Capítulo 81 – O Convento da Benevolência
— Ha~ Ha~ — A testa de Li Huowang estava suada quando colocou as mãos nos joelhos e ofegou por ar.
Ele já estava escalando por quatro horas, mas ainda não tinha chegado no destino. O Convento ficava muito mais acima do que imaginava.
Li Huowang lutou para levantar a cabeça. O caminho sinuoso de terra parecia não ter fim enquanto se estendia ilimitadamente.
Ele rangeu os dentes, agarrou uma videira próxima e continuou a escalar.
No momento que suas pernas ficaram extremamente dolorosas, avistou finalmente o portão do Convento da Benevolência.
Ele limpou o suor do queixo com as costas da mão e olhou subconscientemente para os dísticos nas laterais do portão. Porém, o que surpreendeu foi que ele não conseguia entender nada.
Não foi por causa da influência de Dan Yangzi que não conseguia entender. Ao invés disso, era devido a sua aparência — aquelas palavras pareciam muito estranhas.
As palavras pareciam ter formato losangular, com o lado direito mais alto e o esquerdo mais baixo. Os caracteres eram inclinados e alongados e pareciam ser palavras antigas, todavia, havia traços de vários caracteres similares.
— Estes são… caracteres? Ou é outra coisa? — Intrigado, Li Huowang caminhou e tocou neles.
Após examinar cuidadosamente, continuou rumo ao convento.
No entanto, após entrar, o discurso que preparou não pôde ser usado; não havia ninguém aqui com quem pudesse conversar.
Não havia nenhuma pessoa na praça coberta de mato. Isto formava um contraste gritante com as multidões que viu no Monastério da Retidão.
— Tem alguém aqui? — A voz de Li Huowang reverberou na praça, mas ninguém apareceu.
Ele olhou para os dois lados antes de ir ao salão principal. Não havia incenso, mas não estava totalmente escuro. O teto tinha buracos e os raios de luz iluminavam tudo dentro.
A estátua de Bodisatva no meio do grande salão também estava coberta com poeira cinza e teias de aranha. Li Huowang quase não teria reconhecido que esta era uma estátua de Bodisatva se não fosse pelo assento de lótus abaixo.
Isto é algum erro? Este Convento parece estar completamente deserto.
Assim que pensou isso, um ronco chamou sua atenção. Ele seguiu o som da fonte e viu uma grande bola de carne subindo e descendo atrás da estátua de Bodisatva.
Somente após se aproximar que percebeu que não era uma bola de carne, era a barriga exposta de uma freira gorda.
Ela estava dormindo de barriga para cima no chão frio, roncando com a boca aberta e liberando um fedor pútrido.
Roupas pretas, gorda e suja. Estavam todos corretos. Esta era uma freira do Convento da Benevolência.
Franzindo a testa, Li Huowang tentou determinar se esta era uma pessoa boa ou ruim. Baseado na descrição de Li Zhi, estas freiras eram boas pessoas. Porém, embora não soubesse a veracidade daquela proclamação, dado o estado atual deste convento e olhando para esta freira, ele concluiu que até as pessoas más não iriam querer interagir muito com ela.
— Venerável mestra, Xuan Yang do Templo de Zéfiro tem um assunto urgente para discutir — Li Huowang elevou o tom e cumprimentou a grande bola de carne.
Contudo, o ronco da freira gorda não mostrou sinais de parar — ela não acordou.
Ela está fingindo para me ignorar?
Li Huowang se aproximou e falou mais alto: — Venerável mestra! Xuan Yang do Templo de Zéfiro tem um assunto urgente para discutir!
Porém, ainda não houve resposta.
Li Huowang estava prestes a ir até ela e gritar no seu ouvido, mas foi impedido pelo fedor forte vindo do corpo dela. Este fedor era uma combinação de meias fedorentas, durião e suor fermentado. Era quase insuportável.
Antes que pudesse pensar em algo, a freira gorda tremeu e sentou sozinha.
Ela usou os dedos atarracados para esfregar as remelas amarelas. Depois, sem nem abrir os olhos, balançou na direção da porta lateral: — Aiya, hora de comer!
— Venerável mestra! Xuan Yang do Templo de Zéfiro tem um assunto urgente para discutir! — repetiu Li Huowang.
Desta vez, ele não foi ignorado. A freira gorda saltou de susto e, ao mesmo tempo, seu queixo extremamente gorduroso tremeu.
— Você me assustou. Por que caminhou tão sorrateiramente? — perguntou a freira.
Em conflito, Li Huowang permaneceu enraizado. Ele agora estava mais preocupado se as freiras aqui tinham mesmo a capacidade de ajudar a lidar com Dan Yangzi, em vez de questionar suas intenções.
— Vá e queime o incenso sozinho se quiser prestar respeito a Buda! Não atrapalhe minha refeição! — disse a freira num tom gélido antes de continuar caminhando com suas pernas enormes.
Desta vez, Li Huowang não falou nada e apenas seguiu atrás dela.
O convento era muito grande, mas também bem dilapidado. Se a estátua de Bodisatva no salão principal já estava tão gasta, então as outras provavelmente estavam piores.
Havia algumas inscrições nas entradas do salão, mas eram idênticas as que viu mais cedo.
— Mestra, que caracteres são estes? — Li Huowang perguntou.
— Escrita de mulheres. Você não pode entender. Esta escrita é passada somente para mulheres, não homens — respondeu à freira.
Embora tenha respondido à pergunta, a freira parecia muito impaciente e entrou logo.
Como o ambiente interno se tornou muito desconhecido, Li Huowang continuou seguindo ela sem hesitação. Tudo aqui parecia real, não dando a sensação estranha que teve no hospital.
Seja por consumir Taisui Preto demais ou por passar muito tempo nas alucinações, as ilusões comuns não tinham impacto nele. Ele poderia distinguir facilmente da realidade, mesmo que fossem eficazes para enganar os sentidos.
Após vagar por um tempo, Li Huowang seguiu a freira até uma casa de barro que tinha uma chaminé. Ele conseguia ouvir alguma comoção de dentro, indicando que havia pessoas lá. Ele sabia que eram todas freiras só baseado no fedor pesado vindo de dentro.
Ele viu a freira correndo animada e então franziu a testa antes de respirar fundo. Então, apertou o nariz e resistiu a vontade de lacrimejar antes de segui-la para dentro.
Assim que entrou, ouviu os sons de lábios estalando, bem como o de comida sendo mastigada e engolida.
Por um instante, quase pensou estar num chiqueiro.
Neste momento, os gritos das freiras gordas de preto se reuniu ao redor de uma panela preta enquanto devoravam todo seu conteúdo. Elas nem estavam usando pauzinhos ou tigelas, simplesmente usaram as mãos para pegar a comida.
Elas estavam aproveitando tanto a refeição que nem responderam Li Huowang, uma pessoa viva parada bem ali.
Enquanto isso, ele só podia adivinhar cegamente que estavam comendo algum tipo de arroz frito vegetal.
Li Huowang estava ficando vermelho por prender a respiração. Quando tentou respirar, sentiu o fedor no ar irritar sua garganta.
Finalmente, suas ações chamaram um pouco de atenção. Uma freira que havia acabado de comer se levantou e entregou um assento enquanto chupava os dedos.
— Você quer ter uma refeição vegetariana? Duzentas moedas de cobre por pessoa — perguntou a freira.
Li Huowang ficou feliz após ouvir dinheiro sendo mencionado.
— Não precisa. Todavia, preciso de ajuda com algo — expressou Li Huowang ao jogar um feijão de ouro.
— Ouro! — A freira enfiou animada o feijão de ouro na boca e mastigou com seus dentes amarelados. Após verificar a autenticidade do material, cuspiu o ouro, agora misturado com folhas e saliva.
— Você quer comprar porcos? Quantos? Nosso Convento tem os porcos mais gordos — ofereceu a freira.
Quando Li Huowang a viu se aproximar, ele recuou um passo: — Não. Ouvi que as veneráveis mestras do Convento da Benevolência são muito conhecedoras. Por isso, desta vez, vim pedir ajuda para exorcizar alguns espíritos.
— Hahaha~! Você não é um Taoísta? Você está pedindo a freiras para ajudar a exorcizar espíritos malignos? Hahaha~ — indagou a freira, rindo.
Sua risada parecia ser bem contagiosa porque as outras freiras também começaram a rir.
Finalmente, até Li Huowang não conseguiu aguentar mais. — Hahah~!!