Baccano! - Prólogo - Vol 04 - Anime Center BR

Baccano! – Prólogo – Vol 04

Prólogo

Tradutor: PH

Begg

Começo de Dezembro, 1931

Algum lugar em Nova York

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No quarto escuro, dois homens estavam presentes.

Seus batimentos cardíacos quase foram suprimidos pelo silêncio, dando uma sensação de fraqueza extrema.

“Por favor, entenda, Begg. Hoje será a última vez que estarei encontrando você como um ‘negociante’.”

Sem qualquer aviso, o homem alto subitamente quebrou o silêncio. Assim que as palavras foram ditas, os arredores de ambos recobraram seus sons, atividades e cores usuais. Como se estivesse verificando a passagem do tempo, o homem alto – Maiza Avaro – respirou profundamente.

“Begg, diga algo. Até você responder, eu não vou sair. Eu preciso de sua resposta para determinar o grau em que será ferido.”

Encarando Maiza, que parecia preocupado, o homem chamado Begg finalmente abriu sua boca. Com suas cordas vibrando de forma baixa, ele gaguejou para Maiza.

“Eu, eu, eu entendo. Fa-fa-farei, como, quer.”

Vazio e ansiedade estavam ambos refletidos nos olhos de Begg, e ele só tinha Maiza em sua mente.

“A, a, a partir de agora, eu não vou, n-nunca mais, dis-dis-distribuir, dr-dr-drogas, no, te-te-território, da Família, Marti- ti-tillo.”

Quando terminou, uma expressão de alívio surgiu no rosto de Maiza, e ele caminhou na direção de seu velho amigo.

“Obrigado, Begg! Se é assim, você não é mais nosso inimigo.”

Na expressão de Maiza, havia um pouco de tristeza misturada com sua alegria. Após alguns momentos em silêncio, ele novamente falou com o homem diante de si. Mas seu tom não tinha mais a frieza da civilidade, substituída pela preocupação carinhosa por um velho amigo.

“Daqui em diante eu falo não como um executivo da Família Martillo, mas apenas como seu amigo; Begg, se possível, não distribua drogas no mercado e–”

“N-n-não posso. É co-como, sobre-bre-brevivo.”

“Begg!”

“C-c-como um, farmacêutico, tive, que, enfrentar… Todas, as fronteiras, para, tornar-me, um alqumista. Meus sonhos, meus desejos, minhas missões, tu-tudo, iria ser, um sucesso. Usando, dois, séculos, finalmente, finalmente, finalmente, eu consegui. Humanos, tornar os humanos, mais afortunados, o método, para fazer isso.”

Ouvindo isso, Maiza sacudiu levemente sua cabeça.

“Como você ainda pode dizer isso? Esse tipo de coisa não existe.”

“Existe. Eu, eu, só, queria, fazer os humanos, virarem os regentes, do mundo, isso, é tudo. Queria criar, um mundo, com apenas, uma pessoa, isso é tudo. Para essa pessoa, a criação, é a maior, ordem do, mundo. Se essa situação fosse, continuar, para sempre, pessoas, humanos, pessoas, vão rir, mesmo quando morrerem.”

“Nesse casso, isso não é aniquilar a raça humana? Até eles morrerem, enquanto humanos medicam eles mesmo paralisados por suas próprias fantasias, nenhum descendente seria feito e eles não iriam mais comer.”

“Claro, mas, isso é só, o primeiro, estágio. Eu, eu, eu vou também, criar uma droga, para deixar as pessoas, acordarem, qualquer hora, e em seguida, continuar seus sonhos. A droga, não vai machucar, o corpo, só vai, fazer pessoas, sentirem-se, felizes.”

Ouvindo a narração infantil de Begg sobre seu sonho, Maiza foi forçado a soltar um suspiro.

“Sua alma já esgotou-se. Por que você ainda não entende?”

“Ha, ha, ha. Você também. Os homens, tem mesmo, que acreditar, em almas e outras, coisas, não científicas?”

“De qualquer forma, agora não é a gora de discutir sobre a natureza científica das coisas. Não é óbvio? Nós, que fizemos um contrato com o demônio e nos tornamos imortais.”

‘Imortal’. A palavra muito utilizada era uma amarra que para sempre unia essas duas pessoas. O poder da imortalidade adquirido com o contrato com o demônio – E a maldição de ‘devorar e ser devorado’.

Eles eram capazes de usar sua mão direita para devorar o outro.

Ao completamente consumir o conhecimento, passado, experiências e tudo mais do outro, eles todos tornavam-se um só. Essa era uma maldição de infortúnio, assim como um cálice de veneno.

Tendo ouvido o discurso de Maiza, Begg caiu em um silêncio contemplativo.

“Humanos, procurando, felicidade, é um instinto, não é? Eu, só, queria, elevar isso, a um outro, nível.”

“Qualquer felicidade que ultrapassa o instinto humano sempre irá ser arruinada. Por favor, não esqueça desse fato.”

Com isso, Maiza virou-se e saiu do quarto.

“Obrigado, obrigado, obrigado, Maiza. Obrigado, por não, me devorar.”

“… Se você dizer isso na próxima vez, eu vou ficar desapontado.”

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Após Maiza sair do quarto, Begg afundou a agulha da seringa em seu próprio pulso.

Apesar de que essa era um droga muito mais pura que o que havia no mercado, já não tinha mais efeito nele.

Para ele que vivia uma vida eterna, seu coração já havia ganhado uma resistência que superava muito os efeitos da droga.

Ele não conseguia mais experienciar a felicidade que desejava.

Ele estava passando a tarefa que nunca conseguiu realizar para os outros.

Mas até mesmo fazer isso não fazia sentido.

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A Família Gandor

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“Honestamente, como o mundo ficou tão tumultuoso?”

Em contraste com as palavras do homem, Nova York estava preenchida com uma atmosfera pacífica e agradável.

O sol presente no céu brilhava calorosamente no beco cercado de tijolos vermelhos.

O canto de Manhattan, longe dos arranha-céus. Dentro de uma velha livraria cercada por escritórios em ruína, um jovem mais uma vez encaminhava-se na direção do lojista.

“Você não acha? Não apenas essa recessão não vai melhorar, como, além de tudo, nós temos que lidar com decretos que parecem mudar algo, mas no fim não mudam nada. Olhe ao nosso redor, o único resultado disso é a condição econômica e a segurança decaindo a cada dia. Sob esse tipo de circunstâncias, você ainda pode operar aqui sem preocupações?”

“Ah, graças a você, minha pequena loja ainda consegue resistir.”

Enquanto o lojista falava, ele curvou sua cabeça para o jovem, que tinha por volta a mesma idade que o seu filho. Apesar de seus movimentos e tom de voz serem muito humildes, havia uma pequena dica de algo a mais em seus olhos.

“É mesmo? Mas muito poucos clientes vem aqui… Se há algo em que eu possa ajudar, por favor, sinta-se livre para me dizer.”

“Eu não posso fazer isso! Aliás, nós não pagamos a taxa de proteção, então se nós incomodarmos vocês mais…”

“Mesmo se nós não recebermos a taxa de proteção dessa loja, você não vai fechar. Caso aconteça, nós juntaríamos algum dinheiro para suas despesas. Afinal, vocês sempre estiveram sob nosso cuidado!”

“Por favor, não diga isso! É só por causa da Família Gandor que nosso negócio funcionou, então você não tem que se preocupar conosco.”

Esse rapaz esperava esse tipo de resposta. Assim que algo assim foi dito, ninguém sonharia em dizer ‘por favor, nos dê dinheiro’ logo de cara.

A Família Gandor. Nesse cidade afligida pelo caos que era Manhattan, ela era uma organização pequena ocupando uma área ínfima. Apesar de que seu território não era grande, não era exagerado dizer que ela tinha uma influência muito grande.

No começo, o território que tinham não era nem metade do que têm hoje, mas desde que o fundador passou seu cargo para seus três filhos, eles rapidamente expandiram-no. Usando métodos de tentativa e erro para ameaçar e caluniar os residentes, enquanto mantinham paz e evitavam contato desnecessário com outras organizações enquanto fosse possível. Eles absolutamente recusaram-se a aceitar acordos de paz, proteção e limitações de outras organizações, e persistiram em seguir seu próprio caminho.

Claro, no fim, eles cometeram inúmeras e inimagináveis atrocidades, assim como outras organizações que operavam de maneira parecida.

Então, para esse homem, um dos líderes desse grupo, dizer algo como ‘o mundo ficou tumultuoso’ era uma piada. Enquanto o lojista pensava nisso, ele sorriu ao encarar o mais jovem dos três irmãos- Luck Gandor.

À primeira vista, esse rosto sorridente era amigável, mas isso era só na superfície. O leve sorriso refletidos em seus olhos criava um indescritível sentimento de medo no coração do lojista.

Como se estivesse tentando livrar-se das amarras do medo, o senhor rapidamente disse:

“Ha, haha, aah, é assim que as coisas são. Eu acho que a Família Gandor deve estar indo muito bem!”

“Não, não, nem um pouco, nós temos muitos problemas.”

Ouvindo as palavras do lojista, esse jovem líder chacoalhou a cabeça enquanto tentava informar o outro de suas preocupações. Se pequenas mudanças nos pequenos detalhes poderiam ou não ganhar o coração dos residentes era algo crítico.

Claro, eles não revelariam sua verdadeira fraqueza. Nesses tipos de situação, muito daqueles que controlam pessoas comuns por trás das cenas iriam agir como se sua fraqueza fosse que eles eram ‘indefesos diante dos residentes’. De forma que, o que lhes davam dores de cabeça eram aqueles operando negócios legítimos que fingiam-se de burros.

“Quero dizer, até mesmo para nós, há vezes que não podemos mostrar a cara pro medo ou vergonha. Por exemplo, com esse incidente das drogas.”

“Drogas… Isso é só porque alguns jovens estão contrabandeando elas!”

“Mas ainda está por aí.”

A Família Gandor nunca lidou com drogas. Isso também era a razão do porquê a maioria das pessoas confiava neles, mas essa não era a verdade completa. Era só porque eles não tinham poder o suficiente para envolverem-se em negociações de drogas, então não haviam garantias de que eles não iriam entrar no mercado de drogas assim que tiverem poder o suficiente. Apesar de que Luck sempre pensou dessa maneira, no fim, falta de poder era falta de poder. Luck pessoalmente sentia que evitar o desconhecido para prevenir uma perda de confiança era melhor. Ainda mais, mais uma vez ocorreu uma ‘explosão’ na era das drogas, e a Família Gandor não queria envolver os residentes nisso. Mas isso era apenas uma medida temporária.

O irmão Berga parecia nem mesmo ter considerado o potencial de ganho com drogas, enquanto o irmão Keith odiava elas por completo.

No momento, ambos os rostos do segundo em comando, Berga, e do chefe, Keith, surgiram na mente de Luck.

Se alguém tivesse que dividir claramente a função de cada um dos três irmãos, então Keith seria o ‘escudo’ e Berga o ‘terror’, enquanto Luck era a ‘estratégia’. Para aqueles ao seu redor… Especialmente aqueles em profissões legais, era assim que as coisas pareciam ser.

O mais velho, Keith, ao invés de apenas um senso de justiça, seria mais preciso dizer que ele possuía um orgulho por proteger esses residentes. Então, por essa razão, Keith nunca iria cruzar a linha da vida e da morte de pessoas inocentes. Também era uma prova clara de que a probabilidade da Família Gandor lidar com drogas era infinitamente menor.

Porém, sinais de distúrbios estavam aparecendo em áreas sob sua jurisdição, explorando o vácuo em sua administração.

Recentemente, uma nova droga havia começado a circular na área. Apesar de que até agora não havia causado nenhum grande distúrbio, notícias sobre a droga vazaram. Imediatamente no dia seguinte, o quartel-general dos Gandor recebeu a própria droga.

Com a situação revelada, eles não poderiam mais ignorar o assunto.

Não importava o que tivessem que fazer, eles precisavam achar a fonte da droga e trazer um fim a esse incidente.

Os olhos de raposa de Luck estreitaram-se mais, e a escuridão em seu coração começou a revelar-se.

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“Oh? Esse não é o roteiro de uma ópera? Isso é raro.”

Luck segurava um livro desgastado. Por um instante, a expressão do lojista mudou, mas ele imediatamente sorriu de novo.

“Aah, se você gosta disso, então eu posso dar para você!”

“Não posso aceitar isso.”

Afastando os pensamentos da droga de sua mente, Luck tirou uma carteira grossa do bolso em seu peito. Logo quando iria tirar algumas nota da carteira, sua mão parou subitamente.

“Ah.”

Tão repentino quanto, um estranho grunhido soou atrás de Luck.

“?”

Quando ele virou-se para ver o que estava acontecendo, um fria faca cortou sua garganta.

“Nnn…”

No momento que Luck sentiu a calor ardente e a agonia do metal ferindo carne, sangue já estava por todos os lados. Sua visão foi coberta pelo mesmo tom de escarlate.

“Ah?!”

Don. Quando ele viu Luck largado no chão, o lojista finalmente entendeu o que estava acontecendo diante de seus olhos.

Além de onde o sangue estava esguichando no ar, um único homem estava de pé, quase na rua iluminada pelo sol. Era um homem de meia idade vestindo roupas esfarrapadas, cujo corpo estremecia esporadicamente e cuja aparência não parecia muito saudável. Em suas mãos havia uma faca, e seus olhos estava arregalados.

“A-a-assassinoooooo!”

O lojista, chocado pelo súbito assassinato, colapsou no chão e não moveu-se.

“Eu fui visto ma-ma-matando devo ma-ma-ma-ma-matar a testemunha eu fui visto fui visto fui visto ma-ma-matando Luck na livraria matar matar matar matar matar matar…”

O homem de meia idade que havia perdido completamente o seu senso arrastava suas palavras, e sua sanidade parecia ainda mais embaralhada.

“Uoooooooooh!”

A grande faca foi elevada sobre a cabeça do lojista. E na sua lâmina… Não havia nenhum sangue da garganta cortada de Luck.

Gichiiiiiiiiii gichi gichiiiiiiiii…

A faca brilhante nas mãos do homem desceu em um arco, fazendo um estranho barulho, quase instrumental.

Com um sha, a faca parou logo diante dos olhos do lojista.

“…”

A vítima nervosamente abriu seus olhos, e viu o homem diante de si ser atingido em sua têmpora por um livro. E aquele segurando o livro de capa dura era o homem cuja garganta já deveria estar cortada.

“Você está bem?”

No instante que terminou sua pergunta, o homem de meia idade segurando a faca encolhia-se na porta da livraria.

Não havia traço algum de ferimentos na garganta de Luck, e o sangue que deveria estar espalhado pelo local havia sumido.

“H-huh? Senhor Luck, agora mesmo, o quê? Aconteceu?”

Luck ignorou o lojista confuso e pegou uma revista vermelho, como se nada tivesse acontecido. Então, ele rasgou a capa da revista enquanto sorria friamente para o homem diante de si, dizendo:

“Nossa Senhora, isso foi perigoso! Se não fosse pelo resgate preciso desse livro, eu provavelmente teria morrido.”

“uh, mas, isso, não, sangue…”

“Foi a capa desse livro voando para todo lado. Você viu errado porque foi muito súbito.”

“Mas…”

Diante das perguntas sem fim do lojista, Luck jogou os pedaços da capa rasgada ao ar.

“Ah, eu devo pagá-lo por esse livro.”

Ele nem terminou de falar e um grosso maço de dinheiro já foi colocado nas mãos do lojista. Esqueça a parte de pagar pelo livro, esse valor era quase igual ao lucro mensal da livraria.

“N-não! Eu não posso ficar com esse dinheiro…”

Luck ignorou a recusa do lojista e colocou outro maço de dinheiro em sua mão, repetindo em um tom de voz ameaçador:

“O que esse desgraçado acabou de cortar foi esse livro. Você entendeu?”

Com essas palavras, o lojista não tentou mais retrucar e apenas assentiu em silêncio.

“Muito bem. Apenas aqueles que entendem o momento conseguem se destacar. Os espertos por si só vão ter sucesso em seus negócios. Continue com o bom trabalho!”

Dito isso, Luck virou-se e colocou o homem de meia idade com a têmpora danificada em seu ombro. Essa cena parecia extremamente desbalanceada, como uma formiga carregando o corpo de um besouro. Finalmente, ele acenou para o lojista, dizendo:

“Honestamente, como o mundo ficou tão tumultuoso. Certo?”

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Os Ricos

Outubro de 1930

Algum lugar no oeste de Nova Jersey

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No começo, haviam dois ladrões estranhos.

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Naquele dia, Eve Genoard estava muito ansiosa.

Era a filha de um milionário local e nascida em meio à riqueza, ela era uma jovem garota de apenas 15 anos de idade. Isso era tudo sobre ela, não haviam mais características especiais.

Alguns dias atrás, seu avô, o chefe da casa, havia morrido, causando um caos na família Genoard. A súbita morte de seu avô entristeceu Eve imensamente, mas sua ansiedade era por uma razão diferente. Era por conta de seu irmão que havia voltado de Nova York, Dallas Genoard.

Esse irmão tratava Eve muito gentilmente, mas ela não tinha pensamentos bons sobre ele, porque quando estava perto de outros além de Eve, Dallas agia como um completo delinquente.

Quando ele acabou de voltar para a casa, havia uma completa falta de sofrimento pela morte de seu avô. Por alguma razão, Eve não sabia exatamente o porquê, mas havia a sensação de que ele estava planejando algo sinistro em seu coração.

Como se ele quisesse matar alguém após isso—-

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Nos primeiros dias da explosão econômica da América, indústrias expandiram como fogo pelo estado. Foi durante esse período que seu avô adquiriu uma grande quantidade de dinheiro. Exatamente que tipo de indústria iria prosperar nessa pequena cidade rural longe da capital do estado, Nova York? Eve apenas ouvi sobre ‘operação da fábrica’ e não estava interessada em outras áreas. Essa era a grande fábrica nas profundezas da floresta, mas como seu avô e pai nunca deixaram Eve chegar perto, ela nunca visitou o lugar. Então que tipo de negócios sua família tinha? Que tipos de produtos eram produzidos? Ela não sabia de nada.

Mas ela entendia o porquê das pessoas descreverem sua família como ‘rica’. E, ela também entendia que o dinheiro poderia corromper o coração das pessoas.

Em suas frequentes aparições em diversos eventos sociais, ela teve contato com todo tipo de pessoas lá fora; Aqueles que fariam de tudo para conseguir dinheiro, aqueles que tinham uma luxúria inigualável, aqueles que eram manipulados por outros, e até mesmo aqueles que tratavam dinheiro como terra. Haviam aqueles com incontáveis ‘faces’, e também aqueles que enlouqueceram.

Tais experiências levaram-na a perceber duas coisas:

Primeiro, a quantia da herança de seu avô era o suficiente para valer a própria vida.

Segundo, seu irmão mais velho, Dallas, definitivamente iria juntar-se à disputa pela herança.

Mas mesmo sob essas circunstâncias, ela não tinha poder algum. Se isso continuasse, o que ela buscava proteger iria um dia colapsar ao seu redor.

Com medo da tragédia inevitável, raiva de sua eu fraca e indefesa. Para Eve, que estava em conflito com a angústia em seu coração, a pressão desses dois sentimentos era quase sufocante.

Sempre que estivesse estressada com esses assuntos, iria automaticamente orar para Deus.

Por favor, que haja um milagre.

Ela só queria ser liberta de suas preocupações, isso é tudo.

Com esse único pedido em sua vida, ela escondeu-se sob suas cobertas, orando para Deus.

Então, um milagre aconteceu.

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Mais tarde naquela noite, a mansão inteira foi inundada por escuridão e silêncio. Subitamente, duas pessoas entraram em seu quarto.

Eve nem mesmo teve tempo para gritar; Com olhos arregaladas, ela encarou a dupla.

Após a porta ter sido lentamente aberta, um homem e uma mulher vestidos como índios nativos apareceram.

Uma pele de animal estava enrolada através do torso do homem, e na metade inferior de seu corpo ele vestia uma grossa calça de pano de saco. A mulher também estava vestida como um índio. Haviam até mesmo miçangas em suas vestes, formando imagens coloridas. Em seus rostos haviam pinturas indígenas, e em suas cabeças acessórios com grandes penas. Mas inacreditavelmente, esses dois eram pessoas brancas. Se esse não fosse o caso, Eve já teria gritado há muito tempo.

Encarando Eve, que não entendia o que estava acontecendo, o casal falou como se nada demais estivesse acontecendo:

“Ei! Fique quieta! Nós não somos caras maus.”

“Só por um tempinho, deixe a gente se esconder só por um tempinho.”

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Eles carregaram em suas costas o que pareciam sacos de presente do Papai Noel, e algumas notas estava aparecendo nas aberturas. Julgando pelo formato do saco e maneira como ele reagia aos movimentos, em sua base provavelmente haviam gemas e itens ornamentais; Com apenas um olhar, qualquer um poderia dizer o que eles estavam fazendo.

Ladrões. Apesar de que essa resposta surgiu em mente, Eve não gritou ou entrou em pânico. Ela não sabia o porquê, apesar de que provavelmente era porque esses dois estavam olhando para si de maneira inocente.

“Ah! Não pode ser, uma Genoard!”

“A jovem senhorita que nasceu rica!”

Ouvindo seus sussurros, os sentimentos de ansiedade de Eve instantaneamente acordaram.

Eles querem me fazer de refém? Mas, essa preocupação logo foi desfeita. O que os dois indígenas disseram foi além de suas expectativas, ou para ser mais preciso, o que eles disseram foi o completo oposto do que Eve imaginou.

“Ótimo! Agora podemos relaxar!”

“Ótimo!”

Ela não entendeu. Enquanto os pensamentos de Eve estavam confusos, a dupla disse em um tom animado:

“Nós vamos te livrar de todos os seus problemas!”

“Assim, não haverão mais disputas internas!”

“Paz e harmonia na família é a coisa mais importante!”

“Você ficará feliz!”

Como se fosse deles, esses dois ficaram felizes com a sorte da garota que eles haviam acabado de conhecer. Finalmente, o significado do que disseram foi entendido.

Se não houvesse herança, então não haveriam disputas. Se o dinheiro sumisse, os corações das pessoas não seriam distorcidos. O que o casal estava fazendo, não era realizar os seus desejos?

Que teoria absurda. Se isso fosse ouvido por ninguém além de Eve, ambos já teriam sido atacados. Eve, ao invés disso, queria agradecê-los. Após orar para Deus, seu próprio desejo de vida estava tornando-se verdade.

Ah, esses dois tinham que ser emissários enviados do Paraíso.

A família Genoard nunca acreditou muito em Deus, então a impressão de Deus e anjos de Eve eram muito vagas.

Ela não se importou mais com as duas vestes indígenas, e repentinamente ajoelhou-se diante da dupla.

“Ei, ei, Miria. Por que elas está se ajoelhando na nossa frente?”

“Eu não sei, mas se alguém nos adora, devemos dar algo para ele!”

“Hm… Originalmente eu estava pensando em fazer a dança da cobra, mas demora mais de dez dias e precisa de cinquenta cobras. Também, eu não sou um sacerdote, então se eu realmente fizesse algo assim, iria acabar irritando os espíritos.”

“Então, vamos fazer a dança da borboleta! Aquela que a criança da tribo Hopi nos ensinou!”

“Sim, vamos fazer isso!”

Os dois assentiram levemente a cabeça e começaram a fazer a dança do ritual Hopi. Não havia nenhuma música, apenas duas pessoas dançando, então era bastante cômico. Porém, Eve observou-os seriamente.

“Senhorita! Senhorita Eve!”

A dança dos dois foi interrompida por batidas na porta.

“Ladrões parecem ter invadido! Está tudo bem?”

Oh, rápido, escondam-se–

Assim que Eve estava para dizer para eles esconderem-se, o casal já não estava mais em lugar algum. As grandes janelas francesas estava abertas e a brisa soprava.

Ah, eles devem ter retornado ao paraíso.

Como se tivesse acabado de acordar de um sonho, a garota olhou para fora de janela. Além das árvores, não haviam sinais dos indígenas.

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No dia seguinte, Dallas veio ao quarto de Eve, cansado e transtornado. Apesar de que ele tinha uma expressão irritada, assim que viu sua irmã mais nova, um leve sorriso imediatamente surgiu em sua face. O sorriso sincero no rosto de seu irmão era um que Eve não tinha visto há anos.

“Há quanto tempo. Quer que eu te ensine um pouco de sinuca, Eve?”

Aquela frase afetou-a tanto que quase chorou, e assentiu com um sorriso radiante em sua face.

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Após isso, assim como os dois ladrões disseram, todos os dias foram cheios de felicidade.

Mas, um ano depois… Sua felicidade foi quebrada, simples assim.

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Dezembro de 1931

Mesma residência

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O que quebrou sua vida de felicidade foi súbita solidão.

Seu pai, Raymond, e seu filho mais velho, Jeffrey. Eles haviam tomado conta dos negócios de seu avô e tornaram-se o núcleo da família. Mas desde que saíram para Manhattan há trabalho, nunca voltaram. Não, para ser preciso, eles retornaram, mas assim que ela viu os corpos deformados de ambos, Eve simplesmente não conseguiu acreditar que o que estava diante de seus olhos eram seus parentes.

Eles eram corpos descobertos em um carro que havia caído na Baía de Nova York. A polícia não disse se aquilo havia sido um assassinato ou um acidente, apenas que investigações mais aprofundadas estavam sendo feitas.

E outra notícia era que seu outro irmão, Dallas, havia desaparecido.

Sua mão havia morrido há um tempo, antes de seu avô, então a única pessoa que restava na família Genoard era Eve. Todos os serviçais gradualmente demitiram-se e saíram, e a mansão inteira tornou-se quieta, como uma ruína abandonada.

A administração dos negócios da família Genoard ficou nas mãos de funcionários de alto escalão da fábrica. Eles pagavam os royalties para Eve, mas isso era apenas em nome. Na realidade, os únicos bens restantes da família eram as terras e essa mansão. Ninguém iria herdar esse massivo negócio da família, e agora haviam apenas um velho mordomo e uma empregada negra.

“Oh, meu! Senhorha, cê reamente qué ir?”

A empregada gorda perguntou preocupadamente enquanto olhava para Eve, que estava decidida.

Como uma serviçal, ela, Samantha, havia viajado pelo país inteiro algumas vezes, então ela falava muitos dialetos, tornado comunicação muto difícil.

“Sim, eu me decidi.”

Desde muito pequena, Eve havia crescido sob os cuidados de Samantha, então ela não tinha nenhum sentimento racista.

“Senhorita, apesar de meu corpo velho, meu eu inútil ainda pode te guiar.”

“Senhor Benjamin, está tudo bem?”

“Senhorita, você não precisa ser tão cortês comigo. Tomar conta de você é uma de minhas responsabilidades, e também parte de minha profissão. O único desejo desse conjunto de ossos velhos é ver você crescer saudável.”

O mordomo alemão que servia à família desde a geração passada estava falando reverente e respeitosamente. Ele sempre foi um velho cavalheiro e digno, mas hoje ele demonstrava determinação e resiliência incomuns.

Vendo o mordomo resoluto, Samantha sorriu enquanto batia no próprio peito.

“Senhorrita, non se prercupe. Não improta uqui acontecê, tô sempre do seu lado.”

Acompanhada pelos dois serviçais de longa data, Eve saiu em uma jornada para a cidade que nunca havia visto, Manhattan.

Procurando por seu irmão desaparecido, Dallas Genoard.

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O Viciado em Drogas

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Ah, isso é bom, tão bom, ótimo!

Não haviam outras palavras para descrever esse tipo de sensação.

Ou talvez houvessem, mas eu não queria pensar, nem havia necessidade para isso.

Tudo que eu preciso está aqui. Nas profundezas de meu cérebro há tudo o que desejo.

Diante de meus olhos, tudo está fundido. Ah, o céu e a terra, pessoas e as ruas, dia e noite… Tudo é uma coisa só. Eu realmente cheguei ao paraíso. Meus dedos, pulsos, pés, cintura, cabeça, peitoral, ossos, coração, tudo ao meu redor fundiu em um ponto só, tudo que vejou focou em meu próprio corpo. O meu eu de agora é como a única coisa que existe nesse mundo.

Então, até mesmo meus olhos começaram a fundir. Ah, eu consegui ver todos os cantos do mundo.

Eu poderia sentir o mundo que estava combinado comigo. Esse era um sentimento muito, muito pacífico.

Sem perceber, eu já estava completamente unido com o mundo.

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“……… R-Roy………”

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Rachaduras começaram a aparecer no mundo.

Quem? Quem estava tentando destruir meu trabalho? Pare, pare, é um problema com meus olhos? A visão retornou ao estado original. Ah, meu corpo, meu corpo já começou a distanciar desse mundo. Chegachegachegachegachegachega…

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“Roy…… Roy…”

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Meu corpo inteiro começou a formar-se em meio ao ar, e com isso a queda até o mundo caótico começou. Com o som do vento uivando, o mundo inteiro começou a fragmentar. O céu e a terra, as pessoas e as ruas, o dia e a noite, todos viraram indivíduos únicos. Meus sonhos e a realidade separaram-se, então havia apenas a realidade, caindo na direção do chão.

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“Roy!”

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Então, meu corpo atingiu o chão, estilhaçando.

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Encarando perdidamente a claraboia havia um homem, Roy. Seu corpo convulsionou, então pulou para fora da cama como uma mola, encarando os seus arredores. Em seu campo de vista, ele poderia identificar com dificuldade algumas figuras de homens e mulheres sentados a sua volta, todos olhando em sua direção com a mesma expressão de confusão.

“Roy, recomponha-se!”

Havia uma mulher chamando-o silenciosamente.

Essa mulher parecia ser… Ah, é minha namorada, Edith.

Então, ele logo entendeu. Era ela quem havia o chamado de volta a esse mundo. Roy não olhou para ela e apenas concordou com o que dizia, grunhindo irritado.

“Por que essa atitude? Eu estava preocupada achando que você não voltaria dessa vez–”

O tom repreensivo de Edith ecoou pela cabeça de Roy. Ele perfurou seu cérebro e foi direto por sua espinha, ativando espasmos de tremedeira.

“Você não prometeu parar de usar drogas? Então por que fez isso novamente?”

Como ele havia danificado seu pescoço na ‘jornada’ anterior, ataques esporádicos de uma dor aguda assaltavam a região. A consciência de Roy agora estava acordada, e ele também ‘entendia’ que já havia voltado à realidade.

Urgh—

Ao mesmo tempo, ele liberou o que estava remexendo em seu estômago.

O chão de cimento foi regado com vômito sem cor. Mas Edith apenas franziu as sobrancelhas um pouco e não brigou com ninguém. Isso não era um efeito colateral da droga em si, apenas o medo e raiva pela rude volta à realidade, que havia momentaneamente tomado conta de seu sistema digestivo.

Havia uma razão por que o chão desse quarto era simplesmente só cimento. Esse tipo de vômito e incontinência era um ocorrência diária nesse lugar. Para facilitar a limpeza, nenhuma decoração havia sido colocada. Sendo assim, o propósito desse lugar era um estúdio especialmente preparado para a ingestão de certas drogas.

Após esvaziar seu estômago no espaço ao seu lado, Roy disse com ironia:

“Sei lá, eu nunca soube sobre essa promessa aí, não fale comigo sobre coisas tão reais.”

“Pare com as piadas! Você não disse que queria virar uma pessoa nova?… Então o que aconteceu agora?”

Para poder essa pergunta, Roy pegou uma bolsa de droga em pó.

“Não se preocupe. Recentemente, diversas drogas novas surgiram nessa área. Tão diferentes de maconha e cocaína, as mais novas por aí, então não foram banidas ainda, então tecnicamente não são ilegais. Não deve ter problema, então.”

“Não é assim que funciona! Se você continuar, você vai morrer! Você percebe como você parece agora? Quase como um polvo ou lula que foi atacado! Ao menos abra seus olhos e olhe para as pessoas ao seu redor!”

Não querendo mais levar sermão, Roy elevou seu tom de voz.

“Não importa o que seja, eu não vou insultar meus amigos. Você também não bebe com outros em bares? Isso é ilegal também.”

Ouvindo isso, Edith demorou para reagir, então caiu em silêncio.

“O que foi? Vai correr e chorar para seus empregadores, os Gandor? Não? Infelizmente os Gandor proibiram qualquer contato com drogas. E também, com o que os seus rivais, a Família Runorata, tem em suas mãos! Eu percebi há muito tempo que você fica em silêncio sobre esse tipo de coisa. Eu posso ser morto pelos Gandor, mas você também–”

Nesse momento, Roy subitamente parou. Ele viu as grandes lágrimas saindo dos olhos de Edith.

“Eu não me importo com o que aconteça comigo, mas… Eu não quero ver você morrer também, Roy! Mas agora, eu cheguei a meu limite! Se você se recusa a cair na real, então apenas morra!”

Com isso, Edith virou-se e correu.

Blam. Com o alto barulho da porta batendo, a expressão de Roy começou a colapsar.

“Ahn?: O que, o que eu acabei de dizer? Por que ela correu chorando? Não, eu, é isso, eu não mantive minha promessa, eu devo me desculpar para ela. Não, eu, ahn, o que é isso?”

Refletindo suas próprias ações, desespero e dor tomaram conta do coração de Roy.

“Espera, espera! É minha culpa! Eu estava errado! Por que ela teve que chorar? Não! Quem deveria estar chorando sou eu. Que estranho. Eh! Espera, esperaespera. Espera! Por que você não está aqui, por que, espera, volta aqui! Eu estava errado, é culpa minha…”

Enquanto Roy murmurava para si mesmo, ele começou a chorar.

“Espere… Espere. Eu não posso me desculpar…”

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Vendo ele nesse estado, um homem e uma mulher no canto do cômodo sussurraram na orelha um do outro.

“Desgraçado, aquela mulher deveria ter largado ele há muito tempo!”

“Eh? Eh, esse tipo de discussão é só superficial para os dois.”

Ambos olhavam para Roy, que estava temporariamente livre do efeito das drogas e havia ganhado seus sentidos.

“Mas o que aquela mulher disse não está totalmente correto também.”

“O quê?”

“Mesmo se ele escapasse do radar dos Gandor, aquele Roy ainda iria morrer. Pense, quantos daqueles que foram capturados e forçados a ajoelhar diante dos Gandor sobreviveram?”

“Então a morte é inevitável, huh? Mas dizer que a droga não tem efeitos colaterais no corpo humano…”

“É tudo culpa dos Runorata! Como se isso fosse verdade, é o mesmo que ter o Ceifador da Morte descender até o corpo de alguém, e não há maneira de escapar… Na primeira vez que esse cara inalou cocaína, ele ficou maluco… Não é uma reação normal. Ele é muito sensível à drogas. Eu suponho que você não saiba que pessoas que nunca usaram cocaína não vão sair correndo loucamente, mas apenas irão querer vomitar. É apenas após algumas doses consecutivas que eles irão ficar acostumados; Esse tipo de fenômeno nunca acontece na primeira vez. Mas esse cara teve uma reação tão grande logo de cara, é realmente bizarro.”

Roy tirou uma pequena bolsa do bolso no seu peito, e tirou diversos sachês de drogas em pó dela.

“Depois dele ter sido admitido em um hospital, Edith está desesperadamente tentando fazer ele parar de usar drogas. Ah, ele já tinha parado de usar no começo, mas novamente acabou usando as drogas que aqueles Runorata desgraçados estavam distribuindo. Eles dizem ‘essa droga não tem quaisquer efeitos colaterais que façam mal’ e coisas sem sentido, e por ser um idiota, ele foi enganado por essas mentiras. Como se algo tão bom existisse!”

Roy começou a falar enquanto abria o sachê.

“Ah, eu sei que eu não deveria tocar nesse tipo de coisa, mas ainda sou um idiota que não consegue se livrar. Basicamente, todos os viciados em drogas são idiotas. Mas isso não importa, haha, não importa… É isso. Ehe, ahahah!”

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Aah, eu tenho que me desculpar para Edith.

Primeiro, eu tenho que sair desse lugar, então dizer isso quando ver ela.

Agora, eu devo definitivamente superar meu vício. Desse jeito, ela vai me perdoar. Não importa o que, esse será o último sachê desse novo estimulante. Apesar de que os efeitos colaterais são bem dolorosos, são toleráveis sem a droga.

Então, essa tem que ser a última vez. Eu tenho que aproveitar bem. É minha última, difícil de achar, dose, então eu devo aproveitar.

Parece que eu tinha a mesma coisa quando fiz minha promessa com Edith no passado, mas durante aquele tempo minha força de vontade deveria ser bem fraca. Mas isso foi no passado, e eu já amadureci. Essa definitivamente será a última vez.

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Aah, está vindo vindo vindo vindo vindo, tão bom, tão fantástico, o lado direito do meu cérebro está abrindo e fechando. Aah, parece que se partiu, posso ver um arco-íris. Oh! Meu Deus! Esse é, esse sou eu? Era meu corpo se movendo agora mesmo? Esse cérebro funcionando era meu? Incrível! Certo, agora eu sou invencível. O meu eu de agora já superou eu mesmo. Meu cérebro está evoluindo. Minha consciência já vagou até o futuro.

Inacreditável, simplesmente inacreditável! Ser tão milagroso, eu sou tão incrível!

Eu posso, eu posso! Agora mesmo, eu sou invencível.

Invencível invencível invencível invencível invencível invencível invencível invencível invencível invencível invencível invencível invencível ———

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Eu abri meus olhos.

Parece que eu voltei para casa inconsciente, e diante de meus olhos estava uma visão familiar.

Minha cabeça dói. Frio. Muito frio. Vindo. Ah não, a brisa vai passar.

Intensa inquietação e irritação nasceram fundo em meu coração, e uma ânsia explodiu.

Subitamente, o mundo inteiro tornou-se terrível. Esse sentimento cresceu cada vez mais, como se os Gandor fossem entrar e me matar no momento que eu abrisse a porta.

Um rifle de precisão estava mirado na minha testa.

Também parece que há homens se escondendo debaixo da minha cama.

Talvez antes disso, todos os outros humanos além de mim já estavam mortos. Não há nenhum som no quarto agora. O quê? Talvez antes de eu acordar, os marcianos atacaram a Terra e exterminaram toda a humanidade.

Nesse mesmo instante, aqueles desgraçados dos Gandor provavelmente estão dançando com aqueles monstros com tentáculos lá fora. Ou talvez eles estejam discutindo sobre como me eliminar.

Eu definitivamente vou levar um tiro, ser queimado, afogado por eles, e afundar até o fundo do oceano, então torturado, mutilado, morto, violado, devorado, exposto por aqueles marcianos vivendo no fundo do oceano; não não não não não não não não não não não não não não n-n-n-n-n-n-n-n-naaaaaaaaaaaaaaaaaão não não não não não não não não não não não não naaaaaaaaão n-n-n-naaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa———–

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Acalme-se, eu mesmo! Isso tem que ser alucinações, ilusões. Eu entendo. Mas mesmo se eu soubesse que isso são alucinações, elas ainda são muito assustadoras. Talvez elas não sejam alucinações, mas sim a realidade, e realmente tem pessoas atrás dessa porta… Não! Não pense! Não pense mais! Eu perdi! Eu vou morrer! Droga! Se eu ainda tivesse a droga, se eu ainda tivesse a droga comigo! De novo, me dê as drogas de novo, então não haverão mais alucinações como essas! Drogas, me dê as drogas! Alguém, rápido, vá até a família Runorata e me ajude a comprar as droooooooooogas! Senão, senão eu vou morrer. Rápido, rápido, alguém me ajude! Edith, Edith, Ediiiiiiiiiiiiiiith…

Sete horas depois, Roy acabou recobrando a consciência na banheira de sua casa. Ele estava pelado, no chão coberto pelo seu próprio vômito. Ele já esperava que algo assim fosse acontecer, então ele especificamente decidiu alugar um apartamento com um banheiro. E que jogada inteligente! Entrando no banheiro enquanto ainda não tinha perdido totalmente a sua consciência. Ele estava muito grato a si mesmo.

Porque essa era a primeira vez que ele havia a tomado, após todos os efeitos da droga terem passado, seu corpo sentiu-se confortável. Porém, normalmente ele ingeria outras drogas, então havia uma sensação estranha. Não importava o que ele dissesse, seu comportamento agora mesmo era apenas um caso de recuperação inicial. De um ponto de vista médico, esses efeitos colaterais devem ser por conta dessa nova droga. Roy não sabia de muita coisa: A única coisa que ele sabia é que houve um êxtase instantâneo no começo, e o tipo de terror que veio após a brisa ter acabado.

Ele tinha que se desculpar com Edith. Sua devoção era o que havia feito-o capaz de livrar-se do medo. Mas no fim, ele sucumbiu no último instante e pegou as drogas, novamente garantindo uma fuga do medo. Roy era uma pessoa ladina.

Roy limpou a si mesmo e o banheiro, sentindo um pequeno sentimento de conquista. Agora, ele definitivamente iria cumprir a promessa que fez a Edith. Ele parecia ter experienciado esse tipo de sentimento no passado, mas deve ter lembrado algo errado.

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Após o banho, Roy trocou de roupa para um shorts e uma camiseta, cantando enquanto caminhava em seu quarto, apesar de que seu corpo ainda era afetado por leves sensações de dor. Ele estava com fome? Ou era um efeito colateral da droga?

Então, seus passos subitamente pararam.

O que é essa maleta?

Debaixo da mesa havia uma maleta que ele nunca havia visto antes. Uma grande maleta de couro com protuberâncias, como se estivesse cheia com algo.

Sentia como se já tivesse visto ela antes, mas simplesmente não conseguia lembrar quando ou onde. Ele não tinha vontade de usar o cérebro para lembrar.

O medo que havia sido perdido retornou. Seu coração substituiu seu cérebro, e começou a acelerar.

Nervosa e hesitantemente ele aproximou-se, e com cuidado abriu a maleta.

No mesmo instante, tudo voltou, Roy estava tão chocado que seu coração acelerou mais. Dentro, cheio até a borda, haviam pacotes de papel com droga em pó. Isso era o que a Família Runorata vendia, o que havia revivido ele dos mortos, a droga mais recente. O Ceifador da Morte unido ao seu corpo elevou sua foice e lentamente balançou-a em sua direção.

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A Família Runorata

Nova Jersey – Uma propriedade nos subúrbios de Nova York.

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“E?”

Ao lado de uma mesa extravagante, um homem perguntou.

Ele parecia ter por volta de cinquenta anos, tendo rugas profundas e grandes, e em seu rosto severo havia um par de óculos intelectuais.

Nenhuma emoção poderia ser retirada de sua expressão ou tom de voz, mas as expressões no rosto do grupo de pessoas com ternos ao seu redor congelaram.

“As novas drogas foram pegas, e vocês deixaram elas escaparem, não é?”

Todas as pessoas na casa nem mesmo ousaram respirar profundamente quando confrontadas por esse homem ancião que estava recitando os fatos em um ritmo lento. Então, assim como um criminoso no corredor da morte esperando por sua sentença, um homem esperou seu próprio chefe, Bartolo Runorata, conti-

Bartolo falou. Após inspirar por um longo período, ele lentamente abriu seus olhos, dizendo:

“E?”

Diante da pergunta de Bartolo, o grande homem respondeu, tremendo e suando:

“R-reunir todos os homens. Aquele cara, nós definitivamente devemos–“

“Não, o que eu queria perguntar era…”

Interrompendo-o, Bartolo continuou em um tom de voz baixo:

“Relatando assuntos tão pequenos como esse todos os dias… Isso é de alguma utilidade para você e eu, ou até mesmo para a organização?”

Apesar de seu tom ser calmo, ele carregava uma certa sensação que penetrava até os ossos, assaltando o coração dos ouvintes.

“Gustavo. Eu já não disse antes, que tudo relacionado a Manhattan ficará em suas mãos? Então o que você vai relatar serão as notícias finais, boas ou ruins. Há algo a mais? Então como o que você está relatando é considerado ruim, eu deveria considerar isso como sua incompetência?”

O homem chamado Gustavo tinha a mesma expressão que a de um sapo prestes a ser comido por uma águia, e seu grande e musculoso físico estremeceu de medo.

“Definitivamente não, senhor.”

“Então, você está dizendo que é competente?”

Ouvindo isso, Gustavo ficou em silêncio.

“Eu irei ver meu neto hoje. Eu não quero que conversas tão inúteis arruínem um dia tão bom como hoje.”

Não houveram repreensões, nem sugestões, Bartolo apenas disse isso e saiu.

O restante das pessoas trocaram olhares para ver como os outros estavam reagindo. Então, uma mistura de ansiedade e nervosismo formou-se no rosto de todo mundo.

“Agora não é a hora de sonhar acordado, seu merdinhas.”

Como uma pessoa completamente diferente de quando seu chefe estava por perto, Gustavo berrou freneticamente com seus subordinados.

“Isso é o mesmo que entregar as drogas para aquele ladrão! Nós estamos sendo ridicularizados! Do jeito que as coisas estão, nosso trabalho em Manhattan apenas vai tornar-se uma má notícia! Eu não ligo para o que vocês fizerem, apenas encontrem aquele desgraçado!”

Para seus subordinados, esse tipo de atitude era de certa forma desnecessária.

A grande bolsa cheia havia sido roubada por um cara que apareceu do nada. Isso não foi por conta de sua negligência, mas pela situação súbita, então até mesmo o motorista não pôde reagir a tempo.

Um grande caminhão bateu na lateral do veículo. O forte impacto enviou uma grande maleta de drogas do carro até o chão, e o jovem pulando do caminhão fugiu com a nova droga valendo 60 mil dólares no mercado.

O ladrão deveria ter sofrido com o impacto tremendo, mas ele pegou a maleta e fugiu como se não sentisse nenhuma dor. Esses caras não ousaram relatar o acontecimento como um roubo, e apenas trataram-no como um simples caso de acidente para escapar da responsabilidade.

Através de investigação, eles finalmente descobriram que o caminhão responsável havia sido roubado e que o culpado parecia ter cometido o ato sob o efeito de estimulantes ou algum tipo de droga. Mas a cena do incidente foi no território da Família Gandor, e eles nunca ouviram deles entrando no mercado de drogas! Mesmo se eles investigassem os Gandor, nesse momento já seria inútil, então a investigação nunca avançou mais.

Da perspectivas dos outros, isso era uma piada. Aqueles secretamente distribuindo drogas na área eram ninguém menos que a própria Família Runorata. A droga havia sido roubada por algum drogado desconhecido no trânsito. Para o membros de ranque mais baixo da família, isso era uma completa piada.

“Enfim, achem a droga. Então matem esse cara—”

“Isso vai, ser, difi-ficil.”

Uma voz doentia e arrepiante veio de trás. Gustavo apressadamente olhou para trás e viu que, em algum momento desconhecido, Begg havia se sentado no canto do quarto. Havia diversas cadeiras, mas eles preferiu sentar no chão.

“Oh, Begg. Você me assustou!… Mas o que você está dizendo que é difícil?”

“Eu quero, ouvir, os pensamentos, desse cara. Roubar, minha, medicina, come-meter, tal, feito, surpreendente, eu devo, falar, com ele, e, dependendo, usar ele, como um, ratinho, para minha, nova droga. Então, você, deve, pegar ele, vivo.”

“O que você disse—”

Gustavo rugiu sem pensar. Suas cordas vocais não conseguiam falar mais alto que isso. Ele sabia pouco sobre Begg: Ele já estava lá antes de Gustavo ter entrado na organização, que ele parecia ser o membro mais antigo, e Gustavo não tinha certeza de quantos anos ele tinha. À primeira vista, ele parecia ter trinta, mas nos oito anos desde que Gustavo entrou na organização, Begg não pareceu ter mudado nada.

Era provavelmente o efeito de algum tipo de medicação, toda as partes de seu corpo eram muito estranhas. Mas ao invés de dizer que aqueles a sua volta invejavam sua juventude duradoura, era mais apropriado dizer que todos travam-no como um esquisito, tanto que diversas pessoas discutiam tais coisas sem ele saber.

“— Para de fazer esses pedidos impossíveis. Nós já não te demos uma fábrica esplêndida? Então pare de interferir em nossos assuntos!”

“Huh, huh. Me, dar? Aquela é, só, uma, fábrica de, coca-caína, que vocês, roubaram, de outros. Isso é, só, a, superfície. Eu, acho, que, lembro, que, eram, os, Genoard. Aqueles, que realizavam, os negócios, anteriores.”

A zombaria nessas sentenças fragmentadas era óbvia.

“Roubar não soa bem. Você pode dizer que nós apenas cometemos alguns feitos que pessoas referem como ‘incidentes assustadores em uma empresa sem dono’. É o mesmo superficialmente ou internamente.”

“Sem, proprietário? V-você, quer dizer, jogar, o carro, na, Baía de Nova York, com, seus, passageiros, ainda dentro? Violento, muito, violento. Mas cruel, que, Bartolo.”

“… Se você ainda se considera um membro da Família, então toma cuidado com o que diz!”

Confrontando um Gustavo sem expressão, que estava suprimindo sua própria raiva, Begg deu um leve sorriso com um fraco teor de desdenho. Como se cansado de tudo, o seu sorriso satisfeito logo sumiu, e, como se nada tivesse acontecido, ele virou-se e caminhou para fora do quarto. Enquanto caminhava, disse algo que soava como um acordo.

“Escuta, bem. Eu, disse, então, antes. Não, não, não, confronte, a, Família Martillo. Essa, é, a, condição, para minha, cooperação, com, você, Gustavo.”

Com isso, Begg desapareceu através da porta sem nem mesmo olhar para trás.

“Hmph! Tão arrogante, mesmo que ele não conheça nada além de drogas…”

Gustavo bufou, e então virou-se na direção de seus subordinados.

“Entenderam, homens? Exterminem todas as organizações pequenas e ridículas como a Família Gandor, mas priorizem o negócio de drogas. Esse é nosso dever em Manhattan. Apesar de que temos um serviço extra, o que deve ser feito não mudou. Destruam todos os obstáculos. Destruam todos os fracos, mesmo aqueles que não mexerem conosco. Não há necessidade de avisos ou negociações, guardem isso apenas para aqueles com o mesmo poder que nós. Escutem, nós apenas queremos que eles vejam e reconheçam nosso poder. Será tarde demais no momento que perceberem, então rápido, vocês devem ser rápidos, devem completamente–”

Gustavo deu ordens como se fosse o chefe, como se a cena anterior nunca tivesse acontecido.

“Agora é nossa hora. Aquele ladrão estúpido e aqueles mafiosos de merda que ainda brincam de esconde-esconde não existem. Destruam, destruam sem deixar traços, deixem eles sumir completamente do passado, presente e futuro. Essa é nossa missão.”

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