Capítulo 50 – Buda

Li Huowang estava enrolado numa coberta enquanto observava escondido nos arbustos grossos. Já era noite e estava muito frio sem a fogueira, apesar de já ser março.

No entanto, ele não ousou acender uma fogueira, já que revelaria a localização dos monges que estavam o perseguindo.

Sob a fraca luz do luar, Li Huowang tirou o sino de bronze e o inspecionou. Ele já tinha comido a maioria das pílulas que Dan Yangzi deu, fazendo o sino de bronze ser uma das únicas cartas que tinha.

Porém, sempre que pensava sobre como o abade pegou o sino facilmente, sentia um descontentamento profundo. O oponente poderia matá-lo de várias maneiras, mas tudo que podia fazer era tentar fugir. Este fato deixou um gosto amargo em sua boca.

Neste mundo bizarro, a força reina. Se eu quiser viver, preciso ficar forte! Até alguém como o Dan Yangzi conseguiu ficar muito forte, então por que não posso? E daí se todos têm um ou outro método de cultivo bizarro? Também preciso fazer isto para sobreviver. Quero proteger a mim e os outros a minha volta. Se não conseguir, então roubarei. Se não puder roubar, então os enquadrarei!

A expressão de Li Huowang ficou cada mais deturbada.

Ele vinha pensando nestas coisas quando tremeu e tocou na nuca, percebendo algo de repente.

— Namo~ He Luo Dan Na~ Duo Luo Ye Ye~ — O som do cântico destruiu o silêncio da floresta.

Ao mesmo tempo, Li Huowang se levantou reflexivamente e analisou as redondezas. Contudo, estava tão escudo que não conseguia ver nada. Até as armadilhas simples que montou mais cedo não foram ativadas.

— Namo~ Ah Li Ye~ Po Lu Jie Di~ Yao Ti Luo Ye~ — O cântico continuou na escuridão, desta vez estando mais perto.

— Rápido! Levantem-se! Precisamos correr agora! Ignorem as carroças! Pateta, faça como mandei mais cedo! — gritou Li Huowang.

Quando Bai Lingmiao estava prestes a seguir os comandos de Li Huowang e se levantou, Pateta a pegou e começou a fugir.

Ao mesmo tempo, Li Huowang saiu do arbusto e voltou a estrada. Ele rangeu os dentes e decidiu enfrentá-los; o alvo dos monges era ele. Mesmo que todos não conseguissem escapar, não havia motivos para cada um deles morrer.

Li Huowang continuou correndo na escuridão, mas o som do cântico se aproximou cada vez mais. Por algum motivo, ele conseguia sentir o cheiro da fumaça de incenso que acendeu no Monastério.

Ele parou de repente quando viu vários pontos vermelhos do tamanho de moscas balançando na estrada escura.

— Pu Tai Ye~ Pu Tai Ye~ Mi Di Li Ye~ Na Luo Jin Xi~ — O Som do cântico estava se aproximando cada vez mais.

Logo, Li Huowang viu a coisa na escuridão; era um Buda com um chapéu grande e corpo alto, mas pernas comicamente magras. A barriga do Buda também estava inchada. Os pontos vermelhos que Li Huowang viu antes eram bastões de incenso que ficaram presos no corpo do Buda. Eles tremiam e balançavam a cada passo dado pelo gigante.

O Buda gigante estava envolto na fumaça branca de incenso. Provavelmente devia parecer etéreo, mas só parecia completamente horripilante na escuridão desta estrada.

Além disso, Li Huowang notou que não havia um, mas sete destes Budas enfileirados e se aproximando.

Eles caminhavam como humanos, mas suas expressões não eram sorridentes ou enfurecidas. Seus corpos balançavam parra a direita e esquerda.

Sob o luar, Li Huowang reconheceu o rosto de um dos Budas. Era ninguém menos que Jian Dun!

— Amitabha! Benfeitor, seu coração não está calmo — disse o Buda com o rosto de Jian Dun.

Li Huowang olhou para os Budas de pelo menos quatro metros de altura: — Então finalmente se revelou! Esta é sua verdadeira forma, adorador de aberrações?!

— Benfeitor, você não tem ideia do porquê está dizendo isto. Por favor, siga-me de volta ao monastério. O carma de Dan Yangzi ainda paira em você. Se sair assim, estará com problemas; todos também sofrerão — expressou Jian Dun.

Assim que Jian Dun falou isto, juntou as palmas e começou a orar.

Naquele momento, Li Huowang ouviu o som de carne sendo rasgada quando inúmeros braços sem pele apareceram das costas de Jian Duan e se abriram como a cauda de um pavão. Logo, os sete Budas se transformaram em sete Budas de Mil Braços.

Ring!

Li Huowang balançou imediatamente o sino de bronze, fazendo as redondezas começarem a torcer e contorcer. Logo, as bordas de tudo ao redor se reuniram e viraram um Deus Errante.

Entretanto, o badalar não afetou os sete Budas de Mil Braços; eram como rochas na água.

Li Huowang rapidamente colocou um pouco de terra na boca e mandou o Deus Errante atacar. Imediatamente, o último se lançou na direção dos sete Budas.

Pak!

Um dos Budas mandou um tapa forte na direção do Deus Errante, enviando poeira e rochas por toda parte.

No entanto, o Deus Errante não tinha um corpo físico e, portanto, ignorou completamente o ataque ao atravessar a palma e ir direto para o rosto do Buda.

O Deus Errante então entrou no cérebro do Buda, fazendo o último começar a vacilar e usar os braços para tentar arrancar o Deus Errante de sua cabeça.

Todavia, foi inútil.

Logo, o Buda caiu no chão e seu rosto derreteu. Seu corpo, que não foi afetado pelo sino antes, também começou a torcer e contorcer, assim como as redondezas.

Peng Peng Peng!

Naquele momento, os seis Budas restantes formaram um círculo com as costas voltadas um para o outro. Eles juntaram as mãos e começaram a entoar: — Ru Lai Ah Duo Luo~ San Mo~ San Pu Ti~

O cântico tinha acabado de começar quando Li Huowang percebeu que algo estava errado com o Deus Errante; as linhas ondulantes que compunham seu corpo começaram a se mover descontroladamente. Logo, viu que algo estava errado e balançou o sino com mais força, gritando para o Deus Errante mais alto.

Após ouvir que Li Huowang concordou em sacrificar mais vida, o Deus Errante manteve o corpo unido e avançou em outro Buda.

Quando o segundo Buda caiu no chão, o Deus Errante gastou o último resquício de força; estava perto do limite.

Entre o cântico ao seu redor, o Deus Errante logo caiu no chão.

Vendo que era inútil, Li Huowang parou de badalar o sino. Entretanto, mesmo que as redondezas tivessem retornado ao normal, o Deus Errante não desapareceu.

Logo, as linhas ondulantes que compunham seu corpo começaram a perder sua cor original e se transformar numa cor rosa carne; o Deus Errante que devia ser disforme recebeu um corpo físico usando o poder dos sutras!

O corpo físico do Deus Errante parecia com um amontoado de minhocas; se remexendo lentamente no chão.

Uma palma com um símbolo de suástica então o atingiu e o esmagou numa pilha de mingau.

A palma foi então erguida lentamente, carne e sangue ainda presas nela. Os Budas então juntaram as mãos novamente e se aproximaram lentamente de Li Huowang: — Amitabha! Benfeitor, por favor, siga-nos de volta.