucedida. Você recebeu a habilidade “Proteção Divina do Vento” (habilidade sintetizada).

Proteção divina do vento (habilidade sintetizada): mova o vento com seu corpo. É influenciada pela concentração do usuário junto com o nível de habilidade do espírito.

  • Nível inicial 1: tempo de duração de 15 minutos. Tempo de resfriamento de 1 hora.

 

“Uau…”

Não pude abafar minha surpresa. Receber uma grande habilidade de graça era algo inacreditável. Pude perceber o quão impressionante era a habilidade especial que tinha recebido.

“Vamos continuar sintetizando.”

— Sintetizar “invocar espírito” e “guia”.

Invocar espírito (Sylph) e guia estão sendo sintetizados.

Sintetização falhou.

 

“Uma falha…”

Acredito que nem tudo possa ser sintetizado. Prossegui e tentei sintetizar “fortalecimento corporal” com “guia”.

Pat!

Dessa vez, fui bem-sucedido.

 

Sintetização bem-sucedida. Você recebeu a habilidade “Capacidade Física” (habilidade sintetizada).

Capacidade Física (habilidade sintetizada): melhora reflexos.

  • Nível inicial 1.

 

Como descrito, reflexos. Transformar a condição física e senso de direção em reflexos. Isso foi engraçado…

“Será que isso diz para onde e como mover meu corpo?”

Desde que eu era criança me falavam que eu era atrapalhado, então era uma habilidade muito boa para mim. Além do que, essa habilidade não tinha que ser ativada, era passiva. Ou seja, estava sempre ativa, assim como o “fortalecimento corporal”.

“Com ‘proteção divina do vento’ e ‘capacidade física’, agora eu devo estar bem em combates a curta distância.”

Eu estava com “fortalecimento corporal” nível inicial 4 e era um corpo forte como um fuzileiro naval.

Contudo, era muito desastrado. Mesmo com esse ótimo corpo, fui derrotado de forma avassaladora no sparring com Cha Ji-hye. Ainda que se considere o fato dela ter recebido treinamento.

Porém, essa nova habilidade “capacidade física” cobria essa minha fraqueza.

Eu poderia usar a “proteção divina do vento” e assim, enquanto Sylph disparava à longa distância com o rifle, eu poderia lutar corpo-a-corpo.

Estava em pensamentos profundos quando recebi uma ligação de Cha Ji-hye.

Ah, é mesmo, ela tinha dito para chamá-la de volta quando pegasse a nova habilidade…”

Atendi o telefone.

— Alô?

— Como foi com a habilidade especial?

Depois de uma pequena pausa, decidi mentir.

— Consegui uma habilidade chamada “proteção divina do vento”. Acredito que a habilidade seja como obter força do espírito.

— Sério? Então foi essa… Teria sido bom conseguir algo melhor. 

Cha Ji-hye estava desapontada.

— Eu pensei que essa era muito boa, existem habilidades especiais melhores?

— Habilidades especiais são exclusivas para cada participante, não há repetição de habilidade. Outro participante que conheço possuía uma habilidade muito especial, era renascimento.

— Re-renascimento?

— Era uma habilidade para reanimação ao custo de 300 karma. Por isso estou desapontada. Esperava que você recebesse uma habilidade tão poderosa quanto essa, para você superar seus obstáculos.

— Bem… É isso aí, não é muito boa? Entretanto, quando o tempo de invocação de Sylph acabar, agora eu ainda posso convocar o vento para ajudar.

— Não disse que era ruim. Que seja! Agora devemos pensar em usar o prêmio de karma em torno da sua habilidade especial. Você tem 800 karma sobrando, correto?

— Isso.

— Então, por primeiro, devemos investir na sua habilidade principal, seu espírito.

— O espírito? Você não havia dito que não fazia muito sentido aumentar o nível da habilidade principal no começo?

— Não estamos aumentando o nível. — Cha Ji-hye me interrompeu. — Ouvi que você poderia trabalhar com dois espíritos, Sylph e Kasa, isso está certo?

— Ah, isso mesmo.

— Adquira o espírito do fogo, Kasa. Assim, em uma emergência você poderia invocar os dois espíritos, para a batalha e sua proteção divina do espírito deveria aumentar também. O que acha?

Parecia uma boa ideia.

Se eu usasse Kasa como “ingrediente” para a sintetização de habilidades, eu poderia receber a divina proteção do fogo, assim como fiz com o vento.

— Parece uma boa ideia, vou fazer isso.

— E temos que usar seus 400 karma restantes para reforçar sua habilidade de combate corpo-a-corpo. Hmm, por hora, com 300 karma aumente seu “fortalecimento corporal” para o nível inicial 5 e usar os outros 100 para conseguir outra habilidade de apoio seria bom.

— Qual habilidade de apoio?

— Algo para combate e agilidade. O que seja, temos que usar isso para treinar você em artes marciais, para superar sua “falta de jeito”.

— Certo então. Vamos fazer assim.

Essa mulher também pensava que eu era desajeitado. Bem, era uma observação precisa. Ainda que eu não precise disso, graças a eu ter conseguido a habilidade “capacidade física”.

— E eu ainda estou discutindo com a alta gestão do centro de pesquisa sobre a sua situação. Estou fazendo o meu melhor. Por favor, não fique muito desesperado e aguarde.

— Certo, obrigado.

— Não há necessidade de agradecimento. Bem, então… 

— Certo.

Terminei a ligação e, como ela falou, aumentei meu “fortalecimento corporal” para nível inicial 5. Usei 300 karma para aumentar meu nível e meu corpo ficou ainda mais      maciço, com músculos definidos cresceram firmes. Vendo isso, não pude evitar ficar impressionado.

“Seria possível eu ficar na ponta do meu dedo?”

Meu corpo era incrível o suficiente para fazer esses atos de desenho animado. Era verdade mesmo, que o nível inicial 5 era o limite para o corpo humano.

Então, continuei e recuperei a placa de dados.

— Me mostre as habilidades principais.

 

Participante Kim Hyun-ho atualmente possui invocar espírito nível inicial 1

Invocar espírito (habilidade principal): Invoca o espírito inferior do vento.

Você pode invocar falando “Sylph”.

  • Nível inicial 1: tempo de invocação de 2 horas. O tempo é reduzido quando o poder de Sylph é utilizado.
  • Nível inicial 2: tempo de invocação 2 horas e 15 minutos. (-500)

 

Aumentar para o nível inicial 2 custava 500 karma e o tempo de invocação só aumentava em 15 minutos. Era pouco eficaz.

Como Cha Ji-hye disse, aumentar o nível da habilidade principal no começo era um desperdício de karma. Sem dúvida seria muito melhor pegar o espírito do fogo, Kasa, do que aumentar o nível.

— Vou fazer um contrato com Kasa.

Volume 1

Capítulo 48: Habilidade Especial (2)

 

Invocar espírito (habilidade principal): invoque um espírito e use o poder da mãe natureza.

  • Espíritos disponíveis para invocação: Sylph, Kasa.
  • Nível inicial 1: tempo de invocação de 2 horas.

 

Lendo a descrição na placa de dados, vi que tinha feito contrato com Kasa. Decidi invocá-lo.

— Kasa.

Uma chama balançou na minha frente para cima e para baixo, conforme aumentava e ia assumindo uma forma. A aparência completa era…

— Au-au-au-au!

Um pequeno animal ofegante com a língua para fora e uma cauda balançando para a direita e à esquerda. Era um cachorro.

Aparecendo de um corpo em chamas, um cãozinho que se parecia a um Yorkshire Terrier me olhou e me saudou com a cauda balançando.

— Eh… — suspirei.

Um cão depois de um gato. Esperava que fosse um espírito com o qual eu pudesse conversar.

— Au-au!

O cachorro me olhou e latiu com seus olhos esbugalhados brilhantes e eu sorri.

— Certo, certo, venha aqui.

— Au-au!

Kasa pulou no meu colo.

“Calma aí.”

O tempo de invocação ainda era de duas horas, isso significava que o tempo correria duas vezes mais rápido? Eu tinha que testar isso.

— Sylph!

— Miau!

Dessa vez uma delicada gatinha apareceu e com delicadeza se sentou no topo da minha cabeça.

— Miau?

— Au?

Sylph e Kasa se olharam com suspeita, como se dissessem “quem é você?”

Sylph tocou na cabeça de Kasa com sua pata, o qual ficou alarmado na hora e rosnou mostrando seus dentes, com isso, Sylph se abaixou e assumiu uma posição de combate.

— Au-au! Au-au!

— Miau!

Kasa pulou do meu colo e ficou emaranhado com Sylph. Vi os dois espíritos se sacudindo e girando em torno da minha cabeça e suspirei mais uma vez.

“Que bagunça.”

Ao menos a disputa dos dois não aumentou o consumo do tempo de invocação.

 

  • Nível inicial 1: tempo de invocação 2 horas. (1 hora, 58 minutos e 23 segundos)

 

Como esperado, o tempo consumia duas vezes mais rápido.  Invocar os dois espíritos seria um desperdício de tempo e, além disso, eles não pareciam se dar bem de todo modo, com isso, exceto em uma emergência, eu não deveria invocá-los ao mesmo tempo.

— Kasa, retorne.

— Au.

Estando no meio da luta, Kasa fez um tristonho som, assim acariciei sua cabeça e persuadi ele.

— Vou invocar você de novo e daí poderemos brincar.

— Au-au!

Como se tivesse entendido, ele latiu mais uma vez e desapareceu.

— Sylph, por favor reúna toda a sujeira da casa e coloque na lixeira.

Sylph se transformou em uma corrente de vento e voou por todos os cantos e um amontoado nojento que era metade poeira e metade cabelo foi jogado na lixeira. Uma casa com três mulheres era um sem fim de cabelo.

Retornei Sylph e fiquei olhando para a minha placa de dados, ainda tinha algo para fazer.

— Sintetizar habilidade.

As palavras na placa haviam mudado.

 

Selecione a habilidade ou item para sintetizar.

  • Habilidades disponíveis para sintetização: invocar espírito (Sylph), invocar espírito (Kasa), fortalecimento corporal, guia.
  • Itens disponíveis para sintetização: Mosin-Nagant, item mochila.
  • O item utilizado na sintetização será consumido.

 

As habilidades disponíveis para sintetização haviam aumentado em uma.

— Sintetizar “invocar espírito” Kasa com “fortalecimento corporal”.

 

Invocar espírito (Kasa) e fortalecimento corporal estão sendo sintetizados.

 

Pat!

Uma luz cintilou na placa de dados.

 

Sintetização bem-sucedida. Você recebeu a habilidade “Proteção Divina do Fogo” (habilidade sintetizada).

Proteção divina do fogo (habilidade sintetizada): Desperte o fogo com seu corpo. É influenciada pela concentração do usuário junto com o nível de habilidade do espírito.

  • Nível inicial 1: tempo de duração de 15 minutos. Tempo de resfriamento de 1 hora.

 

Um sucesso, em adição ao vento, agora eu também tinha a habilidade para o fogo, de graça.

“É muito perigoso em casa, então testarei na montanha depois.”

Decidi testar as habilidades “proteção divina do vento” e “proteção divina do fogo” no Monte Taejo ao anoitecer. Assim, eu tinha 300 karma sobrando.

“Como devo usar isso?”

Cha Ji-hye recomendara pegar uma habilidade que auxiliasse no aprendizado de artes marciais. Porém, eu já tinha a “capacidade física” graças a “sintetizar habilidade”, pensei que isso já seria suficiente

Artes marciais, no final consiste em mover seu corpo com precisão, sendo assim não deveria ter a necessidade de alguma habilidade a mais que “capacidade física”, certo?

Após pensar profundamente sobre isso, decidi postergar a decisão.

“Vou pensar um pouco mais, antes de decidir.”

Eu ainda tinha 20 dias até o próximo exame. Por hora, testaria as novas habilidades uma a uma e pensar um pouco mais.

 

***

 

Era pouco mais de cinco da tarde e Hyun-ji estava voltando da escola, porém ela não estava sozinha.

— Oppa!

Uma garota com cabelo comprido de olhos grandes, acenou de forma alegre e correu em minha direção, era Yoo Min-jeong.

— E aí, oppa! Você sentiu minha falta?

Sem nenhuma hesitação Min-jeong me abraçou.

— Claro que senti! Eu queria muito ver você. — Abracei Min-jeong de volta e respondi com a voz mais melosa que consegui.

— EI! VOCÊS DOIS NÃO ESTÃO SE DANDO MUITO BEM? — Vendo isso, Hyun-ji gritou furiosa, eu e Min-jeong rimos. — Se separem, você dois!

— Eu também queria me separar, mas… — Min-jeong piscou conforme falava. — Seu peitoral forte não me deixa ir, não consigo me separar.

Caí na risada. Era uma paródia da situação com Hyun-ji no clube.

Por fim, Min-jeong acabou sendo arrastada pela orelha por Hyun-ji.

— Enfim, o que você está fazendo na nossa casa?

— Temos um trabalho em grupo e eu queria ver você.

Min-jeong deu em cima de mim de novo e levou um chute de Hyun-ji.

— Me dê comida. — Disse Min-jeong para Hyun-ji, que olhou surpresa.

— O que você está falando de comida? Só termine o projeto e vá.

— Ah, mas já está na hora do jantar. Não consigo pensar direito quando estou com fome.

— Você está com fome 24 horas por dia, 365 dias no ano?

— Ahh, por favor.

— Quem você quer enganar agindo simpática assim?

Min-jeong continuou a importunar por comida e por fim, Hyun-ji olhou para mim.

— Oppa, comida.

— …

— Faça alguma comida enquanto trabalhamos no projeto. Você pode fazer isso para sua irmãzinha que está se preparando para o mercado de trabalho, certo? Hahaha, valeu mesmo.

Hyun-ji entrou no seu quarto com Min-jeong que soprou um beijo quando entrou.

— Comida que você mesmo vai preparar, mal posso esperar por isso.

— …

Pouco depois, pude escutar as duas garotas conversando no quarto. Suas vozes estavam alegres e não parecia que estavam falando sobre a escola.

“Acho que vou cozinhar.”

Suspiro e vou para a cozinha.

“Visto que ela é uma convidada, acredito que não posso fazer qualquer coisa, certo?”

Procurei na geladeira por algo saboroso e encontrei um filé mignon. Coloquei três bifes na frigideira, quando lembrei de Kasa.

“Eu deveria pedir para o espírito do fogo assar isso?”

— Kasa.

— Au-au, au-au

Kasa apareceu animado em me ver. Coloquei um dedo na minha boca em sinal para que ele ficasse quieto. Kasa assentiu.

— Você poderia assar esses bifes para mim? Não muito, pode deixar no ponto.

Kasa assentiu com a cabeça e fez três pequeninas bolas de fogo e as lançou na frigideira. As bolas de fogo foram absorvidas nos bifes.

Eu desliguei o fogão e de forma suave cortei a carne com uma faca para ver como estava.

Corte.

Estava surpreendentemente no ponto. O interior do bife estava macio e o suco da carne escorria. Além de que, isso levou apenas alguns segundos.

“Isso será de muito ajuda quando estiver caçando e cozinhando.”

Servi a mesa e chamei Hyun-ji e Min-jeong.

— Está muito saboroso, oppa. Acho que estou me apaixonando por você.

— Pare de dar em cima dele.

Foi uma prazerosa refeição com Min-jeong brincando e Hyun-ji brigando por isso. Min-jeong e eu trocamos várias expressões de carinho, porém nós apenas fingimos e ela não parecia gostar de mim de verdade.

Min-jeong foi embora por volta das 10 da noite.

— Estou indo, você fará a apresentação?

— Certo, vaca. E eu não vou te acompanhar, viu?

— Ah não, você não vai me acompanhar até o ponto de ônibus? Ficou tão escuro e “Min-jeong está tão assustada”.

— O que eu falei sobre atuar desse jeito meloso? É irritante, vá para casa.

Hyun-ji a enxotou como se estivesse espantando uma mosca. Min-jeong fez beicinho e olhou para mim.

— Oppaa!

— Hm?

— Min-jeong está tão assustada, eu queria que um homem forte com tanquinho me acompanhasse…

— Coitadinha, acho que terei que acompanhar você. Vamos.

— Ahh oppa, você é o melhor!

Hyun-ji olhou para nós dois batendo papo e seus olhos ficaram frios.

— Oh? Eu tinha dito para não ficar de lenga-lenga vocês dois!

— Oppa, vamos, rápido!

Min-jeong de forma descarada enganchou seu braço no meu e eu me tornei seu acompanhante na volta para casa.

Deixamos Hyun-ji em estado de fúria e entramos juntos no elevador.

Estávamos descendo pelo elevador e nossos braços ainda estavam ligados, de repente, Min-jeong perguntou.

— Oppa, sobre o que você está pensando?

— Que é hora de separarmos nossos braços.

Min-jeong riu: — Oppa, acho você muito divertido.

— Tenho escutado bastante isso. Nunca tentei ser engraçado, mas as pessoas continuam falando que eu sou.

A todo momento, Min-jeong ria alto. Só de ver suas reações, um homem poderia ser seduzido bem fácil

Pela forma como ela age com os garotos, eu podia ver como ela era amiga de Hyun-ji.

— Oppa, não precisa ser tão formal.

— Certo, você também se quiser.

— Não quero.

— Por quê?

— Porque senão eu serei apenas como uma irmãzinha.

Yoo Min-jeong disse isso e deu um sorriso cativante.

Por um momento, pensei que meu coração pararia e fiz o meu melhor para não demonstrar isso. Quer ela tenha percebido ou não, continuou sorridente.

“Não posso me apaixonar por ela.”

Min-jeong só estava meio que brincando com o fato de estar interessada em mim.

“Se me apaixonar por isso, seria apenas um mané.”

Ainda bem que a porta do elevador abriu e de forma suave eu puxei meu braço.

— Vamos?

— Sim.

Saímos do prédio e nos dirigimos para o ponto de ônibus.

De repente no estacionamento na frente do prédio, alguns homens em ternos pretos apareceram.

“O que é isso?”

Eles se pareciam como gangsters saídos de um filme ruim. De qualquer forma, não me senti bem com isso e caminhei rápido, Min-jeong deve ter ficado preocupada, já que também caminhou mais rápido.

Contudo, os homens vieram em nossa direção.

“Será? Talvez eles tenham algo para ver comigo.”

Não era um filme barato de gangster, não fazia sentido eles aparecerem de repente em grupo só para assediar um homem e uma mulher que passavam.

Para fazer algo assim, seus ternos e sapatos pareciam caros demais.

“Eles são do Centro Coreano de Pesquisa da Arena?”

Pelas suas roupas formais e forma de andar, parecia que eles eram de alguma organização oficial. Eles continuaram a vir em nossa direção, porém não nos chamaram nem falaram nada.

Estavam me enviando algum tipo de mensagem, para despachar a garota e nos encontrarmos a sós.

Falei para Min-jeong: — Min-jeong você já pode ir sozinha agora, certo?

— Op-oppa.

— Vá.

— Não, não posso. Oppa, vamos juntos.

Min-jeong parecia apavorada. Acho que ela pensou que eu lutaria com eles.

— Tudo bem, não se preocupe comigo.

— Eu deveria chamar a polícia?

— Não, não terá necessidade disso.

Min-jeong hesitou, de modo que, de forma gentil, empurrei suas costas.

— Tudo bem, vá para casa. Não precisa se preocupar.

— Depois vou ligar para você, tenha cuidado.

— Irei, vá com cuidado para casa.

Min-jeong olhou para trás algumas vezes e então saiu correndo.

Logo, me virei e olhei para os homens.

Volume 1

Capítulo 49: Presidente Park Jin-seong (1)

— Do que se trata isso? — falei primeiro.

Para mostrar que não estava acovardado, demonstrei força. Na verdade, não estava com medo mesmo.

Os homens se aproximaram. Porém, eu nem pisquei. Se eu quisesse, tinha os meios para matar eles sem deixar rastros. E, na prática, não tinha chance de cometerem algum crime de forma tão descarada em público.

Do meio dos homens, um cara de meia-idade com olhar afiado, avançou e inclinou a cabeça para mim.

— Olá, peço desculpas por aparecer sem aviso.

— Vocês são do centro de pesquisa?

— Não.

O homem me entregou seu cartão comercial.

Jin-seong Electronics

3º Secretário Presidencial

Lee Jung-shik.

Fiquei surpreso, Jin-seong era o conglomerado de eletrônicos líder na Coreia, com os maiores volumes de vendas do país.

— Penso que vocês vieram sabendo quem eu sou?

— Sim.

— Vocês pegaram minhas informações no Centro de Pesquisa? Isso é um pouco incômodo.

— Me desculpe por isso, mas isso não é nada ruim para você, espero que você não tenha ficado tão ofendido por isso.

— Vou decidir se fiquei ofendido ou não, mas primeiro, me fale o que vocês querem.

— Você poderia vir conosco por favor?

— Primeiro me fale do que se trata.

— Acredito que seja melhor você ouvir isso direto do presidente.

“Presidente? Quer dizer… Não. Sem chance. O cabeça do Grupo Jin-seong, Presidente Park Jin-seong?”

O que poderia querer o maior milionário do país comigo? Mesmo eu sendo um participante, não era como se houvesse apenas um ou dois de nós no país. E dentre eles, eu era apenas um novato de terceira rodada.

Isso só serviu para aumentar minhas suspeitas para com esses homens. Me senti nervoso pensando que talvez eles estivessem mentindo.

— Eu não quero ter uma conversa e ser arrastado para algum lugar no meio da noite dessa forma. Isso é muito suspeito.

— Mas, o presidente está chamando.

— Você não está falando do presidente do Grupo Jin-seong, Park Jin-seong, está?

— Ele mesmo.

— … — Fiquei sem palavras.

“Esse homem está me chamando?”

Não fazia sentido. Realmente estava me sentindo incomodado com esses caras. Poderiam ser uma organização sinistra que planejava me usar, um participante, me atraindo para uma armadilha.

Quem poderia saber se eles não iriam me sequestrar e depois me ameaçar para trazer majeong da Arena para eles? Quando fui convocado para a Arena, enquanto fazia o exame, meu corpo real estava dormindo no mundo real.

E se a minha vida fosse ameaçada no mundo real, não teria outra opção senão fazer o que eles quisessem.

Falei: — Isso não parece certo. Preferiria me encontrar durante o dia e em um local que eu esteja familiarizado. É duvidoso que vocês sejam do Grupo Jin-seong, mais inacreditável ainda o fato do presidente Park Jin-seong em pessoa querer me encontrar, isso é quase que ridículo.

— Se você vier conosco, verá. Estamos em uma posição onde temos que seguir estritamente as ordens do presidente, então por favor compreenda.

— Desculpe por isso, mas essa é a posição de vocês.

— Dessa forma, você complica as coisas.

O secretário presidencial Lee Jung-shik mudou para uma voz autoritária e eu devolvi sua mudança com um olhar feroz.

— E daí? Vocês vão me sequestrar?

— … bem, claro que não.

— E? Como é, só porque alguém chamou, eu simplesmente deveria ir?

— …

— Você não sabe quem eu sou? Sabe o que é um participante?

— Estou ciente disso.

— Então, como está tendo esse comportamento? Você quer ser morto silenciosamente?

— Peço desculpas por ofender você. Mas, nós fomos educados e respeitosos… — Lee Jung-shik voltou para sua conduta anterior.

— Então, “educadamente,” vá se foder. Passar bem.

Logo já me virei para ir para casa. Porém, nisso os outros homens pararam na frente bloqueando meu caminho.

“Um movimento instintivo, como se já tivessem feito isso antes, isso deve ser parte do trabalho deles.”

E por instinto dei um soco.

Soco!

Um dos homens segurou seu queixo e caiu, logo eu chutei a perna de um outro cara que cambaleou e acabou caindo.

Fiquei surpreso comigo mesmo. Meu punho e pé se moveram de forma natural. Não senti estranheza nos movimentos quando ataquei os dois.

“Esse é o efeito de ‘capacidade física’!”

Isso foi o efeito nos meus reflexos que ganhei da habilidade sintetizada. E, assim, de forma natural, fiz meu caminho através dos dois homens.

Então, ouvi a voz apressada de Lee Jung-shik atrás.

— Nesse caso, quando devemos voltar por você?

— Diga para esse otário mesmo vir!

Gritei de forma rude e voltei para casa. Havia uma razão de eu agir dessa forma.

Se eles sabiam onde eu morava, eles deveriam ter meu contato e mesmo assim, eles não me contaram primeiro e apenas apareceram do nada. E então falaram que eu tinha que ir com eles. Todo o tempo o plano deles foi que eu apenas concordasse em segui-los.

Por isso que eu recusei de forma grosseira e quando bloquearam meu caminho, como se estivesse esperando por isso, derrubei eles e fui embora. Isso deveria ser suficiente para avisá-los que eu não seria levado assim, tão fácil.

 

***

 

Yoo Min-jeong estava escondida virando a esquina, só com a cabeça para fora, vendo todo o acontecido.

Em uma mão ela segurava um smartphone com o número 190 aparecendo na tela, pronta para fazer a ligação a qualquer momento.

Kim Hyun-ho era seu melhor amigo, seu oppa, e não sabendo o que poderia acontecer com ele, acabou que ela não pôde ser tão desleal ao ponto de abandonar ele e salvar a si própria.

Contudo, assistindo tudo em segredo, uma cena inacreditável se desenrolou e o rosto de Min-jeong estava em transe.

“Grupo Jin-seong? Presidente?”

Pessoas que disseram que eram da empresa de eletrônicos Jin-seong e realmente, suas roupas, sapatos, penteados, os homens pareciam ser da elite, não uns zés-ninguém.

Essas pessoas vieram de forma respeitosa buscar Kim Hyun-ho, falando que o presidente estava chamando. Não havia dúvidas, esse presidente que eles falavam era o presidente Park Jin-seong.

Apesar disso, a cena seguinte surpreendeu ainda mais.

Kim Hyun-ho derrubou dois deles tão rápido quanto um raio e então chamou o lendário presidente Park Jin-seong de “esse otário” e se foi, os outros homens não puderam fazer nada para parar Kim Hyun-ho.

“Que tipo de homem o oppa é de verdade?”

Min-jeong estava desconfiada, pelo que tinha escutado de Hyun-ji ele era um homem miserável que a vida toda tentou passar em algum concurso público e que demorou mais tempo do que devia para voltar para a casa.

Porém, quando ela o viu em pessoa no clube, ele era bem diferente do que ela havia imaginado, corajoso e confiante, algo prazeroso de se ver.

Todavia, este Hyun-ho que havia acabado de ver era impressionante.

Que tipo de pessoa ele era, para que tipos do Grupo Jin-seong tivessem dificuldade em lidar e ainda mais, o presidente Park Jin-seong estava chamando-o?

“Mas, que raios é o oppa Hyun-ho?”

O interior da cabeça de Min-jeong estava cheio sobre Kim Hyun-ho. Um homem importante que o Grupo Jin-seong estava buscando.

Uma atitude corajosa, sem medo, com um corpo forte ele reprimiu dois homens em um piscar de olhos.

Min-jeong sentiu seu coração palpitar. Ela já tinha visto muitos homens falarem que eram os melhores, porém ela nunca conheceu nenhum cara como Kim Hyun-ho.

Ela olhou para seu smartphone e apagou o número da polícia, ao invés disso, abriu a tela de mensagens.

 

***

 

— Por que você demorou tanto?

Voltei para casa e Hyun-ji me encarou com olhos ferozes e frios.

— O que você acha?

— ? O que? O que você fez?

— A primavera chegou para o seu oppa.

— VOCÊ QUER MORRER?! EU NÃO DISSE QUE MIN-JEONG ESTAVA FORA DE COGITAÇÃO?!

— La-la-la. Que vida agradável, la-la-la.

— AHH! Não vou aceitar isso! Você não sabe que tipo de garota ela é, coloque sua cabeça no lugar!

Após provocar bastante Hyun-ji, fui para meu quarto.

Zing.

Meu celular vibrou.

“Deve ser uma mensagem de Min-jeong. Com certeza.”

[Yoo Min-jeong ^-^: Oppa, você chegou em segurança?]

[Eu: Sim ^^, você se preocupou comigo?]

[Yoo Min-jeong ^-^: Claro que sim, vacilei bastante entre ligar ou não para a polícia T_T.]

Me senti bem ao ouvir que ela havia se preocupado comigo. Não tem como não se sentir bem, sabendo que uma linda garota está preocupada com você.

[Eu: Hahaha, eu disse que não aconteceria nada.]

[Yoo Min-jeong ^-^: Quem eram aquelas pessoas?]

[Eu: Não sei, eles vieram procurando pela pessoa errada e só nos separamos sem maiores problemas.]

[Yoo Min-jeong ^-^: Isso é um alívio T_T, eu estava muito preocupada com você.]

[Eu: Obrigado por se preocupar comigo ^-^.]

[Yoo Min-jeong ^-^: Oppa, o que você vai fazer amanhã?]

[Eu: Amanhã vou me encontrar com um amigo, por quê?]

Aquelas pessoas poderiam voltar à minha procura, de modo que respondi assim.

[Yoo Min-jeong ^-^: Eu ia te convidar para comer. Você está livre na sexta à noite?]

Hm?”

Não importa como veja, isso seria um encontro. Eu não sabia se ela estava me convidando mesmo ou se só estava brincando.

“O que eu faço?”

[Eu: Sexta à noite?]

[Yoo Min-jeong ^-^: Isso.]

[Eu: Desculpe, não sei o que pode acontecer esse dia.]

[Yoo Min-jeong ^-^: Ah…]

[Eu: Te aviso quando estiver livre.]

[Yoo Min-jeong ^-^: Certo ^^.]

“Com certeza ela entendeu.”

Desliguei meu telefone e me joguei na cama.

Eu até estava interessado em Min-jeong, mas não era nada sério. Ela era a melhor amiga de Hyun-ji e sair com ela ocasionalmente seria incômodo.

Mais que isso, eu não tinha cabeça para isso agora.

“Joon-ho, Hye-su, Kang Chun-seong…”

Eu havia sacrificado três pessoas e voltado sozinho para casa. Como eu poderia voltar para realidade e sair com uma linda garota e aproveitar uma boa vida.

Neste momento, não deveriam as famílias de Joon-ho e Hye-su estarem aos prantos devido à tragédia que atingiu eles?

Enterrei meu corpo nas cobertas e fechei os olhos. Pensei em testar minhas novas habilidades à noite na floresta, mas não tinha mais vontade de fazer isso, decidi apenas descansar essa noite.

 

***

 

Na manhã seguinte, me lavei bem rápido e logo fui para a trilha. Corri em ritmo acelerado pela trilha mais longa. Com a corrente “fortalecimento corporal” nível 5, o limite da capacidade física humana, esse exercício não era nada. Mas, mantinha isso para evitar que ficasse preguiçoso. Eu só fiz uma pequena pausa no topo do monte e já me virei para voltar.

Contudo, quando cheguei ao começo da trilha, havia pessoas me esperando. Uma Mercedes preta estava estacionada longe e os homens em terno preto da noite anterior me esperavam.

Um senhor familiar pelos jornais estava vindo devagar em minha direção. O senhor parecia uma boa pessoa e sorriu para mim.

— Haha, olá?

— … olá.

Meio relutante respondi, fui pego de surpresa.

“De verdade, é o presidente Park Jin-seong?”

Eu me lembrava de ter gritado “Diga para esse otário mesmo vir” noite passada. Então, ele veio mesmo?

O presidente Park Jin-seong sorria enquanto falava.

— Peço desculpas por ontem, não foi minha intenção.

— Tudo bem, meu comportamento também não foi dos melhores. Entretanto, era impensável…

— Você acredita agora?

— Sim.

O presidente mesmo havia vindo, como eu poderia não acreditar.

— Já tomou café da manhã?

— Ainda não.

— Que bom! Vamos juntos.

— Certo.

Entrei no banco de trás da Mercedes com o presidente Park Jin-seong e, com um suave som de ignição, nós partimos.

O presidente Park Jin-seong ao meu lado com uma expressão tranquila.

Volume 1

Capítulo 50: Presidente Park Jin-seong (2)

— Estamos indo para minha cabana na montanha, no distrito de Chonchon, o que acha? É uma pequena casa de verão no bosque, então não tem ninguém por perto.

Perguntou o presidente Park Jin-seong e eu assenti.

— Se for com você, tudo bem.

— Hahaha e por que isso?

— Desculpe, mas se for preciso, você será o refém.

O presidente Park Jin-seong riu alto com as minhas palavras.

— Você é um tipo inteligente, gosto disso.

— É uma honra.

Os homens no banco do motorista e passageiro não devem ter gostado disso, já que olharam sem graça. O carro pegou a rodovia sul, e em torno de uma hora chegamos ao nosso destino.

Fomos por uma estrada estreita pela montanha na cidade de Jincheon-gun, província de Chungbuk, ao final estava a casa de verão.

Os caras do banco da frente saíram primeiro e abriram as portas para nós.

— Essa é minha casa de verão.

Para minha surpresa era uma casa de verão comum. Ele era o presidente de uma grande corporação, eu estava esperando algo grandioso.

— Por que você comprou uma casa de verão em um lugar como este?

Perguntei por curiosidade e o presidente logo sorriu.

— Aqui é uma reserva de caça. E nesse momento é a temporada de caça.

— Ah… 

— Até o ano passado, eu vinha aqui todos os anos e passava alguns dias caçando. Pensei que não seria capaz de fazer isso esse ano.

Com um rosto feliz, o presidente Park Jin-seong se dirigiu para a casa.

De dentro da casa, saiu outro homem, aparentando a mesma idade que o presidente. Ele era um velho com físico adequado para cuidar da casa de verão. O presidente abriu seus braços e falou.

— Eu vim de novo, meu amigo.

— Meu Deus, presidente!

— Sem essa de presidente. Eu disse para me chamar apenas pelo meu nome.

O caseiro se apressou em direção ao presidente Park Jin-seong para um abraço.

— Presidente! Pensei que você não viria esse ano, eu estava preocupado.

— Tsk, você também escutou sobre aquilo?

— Sim, fiquei muito preocupado após escutar.

— Você deve ter escutado isso do meu filho. É sempre o caso, você deve ir quando é chegada a hora, não se preocupe.

Choro.

— Céus, por que está chorando meu amigo? Vamos, prepare as coisas para uma caçada.

— Certo, certo.

O velho caseiro entrou na cabana e o Presidente Park Jin-seong olhou para mim e perguntou.

— Você sabe caçar?

— Sim.

— Podemos tomar um breve café da manhã enquanto caçamos. O que acha?

— Sem problemas.

“Isso é tudo o que eu fiz na Arena.”

O velho caseiro voltou com uma mochila recheada com algumas coisas, dois rifles e um grande cão pastor. Parecia ser um cão de caça treinado.

Eu peguei a mochila e estava bem pesada.

Quando o presidente Park Jin-seong estendeu uma arma para mim, eu neguei com a cabeça.

— Tenho minha própria arma.

— Ah, é mesmo?

O presidente Park Jin-seong pegou seu rifle, munição e a coleira do pastor alemão e avançou para a caçada. Ele interrompeu os rapazes que queriam vir junto.

— Iremos apenas nós dois, então vocês podem esperar aqui até que eu os chame.

— Tudo bem presidente.

— Certo, vamos.

— Ok.

E assim, começamos a caçada.

O homem mais rico da Coreia do Sul, o protagonista do maior sucesso da história, presidente Park Jin-seong e eu, apenas nós dois caçando.

Olhando para o presidente que estava subindo com dificuldade pela encosta da montanha, fui tomado por uma sensação estranha.

— Você parece cansado, você vai ficar bem?

O presidente se sentou em uma rocha para recuperar o fôlego.

— Meu corpo está quebrado agora, de modo que é isso o que acontece com uma pequena trilha. Tsk, ano passado eu ainda estava animado, esse é o fim.

O rosto do presidente Park Jin-seong mostrava sinais de arrependimento e solidão. Vendo isso, um único pensamento passou pela minha mente.

Aquela conversa com o caseiro mais cedo e a solicitação do presidente Park Jin-seong…

— O negócio que você tem comigo, é sobre isso também, não é?

O presidente Park Jin-seong sorriu.

— Você é mesmo sagaz.

— Não de verdade.

“Deve ser uma doença terminal.”

Para superar uma doença que não possa ser tratada com medicina moderna, o método final que ele escolheu é a Arena.

Ele estava investindo tanto nisso que até veio me ver pessoalmente, um participante novato.

“Ele deve ter a informação de que eu tenho uma habilidade principal diferente de todo mundo.”

— Agora que não tem mais ninguém aqui, você se importaria de me mostrar sua arma? Eu gostaria de vê-la.

— Tudo bem, arma!

Mosin-Nagant apareceu e o peguei com minha mão direita. Quem sabe, o presidente Park Jin-seong já conhecera vários outros participantes e estava acostumado com isso, considerando que ele não pareceu nenhum pouco surpreso.

Pelo contrário, quando o presidente Park Jin-seong viu meu Mosin-Nagant, seus olhos afundaram em ansiedade e de repente ele se levantou.

— Uau, essa é uma arma da antiga União Soviética! Deixe-me vê-la!

Conforme entreguei a arma para o presidente Park Jin-seong, ele ficou como uma criança que acaba de ganhar um presente.

— Uau, apesar de essa coisa ser mais velha do que eu, parece boa.

— Você entende de armas?

— Mas é claro! Eu sou um grande louco por armas. Comecei a caçar porque eu amava atirar. Coleciono um monte de rifles e revólveres na minha casa de verão na Califórnia. Eu também tenho um Mosin-Nagant russo e um finlandês.

“Armas realmente são coisas de homem.”

O presidente Park Jin-seong inspecionou toda a arma.

— Contudo, você está usando essa arma ultrapassada por que não tinha karma suficiente?

— Isso.

— Você deveria se apressar em reunir karma e trocar para uma automática.

— Eu também gostaria de fazer isso.

— Hahaha, enfim, o que devemos fazer? As condições do meu corpo são piores do que pensei, de modo que acho que não serei capaz de caçar. Maldição, eu queria mesmo atirar…

— Então, vamos caçar rápido. Você seria capaz de caminhar por uma hora ou duas?

— Esse tanto penso que sim, mas você acredita ser tempo suficiente para caçarmos?

— Sim, Sylph!

— Miau?

Assim que Sylph foi invocada, os olhos do presidente Park Jin-seong se esbugalharam.

— O que é isso?

— É um espírito.

— Espírito? Ah espírito invocado? Por isso eles disseram que você tinha uma habilidade principal especial.

— Sim. — Dei uma ordem para Sylph. — Encontre onde está o animal vivo mais próximo, por favor.

Sylph assentiu e logo desapareceu. Um instante depois ela voltou, apontou para a esquerda com sua pata e então, desenhou o número 174 no chão.

— É um coelho?

Sylph negou com a cabeça.

— Cervo? Um alce?

Sylph continuou negando.

— Javali?

E então Sylph confirmou com a cabeça.

Falei para o presidente Park Jin-seong: — Ela disse ser um javali, vamos.

— Certo.

Caminhamos e enquanto isso o presidente continuou a olhar para Sylph com um olhar bem interessado.

Dei outra ordem para Sylph.

— Se livre de todo nosso odor e do barulho que fizermos.

— Miau.

Desse momento em diante, nossos passos não foram escutados e o presidente ficou ainda mais impressionado.

Em seguida Sylph aponta para a frente.

Observei, enquanto escondia meu corpo atrás de um grosso arbusto e vi o javali. O bastardo era bem grande e não percebeu que estávamos tão perto.

— Você gostaria de atirar?

— Sim, deixe esse para mim.

O presidente Park Jin-seong mirou com seu rifle para o javali. Apenas por segurança, também apontei com meu Mosin-Nagant. Se o presidente Park Jin-seong perdesse seu disparo, meu plano era atirar no javali antes de ele ter alguma oportunidade de fugir. Contudo, não precisei fazer nada.

O disparo acertou na coxa do javali fazendo com que o sangue jorrasse. Devido à eliminação do som pela Sylph, o disparo não fez nenhum barulho e para finalizar o javali o presidente atirou outra vez, agora no corpo.

E, assim, o javali morreu.

— Legal! Fizemos isso!

O presidente Park Jin-seong estava tão eufórico que parecia que ia pular de alegria. Ele não acreditava que ainda seria capaz de caçar por estar morrendo devido a uma enfermidade.

— Quem pensaria que uma caçada poderia ser fácil assim, um espírito é incrível.

— Sim, é incrível mesmo, Sylph com certeza é incrível.

Com o meu elogio, Sylph com um jeito fofo tocou minha bochecha com sua cauda.

— Raios, suponho que nem vamos precisar dos sanduíches que trouxemos. O que acha disso para o desjejum? O caseiro da casa de verão é muito bom preparando esse tipo de coisas.

— Tudo bem.

— Só um segundo, vou chamar meus homens para pegar o javali.

— Não precisa, eu levo.

— Hm? Esse enorme javali?

Me aproximei do javali morto, segurei suas patas traseiras e o coloquei no meu ombro. Aquele javali de centenas de quilos foi levantado sem esforço, graças ao “fortalecimento corporal” nível inicial 5.

— Você deve ter dominado o “fortalecimento corporal”, está por volta do nível inicial 4?

— Este é o nível 5.

— Sério? Incrível, você ainda está na terceira rodada. Seu progresso é rápido.

Ele não era um participante, nem um funcionário do centro de pesquisa, mas sabia muita coisa. Era evidente o quão interessado o presidente Park Jin-seong estava na Arena.

Carreguei o javali e nós voltamos, a cabana de verão estava agitada. A comitiva do presidente e o caseiro, ambos estavam abismados.

— Minha nossa, você pegou um javali?

— Hahaha! O que acha? Para um velhote com os dias contados, isso é bem impressionante, não é?

— Ah, você é incrível presidente!

— Hahaha, não é bem assim, este rapaz que pegou isso. Nós ainda não tomamos café, então cozinhe isto para nós, seja rápido.

— Sim, certamente. Você deve estar faminto, vou preparar isso agora mesmo.

O velho caseiro começou a destripar com habilidade o javali. Ele abriu a barriga e retirou as entranhas, cortou os tornozelos e depois com a ajuda da comitiva do presidente Park Jin-seong retirou o couro. Vendo o quão habilidoso o velho era, fiquei olhando admirado.

O presidente falou sobre isso como se falasse de si mesmo.

— De fato, esse velho é um caçador mestre de verdade. Mesmo se eu não lhe enviasse seu pagamento todo mês, com uma arma e um cão, ele provavelmente ainda se alimentaria muito bem.

— Sim, vendo como ele está lidando com esse javali, não parece que seja a primeira ou segunda vez que faz isso.

Eu já havia trabalhado em vários animais enquanto na Arena, para poder perceber o quão habilidoso aquele velho era.

Depois de um bom tempo, enfim, nós comemos. Com o recém-capturado javali, grelhamos um pouco de carne com molho picante e como o presidente havia falado, o velho era incrível na cozinha.

Comer com o presidente de uma corporação, pensei que iria ser algo mais requintado, não que tenha sido ruim. Sem falar, que teria sido desconfortável para eu comer em uma restaurante grã-fino de qualquer forma.

Vendo como ele aproveitou a nossa caçada, pensei que o presidente Park Jin-seong iria querer ter uma relação de amizade comigo.

Quando terminamos nosso café da manhã, o velho caseiro nos ofereceu uma taça de vinho tinto.

— Obrigado, nós vamos conversar, apenas ele e eu.

— Certo.

O velho e a comitiva se retiraram.

Na frente da lareira, estávamos apenas eu e o presidente, que bebeu um gole do vinho, o saboreou, e então começou a falar.

— Qual é a coisa mais importante nesse mundo?

— Vida. — respondi sem hesitação.

Com uma expressão satisfeita, o presidente Park Jin-seong assentiu.

— Isso mesmo. Essa resposta tem que vir de imediato. Quando você escuta essa pergunta, coisas como dinheiro, não devem passar pela sua mente.

— Concordo.

— Você sabe por que eu busco por participantes e o porquê estou interessado na Arena?

— Sim.

— Gosto de vocês, também estou tentando viver. Quando uma pessoa nasce, eventualmente irá morrer, contudo, eu ainda estou vivo, então até que meus olhos se fechem, tentarei viver.

— …

— Sendo assim, eu pergunto para você com franqueza. Acha que existe alguma forma de curar minha doença?

— Talvez. Existe uma poção para curar ferimentos, então deveria ter algo parecido com isso para também curar doenças, não?

— Até onde sei, não existe. Essa resposta vem de muitos participantes e até o momento, ninguém teve êxito. A Arena possui coisas para curar ferimentos, porém nada para curar doenças. Mesmo que aquele mundo esteja muito à frente do nosso em relação à medicina.

— …

— Entretanto, minha única esperança é uma habilidade.

— Uma habilidade?

— Sim, aquela poção de cura é feita através de magia. Desse modo, minha esperança é que deve existir algum participante com uma habilidade que cure doenças.

“Espera, uma habilidade?”

Quando escutei isso, “sintetizar habilidade” passou pela minha mente.

“Mas… como?”

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