Capítulo 95 – Dor
— Eu realmente não consigo… não consigo… saber qual lado é real… — Li Huowang ajoelhou no campo de jardim de infância enquanto abraçava a garota com força, seus olhos cheios de confusão.
Esta era a realidade ou uma alucinação? Isto era real ou falso? Li Huowang não conseguia diferenciar nenhum pouco.
Ele discutiu uma vez com a Abadessa Jing Xin quando ela falou que o coração de um Perdido estava cheio de dúvida e confusão.
Porém, agora, vendo Sun Xiaoqin ajoelhada do outro lado da cerca, ele finalmente entendeu o que ela queria dizer.
Um Perdido nunca poderia mudar. Não importa qual lado escolhessem, sempre seriam envolvidos no seu próprio senso de dúvida e confusão.
Este era o seu destino e ninguém poderia escapar.
Então, uma mãozinha segurando um pequeno lenço tocou em seu rosto, secando gentilmente suas lágrimas.
Li Huowang tremeu ao abaixar a cabeça. Viu a garotinha fofa que estava limpando suas lágrimas cuidadosamente.
— Não chore, tio — disse a garotinha.
Olhando para o rostinho fofo, Li Huowang percebeu que a garota também era uma pessoa viva.
Ele quase matou uma menininha inocente. Uma culpa profunda surgiu das profundezas de seu coração.
Mas e se for o Décimo Oitavo Lunar? Mate-a!
Quando este pensamento surgiu em sua mente, ele começou a sentir uma quantidade imensa de nojo de si: — Calado! Calado! Você até considera esta criança como alguém vivo! Sua vida é mais preciosa que a dela? Ela é uma pessoa normal! E você? Li Huowang, você não é nada além de uma pessoa louca! Você é inútil! Como poderia pensar em trocar a vida dela pela a sua?!
O pedaço do vidro em sua mão rangeu enquanto ele segurava com força, apesar da palma ter sido cortada pelas bordas afiadas.
Sua explosão repentina chocou todos, fazendo-os recuar um passo.
Enquanto isso, Li Huowang visualizou duas pessoas lutando em sua mente. A alucinação estava o atormentando tanto que ele mal conseguia respirar.
Ele queria morrer. Enquanto morresse, não teria que viver em tamanha dor.
Não havia motivos para uma pessoa insana como ele estar viva. Todos se beneficiariam da sua morte de uma forma ou outra. Sua mãe não seria mais sobrecarregada por ele e Dan Yangzi não conseguiria reviver através de seu corpo.
— Deite-se. Larga a arma. Jovem, posso falar com você? — A voz de Alguém veio de fora do jardim de infância.
Era um homem de meia-idade falando num megafone. Ele estava usando roupas casuais com sua barriga grande. Li Huowang não sabia quem era, mas vendo como os outros policiais abaixaram as armas, soube que o homem na sua frente era alguém de alto nível.
Assim que se virou, o homem segurou o megafone na mão esquerda enquanto levantava a direita: — Uh, jovem, você sabe o que dizem…
Quando falou até ali, seu indicador direito se curvou levemente.
Pew!
Um franco-atirador disparou de uma janela distante oculta por uma cortina, a bala voou direto na cabeça de Li Huowang.
Então, uma sensação profunda o envolveu quando tensionou e torceu a cabeça.
Bam!
O corpo de Li Huowang tremeu quando sua cabeça voou para trás e caiu no chão.
— FILHO!! — Sun Xiaoqin gritou em desespero.
Li Huowang atingiu a nuca com força — ele sentiu os ouvidos zumbirem e viu estrelas na frente dos olhos.
Estou morto? Mas se estou morto, por que ainda consigo pensar?
Então, tudo ao redor escureceu. Ao mesmo tempo, os prédios e as pessoas a sua volta se transformaram numa floresta de bambu ao anoitecer.
Ele sentiu uma queimação no rosto. Havia sido ferido.
Porém, Li Huowang não teve tempo para se importar com isso. Ele ouviu a voz familiar. O Décimo Oitavo Lunar ainda estava aqui, olhando para ele de algum lugar da floresta de bambu.
Entretanto, quando olhou ao redor, só viu bambu. Estava cercado pelo bambu enquanto a parte inferior de seu corpo estava presa na lama com folhas de bambu apodrecendo.
— Li Huowang! Li Huowang!! — Vozes diferentes vieram da floresta de bambu. Ele conseguia ouvir Bai Lingmiao, Dan Yangzi e até Li Zhi.
Li Huowang teve o pensamento de que seus camaradas seguiram o comando e atacaram o Décimo Oitavo Lunar.
Porém, pelo que parecia, foi o contrário. Por algum motivo, ele foi deixado para trás.
Naquele momento, uma voz familiar soou das profundezas da floresta de bambu: — Velho~ Você já tem oitenta e quatro anos. O Rei do Inferno pode não ter te chamado ainda, mas não acha que já está na hora?
A voz do seu vizinho ressoou continuamente da floresta e ficou cada vez mais alta. Lentamente, começou a dominar a mente de Li Huowang, tentando mais uma vez mudar seu senso de si para a do moribundo velho.
O som de folhas sendo esmagadas foi ouvida da floresta. Li Huowang teve vislumbres da garotinha que viu ontem e também do Deus do Fogão que ela descreveu.
O Décimo Oitavo Lunar não estava sozinho. Tinha ajudantes.
Li Huowang ainda estava delirante sobre o que aconteceu. Seu coração estava sendo despedaçado devido à dor. Contudo, por algum motivo, sorriu, mesmo com o perigo bem na sua frente.
— Sabe de algo? Você pode achar que venceu, mas jamais deveria ter tentado me matar. Você sabe quanta dor e pesar meu coração está agora? — questionou Li Huowang.
Então, ele apertou a mão trêmula no peito enquanto gritava de dor: — É TÃO DOLOROSO QUE QUERO MORRER!
Imediatamente após falar isso, Li Huowang tirou o pergaminho de bambu das costas. No momento que abriu, sentiu a dor intensa no seu coração ganhar vida como se ressoasse com o pergaminho. A dor em seu coração, que havia diminuído quando voltou à realidade, começou a aumentar.
Simultaneamente, o pergaminho começou a se transformar à medida que raízes brotavam. Então, perfuraram o chão e as folhas de bambu enquanto tingia tudo ao redor de vermelho.
A mente de Li Huowang quase desabou de dor. A dor em seu coração mais uma vez alcançou o auge que experienciou minutos atrás.
Todavia, isto não foi o bastante. Desde que o pergaminho brotou raízes, agora elas precisavam germinar. A dor em seu coração não era o bastante. Tudo que restava era a dor sentida pelo seu corpo físico.
LI Huowang chorou enquanto seu interior desabava lentamente. Então, pegou as ferramentas de tortura.
Vendo isto, o grupo do Décimo Oitavo Lunar tentou impedi-lo; contudo, era tarde demais.