Capítulo 32 – Apenas Três Vezes (2)
A Tang Soyeol sempre foi única comparado aos outros; esta unicidade estava particularmente flagrante quando se observava sua infância.
Enquanto outros corriam atrás de cachorros e gatinhos fofos, ela procurava por répteis e lagartos.
Quando envelheceu, foi de perseguir cobras e lagartos para perseguir bestas como tigres.
Sua visão afiada, que lembrava de um animal feroz, a fazia parecer com um predador natural para animais fracos.
Era por isso que, no passado, quando a ideia de um casamento entre os Clãs Namgung e Tang foi proposta, ela apressadamente se opôs a ideia.
Tang Soyeol nunca gostou de Namgung Cheonjun.
Todos diziam que ele era lindo, mas…
Ele parece com um playboy.
Ela sentia nojo toda vez que olhava para ele.
Nunca caiu para a aparência de Namgung Cheonjun, e até sentia um pouco de aversão pela aura que ele liberava.
Ela sempre o achou… esquisito.
Para ela, sua gentileza sempre parecia misturada com motivos ocultos.
Ela não conseguia entender por que todos perdiam a cabeça com a aparência de Namgung Cheonjun.
Em comparação, Namgung Biah era uma pessoa muito melhor.
Embora fosse quieta e inexpressiva, Tang Soyeol sentia que ela era genuína. Namgung Biah sempre aceitou Tang Soyeol, mesmo quando ela a tratava rispidamente.
Tang Soyeol gostava da Namgung Biah, que a aceitou apesar de sua personalidade complicada.
Ela ficou tocada quando Namgung Biah manteve a promessa sobre vir para a próxima Exibição Militar de Tang.
Porém, se perguntou por que Namgung Cheonjun veio junto.
Sempre que a Namgung Biah ia a algum lugar, Namgung Cheonjun nunca ficava para trás.
Por quê?
Sempre que olhava para eles, Tang Soyeol tinha a sensação de que Namgung Biah não gostava tanto de seu irmão.
No entanto, sua expressão impassível dificultava descobrir como ela se sentia de verdade, e Tang Soyeol não sentia que estava em posição de perguntar sobre isto.
— Certo, Tangrang?
Grrr.
Um lobo enorme de pelagem preta rosnou, era um dos animais de estimação de Tang Soyeol.
Tang Soyeol suspirou suavemente enquanto acariciava seu animal.
— Você é tão adorável… queria que todos os homens no mundo fossem como você.
Enquanto desejava ser o caso, Tang Soyeol sabia que isto não era possível.
Namgung Cheonjun, o cara de Moyong, e o Peng Woojin do Clã Peng, tinham rostos gentis e suaves.
Por que todos parecem tanto com playboys?
Além disso, os sujeitos dos Clãs Namgung e Moyong a deixavam inquieta sempre que estava com eles. Quanto ao último…
Peng Woojin é apenas um esquisitão.
Tang Soyeol sentiu uma dor de cabeça ao lembrar das cenas de Tang Jooyeok e Peng Woojin causando problemas juntos.
Não admira que eu e a Peng Ahhee tenhamos nos tornado amigas próximas no primeiro encontro — temos irmãos mais velhos esquisitos…
Acho que a última vez que encontrei ela foi quando seu noivado foi anulado.
Esqueci com qual clã ela ia se casar; porém, acho que ela não me contou.
Tudo que Tang Soyeol lembrava era de Peng Ahhee dizendo que ele era um pedaço de merda, e que estava feliz pelo noivado ter sido anulado.
— … Existem homens legais em algum lugar?
Tang Soyeol, que atualmente estava passando pela puberdade, ansiava por um encontro romântico.
Na noite da chegada de Namgung Biah, Tang Soyeol a convidou para ver o lago.
O Lago Flor de Lótus era uma obra-prima do Clã Tang e era restrito — ninguém poderia entrar sem permissão.
A flor de lótus que flutuava acima da água era, no final das contas, uma erva sagrada valiosa.
Além do lótus em si, o lago e os peixes habitando eram todas iguarias de luxo.
Segundo Tang Jooyeok, o lago foi criado de maneira muito extravagante pelos profissionais.
Tang Soyeol concordou honestamente com a declaração.
Parecia super lindo… Contudo, além disso, não tinha nada a oferecer.
Enquanto estavam caminhando lentamente à noite, Tang Soyeol perguntou a Namgung Biah.
— Biah, como foi sua viagem?
— … Boa, embora tenha me perdido…
— … Você se perdeu de novo.
Namgung Biah era anormalmente talentosa em se perder.
Num momento ela estava no caminho certo e no seguinte estaria na direção errada sozinha.
Talvez seja sua personalidade sem emoção,Tang Soyeol pensou.
— Bem, pelo menos conseguiu chegar aqui… eu fiquei tensa.
— Eu tive uma companhia.
— Uma companhia?
— Sim.
Ela está falando das pessoas de um clã diferente que vieram junto?
Tang Soyeol ouviu que eles eram chamados de Clã Gu ou algo assim. Honestamente, não sabia deles.
Tudo que sabia sobre o Clã Gu era que o lugar era a casa do famoso Tigre Guerreiro, que a Fênix da Espada veio daquele clã, e que eram o clã mais poderoso de Shanxi.
Eles eram um clã que não realizavam muitas atividades externas, então Tang Soyeol não sabia muito sobre eles além daqueles três fatos.
Um descendente do Clã Gu vindo a Exibição Militar de Tang este ano também foi sem precedentes.
Talvez Tang Jooyeok saiba sobre eles, já que é o Jovem Lorde?
— Você quer dizer o Clã Gu?
— Sim…
Hã?
Por um segundo, Tang Soyeol pensou ter visto um sorriso no rosto de Namgung Biah.
Ela nunca a viu sorrir, nunca.
Elas continuaram sua caminhada noturna com uma brisa fria soprando ao redor delas.
Parecia que Namgung Biah não queria voltar, no fim das contas.
Então, elas pararam.
Sentiram uma presença adiante.
— … Não é o meu irmão.
Na verdade, havia duas pessoas.
Seus rostos não eram visíveis devido às sombras, mas não erram do Clã Tang.
— Quem são vocês?
Tang Soyeol perguntou.
Eles pareciam surpresos pela voz.
Não pareciam ser inimigos, então eram provavelmente convidados que vieram sem saber que o lago era uma área restrita.
— Este lugar é proibido para forasteiros.
A luz do luar revelou lentamente seus rostos.
Tang Soyeol parou após vislumbrar seus rostos — particularmente após olhar para o rosto do garoto.
Não, talvez seria melhor dizer que o tempo havia parado para ela naquele momento.
Thump! Thump!
Ela sentiu seu coração bater como louco, como se estivesse a beira de explodir.
O garoto tinha cabelos negros, olhos afiados e uma expressão que parecia levemente irritada. Lembrava o rosto de um animal feroz.
— S-Se não vai responder, eu vou chamar—
Minha voz está trêmula… gaguejei um pouco, ele notou?Tang Soyeol não entendeu por que estava nervosa de repente.
Namgung Biah, que estava quieta ao lado de Tang Soyeol, sussurrou sobre a identidade dele.
Ele era do Clã Gu.
— Sou Gu Jeolyub.
Falou o garoto.
Gu Jeolyub… Até seu nome é legal…
Espera, o que estou fazendo? O que estou dizendo!?
O que ele disse e como ela respondeu—
Ela não conseguia lembrar de nada.
Apenas queria que o batimento enlouquecido de seu coração parasse.
Tang Soyeol percebeu naquele momento que estava enrascada.
Isto não é bom; preciso sair daqui agora!
O garoto saiu antes que ela conseguisse reunir seus pensamentos, e Tang Soyeol fingiu que estava calma e passou a noite dessa maneira, mas, na verdade, não conseguia dormir.
No dia seguinte, Tang Jooyeok falou que ele convidou todos os jovens que vieram ao evento para uma refeição matinal.
Tang Soyeol sentiu-se energizada instantaneamente quando ouviu aquilo, mesmo após não conseguir dormir a noite toda.
Se acalme, por favor…
Ela mandou seu coração parar, mas o batimento continuou independente de seus desejos.
E se ele vier?
E se ele não vier?
E daí se ele não vier!?
Tang Soyeol não conseguia entender seus próprios pensamentos, e enquanto debatia consigo e sentava ao lado de seu irmão—
O garoto chegou.
Por algum motivo, ele estava com a mão no ombro de Namgung Cheonjun.
Eles eram amigos? A atmosfera entre eles, no entanto, provava o contrário…
A refeição começou um tempo depois, só que Tang Soyeol nem conseguia dizer se a comida estava entrando no nariz ou boca.
Seus olhos simplesmente estavam fixos no garoto.
Aqueles olhos afiados… Eles são tão legais…
Aww, ele não aguenta tempero.
Ah, ele está tossindo, que fofo.
Após alguns pensamentos ilógicos sobre ele, ela descobriu de repente que ela estava sentada ao lado do garoto.
Eu estou maluca…? O que estou fazendo e por que me sinto tão experiente nisto!?
Seu movimento para sentar ao lado dele — conscientemente ou não — foi um bom movimento, mas o problema veio depois na forma de sua voz baixinha.
Tang Soyeol estava enlouquecendo enquanto olhava para o rosto do garoto, que franziu um pouco porque não conseguia entender sua intenção.
Alguns servos uma vez falaram que se uma pessoa não se sentisse bem, começariam a sentir inquietação, e neste momento, ela finalmente entendeu o que queriam dizer.
Sinto que deveria dizer algo. Contudo, o que eu deveria perguntar…?
Existe algum veneno que você gosta? Sou boa com adagas, então gostaria de um duelo?
… talvez não isto.
Comida favorita? Sim, vamos perguntar algo normal.
— Jo-Jovem Mestre Gu, você… gosta de alguém—
— Irmão Tang, aquela lá embaixo é a área de treinamento?
As palavras que finalmente saíram da boca de Tang Soyeol foram abafadas pela voz de Namgung Cheonjun.
— Lady Tang, o que estava dizendo?
O garoto perguntou gentilmente, mas Tang Soyeol não conseguiu repetir a pergunta após dizer uma vez.
Apenas disse a si mesmo que um dia envenenaria o chá de Namgung Cheonjun.
Aquele cara até interferiu na área de treinamento.
De repente, quis ter uma luta amistosa com o garoto.
Tang Soyeol gritou sem saber, se opondo a ideia.
— Não!
O que ela queria dizer com “não”?
Bem, havia uma diferença na experiência, e definitivamente haveria uma diferença na habilidade.
O rosto… E se o rosto dele for machucado!?
Esse era o principal pensamento que Tang Soyeol tinha.
O que aconteceria se aquele rosto precioso fosse aranhado ou se algo do tipo acontecesse?
Se aquela aparência de besta desprezando tudo fosse machucada…
Tang Soyeol sentiu que faria de tudo para arruinar Namgung Cheonjun.
Apesar da objeção de Tang Soyeol, o garoto aceitou o desafio de Namgung Cheonjun.
Namgung Cheonjun falou que não usaria Qi e só um pé, mas ele ainda era o Espada Relâmpago.
Tang Soyeol se pergunto se ela conseguiria tocar nas roupas de Namgung Cheonjun se lutassem sem usar o Qi.
Aquela era sua reputação como um artista marcial.
Talvez a única pessoa que teria chance contra ele era a Fênix da Espada.
Durante aquele momento, Tang Soyeol só conseguia observar tensamente.
Eu deveria interferir se ele estiver prestes a se machucar? Mas com que fundamento?
Huh, sim, qual direito eu tenho…
Enquanto lutava com seus pensamentos no que fazer, Tang Soyeol olhou para Namgung Biah…
— Biah…?
A expressão de Namgung Biah estava a mesma de sempre, mas estava segurando o cabo da espada com a mão.
Seu rosto parecia um pouco diferente do normal e sua respiração parecia um pouco mais rápida também.
Era por causa do duelo do seu irmão mais velho?
Porém, ela não parecia estar olhando para ele.
— …!
De repente, os olhos de Namgung Biah arregalaram. Tang Soyeol se perguntou o que aconteceu, então virou imediatamente a cabeça para olhar.
— … Hã?
Tang Soyeol não conseguiu entender o que estava vendo.
A espada de madeira que estava rolando no chão, e Namgung Cheonjun, que estava de joelhos.
E então havia o garoto que estava olhando para Namgung Cheonjun.
Ela não sabia o que era, mas sentiu um formigamento.
Ela, sem saber, soltou a respiração enquanto sentia o arrepio.
A besta que vinha sonhando.
E daí se ele é fraco, aquele rosto é perfeito.
Isso foi o que Tang Soyeol pensou no começo, mas agora aqueles pensamentos mudaram.
O garoto perguntou a Namgung Cheonjun enquanto olhava para ele.
— Não vai pegar aquilo?
Com aquelas palavras, o garoto deu um passo na direção de Namgung Cheonjun.
E Tang Soyeol caiu instantaneamente de joelhos.
*****
Não consigo entender.
Aquele era o único pensamento passando pela mente de Namgung Cheonjun.
Por que soltei a espada…?
Após atacar seu ombro, vou atacar sua perna.
Ele estava pensando em como intimidaria o cara, e já estava se divertindo só de pensar nisto, então…
Por que… Por que soltei a espada?
Seu braço estava doendo.
Seu pulso estava vermelho.
Soltei a espada naquele curto momento? Mas então… por que não notei?
— Que incrível.
Namgung Cheonjun ergueu a cabeça para a voz.
O garoto que se aproximou agora estava olhando para ele.
— Gênios sempre tem um pensamento ou outro durante duelos. Se esta fosse uma luta real, você provavelmente já teria morrido três vezes, sabia disso?
Namgung Cheonjun estava prestes a responder, mas se afastou rapidamente.
Foi por causa do punho vindo.
Ele teve sucesso em esquivar, mas por causa da postura quebrada, não conseguiu evitar o próximo ataque.
O chute pousou no seu peito e o fez rolar no chão com um grunhido.
— Ughhh…
Enquanto lutava para respirar, a espada de madeira caiu em suas mãos.
— Pegue isso. Você falou que isto seria uma experiência de aprendizado para mim.
O garoto então bateu palma imediatamente depois.
— Oh, ou talvez eu que esteja te ensinando? Isso, estou bastante confiante.
Crack
A provocação vindo do rosto sorridente fez Namgung Cheonjun respirar bruscamente.
Então Namgung Cheonjun levantou o corpo, pegando a espada.
— Deixei minha guarda—
— Você não vai dizer que deixou a guarda baixa, certo? Não existe desculpa mais patética que essa para um artista marcial.
Namgung Cheonjun fechou a boca para as palavras do garoto.
Até ele sabia que era uma desculpa patética.
Ele então se calou e consertou a postura.
… Ele tem algum talento, no final das contas.
Ele havia subestimado demais o oponente.
Ele deveria saber que tinha algo considerando que era o irmão mais novo da Fênix da Espada.
Namgung Cheonjun deu um passo e posicionou a espada para enfrentar o oponente.
Ele estava ficando sério.
Desenhou um meio círculo, então executou um movimento de apunhalar, retraiu a espada e continuou a repetir o processo.
Foi um movimento que havia treinado por anos.
Graças ao treinamento, conseguiu ser impecável em seus movimentos e, ao mesmo tempo, ser firme.
Ele sabia que um dia representaria a Arte da Espada Veloz de Namgung.
O Zênite.
Era o mesmo nome que pertencia ao Venerável da Espada durante esta época, mas Namgung Cheonjun tinha certeza de que um dia seria aquele a herdar o título.
Foi dito que eu tenho mais talento com a espada que até o Lorde do clã.
Então, ele tinha certeza disto.
Porque sou um gênio.
Todavia, por que…
Por que não consigo tocar nele!?
Quantos golpes foram? Quantos ataques ele realizou?
A espada de Namgung Cheonjun definitivamente era rápida.
Não havia falha em seus movimentos, e os ataques contínuos não tinham ponto intermediário.
Enquanto sua respiração ficava mais áspera devido à raiva, Namgung Cheonjun retirou a espada.
Não havia motivo para ele estar perdendo contra aquele cara.
Mas então, por quê?
Como ele sabe onde ataco toda vez?
O garoto continuou esquivando com uma margem mínima.
A espada roçaria em suas roupas e cabelo.
Entretanto, jamais pousou diretamente nele.
Ele estava usando a quantidade mínima de movimentos possíveis para evitar os ataques, o que não significava que também não estava se cansando.
Não tinha como isto ser possível a menos que fosse melhor que Namgung Cheonjun.
Então qual era a resposta?
Este pedaço de merda… é mais forte que eu?
Os pensamentos de Namgung Cheonjun começaram a ficar sombrios enquanto sentia seu orgulho desabar.
… Quero matar ele.
O pedaço de merda que estava ganhando atenção da sua irmã perfeita.
O pedaço de lixo que estava evitando seus golpes como se não fosse nada.
Quero matá-lo.
Quando Namgung Cheonjun perdeu o controle do desejo de matar, canalizou um pouco de Qi na espada.
Apenas o bastante a ponto de que ninguém notaria.
Namgung Cheonjun então colocou todo seu poder no ataque seguinte, mirando na cabeça do garoto.
Poow!
— Urghhhh!
Namgung Cheonjun tremeu e caiu de joelhos.
Então, o garoto bateu no seu rosto.
Com um “Pa!” afiado, ele desabou.
— Bastardo.
O garoto, Gu Yangcheon, se aproximou e gritou.
Sua voz estava cheia de raiva.
— Eu ia te poupar, mas você, pedaço de merda, ousou usar Qi no ataque? Por quê? Você quer me matar?
Namgung Cheonjun não conseguia focar enquanto sangue fluía da cabeça.
— Uau, que sensação de merda é esta. Honestamente, não contive minha raiva mais de três vezes?
Enquanto Gu Yangcheon falava o que parecia ser uma pessoa desconhecida, chutou a virilha de Namgung Cheonjun, que estava rastejando para longe.
— Arghhhhhhhhh—!!!
— Gasp…!
Tang Jooyeok, que estava assistindo o tempo todo, vacilou sem perceber.