Epílogo II – O Flying Pussyfoot
Tradutor: PH
Diversos dias depois, em algum lugar de Nova York.
“E o que você ganhou ao comprar todas essas passagens com metade do seu dinheiro?”
Foi em algum lugar em Chinatown que essa pergunta foi feita para Rachel, misturada com o som de telefones tocando.
A resposta de Rachel foi alta o suficiente para superar o plano de fundo cacofônico.
“Eu não tenho certeza. Eu só estava… Cansada.”
Incomum para Rachel, ela estava usando um tom de voz formal. Atualmente estava falando com seu comprador, o presidente da agência de informação.
Apesar do rosto do presidente estar obscurecido por pilhas de papel, Rachel tinha a estranha sensação de que ele estava sorrindo.
“Bem, eu suponho que você quem decide se vai fazer uso dessa experiência ou não.”
“Sendo honesta, eu apenas me arrependo de não ter espancado aquele suíno com minhas próprias mãos.” Rachel disse, amargurada.
“Eu tenho algumas informações sobre o proceder daquele incidente. Gostaria de ouvir? Essa é por conta da casa.” Disse o agente de informação sem rosto.
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“Eu me recuso a aceitar isso! Eu vou processá-los todos, estão me escutando?! Eu vou receber reembolso pela minha passagem, e vou trazer justiça ao macaco amaldiçoado e aquele irlandês sujo!”
O gordo homem de mustache berrava, e suas narinas expandiam-se. Assim que recobrou sua consciência após ter seus ombros deslocados por Claire, ele se escondeu em um dos banheiros, tremendo de medo, e finalmente foi achado pela polícia quando tudo foi resolvido. Seu choros de dor após ter seus ombros colocados no lugar trouxe uma onda de gargalhadas aos passageiros do vagão de jantar.
Para esse homem, um executivo de uma grande companhia ferroviária, essa humilhação era insuportável. Ele estava indo processar Nébula, a corporação dona do Flying Pussyfoot, quando foi interrompido.
Diante do homem de mustache na recepção da Nébula havia um executivo de meia idade com um ótimo exemplo de um ‘sorriso inexpressivo’ em seu rosto.
“Isso é muito infeliz, senhor Turner. Como você pode ver, nós já providenciamos uma grande compensação por esse incidente. E tenho certeza que o dano que isso pode causar à imagem das ferrovias pode afetar você, também.”
“Isso não é problema meu! Não é sobre dinheiro… É uma questão de orgulho!”
Subitamente, o telefone tocou.
“Desculpe-me por te interromper, senhor Turner, mas eu acredito que essa ligação é para você.”
O porco de mustache pegou grosseiramente o dispositivo do executivo sem expressão.
“Sou eu! O que você qu-…”
O rosto de Turner mudou completamente, ficando pálido e liberando suor frio, enquanto continuava a conversa. Ele logo largou o dispositivo e encarou o executivo, desanimado.
“Você jogaria tão baixo ao ponto de envolver um político…”
“O senador Beriam também quer manter o incidente em segredo, como pode ver. É impossível apagar completamente todos os traços de um evento nessa época, mas é possível escondê-lo. Não houve fatalidades por parte dos passageiros nesse incidente, então não queremos piorar a situação.”
“Sim, mas…”
“Senhor Turner. Eu vejo que você, no passado, culpou um engenheiro por um acidente. É perfeitamente possível que nós consigamos fazer os companheiros de trabalho desse engenheiro testemunhar ao seu favor. Tenho certeza de que eles encontrarão a coragem para contar a verdade assim que estiverem nas condições certas.”
Turner, o homem de mustache, empalideceu e saiu do lugar.
Enquanto Turner saía pela porta, o executivo disse algumas palavras de despedida.
“Você já ouviu de algo chamado carma, senhor Turner? Você tornou-se um problema para o senador. Se não for cuidadoso, sua companhia pode acabar te abandonando…”
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“Foi isso que me disseram que aconteceu. Você se sente melhor, Rachel?”
“Como você conseguiu essa informação, senhor?”
“Fui eu quem vendeu a informação sobre o passado do senhor Turner para o executivo. Nós fizemos uma troca, vê.” Apesar de que os telefones ao fundo ameaçavam superar sua voz, ela chegava à Rachel completamente intacta. “Informação vai ficar parada e apodrecer se não for usada. É como as habilidades de um mestre artesão. Apesar de que eu devo me desculpar por usar informações relacionadas ao seus passado sem permissão.”
Rachel ficou em silêncio por um momento, antes de finalmente dirigir-se ao homem atrás da pilha de papeis.
“Eu poderia… Cobrar a companhia pela minha taxa de transporte a partir de agora? Eu não tenho uma razão particular para isso, mas decidi parar de viajar clandestinamente.”
“Não tenho problema com isso. Fazer algo sem ter uma razão em específico é muito importante, sabia? Eu acredito que acreditar em seus próprios sentimentos é algo maravilhoso.”
Por um momento, a voz atrás dos papéis parecia muito diferente daquela de um agente de informação. Ele então acrescentou:
“Claro, por favor, não esqueça dos seus recibos.”
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A influência política do senador Beriam e o poder financeiro da Nébula foram o suficiente para fazer com que o incidente no Flying Pussyfoot nunca tenha acontecido oficialmente. Houve uma baixa civil, um condutor que foi descoberto nos esgotos de Chicago. O criminoso ainda tinha que ser preso. Até mesmo a polícia não colocou muito esforço na investigação, então no fim o assassino foi julgado como não tendo nada a ver com o incidente no trem.
O assassino não existia mais.
O corpo sem rosto descoberto na cabine do condutor estava fadado a ser aquele de Claire Stanfield.
Com a exceção da locomotiva, o trem foi abandonado. Os vagões foram silenciosamente colocados em um estacionamento nos arredores da cidade.
Estranho o suficiente, uma parte do trem estava faltando. Uma parte do teto do último vagão havia sido arrancada por alguém.
Finalmente, era dia 5 de dezembro de 1933.
Nesse dia, quando a decisão de abolir a Lei Seca foi anunciada, o trem foi destruído por uma multidão alegre, desaparecendo em um ferro-velho no próximo dia.
O Flying Pussyfoot era um trem que havia atravessado toda a América durante a época da Lei Seca.
Em um forte contraste com o fim da Lei Seca, o trem havia encontrado um fim solitário.
O palco do incidente foi enterrado em escuridão, e ninguém saberia para onde ele foi levado.
Claro, com a exceção da carta que havia sido cortada de seu teto.
