Prólogo
A menina que está olhando para seu próprio reflexo no espelho
Hoje é dia 31 de março.
Este é o último dia que eu poderei vê-lo, aquela pessoa — meu irmão, nesta escola.
“Minha cara está horrível”
Eu olhei para meu rosto refletido no espelho. Uma expressão sombria e depressiva me olhou de volta.
A razão para tal é provavelmente por quê eu quase não dormi na noite passada.
Eu me pergunto sobre quanto tempo eu e meu irmão gastamos conversando um com o outro nesta escola.
Estamos nesta escola há um ano, e o tempo que conversamos não chega a ser nem mesmo poucas horas.
É uma relação tão difusa.
Não há o que fazer se as pessoas me ridicularizem por causa disso, dessa relação que é ainda menos do que uma amizade.
Um irmão mais velho e uma irmã mais nova, duas existências tão próximas, embora eu e ele sejamos tão distantes que as pessoas não acreditariam que somos irmãos de sangue.
“É realmente certo me separar do meu irmão assim?” Eu perguntei para minha imagem no espelho.
Claro, não obtive nenhuma resposta.
Havia somente eu, com uma expressão sombria, olhando de volta.
Eu nem mesmo precisei olhar nos olhos dela para perceber que ela estava me acusando de algo.
Há muitas coisas que eu gostaria de falar sobre com meu irmão.
Não há como dá adeus a ele com nossa relação assim. Não é aceitável!
Eu já tinha pensado nisso antes, mas já fazia um ano. E no fim, depois de ter feito tudo que podia, não consegui conversar com ele.
Mas…agora é diferente. Eu posso apropriadamente encará-lo, então posso o encontrar sem estar com vergonha de mim mesma.
Eu posso apenas chamá-lo e entregá-lo minhas ultimas despedidas com confiança.
“Não… Você não pode.”
Atualmente, eu nem mesmo tenho as qualificações necessárias para convidar ele para sair.
Obviamente, nossa relação mudou.
Eu consegui fazer meu irmão olhar para mim. Mas…
Eu não estou pronta para mostrar meu crescimento nesse ano ao meu irmão, pois eu mudei quase nada.
Mesmo se eu o convidar para sair, ele provavelmente não ficará feliz com isso.
Em vez disso, só acabará deixando-o preocupado por ter uma irmã mais nova incompetente.
Com tudo isso em mente, decidi que não deveria deixar que esses sentimentos fúteis desperdiçassem o tempo da vida escolar do meu irmão.
“Não seria melhor não ir vê-lo afinal?” Terminei pensando assim.
Não posso causar problemas ao meu irmão devido ao meu egoísmo…
“Não, não é certo, isso não melhoraria nada, certo?!” Mais uma vez, pergunto ao meu reflexo.
Não sou capaz de mostrar nada a meu irmão.
Mas não significa que fugir seja a resposta correta.
Se eu pudesse contar pra ele com confiança que estou bem, tudo seria resolvido.
Então… O que eu deveria fazer? Qual é a coisa certa a se fazer?
Eu queria ter percebido minha tolice mais cedo.
E se eu conseguisse perceber isso logo após entrar na escola? “Não há sentido em ficar pensando no que já passou…”
Já passava das oito da manhã. Meu irmão irá partir ao meio dia.
“O que eu posso- O que eu deveria fazer?”
Seria bom apenas mostrá-lo meu eu atual, eu pensei.
Mas quem eu sou atualmente não é verdadeiramente eu, e ainda assim continuo o perseguindo, e apenas ele. Uma irmã muito idiota e inútil.
A minha imagem refletida no espelho desapareceu e sobrepôs meu próprio passado.
“Eu… Quem no mundo… Eu sou?” Sim.
O que estava sendo refletido no espelho era eu, mas não eu próprio.
“Uma farsa”
Pensando sobre isso agora, o fato é que eu perdi mais da metade da minha vida vivendo uma mentira.
Eu estava escondendo meu eu verdadeiro, continuando nessa farsa.
A farsa de ‘Uma irmã que anseia por seu irmão’.
Minha aparência, minha personalidade, minhas conquistas, tudo para meu irmão.
Eu fiz uma personagem com o objetivo de fazer meu irmão me reconhecer.
Eu nunca seria aprovada por ele com uma falsificação como essa. Não, não é isso. O ‘eu’ naqueles anos era definitivamente eu.
Eu não posso chamar algo assim de mentira.
Deve ter sido uma vida curta, mas vivi metade dela verdadeiramente, por assim dizer.
Por isso eu não devo me arrepender de quem eu sou agora.
Mas…
“O que eu quero mostrar pra ele… O que eu realmente quero que meu irmão veja é…”
A única coisa que eu quero mostrá-lo. Eu sinto que já compreendi isso.
“…obrigada. Meu eu falso, mas sem dúvidas, meu eu real.” Virei-me para o espelho, para mim mesma e fiz uma reverência. Meu cabelo comprido estava balançando.
Então eu levantei minha cabeça e desviei meu olhar do espelho. Meu confronto com meu passado terminava aqui.
Não me resta muito tempo.
Tem algo que até mesmo alguém como eu, deve fazer. O último e mais importante fato que eu tinha entendido. Para lhe dar paz de espírito antes de sua nova jornada. Meu último presente para ele.