Baccano! - Episódio Expresso Parte 2 - Vol 03 - Anime Center BR

Baccano! – Episódio Expresso Parte 2 – Vol 03

Episódio Expresso – O Homem Que Não Morre – Parte 2

Tradutor: PH

Rachel estava escondida abaixo do vagão, com a respiração abafada pelo medo de ser descoberta.

Ela encontrou um pequeno espaço, o suficiente para ela ficar deitada, e fez uma pausa. Rachel olhou ao seu redor, esticando o pescoço, mas o monstro vermelho não estava por perto.

Apesar de que tinha um tempo para descansar, o medo que tinha do monstro persistia. Ela desesperadamente tentou acalmar seu coração, batendo como um tambor em seu peito, e lentamente recobrou seus sentidos.

Com a passagem do tempo, ela finalmente conseguiu acalmar-se.

Certo. Vou fingir que estava vendo coisas.

Rachel sabia muito bem que o monstro era real, mas ela forçou-se a crer nessa linha de pensamento. A coisa mais importante para si nesse momento era ver o que aconteceu no vagão de jantar na sequência de sua partida.

No instante que decidiu retornar ao vagão de jantar para assegurar-se da situação, ela ouviu o barulho de uma janela quebrando misturando-se com o som do trem andando.

Era certeza que algo havia agarrado-se na barra de metal logo ao seu lado.

O que a recebeu foi uma visão familiar.

Uma silhueta vermelha estava equilibrando-se paralela ao chão, segurando-se apenas com suas pernas. Também estava segurando algo em seus braços.

O monstro então abaixou sua mão direita na direção do chão movendo-se rapidamente abaixo deles.

Rachel sentiu um enjoo, mas não conseguia desviar o olhar. Parecia que o monstro vermelho iria olhar para ela assim que desviasse-o. Outra razão por sua náusea era o fato de que a atual vítima da criatura era um jovem garoto. O menino também era familiar, ela havia o visto entre as pessoas animadas reunidas ao redor do estranho pistoleiro.

O garoto estava sem seu braço e perna direito. Ele já deveria estar morto, mas por que o monstro iria tão longe?

Enquanto Rachel estremecia com sua curiosidade mórbida, um ornamento de metal em sua manga chocou-se contra uma das partes de metal abaixo do trem e começou a fazer um tilintar.

Os tilintares deveriam ser completamente suprimidos pelo barulho do trem movendo-se; Nem mesmo Rachel podia ouvi-los.

Ainda assim, o monstro vermelho conseguiu escutá-los.

Seu pescoço girou em sua direção. A luz refletindo do chão tornava difícil de ver seu rosto, mas o monstro olhou para Rachel e murmurou:

“Você é aquela clandestina…”

“AAAAAAAHHHHHH!”

Rachel gritou como se a sua vida estivesse em perigo, e fugiu para a parte da frente do trem. Seus movimentos eram instáveis e parecia que suas costas podiam encostar no chão, mas ela era rápida. Rachel desapareceu na escuridão com movimentos parecidos com os de uma preguiça movendo-se cem vezes mais rápido que sua velocidade natural.

Claire estava infligindo dor em Czes, quando o garoto tentou se jogar para fora do trem, incapaz de suportar mais.

Ele por pouco consegui segurá-lo enquanto o rapaz pulava, e acabou caindo pela lateral do trem. Ele conseguiu evitar de cair no chão segurando-se nos canos entre as rodas em um instante.

Foi aí que Claire questionou-se: Se eu arrancar peças dele do lado de fora do trem, elas iria seguir o seu corpo?. Ele então começou a empurrar os membros de Czes contra o chão.

Apenas restava o braço esquerdo do garoto, quando seus ouvidos apurados escutaram um certo som.

Ele virou seu torso e pescoço, e notou a clandestina que havia visto antes.

Quando tentou falar com ela, a mulher gritou alto o suficiente para superar o barulho do trem, e escapou rápido o suficiente para impressionar Claire.

Ele subitamente parou. Ainda segurando o corpo de Czes com seu braço direito, tirou uma corda fina de seu bolso com sua mão esquerda. Ele havia pego-a antes no compartimento de carga, provavelmente tinha sido usada pela orquestra para amarrar seus pertences.

Claire usou essa corda para experientemente atar o garoto no espaço entre as rodas, e deixá-lo para trás enquanto rastejava pela parte de baixo do trem.

Isso não foi bom. Eu deveria estar focando nos homens de preto e nos homens de branco agora. Eu deveria agradecer àquela clandestina por me trazer de volta à realidade. Acho que irei poupá-la e só entregar ela para os policiais.

Enquanto partia, Claire deixou Czes, ele estando consciente ou não, com algumas últimas palavras.

“Irei voltar para você mais tarde. E na próxima vez, certificarei de deixá-lo insano…”

Enquanto Czes estava pendurado na parte debaixo do trem, sua consciência voltava aos poucos, ele podia vagamente ouvir vozes vindo de cima.

“O que foi?”

“Vem cá rápido… Olha isso.”

Foi logo após a partida de Claire que dois homens de preto colocaram suas cabeças para fora da cabine de Terceira Classe.

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O quinteto de homens de preto dividiram-se em dois grupos em frente ao vagão de Terceira Classe. Três deles haviam chego ao compartimento de carga.

Diante deles havia um torso ferido flutuando em um mar do seu próprio sangue.

“Isso é loucura…”

Eles estavam aterrorizados pela visão do corpo mutilado de seu aliado, mas conseguiram recobrar sua calma. Então, usaram o rádio, ainda funcionando, ao lado do corpo para rapidamente contatar Goose.

“… Essa é nossa situação… O rádio está bem. Sim. Sim. Isso mesmo. Há apenas um corpo. Logo estaremos nos dirigindo até a cabine do condutor- Senhor? Sim. Sim. Entendido.”

O homem que contatou Goose desligou o rádio e virou seu rosto aos seus aliados. Ele então cautelosamente olhou ao seu redor e com calma transmitiu ao seus colegas uma certa ordem.

“O Código Beta foi ativado. Mas apenas sob a condição de que nós achemos um ponto cego em sua batalha contra o homem de branco.”

Os outros dois homens de preto visivelmente tensionaram.

“Nós realmente vamos fazer isso…? Nós vamos… Chane…”

“Não fale sobre o conteúdo de nossa missão.” O líder entre eles ordenou, novamente certificando-se de seus arredores.

Mas no momento que certificou-se de que não havia mais ninguém no local, uma voz animada descia do teto.

“Então sobre esse seu plano… Poderiam me dar uma dicazinha de nada?”

Uma sombra branca descendeu do teto em um piscar de olhos e cortou a garganta do homem ao lado do líder. A sombra branca, Ladd, estava segurando em sua mão direita a faca de arremesso que tomou de Chane.

“Isso é animador! Conseguem acreditar? Tenho que dizer, é difícil pra caralho escalar até o teto, sabia, amiguinho?”

Ladd atacou o líder do trio antes mesmo dele ter uma chance de elevar sua arma. Ele moveu-se até as costas do líder em um instante e colocou sua faca no pescoço dele.

“Sim, sim, sim! Agora solte sua arma, okay? E você também, espertalhão. Você não vai acertar ninguém além de seu colega engraçadinho aqui, de qualquer forma.”

O líder cerrou os dentes e largou sua arma. Seu amigo fragilizado, enquanto isso, soltou sua arma e fugiu.

“Oh, putz. Ele fugiu. Bem cruel, huh?” Ladd disse para si mesmo, observando o homem de preto correr. “Mas você não pode chamá-lo de covarde. É uma reação bem normal ao me ver, posso dizer. Aliás, eu estava escondido no teto.”

Ladd riu calorosamente e começou a conduzir o homem de preto, com a faca ainda apontada em sua garganta. Ele fechou a porta do compartimento de carga, e levou o homem até um canto da cabine.

“Isso realmente foi interessante! Eu nunca tive que correr de algo antes! Aquela moça lá atrás era uma presa emocionante! Uma salva de palmas, todo mundo! Eu vou me juntar! E após isso, vou matar ela!”

A faca raspou pela garganta do homem de preto em ritmo com a risada de Ladd. Um calafrio correu pela espinha dele enquanto esperava-o continuar falando.

Ladd subitamente abaixou seu tom ao espetar a ponta da faca na gargante de sua vítima.

“Vocês são um bando de novatos com ótimos brinquedos, não são? Primeiro eu achei que vocês eram soldados, sabiam? Eu seriamente pensei que iria finalmente enfrentar um bando de soldados descontraídos e fiquei animado. Mas então eu abri a tampa e foi um desapontamento completo. A não ser por aquela garota, quero dizer. Haha!”

Ladd sorriu e empurrou a lâmina um único milímetro mais fundo na garganta do homem de preto.

“Então o nome daquela dama é Chane, e aquele “Homem de Branco” sobre o qual vocês estavam falando era eu, certo? Por que não me dá uma explicação? Por que você vai matar um de seus amigos?”

A ponta da faca lentamente iria mais fundo.

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Rachel estava tremendo enquanto pendurava-se abaixo do vagão de Primeira Classe, completamente sozinha.

Como as coisas ficaram desse jeito? Por quê? O que era aquele monstro? Um monstro foi mesmo encarregado de ser um condutor nesse trem?

Ele parecia humano, mas sua natureza verdadeira poderia ser qualquer coisa menos um. No começo ela achava que o monstro estava matando apenas os homens de preto, mas ver ele mutilar uma criança convenceu-a do contrário. O monstro vermelho não tinha humanidade alguma, afinal.

Por quanto tempo estava tremendo, presa na mesma sequência de pensamentos? Ela nem mesmo piscou com o tiroteio no salão de jantar, mas Rachel agora estava tomada pelo medo, física e mentalmente.

Ela havia enfrentado o perigo como uma agente de uma agência de informação. Já havia encarado a morte diversas vezes. Mas nem mesmo a mais perigosa de suas experiências passadas conseguia comparar-se ao estado em que ela encontrava-se agora.

Coisas como a máfia e sua tempestade de balas eram medos tangíveis. Eles eram perigos perfeitamente entendíveis para quais Rachel poderia preparar-se antes de enfrentá-los. Claro, sua determinação já havia sido levemente abalada diversas vezes no passado, mas as coisas nunca foram demais para seu psicológico lidar.

O monstro vermelho era uma história completamente diferente. Sua mera existência era impossível de compreender; Como ela deveria evitá-lo? Para que exatamente ela tinha que se preparar?

A única coisa coisa que ela sabia era que, como uma clandestina, não podia ser pega. Apesar de que o mesmo continuaria valendo se ela tivesse propriamente comprado uma passagem para si.

Logo adiante de Rachel estava a locomotiva. Seria muito mais perigoso para ela esconder-se lá, onde partes móveis como a caldeira eram armadilhas letais em potencial. Não sabendo para onde ir, Rachel permaneceu nas partes de metal abaixo da região de engate. Claro, como havia pouco espaço abaixo dos vagões, ela era forçada a deitar-se completamente, paralela ao chão.

Na noite escura, sua única fonte de luz era a luz da lua que refletia no cascalho que cobria o solo. Obviamente, não ajudava muito.

Rachel determinou que ficar ali não resolveria nada. Então decidiu dar uma olhada na Primeira Classe primeiro; Ela preferia encarar os homens de preto, armados com submetralhadoras, do que o monstro vermelho. Ao invés de ficar parada e esperar, Rachel optou por ativamente procurar uma maneira de escapar. Ela não tinha a intenção de envolver-se em problema algum. Tudo que queria fazer era fugir.

Ela cuidadosamente colocou a cabeça para fora dentre os vagões e olhou para o lado dos vagões da Primeira Classe. Como os outros, eles eram adornados com decorações que Rachel poderia usar para escalar pelos lados. Ela segurou um deles e puxou-se para perto do vagão, como se estivesse escalando uma montanha. Qualquer um com menos experiência provavelmente teria caído para fora do trem e perdido sua vida.

Rachel havia tentado todo tipo de simulação em trens estacionários desde sua infância. Comparado com vagões mais planos, subir um vagão coberto por ornamentos espalhafatosos era fácil.

Talvez ela conseguisse ficar escondida caso escalasse para cima da locomotiva. A fumaça iria cobri-la, e ninguém procuraria em um lugar como esse.

Mas Rachel rapidamente desconsiderou o pensamento. Tão proximamente, a fumaça iria sufocá-la com facilidade. E não tinha como dizer o quão quente as proximidades da chaminé eram.

Rachel decidiu por enquanto que iria escalar até o teto do vagão de Primeira Classe e silenciosamente aproximou-se da janela. Ela pretendia começar assegurando-se da situação no interior do vagão.

Após uma rápida olhada, Rachel arrependeu-se de suas ações.

Eu não deveria ter olhado.

Uma mãe e uma criança estavam ali, com os braços e pernas firmemente atados. Vigiando ao lado delas havia um homem de preto armado com uma submetralhadora.

Não, não, não, não! Eu não posso me envolver! Se eu for lá, serei morta! Eu poderia arriscar se fosse por informação, mas eu não posso expôr minha vida ao perigo quando não há nada de bom para mim!

Rachel desesperadamente brigou consigo mesmo enquanto escalava até o teto.

Mas logo ela começou a pensar em seu pai; O pai que foi largado por seus empregadores, o pai que morreu após uma vida de dificuldades. A companhia ferroviária que abandonou seu pai para sua própria segurança.

Droga! No que estou pensando?! Isso não tem nada a ver com isso! Minha vida está em jogo aqui! Esqueça esses pensamentos profundos; Colocar minha vida em risco por sentimentalismo barato é exatamente o que vai contra minha vida!

Rachel mentalmente gritava consigo mesma, tentando convencer a si mesma o contrário. Mas já era tarde. A imagem de seu pai havia sido queimada em sua mente.

O que estou fazendo? Não! Eu sou só uma clandestina! O que eu faço de bom? Então por favor, eu mesma! Pare…

Antes de perceber, seu corpo estava equilibrado logo acima da janela. Tudo que precisava fazer agora era abaixar suas pernas lentamente…

Não, não, não! Pare! Pare! Não faça isso!

A ponta de seus pés bateram na janela.

Agora eu já fiz.

A janela se abriu, e um homem de preto colocou seu torso para fora dela.

Rachel viu isso de cima e preparou sua determinação.

Eu vim tão longe… Não posso recuar agora.

Ela tirou suas mãos da parede e permitiu a gravidade puxá-la para baixo. As solas de seus pés detectaram algo macio abaixo delas enquanto ela parava momentaneamente em meio ao ar. Ao mesmo tempo, ela segurou a verga de janela como se estivesse fazendo barra, e colocou todo seu peso no torso do homem de preto.

O homem perdeu o equilíbrio e começou a cair para trás. Rachel instantaneamente moveu suas pernas para frente e entrou na cabine, movendo-se como se estivesse caminhando no estômago do homem de preto. Ao homem cair para fora do trem e rolar para fora de vista, Rachel pisou no chão da cabine.

Eu não quero me tornar uma assassina, então é melhor você ficar vivo.

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A primeira coisa que Claire fez ao chegar no vagão de jantar foi certificar-se da situação dentro dele.

O vagão estava sendo guardado por dois homens, ambos segurando submetralhadoras.

“Parece que não tenho muita escolha.” Claire murmurou, fechando um dos olhos. Ele rastejou na parte de baixo do vagão e alcançou uma caixa no meio dele, adornada com detalhes em amarelo.

Haviam diversas pequenas alavancas na caixa. Claire mexeu em uma delas em particular.

“Se eles tinham dinheiro para gastar em coisas como essa, eles poderiam ao menos ter a decência de colocar um rádio entre o compartimento do condutor e a locomotiva. E quem coloca a caixa de luz embaixo do trem? Que design horrível.”

A caixa era um componente principal do sistema que gerava eletricidade para as luzes do trem pelas rodas. Era um aspecto característico do Flying Pussyfoot.

No passado, a eletricidade das luzes em cada vagão era fornecida por uma turbina atrás da válvula de segurança da caldeira. Após um tempo, a energia gerada pela turbina parou de alcançar os vagões mais atrás, e as luzes foram colocadas em um sistema único.

Nesse trem, as rodas eram usadas para gerar eletricidade, e cada vagão tinha um sistema fechado. Como resultado dessa aplicação de tecnologia cheia de recursos, o Flying Pussyfoot era capaz de gerar muito mais energia que outros trens, assim permitindo que o interior de cada vagão seja iluminado como se fosse dia.

O painel de controle para esses sistemas ficavam debaixo dos vagões, e Claire estava mexendo na alavanca principal desse vagão em específico.

“Eles nem mesmo consideraram? Qualquer um pode vir aqui e desligar as luzes. Simples assim.”

Ele puxou a alavanca e imediatamente escalou de volta.

“Parece que é hora de uma aventurinha.” Ele murmurou, e começou a fazer um show na lateral do trem veloz.

Gritos emergiram do vagão escuro. Ao mesmo tempo, Claire abriu a janela na parte traseira pelo lado de fora.

“Quem está aí?!”

Um dos homens de preto aproximou-se da janela, segurando uma arma. Claire tirou suas mãos da janela e esperou o homem colocar o cano da arma para fora.

E como esperado, o cano apareceu, vindo do lado de dentro. O tolo deve ter ficado desorientado pela confusão súbita.

Claire segurou o cano e puxou-o em sua direção.

“Uou…”

Ao homem de preto tropeçar, ele segurou-o pelo braço e destruiu seu equilíbrio, puxando-o para baixo com uma força alarmante.

O homem, tendo perdido o equilíbrio, foi jogado para fora do trem. Claire não tinha como ter certeza de que ele estava morto, mas não tinha tempo para matá-lo propriamente antes de largá-lo.

Então, ele começou a correr pelas ornamentações na lateral do trem.

Apesar de que haviam poucas protusões proeminentes nas laterais dos vagões, Claire dirigiu-se até a parte da frente do trem com seu torso abaixado. Toda vez que ele estava próximo de cair no chão, ele segurava-se em um janela com seu braço esquerdo e forçava-se para cima.

Ele correu, correu, correu. Forçadamente conquistando suas fantasias, Claire tornou seus pesadelos reais. E o alvo desse pesadelo em particular era o homem de preto solitário.

Claire corria pela lateral do vagão sem fazer barulho. De longe, parecia como se ele estivesse andando no ar ao lado do trem.

Os passageiros no salão de jantar viram-no, a sombra vermelha, enquanto ele corria sob a luz da lua, causando uma grande explosão de gritos e choros de dentro do vagão.

No momento que o homem de preto abriu a janela próximo a si, entre as mesas, já era tarde.

Claire já havia chegado, agarrando o homem pelo braço antes mesmo dele conseguir mirar com sua arma.

Ele puxou-o para perto de si e sussurrou em seu ouvido: “Eu posso receber alguns aplausos? Essa foi minha primeira tentativa, e eu fiz certo… Você sabe algo sobre o esforço que coloco em meu trabalho?”

No momento seguinte, Claire jogou o homem de preto estremecendo para fora do trem, sem hesitar.

Ele então retornou à parte de baixo do vagão e ligou a luz. Mas quando voltou à janela, outro homem de preto havia chegado.

“Eles não param de vir…”

Claire, surpreso pela tenacidade dos homens de preto, tomou conta de um deles na região de engate. O outro escapou para dentro da Primeira Classe, tendo notado sua presença.

Não acho que seja um problema. Eles não irão machucar os passageiros enquanto estiverem preocupados comigo.

Ele assentiu levemente e encaminhou-se de volta aos vagões traseiros. Era quase a hora de sinalizar à locomotiva.

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Onde aquele homem foi?

Chane estava de pé acima da cabine do condutor, completamente focada no objetivo atual.

Ela havia perdido Ladd de vista um algum lugar por volta dos vagões de carga, então estava tentando procurá-lo do teto.

Aquele homem é muito perigoso. Eu tenho que cuidar dele de uma vez. Se eu deixá-lo ir agora… Ele irá tornar-se meu maior problema. E ele talvez torne-se um para meu pai, também.

Ela não tinha provas para fundamentar suas previsões, mas Chane confiava em si mesma enquanto continuava a procurar pelo homem de branco. Já havia determinado antes que não adiantaria de nada procurá-lo sem nenhuma pista, então ela voltou ao teto para vigiar o trem inteiro.

Mas o alvo revelou-se sozinho como se estivesse cumprimentando um amigo na rua.

“Ah, olá!”

O sorriso tolo e sem sentido de Ladd fez com que Chane tivesse ainda mais certeza: Ela tinha que livrar-se desse homem, senão ninguém mais o faria.

Apesar de que não fazia ideia de quem era o homem que estava enfrentando, ela sentia algo parecido com uma ilusão de vitimização que não era necessariamente uma ilusão.

“Tá bem, gatinha? Não ficou solitária sem mim?” Ladd ria repulsivamente. Chane pegou sua faca em silêncio.

Seu oponente não estava mais carregando um rifle. Logo que percebeu isso, ela curvou-se para baixo e preparou-se para avançar.

“Aw, isso é frio demais, Chane!”

“?!”

Chane congelou.

Como ele sabe meu nome?

Ladd percebeu sua confusão com satisfação.

“Deixe-me te dizer algo, Chane! Eu sei tudo sobre você! Eu escutei que todos os seus amiguinhos lá atrás odeia você, e você também odeia eles! E que você é o animalzinho de estimação de um cara chamado Huey Laforet, e você trata ele como um tipo de deus!” Ladd divagou. Chane, não querendo mais escutar, preparou para atacar novamente.

“Então eu ouvi que esse seu mestre Huey é um imortal! Estou certo?”

Chane congelou de novo. Ladd parecia divertir-se com a situação. Todas as cartas estavam em suas mãos, tudo que ele precisava fazer era jogar alguma delas para atingi-la antes que pudesse atacar.

Ela convenceu-se de que não deveria mais escutar seu oponente. Então, preparou-se pela terceira vez e começou a avançar na direção de Ladd. Não importava o que ele soubesse, ela tinha que matá-lo, agora. A assassina inclinou seu torso de uma maneira impossivelmente baixa com o objetivo de acertar as pernas de Ladd.

Mas por algum motivo estranho, seu oponente começou a avançar em sua direção com uma instância baixa o suficiente para rivalizar a sua. Não apenas isso, sua boca ainda estava cuspindo distrações como se não houvesse amanhã.

“Mas sabe de algo? Eu estou muito decepcionado!”

O comportamento surpreendente de Ladd fez com que Chane hesitasse, diminuindo a velocidade com a qual avançava com sua faca.

“Sabia~?”

A voz de Ladd começou a ficar distante. Do ponto de vista dela, parecia como se o corpo dele tivesse sido jogado para trás.

Ao mesmo tempo, um poderoso impacto atingiu sua mandíbula.

Ladd parou quase no alcance de Chane e acertou-a com um chute giratório em um instante. Ele deu um mortal em sua instância baixa de uma vez só e usou a energia cinética para chutar a mandíbula dela com a ponta de seu pé.

Chane, que até mesmo estava com sua visão baixa, voou para trás e rolou na direção da traseira do vagão. Sua última rolada foi uma ação deliberada, realizada para ficar de pé.

“Sabe de algo? No começo eu achei que você era tão doidinha porque era controlado por marcianos ou algo do tipo. Mas você só é maluca pra caralho porque está apaixonada?! Qual foi, você tem doze anos?! Ou acabou de sair da puberdade? Não acha que esse Huey só está te usando? Huh?”

As provocações de Ladd finalmente afetaram Chane, deixando-a em seu limite. Ela nunca considerou Huey como um amante. Apesar de que talvez isso seja preferível ao alternativo, Chane era filha de Huey. Ela nunca permitiria tal coisa, e ela amava-o como seu pai, nada mais. Mas pela perspectiva de outras pessoas, eles eram um homem e uma mulher de idades similares. Qualquer um que tivesse uma filha iria saber só de olhar que Huey e Chane eram pai e filha, mas infelizmente, o homem de preto que contou tudo para Ladd não tinha nem mesmo uma amante.

Ela olhou seriamente para Ladd, abaixou sua instância ainda mais, e avançou em sua direção como uma bala.

“Aahahahah! Você está brava? Está ficando irritada? Hm?”

A expressão de Chane mostravam para Ladd que as coisas podem não ser tão simples como ele acha, mas ele não tinha a intenção de descobrir a verdade. Na realidade, a sua fúria cega apenas tornava seus movimentos mais fáceis de serem previstos.

Ladd deu um risada calorosa, agora nem mesmo dando um único passo. Mas sua oponente não foi desestabilizada. Ela iniciou a movimentação para cortar a garganta dele no ângulo que imaginou antes. Ao ficar próxima de Ladd, Chane elevou sua instância com toda força.

Sua faca cortou o ar em um ângulo como o de um avião virando subitamente para cima.

Ladd, já tendo previsto esse ataque, desviou em uma velocidade inumana. Ao mesmo tempo, dobrou seus joelhos e abaixou-se verticalmente. Ele estava planejando golpear seu torso desprotegido.

Foi então que percebeu que o corpo de Chane estava virado em um ângulo reto, e rapidamente desviou para o lado.

A perna dela elevou-se ao ar com uma força letal. Ela estava tentou chutar Ladd com um chute giratório, assim como ele havia feito agora pouco.

“Fácil demais.”

Ladd leu seus movimentos instantaneamente e chutou a lateral de Chane enquanto ela estava no meio do ar.

Chane rolou para trás, finalmente caindo para fora do trem.

“Oh? Derrotada tão cedo? Sério? Não é meio chato? Não me deixe sozinho aqui, boneca!”

Subitamente, houve um alto clang, misturado com algo que parecia metal sendo rasgado.

“Hm?”

Ladd olhou para baixo e encontrou-se vendo uma visão inacreditável.

Chane estava pendurada ao lado do trem, com as facas em suas mãos enfincadas na lateral do vagão. Ela tirou uma e enfincou-a novamente, alternando entre cada lado. Estava escalando o trem como uma mulher enlouquecida.

Clang. Clang. Clang. Clangcrk. Krack.

A velocidade das facas ficava cada vez mais rápida enquanto Chane começava a escalar como se estivesse andando pelas paredes.

“Uou!”

Ela propeliu-se de volta para cima como um disparo, passando por Ladd sem nem mesmo dar-lhe tempo para reagir. No momento que ele soltou um suspiro de alívio, um pequeno corte abriu-se na orelha direita de Ladd e começou a sangrar.

“Desculpa, docinho. Talvez você realmente seja uma marciana, afinal. Aposto que você tem oito pernas ou algo assim, não é?”

Ladd, começando a suar frio pela primeira vez, cerrou seus punhos e passou a dar pequenos saltos. Chane também firmou seu aperto em suas facas e começou a medir sua distância de Ladd.

Subitamente, o impensável ocorreu.

Enquanto os dois estavam batalhando em cima do último vagão, aquele que comportava a cabine do condutor e o compartimento de cargas excedentes, a cabine do condutor não deveria estar ocupada por mais nada além de um par de corpos.

E em um ato que desafiava a lógica, a lâmpada na lateral do vagão acendeu-se diversas vezes.

A luz era usada para sinalizar que tudo estava bem no trem, mas quem poderia estar fazendo isso?

As lâmpadas apagaram novamente, deixando ambos encarando-se em silêncio.

Parecia que as lâmpadas não tinham anunciado nada. Tirando a estranha ocorrência de sua mente, Ladd começou a provocar sua oponente para que ela atacasse-o cegamente de novo.

“Então Chane… você sabia que seus amiguinhos de preto estão atrás de você, né? Pelo que escutei, eles irão te matar no meio de toda essa confusão!”

Ela nem mesmo piscou. Ela já sabia de tudo isso. Na verdade, Chane também estava planejando se livrar de Goose e dos outros no final.

“Eu ouvi que você era contra esse plano desde o início! Você não quer fazer reféns ou matar idiotas? Mas que porra você tem de errado? E parece que esse seu Huey pensa a mesma coisa. Deve ser maluco! Eu quase entendo por que seus amiguinhos vão trair ele!”

Chane silenciosamente escutou o que Ladd estava dizendo. Parecia que ela aprendeu a lição, então estava tentando ao máximo conter suas emoções e escondê-las.

“Você está planejando algum tipo de revolução? Tentando revirar esse país? Mas você age como se fosse um heróizinho de bosta, não fazendo nada de errado ou matando passageiros… Ou esse Huey Laforet é tão forte que consegue se preocupar com outras pessoas no meio de uma fodendo guerra?! Isso eu entenderia, mas esse é o tipo de filho da puta que eu mais odeio! Os únicos fodidos que fazem isso são pessoas que acham que estão perfeitamente seguras! Merda! Eu não vou deixar ele se safar assim!” Ladd gritou.

Ele então sorriu e abaixou seu tom de voz.

“Sabe qual é a primeira coisa que eu vou fazer quando sair desse trem?”

Ele contorceu seus lábios em um sorriso assustador e encarou sua oponente de maneira doentia.

“Eu irei matar Huey Laforet.”

Essa simples ameaça foi o suficiente para momentaneamente paralisar os pensamentos de Chane.

“Eu pensei que era estranho. Sabe, eu sempre pensei que terroristas jogavam suas vidas fora como gravetos, mas seus amiguinhos tinham o mesmo olhar, como se nunca fossem morrer. E agora eu entendo! Todos eles estavam assim porque depois desse trabalho, podem ficar imortais.”

Ladd continuou a dar pequenos pulos, aumentando seu tom.

“Sendo honesto, eu não tenho vontade de te matar. Eu não sei o que você está pensando, mas está colocando sua vida em risco. Então é por isso que tive um pensamento! Talvez seria mais divertido se eu matar o cara que você adora! Talvez seja divertido observar você enquanto você observa eu matando Huey Laforet!” Ladd subitamente parou de se mover e gritou com Chane. Sua voz estava preenchida com puro divertimento, como se brincar com as emoções dela fosse puro êxtase.

“Eu vou matar ele. Não importa se ele é imortal ou algo assim. Se ele ainda não morrer, eu vou cortar a cabeça dele fora e afundar no polo norte e sul. E você vai ver tudo. Eu vou mostrar àquele convencido de merda como a vida é perigosa e doentia! E eu não vou parar mesmo se você implorar. Então o que você vai fazer, Chane?! Ahahahaha!”

Havia pouca originalidade nas ameaças de Ladd, mas ele sabia muito bem que provocações clichês como essas eram a melhor coisa para provocar alguém como ela.

O impacto das ameaças atingiram-na física e mentalmente. Se as outras provocações eram como ligar um motor, essa era como ativar um botão de ignição. Chane colocou todas as suas forças nas pontas de suas facas enquanto avançava na direção de Ladd.

Mas suas facas não se moveram.

As pontas das facas em suas mão estavam sendo seguradas firmemente pelos dedos de alguém. Chane não percebeu esse fato até esse momento.

Ela não percebeu que diante dela havia um homem vestido de vermelho. Mas isso não podia ser possível, afinal, não havia ninguém ali no momento que estava cega pela raiva.

Era como se ele tivesse se materializado do puro nada.

O monstro finalmente apareceu diante deles.

Era o demônio vermelho, o Espreitador de Trilhos.

Segurando as facas de Chane com seus dedões e dedos indicadores, a sombra vermelha falou em um tom baixo:

“Não apunhale a cabine do condutor. Você quase me cortou minha orelha fora.”

No começo os dois não entenderam o que o homem estava falando, mas um pensamento logo esclareceu tudo: O homem provavelmente estava no vagão quando Chane estava escalando a lateral do trem com suas facas.

“Se você entendeu, o mínimo que poderia fazer era pedir desculpas.”

Chane assentiu sem pensar. Ela abaixou suas mãos, sua raiva de Ladd foi esquecida, e então lentamente curvou sua cabeça. Se os homens de preto pudessem vê-la, iriam duvidar do que viam. Até mesmo Ladd estava tendo problemas em acreditar nisso.

“Que tal um ‘me desculpa’?”

Chane apontou para sua gargante e negou com a cabeça. Parecia que ela era fisicamente incapaz de falar por alguma razão.

“Desculpa. Eu não percebi.” A sombra vermelha desculpou-se, caminhou pelo teto, e virou suas costas para a região de engate.” Enfim, continuem.”

O monstro vermelho havia forçado-se no meio da luta entre Ladd e Chane.

“E eu vou matar aquele que sobreviver.”

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Lua queria ser assassinada. Tanto que até mesmo esqueceu-se do porquê. Suicídio era um opção tola para ela, então procurou por alguém que iria matá-la. Ela procurou por alguém que se divertiria matando-a. Ela queria ao menos deixar alguém feliz em sua morte.

Foi aí que conheceu Ladd. Talvez ele fosse se divertir mais do qualquer um nesse mundo ao matá-la.

“Eu vou massacrar qualquer um que queira viver mais do que você. Então, eu amorosamente irei matar você no fim de nossas vidas. Então até lá, me siga e nem mesmo pense em morrer, tá bom, docinho?”

Esse foi seu pedido de casamento. Lua sabia que ele não estava inventando desculpas para estender sua vida; Ele realmente falava a verdade.

E Lua tinha fé que Ladd iria cumprir sua promessa. Verdade, ele nunca tinha falhado em matar alguém, mas acima de tudo, Lua não conseguia imaginar Ladd sendo morto por qualquer outro.

Ao menos, não até ela ver a sombra vermelha.

No momento que seus olhos encontraram-se com os da sombra, que estava olhando pela janela há pouco tempo, o coração de Lua começou a bater violentamente. Não era medo ou amor, era ansiedade. Ladd iria morrer. O monstro com os olhos aterrorizantes iria matar Ladd. Ladd não podia derrotá-lo.

Ela sabia disso porque viu a fonte do brilho aterrorizante nos olhos do monstro.

Era sede de sangue; Sede de sangue em uma forma física. Lua reconheceu instantaneamente, pois ela viu a mesma expressão nos olhos de Ladd sempre que ele matava alguém. A única diferença era o fato de que o desejo por trás dos olhos do monstro eram incomparavelmente mais poderosos dos que os de Ladd.

Lua podia dizer com um mísero olhar que o monstro era um ser de um mundo completamente diferente. A força de vontade em seus olhos não poderia mais ser chamada de humana. E para piorar as coisas, o monstro vermelho partiu sem matar quem estava na cabine. Apesar de que Lua não entendeu o porquê, ela sabia que o monstro estava preenchido por sede de sangue e o poder para controlá-la.

Ladd não poderia ser morto por humanos, mas as coisas eram diferentes se ele tivesse que ir contra um monstro. Ele iria morrer. Ladd iria morrer.

“Você está bem, moça?”

Uma voz grossa a fez retornar à realidade. Eles estavam na cabine de Ladd, na segunda Classe.

O mágico cinza havia acabado de terminar de tratar do homem ferido.

“Seus olhos estão diferentes agora. Eles estão cheios de vida.”

“Perdão…?” Lua perguntou em um baixo sussurro. Ao olhar nos olhos do mágico, ela percebeu algo.

Ele é como eu. Ele quer morrer.

Parecia que o mágico entendia o que os olhos de Lua estavam o dizendo. Ele silenciosamente continuou falando.

“Eu fui despachado para Verdun como um médico durante a Grande Guerra. Muitas pessoas morreram, inimigos e aliados. Um dia, eu acordei, e percebi que era o único que ainda respirava.”

Ele estoicamente lembrou de seu passado, não perdendo-se em um abismo emocional de tragédia.

“Eu pensei: ‘Ah, então esse deve ser minha punição’. Talvez eu não encontrasse uma visão dessa se eu fosse capaz de tratar mais pessoas. Estranho o suficiente, após isso, não importava para qual campo de batalha eu fosse, eu nunca morria. Eu sobrevivi até o fim da Grande Guerra. Eu nunca nem mesmo tentei me proteger ou correr. Não importava a gravidade de meus ferimentos, eu sempre saía com vida.”

As memórias do mágico pareciam como um conto distante para Lua. O tecido sobre sua face afrouxou um pouco, e o vento soprando expôs uma carne queimada sob o cinza. Não havia dúvidas de que o resto de seu corpo estava no mesmo estado.

“Se isso foi uma punição divina, então suponho que escapar através do suicídio iria me garantir algo ainda pior na pós-vida. É por isso que trato de pessoas como um senso de dever. Enquanto eu puder, tento salvar ao menos mais uma pessoa que deseja viver, até Deus finalmente permitir que eu morra.”

Ele olhou diretamente para Lua.

“Parece que você encontrou um propósito para si mesma. Seus olhos estão diferentes agora, tão cheios de vida. Apesar de que não consigo dizer com certeza se é medo, raiva, ou tristeza.”

Ouvindo as palavras do mágico, Lua lentamente ficou de pé.

“Ei, Lua. Onde você está indo?”

“Só por um tempo… Eu já volto…”

Enquanto Lua dirigia-se na direção da porta, o mágico cinza disse mais algumas para ela, em um tom sem vida.

“Quando você completar seu propósito, talvez possa considerar juntar-se a nós ‘homens mortos’ mais uma vez… Não, esqueça. Eu só estou um pouco triste ao ver alguém como eu desaparecer diante dos meus olhos.”

Com as palavras do médico causando pouca impressão em sua mente, Lua saiu para achar Ladd. As palavras do médico não eram nem um pouco encorajadoras; Na verdade, parecia que elas estavam deixando-a ainda mais ansiosa. Tudo isso, mesmo que o homem não tivesse feito nada além de contar sobre seu próprio passado. Por que suas palavras estavam assombrando-a tanto? Era como se ele fosse o ceifador em pessoa.

O sentimento intuitivo que Lua tinha de que Ladd era o homem mais forte do mundo não estava incorreto. Porém, isso era mais uma razão para ela confiar em sua intuição novamente. Ladd não deve lutar. Ele não pode deparar-se com aquilo. Ele não deve encontrar o monstro vermelho, que apenas traria infortúnio..

Lua silenciosamente correu pelo trem, com o brilho dos olhos do homem vermelho ainda estagnado em sua mente.

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A súbita intervenção de uma outra pessoa fez com que Ladd e Chane ficassem imóveis. Era difícil discernir a expressão do recém-chegado sob a ainda fraca luz da madrugada, mas algo era claro. Ele estava vestindo roupas cobertas de vermelho. O traje de Ladd estava simplesmente ‘respingado com vermelho’ em comparação com as vestes ‘encharcadas’ do homem.

Ladd foi o primeiro a quebrar o longo silêncio.

“Quem caralhos é você?”

Incomum para Ladd, seu tom estava preenchido por um grau surpreendente de cautela. Seu corpo estava lentamente virando-se para encarar o homem vermelho.

“Não ligue para mim.”

Ele respondeu. Mas havia uma coisa sobre esse homem que era certa na mente de Ladd.

Sem dúvidas. Ele é o desgraçado que matou Dune.

A sua certeza vinha das roupas do recém-chegado. Apesar de que estava completamente tingida de vermelho, o design sem sombra de dúvidas era o mesmo do uniforme de condutor do Flying Pussyfoot. O fato de que o homem estava encharcado da cabeça aos pés com sangue significava que ele tinha que matar alguém de uma forma exagerada. Esses fatores reforçaram as suspeitas de Ladd sobre a identidade do assassino de seu amigo.

Ele tinha ideia da identidade desse condutor, mas era óbvio que o homem de vermelho não era um homem que vivia honestamente.

E dos lábios dele saíram palavras igualmente assustadoras.

“Vocês podem pensar em mim como o ar falante.”

“É mesmo?”

Ladd decidiu lutar contra o orgulho do recém-chegado com confiança própria de sua parte. Mas sua sede pelo sangue do homem que matou seu amigo já havia alcançado seu auge.

Naturalmente, iria vingar-se. Ele tirou uma faca de arremesso manchada de sangue do bolso de seu terno e jogou-a na direção do homem de vermelho sem hesitar. A faca prateada e ensanguentada dirigiu-se diretamente até a garganta do alvo.

“Se você é o ar, então fica quieto!”

“Isso não é muito gentil de sua parte.”

O homem vermelho, Claire, sorriu, facilmente pegando a faca no meio do ar.

Houve um momento de silêncio.

“Calma lá, amiguinho. Você não acabou de fazer algo doido pra caralho?”

“Acho que não. Vê? Eu até mesmo peguei ela pelo cabo para não me machucar. Perfeitamente são.”

Claire riu, provocando Ladd.

Os níveis de sede de sangue dele ultrapassaram o teto e atingiram níveis estratosféricos; O que seu oponente fez não importava.

Os olhos desse filho da puta estão me dando nos nervos. Qualquer um que não fosse eu teria mijado nas calças agora. Mas eu não ligo pra nada disso! Esse intruso é irritante! É como se ele não se importasse quando bloqueou as facas da boneca ou quando ele pegou a faca que joguei nele. Não há mais nada nesse mundo que eu odeie mais que pessoas como esse merdinha. Ele é como um daqueles pacifistas falsos que repetem coisas sobre guerras que veem no jornal ou rádio. Tipo um chefe da máfia que envia seus cãozinhos para fazer o trabalho sujo e fica com todo o dinheiro para si. Como aquele desgraçado que estava agindo como um pirralho… Não, esse filho da puta é ainda pior!

Ladd abriu seus olhos ao começar a avançar na direção de Claire.

Ele abaixou sua instância, mirou no rosto de seu alvo, e tentou acertar um golpe direto.

Mas no momento que Ladd esperava sentir o impacto do primeiro golpe, Claire desviou do ataque em um ângulo normalmente impensável.

“Que porra?”

A figura do homem repentinamente ficou distante de Ladd. Ele abriu seus braços e curvou-se para trás… Não, caiu. O teto do trem desapareceu debaixo de seus pés.

Ladd inicialmente achou que seu oponente havia se jogado nos trilhos. Com nada para suportá-lo, Claire obviamente desapareceu além da borda do teto.

Mas esse pensamento não durou muito tempo, pois seu torso imediatamente emergiu da lateral do trem.

Claire havia segurado a borda do teto do trem com suas pernas enquanto mantinha-se contra a parede do vagão de cabeça para baixo. Ele voltou propelindo-se a partir de uma ornamentação na parede.

Como uma caixa surpresa, Claire voltou a ficar de pé. Ele usou a mesma energia cinética para acertar uma cabeçada na testa de Ladd.

O alvo cambaleou para trás sem intenção, e rapidamente fez um contra-ataque.

Mas ele subitamente viu um brilho metálico no canto de seus olhos e ajoelhou-se onde estava. Logo depois, uma faca cortou acima de sua cabeça, levando consigo algumas mechas de cabelo do homem.

“Pra que isso, sua merdinha?!”

Ladd levantou-se e recuou diversos passos, encarando sua atacante, Chane. Ela havia ignorado a sombra vermelha por completo e estava concentrando-se unicamente em tirar a vida de Ladd.

Mas sua concentração logo foi quebrada pela calma, porém poderosa, voz de Claire.

“Seu nome é Chane, certo? As coisas que esse cara disse eram verdade?” Ele perguntou, sem demonstrar nenhum tipo de emoção em particular. “Então, o que estou querendo dizer é: Você estava contra o plano todo desde o começo? E sobre aquele negócio de você não querer matar pessoas, e aquele Huey também. Isso é tudo verdade?”

Chane hesitou com as perguntas da sombra vermelha, incerta se deveria responder ou não. Apesar de que poderia ter facilmente ignorado-o, parecia que ela estava negando tanto a si mesma quanto Huey ao fazer isso. Chane apenas assentiu.

“Entendo. Bom saber. Então que tal eu te ajudar um pouco?”

“Huh?” Ladd perguntou distraidamente com a proposta súbita. Chane piscou.

“Espera aí, seu vermelhinho de merda! Mas que porra você tem de errado?! Não era você que estava indo por aí pegando meus amiguinhos e os homens de preto?!”

“Algum problema com isso, colega?”

Compreendendo, Ladd reclamou. “Que merda?! Então por que você tá todo boiolinha com a bonequinha aí?! Depois de matar meus amigos, aliás.”

“Hm? Mas pelo que sei, essa moça aqui parece só uma dama muito bonita.” Claire respondeu.

Até mesmo Ladd não tinha palavras para retrucar isso.

“Eu ouvi você gritando há um tempo. Ela está fazendo isso porque não tem escolha, ou não poderá salvar alguém com quem se importa. Eu consigo simpatizar com ela facilmente, diferente de um certo doido com alguns parafusos a menos.”

A ira de Ladd finalmente chegou a um limite.

“Cala a boca, sua aberração. Você está dizendo que realmente simpatiza com essa mulher?! O que você tá fazendo? Seu cérebro parou de funcionar?! Hah! Eu pensei que você era um desgraçado fortão, mas isso é só um desapontamento! Você só é um hipócrita nojento! Eu aposto que é um daqueles caras que deixaria uma criança em um campo de batalha viver mesmo se ela tentasse te matar com uma arma! É isso que está tentando dizer, seu filho de uma puta?!”

As palavras e tom de Ladd chegaram a um ponto climático. Mas Claire nem mesmo se surpreendeu.

“Qual seria o problema se eu deixasse ele viver?”

“O quê?”

“Claro, eu provavelmente faria uma exceção para uma criança bem malvada, mas…” Claire falou sem demonstrar emoções, apesar de falar coisas nem um pouco próximas da normalidade. “Eu consigo ser simpático pois tenho confiança em minhas próprias habilidades. Se esse senhorita aqui, Chane, tentasse me cortar com a faca dela, eu poderia pegá-la sem deixar uma gota de suor cair. E se essa criança disparasse com sua metralhadora enquanto eu tentasse simpatizar com ela, eu iria desviar de todos os disparos. Apesar de que acho que ela ficaria com raiva e diria para eu parar de ter pena dela, mas não é problema meu.” Claire disse orgulhosamente, com os braços abertos e encarando Ladd. “Eu não acredito em ‘matar ou ser morto’. Eu não preciso disso, afinal, eu nunca serei morto! Lembre-se…” Ele pausou dramaticamente, então contorceu os cantos de sua boca e continuou. “Coisas como simpatia e compaixão são privilégios que apenas os fortes são permitidos ter. E eu… Sou forte.”

O homem enfureceu Ladd ao ponto de que ele mesmo não sabia que era capaz de tanta sede de sangue. Seu ânimo já havia desabado até o ponto mínimo. Ladd colocou toda a sua fúria em sua voz ao falar com a sombra vermelha.

“Então o que você é…? Está me dizendo que você é um daqueles filhos da puta que acham que nunca irão morrer?”

A resposta de Claire foi completamente condizente com a incredulidade da situação.

“Claro. Afinal, o mundo é meu.”

Ladd e Chane ficaram estupefatos com as palavras dele, mas ele continuou sem se importar.

“Esse mundo é meu. Eu acho que esse mundo até mesmo possa ser um longo sonho que eu estou tendo. Não acha? Talvez vocês todos sejam apenas fragmentos de minha imaginação, já que eu não posso provar com certeza que vocês existem. Em outras palavras, esse mundo gira em torno de mim. Tudo que eu pensar que consigo fazer, serei capaz de fazer. E quando eu envelhecer o suficiente para morrer, irei encontrar algum tipo de poção da imortalidade. Ou talvez só irei acordar desse sonho e ir para outro. Em outras palavras, eu nunca irei morrer.”

“Mas que porra? O que te faz ter tanta certeza sobre isso, gênio?”

“Eu não sou um cara muito criativo. Eu honestamente não consigo imaginar como as coisas vão ser quando eu morrer, entende? Eu não consigo entender essa coisa chamada oblívio. As pessoas dizem que depois da morte há escuridão eterna, mas oblívio significa que você não pode nem mesmo sentir a escuridão, estou certo? Eu não consigo imaginar isso. Eu não consigo imaginar um mundo sem mim. Em outras palavras, não há algo como oblívio completo. Mas todos além de mim desaparecem completamente assim que morrer. Em outras palavras, eu serei o único nesse mundo que nunca irá sumir, significando que esse mundo é completamente meu. Todo o resto é apenas parte desse sonho que estou vivendo.”

Ladd não sentia que iria perder a cabeça nesse ponto. Seu oponente não batia bem da cabeça, ele tinha certeza disso.

“Resumidamente, eu consigo fazer tudo que imaginar que consigo, e portanto nada é impossível para mim.”

A afirmação simples de Claire começou a intensificar as emoções de Ladd novamente. Ele gargalhou.

“Agora eu entendo agora. Então é por isso que está tentando ajudar essa mulher aqui? Alguém como você só vai ficar em seu caminho. O que acha, boneca?” Ele perguntou para Chane, mas ela apenas olhava para Claire em silêncio.

Enquanto isso, a sombra vermelha suspirou.

“Há outra razão por que estou ajudando essa senhorita. Afinal, eu não tenho nenhuma razão para matá-la enquanto ela concordar em não machucar os passageiros, mas vocês…. Os homens de branco são diferentes. Eu irei me vingar pela morte de Tony.”

“Tony…?”

Ladd ficou confuso por um momento, mas ele rapidamente entendeu. Tony era o nome do condutor que Dune matou para roubar o uniforme. Ele lembrou de ver o nome na etiqueta do uniforme.

“Ei, cara. Você não está contradizendo o que disse? Se esse Tony é só um sonho seu, então por que se importa tanto?!”

“Eu não vejo nada de errado em sentir-se grato por um amigo, mesmo se ele é um fragmento de minha imaginação. E eu planejo destruir os pequenos pesadelos que quebraram meus sonhos pedaço por pedaço.”

“Você acha que me importunar por cada palavra que falo vai ajudar na sua vitória? Por que você não pula de uma ponte?! Você matou meu amigo Dune só porque teve seus sentimentos machucados quando algum fantasma na sua cabeça foi morto?!”

Ladd, tendo perdido sua aparente confiança em si mesmo, avançou na direção do monstro vermelho como um louco, pulando e atacando em um ritmo que nenhum amador seria capaz de acompanhar.

“Ei, foram vocês que mataram Tony primeiro.” Claire apontou, desviando de cada golpe de maneiras impensáveis.

“Que porra?!”

Choque espalhou-se pelo rosto de Ladd. Claire havia jogado-se em sua direção como contra-ataque aos seus golpes velozes. Claire impulsionou-se para cima, voou pelo ar, segurou os braços de Ladd, e equilibrou-se de cabeça para baixo acima dele.

Ladd manteve-se de pé com dificuldade, e Claire usou a oportunidade para pousar atrás de seu oponente.

“Merda!”

O homem de branco tentou golpear o rosto de Claire enquanto virava-se, mas com um único e explosivo barulho, parte da orelha direita de Ladd foi explodida.

“?!”

Ele não pôde nem mesmo chorar de dor. Claire entrou em seu campo de visão, segurando uma pistola. O cano estava mirado na testa de Ladd.

“Que tal?” Claire nem mesmo esperou uma resposta. “Agora, eu não sou tão confiante em combate mano a mano ao ponto de dizer que sou melhor ao lutar de mãos vazias. Afinal, facas são melhores que punhos, e armas são melhores que facas. Apesar de que acho que pode depender da situação, também.”

Apesar de Claire frequentemente usar armas de fogo como parte das descrições de seu trabalho, ele considera suas habilidades com elas apenas acima da média. Em outras palavras, sentia que não tinha uso para armas esse tempo todo, mesmo que estivesse armado com elas.

“Surpreso? Agora, eu poderia só finalizar você aqui e agora, mas qual é a graça disso? Eu tenho certeza que posso cuidar de você com minhas mãos.” Por alguma razão, Claire colocou a pistola de volta em seu bolso. “Eu atirei na sua orelha de propósito. Humilhado?”

Ladd não fazia ideia do que seu oponente estava planejando, mas ele certamente estava sentido-se humilhado.

“Eu quero que você sofra e morra como um cachorro. Essa é minha vingança por Tony… Não, essa é minha vingança por mim, e meu mundo que perdeu Tony.”

Não existia humilhação maior. O desejo que Ladd tinha de matar esse homem não era formado por suas necessidades básicas ou cálculos; Ele só queria assassinar esse homem. Ele não ligava para prazer ou lucro, desde que pudesse enviar esse tirano desgraçado ao oblívio.

O pensamento resultou em uma gargalhada.

“Haha… Heeheehaha…! Então diga-me, Senhor Todo Poderoso. Como você planeja me matar? Eu irei mostrar que o mundo não funciona da maneira que você acha que funciona! Eu vou calar essa sua boca arrogante de merda e mostrar para você o que oblívio realmente significa!”

Claire ficou pensativo por um momento, então encarou a região de engate. Ele sorriu, então falou com Ladd.

“Agora, antes de você me enviar para o oblívio, há algo que eu gostaria de te perguntar. A boneca com um vestido branco, ela é sua garota?”

A súbita pergunta pegou Ladd de surpresa, mas ele fez uma careta e respondeu.

“Ela é minha noiva, seu desgraçado. Espera um pouco! O que você quer com a minha garota?!”

“Nah, apenas me pergunto como um pedaço de merda como você conseguiu encontrar uma mulher para si.”

“O quê? Um assassino em série não pode se apaixonar como uma pessoa comum?”

Apesar de que a relação de Ladd e Lua estava longe do que normalmente era chamado de ‘comum’, ele não hesitou de chamá-la assim. E mesmo no meio de tal tópico, a sede de sangue de Ladd estava crescendo intensamente cada vez mais. Parecia como se ele até mesmo pudesse superar Claire em algum momento. Ainda assim, seu oponente nem mesmo piscou ao responder a pergunta de Ladd.

“Entendo. Agora eu tenho certeza do que vai acontecer com você.”

O sorriso largo no rosto de Claire estava cheio de um tipo de brutalidade que ninguém que conhecia ele como o condutor seria capaz de reconhecer. O puro mal estava sendo mostrado em seus lábios.

“Você vai se jogar desse trem.” Ele disse, levemente olhando para outro lado. Ladd inconscientemente seguiu seu olhar.

Quando seus olhos completaram sua jornada, Ladd viu a parte de cima de uma mulher no teto do vagão. Sua expressão mudou completamente ao ver a mulher de branco, a mulher que Ladd conhecia muito bem e amava acima de tudo, a mulher que ele queria matar mais que tudo nesse mundo.

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De volta à cabine da Segunda Classe, o mágico cinza continuava a tratar de Jack.

O homem de branco assistia ele pouco a pouco, fazendo algumas perguntas.

“Ei, o que são esses livros em sua bolsa? Eu não consigo nem ler a capa… São livros mágicos?”

Parecia que o homem de branco ainda achava que o médico era um mágico.

“É um texto médico. Claro, não é tão diferente de um livro de magia de certa forma. E é normal que você não consiga ler, está escrito em alemão.”

Apesar de que parecia como se o médico não estivesse valorizando sua inteligência, o homem continuou a questioná-lo.

“Eu entendo que você esteja vestido assim para cobrir suas cicatrizes. Mas por que cinza? Médicos não deveriam vestir branco?”

“Branco costuma refletir muita luz, então não é uma boa escolha para operações cirúrgicas. Mas eu suponho que seja mais porque prefiro cinza. É a melhor cor para misturar-se com mundo, ou melhor, é a melhor para esconder-se do mundo.”

“Parando para pensar, eu acho que Lua disse algo assim há um tempo. A garota que acabou de sair, quero dizer.”

Lenta e silenciosamente, o mágico cinza começou a contar para o homem de branco o que pensava sobre Lua.

“Aquela garota e eu temos algo em comum, nós dois desejamos morrer. Mas há uma diferença fundamental entre nós. Eu frequentemente vi homens com olhos como os dela, lá nos campos de guerra, os olhos daqueles que desejam morrer, mas têm alguém com quem se importam muito. Esses olhos pertencem a pessoas que podem ajudar outras. Comparada a mim, um homem que trata pessoa por nada além de um senso de justiça… Ela é alguém muito mais valiosa para o mundo.”

O homem de branco não entendeu o que o mágico estava querendo dizer, mas ainda assim respondeu.

“Ei, se um médico como você diz que não tem valor, o que nós somos? Apesar de que eu acho que realmente somos um bando de idiotas sem valor.” Ele murmurou.

Droga. Por que eu aceitei participar desse plano estúpido pra começo de conversa? Se Ladd realmente ama Lua, ele não deveria ter levado ela junto. Ele pensou, um pouco tarde demais.

<==>

Lua finalmente havia encontrado Ladd ao subir até o teto pela região de engate. Mas Ladd já estava diante do monstro vermelho.

Eu finalmente encontrei ele. Tenho que me apressar. Tenho que contar. Antes do monstro matá-lo. Sair desse trem, pelo menos um passo mais longe daquele monstro. Nós temos que escapar- Não, eu tenho que ao menos ter certeza de que o Ladd fuja em segurança.

Ladd era alguém essencial para Lua. Não era só porque ele estava destinado a matá-la, mesmo descontando esse fato, Lua não conseguia imaginar um mundo sem Ladd. Vida e morte eram como um, e pelo ato de matá-la, Ladd iria encontrar felicidade em sua vida. Para Lua, que desde sempre fantasiou com esse ciclo único, a morte de Ladd significaria a destruição de seu mundo. Ela era uma crente fanática e uma mártir de seu próprio mundo, de uma maneira diferente de Claire, afinal, seu mundo fazia parte da completude ainda maior de Ladd.

“LUA! Eu disse para você ficar na cabine, estúpida!”

Suor frio escorria pela face de Ladd.

Merda! Porra! Por que esse monstro tinha que estar mais perto dela?! Desgraça!

Claire leu a expressão de Ladd instantaneamente. Ele tirou de seu bolso algo que estava em seus pensamentos há um tempo, e começou a olhar aos arredores do trem com um olhar de diversão. O objeto que ele pegou parecia uma corda simples, mas cada ponta estava amarrada em uma volta, era como um laço duplo.

“Agora, como eu disse, você irá se jogar desse trem.”

“Lua! Vaza daqui!”

“…! …!”

Lua estava desesperadamente gritando algo para ele, mas Ladd não conseguiu ouvi-la claramente. Com um tch, ele avançou na direção do monstro vermelho.

Apesar de que Ladd estava avançando em sua direção como um touro enraivecido, a sombra vermelha não vacilou, nem mesmo desviou. Ele estava concentrado desenrolando a longa corda em suas mãos. Essa era a oportunidade perfeita, Ladd não ligava se o mundo realmente começasse a se distorcer a sua volta, porque ele iria matar Claire e levar o mundo quebrando consigo.

Só mais um passo e ele estaria no alcance de um soco. Foi apenas nesse momento que a voz de Lua chegou a uma distância audível.

“Não, Ladd! Você não pode lutar contra ele! Por favor! Você tem que fugir antes que ele mate-”

Tarde demais, Lua. Me esqueça e apenas vaze daqui, sua idiota.

A intuição de Lua, ou melhor, previsão, geralmente estava correta. Suas ótimas previsões haviam salvado Ladd muitas vezes no passado, tanto que ele confiava mais nela do que em sua própria intuição.

Mas isso não importava agora. Era óbvio que o monstro vermelho era feito de puro perigo. Ladd sabia que poderia morrer lutando contra ele.

Eu estou pouco me fodendo! Eu vou matar esse desgraçado. Eu vou assassinar ele, mesmo que eu morra junto!

No momento que o punho de Ladd estava avançando em sua direção, a sombra deu um sorriso largo e jogou a corda. Uma ponta voou até o pescoço de Lua, e a outra voou para fora do trem… E rapidamente enrolou-se em parte do cenário movendo-se rapidamente ao seu redor. Era um pilar fixado ao lado dos trilhos, usado para coletar correios. Claire estava olhando ao seus arredores, esperando por esse momento.

A corda contorceu-se e apertou-se entre as duas voltas como uma serpente dando o bote.

“Seu filho da puta!”

Ladd desviou seu soco do monstro vermelho no último segundo.

Se ele acertasse-o, seria tarde demais.

Ele tinha que correr até ela agora, ou seria tarde demais.

Ele tinha que pegar Lua agora, ou seria tarde demais.

A mão direita de Ladd segurou a base da corda, e sua mão esquerda firmemente segurou Lua.

No momento seguinte, a corda estendeu-se totalmente, enviando os dois voando pelos ares. A mão direita dele foi assaltada por uma incrível fricção e força, mas ele não podia soltá-la. O segundo que ele sucumbisse à dor, seria o segundo em que Lua seria estrangulada como um pássaro, isso se seu pescoço não deslocasse primeiro. A pele de sua mão estava sendo arrancada rapidamente, mas ele não soltou a corda.

Com a força do movimento, Ladd viu seu dedo anelar esquerdo voando. Mesmo enquanto eles caiam, ele desesperadamente tentou puxar a corda para fora do pescoço de Lua, mas não adiantou. O nó era difícil demais.

Merda. Vou precisar de um anel de noivado depois desse. Ladd pensou, enquanto sua mão direita, banhada com seu próprio sangue, começou a escorregar. A corda instantaneamente esticou-se e ameaçou apertar-se ao redor do pescoço de Lua.

Ladd deixou escapar um baixo grito. Nesse exato momento, a volta ao redor do pescoço dela simplesmente desfez-se.

Huh?

O nó ao redor de seu pescoço foi amarrado de forma que um puxão forte iria desfazê-lo. Era um nó simples usado em truques de mágica que até mesmo uma criança conseguiria fazer. Nesse momento, Ladd percebeu que caiu em uma armadilha.

“DESGRAÇAAAAAAAAADO!”

Ladd arregalou seus olhos quase o suficiente para eles saírem fora, mas não havia mais volta. Porque ele tinha segurado a corda, ambos agora estavam sendo jogados para fora do trem.

Eles voaram pelo ar segurando um ao outro, lentamente caindo até o chão enquanto a corda se desfazia. Apesar de que estava em queda livre, o impacto do pouso não iria deixá-los sem ferimentos.

Lua esforçou-se para ficar abaixo de Ladd, com o objetivo de tentar protegê-lo do impacto.

Pare de agir como outra pessoa, Lua. Não olhe para mim com esses olhos cheios de vida. Você está me deixando com vontade de te matar agora, merda. Ladd pensou, com sua consciência esvaindo-se aos poucos.

No momento antes dele cair completamente na escuridão, ele viu algo aproximando-se do ombro de Lua.

Era um dos pilares ao lado dos trilhos, diferente daquele em que a corda estava amarrada. Era óbvio que, nesse ritmo, o ombro de Lua iria diretamente atingir o pilar.

Então está dizendo que isso faz parte desse seu mundinho centrado em você, seu condutor desgraçado? Então eu vou mostrá-lo… Irei mostrá-lo que o mundo não funciona da maneira que pensa!

Ladd instantaneamente abriu seus olhos semicerrados. Todas as forças que tinha para gritar, ele colocou em seu punho. Ele apaixonada e silenciosamente, sem nem mesmo posicionar-se propriamente, deu um soco com seu punho esquerdo na direção do pilar além do ombro de Lua.

Não importava que ele havia perdido seu dedo anelar. Seu punho firmemente cerrado avançou na direção do pilar.

E houve um poderoso impacto.

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Vendo tudo isso, a sombra vermelha silenciosamente estreitou seus olhos e falou com Chane, que estava ao seu lado.

“Não sei dizer sobre o cara, mas a garota parece estar bem. Parece que ele conseguiu salvá-la. Eu achava que ele era só mais um paspalho, mas ele era diferente, não acha?”

Chane não podia responder. Ela não entendia o homem diante de si. Ele era assustador demais para ser enfrentado, e não parecia como um aliado. Chane suspirou. Seu coração disse-lhe repetidas vezes que lutar contra esse homem resultaria em sua morte.

“Então…”

O homem olhou para ela.

“Eu disse que iria matar aquele que sobrevivesse, mas não consigo confirmar se aquele cara está vivo ou morto. O que eu deveria fazer?”

Claire olhou diretamente nos olhos de Chane, como se todo o conhecimento do mundo pertencesse a si. A terrível luz em seus olhos que sugava tudo ao seu redor fez ela sentir como se fosse ser puxada também.

“Oh, apenas para seu conhecimento, não ache que eu sou tão mal assim. Se ele não fosse salvá-la, a corda iria se desfazer, simples assim. É sério.”

Claire começou a imaginar o que faria a seguir, jogando um tópico de conversa completamente irrelevante dessa maneira.

Agora que o líder dos assassinos de Tony, os homens de branco, havia sido tirado de jogo, era hora de tomar conta dos homens de preto. Primeiro, ele tinha que fazer algo em relação à moça aqui.

“Então esse tal de Huey que ele estava falando antes… Ele é alguém especial para você?”

Foi uma pergunta inesperada, mas Chane assentiu.

“Ele é seu namorado?”

Ela negou com a cabeça.

“Ele é da sua família.”

Ela assentiu.

“Ele é seu pai, não é?”

Ela assentiu.

“Então esse tal de Huey é seu chefe?”

Ela assentiu.

“Então o que você quer fazer agora? Acertar as contas comigo, ou…”

Claire iria dizer ‘fugir’, mas ele subitamente disse algo diferente.

“Ou você quer que eu mate o cara que quer matar sua família, aquele homem de branco lá atrás?”

Os olhos de Chane arregalaram-se.

“Como eu disse para ele que estaria me juntando a você, eu fico confuso se deveria te matar ou te ignorar. Eu sou um mercenário. Você pode me contratar para um trabalho agora mesmo, ou pode lutar contra mim. Apenas uma observação, se você não me matar agora, eu posso acabar recebendo um contrato para matar Huey. Nunca se sabe!”

A determinação de Chane estremeceu-se. Ela não entendia nem um pouco esse homem. Ele era confiável? Tudo que ela tinha certeza era do fato de que ele era mais forte que qualquer outro.

Quanto ele sabia? Por quanto tempo ele ficou escutando o homem de branco?

Mas a segunda pergunta de Claire abalou-a ainda mais.

“Ah, também… É verdade que o Huey é um imortal?”

“!”

Então ele também está atrás da imortalidade.

Por que eu hesitei? Eu me decidi há muito tempo. Eu fui a única que protegeu meu pai esse tempo todo, e continuará sendo assim.

Eu não devo confiar nos outros. Eles são, no fim, nada além de estranhos.

Eu devo matar meus inimigos. Eu deve matar apenas meus inimigos. Papai precisa apenas de mim, mais ninguém. Eu não vou deixar ninguém encostar nele. Não importa o quão forte ou perigoso meu oponente seja.

Afinal, eu sou sua única família…

Um olhar frio formou-se nos olhos de Chane.

Claire deve ter notado que algo estava errado. Ele inclinou sua cabeça.

“Por que essa cara assustadora? Não me diga… Você acha que eu vou ameaçar Huey para conseguir o segredo da imortalidade?”

Ele acertou na mosca. O olhar frio nos olhos de Chane dissipou-se. Mesmo ao tentar suprimir suas emoções que enfraqueciam, ela acabou honestamente assentindo como resposta.

Claire deu um sorriso largo e animadamente fez outra pergunta.

“Ele é a única família que você tem, não é?”

Era a mesma pergunta de antes, mas Chane decidiu responder com honestidade. Ela determinou que, por agora, seria melhor tentar pegar esse homem com a guarda baixa.

“Entendo. Então você acha que, como família, você é a única confiável para proteger Huey… E é por isso que você não pode confiar em mim, certo?”

Essa não era necessariamente a razão pela qual ela não confiava nos outros, mas Claire não estava incorreto. Chane assentiu novamente.

“Mas no fim, você quer proteger Huey, não importa o que seja?”

Ela não precisava nem mesmo pensar muito nessa pergunta. Mas as próximas palavras de Claire deixaram-na com a mente em branco.

“Então eu tive uma ideia. Se eu me casar com você, então eu serei o genro do Huey. Então, como um membro da família, eu não seria capaz de resolver todos os seus problemas?”

Por um momento, Chane não podia compreender o que Claire estava dizendo. Quanto mais ela pensava, mais sua mente preenchia-se com perguntas e choque.

Claire nem mesmo esperou pela resposta de Chane para continuar.

“Então temos três opções. Você pode lutar comigo aqui e agora, ou você pode me contratar e fazer de mim seu aliado com um pouco de suspeita, ou você pode se casar comigo e nós podemos proteger Huey juntos. Entendeu?”

Estou sem palavras. No que esse homem está pensando?

Ela não conseguia entendê-lo. Suas habilidades e personalidade eram completamente diferentes de qualquer ser humano que Chane havia conhecido antes, ou talvez ele não fosse humano pra começo de conversa.

“Digo, eu poderia diminuir as alternativas para lutar contra você ou nos casarmos, mas isso soa como uma ameaça. Nada que um homem honesto deveria dizer para uma mulher. Se eu fizesse isso, Keith iria me expulsar da família definitivamente.”

Chane cambaleou, ficando de pé, mas ela estava perdida. Ela apenas escutou o que Claire tinha a dizer em silêncio.

“Oh, ou talvez você não esteja interessada em um casamento sem amor? Isso não é um problema, eu amo você. E se você ainda não concorda com isso, eu não me importaria de virar o filho adotivo de Huey. Então eu acho que seríamos irmãos. Não sei quantos anos você tem, então imagino quem seria o irmão mais velho?”

Mesmo ao pensar para si mesma que esse não era nem o maior problema, Chane hesitou em pensar sobre como dizer isso ao homem. Agora, sua maior prioridade era resgatar Huey. E esse homem estava parcialmente em seu caminho. Mas ela provavelmente – Não, definitivamente – não seria capaz de derrotá-lo.

Logo antes do cérebro de Chane sobrecarregar, Claire levou seu rosto para perto do dela.

“Você pode considerar esse pedido de casamento uma piada, se quiser. Mas eu direi isso. Minhas intenções são completamente sérias.”

Ele olhou diretamente nos olhos de Chane. Era como se houvesse buracos escuros onde seus olhos deveriam estar, e um demônio estava aguardando dentro, chamando a sua alma.

Uma sensação estranha percorreu a espinha dela, mas não havia mais nada que pudesse fazer além de escutá-lo.

“Ao contrário de seus amigos, eu nunca iria trair você.”

Ele continuou, sussurrando

“Eu não tenho motivos para trair alguém. Os fortes nunca voltam-se contra seus amigos, porque não há sentido em trair os outros. Eu sou forte. Você entende?”

Mesmo em meio ao barulho do vento uivante e das rodas do trem, as palavras de Claire ecoaram pela mente de Chane claramente.

“Eu nunca farei o que teme e pegarei os segredos da imortalidade de Huey. Se ele oferecê-la para mim, certo. Mas eu nunca irei tomá-la a força.”

E ele repetiu novamente.

“Imortalidade não importa para mim, porque eu nunca vou morrer. É por isso que acredito em mim mesmo. Então estou pedindo para você acreditar em mim também.”

Seus olhos ainda estavam escuros e ferozes como antes, mas seus lábios pareciam formar um vago sorriso.

“Eu sou um homem que não morre.”

Após ouvir Claire por um tempo, Chane parecia ter chego a uma conclusão.

Mas logo quando iria fazer seu movimento, uma dor aguda impediu-a. Um buraco de tiro escuro apareceu em seu ombro.

“Hm?”

Ao mesmo tempo, Claire ouviu o som de um disparo.

Um rifle de precisão, huh? Interessante.

Ele checou para certificar-se de que os ferimentos de Chane não eram sérios, e virou-se na direção de onde o tiro veio.

Era uma distância próxima o suficiente para que Claire pudesse ver propriamente. Uma vez que concluiu isso, ele decidiu tomar conta do atirador primeiro.

“Há um rio logo à frente. Se você não quer ser pega pelos policiais, deveria pular do trem lá. Você pode marcar sua resposta para mim no teto, com sua faca. Afinal, se você ficar aqui, os homens de preto só irão matá-la, certo? Não há razão para ficar.”

Claire então interessou-se pelas habilidades do atirador à distância. Em seu coração Claire acreditou que poderia ver. O seu orgulho como centro do mundo concentrou seus sentidos em seus olhos. Ele então observou o trabalho de Spike com a arma. Um condutor naturalmente precisava ter uma visão muito boa. E mesmo que não fosse um trabalho oficial, atirar precisamente requisitava uma visão perfeita. Claire teve que trabalhar meticulosamente para alcançar esse nível de habilidade, mas mesmo assim as pessoas acabaram usando a palavra ‘talento’.

“Eu e você temos olhos similares. Você não sabe onde deveria liberar suas emoções, então guarda tudo dentro de si.”

Ele riu descaradamente.

“A única coisa nesse mundo que não consigo resolver, é esse idiota chamado ‘eu’.”

Era por isso que Claire havia voltado toda a sede de sangue nascida das tragédias e hipocrisias para si mesmo. Ele havia selado a sede de sangue de seus olhos dentro de si mesmo com o passar do tempo.

“Você conseguiu ferir minha orelha. Mesmo tendo sido apenas uma coincidência, você deixou uma prova de sua existência para mim, o centro do mundo. Então eu quero que se junte a mim, ao lado do sonhador… Ao lado do regente desse mundo. Eu receberei você de braços abertos.”

Ele cutucou o ferimento causado em si através da parede, e preparou-se para avançar em velocidade máxima na direção da parte frontal do trem.

“Você pode jogar a faca em mim se quiser, mas não irá me acertar.”

Com isso, o homem começou a correr pelo teto.

Chane observou a pequena silhueta avançar, desviando dos disparos de Spike. Ela pensou por um tempo, então assentiu determinadamente.

Ela tirou uma pequena faca que tinha escondida em sua perna e começou a escrever palavras no teto do trem; Sua resposta para o monstro vermelho.

Assim que o veículo alcançou o rio, Chane silenciosamente jogou-se na água.

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Jacuzzi e seus amigos embarcaram no trem com a intenção de roubar a mercadoria secreta de explosivos que Czes contrabandeou.

Um deles, Donny, o gigante mexicano, após confirmar que o trem havia chegado ao rio, começou a jogar as caixas de explosivos na água. O rio era fundo, mas as caixas estavam fortemente seladas e almofadadas. Eles não iriam atrás dessa carga se fosse fácil de detoná-la acidentalmente. A simples gangue fez sua simples conclusão e simplesmente jogaram os explosivos no rio.

Donny Já havia jogado quase toda a mercadoria quando viu algo bizarro. Ele pensou por um momento que viu uma mulher de vestido preto pular do teto, logo acima da porta de carga.

“Uh… Garota? Não. Provavelmente errado.”

Donny não pensou muito no assunto, continuando a concentrar seus esforços em jogar as caixas.

<==>

Com a ajuda de Rachel, os assaltantes de trem, Nice e Nick, conseguiram escapar dos homens de preto. Os empregados na locomotiva apenas perceberam que algo estava errado quando Nice começou a realizar explosões de aviso na Primeira Classe.

“Ei… O que foi essa explosão agora mesmo?!”

“O trem está tremendo…!”

Cuidando da locomotiva como engenheiros havia um par de irmãos velhos. As orelhas de ambos estavam fragilizadas demais para escutar disparos de longe, mas as explosões de Nice eram altas o suficiente para alcançá-los.

Outra série de explosões.

“Vá checar!”

“Eu? Tá de brincadeira?!”

O mais novo dos irmãos estava quase saindo quando escutaram algo do outro lado da porta.

“Ei, veteranos. Sou eu.”

Era a voz do jovem condutor. Claire estava agindo de uma maneira completamente diferente de quando estava enfrentando Ladd – seus olhos e tom eram gentis e amigáveis.

“O quê? É você, Claire? Você veio até aqui?”

“O que você está fazendo aqui? E o que foram essas explosões de agora? Nós devemos parar o trem?”

As explosões continuaram ao fundo.

“Não, pessoal. É o oposto. Vocês não podem parar o trem.”

“O quê? O que é isso tudo?”

Após derrubar Spike, Claire veio checar a casa de máquinas, preocupado, apenas para achar os engenheiros nesse estado. Ele agradeceu a si mesmo pela boa sorte.

O intenso volume do barulho das explosões provavelmente iriam superar qualquer sinal que ele enviasse da cabine do condutor. Os engenheiros iriam acabar parando o trem. Então Claire decidiu, com a porta agindo como uma parede entre eles, fazer um showzinho.

“Há assaltantes de trem atrás de nós! Eles estão atirando na gente à cavalo!”

“O quê?!”

“Onde?”

“Eles estão tentando se esconder! Nós não conseguimos ver eles muito bem daqui, mas provavelmente não serão capazes de atravessar o rio à frente. Não se preocupem, apenas mantenham o trem andando até nós atravessarmos a ponte, pelo menos.”

Isso ainda não explicava as explosões, mas Claire decidiu ao menos certificar-se de que tudo estava indo bem. Ele não poderia deixar o trem parar aqui.

“Certo, rapaz! Nós avançaremos o mais rápido que pudermos! Deixa conosco!”

“E você, Claire? O que vai fazer?”

“Os passageiros estão bem, então irei levá-los para algum lugar seguro.”

“Se cuida, tá bom?”

“Obrigado, senhor.”

Claire saiu da locomotiva sem mostrar seus rosto aos engenheiros. Que a verdade seja dita, ele queria dizer para eles ‘Obrigado por tudo’, mas essa não era uma opção no momento. Ele deu um adeus silencioso para os dois homens que ele poderia nunca mais ver novamente.

Eu posso ser o centro do mundo, mas mesmo eu tenho pessoas que não posso olhar no rosto. Droga. Se eu me atrasar para Nova York, nunca serei mais serei capaz de olhar na cara dos Gandor.

Então o trem continuou a andar.

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