Capítulo 26 – Denúncia
A mulher mordiscou um croissant antes de responder à pergunta de Lumian.
— Sim.
“Ela realmente sabe…” O coração de Lumian saltou de esperança. Ele refletiu sobre suas palavras antes de perguntar, usando títulos honoríficos para mostrar seu respeito: — Posso oferecer pagar um determinado preço para encomendar sua ajuda na solução do problema de Cordu?
Do ponto de vista dele, essa misteriosa mulher era muito mais forte que Leah e seus companheiros. Se ela concordasse em ajudar, o problema com Cordu seria resolvido e ele e a irmã não teriam que arriscar a vida para escapar. Mas ele estava preocupado por não poder pagar o preço.
Lumian não estava otimista quanto à possibilidade de a mulher concordar em ajudar. Mas ele sentiu que era necessário tentar. Mesmo se fosse rejeitado, ele não ficaria muito envergonhado. Ele não era um defensor dessas coisas.
A mulher virou-se para ele e falou calmamente: — Posso resolver o problema aqui, mas o preço correspondente é que tudo será destruído, inclusive você.
— Se você quer um resultado melhor, só pode confiar em si mesmo.
Os olhos de Lumian se arregalaram em descrença. O problema com Cordu poderia ser tão sério? Ele procurou no rosto da mulher qualquer sinal de brincadeira, mas não encontrou nenhum.
Ele não ficou surpreso ou desapontado por ela se recusar a ajudar. O que o chocou foi a gravidade do problema. Poderia até levar à destruição de toda a vila!
Ele ficou intrigado e alarmado com a situação. “Já que ela pode resolver isso, por que toda a vila morrerá, enquanto nós, pessoas comuns e Beyonders, que não somos fortes o suficiente, somos capazes de produzir um resultado melhor?”
Se ele não recebesse uma resposta da Novel Semanal depois de amanhã, ele pediria à irmã que deixasse Cordu imediatamente. Não poderia demorar mais, mesmo que isso significasse correr um risco enorme! Ele tinha que agir rápido!
— Qual é o problema? — Lumian pressionou, sua dignidade nunca foi uma prioridade.
A mulher sorriu.
— Eu contando a você e você descobrindo através de suas investigações dará origem a resultados completamente diferentes.
Lumian cerrou os dentes instintivamente. Ele não suportava o comportamento dela de sempre esconder alguma coisa.
Por alguma razão, sentiu aquela sensação peculiar nos olhos da mulher, algo que ele não conseguia definir.
— OK. — Lumian parou por um momento, pesando cuidadosamente suas palavras. — Você tem alguma informação sobre Madame Pualis? Ela é uma Bruxa… uh, uma Beyonder?
A mulher levou a xícara de café aos lábios e tomou um pequeno gole antes de responder: — Sim, ela é.
“Na verdade…” Lumian perguntou ainda: — Qual caminho, qual sequência?
A expressão da mulher ficou séria num instante.
— Não é um caminho normal.
— O que você quer dizer com não é um caminho normal? — ele pressionou.
A mulher sorriu.
— Você descobrirá mais tarde.
“Quero saber agora…” Lumian lutou para manter a expressão sob controle.
Já de pé e prestes a sair, Lumian de repente se lembrou de algo crucial.
— Madame, como vou trazer esses ingredientes complementares para o sonho?
Nas ruínas dos sonhos, ele só conseguia encontrar ingredientes básicos como vinho tinto e manjericão nas ruínas dos sonhos, mas para a flor da castanha vermelha e a folha de choupo, ele teria que coletá-los na realidade.
A tarefa não era impossível e Lumian já havia pensado em uma forma de “pegá-los” emprestados, mas sabia que tudo seria em vão se não conseguisse transferi-los para o seu sonho.
A mulher sorriu e disse: — Vou lhe oferecer uma ajudinha novamente, de graça.
— Encontre esses materiais na realidade, coloque-os na mesa do seu quarto antes de dormir. Vou ajudá-lo a enviá-los para o seu sonho.
“Ela pode enviar essas coisas para o meu sonho?” Lumian ficou primeiro chocado antes de sentir uma onda de alívio tomar conta dele. Pelo menos seu problema foi resolvido.
Ele nunca pensou que encontraria outra pessoa com a habilidade de entrar no mundo especial dos sonhos como ele poderia.
Lumian não conseguia afastar a sensação de que sua capacidade de entrar nas ruínas dos sonhos tinha algo a ver com os símbolos enigmáticos gravados em seu peito. Ao olhar para a mulher à sua frente, ele não pôde deixar de se perguntar se ela estava ligada àquelas mesmas marcas ou àquela voz bizarra e aterrorizante que ecoava em sua mente.
Lumian tinha acabado de sair do Antigo Bar e tinha planos de coletar a Flor da Castanha Vermelha e as Folhas de Choupo.
Mas ao virar a esquina, viu Ryan, Leah e Valentine saindo pela porta dos fundos do bar. Eles ainda estavam vestidos com as mesmas roupas e trajes.
O coração de Lumian acelerou quando ele os cumprimentou com um sorriso.
— Bom dia, meus repolhos.
Leah virou a cabeça e riu em meio aos sons tilintantes.
— Você também chegou cedo.
Lumian tentou agir sorrateiramente e olhou em volta antes de falar em voz baixa.
— Percebi algo incomum ontem.
A expressão de Ryan ficou séria enquanto trocava olhares com Valentine e Leah.
— O que é?
A voz de Lumian tremeu ligeiramente enquanto ele falava.
— Suspeito que a morte de Naroka seja anormal. Você compareceu ao funeral dela ontem.
Ryan lançou a Lumian um olhar encorajador para continuar, e Lumian respirou fundo antes de prosseguir com suas suspeitas.
— Eu te falei sobre os costumes funerários na região de Dariège, não foi? Depois que todos foram ao cemitério, Pons Bénet entrou na casa de Naroka sem qualquer objeção do proprietário.
— Isso não está destruindo a influência do destino da família e tirando a providência correspondente?
— Deve haver algo errado!
— Pons Bénet, o irmão do padre? — Ryan pensou por alguns segundos e perguntou.
Lumian assentiu pesadamente.
Enquanto Lumian pensava no estranho grupo do padre e em sua partida iminente de Cordu, percebeu que não tinha nada a temer em falar o que pensava. Respirando fundo, declarou: — O padre não é um bom homem!
— Por que você diz isso? — Leah perguntou com um sorriso, claramente surpresa com as críticas de Lumian ao padre.
Não gostando de formalidades, Lumian lançou um relato detalhado de um aldeão que delatou em Dariège e posteriormente desapareceu. Seu foco estava nas acusações contra o padre e ele não escondeu nada.
Finalmente, ele disse: — Eu realmente questiono como ele é um clérigo da Igreja.
— Uma vez eu disse algo verdadeiro e tive que me esconder temporariamente na catedral.
— Eu estava prestes a cochilar atrás do altar quando o padre entrou com Madame Pualis. E deixe-me dizer, eles estavam cometendo uma ação suja bem sob o olhar da divindade.
— Na conversa que se seguiu ao feito, o padre chegou a lamentar-se com Madame Pualis, dizendo: ‘Por que um homem não pode casar com a irmã?’
— Madame Pualis ficou chocada com suas palavras e implorou ao padre que se arrependesse.
— No entanto, o padre disse: ‘Muitas famílias ricas perdem suas fortunas quando suas filhas se casam e seus filhos constituem famílias. Mas se um filho pudesse se casar com sua irmã, esses problemas desapareceriam. Infelizmente, a lei e a moral não permitem isso’…
O rosto frígido de Valentine se contorceu de raiva com a notícia.
— Ele é um servo de Deus ou um servo do Demônio?
Ryan assentiu como se estivesse pensando.
— Não é de admirar que Pons Bénet não tenha conseguido constituir família, apesar de estar casado depois de todos esses anos…
Leah examinou Lumian enquanto ela ria.
— Você sabia sobre Madame Pualis e o caso do padre. Você queria nos usar naquele dia.
O sorriso de Lumian era inquieto, mas seu tom era resoluto.
— Como crente no Eterno Sol Ardente, não posso tolerar tal pessoa na catedral.
A expressão fria de Valentine suavizou-se e ele assentiu com aprovação.
— Se ao menos Cordu tivesse mais pessoas como você.
“Mais alguns como eu?” Lumian estremeceu ao pensar em Cordu invadida por mais pessoas como ele.
Ele continuou: — Naquela época, ouvi o padre avisando Madame Pualis que ele estava planejando algo e poderia ser alvo da Inquisição. Ele disse a ela para ter cuidado e ficar quieta.
A expressão de Ryan tornou-se solene.
— Ele disse mais alguma coisa sobre isso?
— Não. — Lumian não inventou o assunto.
Ele não podia arriscar dizer mais do que isso. Se dissesse, problemas poderiam surgir esta noite. Ele nem era um Beyonder ainda.
Depois de se despedir do trio de estrangeiros, Lumian passou horas colhendo Flores de Castanha Vermelha e Folhas de Choupo.
À medida que o sol se aproximava do seu ápice, Lumian chegou à praça da aldeia e dirigiu-se ao edifício de dois andares onde eram realizados os negócios oficiais.
A maioria dos aldeões já estava reunida, aguardando ansiosamente a seleção da Elfa da Primavera, uma parte importante da próxima celebração da Quaresma de amanhã.
Espremendo-se no meio da multidão, Lumian avistou Reimund, Ava e os outros.
— Ava está na lista? — ele perguntou.
Ava permaneceu em silêncio, sua agitação era palpável. Reimund balançou a cabeça. — Não sabemos.
— Ela deve estar, — interveio Guillaume Berry, companheiro frequente de Lumian e dos outros. — Entre as mulheres solteiras da aldeia, além de sua irmã, ela é a mais bonita. Sua irmã não atende aos requisitos de idade.
Ele era o Guillaume-júnior de quem Lumian e os outros falavam. Ele saía com eles frequentemente. Guillaume tinha cabelos castanhos cacheados e sardas proeminentes no rosto. Seus olhos azuis pareciam estreitar porque não eram grandes o suficiente.
A prima de Ava, Azéma, também estava por perto, parecendo muito com Ava, mas menor e menos impressionante.
Ela permaneceu em silêncio, mas Lumian sentiu seu desejo de ser escolhida como Elfa da Primavera também.
Na área de Dariège, ser escolhida como a Elfa da Primavera era uma honra cobiçada que não apenas reconhecia a beleza e o caráter de uma pessoa, mas também trazia benefícios ocultos.
Ao ouvir as palavras de Guillaume-junior, Lumian sorriu.
— Se Ava não estiver na lista, gritarei: ‘Eu voto em Ava!’ quando o administrador terminar de ler.
Ava corou. — Você não precisa fazer isso.
Era um processo normal para os aldeões gritarem candidatos adicionais depois que o administrador terminasse de ler a lista de indicados para a Elfa da Primavera. No entanto, poucos tinham coragem. Lumian, no entanto, não se esquivava de tais coisas.
Ele não tinha dúvidas sobre isso.
“Ava será quem ficará envergonhada, não eu.”
Pouco depois, o administrador Béost apareceu numa janela do segundo andar, parecendo muito mais arrumado do que o padre. Seus cabelos castanhos bem penteados, olhos azuis claros com linhas pretas, nariz reto, lábios finos e bigode bem cuidado transmitiam seu status, acentuado por seu casaco trespassado.
Ele olhou para os aldeões reunidos por um momento antes de falar.
— Senhoras e senhores, chegou a hora. Quem se atrasar não terá mais direito de voto.
— A seguir, lerei a lista de candidatas para Elfa da Primavera.
— Ava Lizier…
Enquanto Béost lia a lista, Ava deu um suspiro de alívio.
Não é novidade que ela recebeu mais de 80% dos votos.
Após a votação, Lumian deu uma desculpa sobre a necessidade de voltar para casa e saiu sem comemorar com os companheiros.
Ao chegar em casa, ele imediatamente perguntou à irmã: — Recebemos resposta?
Se tivessem, o telegrafista a teria entregue e cobrado uma taxa.
— Ainda não, — respondeu Aurore, balançando a cabeça.
Ela então disse: — As tendências têm sido turbulentas ultimamente. Você não pode baixar a guarda durante o treino de combate. Falando nisso, vamos treinar à tarde.
Lumian estremeceu, sentindo-se todo dolorido.
Mas então uma ideia lhe ocorreu. Ele fez uma expressão de dor e disse:
— Não sei se é porque tenho treinado muito, mas todo o meu corpo está doendo hoje. Aurore, uh, irmã, você pode me fazer uma massagem?
Aurore assentiu. — Claro, eu posso fazer isso.
……
Sob as mãos habilidosas de sua irmã, o corpo de Lumian finalmente começou a se recuperar naquela noite.
Antes de adormecer, Lumian colocou três flores de castanha vermelha e algumas folhas de choupo em pó em uma garrafa sobre a mesa em frente à janela.
Ele olhou para a garrafa por um longo momento, seu coração batendo com expectativa e nervosismo, antes de finalmente se enfiar sob as cobertas.