Baccano! - Episódio Expresso Parte 1 - Vol 03 - Anime Center BR

Baccano! – Episódio Expresso Parte 1 – Vol 03

Episódio Expresso – O Homem Que Não Morre – Parte 1

Tradutor: PH

O vagão de jantar era preenchido por uma calma conversa ambiente.

Czes corria entre as mesas, perseguindo uma garota com idade física similar à sua.

Eles estavam na mesma cabine de Primeira Classe. Inocentemente, a garota perguntou para Czes: “Quer explorar o trem comigo?”. O garoto não tinha muito interesse nessas coisas, mas ele determinou que seria melhor fingir que tinha, para manter o disfarce de um amável jovem garoto.

Não era nem um pouco difícil para Czes apresentar-se como uma criança. Afinal, ele agiu dessa maneira por mais de duzentos anos.

Ele corria pelo salão, perseguindo a garota que ele nem mesmo sabia o nome.

Parando para pensar, algo assim aconteceu durante a travessia da Europa até o Novo Mundo. Eu era apenas uma criança lá. Eu lembro ter dito: “Vamos explorar o navio!”, mas eu não consigo me lembrar quem foi que veio comigo. Mas não importa agora. Assim que eu devorar todos, terei a resposta em minha mente.

Czes concentrou-se tanto em seu pensamento que acabou chocando-se de ombro contra as costas de um homem sentado no balcão.

“Ugh?!”

O homem estava mastigando uma quantidade particularmente grande de comida. Ele fez uma grande comoção enquanto tentava engolir tudo com longos goles de água.

O menino percebeu que ele havia esbarrado no mesmo homem de antes, aquele com uma tatuagem em seu rosto. Ele xingou o infortúnio de ter chocado-se contra ele novamente. E apesar de não ter sentido muito arrependimento, decidiu desculpar-se.

“Oh! De novo não… Desculpe-me, senhor!”

Os olhos do homem encheram-se de lágrimas, mas ele conseguiu forçar um sorriso.

“N-não, não se preocupe com isso. Estou bem. Você está bem?”

Czes assentiu e sorriu alegremente, assim como antes.

Para um homem com uma tatuagem no rosto, ele é meio molenga. Pessoas que dependem de seu visual desse jeito não vão fazer nada de bom em suas vidas, aposto. Ele pensou, mas teve certeza de não deixar seu desdenho transparecer em sua expressão.

Logo, a mãe da garota juntou-se a eles assim que começaram a conversar.

Subitamente, a mulher de tapa-olho olhou para Czes.

“Então esse garoto está sozinho?”

“Sim. Ele é- Oh, nossa senhora! Onde estão minhas maneiras? Eu nem mesmo perguntei para ele.”

Eu mesmo esqueci-me disso.

Czes decidiu introduzir-se sob um nome falso. Ele não tinha escolha a não ser usar seu nome real quando estivesse reservando uma passagem ou colocando seu nome na lista de passageiros, mas era possível usar um pseudônimo entre pessoas normais. Ele queria, sempre que possível, evitar que os outros soubessem seu nome.

Com isso, Czes decidiu usar o nome ‘Thomas’. Era o mesmo nome do inventor famoso que morreu esse ano. Ele escolheu-o para não esquecê-lo durante a viagem até Nova York.

Mas as coisas não foram como planejadas.

“Meu nome é Czeslaw Meyer-”

Era um nome difícil de se pronunciar, mas Czes disse-o e parou. Por um longo e exaustivo instante, diversos pensamentos passaram por sua cabeça.

O que aconteceu?! Eu estava tentando dizer “Thomas” agora, mas é como se meu corpo não permitisse…

Ele não desconhecia a sensação. Quando ‘ele’ ainda estava vivo, alguém perguntou o nome de Czes no mercado. Ele tentou criar um nome falso para usar, mas sua boca automaticamente disse seu nome real. No momento, é claro, Czes sabia que era porque ‘ele’ estava próximo no momento.

Era uma das restrições que o demônio havia aplicado neles; Um preço terrivelmente barato pelo prêmio da imortalidade.

“Imortais não podem conversar entre si usando nomes falsos.”

A restrição mostrou para Czes um fato importante:

Há um imortal em algum lugar próximo a mim.

Ele desculpou-se por ter gaguejado, mas não tinha por que entrar em pânico. Se o outro imortal não notou sua presença ainda, não havia necessidade de chamar mais atenção.

Czes acalmou-se e começou a criar desculpas acreditáveis. A restrição dos imortais apenas restringia-se a nomes, então ele não tinha problema em mentir sobre todo o resto.

“Podem me chamar de Czes. Estou a caminho de Nova York para ver minha família.”

A mulher e sua filha seguiram-no e introduziram-se.

Mas ele não guardou nada além de seus nomes em sua memória, e logo começou a olhar ao redor para os outros clientes no salão de jantar.

Se fosse assumir que o imortal estivesse no alcance de escutar suas palavras, ele provavelmente estaria no salão de jantar também. Mas Czes não viu rostos familiares. Ninguém parecia estar vestindo um disfarce, e o pistoleiro e a mulher de tapa-olho sentados com ele pareciam mais que estavam vestindo fantasias.

Quem é? Talvez esteja na cozinha, onde eu não posso vê-lo. Se não…

Se possível, Czes queria desconsiderar a segunda possibilidade.

Se não, então… Há imortais além daqueles no navio…?

Era um pensamento assustador. Se realmente houvessem outros imortais, isso significaria que Czes não tinha como saber quantos deles haviam.

Um dia, um estranho poderia aproximar-se dele com um sorriso e colocar sua mão direita na cabeça do garoto.

Essa simples ação iria acabar com sua vida.

Isso por si só era algo que Czes não poderia permitir. Ele não se importava de morrer. Afinal, ele viveu uma vida muito longa. Porém, estava com medo de outra pessoa descobrir o horror distorcido que existia entre Czes e ‘ele’. O rapaz considerava essa a maior humilhação e medo que poderiam ocorrer com ele.

Era por isso que havia escolhido viver da maneira que vive. Mesmo se ele tivesse que fazer dos outros suas presas e devorá-los, Czes tinha que ter certeza de que era o último imortal no mundo.

Se o outro imortal aqui realmente era um estranho, teria que descobrir como ele tornou-se imortal e quantos outros existiam atualmente. E a solução mais fácil seria achá-lo e devorá-lo.

E para fazer isso, primeiro tinha que achá-lo. Ele poderia silenciosamente machucar alguém levemente, ou só colocar sua mão direita sobre sua cabeça; Mas dessa maneira, o outro imortal iria saber no mesmo instante.

Eu tenho que livrar-me logo do outro imortal. Não importa o que for preciso.

Subitamente, o pistoleiro olhou para Czes e elevou sua voz.

“Isso mesmo! Afinal, o Espreitador de Trilhos iria devorá-lo se você fosse um garoto mau!”

“Simples assim!”

Eram o pistoleiro e a mulher de vestido vermelho, o casal fantasiado. Czes vagamente relembrou que seus nomes eram algo como Isaac e Miria.

A voz de Isaac trouxe-o de volta à realidade. Ele decidiu escutar Isaac por enquanto, para temporariamente acalmar sua ansiedade.

“… Isso é o que meu pai costumava dizer para me assustar quando eu era mais novo!”

“Assustador!”

“huh? O qu-que é um E-Espreitador de Trilhos?” O homem tatuado perguntou nervosamente. Seus pés começaram a tremer.

“Você não sabe, Jacuzzi? O Espreitador de Trilhos é…”

“… E é por isso que se você contar essa história no trem… Você acaba invocando o monstro… O Espreitador de Trilhos!”

“Aaaah!”

Espreitador de Trilhos? Parece estúpido. Mas enfim, eu acho que não é muito distante de coisas como minha imortalidade ou demônios. Talvez ele realmente exista.

Czes continuou atento aos seus arredores, mesmo enquanto escutava à história de Isaac.

Então o monstro come crianças más, huh? Se ele realmente existisse, eu acho que viria até mim primeiro. Afinal, pelos padrões do mundo, eu não sou nada além de mau. Agora mesmo eu estou a caminho de vender uma grande carga de explosivos para a máfia como se não fosse nada.

Se os explosivos fossem usados em disputas da máfia, eles sem dúvida iriam fazer mal aos inocentes.

A expressão ‘fazer mal’ era muito abstrata. Era óbvio que usar explosivos nas ruas iria matar diversas pessoas. Ele aceitou o acordo, mesmo sabendo de tudo isso.

Isso não era tudo. Czes havia usado sua aparência para enganar todo tipo de pessoas. Algumas vezes ele fazia por conveniência própria. Algumas vezes fazia por puro desgosto pela humanidade.

E daí? Não é como se eu me importasse.

A coisa mais importante para ele não era o bem-estar dos outros ou suas próprias morais, mas sim o tópico de achar uma maneira de devorar os outros imortais.

Ele não ligava se isso significava a morte de todos além dele. Czes preferia a solidão eterna do que ter outra pessoa absorvendo suas memórias amaldiçoadas.

Czes pensou nisso tudo e sorriu amargamente.

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Apesar de ter embarcado sem uma passagem, Rachel estava surpreendentemente sentada sem esconder seu status.

Ela estava em uma mesa no salão de jantar. Rachel pediu comida sem hesitar.

Como tinha dinheiro, e não tinha nada contra o chef do trem, ela não via problema em pagar por sua comida. Seu raciocínio era ainda mais justificado pelo fato de que a operação do vagão de jantar era administrada por uma companhia completamente separada da companhia ferroviária.

Claro, ela não entrou no vagão sem tomar cuidado. Apenas sentou-se após o condutor ter completado a primeira rodada de checagem de passagens, então não teria que se preocupar com ser pega por um tempo.

Não apenas isso, o vagão de jantar era divido por todos os vagões. Seus clientes estavam vestidos de diversos estilos diferentes, o que permitia Rachel, vestida com um macacão, misturar-se perfeitamente.

Aliás, ela tinha uma regra pessoal de sempre sentar-se próxima à janela. Como era autoaplicada, não havia penalidade por quebrá-la. Mas permitir que essa regra a fizesse ser pega, iria acabar em consequências piores que um mero sermão.

Deixando isso de lado… Não consigo acreditar que aquele desgraçado está nesse trem também.

Rachel estava olhando na direção de um homem de mustache que atualmente deliciava-se com um jantar luxuoso. Ele era feio demais para ser chamado de ‘cheio’; ‘Gordo’ era tudo que poderia descrevê-lo. O homem estava repulsivamente roncando de rir por um tempo, saliva voando de sua boca enquanto cuspia elogios para si mesmo.

“Ahahaha! Sabe, eu praticamente inventei a habilidade de viajar em um trem com tanta dignidade.”

Mas isso não era o que incomodava Rachel. O que irritava ela era o fato de que o homem era familiar.

Não tinha como confundir. Esse homem era um executivo da companhia ferroviária para qual seu pai trabalhava. Ele também era a pessoa que havia descaradamente culpado seu pai para salvar a si mesmo. Pelo que parece, ele conseguiu manter seu cargo esse tempo todo. A visão do homem projetou uma sombra escura sobre os pensamentos de Rachel.

Ela considerou dar uma surra nele, mas sabia que fazê-lo era insignificante. Não apenas isso, ela não podia causar problemas enquanto estivesse embarcando clandestinamente nesse trem.

Enquanto continuava escutando, com suas mãos fortemente cerradas em punhos, o homem de mustache continuou rindo.

“Claro, suponho que eu deva todo esse luxo ao fato de que eu trabalhei muito para a companhia e nossos clientes todos esses anos. Ahahahahaah!”

“‘Ahahahahaah’? Vai pro inferno. Vai se ferrar. Eu espero que você apodreça e afunde e seja comido vivo até os ossos por piolhos. Você não é nem digno de ser comida de peixe. Espero que você chute o balde e desapareça para sempre.

Rachel acalmou sua raiva ao murmurar xingamentos, e finalmente decidiu parar de olhar na direção do homem.

Sua comida foi entregue do balcão. Ela começou a colocá-la em sua boca, mas parou quando um rapaz passou por ela enquanto chorava.

Havia uma tatuagem em formato de espada em seu rosto, fazendo-o parecer como um pirata direto do Caribe. Mas seu rosto estava estranhamente contorcido, com lágrimas escorrendo por suas bochechas como cachoeiras.

Enquanto o homem passava por si, Rachel pôde ouvi-lo murmurar: “Eu tenho que achar o condutor…!”

Droga. Ele vai chamar o condutor?

Ela ficou um pouco ansiosa, mas decidiu permanecer em seu assento e continuar sua refeição enquanto observava a situação.

Logo, a porta pela qual o homem de tatuagem passou abriu novamente. Um homem de terno branco entrou. O fato de que tudo que ele vestia, da sua gravata até seu sapato, era um uniforme branco, fazia-o parecer quase como um caipira indo para um casamento na cidade.

Em contraste com o jovem tatuado, o homem de branco caminhou entre as mesas com absoluta confiança.

Por um segundo, os olhos de Rachel encontraram-se com os dele.

Ela divergiu seu olhar imediatamente, mas seu coração começou a acelerar por conta de um medo desconhecido. Ela podia dizer instantaneamente que esse homem estava ativando alarmes em sua cabeça, diferente do tipo de aviso dado pelos dois membros da orquestra que ela viu antes de embarcar.

Rachel focou sua atenção no homem, mas ao mesmo tempo mantinha um olho em seus arredores.

Ela estava tendo um mau pressentimento sobre isso. Algo estava errado. Isso não era sua experiência como clandestina falando consigo. A experiência que havia construído como uma agente da informação fazendo todo tipo de negócio no submundo estava tentando dizê-la algo.

Por via das dúvidas, Rachel silenciosamente começou a abrir a janela.

Logo o momento chegou.

Três conjuntos de vozes soaram alto pelo salão. Não havia espaço para erro ou confusão.

“Todos vocês, no chão, agora!” Os homens de preto que entraram pela porta da frente gritaram. Eles estavam armados com submetralhadoras.

“Mãos ao ar, agora mesmo!” Berrou o homem de branco, que estava no meio do salão de jantar. Em sua mão direita havia uma pistola de cor bronze.

“Todo mundo, parado!” Gritou o homem com roupas esfarrapadas, que havia entrado pela porta dos fundos. Ele estava segurando uma única faca de fruta.

“O qu-que devemos fazer…?” O homem próximo a Rachel perguntou, coberto em suor frio.

Os homens olharam uns para os outros, com olhares de incredulidade formados em seus rostos.

O homem brandindo uma faca fez o primeiro movimento.

“Uh.” Ele murmurou, recuando alguns passos. “Desculpa pela confusão.”

Ele calmamente fechou a porta e correu.

A faca não era nem um pouco capaz de manter uma balança de poder, mas no fim, a tentativa de dominação de três lados havia sido alterada.

Era o sinal do começo de uma tragédia.

O homem de branco instantaneamente sacou sua arma e deu três tiros consecutivos. Todos os passageiros encolheram-se e cobriram suas cabeças enquanto gritavam.

Um dos disparos do homem de branco atingiu um dos homens de preto. O projétil atingiu o seu ombro, fazendo-o girar ao cair no chão.

Como uma reação, as submetralhadoras começaram a cuspir seu conteúdo.

Seus tiros atingiram seu alvo, e o peito do homem de branco logo foi tingido de escarlate.

Enquanto o coro de gritos continuavam, Rachel abriu a janela e lentamente ficou de pé.

O homem de branco caiu para trás, disparando diversas vezes contra o teto. Ele não tinha um alvo em particular, seu braço e dedo agiram sozinhos pelo impacto do acerto.

Houve uma segunda rajada de tiros.

Agora, eles acertaram o estômago do homem. Seu corpo contorceu-se em um ângulo reto.

Logo a vida esvaiu-se de seus olhos enquanto ele caía no chão.

Nesse momento Rachel já estava saindo do vagão. Ela experientemente desceu pelas ornamentações na parede e escondeu-se entre as rodas do vagão de jantar.

A atenção dos passageiros e dos homens de preto estava completamente voltada ao tiroteio. Apenas o homem que estava sentado próximo dela testemunhou o desaparecimento de Rachel.

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Após, um amigo animado do primeiro homem de branco entrou, instantaneamente virando o jogo.

E em meio à confusão, um passageiro friamente começou a calcular a situação.

Eu posso usar esse cara…

Encolhido debaixo do balcão, Czes começou a planejar uma maneira de usar o homem de terno branco que entrou no vagão.

“Agora, Czes. Você deve tomar conta de Mary.”

“Sim, madame!”

O garoto assentiu energeticamente e saiu do vagão de jantar, segurando a mão de Mary. Ele abriu a porta e cuidadosamente avançou. Parecia que, pelo menos, os homens de branco não estavam nos corredores.

Ele passou pelo corredor silencioso, seguido por Mary, enquanto dirigia-se até os vagões traseiros. Essa era uma oportunidade de ouro para Czes.

Após o tiroteio, a senhorita Beriam disse a ele: “Você tem que esconder-se em algum lugar com Mary.” Ele preferiria ter saído para ver os homens de branco imediatamente, mas os outros passageiros obviamente iriam protestar contra sua saída.

Mas a preocupação da senhorita Beriam pela segurança de sua filha havia fornecido-lhe a desculpa perfeita para sair. Ele seria um tolo caso não aproveitasse a situação.

Claro, a presença de Mary era um incômodo. Czes poderia entregá-la para os homens de branco, ou poderia matá-la por conta própria.

Porém, ele não quis nenhuma das duas opções. Não era porque tinha simpatizado com ela. Só estava meramente enojado com a ideia de fazer para uma garota de sua idade física algo que foi feito consigo pelo homem em quem ele confiava. Enganar e traí-la faria com que Czes não fosse diferente ‘dele’.

Ele não tinha problemas em matar uma criança. Se necessário, não hesitaria em usar os fígados de uma para suas pesquisas. Mas traição era outra história. Ódio de si mesmo percorreu seu corpo com o pensamento de fazer para outro o que seu guardião desprezível havia feito consigo.

Czes não tinha problemas com enganar adultos. Mas isso também não significava que ele pegava leve com crianças. Duzentos anos mostraram-no o tipo de crueldade e malícia que elas são capazes de ter. Mas sua aversão por destruí-las provavelmente derivou-se do fato de que ele via a si mesmo refletido nelas.

Os olhos da garota que Czes estava guiando pela mão estava cheios de medo. Mas ela não desconfiava nem um pouco dele. O garoto acharia mais fácil se ela desconfiasse, já que conseguiria livrar-se dela imediatamente.

Droga! Por quanto tempo essas memórias tolas vão continuar me assombrando?

Apesar de sua raiva, Czes não soltou a mão de Mary.

Assim que estavam pra sair do vagão de Segunda Classe e mover-se para o próximo, ele percebeu o armário de vassouras no banheiro.

Cuidadosamente, então, abriu a porta e viu um organizado conjunto de esfregões e baldes. Se ele colocasse o esfregão contra a parede, o armário provavelmente teria espaço para uma única criança.

“Aqui. Isso deve ser o suficiente para você.”

“Mas… E você, Czes?” Mary olhou para ele, preocupada.

“Irei checar os outros vagões, então esconda-se até eu voltar, Mary. Você tem que ficar aqui, tá bom? Não se preocupe, logo estarei de volta.”

A menina assentiu, tremendo.

Czes realmente estava pretendendo voltar para ela após suas negociações com os homens de branco. Dependendo de como as coisas prosseguirem, o resultado da negociação poderia acabar colocando a vida de Mary em perigo. Mas ele queria evitar trair ela a todo custo.

Droga! Por que estou hesitando? Todos os humanos supostamente deveriam ser gado que existe para ser devorado. Acalme-se. Estou sendo tomado por minhas emoções. Afinal, é possível sentir culpa por matar e comer um carneiro, certo? É assim que é.

O pensamento de que a negociação com os homens de branco poderia ser uma traição não veio à mente de Czes. Ele havia prometido proteger Mary, mas ele não se importava com os outros.

Isso. Se eu quero me lembrar de que sou especial – Se eu quero selar essas memórias malditas – e se eu quero sobreviver, esse trem tem que tornar-se um sacrifício.

Czes sorriu da melhor forma que podia, e silenciosamente fechou a porta diante do rosto assustado de Mary.

Seus músculos faciais não iriam sair da posição de um sorriso forçado, mesmo que Czes estivesse acostumado a sorrir como uma criança inocente.

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“Ei, podemos trocar de turno agora?” Um dos homens de preto no compartimento de carga perguntou para seus dois colegas.

“Não abandone seu posto assim.”

“Quem liga? Vocês não podem se frustrar desse jeito. Aliás, nós não deveríamos estar cuidando de reféns para início de conversa.”

“O que devemos fazer, então? Não podemos só ignorar os intrusos.”

Os homens originalmente estavam encarregados de vigiar as armas dos Lemures. As coisas subitamente tornaram-se mais complicadas enquanto estavam matando tempo.

Eles escutaram alguém correndo do lado de fora, então pegaram suas armas e preparam-se para sair.

Mas o delinquente abriu a porta antes mesmo deles conseguirem alcançá-la.

Os homens ficaram com o outro em sua mira, quando um homem e uma mulher de branco repentinamente apareceram. Os homens de preto acabaram capturando esses dois também, quando outro homem surgiu. Confusos, os homens de preto decidiram amarrar todos eles e jogá-los no compartimento de carga ao lado.

“Faz parte de nossas ordens. Nós temos que capturar todos que nos veem. Então volte para seu posto.”

“Poxa, vamos trocar!”

“Tá bom. Primeiro, vamos ver como eles estão.”

Um dos homens de preto foi arrastado até o corredor por outro.

“Irei telegrafar Goose sobre esses caras.” O homem restante disse enquanto seus companheiros saíam.

Mas não obteve resposta.

“Ei, você poderiam pelo menos responder…”

Ele havia colocado sua cabeça para fora da porta do compartimento quando percebeu algo estranho.

Duas pessoas haviam saído para o próximo vagão de carga, mas apenas um homem estava no corredor.

“Uh? Onde está o Jon?”

O homem de preto usando um óculos perguntou, mas não houve resposta.

“Ei! Que merda aconteceu?!”

O seu companheiro no corredor estava tremendo. Sua voz saiu como um sussurro arrastado, quase inaudível.

“Ele… Se foi…”

“Quê?”

O homem ainda tremia, com as costas viradas para a janela.

“Ele se foi. Eu me virei, e ele só desa-”

“Ei! Atrás de você!” O de óculos subitamente gritou.

Das janelas alinhadas pela parede do corredor do vagão de carga, uma delas estava aberta completamente. Era justo aquela atrás de seu aliado.

Uma sombra vermelha passou por trás dela. Não podia ser um reflexo, afinal, a janela estava aberta.

A coisa vermelha estava definitivamente do lado exterior do trem.

E ela esticou uma mão na direção das costas de seu aliado.

“Huh…?”

O homem na janela não teve tempo para olhar para trás ou gritar.

Seu corpo levitou em meio ao ar. Então foi sugado para a escuridão exterior, como água escorrendo pelo ralo de uma banheira.

“O quê?”

O homem de preto de óculos estava confuso.

Não faz nem trinta segundo desde que os dois saíram. Como caralhos ambos desapareceram tão rapidamente?! E um deles foi pego bem na minha frente. Que merda?! O que está acontecendo? Eu sou tão estúpido assim?

Ele manteve-se preso ao chão. A coisa vermelha novamente apareceu no canto de seus olhos.

A forma escarlate na escuridão total era ao mesmo tempo aterrorizante e bela.

A sombra vermelha lentamente desapareceu, e logo não havia mais nada na janela, além da escuridão total.

O homem de óculos finalmente reuniu forças para gritar.

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Claire não gostava do seu nome.

Ele não tinha intenção de mudá-lo, mas sentia uma vaga sensação de repulsa ao ser chamado por um nome feminino.

Aparentemente ele havia sido nominado a partir de seu avô; Claire era um nome masculino até a primeira metade do século dezenove. Mas nos dias atuais, era o tipo de nome que fazia as pessoas confundirem-no com uma mulher em qualquer lugar que fosse.

Ainda sim, ele não guardava rancor de seus pais. Afinal, não fazia sentido guardar rancor dos mortos.

Se ainda estivessem vivos, ele poderia fazer uma reclamação afável para eles de vez em quando. Mas no momento ele já era velho o suficiente para entender tudo, os dois já haviam morrido.

Claire foi criado por seus vizinhos, os Gandor.

O senhor Gandor era o chefe de uma pequena família mafiosa, que era frágil o suficiente para ser derrubada por uma brisa. Entre as famílias de Nova York, os Gandor eram essencialmente os cães que pertenciam aos peões.

Quando o senhor Gandor morreu, Claire juntou-se ao circo. Ele sempre achou que feitos como encostar sua cabeça em suas costas ou plantar bananeira com um braço só eram fáceis para todos, mas aparentemente era algo especial. As pessoas no circo sempre falavam sobre como ele nasceu com fortes músculos e um ótimo físico, mas Claire não se importava.

Algo que ele nunca gostou era o fato de que, não importa quanto esforço  colocasse em aprender novos truques e técnicas, todos os outros explicavam isso com uma única palavra: ‘Talento”. Parecia como um insulto que invalidava todo seu trabalho árduo, mas eventualmente Claire acabou aceitando isso. Talvez ‘esforço’ não fosse o suficiente para pessoas normais adquirirem essas habilidades. Então ele decidiu tentar alcançar coisas além de seus talentos inatos.

Como resultado, o trabalho duro de Claire nem mesmo recebeu reconhecimento. Apesar de que fosse verdade que ele esforçou-se o dobro a mais que os outros, nesse ponto suas habilidades não estavam mais no nível de serem alcançáveis por mero esforço humano.

Claire pretendia ganhar dinheiro no circo para enviar de volta para seus irmãos, que eram praticamente sua família. Mas o mundo não era tão fácil.

Não era porque não ganhava tanto; Era o fato de que, no momento que ele começou a ganhar uma quantia considerável, os irmãos Gandor já haviam expandido incrivelmente seu território.

Da perspectiva de outras organizações, seu lucro ainda era uma miséria, mas os Gandor ainda estavam ganhando muito mais que Claire.

O circo foi desfeito, e ele foi jogado ao mundo. Após um grande sofrimento, finalmente tornou-se um mercenário. Não era um trabalho fácil, mas ele foi capaz de sobreviver com isso.

Havia uma certa razão pela qual Claire tornou-se um condutor após sair do circo. Era uma trabalho que permitia-o mover-se mais rapidamente que o circo, e por ainda mais cidades. Era perfeito para seu trabalho como assassino.

Ele estava ciente sobre o fato de que seus assassinatos eram exagerados. Era um hábito seu; Claire não estava aliviado até o corpo de sua vítima estar mutilado até certo grau. Não era que tinha medo; Ele só estava preocupado que, talvez, o coração da vítima ainda poderia estar batendo. Era uma ação que tinha raízes em sua filosofia de ‘Honre o contrato ao completamente certificar a morte’.

Seu hábito, que normalmente deveria ser visto como uma falha em sua técnica, na verdade tornou-se o meio pelo qual seu nome ficou conhecido. Os métodos de Claire de criar piscinas de sangue absurdamente grotescas impunha medo no coração dos seus inimigos.

Apesar de que sempre agia sob pseudônimos quando estava trabalhando, em algum ponto ele ganhou o apelido ‘Vino’. Logo esse nome começou a espalhar-se pelas cidades. Os rumores do monstro que aparecia por todos os Estados Unidos lenta porém certamente gravaram seu nome no conhecimento do submundo criminoso.

O que eles esperam? Eu vou para todos os lugares porque sou o condutor de um transcontinental. Aliás, se eles estão chamando um magrelo como eu de monstro, do que chamariam o Berga? Ceifador da morte?

Claire pensou em sua ‘família’, que ele veria amanhã, e acalmou-se.

Mesmo após tornar-se uma infame celebridade, os Gandor não trouxeram Claire para sua organização. Isso não significava que eles distanciaram-se dele. Mas eles também não tentavam convencê-lo a parar de ser um mercenário.

Não era uma atitude moralmente justa para tomar-se, mas Claire estava feliz com a maneira que tratavam-no e aceitava trabalhos de seus irmãos com desconto. Ele não via problema em trabalhar para eles de graça, mas os Gandor não permitiriam isso.

E agora, Claire estava a caminho de melhorar seu relacionamento com eles. A Família Gandor atualmente estava em um conflito com a Família Runorata, uma das gigantes de Nova York.

Ele provavelmente não seria capaz de voltar a ser um condutor por um tempo após isso. Claire já havia informado à sede que iria tirar uma folga assim que chegasse em Nova York.

Agora o problema era levar esse trem em segurança até Nova York.

Ele não podia parar o trem.

Claire tinha que evitar machucar os Gandor por conta de seu próprio atraso, não importa o que precise fazer.

Se os homens de preto ou os homens de branco tomarem controle do trem, as chances do trem chegar em segurança iria decair dramaticamente. E mesmo se eles chegassem até Nova York, era óbvio que haveria um confronto com a polícia. E se o confronto levasse a um tiroteio, não havia dúvidas de que alguns dos passageiros seriam mortos.

Ele não poderia entregar esse trem para pessoas como eles. Não iria permiti-los matar os passageiros ou fazê-los de refém.

Claire percebeu que, em algum momento, deixou de lado os pensamentos sobre os Gandor e agora estava preocupado inteiramente com a segurança dos passageiros.

Huh. Ele divertiu-se, vendo seus pensamentos. Eu acho que realmente fiquei apaixonado por ser um condutor.

Ele sorriu descaradamente sob a luz da lua.

Tudo isso enquanto segurava-se na parede do vagão de carga com uma mão, sustentando ao seu lado o corpo de um homem de preto com o pescoço quebrado.

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Rachel moveu-se através da base dos vagões, escalando entre as partes de metal como um macaco. Ela dirigia-se até a traseira do trem em uma velocidade anormalmente rápida.

Seu objetivo era o compartimento de carga. Rachel não sabia o que estava acontecendo nesse trem, mas ela tinha certeza que os homens que invadiram o vagão de jantar com submetralhadoras eram membros da orquestra.

E os membros da orquestra de guarda no compartimento de carga? Se os homens de preto estavam disfarçados como uma orquestra por alguma razão desconhecida, então os homens no vagão de carga provavelmente estavam com eles. Rachel agiu, pretendendo descobrir mais sobre a situação do trem o mais rápido possível. Ela poderia ter ficado parada em silêncio, mas ao invés disso jogou-se nas mãos do perigo.

Talvez fosse uma persistência de seu trabalho como agente de informação. Ela era meramente uma agente, mas essa era a desculpa que usava para saciar sua curiosidade.

Assim que alcançou a “barriga” do vagão de carga, Rachel puxou-se para cima entre as rodas e olhou para a porta na lateral do vagão. Provavelmente não havia nada de errado ali dentro, mas Rachel queria ter certeza.

Suas expectativas foram traídas pela visão que recebeu-a.

A porta lateral estava aberta.

Normalmente, essa porta apenas era aberta enquanto o trem estivesse parado. Era usada para colocar cargas maiores nele.

Se essa porta está aberta, não tem como isso ser apenas um probleminha…

No próximo instante, os pensamentos de Rachel congelaram. Ela percebeu que havia uma silhueta vermelha contraindo-se na porta.

Rachel não percebeu logo porque estava escuro, e ela estava focada na porta aberta. Mas assim que enxergou a criatura, entendeu tudo.

A porta não estava aberta, mas sim atualmente estava no processo de abertura. E a silhueta vermelha estava abrindo-a nesse exato momento.

Parecia que a silhueta não havia a percebido. Ela agarrou-se a um ponto proeminente do trem com uma estabilidade surpreendente.

Logo, a porta abriu-se novamente e a silhueta entrou no vagão de carga mais uma vez.

Rachel estava estupefata por um momento, mas os sons de gritos misturados com o barulho do trem se movendo trouxeram-na de volta para a realidade.

“Não… Se afaste… Não, não, não, não, não… NAAAAAAÃO!”

Um grito amedrontado. Logo foi seguido pelo som feroz de disparos. A atmosfera inquietante forçou Rachel a tentar esconder-se debaixo do vagão novamente.

Infelizmente, ela estava atrasada.

A sombra vermelha subitamente desceu logo ao seu lado. Parecia mais como se ela tivesse caído da porta lateral, ao invés de ter escalado.

As coisas só pioraram.

Os olhos de Rachel encontraram-se com os do monstro vermelho.

Claire foi, de certa forma, pego de surpresa.

Ele já havia tomado conta de dois dos homens de preto que estavam guardando o vagão de carga.

Mas o terceiro acabou vendo-o arrastar o segundo. Naturalmente, o homem imediatamente contatou seus aliados.

Quando percebeu que a chave para a porta do vagão de carga estava quebrada, Claire decidiu invadir logo e terminar o trabalho.

O homem gritou, mas já era tarde. Parecia que ele só tinha sido capaz de puxar o gatilho de sua submetralhadora após Claire empurrar seu braço para cima.

O cano estava apontado para o teto. Obviamente, Claire não foi ferido. Ele girou o braço do homem de preto, e a submetralhadora caiu no chão surpreendentemente rápido.

Tudo que precisava fazer agora era levar o homem de preto para fora e arrastá-lo contra os trilhos assim como fez antes. Claire firmemente restringiu o homem por trás e pulou para fora da porta com a atitude de um homem que estava descendo um jogo de escadas.

Ele evitou cair no chão segurando-se nos ornamentos de metal do trem com seus pés. Se uma pessoa normal tentasse isso, suas pernas cederiam e quebrariam, ou ela seria pega pelas rodas e rasgada em pedaços.

Mas Claire não teve tais problemas. Tudo sempre ocorreu bem, ao menos até ele realizar essas ações de rotina com confiança.

Surpreendentemente, porém, seu olhar seguro de si modificou-se para um de confusão.

Quem é essa?

A cabeça de uma mulher estava saindo dentre as partes de metal do trem ao lado dele. Ele nunca a viu antes. Ela era uma aliada dos homens de preto ou dos homens de branco?

Claire foi afastado de seus pensamentos pela sensação do corpo do homem de preto ficando mais pesado. Então ele tornou-se leve novamente.

Quando Claire olhou para baixo, ele viu que o homem de preto agora estava sem as pernas. O coitado provavelmente tentou resistir e acabou tendo os pés pegos nas rodas.

A força de suas pernas sendo arrancadas deveria ter sido imensa, mas Claire estava segurando o corpo com facilidade, resultando nessa bagunça. O homem parecia ter perdido a consciência antes mesmo de poder gritar. O choque da dor deve ter matado-o.

Mesmo se ainda estivesse vivo, claro, essa perda massiva de sangue era uma sentença de morte.

Ah, bem.

Claire propeliu seu corpo para cima colocando força em suas pernas e estômago. Ele usou o impulso para poderosamente jogar o torso do homem de preto de volta ao compartimento de carga.

A força foi tanta que o corpo atingiu o teto antes de cair no chão.

Claire, porém, não prestou muita atenção nisso enquanto olhava para a mulher novamente.

Pelo que ele podia ver por suas vestes, a mulher não era afiliada com nenhum dos dois grupos. Claire estava certo de que não havia visto uma mulher vestida assim quando estava checando a lista de passageiros, o que fazia restar apenas uma única possibilidade.

Seus hábitos como condutor fizeram-no instintivamente perguntar à mulher algo óbvio.

A sede de sangue em seus olhos esvaiu-se por um momento, enquanto ele temporariamente tornou-se o condutor de antes do fiasco.

Mas Rachel não teve tempo para preparar-se para sua mudança.

O que foi isso?! O que está acontecendo?!

Rachel foi tomada por confusão. A sombra vermelha arrancou as pernas do homem de preto com força e agilidade inumanas. Impiedosamente colocando-as nas rodas do trem. O vagão estremeceu horrivelmente quando as pernas do homem foram arrancadas, mas a sombra vermelha nem mesmo vacilou com o impacto, mesmo que estivesse pendurada no trem apenas por suas pernas.

Ela então jogou o corpo de volta para o vagão com um poder sobre-humano e olhou na direção de Rachel.

A mulher olhou a criatura nos olhos, aterrorizada demais para mover. Ela parecia calma por fora, mas, na realidade, sentia como se o seu coração fosse explodir de terror. Os olhos da silhueta vermelha não poderiam ser humanos. Olhar para eles deixavam-na enjoada, como se estivesse olhando para, e sendo sugada por, um abismo sem fundo.

A sede de sangue lentamente começou a esvair dos olhos do monstro, mas ele logo vocalizou palavras que, de certa forma, eram o maior medo de Rachel.

“Suas passagens, por favor.”

“AAAAAAHHHHHH!”

Rachel escalou para longe como um animal assustado. Seus membros moveram-se de uma maneira selvagem, como se todos eles fossem formas de vida separadas, rapidamente transportando Rachel na direção da parte fronta do trem.

O quê?! Aquele era o condutor?! Não pode ser! O que aquilo deveria ser?! Mas essa é a única possibilidade! Por quê? Por que aquela coisa está falando como um condutor?! Ele vai me matar. Se essa coisa descobrir que estou viajando clandestinamente, ela irá me matar!”

Rachel, que já tinha até coletado informações esgueirando-se em esconderijos da máfia, encontrou-se tomada por um medo desconhecido. E esse medo ordenou seus membros a levá-la para o mais longe possível daquele monstro.

Naquele momento, Rachel até mesmo levou em consideração pular fora do trem.

Enquanto os olhos de Claire reganhavam sua sombra original, ele começou a sentir-se indigno como um condutor.

Poxa. Então ela é uma clandestina, huh? O que fazer com ela… Eu deveria jogá-la para fora do trem? Ou eu deveria fazê-la parar de se mover completamente, colocar uma placa dizendo “Eu sou uma clandestina” em volta de seu pescoço, e pendurá-la na estação?

Por um momento, ele considerou ir atrás dela, mas sua racionalidade como um assassino impediu-o.

Opa. Eu deveria ser um monstro agora, não o condutor.

Claire repensou seu plano e novamente formou a expressão monstruosa de um assassino.

Ele reentrou no compartimento de carga com facilidade e começou a caminhar por volta do local, cuidadosamente olhando ao seu redor.

Então, viu um dispositivo sobre uma grande caixa.

Parecia algum tipo de rádio, mas era bem menor que o tipo que era normalmente usado no momento. Claire agora estava relativamente certo de que os homens de preto não eram só um grupo de zé ninguéns.

Mas isso não importava para Claire. Não importa quem seus inimigos sejam, não importa quantos deles haviam, e não importa o tipo de armadilhas que eles armaram, ele tinha tanto a habilidade quanto a confiança para destruir todos.

Claire pegou diversas cordas que estavam jogadas em meio à carga. Elas provavelmente pertenciam aos homens de preto, e talvez pudessem ser úteis no futuro. Ele enrolou a corda mais longa em volta da sua cintura e colocou no bolso uma menor.

Então, começou o seu ataque, saindo e procurando por sua próxima vítima.

A massa viva de violência saiu para defender o bem-estar do trem.

<==>

Após seu encontro inicial com a gangue de Jacuzzi, Ladd e Lua, que formavam o núcleo da gangue dos homens de branco, encaminharam-se até a cabine do condutor com seu amigo.

Claro, Ladd foi o único que entrou no lugar.

“Interessante. Isso é inacreditável. Sério! Por que esse lugar inteiro está coberto por sangue? Não é estranho? Ou talvez eu deveria dizer ‘incrível’! Como caralhos alguém faz uma bagunça tão grande quando mata alguém?”

Lua e o outro homem de branco mantiveram-se parados na porta. Metade do chão estava coberto por um mar de vermelho, e rolando por ele estava o corpo sem um braço e o rosto. Largado em um canto da cabine havia um condutor de meia idade com a parte de trás da cabeça explodida. Ele provavelmente levou um tiro.

“Hmmmm?! Esse amiguinho sem rosto poderia ser o nosso companheiro Dune? Esse é um trabalho muito bom! É isso o que chamam de mensageiro perdido? Quem fez isso com você, amiguinho? Nós não podemos nos vingar a menos que descubramos quem fez isso. Ah, que tragédia! Nós nem conseguimos fazer algo tão simples quanto vingar um amigo!”

Ao contrário de seu amigo, que olhava para o outro lado com o rosto pálido, Ladd cuspia emoções por completo.

Ele jovialmente saltitava pelo quarto, tentando imaginar que tipo de monstro poderia ter feito isso com Dune. Cada vez que ele pisava no chão, o sangue respingava em sua roupa, tingindo-a em um tom ainda mais escuro de vermelho.

No fim, Ladd

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA riu, então ficou quieto e saiu da cabine do condutor.

E ao passar por Lua, ele deu-lhe um aviso sério.

“Cuidado, docinho. Não sei o que é, mas há algo perigoso nesse trem. Ninguém sem um parafuso a menos pode matar alguém assim. Mas ele não é um necrófilo, e nem um homicida lunático como eu. Acho que tenho que chamá-lo de ‘monstro que adora um exagero’.”

Ele então parou onde estava e olhou diretamente para Lua.

“Eu irei atrás desse desgraçado e dos homens de preto, então vá se esconder em algum lugar, tá bom?”

Ladd sorriu diferentemente do que costumava, havia um pouco de “calor” em sua expressão. Porém, enquanto via Lua silenciosamente assentia, sua expressão começou a mudar.

“Porque eu sou o único que tem permissão de te matar.”

Lua corou e olhou para baixo.

Eles são dois loucos. O homem de branco observando-os pensou. Ladd. Essa frase é reservada para vilões em filmes sobre o velho oeste quando eles ameaçam matar o herói. Por que caralhos você iria dizer isso para sua noiva?

O amigo estava muito ciente do fato de que Ladd estava dizendo a verdade; Algum dia ele mataria Lua.

Ele também sabia que isso era exatamente o que Lua queria.

<==>

Isso é inacreditável. O que aconteceu aqui?

Quando ele entrou no vagão de carga e viu o corpo sem pernas, Czes encontrou-se ofegante.

Isso não poderia ter sido o trabalho de um homem de preto, já que o corpo também estava vestido de preto. Os pensamentos dele naturalmente penderam para os homens de branco.

Talvez tenha sido aquele louco que apareceu no salão de jantar.

Ele considerou que isso poderia ser o trabalho de um imortal, mas nada sobre imortalidade garantia poder sobre-humano. Se um imortal tivesse que enfrentar um vampiro direto dos livros, sua única vantagem seria sua relativa falta de fraquezas. Imunidade à morte era tudo que tinha sido garantido aos alquimistas, nada mais.

Então quem poderia ter feito algo assim?

As palavras-chave que Czes ouviu anteriormente ressurgiram em sua mente.

O Espreitador de Trilhos…

“Não pode ser.” Ele disse, subconscientemente negando a possibilidade. Talvez sentisse um ar de perigo sobre isso em algum lugar e estava tentando suprimi-lo.

Se não, a única coisa que consigo pensar é um acerto direto de meus explosivos.

Czes imediatamente pensou na mercadoria que havia escondido no vagão atrás desse. Seria vendida para a Família Runorata, com metade dela em um contêiner especial ainda em pó, e a outra metade processada em dinamite e granadas de cerâmica. Elas eram praticamente artesanatos que ele fez como um hobby, mas Czes havia ouvido que granadas de cerâmica eram usadas no Japão.

A Família Runorata atualmente estava envolvida em problemas, e por isso precisava urgentemente de explosivos simples e poderosos.

Os novos explosivos que Czes criou como um subproduto eram mais poderosos e estáveis que qualquer um antes deles. Mas no fim, eles não eram nada além de subprodutos. Ele estava quase desfazendo-se deles quando a oferta da Família Runorata apareceu.

Um acerto desse novo produto iria facilmente separar os membros do torso. Não seria estranho o corpo em si ficar totalmente despedaçado pela sua explosão. Claro, a possibilidade foi desconsiderada pelo fato de que, além de suas pernas, o corpo estava sem ferimentos.

Poderiam mesmo ter sido os homens de branco?

Ele iria descobrir eventualmente. Czes perdeu o interesse no corpo e começou a caminhar na direção da cabine do condutor. O garoto quase encontrou-se com os homens de branco diversas vezes em seu caminho para cá, mas evitou-os entrando em cabines e banheiros. Ele tinha que negociar com seu líder enlouquecido e mais ninguém, ou a conversa provavelmente não duraria muito.

Esse homem não é o tipo que ficaria parado em um lugar. Tenho certeza que encontrarei ele eventualmente se continuar indo até a cabine do condutor. Czes pensou para si mesmo, e dirigiu-se até a parte traseira do trem.

E logo, ele encontrou Ladd no segundo vagão de carga, como esperava.

“Hm?”

Ladd e os outros tinham decidido voltar para a parte de frente do trem quando encontraram uma pequena silhueta no segundo vagão de carga.

Ele havia visto esse garoto antes, no salão de jantar.

“Você quer algo, criança?” Ladd disse, desinteressado, mas sua mente já estava preenchendo-se com sede de sangue.

O que você quer, pirralho? Você me viu destroçar aquele homem de preto no vagão de jantar. Não fode. Tira esse sorrisinho da sua cara. Acha que está seguro só porque é uma criança? Eu vou matar você!

Enquanto as chamas negras da raiva ameaçavam consumir Ladd por dentro, o garoto sorriu animadamente e falou.

“Você foi tão forte lá, senhor! Eu fiquei surpreso!”

Níveis de Sede de Sangue: [ – ]

“Oh? Você acha, criança?”

“Sim! Se você estivesse em um ringue, aposto que teria ganhado o cinturão agora!”

Níveis de Sede de Sangue: [ – ]

“Hmm… Eu não ligo muito para puxa-sacos. Então o que você quer de mim?”

“Eu quero te pedir para fazer algo.”

Níveis de Sede de Sangue: [ + ]

“Eu não posso dizer isso aqui fora, então vamos falar sobre isso no compartimento.” O garoto entrou e gesticulou para Ladd.

Níveis de Sede de Sangue: [ + ]

“Eieieieiei, pirralho de merda. Não seja tão fofinho comigo.”

“Senhor? Por favor, não fique irritado.”

Haviam diversas caixas de todos os tamanhos empilhados no quarto. Czes pegou uma delas e sentou-se.

“Calado. É melhor se lembrar de que estou te deixando viver apesar de você ter me chamado de senhor, mesmo que eu tenha apenas vinte e cinco anos. E você sabe que, dependendo se me incomode ou não, esse pedido pode te matar, criança?”

A boca de Ladd contorceu-se em um sorriso, mas seus olhos estavam cheios de sede de sangue.

O garoto, porém, não foi intimidado. Ele fez uma expressão inocente enquanto fazia seu pedido.

“Você poderia matar todas as pessoas no vagão de jantar para mim, senhor?”

O medidor mental de Sede de Sangue de Ladd abalou-se violentamente. Czes notou a expressão surpresa dele e continuou.

Mas sua voz e atitude mudaram completamente.

“Claro, eu irei compensá-lo de acordo. Aceitando meu pedido, você poderá matar todas as pessoas que quiser, e tenho minha segurança garantida. Apesar de que eu deva pedir que você desconsidere questionar sobre minha definição de segurança.”

Ladd franziu as sobrancelhas com as palavras do garoto, mas seus companheiros estavam de olhos arregalados.

Uma criança disse tudo isso?

Ladd foi o primeiro a ver através da verdadeira natureza de Czes.

“Você… Você não é uma criança, não é?”

“Fico feliz que tenha entendido rápido.”

O menino sorriu amigavelmente, assentiu, e começou a suas negociações.

“Se você matar todos os passageiros para mim, pagarei duzentos mil dólares para você.”

Czes iria lucrar quinhentos mil dólares com suas negociações com a Família Runorata. Não só duzentos mil dólares eram completamente acessíveis, também não era nada em comparação com o valor de descobrir a identidade de outro imortal. Ele teria todo o tempo do mundo para devorar qualquer um dos passageiros que começassem a regenerar.

Os seus lucros eram enormes, considerando o fato de que um contrabandista comum no fundo do poço ganhava por volta de duzentos dólares por semana. Claro, essa era mais ou menos a quantia que um contrabandista sob as ordens de Capone ganhava em um único dia.

“Acho que não.”

Ladd não era alguém fácil de se convencer. Assim que a ideia de que ele estava encarando um adulto no corpo de uma criança foi processada, ele começou a colocar seus esforços em negociar um plano maior.

“Quantas pessoas você acha que eu teria que matar só para chegar até o vagão de jantar? Claro, nós poderíamos matar eles facilmente, e nós estávamos planejando eliminar metade deles de qualquer forma, mas nem ferrando que eu vou fazer isso pelo seu dinheiro. Aliás, nós já temos nosso próprio plano. Um dos nossos amiguinhos está falando com a companhia ferroviária agora mesmo. Ele provavelmente está pedindo por dez milhões, no mínimo. Eu disse para ele fazer o que quisesse, então talvez ele esteja pedindo por bilhões de dólares!”

“Você acha que um plano tão imprudente iria funcionar?”

“Se eles vão pagar ou não, não importa. É tudo sobre a atitude. Aliás, como eu saberia que você vai mesmo pagar?”

O rosto infantil de Czes contorceu-se em um sorriso amargurado.

“Agora que você diz, é verdade. Pelo que posso ver, você é um homicida lunático que consegue misturar-se dentre a sociedade. E interessante o suficiente, você até mesmo tem seguidores. Parece que você é do tipo que nunca pensa muito sobre as coisas ou faz planos de antemão. Suponho que até agora você apenas seguiu o fluxo e fez decisões racionais baseadas na situação do momento.”

“Pare de falar como se você soubesse tudo sobre minha vida.”

Porém, em contraste com o enfraquecimento do tom de Ladd, as palavras de Czes tornavam-se mais fortes.

“Talvez eu possa ajudar. Atualmente estou em negociações com a Família Runorata em Nova York. Se você quiser, eu poderia falar bem de você para eles.”

O homem de branco atrás de Ladd comentou:

“Runorata? Essa é uma das grandes de Nova York. Nem ferrando que ela aceitaria esconder um assassino em série.”

“A solução é simples. Tudo que precisamos fazer é nos livrarmos de qualquer necessidade de esconder-se.”

“O quê?”

“Eu escondi uma grande quantidade de explosivos a bordo desse trem. Estou planejando usá-los para negociar com os Runorata, mas irei ativar alguns deles quando você tomar conta das escórias no vagão de jantar. Eu trouxe alguns extras como contingência, então não deve ter problema.”

“O que isso quer dizer?”

“Nós causaremos uma explosão e pararemos o trem. É aí que fugimos. Claro, você terá que me ajudar com o transporte dos explosivos restantes. Enfim, as coisas serão simples. Eu consigo ver as manchetes de amanhã: ‘Grupo Misterioso de Preto Causa Explosão em Trem’.” O garoto gargalhou. Insanidade lentamente formava-se em seus olhos. Czes nunca percebeu isso, mas se ele tivesse, iria negar, mas era inegável que seus olhos começaram a lembrar aqueles do homem que ele havia devorado.

Os olhos corrompidos e destorcidos de seu torturador.

“Mas…”

“Não há com que se preocupar. Os funcionários na Estação União testemunharam a ‘orquestra’ carregando uma grande quantidade de carga no trem. E sua bagagem realmente estava cheia de armamentos. Essa será a conclusão: Qualquer um que viu os seus rostos terá morrido, e vocês não foram encontrados com os outros passageiros na lista porque foram explodidos.”

Ele então bateu suas palmas juntas em epifania.

“Ou, nós podemos deixar um dos seus homens para trás e agir como um sobrevivente. Ele poderia inventar um falso testemunho para cobrir vocês.”

Czes ficou em silêncio, esperando a resposta de Ladd. Após um breve momento, ele respondeu.

“Eu não entendo.”

“Hm?”

“Se você tem todos esses explosivos ao seu dispor, por que não faz isso por conta própria? Tudo que precisa fazer é colocar fogo.”

“Isso iria ser um inconveniente para mim. Há um certo corpo que eu preciso recuperar após isso, e eu prefiro não ter que pegar os pedaços, se você entende o que quero dizer.”

Imortais geralmente regeneram com a cabeça como centro. Se a explosão jogar a cabeça do imortal para fora do trem, seria difícil para Czes. E se os corpos destruídos ficassem misturados entre si, o imortal poderia reganhar consciência antes dele achá-lo. Sua maior prioridade era achar o imortal antes de tudo.

Czes finalmente mudou seu tom e atitude para os de uma criança novamente, e fez seu pedido.

“Você fará isso para mim, certo, senhor?”

Níveis de Sede de Sangue: [MÁXIMO]

Os olhos de Ladd instantaneamente recobraram suas chamas enquanto ele animadamente apontava sua arma na direção da testa de Czes.

“Você diz que eu sigo o fluxo e apenas faço decisões racionais de acordo com a situação momento. Você está errado, seu pirralhinho de merda. Eu nunca tentei viver calculando minhas próprias ações.”

Um brilho de luz saiu do cano da arma e a cabeça do garoto foi explodida acima de seu pescoço.

“Claro, eu mato pessoas calculando as ações delas.”

<==>

“Por que você teve que matar ele, Ladd? Era um acordo muito bom.”

“Verdade, era uma oferta incrível. Mas você viu o olhar nos olhos dele? Agindo como se não houvesse jeito dele ser morto por mim! Ele estava seriamente achando que eu não iria matá-lo! Ele estava se achando superior a mim! Ladd Russo! Bem, sendo honesto, eu apenas matei ele porque era irritante.”

“Mas-”

“Você viu aquele olhar irritante no rosto dele? Mesmo antes de eu estourar o rosto dele, ele agiu como se nada estivesse errado! … Droga, isso é irritante…”

No momento, Czes abriu os olhos, Ladd e seus amigos não estavam mais à vista.

Que criminoso inútil. Por quanto tempo eu apaguei? Não deve ter sido mais que vinte segundos, em média.

Czes estava acostumado com ter sua cabeça destruída. Afinal, ele reganhou consciência no exato momento da regeneração.

Hmph. “Ele” sempre costumava estourar minha cabeça. Jogá-la ao chão e paredes com um porrete ou facas. Parando para pensar, essa é a primeira vez que levei um tiro. Mas talvez seja uma boa coisa ter sido rápido e indolor.

Certificando-se de que sua cabeça estava completamente curada, Czes saiu do compartimento de carga.

Naquele momento–

“AAAAAAH! Jacuzzi! Por favor, acorde! Seus ferimentos não são tão sérios! Você tem que viver!”

“Não há nada de errado com seus ferimentos!”

Czes reconheceu as vozes do casal estranho, Isaac e Miria, lamentando no corredor. Ele não queria arriscar encontrar com eles, e decidiu esconder-se atrás da carga.

“Uh? Não há ninguém aqui.”

“Está vazio!”

Isaac e Miria começaram a patrulhar o compartimento. O garoto silenciosamente caminhou por volta dos lados escondidos das caixas, cuidadosamente escutando seus movimentos.

“Isso é estranho. Eu podia jurar que ouvi eles falando sobre terem atirado e matado em alguém aqui.”

“Eles disseram que receberam uma oferta de alguém, mas eles se revoltaram e mataram a pessoa!”

Como eles sabem? Czes perguntou-se, mas ele não deixou sua curiosidade distraí-lo de escapar para o corredor enquanto a dupla xeretava nos fundos do compartimento de carga.

Ah, bem. Por agora, eu verei no que tudo isso está resultando. Talvez os homens de preto terão uma chance de massacrar as pessoas no vagão de jantar.

<==>

Czes nunca percebeu que havia outra figura escondendo-se nas sombras do vagão de carga.

A sombra estava coberta por um vermelho tão escuro quanto vinho.

Quem imaginaria que o pequeno Czes era uma criança tão má? Não, eu acho que ele não é nem uma criança pra início de conversa, huh?

Como Claire havia inspecionado a lista de passageiros, ele era capaz de colocar um nome para a maioria dos rostos a bordo do trem. Claro, os homens de preto e os homens de branco ambos pareciam ter decidido usar pseudônimos.

Cada vagão do Flying Pussyfoot estava equipado com um alçapão no chão para checagens de emergência. Quando ele viu os homens de branco entrando, Claire esgueirou-se debaixo do vagão e abriu a porta do alçapão no canto do compartimento de carga. Ele nunca teria imaginado o tipo de conversa que acabou escutando. Quando escutou as vozes de Isaac e Miria, voltou para a parte de baixo do trem e silenciosamente fechou o alçapão.

E agora? O pequeno Czes está morto, então eu não tenho que me preocupar com ele. Parece que eu deveria checar a Segunda Classe e todos os homens de branco.

Claire já havia tomado conta de dois homens de branco na Terceira Classe em seu caminho. Ele não quis se incomodar muito, então só jogou seus corpos para fora do trem, juntamente dos corpos dos homens de preto que estavam na mesma cabine.

Havia uma razão em específico pela qual ele voltou aos vagões traseiros. Um dos deveres do condutor era enviar sinais frequentes para a locomotiva, para que os engenheiros não parem o trem por medo de um acidente. Se Claire negligenciasse o seu dever e permitisse o trem parar, os homens de preto ou de branco poderiam acabar matando os passageiros. Mesmo descontando a possibilidade das fatalidades dos passageiros, seria um inconveniente para ele se o trem parasse.

Havia uma chance dos homens de preto já terem tomado conta da locomotiva. Mas Claire tinha quase certeza de que eles planejavam certificar uma jornada suave, julgando pela presença de um condutor falso. Talvez eles não estivessem cientes de que seu aliado já havia sido morto.

Com isso, Claire decidiu que iria manter os sinais regulares durante o caminho dessa viagem. Isso significava que ele teria que retornar à cabine do condutor em intervalos regulares.

Isso foi quando ele percebeu Czes e os homens de branco, seguiu-os, e chegou a esse ponto.

Uou, essa foi por pouco. Eu tenho que sinalizar a locomotiva primeiro.

Claire deu meia-volta na parte de baixo do vagão, lembrando de suas prioridades.

Parece que eu ainda tenho um tempo sobrando. Vou ver se consigo pegar mais alguns homens de preto no caminho.

<==>

“Não é ótimo caminhar no teto assim? Estupendo, até.” Ladd perguntou.

“Estou com frio…” Lua sussurrou, com os dentes tremendo.

Tendo escutado sobre os tetos do mágico cinza, Ladd decidiu subir imediatamente. Para sua surpresa agradável, o teto oferecia uma vista estrelada do céu noturno, e um maravilhoso caminho livre de homens de preto através do trem. Eram dois coelhos com uma só cajadada.

Com sua alegria, Ladd chamou seus companheiros, mas eles não pareciam dividir seu entusiasmo.

“Não consigo acreditar que você está tagarelando assim em cima de um trem em movimento.”

Ladd estava saltitando como se estivesse no chão, enquanto suas duas companhias mal conseguiam ficar de pé.

“É mesmo? Vocês dois não tem senso de equilíbrio. É por isso que vocês têm que comer uma dieta balanceada. Ou algo assim.” Ladd divagava condescendentemente, avançando.

Eles logo notaram uma figura estranha diversos vagões à frente. A figura estava rastejando através do teto.

Os olhos de Ladd brilharam como os de uma criança que havia acabado de achar um novo brinquedo. Ele estava determinado a descobrir quem era aquela figura.

“Ei, eu vou checar a Primeira Classe rapidinho. Vocês dois só voltem pra nossa cabine e descansem.”

Ladd correu pelo teto, nem mesmo dando uma chance de seus companheiros responderem. Apesar de que eles tinham que dar crédito por ele ser capaz de correr tão rapidamente sem fazer muito barulho.

Os dois olharam um para o outro e desceram até a região de engate mais próxima de sua cabine.

Eles não estavam nem um pouco preocupados com a segurança de Ladd, sendo totalmente incapazes de imaginá-lo sendo derrotado por um mero homem de preto.

<==>

Chane estava de pé no teto do vagão da Primeira Classe, a brisa congelante do inverno assaltava as suas costas.

Tendo caçado um dos homens de branco, ela decidiu ficar de guarda no teto.

Eles posicionaram guardas no vagão de jantar, onde não haviam outros compartimentos. Isso significava que os homens de branco, com seus números inferiores, provavelmente iriam atacar pelo teto.

Chane planejou aniquilá-los por conta própria.

Ela não pediria pela ajuda de Goose. Ela já sabia que ele, e os outros, eram traidores, assim como Neider.

Goose tinha apenas um objetivo, e esse era ganhar as habilidades de Huey. A única coisa que diferenciava-o de Neider era o fato de que ele estava ao lado da revolução de Huey.

Mas para Goose, Huey não era o centro da revolução. Se a revolução fosse um sucesso, Huey seria apenas um incômodo para ele. A única razão por que ele agarrava-se à essa lealdade forjada, era a benção que Huey prometeu-lhe. A benção das habilidades de Huey.

Assim que seus corpos tornarem-se como o de Huey, Goose e os outros provavelmente iriam expulsá-lo de seus meios. Sim, Goose estava sob a impressão de que eles estavam enganando e manipulando Huey. E eles eram tolos para fazê-lo.

Afinal, nenhum deles percebeu que Huey era o enganador, não Goose.

Huey não contou a verdade para mais ninguém além de Chane. Ele sabia que ela seria leal a ele até o fim.

Chane sabia que Huey Laforet tinha um corpo imortal.

Ela sabia que ele reuniu esses revolucionários com a isca da imortalidade.

Ela sabia que nem mesmo Huey poderia garantir tais habilidades aos outros.

Ela sabia que, na verdade, Huey não tinha interesse em um mundo revirado pela revolução.

Ela sabia que o objetivo de Huey era achar os limites da imortalidade na sociedade.

Ela sabia que tudo que Huey queria era ver se um imortal poderia derrotar uma nação inteira.

Ela sabia; Huey contou para ela que amava-a.

Ela sabia; Ele não amava-a como uma mulher.

Ela sabia; Huey era seu pai.

Que essa imortalidade não era passada para a cria de um imortal.

Que um dia, seu corpo iria ficar mais velho que o de seu pai.

E Chane sabia que, um dia, ela iria inevitavelmente morrer antes de Huey.

Se os esforços do resgate tiverem sucesso, Goose provavelmente tentaria forçar o segredo da imortalidade de Huey. Mas seria ainda mais perigoso deixá-lo nas mãos do governo. Chane já escutou que havia outro imortal trabalhando como um oficial no Departamento de Investigação. Seu pai estava sob o perigo de ser devorado.

Apenas uma pessoas sabia de seu passado.

Ela tinha apenas uma pessoa que poderia chamar de família.

Havia apenas uma pessoa que a amava.

Havia apenas uma pessoa que ela amava.

Huey Laforet.

Ela não poderia perdê-lo. Ela não poderia entregá-lo para ninguém.

Chane estava planejando resgatar Huey. Ela sabia que Huey não concordava com a tomada de reféns, mas isso não importava. Ela estava meramente usando a desculpa de assegurar sua segurança com o objetivo de cumprir seu desejo egoísta de resgatá-lo.

Ela não iria permitir nada ficar em seu caminho, mesmo se ela tivesse que encarar um monstro lendário.

Ela avistou duas pessoas rastejando através do vagão de jantar. Eles não eram homens de branco, mas Chane não deixaria eles ficarem em seu caminho. Talvez eles fossem passageiros em fuga, o que aumentava sua determinação de matar. Enquanto ela vacilava entre suas escolhas opostas, apenas pensava no rosto e palavras de Huey.

Ela subitamente foi atingida por uma sensação desagradável. Era como se uma criatura terrível estivesse vigiando-a, enviando calafrios por sua espinha.

A fonte de seu desconforto logo tornou-se conhecida, emergindo de trás das pessoas rastejando.

Era um homem vestindo um terno branco coberto de respingos de sangue.

Chane poderia dizer instantaneamente que esse era o homem que havia matado dois dos subordinados de Goose no vagão de jantar.

<==>

“Essa é uma dama muito interessante.”

Ladd estava de pé na traseira do teto do vagão de jantar, encarando a mulher que firmemente mantinha-se de pé no vagão a frente do seu.

E pensar que um par de figuras rastejando iria levá-lo até tal joia preciosa; Ladd agradeceu sua própria intuição. Foi uma coisa boa ele ter vindo atrás desses fugitivos.

A força de seu olhar, penetrando a fumaça, era o suficiente para enviar calafrios prazerosos através da espinha dele. No mesmo instante, Ladd sabia que seria mais que proveitoso matar essa mulher. Ele não queria nada mais além de encher os olhos dela com desejo e terror.

Ladd, o líder dos homens de branco, era o que chamam de um ‘homem normal’. Apesar de seu tio Placido ser conhecido no submundo criminal, Ladd e sua família viviam em circunstâncias praticamente normais. Não havia gatilho algum que virasse-o para o caminho da escuridão. Ele foi criado em uma família de Chicago muito comum.

Suas tendências homicidas não nasceram a partir de um incidente particular. Pensamentos sobre as diferenças entre vida e morte, a diferença entre humanos que iriam ou não morrer, apenas surgiram um dia, como se ele estivesse decidindo o que iria comer no jantar.

Parte da mente de Ladd erodiu enquanto ele lentamente começava a lidar com esses pensamentos, e ele chegou a uma conclusão. No momento que esse processo terminou, sua mente estava quebrada além de qualquer tipo de cura. Suas filosofias distorcidas amadureceram firmemente, não conhecendo nem derrota nem compromisso.

Não houve evento traumático, nem dor, ou passado ruim em sua vida. Nada em sua história era relevante para o fato dele ter tornado-se um assassino insano. Se havia um aspecto extraordinário dele, era que Ladd foi capaz de rapidamente integrar o ato de assassinar em seu ser.

Ele tinha suas próprias convicções, mas eles eram um pouco mais que uma desculpa para seu senso de estética. E enquanto o trem afundava em caos, Ladd estava vagando com nada mais além de sua própria sede de sangue como guia.

E ele havia finalmente localizado o brinquedo mais interessante de todos.

Uma rajada de vento afastou a fumaça e expôs a forma completa da mulher.

Ladd inconscientemente tomou isso como um sinal para deixar sua presença conhecida.

“Ei, você! Não está com frio, aí com um vestido como esse?!”

<==>

Claire não sabia o que fazer.

Ele havia conseguido voltar à cabine do condutor para sinalizar a locomotiva. A presença do estranho pistoleiro impediu-o de entrar, mas um jovem tatuado e o gigante arrastaram eles para longe, dando uma chance de Claire sinalizar a locomotiva antes que fosse tarde. Ele conseguiu ganhar um tempo com isso.

A indecisão dele veio depois disso.

Claire havia dirigido-se até a Segunda Classe rastejando pela parte de baixo dos vagões. Ele não viu nada de errado ao olhar pelas janelas enquanto segurava-se nas ornamentações sobressalentes na lateral do trem. O problema era que haviam um par de passageiros da Terceira Classe em uma das cabines que deveria pertencer aos homens de branco.

Um deles era um homem coberto inteiramente por tecidos cinzas. Ele provavelmente era o médico chamado Fred. O outro homem, porém, era impossível de ser reconhecido por conta de seu rosto ensaguentado. Claire apenas reconheceu que era da Terceira Classe porque claramente estava vestido como um delinquente. Ele não estava estereotipando, os únicos passageiros que estava vestidos assim hoje estavam na Terceira Classe.

Parecia que o médico vestido como uma mágico, Fred, estava tratando o homem.

Isso por si só não era estranho, mas por que eles estavam na Segunda Classe? E em uma das cabines dos homens de branco, ainda por cima?

Claire não tinha nada além de perguntas.

Nesse mesmo instante, a porta da cabine abriu e um homem e uma mulher, ambos vestidos de branco, entraram. Claire havia os visto antes, eles eram duas das três pessoas que estavam no compartimento de carga onde Czes levou um tiro.

“Oh…” Lua murmurou ao abrir a porta, tão baixo que ninguém escutou.

“Quem caralhos são vocês?!” O homem de branco berrou. Por que o mágico que eles haviam encontrado antes estava aqui, tratando do delinquente que Ladd havia espancado?

“Então esse era o seu quarto?” O mágico cinza disse, em um tom baixo. “Seu amigo Ladd foi gentil e me deixou usar essa cabine. Obrigado.”

Ele então retornou ao tratamento do homem ensanguentado.

Os companheiros de Ladd olhavam um para o outro, surpresos com o fato dele ter feito algo assim. O mágico cinza inclinou sua cabeça levemente na direção deles, com suas mãos ainda trabalhando em seu paciente.

“Sinto muito em pedir, mas eu gostaria de sua ajuda para colocar esse paciente na cama.”

O que está acontecendo aqui? Eu não consigo dizer se esse Fred é um aliado ou inimigo.

Enquanto Claire pensava nas possibilidades por fora da janela, ele subitamente percebeu que a mulher de branco estava olhando para si.

Ele encarou em retorno. Seus olhos se encontraram. Claire tinha certeza que ela iria começar a gritar, mas a mulher apenas olhou para ele em silêncio, sem nem mesmo piscar.

Que dama estranha. Ah, bem, voltarei para essa cabine mais tarde. Claire pensou, lentamente empurrando-se para longe da janela.

Então, ele escutou o som de alguém avançando pelo teto do trem, e outro som similar seguia-o.

Claire desistiu de descer e empurrou seu torso na direção do teto. Ele olhou na direção dos passos desaparecendo e viu duas pessoas dirigindo-se até a traseira do trem. Sob a fraca luz da lua ele podia identificar a cena de uma mulher com um vestido preto perseguindo um homem de branco.

Ele abaixou-se na direção da parte de baixo do trem novamente. Em contraste com os movimentos de macaco da mulher de macacão, Claire era mecânico e firme, ainda movendo-se em uma velocidade muito mais rápida. Ele quase parecia com uma aranha vermelha e gigante.

Claire subiu na região de engate da Terceira Classe. Ele pretendia ver onde a mulher de preto e o homem de branco estavam agora, mas ele não tinha certeza de que eles ainda estavam no teto.

Primeiro, ele bisbilhotou pela janela na porta, checando os corredores antes de escalar para o teto. Mas algo o interrompeu, fazendo-o franzir as sobrancelhas.

Havia uma figura pequena silenciosamente andando pelo corredor da Terceira Classe. A altura da pessoa rapidamente revelou sua identidade, mas isso formou outra pergunta.

O pequeno Czes? Ele não estava morto agora pouco?

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Czes entrou em uma das cabines da Terceira Classe e sentou-se em um dos assentos sem estofado. Apenas as Primeira e Segunda classes tinham camas, os passageiros da Terceira Classe tinham que usar suas cadeiras caso quisessem dormir.

Todos as outras cabines da Terceira Classe pelas quais o garoto passou em seu caminho do vagão de carga estavam ocupadas por passageiros atados. Ele havia bisbilhotado por cada porta e finalmente encontrou uma cabine vazia.

Deixando de lado, havia uma notável absência de homens de preto nos corredores. Ele esperava que algum deles estariam de guarda aqui para vigiar os passageiros, mas supôs que os homens de branco devem ter tomado conta deles.

Irei me esconder nessa cabine por enquanto e ver o que acontece. Será mais fácil fazer meu movimento após uma das facções exterminar a outra.

Czes fechou seus olhos para descansar, certificando-se de que mantinha-se consciente e acordado.

Foi aí que ele ouviu a porta abrindo.

“?!”

Czes levantou-se imediatamente e focou sua atenção na porta. Ela era aberta aos poucos, revelando que aquele que estava bloqueando a luz do corredor era um misterioso homem de vermelho, que tinha o rosto coberto em sangue.

O vermelho-claro assustou o menino por um momento, mas ele percebeu a parte da roupa do homem que não era vermelha. O garoto percebeu que as roupas não eram vermelhas, mas que estavam cobertas de sangue.

Por conta das pequenas seções limpas serem brancas, Czes confundiu ele com um dos homens de branco.

“Quem é você, senhor? Você é um dos amigos do senhor Ladd?” Ele perguntou em um tom infantil, mas o homem não respondeu.

“O que foi…? Quem é você, senhor?”

Uma semente de medo plantou-se em Czes.

O homem de vermelho fechou a porta com força, não escutando o que Czes tinha para dizer. Agora eram só os dois nessa cabine, e a semente de medo em Czes apenas continuou a crescer.

Talvez esse homem seja o imortal. Czes não recordava de tê-lo visto no vagão de jantar, mas a maneira que o homem agia era o suficiente para assombrar ele com incerteza.

“Por favor, senhor. Meu nome é Thomas. Talvez você esteja procurando por outra pessoa.”

Ele não sentiu resistência ao apresentar-se com um pseudônimo. Em outras palavras, esse homem misterioso não era o imortal. Czes suspirou aliviado, não havia motivo para ter medo ao encarar um mero ser humano.

Mas as primeiras palavras que saíram da boca do homem mergulharam Czes de volta à confusão.

“Você está sendo um garoto mau, Czes. Ou eu deveria dizer, Czeslaw Meyer.”

“C-como você sabe o meu nome?”

O homem de vermelho não respondeu. Czes desesperadamente procurou por suas memórias, tentando ver se ele já encontrou esse homem antes. Sua voz soava vagamente familiar, mas Czes não conseguia lembrar. Ele supôs que não deveria ter sido nada além de uma semelhança.

No fim, Czes foi incapaz de lembrar que o homem era o condutor que estava vendo a lista de passageiros quando ele embarcou.

Quem é esse? O que há de errado com seus olhos? Há algo ruim neles… Algo ainda pior que os daquele lunático Ladd. É como se ele não fosse humano. Não… Não pode ser. Mas se demônios são reais, então esse homem pode ser…

As histórias que ele escutou no vagão de jantar subitamente surgiram em sua mente, e Czes inconscientemente disse um nome em voz alta.

“O… Espreitador de Trilhos…?”

O monstro parecia positivamente surpreso com a fala de Czes.

“Então você sabe, huh?”

Czes lembrou-se do que Isaac havia dito. O Espreitador de Trilhos iria devorar crianças más.

Enquanto os batimentos cardíacos de Czes cresciam ao ponto de quase serem audíveis, o monstro deu um único passo em sua direção.

“Eu sou o Espreitador de Trilhos.” Claire disse confiantemente, apesar do fato de que essa série de palavras soavam mais como uma piada ruim.

Mas Czes olhou em seus olhos, mudando sua percepção da afirmação. Os olhos do homem eram escuros o suficiente para engolir tudo ao seu redor, completamente diferente do seu tom de voz.

“Eu sei que você não é uma criança. E eu sei o que você está planejando. Então eu apenas vou fazer um favor ao mundo e me livrar de você.”

Como seu alvo não era uma criança, Claire não tinha intenção de mostrá-lo piedade. Czes era tanto um inimigo ao trem quanto um aliado da Família Runorata. Esses dois fatores eram o suficiente para justificar sua morte.

“A… AAAAAAAHHH!”

Czes arregaçou sua manga antes do homem revelar ser um monstro. Uma faixa de couro estava enrolada no seu braço, e um longo e fino objeto coberto por tecido estava amarrado nela.

Ele desajeitadamente sacou o objeto e violentamente jogou para longe o tecido que o cobria, revelando uma lâmina afiada. Era um bisturi, do tipo usado em operações cirúrgicas, mas com duas vezes o comprimento de um normal.

O garoto abaixou-se rapidamente e investiu na direção do homem.

Ele inclinou-se para cima ao aproximar-se do monstro, tentando alcançar sua garganta. Um estonteante brilho prateado traçou um arco em meio o ar enquanto avançava na direção da garganta do monstro.

Thump.

O monstro não deu um único passo. Ele agarrou o braço de Czes como se tivesse sido picado por um mosquito. O ataque do garoto terminou antes mesmo dele conseguir resistir.

O monstro segurou a lâmina com sua mão esquerda. Foi quase simultaneamente que sua mão direita agarrou Czes pelo pescoço e rasgou parte de sua de sua carne em um único movimento.

“Uhh…” Czes gemeu de dor. Sangue escorria pela mão direita do monstro e caía no chão, gota por gota. O monstro pegou a faca de Czes e chutou seu corpo pequeno.

O garoto cambaleou para trás e alcançou o canto do quarto, colapsando abaixo da janela. Sua artéria carótida havia sido danificada. Não havia uma maneira lógica dele sobreviver.

Acabou. Claire pensou, encarando o menino colapsado mais uma vez enquanto saía da cabine. Mas ele parou após sentir algo estranho rastejando sobre sua mão direita. O sangue em sua mão estava estremecendo; Não era a sua mão, mas sim apenas o sangue.

O que é isso?

O sangue de Czes, que cobria a mão de Claire, caiu no chão em um instante. Sua mão agora estava completamente limpa.

O sangue no chão contorceu como se tivesse consciência própria e retornou ao seu lugar de direito: O corpo de Czes.

As gotas de sangue respingadas reuniram-se e rastejaram até a carne dele.

“O que foi isso?” Czes choramingou enquanto seu ferimento regenerava. “Isso foi tudo? Você me assustou por um momento. Eu pensei que realmente seria devorado por inteiro.”

Ele riu como se nada estivesse errado.

“Surpreso? Eu na verdade sou imortal.”

O homem de vermelho congelou. Czes não estava mais com medo dele. Inicialmente pensou que o homem poderia ser um monstro, mas seus métodos confirmavam que ele era um humano. O que significava que não tinha motivo para ter medo.

Certo. Vou usar essa. Aposto que ele não teria problemas matando as pessoas no vagão de jantar se eu só enganar ele com promessas sobre a imortalidade.

Czes sorriu maliciosamente, e decidiu fazer uma oferta ao homem de vermelho.

“Ei, senhor, há algo que eu queria te pedir…”

“Eu recuso.”

Huh?

Os seus pensamentos congelaram. Ele não teve nem uma chance para fazer sua oferta.

“Você quer que eu mate os passageiros no vagão de jantar, certo? Sinto que não posso fazer isso.”

Pela terceira vez, o coração de Czes foi tomado pelo medo.

Como ele sabe?

Era como se o sorriso perdido do garoto tivesse sido transferido para o homem de vermelho, que contorceu seus lábios em um sorriso ainda maior.

“Um imortal, huh? Interessante.”

As mão de Claire moveram-se rapidamente por um instante, e houve um som de algo sendo apunhalado.

Era o som do bisturi enterrando-se na testa de Czes.

O garoto sentiu uma dor excruciante emanando de sua cabeça, mas ele conseguiu continuar consciente. Sua visão ficou embaçada e uma dor agonizante corria pela região. Mas ele desesperadamente forçou suas mãos tremendo a puxar o bisturi para fora.

A dor parou. Seus sentidos começaram a voltar ao normal.

“Foi dolorido, mas não é o suficiente para me matar. Suponho que nada é.”

Não havia mais nenhuma necessidade para ele fingir ser uma criança. Czes adotou um tom maduro enquanto começou a ponderar sobre maneiras de combater esse monstro.

Ele conseguiu recuperar sua arma, mas seria extremamente difícil derrotar o homem de vermelho.

Não apenas isso, ele nunca imaginaria que a reação do monstro para sua demonstração de imortalidade seria um mero “Interessante”.

O monstro vermelho deu diversos passos na direção de Czes, estralando seu próprio pescoço no meio do caminho.

“Então o que eu deveria fazer para você? Se você realmente é um imortal, isso significa que eu posso te esfolar vivo, arrancar seus olhos foras, esmagar seu coração em minhas mãos enquanto você observa, e você ainda estaria bem?” Claire perguntou normalmente. A resposta de Czes foi igualmente franca.

“O que seja. Estou mais que acostumado a esse nível de dor.”

“Oh?”

Czes relembrou das incontáveis instâncias de dor que ‘ele’ havia infligido em si no passado. Os exemplos do monstro eram todos coisas que ele havia experienciado repetidas vezes.

O garoto encarava Claire, com sua pequena voz cheia de força. “Você já foi apunhalado nos olhos com pinças ardentes? Você já entrou em uma banheira cheia de ácido? Você já foi jogado vivo em uma fornalha? Eu experienciei esse tipo de dor todos os dias por uma pessoa em quem eu confiava. O que você sabe? Eu não vou me curvar para seus níveis barbáricos de violência. Você não tem o que precisa para alcançar o tipo de dor que estou acostumado!”

Claire, que estava escutando em silêncio esse tempo todo, deu mais um passo para frente.

“Isso é tudo? É realmente tudo?”

“O qu… quê?”

“Não, não. Isso não é nada, Czes. Isso é praticamente brincadeira de criança. Apenas uma criança doente iria brincar assim. Apesar de que posso entender o porquê de alguém gostar desse tipo de coisa…”

Ele deu mais um passo para frente, estapeando o rosto do menino repetidas vezes.

“Você já teve a carne do seu braço cuidadosa e lentamente arrancada? Você já teve os ossos em seu braço esmigalhados nesse estado? Você conhece os métodos chineses de execução? E sobre tortura japonesa? Você sabe os tipos de coisa que alguns aristocratas europeus doentios faziam para manter as pessoas vivas?”

Claire parou de bater em Czes. Havia um brilho monstruoso em seus olhos, fazendo-o parecer como se pudesse roubar a própria alma dele.

“É um risco ocupacional, se puder chamar assim. Eu sei todos os tipos de maneira de infligir dor, até mesmo métodos que não envolvam morte.”

Czes encontrou os olhos de Claire e soltou um baixo grito. Ele então desesperadamente balançou o bisturi em sua mão.

Crunch.

No mesmo instante, o bisturi estava firmemente fixa ao forte aperto dos dentes de Claire. Ele usou apenas sua boca para bloquear o ataque de Czes e arrancou com os dentes os seus dedos finos.

“Ah… Ahhhhh…”

Sangue esguichava da mão direita do garoto enquanto ele soltava um grito gorgolejante. Claire cuspiu pedaços de carne e o bisturi no chão, em seguida segurou a cabeça de Czes com suas mãos.

“Escute, Czeslaw Meyer.” Ele sussurrou gentilmente. “É verdade que você deve estar preparado para um certo nível de dor. Mas o que foi esse olhar em seus olhos? O olhar que você teve quando ficou cara a cara com o Espreitador de Trilhos.”

Os olhos de Claire estavam fixos nos de Czes. O rosto do rapaz estava congelado, como se o seu sistema nervoso tivesse sido debilitado. O olhar de Claire era tão poderoso que ele não podia nem piscar ou olhar para outro lado.

Meu corpo está tremendo completamente. O que é isso…? Eu estou… Com medo? Com medo desse monstro? O Espreitador de Trilhos… Não deveria ser nada além de algo vindo de um filme ruim!

“O que você teme é o desconhecido. Talvez em algum lugar nesse mundo há um tipo de dor que você nunca experienciou antes. E é por isso que você teme o desconhecido mais do que os outros. Estou certo? Como você está tão acostumado com a dor, você tem muito mais medo dela.”

O rosto de Czes estava refletido nos olhos de Claire. Na imagem espelhada haviam olhos cheios de terror; Não eram diferentes quando se tratavam de um adulto ou uma criança. Algumas vezes, como ele fingia ser uma criança e um adulto em momentos diferentes, Czes perguntava-se: Qual deles ele realmente era? Nesse sentido, talvez a pessoa aterrorizada refletida nos olhos de Claire era a verdadeira identidade de Czeslaw Meyer.

O garoto inconscientemente começou a chorar, paralisado pelo medo.

“Eu irei proporcioná-lo um tipo de dor que você nunca experienciou.” Claire disse gentilmente, limpando as lágrimas de Czes. “Até você esquecer como voltar à vida.”

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