Baccano! – Capítulo 03 (Parte 1) – Vol 01 - Anime Center BR

Baccano! – Capítulo 03 (Parte 1) – Vol 01

Capítulo 3 – Primeiro Dia (Parte 1)

Tradução: PH

 Ano 1930, Novembro, Nova York.

O céu azulado poderia ser descrito como cristalino. O brilhante sol da manhã iluminava a cidade inteira.

Os tijolos vermelhos e amarelos dos prédios eram como cores pintadas sobre as ruas. No entanto, nunca trouxeram a sensação de confinamento para aqueles caminhando pela rua.

Porém, os carros, que haviam se tornado mais populares recentemente, contribuíram para o sentimento de claustrofobia dos pedestres.

Era a época da Lei Seca. Apesar de todo período desenvolver os seus costumes e modas, esse país teve que escolher uma “Comunidade Livre de Álcool”.

Mas o resultado final foi o aumento do interesse pelo álcool, até mesmo pessoas que nunca beberam álcool foram ao Mercado Negro para o conseguir… Assim dizendo, o implemento da nova lei teve o irônico efeito de aumentar o número de “criminosos”.

Suco de uva era colocado na vitrine de lojas de conveniência, e uma placa era posicionada na frente do barril de suco de uva. Na placa, o seguinte aviso era escrito:

Isso irá fermentar em vinho se deixado por muito tempo. Por favor, consuma isso antes que fique ruim.

Esse “suco de uva” era vendido rapidamente. Em resumo, esse era o tipo de Era que estamos.

A dourada Era do Jazz era passado, e a Grande Depressão havia atingido o país no último ano. Até mesmo as ruas cheias de casas com telhados vermelhos pareceu ter perdido a sua cor vívida.

Mas se esgueirar pela escuridão das ruas era a estrela principal dessa Era, que lutou contra a Depressão e conseguiu manter o poder. Comumente referida como “Máfia”, eles tiveram uma importante influência na troca de álcool produzido ilegalmente.

Assim dizendo, a política governamental da proibição do álcool abriu muitas possibilidades para o aumento desses inimigos da lei.

Como os chefões da Máfia, Al Capone e Lucky Luciano criaram juntos incontáveis lendas- A década de 30 era esse tipo de Era.

Suas lendas sempre começavam nos becos escuros.

“Caridade, caridade por favor!”

A saída de emergência de um banco, o espaço entre edifícios residenciais, a área do lixo atrás de um restaurante… De maneira simples, desde que seja um beco escuro e apertado, estava certo. Não tinha nada a ver com o movimento das ruas, e claro, a estação ou tempo do dia não importavam.

“Você apenas tem que doar um pouco de seu dinheiro para salvar a vida desse pobre homem!”

De trás de uma loja de chapéus viria o implorar do mendigo. E tudo começou aqui, do barulho de um beco.

Sempre que alguém passasse pelo beco, o velho esfarrapado iria os seguir, enquanto incessantemente implorava “Caridade por favor”. Quando os pedestres chegassem à saída para a rua principal, ele desistiria e voltava para sua posição inicial… Repetindo o mesmo processo diversas vezes.

“O Senhor está cuidando de você, e sua caridade será recompensada pelo Senhor…”

“Eu queria perguntar–”

O ciclo de mendigagem era interrompido subitamente.

Aquele falando com o mendigo era um homem… Ou talvez fosse melhor chamá-lo de rapaz. Interrompeu os seus passos e inclinou a sua cabeça para trás, para ver melhor o mendigo de barba cheia.

“Por que você usa o nome de Deus tão ligeiramente quando mendiga?”

O tom de voz e maneira de agir do rapaz não coincidia com a sua aparência jovial. A face do mendigo se contorceu com confusão pela pergunta repentina.

“Como assim?”

“Você é um devoto do Cristianismo? Alguma vez já foi à uma missa de Domingo? Antes de ser desempregado, já doou alguma vez à Igreja? Pode me contar a diferença entre Católicos e Protestantes? Se você pode dizer ‘sim’ para todas as questões, então você não deveria estar usando o nome de Deus em um local como esse. Nesse momento você deveria estar ajudando as irmãs da igreja no trabalho comunitário, ou tentando arranjar um emprego para alimentar a sua família. Caso contrário, deveria odiar o Senhor por te colocar onde está agora e se tornar um Satanista.”

O mendigo, pressionado ao silêncio pelo tom de voz do rapaz e por suas perguntas incessantes, respondeu gritando no momento que o rapaz tivesse parado para respirar.

“Como se fosse! Então o que aconteceu com as doações para a igreja? Esses bastardos louvam o Senhor apenas em nome, quando na realidade estão adorando os milhões em dinheiro que recebem de ‘doações’ que deveriam ser nossas, dos pobres!”

“Você nunca se importou com ninguém além de si mesmo, não é…? Mas é claro que Deus irá abandonar pessoas como você que só se importam com si mesmas. A maioria das pessoas só está na rua por causa da Depressão. Mas nesse caso, aqueles que se mantém na rua, protestando com grandes placas dizendo ‘Queremos trabalhar!’, possuem mais direito de viver que você.”

O mendigo queria retrucar, mas não conseguiria pensar em nada bom o suficiente. Sem dar muita importância ao mendigo, o rapaz divagava sobre sua própria filosofia.

“Mas parando para pensar, ser um mendigo necessita de habilidade. Entre aqueles que mendigam como forma de viver, há aqueles que mendigam aos trapos em estradas, mesmo que tenham dinheiro. Então tem aqueles que quebram o próprio braço ou dentes para ‘entrar no personagem’. Esses mendigos atraem mais pena do que aqueles que realmente precisam. Comparado a eles, você ainda é um amador.”

Dito isso, o rapaz revirou os olhos e retirou sua carteira de couro do bolso.

“Huh?”

O mendigo estava desconcertado. Pelas palavras que o rapaz disse agora cedo, não parecia que ele iria ganhar um trocado. Então por que o rapaz estaria retirando sua carteira?

“Se fosse o eu usual, não iria me importar com um mendigo tão amador como você…”

Um número de moedas foi retirada da carteira. Mas os olhos do mendigo estavam direcionados ao grosso maço de notas na carteira. Em tempos de Depressão como esse, não era possível que existiria uma quantidade tão grande de dinheiro na carteira de um rapaz como esse. Não, nem mesmo um trabalhador adulto teria uma quantidade tão grande de dinheiro… O maço de dinheiro se comprimiu quando a carteira foi fechada.

“Hoje foi um dia muito memorável para mim, então eu estou com um bom ânimo. Você é sortudo de me conhecer hoje, agora pegue o dinheiro.”

Alguns momentos se passaram; O rosto do mendigo foi ficando contente aos poucos.

“Ooh, oooooh, muito obrigado, jovem senhor! Eu nunca esquecerei a sua gentileza pelo resto de minha vida!”

“Nah… Está tudo bem em esquecer, só pegue o dinheiro logo.”

O rapaz apressou o mendigo para pegar as poucas moedas de sua palma aberta.

“Aah, o Senhor vai definitivamente te abençoar com grande fortuna!”

“Como eu disse, você apenas teve a sorte de me encontrar com bom ânimo, então pare de me tratar como um Santo…”

“Aah, sim! Eu tenho algumas flores que foram recentemente pegas essa manhã. Como agradecimento a sua gratidão, irei dá-las para você. Por favor, aceite-as.”

Falando rapidamente, o mendigo, ainda sem ter pego as moedas, começava a remexer na lamentável bolsa que carregava.

“Provavelmente já estão murchas.”

“Não, não, o Senhor vai garantir que elas desabrochem por causa de sua generosidade.”

Uma expressão animada estaria presente em sua face, enquanto o mendigo vasculhava os conteúdos da mochila. Então…

“Mas que grande flor vermelha!”

O mendigo disse, enquanto a bolsa seria destruída em um instante.

A lamentável bolsa de papel foi rasgada um pouco, e logo foi violentamente destroçada.

Dos restos desgastados da bolsa emergiu uma canivete brilhante.

“—-!”

O mendigo barbudo parecia estar gritando. Mas parecia muito, muito satisfeito.

 Quando os animados e estranhos sons foram interrompidos…

… Se transformaram em um choro agonizante.

“—-G-gaaaaa g-ga g-guaaaa”

Antes da ponta da lâmina encostar em seu abdômen, o rapaz segurou o pulso da mão que brandia a faca. Ao mesmo tempo, ele rapidamente desviou para um lado. A faca cortou o ar de acordo com que passava abaixo de seu braço. Em um piscar de olhos, o rapaz agarrou ambas mãos do mendigo e impiedosamente as retorceu em direção às costas dele.

Tudo isso aconteceu antes mesmo do mendigo ter tido tempo de mudar o estranho grito para o seu agonizante choro.

“No chão!”

O rapaz o empurrou, lentamente aplicando o peso de seu corpo.

Houve o som da faca caindo no chão, mas o rapaz pareceu não se importar nem um pouco.

O barulho de algo sendo quebrado poderia ser escutado, vindo do pulso do mendigo.

Mas até mesmo este som foi superado pelo mendigo e seu choro miserável.

“Argh… Aaaaaaaa-aa g-gah p-p-p-p-pa-pa pare com isto!”

Assim que confirmava que o mendigo se retorcia em agonia, o empurrava violentamente na direção da sombra feita por uma das paredes de tijolos. O mendigo rapidamente caiu de joelhos, fazendo um alto som. Então, ele lentamente se encolheu no chão e permaneceu lá, gemendo de dor.

Após uma olhada no estado do mendigo, ele se abaixou e pegou as moedas que haviam caído por conta da pequena confusão.

Então, quando teve certeza de que o mendigo havia parado de se mover.

“Hey… Se levante.”

O rapaz firmemente agarrou o pulso do mendigo e levantou o homem, este que tinha o dobro de seu tamanho. Então, o apoiou contra a parede de tijolos.

“Se encontrar com alguém tão desonesto como eu foi um erro… Desculpa, mas eu não sou tão legal ao ponto de o deixar me esfaquear silenciosamente até a morte.”

O mendigo descansou o seu ombro na parede, enquanto escutava silenciosamente a zombaria do rapaz; Enquanto isso observava ao seu redor rapidamente. Ele estava pensando sobre como poderia escapar desse tipo de situação.

“Quer escapar? És realmente muito impaciente.”

O rapaz colocava as moedas que havia pego na palma de sua mão, as estendendo para o mendigo.

“Eu não disse isso antes? Pense nisso como sua boa fortuna…”

Enquanto falava, o rapaz cerrava fortemente o seu punho, ao redor das moedas em sua palma.

“Aceite isso agradecidamente com todo seu coração.”

Dessa vez, ele não levantou seu punho tão alto, mas o soco que se sucedia foi o suficiente para quebrar o dente frontal do mendigo.

Acertado pelo rapaz, a cabeça do mendigo se chocou contra a parede. Isto, juntamente da dor por ter perdido um dente, faria com que o mendigo gemesse de dor, que logo foi se desfazendo… De acordo com que suas costas se arrastavam pela parede, até que ele caísse inconsciente no chão.

Dessa vez o mendigo perdeu totalmente a consciência, então não se contorceu como antes.

O rapaz lentamente afrouxou o seu punho cerrado. As moedas caíram uma por uma, caindo na cara do homem, que estaria coberta de sangue que saía de sua boca e nariz. Por chance, algumas até caíram na boca aberta do mendigo. Algumas das moedas caíram no chão, causando um som metálico agudo que ecoou pelo beco com uma sensação de decadência.

“… Hm?”

O rapaz olho ao seu redor com maior atenção, e viu que não muito longe estaria a faca. Ela parecia comum; Era só mais uma coisa sem muito valor.

Eu deveria jogá-la no rio?

O rapaz se curvou para confirmar se o mendigo havia realmente perdido a consciência. Porém, mesmo com a confirmação, acabou decidindo pegar a faca mesmo assim, por segurança.

Logo quando o rapaz estaria quase pegando a faca brilhante, alguém chamou por seu nome.

“Firo Prochainezo. Não mexa sua mão.”

A mão, quase encostando na faca, parou em meio ao ar, e o rapaz, Firo Prochainezo, olhou na direção de onde a voz vinha… Na direção da saída do beco, onde a luz iluminava da avenida.

Em pé junto da luz de fundo estava a silhueta de um jovem. O jovem, no começo de seus vinte anos, estaria vestindo um terno marrom, e acima disso um sobretudo preto que ia até a altura de seus joelhos.

“Você é um idiota… Pare de tocar nas evidências…”

Esse jovem olhava com desgosto para Firo, enquanto colocava uma luva branca em sua mão esquerda, e lentamente levantava a faca.

“Edward… O que isso signifca?”

“Deveria ser ‘Senhor Edward’, não? Lembre-se de tratar seus superiores como ‘senhor’ ou ‘senhora’, garoto. Claro, você também pode me chamar de Inspetor Edward.”

Esse homem vestindo o sobretudo preto… Edward Noah, o Inspetor da Força Policial. Os cantos de sua boca abriram um sorriso arrogante, enquanto este silenciosamente levantava sua mão esquerda.

Então, um grupo de homens surgiu atrás dele… A bolsa rasgada, as moedas jogadas e até mesmo o mendigo inconsciente, todos eram coletados por eles. Em relação a Firo, ele foi ignorado completamente. Todos eles, muito maiores que Firo, simplesmente agiram como se mais ninguém estivesse ali.

“Ei, ei, rapazes, tomem cuidado para não passarem por cima do garoto.”

Fingindo que não escutaram a piada chata do seu chefe, os homens continuaram seu trabalho em silêncio.

“…. Hmph, mas que chatos.” 

“Vou ser direito, Edw- Senhor Edward. Você acha que sou idiota?”

Firo, que permaneceu em silêncio esse tempo todo, finalmente abriu a boca e perguntou silenciosamente.

A maioria dos objetos foi levada, e os homens não poderiam ser mais vistos por ali. A única evidência da cena do crime deixada ali eram pequenas manchas de sangue do mendigo.

Edward respondeu a pergunta de Firo sem nem olhar para ele, nem mesmo virando o rosto em sua direção.

“Você tem razão, você não pode ser um idiota. Só um lixo, um inseto que se arrasta pelas ruas.”

“Pare de evitar a pergunta.”

Irritação começou a se demonstrar nas palavras de Firo. O que seria um pequeno sorriso zombeteiro parecia se mostrar no rosto de Edward, enquanto esse acendia um cigarro e preguiçosamente se apoiava na parede de tijolos.

“Ah, não faça uma cara tão assustadora… É só que o homem que você derrubou agora pouco… Era um criminoso que estávamos vigiando há um tempo.”

“O quê?”

“Ele é um assassino. Usando táticas como usou contra você, fingindo ser um mendigo em um pequeno beco e procurando homens e mulheres gentis… Se visse uma quantidade de dinheiro que valesse a pena o risco, esperava o momento certo e usava uma faca escondida em uma bolsa de papel para atacar! … Assim como fez com você. Apesar de que apenas soubemos da bolsa agora.”

“Por que você deixaria alguém como ele a solta?”

“Mesmo com as falas das testemunhas, isso não é o suficiente para o provar inocente. Então, no final, nós pensamos rapidamente que podíamos usar policiais como iscas para o pegar no ato.”

Edward deu uma profunda tragada no cigarro.

“Então você me fez aparecer aqui.”

“Bem, sim. Sendo sincero, se fosse qualquer um além de você, nós os deixaríamos passar e garantiríamos a sua segurança.”

“… Você estava planejando observar às escondidas desde o começo, não estava? Seus ‘hobbies’ certamente são honrados. Então assistindo o momento entre a vida e a morte de alguém é como assistir uma partida de boxe? … Seria muito melhor se esses caras tivessem pipoca, não?”

“É por isso mesmo que estávamos ignorando a sua autodefesa excessiva.”

“Minhas lágrimas de gratidão não param de cair.”

“Porém, eu pessoalmente teria achado melhor se fosse tivesse sido apunhalado até a morte… Eu não consigo ver como você conseguiu desviar daquilo.”

“Se você ver um mendigo em um lugar tão escuro e afastado, é claro que ficaria atento. E aquela bolsa lamentável… Ainda bem que ele não tinha uma arma. ”

“Oh? Então você estaria bem se tivéssemos o deixado sozinho?”

Edward perguntou aquilo como se fosse a coisa mais normal do mundo.

“Esse é exatamente o meu sentimento hoje. Se esse fosse, de alguma forma, apenas um mendigo, eu teria apenas dado meu dinheiro para ele… Então, por que avançar assim do nada?”

“Eu não disse antes? O cara tinha como alvo ninguém menos que pessoas com carteiras cheias de dinheiro. Então ele apenas mata se o dinheiro compensa o risco de matar e fugir em plena luz do dia. Esse é o motivo pelo qual ele não poderia ter acreditado que um jovem com quase seus vinte anos teria tanto dinheiro assim, certo?”

Claramente Edward sabia muito bem que estava zombando de Firo.

“Planeja investigar se eu estou sonegando impostos ou roubando?”

Os olhos de Firo começaram a brilhar intensamente.

“Ha! Você está brincando! Como se fosse necessário de uma maneira tão complicada para investigar um zé ninguém como você. Mesmo se você fosse o chefe de sua organização, é tão pequena que seria engolida pelas outras organizações a sua volta.”

“Eu poderia levar o que você acabou de dizer como um insulto.”

Firo disse essa frase rapidamente.

Enquanto o garoto pensava em como bater nesse bastardo, seu nome foi chamado novamente. Mas em comparação com o tom de voz de Edward, esse era gentil e calmo.

“Então você estava aqui, Firo.”

Exatamente de onde Edward havia aparecido antes, na entrada do beco, estaria em pé um homem alto usando óculos. Iluminado pelas luzes que viriam da entrada, os seus cabelos castanhos brilhavam como ouro. De relance, esse homem parecia ter uma idade próxima à idade de Edward, mas sua aura misteriosa fazia ser difícil de se adivinhar.

“Não disse para nos encontrarmos na loja de chapéus? Eu fiquei preocupado por você não ter aparecido, mas aí escutei a sua voz vindo daqui.”

Um sorriso aliviado surgir no rosto do homem.

No momento em que viu o sorriso no rosto do homem, o sorriso arrogante de Edward sumiu.

“Você é…”

“Senhor Maiza! Ah… Me desculpe! Eu me meti em uma confusão.”

A atitude de Firo era completamente diferente de quando estava falando com o Inspetor. Ele rapidamente ajustou a sua gravata e endireitou a sua postura, que estava relaxada até então.

De outro lado, Edward estaria mordendo a ponta do cigarro com uma expressão séria.

“Maiza Avaro… Caramba, eu nunca achei que ia encontrar o ‘conta è oro’ da família Martillo em um lugar como esse…”

Diferente de Edward, que possuía um raro nervosismo em sua voz, Maiza o respondia com um sorriso aberto.

“Hm… Ah, você deve ser o Inspetor Edward. Você parece estar com um ótimo ânimo hoje.”

Apesar do cumprimento irônico ter sido feito para um homem que obviamente estava com um péssimo ânimo, o sorriso de Maiza aparentemente amenizou o peso das palavras.

“… Hmm… Como esperado, você é melhor que aquele garoto. Ao menos você sabe como cumprimentar os outros.”

“Na verdade, não. Essa provavelmente vai ser a última vez que eu irei me referir a você como Inspetor.”

“…?”

“Começando semana que vem, você será chamado de ‘Agente Especial’ Edward, não é mesmo?”

Ouvindo essas palavras, os olhos de Edward se arregalaram, e sua boca abriu e fechou fazendo barulhos silenciosos, diversas vezes.

“… O que você disse?”

“Ah, minhas notícias estavam erradas? É só um rumor que ouvi pelas ruas.”

Edward o encarou. Era verdade que ele iria iniciar seu trabalho de campo no Departamento de Investigação na semana que vem (5 anos depois renomeado como Departamento Federal de Investigação… Ou FBI). Porém, ele não havia contado isso nem mesmo para sua amada ou amigos próximos. Então como… Como um total estranho havia conseguido ter acesso a essa informação?

O jovem inspetor jurou encontrar a fonte da informação vazada, enquanto liberava toda a sua raiva em Firo, o olhando com um olhar de desgosto.

“… No final de tudo, Firo, me escute bem. Não importa para quem você dê esmolas, ainda vai ser tratado como hipocrisia. Termine com essa coisa sem motivo e suma dessa cidade, a menos que deseje ir à prisão.”

Firo ficou um pouco desconcertado pelo sermão súbito, mas logo se recompôs, respondendo com irritação.

“Sabe? Eu sou meu próprio chefe, para mim aqueles para quem dou esmola são iguais. Não é da conta de ninguém se sou hipócrita ou não.”

“Você acha que todos são felizes recebendo o seu dinheiro sujo?”

“… Então você está dizendo que doar para a caridade é um sistema melhor, não está? Ninguém checa de quem ou de onde veio o dinheiro!”

Firo não negou a acusação de ‘dinheiro sujo’.

“Mas também, eu nem faço doações normalmente.”

“Isso novamente… Você não aprendeu nada hoje?”

Edward estava perguntando, quando Maiza o cortou.

“Firo, precisamos nos apressar… Podemos ir, Inspetor?”

“… Ah, sim…”

“Ah! Me desculpe, Senhor Maiza, eu te fiz esperar.”

Enquanto o Inspetor observava os dois saindo, ele pensou:

Um rapaz competente na organização junto de um dos executivos. Mas que dia especial.

De repente, um pensamento súbito surgiu na mente do Inspetor, que então gritou para o rapaz:

“Firo, não pode ser que…”

Os passos de Firo paravam. Ele continuava de costas para o Inspetor, com sua face voltada para a rua.

“… Não pode ser… O executivo?… Você está sendo promovido? Você, um mero piccioto?”

Edward franziu as sobrancelhas, enquanto perguntava com suspeita.

Ele também havia vivido nessa cidade há um bom tempo. Firo era um ótimo membro da organização, isso Edward sabia muito bem, mas ele parecia muito jovem para ser promovido para um executivo. Ainda lhe faltava 1 ano e meio para chegar aos 20 anos de idade, e só a sua aparência já lhe fazia parecer um rapaz 3 ou 4 anos mais jovem do que sua idade atual. Sendo tão jovem, do outro lado da comunidade… Não, até mesmo no lado normal da comunidade, ele nãos seria considerado nem mesmo um candidato para ocupar um cargo de executivo em qualquer organização.

Mas Edward ouviu falar que haviam cerimônias especiais para se tornar um executivo. Eles deveriam se encontrar com um executivo que nem mesmo viam direito, em uma loja de chapéus… O dia especial: Nesse dia, a pessoa promovida deve ir à uma loja de chapéus. Edward sabia que não poderia fazer nada, apesar de conhecer as regras da organização, mas mesmo assim sabia nomear cada um dos membros executivos.

“Ele… É mesmo verdade?”

Firo não respondeu, nem mesmo confirmou ou negou. Silenciosamente, voltou a caminhar.

Edward recebeu a resposta como uma afirmação silenciosa. Ele explodiu com o tipo de risada que dão quando contam histórias de terror, mas mesmo assim, ainda tinha que confirmar algo, então falou novamente:

“É verdade? Você realmente se tornou um executivo? Você? Um menino como você? Você só pode estar brincando! Hey, hey… Se apresse e me dê uma resposta, esse não é o tipo de coisa com que se brinca. Então, eu não sei, a sua organização tem realmente tão pouca gente?”

As duas pessoas o ignoraram enquanto iam embora. Edward esperava por isso, então sorriu enquanto dizia:

“É porque você tem uma cara afeminada, não? Com quantos executivos você dormiu para conseguir esse posto?”

Os passos se cessaram em silêncio.

Debatendo se deveria o assustar um pouco, Firo teve sua atenção tomada pela faca em sua cintura.

“Inspetor.”

Mas o primeiro a se virar foi Maiza.

Sorrindo, o mesmo falou ao inspetor, com uma voz abafada:

“Nós poderíamos levar o que disse como um insulto.”

O sorriso de Edward ficou paralisado, até mesmo suas palavras ficaram paradas em sua língua.

Maiza ainda tinha o mesmo sorriso, e falava com um tom de voz idêntico ao de antes.

Mas o pobre Inspetor poderia sentir a intenção assassina dele.

Eu vou ser morto.

Mais uma palavra sobre a organização ou Firo, e ele seria morto pelo homem em sua frente. A frieza em sua voz servia apenas para confirmar.

Se teve algo que o fez ter esse sentimento, foram os olhos dele. A profundidade de seus olhos parecia conter algo além de seu entendimento… Algo que lhe dava arrepios.

Edward fortemente fechou a sua mandíbula, sentindo suor frio percorrer por todo o seu corpo. Maiza colocou sua mão sobre o ombro de Firo, e continuou:

“… Certamente, nós podemos ser uma organização que será apenas engolida.”

Um momento de silêncio se passou.

“Mas seria melhor se você não nos oferecesse a sua falsa pena…”

Então o bastardo estava nos observando o tempo inteiro.

Edward pensou isso, mas não teve a coragem de dizer em voz alta. Ele poderia sentir seu suor lentamente percorrendo as suas costas.

Dando dois tapinhas no ombro de Firo, Maiza caminhou na direção da rua como se nada tivesse acontecido. Apesar de demorar um pouco, Firo o seguiu.

“… Lembre-se disso… Marque minhas palavras… Mesmo se você me matar, eu ainda não consigo suportar a existência de Máfias como vocês… Porque um dia… Eu vou me livrar de todos vocês… Podem ter certeza!”

De trás deles, viria a voz rouca do Inspetor, que soava como se tivesse finalmente conseguido forçar as palavras a saírem de sua garganta.

“Ah, nós não somos Máfia.”

Sem nem mesmo olhar para trás, Maiza fez um leve gesto com sua mão assim que respondia.

Firo continuou a frase, então os dois desapareceram em meio à movimentação da rua:

“Nós somos… Camorra.”

In this post:

Deixe um comentário

Ads Blocker Image Powered by Code Help Pro

Adblock detectado! Desative para nos apoiar.

Apoie o site e veja todo o conteúdo sem anúncios!

Entre no Discord e saiba mais.

Você não pode copiar o conteúdo desta página

|