Capítulo 82 – Abadessa Jing Xin

Li Huowang tentou muito reprimir a risada. Achou muito engraçado que de repente, como um Taoísta, estava pedindo ajuda destas freiras.

— Cof cof, estimadas mestras, por favor, não riem mais. Tenho um problema urgente e pode ser ameaçador se deixar não resolvido — Li Huowang explicou.

— Siga-me; vamos encontrar a Abadessa. Certo, custará dois feijões de ouro para mostrar o caminho — declarou a freira enquanto uma mão oleosa estendia na direção dele.

Por outro lado, a coisa que menos preocupava Li Huowang agora era dinheiro. Afinal, qualquer assunto que pudesse ser resolvido com dinheiro não era realmente um problema.

Ele passou diretamente os dois feijões de ouro antes de seguir a freira.

Quando estava prestes a sair da casa, Li Huowang olhou para as outras freiras atrás dele com um toque de relutância. Teve a sensação que seria bem agradável se passasse seu tempo com estas freiras despreocupadas. Neste ponto, até o fedor pungente não parecia tão insuportável.

Ele seguiu a freira por um pequeno caminho fora da casa mais uma vez. Li Huowang perguntou a freira o guiando: — Sou Xuan Yang do Templo de Zéfiro. Posso saber seu nome religioso?

— Miao Yu — respondeu à freira gorda enquanto cutucava o nariz.

— Cof cof… bom nome. — Li Huowang teve que se conter para não rir alto. O nome não combinava nada com a aparência dela.

Eles caminharam por um tempo e chegaram numa fileira de casas de palha. A freira entrou: — Espere aqui, preciso dar uma cagada.

— Claro, vá no seu tempo — respondeu Li Huowang enquanto continha a risada, batia as mãos e se curvava.

— Ah~ Hehe. — Li Huowang ficou ao lado da casa de palha e se espreguiçou. Sentiu-se bem à vontade. Aqui, queria sorrir com tudo que visse. Suas redondezas simplesmente pareciam muito tranquilas.

Assim que estava prestes a cair na gargalhada ao pensar no que acabou de acontecer, sentiu tudo ao redor começar a colapsar. As paredes brancas de um hospital começaram a substituir tudo ao redor e algumas figuras ilusórias começaram a solidificar.

Li Huowang tinha acabado de se sentir tranquilo, mas agora, sua expressão ficou extremamente feia enquanto segurava a cabeça com força.

— Não, não agora! Só espere um pouco mais, shh, shhh! Socorro! Por favor, fique quieto, shh~ shh~

Quase como se seu pedido tivesse efeito, tudo ao redor se aquietou.

Sua expressão agora estava muito pálida e limpou o suor frio do rosto enquanto se levantava.

Os efeitos do Taisui Preto estavam sumindo e aquelas alucinações estavam prestes a voltar após tanto tempo. Contudo, Li Huowang tinha que deixar estes assuntos para outra hora. Diante da vida e morte, estas alucinações eram assuntos pífios.

Seu humor ficou mais sombrio ao lembrar dos eventos recentes; achou difícil de se sentir animado de novo.

— Haa… — Li Huowang suspirou.

Então, ouviu de repente um som e foi na direção da traseira do banheiro.

Ele ficou chocado com a cena.

Havia um cercado de bambu atrás da casa de palha e alguns porcos pretos e cabeludos estavam sendo criados.

Neste momento, resíduos amarelos estavam saindo de dentro da casa de palha e os porcos pretos estavam grunhindo.

Esta cena instantaneamente fez Li Huowang sentir náuseas.

Ele ouviu anteriormente que as freiras do Convento da Benevolência criavam porcos, mas não imaginou que usariam algo assim para alimentá-los!

Enquanto olhava para os porcos, sua impressão do Convento como um todo começou a desabar lentamente. As freiras aqui eram extremamente esquisitas.

Os porcos grunhiram e dispersaram, e então, Miao Yu saiu da casa de palha. Ela viu Li Huowang parado perto do chiqueiro, mas não falou ada e continuou o guiando.

— Vamos rápido; ainda preciso tirar um cochilo — falou Miao Yu.

— Vocês comem os porcos criados assim? — Li Huowang perguntou de repente.

— Do que está falando! Não consegue ver que somos freiras? Acreditamos no Budismo e não podemos comer carne. Você é um Taoísta e nem entende isto? — O tom de Miao Yu carregava um forte senso de desdém, mas ficou deprimida de novo quando mudou de tópico: — Ah, na realidade, não queremos alimentar ou criar porcos também. No entanto, ninguém vem queimar incenso ou dar oferendas, então tivemos que encontrar alguma maneira de fazer dinheiro. Afinal, as pessoas não podem sobreviver com nada.

— De fato, de fato. — Li Huowang assentiu de acordo e continuou seguindo-a.

Após dar algumas voltas, Miao Yu levou Li Huowang até uma casa.

— A Abadessa está lá dentro. Não vou entrar. De verdade, estou com um pouco de medo dela. Ah, verdade, seu nome religioso é Jing Xin — expressou Miao Yu. Então, sem esperar pela resposta de Li Huowang, saiu.

Li Huowang olhou para a figura indo embora e riu suavemente antes de entrar.

Estava muito escuro na casa. Também havia sons de comida sendo engolida e até um fedor mais forte. Estas peculiaridades fizeram Li Huowang agarrar subconscientemente o pergaminho de bambu em suas roupas.

Assim que colocou o pé direito no chão daquela escuridão, sentiu ter pisado em algo enrugado e retraiu o pé rapidamente.

— Você pode acender uma lamparina, por favor. Sou cega, então normalmente não preciso de luz. — Uma voz idosa e frágil soou da escuridão.

— Sim, Abadessa. — Li Huowang tirou uma pedra brilhante e jogou na direção que acabou de pisar, o surpreendendo instantaneamente pela coisa estranha que viu.

Era uma mulher gorda e extremamente velha usando um chapéu de freira. Suas órbitas oculares estavam vazias, seus olhos sendo substituídos por dois buracos negros. A pele do seu rosto estava solta, arrastada pela gordura ao redor do pescoço, como se estivesse prestes a ser arrancada a qualquer momento.

Ver algo assim na sala mal iluminada sem dúvidas era aterrorizante.

No entanto, o mais importante era o corpo dela, não o rosto.

Sua gordura corporal quase preencheu o cômodo. Sua pele suja estava coberta de acne sangrenta e até parecia ter algo se movendo dentro da acne!

E neste momento, esta mulher estava abraçando uma bacia grande e usando as mãos para devorar a comida oleosa.

— Keke, isto é incomum. É raro um Perdido vir me procurar — falou a velha freira aterrorizante com a boca sem dentes antes de continuar a comer. Embora sua aparência fosse extraordinariamente assustadora, sua voz era inesperadamente gentil. Se não houvesse luz, qualquer um a confundiria com uma pessoa idosa comum.

Porém, Li Huowang não teve tempo para pensar nisso. Quando ouviu a pessoa mencionar “Perdido”, instantaneamente ficou alerta e pronto para fugir.

— Do que está com medo? Basta uma olhada para saber que você é um jovem que não sabe de nada. Quando nosso Convento da Benevolência iria precisar de outros como ingredientes? Somos preguiçosas demais para se incomodar com esse tipo de coisa. Na verdade, meu filho também é um Perdido — expressou a Abadessa.

— Oh? — Li Huowang se animou: — Então Abadessa Jing Xin, onde está seu filho? — Esta foi a primeira vez que Li Huowang ouviu falar de outro Perdido.

— Ele ficou louco. Perdidos normalmente tem destinos trágicos. Ficar louco é considerado um resultado relativamente melhor para eles — explicou a Abadessa.

Então, a Abadessa Jing Xin começou a contar sobre seu filho, fazendo sua voz ficar um pouco deprimida.