Baccano! - Episódio Expresso Parte Final - Vol 03 - Anime Center BR

Baccano! – Episódio Expresso Parte Final – Vol 03

Episódio Expresso – O Homem Que Não Morre – Parte Final

Tradutor: PH

Isaac e Miria pareciam ter se perdido no caminho. Eles encontravam-se vagando pela Terceira Classe.

“Hm… Não há nenhum homem de branco por aqui, e nem o Espreitador de Trilhos.”

“É um desaparecimento! Assim como um romance de mistério!”

A dupla estava nos corredores no mesmo momento que Jacuzzi estava interrogando um dos homens de preto e Ladd torturava outro, então eles nunca encontraram-se com um deles pelo caminho.

“Diga, Isaac. Nós não deveríamos checar os compartimentos de carga?”

“Não se preocupe, Miria. O Espreitador de Trilhos começa o seu banquete da parte traseira do trem. Em outras palavras, ele não estará mais nos vagões de carga, onde nós achamos os corpos!”

“Mas, mas, por que procuramos na cabine do condutor?”

“Hahaha! É porque criminosos sempre retornam à cena do crime, Miria!”

“Uau! Você é tão inteligente, Isaac! Igualzinho Sherlock Holmes!”

Eles entraram no vagão da Terceira Classe, realizando um ato cômico atrás do outro.

Eles cuidadosamente procuraram em cada uma das cabines, desamarrando as pessoas nos quartos pelo caminho.

“Obrigado! Você sabe o que está acontecendo agora?”

As pessoas que eles resgatavam sempre faziam as mesmas perguntas, então Isaac sempre dava a mesma resposta.

“Há um monstro por aí devorando pessoas no meio de um tiroteio.”

Todos os passageiros ficaram com expressões confusas em suas faces, mas nenhum tentou sair de suas cabines.

Isaac teve a sensação de que sabia o porquê dos passageiros estarem relutantes para sair. Eles disseram que, por um tempo, ouviram os horríveis gritos de uma criança em uma cabine próxima. Então eles ouviram algo como uma janela quebrando, e nesse momento os gritos pararam. Após isso, os passageiros não conseguiam mais cegamente sair para fora de seus quartos, não importava se o inimigo era um monstro, os homens de preto, ou uma gangue de ladrões.

“Mas e se for Mary ou Czes?” Miria perguntou nervosamente.

Enquanto continuavam passando pela Terceira Classe, Isaac e Miria notaram que a próxima porta perto deles estava aberta.

Será que o monstro estava dentro? Eles seguraram suas respirações, engoliram em seco, e dramaticamente andaram nas pontas dos pés até a porta.

Eles espiaram o interior da cabine e viram um par de homens de preto olhando para fora da janela e sussurrando algo entre si. Isaac e Miria começaram a sussurrar entre si também.

“Aha! Esses dois devem ser os canalhas que feriram a criança inocente!”

“Canalhas e vilões!”

“Como um pistoleiro, eu não posso deixá-los escapar sem punição! Certo, Miria?”

“Você é um fora da lei incrível, Isaac!”

Durante um certo incidente há um ano, a dupla havia nocauteado um trio de homens armados com metralhadoras. A mentalidade simples de Isaac e Miria permitia ambos facilmente ultrapassar o medo de armas de fogo.

Claro, seu método de vitória no ano passado havia sido atropelar seus oponentes com um carro.

“Eu irei desafiá-los para um duelo!”

“Não, Isaac! Você vai ser morto!”

Agora, até mesmo Miria tentou pará-lo. Infelizmente, a determinação de Isaac era resoluta demais.

“Miria, há algumas coisas na vida que um homem deve fazer, mesmo sabendo que irá morrer. Esse é o caminho do Samurai!”

“I-Isaac! Então eu vou desafiá-los também!”

“Como alguém conseguiu descer aí?”

“Você teria que estar do lado de fora do trem…”

Os dois homens de preto olharam para baixo, na direção do corpo de Czes, enquanto ponderavam sobre a situação. Subitamente, algo atingiu-os na parte de trás da cabeça.

“Mas que- Ugh… Coff… Ugh… Coff… Argh…”

Eles acabaram inalando o pó branco que espalhou-se ao redor deles. Era uma fórmula especial que Isaac e Miria sempre usavam durante seus assaltos, feita com uma combinação de limão e pimenta preta. Como isso era suposto ser um duelo, eles pegaram a mistura em bolsinhas e jogaram-nas em seus oponentes.

Os homens de preto havia sido acertados diretamente e inalado uma grande quantia do pó. Eles foram cegados, incapaz de até mesmo respirar. Eles não tinham tempo para pensar em atirar suas armas, agora eles precisavam de suas mãos para cobrir seus rostos. Apesar de seus cérebros dizerem o contrário, os homens não conseguiram aguentar a dor e largaram suas armas.

O vento soprando pela janela afastou o pó, finalmente trazendo alívio aos dois. E recebendo o retorno de sua vista, estava a visão de dois foras da lei, segurando suas metralhadoras.

“Nós oficialmente desafiamos vocês a um duelo!”

“Nós começamos assim que a moeda cair!”

Os foras da lei, armados com metralhadoras, desafiaram os homens desarmados.

“Espere, Miria! Nós não temos nenhuma moeda conosco!”

“Ah não! Você está certo, Isaac! Hm, vocês por acaso tem uma moeda?” Miria perguntou aos homens de preto, mas Isaac rapidamente parou-a.

“Não, Miria! Nós não podemos usar a moeda deles! Afinal, se nós vencermos o duelo, significa que sairemos com dinheiro emprestado! Nenhum pistoleiro que se preze deveria fazer algo assim!”

“É mesmo, Isaac! Então acho que eu tenho que usar algo diferente como sinal.”

“Entendi! Que tal nós usarmos o som de nossas metralhadoras disparando?”

“Incrível!”

Os homens de preto perceberam que o casal era realmente tão tolo quanto parecia ser, e começaram a implorar por suas vidas com olhos cheios de lágrima.

Tendo amarrado os homens de preto e deixado-os na cabine ao lado, Isaac e Miria retornaram a essa cabine.

“Então, onde está a criança?”

“Eles estavam sussurrando na janela antes…”

“Entendo! Então eles penduraram a criança-”

“Isso é terrível!”

A dupla correu até a janela, e logo ficaram sem palavras. Pendurado do lado de fora estava seu amigo, ou melhor, o garoto que eles conheceram a pouco tempo e consideraram um amigo. O pequeno corpo pendurado próximo as rodas era o de Czeslaw Meyer; Ele estava sem seu braço direito e suas pernas.

<==>

Droga. Parece que nunca dá para saber quando algo vai te ajudar. Não acredito que meu plano de contingência para quando eu fosse presa por policiais ou capturada pela máfia me ajudou em um trem, de todos os lugares.

Rachel olhou para a ponta áspera de suas unhas, grata pela boa sorte que manteve-a viva. Ela desceu até a região de engate entre a Segunda e Terceira Classe e olhou para o céu por entre as rodas.

Tendo sido capturada pelos homens de preto, Rachel livrou-se assim que os guardas pararam de vigiá-los, e escapou pela janela até a parte de baixo do trem. Ela também havia soltado a mulher de tapa-olho e seu amigo. Eles ainda estavam bem? Infelizmente, Rachel não podia fazer nada contra suas preocupações.

“Ugh…”

Dor percorria por sua perna a partir do ferimento que teve enquanto resgatava a senhorita Beriam e Mary. O disparo havia passado de raspão em sua coxa, afetando sua habilidade de mover-se livremente. Ela havia parado o sangramento e realizado o tratamento básico, mas a dor insuportável continuava a consumi-la.

Enquanto ela não pudesse ser tratada por um médico, seria melhor para Rachel permanecer parada. Ela respirou profundamente, então abriu a porta da região de engate e entrou no vagão da Terceira Classe. Ela tinha que achar um quarto seguro onde pudesse descansar.

Foi com uma surpresa desagradável que a voz subitamente chamou-a por trás.

“N-não se mexa, escória!”

Era o homem suíno de mustache que estava no vagão de jantar; O homem que, para Rachel, era praticamente um inimigo mortal.

Irritante o suficiente, o porco de mustache tinha um rifle em suas mãos.

“O qu-quê? Uma mulher?”

Havia um olhar de desgosto nos olhos do homem, mas ele não apontou o rifle na direção de Rachel.

Apesar de que não tinha como ela saber disso, o rifle originalmente pertencia aos homens de branco; Mais especificamente, pertencia ao homem que foi morto por Chane. O homem de mustache havia achado essa arma junto ao corpo jogado em frente ao armário de vassouras. Chane não era do tipo que desarmava corpos, acabando por deixar a arma nas mãos do porco de mustache.

“Hmph! Você deve ser um dos homens de branco, não é?! Eu sei de tudo! Qualquer um que pode andar por esse trem com uma expressão normal é um desses canalhas!” O homem lentamente aproximou-se de Rachel, falando coisas imprecisas.

Após ser expulso do vagão de jantar, o homem vagou com medo. Sua sanidade havia acabado de chegar a um ponto crítico quando pegou o rifle. Apesar de que sua personalidade original também contribuía ao problema, o homem começou a ser consumido por um ideal destorcido, ele tornou-se obcecado pela ideia de matar o ‘alguém’ que estava tentando matá-lo. Ele havia se escondido nesse vagão por um tempo, procurando por alguém que até mesmo ele pudesse matar com facilidade. Ele ignorou o homem assustador de branco e o gigante marrom, e a mulher de branco correu antes mesmo que pudesse falar com ela.

O suíno havia finalmente achado o sacrifício para sua paz interior. Mesmo se ele soubesse que Rachel não era um dos homens de branco, não poderia mais abaixar sua arma tão facilmente nesse ponto.

“Eu sei. Eu nunca estive errado. Meu sucesso até agora foi construído por minha certeza. Você acha que eu vou deixar um pedaço de lixo como você destruir tudo isso?!”

Rachel tristemente olhava para o ar.

Por que agora? Eu finalmente tenho uma boa razão para espancar esse cara, mas ele tem um arma e tudo que tenho é uma perna ferida.

Apesar de que o senso comum ditava que ela deveria fazer o oposto nessa situação, Rachel não conseguia fazer mais nada além de irritar ainda mais o homem.

“Você nunca esteve errado? Então você está dizendo que o acidente que aconteceu não foi um de seus erros?”

“…?”

“Você está dizendo que o acidente de trem há dez anos foi tudo parte de um plano seu? Você ignorou todos os avisos dos engenheiros, mas quando o acidente aconteceu, colocou a culpa neles! Você está dizendo que estava certo ao fazer isso? Você honestamente acha isso?!”

A coloração de loucura nos olhos do homem começou a desaparecer, mas a cor de sede de sangue calculada começou a ficar mais evidente.

“Como você sabe sobre isso, sua merdinha? Quem caralhos é você?”

Normalmente, o homem poderia desconsiderar as palavras de Rachel como as meras palavras desesperadas de uma perdedora. Afinal, uma boca falando a verdade não era o suficiente para fazer tudo ser conhecido ao mundo inteiro. Mas nesse momento, onde ninguém estava totalmente são, a revelação de Rachel não poderia soar mais perigosa.

“Quem esperava que alguém finalmente iria falar sobre nosso – meu – segredinho? Eu não sei quem você é, mas você realmente está com os homens de branco, não está? Sim, eu acho que sim.”

O cano do rifle moveu-se até a testa de Rachel.

Mas até mesmo nessa situação desesperadora, um sorriso amargurado formou-se no rosto dela.

“Eu acho que essa deve ser minha punição… Minha punição por sujar o orgulho dos trens sendo uma clandestina.”

“Clandestina? Hmph. Um crime insignificante para uma criminosa insignificante.”

“Então eu não me importo se é o próprio trem que quer acabar comigo no fim. Se isso significa ser morta por aquele que apostou tudo nesse trem, agindo como o representante do trem…”

“Implorando por sua vida? Bem, suponho que eu seja um homem dedicado aos trilhos, então como você me deu esse direito…”

O homem de mustache mirou e lentamente colocou seu dedo no gatilho.

Mas Rachel ignorou o homem e gritou com todas as suas forças.

“Então… Então me mate, tá bom?! Me mate antes que esse desgraçado faça isso! Me mate, monstro vermelho, não… CONDUTOR!”

O porco confuso hesitou por um momento.

Então, seus ombros começaram a ranger com um barulho aterrorizante. Ao mesmo tempo, uma dor intensa, do tipo que ele nunca havia experienciado antes, atingiu seus sentidos. Ele não precisava virar para trás para ver o que havia acontecido. Alguém havia agarrado seus ombros por trás. Ele guinchou de dor enquanto dolorosamente olhava para seus ombros, e viu um grupo de dedos, afundando-se mais fundo do que logicamente deveriam ser capazes.

O choque da dor forçou o homem a largar sua arma. Não seria uma surpresa se ele acidentalmente tivesse puxado o gatilho, mas por sorte o rifle rolou pelo chão sem disparar.

“Gaaahhh… Guh… AAAAAAAAAAHHHHH!”

Parecia que ele tinha atacado com dor o suficiente para causá-lo náusea. Lágrimas caíam de seus olhos, e algo que parecia como suco gástrico começou a acumular-se em sua boca e nariz.

Seus ombros ascenderam com um som baixo e grave. Eles foram forçadamente deslocados.

“!!!!!!”

Sem nem mesmo ter chance de gritar, o homem de mustache perdeu a consciência de imediato. Era como se ele fosse uma máquina que teve seu fusível queimado. Rachel podia praticamente ouvir os circuitos apagando-se.

Enquanto o porco de mustache caía de rosto no chão, um homem estava de pé ao seu lado.

O condutor, coberto de sangue, estava olhando silenciosamente para o homem.

São desgraçados como esse que deixam as coisas difíceis para condutores como eu.

Após enganar os engenheiros, Claire havia voltado aos vagões traseiros. Ele olhou para o vagão de jantar pelas janelas e viu os passageiros amarrando os homens de preto sobreviventes. Vendo que haviam diversos homens de branco também amarrados nos corredores, a situação parecia estar chegando a uma conclusão.

Enfim, todos os passageiros normais estão seguros?

Claire estava encaminhando-se até a cabine do condutor para confirmar isso, quando acabou passando pelo suspeito homem de mustache com um rifle, enfrentando a mulher clandestina de antes.

Primeiro ele observou da região de engate, mas o porco de mustache irritou-o tanto que decidiu salvar a clandestina por agora.

Claire parecia ter conseguido chegar antes do homem puxar o gatilho. Ele comemorou seu próprio senso de tempo e perguntou-se o que faria com o porco.

Talvez eu deva jogá-lo para fora. Se ele é sortudo, deve sobreviver.

Com pensamentos aterrorizantes em mente, Claire deu um passo a frente para levantar o porco, quando uma voz estremecida, porém poderosa, interrompeu-o.

“N-não!”

O grito agudo veio da clandestina, que estava segurando o rifle do porco.

“Fique longe dele! Não mate-o, tá bom?”

Claire deu de ombros, perplexo. “O que tem de errado nisso? Aliás, esse bastardo não tentou matar você?”

Essa mulher é como eu? Ela acha que nunca vai morrer? Então eu entendo o porquê dela querer salvar seu inimigo. Claire pensou, mas o rosto de Rachel, coberto de suor, contou-lhe o contrário.

“Você é uma garota engraçada. Primeiro pede para eu te matar, então pede para eu não matar outra pessoa?”

“Não é só ele. Por favor, não mate mais ninguém nesse trem! Se você quer matar alguém, apenas tome minha vida e acabe com tudo!” Ela chorou, desafiando-o.

“Por quê? Por que você iria tão longe?” Claire perguntou com um olhar sério. Ele encarou os olhos de Rachel com os seus próprios olhos inumanos. Ela estava assustada, mas mesmo assim respondeu-o sem medo.

“Meu pai era um engenheiro de trem. Eu e ele amamos trens. Nós amamos tanto eles! Talvez mais do que amamos as pessoas!”

O pai dela é o engenheiro que o porco estava falando antes? Claire pensou, mas continuou a escutar Rachel em silêncio.

“Então, então, por favor! Pare! Pare de sujar o orgulho desse trem, e o orgulho das pessoas que fizeram esse trem! Pare de manchar esse trem, esses trilhos, as pessoas, com sangue!”

Rachel estava chorando. Claire silenciosamente observou-a, então falou.

“Parar de sujar o orgulho, huh? Um pedido muito grande, vindo de uma clandestina.”

“Você está certo. É por isso que ambos somos culpados da mesma coisa.”

Claire não conseguiu conter um largo sorriso. Com um olhar de divertimento, ele virou-se para o lado contrário da clandestina.

“Você está dizendo que assassinato e viajar clandestinamente são crimes semelhantes? Você é uma moça bem engraçada.”

Rachel finalmente percebeu que o homem diante de si, quem ela pensava que era um monstro, era um humano, não muito diferente de si mesma. Ela deveria ter percebido isso antes, quando descobriu que poderiam conversar propriamente, mas no momento era incapaz de perceber. Ela apenas acalmou-se o suficiente para entender agora, quando viu o homem sorrindo.

“Droga. Você vive tendo que me lembrar disso… Eu sou um condutor, huh.” Claire disse para si mesmo. Ele então colocou sua mão em seu bolso e tirou um pequeno pedaço de papel manchado de sangue. “É uma passagem. Pegue. Seu nome não está na lista de passageiros, mas só diga que o condutor deve ter errado. Ninguém vai insistir muito nisso. Aliás, não fale nada sobre eu ser o condutor, beleza? Até mais.”

Ele jogou o pedaço de papel no chão e saiu por um canto do vagão.

“Você é uma dama muito impressionante também. Se eu não tivesse conhecido a moça com a faca agora pouco, eu poderia ter me apaixonado por você. Apesar de que acho que podemos nos encontrar novamente algum dia.” Ele disse, afastando-se de Rachel.

“E-espere!”

“Eu disse, não se preocupe. Eu não acho que vou precisar matar mais. Eu só matei os homens de preto e branco, de qualquer forma.”

“Você está mentindo! O garoto de antes…”

Rachel percebeu nesse momento que esse era o mesmo vagão em que o garoto havia sido amarrado.

Assim que Rachel parou, Claire respondeu, como se tivesse lembrado só agora.

“Oh, sim, sim. Eu me esqueci completamente dele. Bem, ele é um pouco complicado de explicar. Eu não estou com vontade de falar, então você deveria perguntar pessoalmente para ele.”

“O que você está falando?! O garoto já está-”

Claire ignorou Rachel e abriu uma porta próxima. Era a porta da cabine onde ele havia torturado Czes mais cedo. E dentro, ele encontrou–”

“Aaaaaa! Isaac! Você está bem?!”

Ele encontrou uma mulher de vestido vermelho, inclinando seu torso para fora da janela.

<==>

Ao lado das rodas, Czes estava perdido em uma tontura enquanto o vento atingia seu corpo.

Como as coisas acabaram assim?

A dor que o monstro vermelho havia infligido em si era de uma escala que ele nunca havia sentido antes. Em diversos momentos ele sentiu terror ao invés de agonia. Seu olho foi cinzelado com o bisturi. Sua artéria foi aberta, e o monstro soprou ar dentro dela o mais forte que podia. O monstro repetiu a ação com suas veias. Isso foi apenas o começo. Czes simplesmente esqueceu o resto. Ele apenas lembrava que sofreu muito, incapaz de lembrar o conteúdo da experiência. Ele não estava suprimindo por vontade própria, a memória havia sido apagada completamente.

Talvez eu realmente tenha ficado insano. Então isso significa que as coisas aconteceram como o monstro queria. Isso é minha punição? Isso é uma retribuição por tentar matar as pessoas no vagão de jantar? Ou é por todas as coisas más que eu fiz no passado? Não importa mais. Eu só quero ficar em paz. Mas eu acho que isso não é possível. Ah, eu entendo. Essa deve ser minha punição por viver mais do que deveria. Por opor-se às leis da natureza e obter imortalidade. Eu apenas procurei-a para ser feliz, mas achar que as coisas acabariam assim…. Primeiro eu senti desespero, então solidão, então medo. Esse deve ser a retribuição… Minha punição por devorar um de nossos amigos.

As coisas começaram a ficar barulhentas acima de si novamente. Quem poderia ser agora? O monstro vermelho voltou? Ele iria sentir agonia novamente?

Não, não… Não não não não não por favor tudo menos isso não faça isso não não não não alguém me ajude por favor alguém me ajuda…

A dor nunca veio. Czes sentiu-se um pouco mais calmo, então ele ficou em silêncio novamente. Eu não ligo pra que tipo de desgraçado está lá em cima. Eu não ligo pra quem seja, desde que eles não me machuquem.

Eu não quero abrir meus olhos. Não seria ótimo, se eu acordasse e tudo fosse só um sonho? Certo. Isso tem que ser um sonho. Eu vou abrir meus olhos e nós ainda estaremos no navio. Tudo que ele fez a mim foi só um sonho, e Szilard devorando nossos amigos foi só outro pesadelo…

Algo que parecia como gotas de água pingaram em sua bochecha.

É, isso deve ser um sonho. Eu posso sentir a água do mar em meu rosto. Agora, vamos acordar. Eu ainda sou uma criança. Se eu não acordar cedo todo mundo vai me provocar…

Mas quando ele abriu seus olhos, Czes encontrou-se de volta à realidade. Mas ele nem teve tempo para desesperar-se quando ouviu uma voz acima de si.

“Oh! Miria! Ele abriu os olhos! Czes está vivo! Ele ainda está conosco!”

Czes encontrou-se encarando o estranho pistoleiro do vagão de jantar. Ele havia praticamente descido pela janela e estava olhando para Czes de cabeça para baixo. Sangue escorria de suas mãos, provavelmente por um corte feito na janela. Algumas gotas devem ter caído no rosto de Czes.

O que ele está fazendo?

“Espere, parceiro! Eu vou te salvar!

O quê? Ele está falando sobre… Mim? Por quê? Por que você faria algo assim? Por que você iria tão longe por alguém que você acabou de conhecer? Eu não entendo. Você iria tão longe por alguém que não é um amigo, família ou amante – Nada além de um estranho… Espera. O sangue dele em meu rosto está… Se movendo? O que está acontecendo? Não, ele está se movendo por causa do vento ou do trem tremendo. O sangue está se movendo como se cada gota fosse um ser consciente. Não, não, não pode ser! Como pode? Não, não, é impossível! Esses dois malucos? Eu não acredito! Por que aqui? Por que agora?! O Sangue está me ignorando. Está voltando para sua mão. O corte em sua mão está regenerando! Agora eu tenho certeza… Esse homem não está aqui para me salvar. Esse homem, esse imortal… Ele está aqui para me devorar.

Isaac inclinou-se mais para fora da janela, finalmente saindo por completo da cabine. Miria segurava suas pernas com toda força que podia, mas ela não era forte o suficiente para suportá-lo. Isaac segurava-se pela ornamentação nas paredes, amenizando um pouco as coisas para Miria. Ele então finalmente conseguiu segurar os canos de metais entre as rodas.

Cuidando para não pisar em Czes ou ser pego pelas rodas, Isaac entrou debaixo do vagão.

“O que é isso? Seu braço está amarrado! Espere, Czes. Eu vou tirá-lo daí.”

Que idiota. Ele deveria ter me devorado antes de me desamarrar. É isso… Desfazer essas cordas será seu fim. Eu só vou alcançá-lo com minha mão direita…

Czes então percebeu algo e encontrou-se caindo em um poço de desespero. Seu braço direito havia sido arrancado pelo monstro vermelho, e não estava mais conectado a si.

“Certo! Eu tirei as cordas de você!”

Isaac suportou-se em seus pés e braço esquerdo, então suportou o corpo de Czes com seu torso. Ele então estendeu a mão direita para segurar Czes.

“NÃO ME TOCA!”

O garoto usou sua mão esquerda para afastar o braço estendido de Isaac. A força de seu movimento o fez escapar de Isaac e cair para baixo do trem.

Bem feito. Agora você não será capaz de me devorar. Czes sorriu, mas seus olhos logo arregalaram-se.

A cena prosseguiu diante de si como se estivesse em câmera lenta.

Quando Isaac percebeu que Czes havia escorregado, ele não teve tempo para pensar. Se estivesse em um estado mental calmo, teria ao menos hesitado antes de jogar-se nesse situação.

Mas o cérebro de Isaac não foi feito para priorizar a si mesmo nessa situação.

Em um piscar de olhos, ele jogou-se no ar para salvar Czes sem nem pensar.

Impossível! Ele quer mesmo o meu conhecimento tanto assim?

A mão direita de Czes lentamente alcançou Czes, caindo ao chão.

Acabou. Ele vai me devorar. Agora alguém vai ver aquela memória amaldiçoada! Não, por favor, alguém me salve! Por favor! Nãonãonãoporfavor-

Czes gritou como uma criança e cerrou seus olhos fortemente.

Mas não importa o quanto esperava, a mão de Isaac nunca encostou na sua cabeça.

Quando ele percebeu que o impacto de atingir o chão não foi tão forte quanto pensava, Czes hesitantemente abriu seus olhos.

“Aaaaaaaaaah! Isaac!”

Na proximidade da janela, ele poderia ouvir Miria gritando. Em frente a si, ele poderia ver algo como uma parede.

Czes percebeu que a parede era, na realidade, as roupas de Isaac, e finalmente percebeu que estava sendo segurado nos seus braços.

Ele estava pendurado no trem pela sua mão esquerda, e seu corpo estava sendo arrastado pelo veículo.

“Ugugugugugugugugugu…”

Com uma vocalização estranha, ele desesperadamente tentou resistir às vibrações vindas de seus pés. As esporas nas solas das suas botas de caubói quicavam no chão, causando um barulho agudo e duradouro. Incapaz de girar propriamente no cascalho, as esporas tornaram-se protusões que pioravam a tremedeira.

Apesar de que as esporas eram usadas para diminuir o galopar de um cavalo, o chão abaixo deles passava como uma onda, não mostrando sinal de parar.

Mas felizmente, os membros de Isaac não tocaram no chão. Ele talvez poderia escalar de volta ao trem se usasse ambas as mãos, mas recusava-se a soltar Czes.

Sua mão esquerda chegou ao limite. Seus dedos começaram a escorregar.

“Isaac!”

Miria segurou sua mão. Ela também havia escalado para fora da janela e até as rodas, ainda mais habilidosamente que Isaac.

Porém Miria não tinha força o suficiente para suportá-los. Ela escorregou assim que segurou a mão de seu par.

Mas ao invés de ter perdido as forças, ela fortemente abraçou Isaac como se protegesse Czes entre eles. Isaac aproveitou o momento para largar sua mão direita de Czes, e como um caubói, jogou a corda que estava em suas costas o mais longe que podia.

Mas no fim, ele falhou ao agir como um caubói; A corda alcançou nada além do ar.

Eles caíram no chão e quicaram, estremecidos por um impacto poderoso. Mesmo assim, Miria não soltou Isaac, e Isaac segurou-se firmemente à Miria e a corda. E Czes, protegido pelo casal, sofreu pouco com o impacto.

No momento que pensaram que tudo havia acabado, algo pegou a outra ponta da corda, ou para ser mais específico, alguém segurou-a.

Do outro lado havia uma mão saindo de baixo do trem.

Tudo aconteceu rapidamente.

Tendo descido para baixo do trem, Rachel encontrou Isaac e os outros pendurados por uma única mão. Ela tentou pegar sua mão, mas eles caíram para fora. No mesmo instante, algo veio voando até si vindo de Isaac. Rachel pegou-o sem pensar.

Era a outra ponta da corda que Isaac estava segurando. A ponta dele estava presa em seu cinto.

Em menos de um segundo, um peso tremendo afligiu o braço de Rachel. O trio havia atingido o chão, e agora estavam sendo arrastado pelo cascalho.

“Ugh!”

Apesar de haver uma criança entre eles, Rachel estava suportando três pessoas com um braço. Ela desesperadamente tentou puxá-los, mas falhou.

Ela considerou que poderia ser menos pior se soltasse a corda, mas com o azar ao seu lado, a corda poderia facilmente ser pega nas rodas do trem, fazendo o trio virar carne moída, e no pior dos caos, descarrilhar o trem. Ela não poderia soltar agora.

Infelizmente, o ferimento em sua perna era outra sinal de dor, fazendo Rachel soltar a corda.

“AAAAAHHH!”

Rachel gritou sem querer.

Subitamente, uma sombra vermelha passou acima de si. Claire correu pela ornamentação ao lado do vagão com facilidade, assim como fez no vagão de jantar… Não, mais rápido.

Ele tentou alcançar a ponta da corda antes que Rachel pudesse produzir algum som.

Infelizmente, Claire não conseguiu a pegar. No momento que a clandestina pensou estar acabado, porém, a sombra lançou-se para longe da parede. Ele pulou para fora do trem por inteiro, e conseguiu segurar a corda.

Antes de Rachel sequer conseguir processar a visão, Claire girou em meio ao ar.

Suas pernas afastaram-se do trem, enquanto um pilar nos trilhos aproximava-se dele.

No momento que Rachel achou que ele iria acertar o pilar, os pés de Claire pousaram na lateral da construção.

Sem aviso prévio, o corpo dele começou a balançar-se com a gravidade. Ele logo impulsionou-se usando o pilar e voou novamente.

A silhueta vermelha formou um forte contraste com o céu brilhante, parecendo quase como um belo trabalho de arte.

Claire então firmou seus pés na lateral do trem, um pouco mais atrás de onde havia começado. Parecia como se não tivesse nem mesmo suado, o que realmente aconteceu. De sua perspectiva, ele não havia feito mais nada além de completado o que acreditava que conseguia fazer. Ele não sentiu um pingo de medo com o pensamente de falhar e morrer.

Ele não iria tão longe se fosse apenas por Czes, mas o pistoleiro estranho e a mulher eram passageiros. Havia a chance de que eles eram companheiros dele, mas Claire pensaria nisso mais tarde. Ele meramente havia pulado ao ar para garantir a segurança dos passageiros.

Com a corda em mãos, correu pela parede novamente, dirigindo-se até a porta lateral do vagão de carga.

Por alguma razão, ela estava aberta. Uma gigante silhueta marrom estava de pé na frente dela.

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Donny estava entediado.

Eles haviam passado do rio, e ele havia jogado para fora toda a carga que procuravam. Ele deixou uma pequena quantia de granadas, assim como Jacuzzi instruiu, mas Nice apenas veio para pegá-las e saiu. Ela e Nick foram achar Jacuzzi, então Donny foi deixado sozinho.

Ele estava olhando através da porta aberta, perdido em tédio.

“Ei, grandão! Me dá uma ajudinha aqui?”

Alguém falou com ele do nada. A voz estava vindo do lado de fora do trem.

Uma silhueta vermelha estava pendurada ao lado do trem, logo ao lado da porta.

“Uou. E-Espreitador de Trilhos?”

Claire não esperava que o gigante conheceria o nome, mas rapidamente deixou sua surpresa de lado e retornou ao que importava.

Ele estava pensando que demoraria um tempo para trazer o trio de volta por conta própria, e foi aí que viu o gigante. Ele logo agarrou a onda de sorte e falou com o homem.

“Não importa, eu só quero que você puxe essa corda o mais forte que conseguir! Confio em você!”

Donny estava muito confuso, mas subitamente percebeu que conseguia ouvir gritos vindos mais de trás, do outro lado da corda.

Quando olhou para o lado de fora, conseguiu ver alguém sendo arrastado pelos trilhos.

“Uou. Muito mau.”

Ele segurou a corda sem pensar. Um poderoso impacto atingiu seu corpo e o gigante foi puxado na direção da porta. Donny conseguiu segurar-se, quando percebeu a identidade das pessoas na outra ponta da corda.

A fantasia de pistoleiro e o vestido vermelho obviamente pertenciam a Isaac e Miria.

“Uou. Muito mau. Esperem! AARGH!”

Donny puxou a corda com toda sua força. Como resultado…

“AAAAAAAHHHHHHHHHHHH!”

Isaac e os outros ascenderam ao ar, passaram pelo teto, e caíram do outro lado do vagão.

Eles não faziam ideia de que o puxão na corda iria garantir a vitória de Jacuzzi durante sua luta.

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“Olha, nós passamos do rio. Espero que tenhamos despistado aqueles ladrões…”

“Certo, vamos diminuir a velocidade! Não podemos sobrecarregar o trem, afinal!”

Os engenheiros elevaram suas vozes, e o trem começou a ficar mais lento.

Com isso, certos pedaços de carne começaram a alcançar o veículo – Os pedaços vermelhos de carne que constituíam o braço direito e as pernas de Czes.

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Isaac e Miria quase não conseguiram escalar até o teto do vagão de carga, colapsando sobre suas costas.

“Graças a Deus, estamos vivos!”

“Conseguimos!”

Eles estavam com vontade de ficarem deitados ali para sempre, mas ambos não podiam permitir-se fazer isso. Deitado entre ambos havia um garoto sem seus membros, obviamente sentindo muita dor.

“Você ainda está conosco, Czes?”

“Por favor, acorde!”

A dupla começou a violentamente chacoalhar a criança ferida. Graças à perda de sangue, Czes poderia sentir a tremedeira lentamente drenando sua habilidade de permanecer consciente. Isaac e Miria tentaram RCP e massagens cardíacas, mas não conseguiram ajudá-lo.

Então, eles ouviram uma explosão em um vagão mais atrás.

“O que foi isso? Um inimigo?!”

“Olhe, Isaac! Há alguém ali!”

Um par de silhuetas no teto do último vagão fundiram-se em uma só. Uma delas logo caiu do teto, e uma diferente explosão soou. Um grande inferno emergiu atrás do trem.

Normalmente Isaac e Miria teriam perdido a cabeça nesse ponto, mas agora não havia tempo. Eles estavam preocupados com a condição de Czes, mas logo perceberam uma massa de carne avermelhada aproximando-se deles através do teto.

“Aaaah! Algo está vindo para cá! É todo vermelho!”

“D-deve ser o Espreitador de Trilhos! Essa deve ser sua forma real!”

Mesmo enquanto entravam em pânico, os pedaços de carne rastejavam pelo teto, atravessaram a região de engate, e lenta porém certamente aproximou-se deles. As massas, parecendo mais como gelatina vermelha, marcharam como uma horda de insetos.

“Olhe, Miria! Elas estão vindo atrás do Czes!”

Eles tentaram carregar o garoto e correr, mas os pedaços de carne estavam sendo atraídos de volta a sua fonte.

“Isso é terrível! Está voltando para terminar com o pobre Czes!”

“Não se eu puder ajudar!”

Isaac jogou-se sobre Czes com o objetivo de defendê-lo da massa de carne. Miria juntou-se para fortificar as defesas.

A massa não parou em momento algum, passando entre eles. Isaac, Miria, e Czes, cobertos pela massa de carne, causaram uma visão bizarra sob o sol nascente.

Após um longo período de silêncio, o som de uma explosão aterrorizante trouxe-os de volta à realidade. Ironicamente, isso foi causado pelos explosivos de Czes.

“Huh…? A coisa vermelha foi embora.”

“Desapareceu… E o Czes?”

Isaac e Miria hesitantemente olharam na direção do rapaz. Ele ainda estava ali.

Completo, com todos os seus membros intactos.

Czes ainda estava quase sem consciência. Seu coração estava sentindo um tipo de emoção que ele achou que havia perdido há muito tempo.

Ele sabia agora que Isaac e Miria não sabiam nada sobre a imortalidade. Vendo como ambos estavam sem ferimentos após acertarem o chão, Czes supôs que Miria também era imortal. Eles devem ter obtido-a por coincidência.

Agora, eles estavam completamente indefesos. Seria simples colocar sua mão direita em suas cabeças. Mas ele não conseguia fazer isso. Isaac e Miria tinham lágrimas em seus olhos, e estavam verdadeiramente felizes por ele. Czes podia apenas hesitar com a ideia de devorá-los.

Ele não estava tentando ser uma pessoa melhor. Ele meramente pensou que, se devorasse-os, olhasse seus pensamentos e compartilhasse-os com seu coração, iria ser incapaz de perdoar a si mesmo. Ele teria que passar a eternidade com esse peso doloroso sobre seus ombros.

Czes imaginou que esse peso seria mais agonizante que qualquer dor que o monstro vermelho pudesse infligir em si.

Isaac e Miria expressam sua alegria pela segurança de Czes com lágrimas.

“Graças a Deus! Que alívio!”

“Estou tão feliz! Mas como seu braço e suas pernas voltaram?”

“É simples, Miria.”

“Sério, Isaac?”

Isaac, tendo voltado para seu eu usual, contou à Miria sua própria conclusão.

“Veja, o Espreitador de Trilhos apenas devora crianças más. Tenho certeza de que após ter comido Czes, percebeu que ele era um bom garoto, e devolveu tudo!”

“Entendi! Isso faz sentido!”

“Não.”

Quem retrucou o argumento do casal não foi ninguém além de Czes. Mas ele não iria falar de como foi restaurado.

“Eu não sou um bom garoto… Eu menti para todos.”

“O que você quer dizer?”

“Eu disse que fui ver minha família em Nova York, mas a verdade é… Eu só estou indo para ver alguém que conheço.”

Czes pausou, então iniciou novamente.

“Eu nunca tive uma família, e…”

Ele iria terminar com “E nunca terei.”, mas a dupla subitamente interrompeu-o.

“Entendi!”

“Você é um bom garoto, afinal, Czes!”

“O quê…?”

Isaac e Miria continuaram, ignorando a confusão de Czes.

“Você mentiu para nós para que não nos preocupássemos com você… Mas todo esse tempo era você quem estava sofrendo mais!”

“Você é um garoto tão fofo e forte, Czes!”

Isaac não deu nem tempo para o menino responder. Ele bateu no próprio peito.

“Certo! Apenas deixe tudo com seu Tio Isaac!”

“Não é maravilhoso, Czes? Isaac vai deixar tudo melhor!” Miria assentiu energeticamente, acariciando o rosto de Czes. “Agora você pode sorrir!”

<==>

Claire estava silenciosamente de pé no teto do trem. Ele olhava na direção do rapaz e da mulher diante de si, com o sol da manhã atrás de suas costas.

O jovem com o rosto tatuado estava segurando o que deveriam ser os explosivos que Czes havia mencionado.

Claire percebeu que o gigante no vagão de carga deveria estar jogando a carga escondida no rio. Ele considerou capturá-los, quando lembrou do que Czes disse mais cedo.

“Eu atualmente estou em negociações com a Família Runorata…”

Em outras palavras, os conteúdos da carga eram posse dos Runorata. Seria vantajoso para os Gandor se ela estivesse fora de jogo.

Com isso, Claire decidiu fingir que não via Donny e sua gangue. Claro, parte da razão era porque ele não permitira que o trem carregasse algo tão perigoso.

E agora, o líder da gangue dos assaltantes estava em pé diante de seus olhos. O jovem tatuado avançava em sua direção, com os olhos cheios de pura determinação.

Claire sabia exatamente o que seu oponente planejava fazer.

Ele queria exterminar o monstro, o Espreitador de Trilhos, e salvar o trem. Era fácil de entender.

O rapaz encarou os olhos de Claire. Não havia um pingo de medo em seus olhos, apesar dele estar encarando um monstro.

Ah. Esses olhos… Eles são gentis, mas são os olhos de um guerreiro. Ele tem a tatuagem de um demônio, mas seus olhos são mais gentis e fortes do que o de qualquer pessoa nesse maldito trem.

Claire encontrou-se capturado por uma súbita admiração pelos olhos do jovem. Se os seus próprios olhos eram como espelhos, aprisionando a luz dentro deles, os olhos daquele rapaz eram como o calmo e silencioso mar.

Repentinamente, o sol da manhã começou a elevar-se atrás de Claire. A sua luz brilhou nos olhos do jovem, e Claire sentiu como se estivesse sendo atraído até eles.

Odeio dizer isso, mas os olhos desse cara são mais poderosos que os meus. Como um tipo de herói em um conto de fadas. Como um cavaleiro que matou um dragão. Parece como se meus olhos vão estilhaçar se eu não desviar o olhar.

Com isso, Claire decidiu permitir-se cair no ataque do seu oponente. Ele era o Espreitador de Trilhos, que desaparecia no nascer do sol. Essa era parte de seu dever como o contador de histórias que atraiu os outros nesse conto.

O rapaz pulou em sua direção, e ambos rolaram para fora do trem.

Enquanto caíam, o jovem tatuado puxou o pino das granadas que estava segurando. Claire então falou com ele pela primeira vez.

“Um suicídio duplo? Acho que não concordo com isso.”

“Huh?!”

Claire parou ao lado do trem, segurando o homem surpreso. Ele nem mesmo lembrava de quantas vezes havia pendurado-se entre as rodas desse trem nessa noite, mas estava começando a ficar enjoado disso. Ele deveria inventar algo novo logo.

“Largue essas coisas, você vai machucar a senhorita lá em cima.” Ele disse para o rapaz.

O jovem estremeceu e logo jogou as granadas nos trilhos. A granada de cerâmica resistente a choques rolou pelo cascalho.

Houve uma explosão, seguida de uma onda de choque.

Claire, ainda segurando o rapaz, não teve problemas em suportar o impacto. Assim que as coisas acalmaram-se, ele escalou a lateral do trem, ainda segurando o homem, e entrou na cabine do condutor pela porta lateral.

Ele saiu do compartimento ensanguentado e colocou o jovem tatuado no corredor. Claire então continuou de onde parou.

“Apenas um idiota tenta morrer com seu inimigo antes mesmo de tentar lutar. Sabe, quando você tentou o seu melhor e parece como se nada mais vá funcionar.”

Claire reclamou, e checou para ver se o rapaz estava ferido. Ele havia levado um tiro na perna, mas parecia que ainda conseguia ficar de pé, provavelmente não foi nada crítico. Com esse julgamento irresponsável, Claire deu-lhe um conselho.

“Há um homem de cinza vestido como um mágico na cabine 3 na Segunda Classe. Ele é um médico, então peça para ele dar uma olhada em você.”

“M-mas…”

“Pode parar de se preocupar. O homem de branco doentio e a mulher de preto assustadora ambos já se foram. Você acabou de terminar com o último deles, então relaxe.”

Claire estava mexendo no objeto em sua mão direita. Era uma das granadas feitas com o novo explosivo. Ele havia rapidamente pego uma das granadas que o rapaz havia jogado; Uma que ainda tinha o pino acoplado.

“Vá, agora. Não esqueça da dama acima.”

O tatuagem do jovem contorceu-se em confusão, mas ele curvou sua cabeça e dirigiu-se até a região de engate. Parecia que iria escalar de volta ao teto.

Assim que o rapaz saiu, Claire disse uma coisa.

“Você não deveria fazer uma mulher esperar. Não há nada mais difícil do que tentar achar alguém que fugiu para outro lugar.”

Metade dessas palavras eram dirigidas a si mesmo.

Claire viu o jovem sair, então girou a tampa da granada e tirou o fusível.

“Julgando pela explosão de agora, eu acho que isso vai ser o suficiente.”

Ele reuniu um pouco do explosivo sobre o corpo sem face. Não havia necessidade de explodi-lo em pedaços, tudo que ele tinha que fazer era certificar de que o corpo seria confundido com Claire Stanfield. Agora tudo que poderia fazer era esperar que o time de investigação fosse ingênuo o suficiente.

Claire Stanfield teria morrido hoje. Isso facilitaria seu trabalho, também. Com planos em mente, Claire pegou a arma do velho condutor.

“Aliás, eu não estou sujando o trem agora. Apenas chame de… Uma cerimônia de despedida, ou algo assim.”

Ele desculpou-se para alguém que não estava ali, então disparou na direção dos explosivos espalhados pelo chão.

<==>

“Czes!”

Quando Isaac, Miria e Czes retornaram ao vagão de jantar, eles encontraram as Beriam esperando por eles.

“Você está bem! Obrigado por tomarem conta dele, senhor Isaac e senhorita Miria.”

“Estou tão feliz que esteja bem, Czes!”

Enquanto Mary inocentemente abraçava-o, ele encontrou-se perdido.

Por que crianças abriam seus corações tão facilmente aos outros? Claro, isso não aplicava-se para todas as crianças, mas a diferença era muito grande.

Entendo… Talvez Isaac e Miria sejam como crianças, também.

Olhando para o sorriso de Mary, Czes soltou um sorriso de alívio sem pensar.

Estou tão feliz por não ter matado essas pessoas. Estou tão feliz por não ter traído Mary.

Nesse momento, Czes não tinha como saber o porquê dele estar tão feliz por essas coisas.

Sua expressão não havia retornado à sua face, mas ele conseguiu dizer: “Desculpe-me.”

<==>

Havia uma criatura solitária e inumana conhecida como Espreitador de Trilhos, de pé no teto deserto.

Ele havia retornado até lá após mutilar os dois corpos usando uniformes de condutores com uma explosão.

A mensagem foi deixada nas proximidades de onde Chane estava agachada.

Havia sido escrita diretamente no teto do vagão com uma faca.

[Eu estarei esperando por você em Manhattan. Esperarei por você para sempre. Por favor, venha me achar. Eu também irei tentar achar você.]

O monstro vermelho suspirou.

“Manhattan, huh? Esse é um lugar muito grande. Ainda mais considerando meu cronograma… E eu nem mesmo disse meu nome para ela, muito menos perguntei o dela… Eu acho que o homem de branco chamou-a de Chane, mas eu imagino se esse é realmente o seu nome verdadeiro. Droga, isso vai dar muito trabalho.”

Claire riu embaraçosamente, olhando para a fumaça ascendendo da cabine do condutor.

“E como eu deveria saber se ela quer me contratar, casar comigo, ou me matar?”

Ele encarou a mensagem, então deu de ombros.

Deixando isso de lado, estou muito surpreso com a educação dessa carta. Talvez ela seja uma pessoa bem calma. Ou talvez ela apaixonou-se por mim também? Cara, isso é um problema. Isso significa que essa é minha primeira carta de amor? Se é, eu talvez deva tirá-la do teto e guardar comigo.

Com grandes expectativas sobre uma mulher que havia acabado de conhecer, Claire desceu até a região de engate.

“Eu tenho que tomar conta dos meus negócios com os Gandor primeiro, mas eu te acharei.”

Agora, ele não estava falando consigo mesmo; Suas palavras eram direcionadas à Chane, em algum lugar distante.

“Eu prometo.”

O monstro desapareceu.

Não havia mais Espreitador de Trilhos.

No fim, todos acreditaram em sua existência, e como as lendas diziam, ele desapareceu no nascer do sol.

Sem ninguém para ver, era como se ele tivesse dissolvido na luz do sol da manhã.

Fim do Episódio Expresso.

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