Capítulo 24 – Ganhos
Lumian não teve o luxo de descansar por muito tempo. Tinha que continuar se movendo, com medo de que outros monstros pudessem aparecer. Depois de parar um momento para recuperar o fôlego, suportou a dor no pescoço e nas costas e lentamente se aproximou do cadáver do monstro.
Ele segurou o machado com força na mão direita, pronto para atacar novamente se a criatura não estivesse totalmente morta.
Depois de revistar cautelosamente o corpo com a mão esquerda, encontrou três moedas de cobre chamadas “lamber” e um saco de pano vazio.
— É isso? — Lumian murmurou para si mesmo, desapontado por não ter encontrado nada relacionado a superpoderes.
Se não fosse por isso, ele teria arriscado a vida lutando contra esse monstro?
Se Lumian não fosse especial no sonho, nada mais seria do que a refeição do monstro.
Ele se apoiou e olhou para a cabeça do monstro que havia rolado para o lado, rezando para que o que ele procurava estivesse lá.
Naquele momento, um brilho carmesim profundo se materializou sobre o corpo do monstro.
Parecia vaga-lumes, convergindo gradualmente para um único ponto de forma inflexível.
Lumian ficou boquiaberto, incrédulo, quando uma sensação de euforia começou a crescer dentro dele.
Esse fenômeno tinha que estar ligado a superpoderes!
Sem muita demora, uma substância vermelha escura e pegajosa se materializou no peito do monstro, e nenhum ponto de luz adicional apareceu.
Lumian se agachou cautelosamente e tentou agarrar a bolha.
Era incrivelmente escorregadia, escorregando duas vezes antes de finalmente conseguir segurá-la na palma da mão.
“É extremamente leve, mas possui uma certa textura e elasticidade. A superfície parece tão lisa quanto vidro…”
— O que diabos é isso? — Lumian murmurou para si mesmo, percebendo mais uma vez que era completamente analfabeto quando se tratava de assuntos místicos.
No meio de sussurros abafados, Lumian sentiu o cheiro de algo estranho e vermelho-escuro que cheirava a sangue. Sua impaciência cresceu e uma malícia indescritível tomou conta de seu corpo.
Por um momento, não queria nada mais do que levantar o machado e atacar o cadáver do monstro até que suas emoções violentas se esgotassem.
Mas o alerta de Aurore sobre os perigos de perseguir superpotências ecoou em sua mente, e ele rapidamente controlou seus impulsos. Ele havia tomado precauções para se monitorar e permanecer vigilante o tempo todo, e não baixaria a guarda agora.
“Isso afeta minha mente?” Lumian jogou a bolha vermelha escura no saco de pano que encontrou no monstro.
No momento em que perdeu contato com ela, ele sentiu uma onda de calma tomar conta dele, dissipando a excitação restante do combate mortal.
Seu corpo ainda tremia ligeiramente, mas estava de volta ao controle.
— Como esperado! — Lumian sussurrou feliz enquanto voltava a si.
Ele amarrou o saco de pano com força e prendeu-o na fivela do cinto.
Após um momento de reflexão, Lumian retirou o saco de pano e guardou-o com segurança no bolso interno de sua jaqueta de couro.
Isso lhe proporcionou uma sensação de segurança e minimizou as chances de perdê-lo!
Quando os botões de suas roupas foram desabotoados, o livro que estava colado nas costas de Lumian perdeu o apoio e caiu no chão.
Estava cheio de buracos e em farrapos, muito longe de seu estado anterior.
Lumian o reconheceu como o caderno de exercícios “Documentos de exame simulado para admissão no ensino superior” que sua irmã Aurore havia preparado para ele. Este era o mesmo livro que salvou sua vida ao bloquear um ataque de espingarda.
É claro que este único livro não merecia todo o crédito.
Lumian pegou o caderno de exercícios e voltou para o corpo sem vida do monstro, com um sorriso irônico no rosto.
— Veja, conhecimento é realmente poder! — ele disse, pretendendo jogá-lo na cara do monstro. Mas então hesitou, lembrando-se das incontáveis horas que Aurore passou escrevendo. Ele não teve coragem de jogá-lo fora.
Em vez disso, enfiou o caderno no cinto, arrastou o cadáver do monstro para a armadilha e jogou-o dentro. Lumian chutou a cabeça do monstro para garantir.
Com o campo de batalha limpo, Lumian reuniu suas ferramentas, incluindo a espingarda vazia, o tridente e a pá, e retirou-se para a floresta.
Ele olhou por cima do ombro enquanto caminhava, sempre vigilante.
Eventualmente, voltou para sua casa, subiu as escadas e entrou em seu quarto.
Foi só então que realmente relaxou. A agonia que atormentava seu corpo, o desconforto óbvio e a exaustão avassaladora irromperam ao mesmo tempo.
Ele caiu na cama, demorando um momento para se recuperar. Mas não queria dormir ainda. Precisava avaliar os danos. Lumian tirou a roupa e foi até o guarda-roupa, olhando-se no espelho de corpo inteiro.
Seu pescoço estava inchado e as cinco marcas de dedos ensanguentados nele tinham adquirido um tom sinistro de preto azulado. Suas costas estavam machucadas e havia inúmeros arranhões e cortes por todo o corpo.
“Até mesmo alguns dos meus ferimentos são internos, assim como Aurore me avisou. Será que vou me recuperar na próxima vez que entrar?” Ele não pôde deixar de refletir sobre a batalha. Foi um fracasso, mas não um fracasso total.
Na primeira metade da batalha, ele consolou-se. Não apenas fez uso total do baixo QI do monstro para levá-lo à segunda armadilha, mas também seguiu seu plano original ao máximo. Era um jogo de gato e rato, e ele jogava com perfeição. Ele arrastou o monstro até que estivesse prestes a se render aos ferimentos. No entanto, sua falta de experiência foi sua ruína. Em vez de atirar pedras pesadas, optou por esfaquear o monstro com um forcado no fundo do buraco.
Na segunda metade da batalha, estava confiante demais e subestimou a inteligência do monstro. Sua insuficiente experiência de combate o fez cair na armadilha do monstro, que quase o matou.
Esse desempenho teria sido um desastre. Felizmente, seus sucessos anteriores levaram o monstro ao seu limite e não o mataram com rapidez suficiente. Isso lhe deu a chance de completar sua meditação e invocar sua característica especial.
Antes desta batalha, Lumian não esperava que a característica especial tivesse um efeito tão poderoso. Ela fez com que o monstro caísse em um medo incontrolável, tão paralizado apesar de sofrer ataques.
Ele temia que o estado de quase morte provocado pela convocação da característica especial o tornasse vulnerável a ataques.
“Mas acabou sendo especial e muito forte…” Ao suspirar, Lumian teve uma revelação.
Os monstros nas ruínas evitaram sua casa e fizeram dela uma zona segura porque havia algo ainda mais assustador lá dentro. Poderia ser o dono da voz misteriosa que ouviu quando convocou a característica especial!
Lumian engasgou com o pensamento.
Seu subconsciente o incentivou a procurar em todos os cantos da casa aquela coisa aterrorizante, mas rapidamente descartou a ideia.
Provocar o ser contra o qual até mesmo o monstro empunhando a espingarda estava indefeso não era uma opção.
Por enquanto, tudo estava calmo e em paz, e era melhor continuar assim. Ele tinha que manter o estado atual da casa segura e não descobrir os segredos.
O tempo não parava, e quanto aos perigos que poderiam estar por vir, ele os enfrentaria quando chegasse a hora.
“Não, não até eu me tornar um Beyonder e ganhar um poder significativo.” Lumian olhou para o saco de pano na mão esquerda.
Mesmo enquanto Lumian examinava seus ferimentos no espelho, sem camisa, ele se recusava a abandonar a fonte dos superpoderes. Ele havia trabalhado muito duro para obtê-lo.
“Como devo usar essa coisa?” ele se perguntou, abrindo o saco de pano e olhando para a mancha vermelha escura dentro dele.
A bolha ainda estava no fundo do saco, sua forma instável, mas claramente não viva.
Lumian, que nada sabia de misticismo, questionou-se se deveria comê-lo, realizar um ritual para se fundir com ele ou oferecê-lo a alguma entidade secreta.
Ele só conhecia as duas últimas opções ao ler Véu Oculto. No passado, ele só teria pensado em uma coisa: — Coma!
Lumian não se apressou em tomar uma decisão. Pretendia procurar primeiro o conselho da enigmática mulher do Antigo Bar.
Ele estava convencido de que a mulher lhe daria pistas sobre como aproveitar o poder da esfera vermelha escura e ganhar habilidades sobre-humanas.
Lumian percebeu que a outra parte tinha um motivo para fazer isso, apesar de não saber qual era.
Se as coisas não dessem certo, ainda poderia contar com a ajuda de sua irmã.
Depois de se vestir tranquilamente, Lumian guardou o pedaço vermelho no bolso do casaco, junto com todo o dinheiro que havia adquirido.
Finalmente, deitou na cama, exausto demais para se mover. Apesar da agonia em seu pescoço, costas e corpo, uma fadiga avassaladora tomou conta dele e ele adormeceu num piscar de olhos.
……
Ao abrir os olhos, Lumian ficou cego pela luz do sol que já havia penetrado pelas cortinas, iluminando todo o quarto.
Sentando-se lentamente, sentiu todo o corpo dolorido, como se tivesse levado uma surra em um sonho.
“Eu realmente fui espancado… Os ferimentos no sonho realmente se refletem na realidade, mas há um nível óbvio de enfraquecimento…” Tentando se movimentar, ele sentiu seus músculos doerem um pouco, mas finalmente ficou aliviado por não ter sido muito afetado.
No entanto, quando ele enfiou a mão nos bolsos…
— Nada… Nada mesmo! — Lumian não conseguiu sair com a bolha carmesim.
Sua expressão tornou-se solene, suas sobrancelhas franzidas com força. Lumian não sabia o que fazer.
A bolha carmesim, um item que prometia superpoderes, não o acompanhou até a realidade. Isso era diferente do que a misteriosa mulher do Antigo Bar havia dito.
Lumian se recompôs, trocou de roupa rapidamente e saiu do quarto.
Enquanto caminhava pelo corredor, percebeu que a porta do banheiro estava aberta. Aurore estava de frente para o espelho, escovando os dentes com uma expressão séria no rosto.
— Bom dia, — Lumian cumprimentou.
— Não está cedo. Você acordou tarde… — Aurore murmurou incoerentemente.
Splash! Seu cabelo loiro, preso em um rabo de cavalo, balançava enquanto ela cuspia o líquido na boca.
Ela se virou para olhar para Lumian.
— O que você fez de errado ontem à noite?
— Aquela coruja está lá fora. Como eu ousaria sair? — Lumian respondeu calmamente.
— Isso é verdade. — Aurore abandonou o assunto e disse: — Lembre-se de levar cinco verl d’or ao administrador para enviar um telegrama mais tarde.
Lumian assentiu.
Esta era a chave para escapar de Cordu e era algo que ele nunca esqueceria.
Após o café da manhã, Lumian foi direto para a praça da vila, onde ficava o escritório do administrador em um prédio de dois andares.
Ao chegar ao escritório, Lumian descobriu que o Administrador Béost ainda não havia chegado, mas o restante da equipe já havia iniciado o trabalho do dia.
Lumian pagou a taxa exigida e prontamente enviou um telegrama. Depois de concluir seus negócios, Lumian virou-se e começou a caminhar em direção ao Antigo Bar.
Era altamente improvável que a mulher enigmática já estivesse de pé, mas Lumian estava mais do que feliz em esperar a hora certa.
Sua busca por superpoderes havia sido prolongada, então mais alguns tiques no relógio não o perturbaram.