Capítulo 127: O Mestre da Torre Verde (4)
Naquela noite, um convidado inesperado chegou à Torre Mágica Vermelha.
— Porque se eu tivesse avisado sobre minha intenção de visitá-lo, tenho certeza de que você teria recusado. — falou o Mestre da Torre Negra, Balzac Ludbeth.
Tirando seu chapéu de feltro preto, Balzac sorriu para seus hostis anfitriões.
Eugene e Lovellian não retribuíram o sorriso. Os cantos dos lábios de Lovellian estavam virados para baixo e Eugene tinha uma expressão ainda mais flagrante de insatisfação no rosto.
Embora a reação deles à sua presença fosse bastante dura, Balzac estava acostumado a tal tratamento.
— Tudo bem se eu entrar? Ou então, gostaria de sair para passear comigo? — Balzac perguntou educadamente.
Lovellian relutantemente respondeu à sua pergunta: — Você não está aqui para me encontrar, está?
— Haha, por favor, não fique muito desapontado. — Balzac riu. — Se o Mestre da Torre Vermelha estiver bem comigo, ficarei feliz em acompanhá-lo a qualquer momento.
Embora Balzac tenha dito essas palavras com um sorriso, a expressão de Lovellian endureceu drasticamente. Assim como Eugene, Lovellian também não tolerava muito os magos negros. Mesmo que ele não considerasse todos os magos negros e demônios absolutamente maus, Lovellian definitivamente não acreditava que poderia se tornar amigo deles.
— Existe alguma maneira de recusarmos você? — Eugene perguntou.
— Se você me recusar hoje, voltarei amanhã. — Ameaçou Balzac.
— Mas pretendo voltar amanhã à propriedade principal.
— Nesse caso, parece que só temos tempo para isso hoje. Por acaso, você está livre agora? Se não, o amanhecer também funciona para mim.
Isso significava que Balzac estava determinado a ocupar parte de seu tempo, não importava como. Eugene tossiu e olhou para Lovellian.
— Já que está escurecendo, se você realmente precisa conversar, então vamos entrar. — Admitiu Lovellian.
A Torre Vermelha era território de Lovellian. Enquanto permanecessem dentro dela, era possível que ele pudesse intervir, independentemente do tipo de situação que ocorresse. Era improvável que o Mestre da Torre Negra fosse fazer algo muito absurdo, mas Lovellian simplesmente não podia confiar nesse misterioso mago negro.
— Por favor, entre. — Eugene também relutou em convidar Balzac para entrar.
No entanto, ele também estava curioso sobre que tipo de assunto poderia fazer um mago negro como Balzac vir visitá-lo pessoalmente. Especialmente porque Balzac era um mago negro com um contrato pessoal com o Rei Demônio do Encarceramento. Talvez ele estivesse ali para trazer uma mensagem do próprio Rei Demônio do Encarceramento?
— Em todos os meus anos, pensar que chegaria um dia em que eu poderia entrar na Torre Mágica Vermelha. — Balzac maravilhou-se, aparentando bom humor. Enquanto olhava ao redor dos espaçosos aposentos de Eugene, ele continuou falando: — Como Sir Eugene já deve saber, o Mestre da Torre Vermelha não gosta muito de mim.
Eugene defendeu seu mestre: — Mas ele tem motivos para isso, não é?
Balzac assentiu.
— Sim, é por isso que não me aborreço com esse tratamento. O ódio do Mestre da Torre Vermelha é um ódio dirigido a todos os magos negros. Esse é um fardo que todos nós devemos compartilhar.
Eugene também estava ciente do motivo pelo qual Lovellian odiava os magos negros.
Lovellian havia perdido sua família para os experimentos humanos de um mago negro. Ele tinha visto sua própria mãe, pai e irmã mais nova sendo transformados em uma quimera contorcida bem na frente de seus olhos. Se não fosse pelo mago que apareceu para caçar o mago negro em sua própria dungeon, Lovellian também teria se transformado em quimera.
Eugene perguntou a ele:
— Você não acha que a própria existência dos magos negros é considerada errada?
— Muita gente comete pecados. — Respondeu Balzac, sentando-se numa cadeira. — Mas não importa quantas pessoas cometam pecados, não se pode dizer que a existência da humanidade como um todo está errada.
— Você está realmente tentando dizer… Que embora existam magos negros que cometem pecados, também existem magos negros bons? — Eugene disse essas palavras com desgosto. — Mas, aos meus olhos, a própria existência do mago negro é um pecado.
Balzac apenas riu.
— Haha… Não era minha intenção começar tal debate dizendo isso.
Não importava como você olhasse para isso, as palavras de Eugene eram rudes. No entanto, Balzac não expressou nenhum descontentamento. Em vez disso, seus olhos brilharam como se ele estivesse se divertindo enquanto olhava para Eugene.
— O objetivo que estamos perseguindo é diferente… É o que eu gostaria de dizer. Mas, como Sir Eugene já deve saber, não são apenas os magos negros que conduzem experimentos humanos. Inúmeros magos ao longo da história cometeram crimes terríveis e quebraram todos os tipos de tabus para tentar obter iluminação esotérica por meio dessas tentativas. — Argumentou Balzac.
— No entanto, eles nunca assinaram um contrato com um Rei Demônio. — Eugene apontou.
Balzac de repente expressou uma opinião surpreendente. — Na era atual, os Reis Demônios não são muito diferentes dos deuses.
Eugene instintivamente se sentiu ofendido por essas palavras.
Balzac continuou.
— Bem, isso é claramente uma blasfêmia, então não poderei me defender mesmo se for repreendido por isso, mas… Na minha opinião, os Reis Demônios são realmente melhores que os deuses.
— Como assim? — Exigiu Eugene.
Balzac começou sua argumentação.
— Todos os deuses precisam começar provando sua existência. No entanto, já sabemos que os Reis Demônios existem. Não no vago ‘paraíso’, mas nesta mesma terra, eles podem ser facilmente encontrados em Helmuth.
Embora fosse ofensivo, Eugene não podia negar tais palavras.
— É claro que os deuses podem conceder milagres, mas… Ao invés de seus milagres não confiáveis, não é muito melhor ter um Rei Demônio que reina sobre você pessoalmente e pode ser visto a qualquer momento? Além disso, os Reis Demônios são razoáveis. Em vez de coisas como crença e fé, um contrato feito usando a alma como garantia é mais confiável e valioso. — argumentou Balzac.
— Vale muito a pena, hein… — Eugene repetiu com ceticismo.
— Simplificando, magos negros são apenas pragmáticos que buscam eficiência extrema. — Balzac resumiu. — Como Sir Eugene deve saber, a magia é uma disciplina dura, caprichosa e irracional. Não importa o quanto você tente ou o quanto anseie por isso, se não tiver talento, não poderá se tornar um mago.
Com essas palavras, Eugene se lembrou de Eward.
— Para essas pessoas, os contratos com o povo demônio tendem a parecer muito atraentes. Ao vender sua alma, eles podem obter a magia que tanto desejam… O único custo é aquele que eles mesmos devem pagar. Não faz mal aos outros. — Insistiu Balzac. — Só quando não se contentam com isso é que podem cometer ‘pecados’.
— E os magos negros que cometem muitos pecados, você está querendo dizer que é também porque eles são pragmáticos? — Eugene desafiou sarcasticamente.
— Se houver um lucro claro a ser obtido pela violação da moralidade humana, então é possível que eles cruzem esse limite para buscar a verdade. Mas isso é verdade para a maioria dos magos. — Balzac rebateu.
Como Balzac disse uma vez há muito tempo, ‘Pessoas como os magos podem facilmente sacrificar algo como a moral para satisfazer sua própria curiosidade e desejo.’ Ou, para colocar em termos simples, há muito mais ‘magos’ aberrantes do que ‘magos negros’ aberrantes.
Mudando de assunto, Eugene perguntou:
— Sir Balzac também assinou um contrato com o Rei Demônio para benefícios práticos?
— Hmm… — Balzac murmurou pensativo, um leve sorriso aparecendo em seus lábios enquanto ele inclinava a cabeça pensativamente. — Você já ouviu muitas coisas sobre mim?
— Ouvi dizer que você já foi aluno junto do Mestre da Torre Azul. — Revelou Eugene.
— Não é como se estivéssemos sob o mesmo mestre, mas… Sim, eu também já fui membro da Torre Mágica Azul. — Balzac confirmou.
— De acordo com o Mestre da Torre Azul, quando você ainda era um membro da Torre Azul, suas habilidades eram consideradas bastante impressionantes. — Eugene mencionou.
— Haha… Embora possa parecer que estou me gabando, sim, essa é a verdade. Quando eu ainda estava na Torre Azul, tive um desempenho muito melhor do que o atual Mestre da Torre Azul… do que Hiridus. Se eu tivesse passado mais alguns anos lá, teria me tornado o Mestre da Torre Azul em vez de Hiridus. — Balzac calou-se por alguns instantes, batendo no braço da cadeira, antes de continuar: — Porém… É que, em vez de me contentar com o que ia cair naturalmente em minhas mãos, o que eu queria era mais do que isso.
— Mais que isso? — Eugene repetiu curiosamente.
— Não sou a Sábia Sienna. — Balzac de repente mencionou o nome dela do nada.
Eugene franziu a testa, sem entender o que ele quis dizer com isso.
Balzac riu e continuou falando.
— A Sábia Sienna é amada pela magia. A Senhorita Sienna era uma maga que poderia até representar uma ameaça para um Rei Demônio, mas desde o nascimento da Senhorita Sienna, nenhum outro mago como ela jamais nasceu. Isso vale para mim também. Ah… Claro, não quero dizer que gostaria de representar uma ameaça para os Reis Demônios, é só que desejo me tornar um mago tão grande quanto ela.
Eugene ouviu em silêncio.
— Também não sou só eu. Amelia Merwin e Edmond Codreth também. Nós três poderíamos ter nos tornado ‘Arquimagos’ mesmo sem ter assinado um contrato com o Rei Demônio do Encarceramento. É que queríamos mais. Qualquer mago que acredita ser um gênio terá o desejo de ver o próprio ‘fim’ de toda a magia. No entanto, tal fim está longe do alcance até mesmo de um arquimago. — Disse Balzac com pesar.
— Um fim, você diz… — Eugene sorriu e balançou a cabeça. — E daí, você está dizendo que depois de assinar um contrato com o Rei Demônio, Mestre da Torre Negra, você conseguiu ver o fim?
Balzac assentiu e disse:
— Tenho a sensação de que estou chegando ao fim, aos poucos. Espero também que, através desta conversa, Sir Eugene tenha me compreendido um pouco mais.
— Existe uma razão pela qual você precisa que eu te entenda? — Eugene perguntou com uma sobrancelha levantada.
— É um pouco… Não, é muito penoso ser tratado como um vilão, embora eu não tenha feito nada. — Balzac reclamou tristemente.
Ele estava brincando? Eugene não sabia quais eram as verdadeiras intenções de Balzac, então apenas manteve uma expressão rígida.
Balzac encolheu os ombros com um sorriso tímido.
— Mas não sou pelo menos melhor que Amelia Merwin? — Balzac finalmente perguntou.
— Ahaha. — Eugene riu quando finalmente acenou com a cabeça com um sorriso. — Eu estava me perguntando por que você veio me procurar. Então ouviu algo sobre mim de Amelia Merwin, não é?
— Parece que você fez bom uso da carta que lhe dei. — Observou Balzac. — Embora eu não esperasse que fosse realmente usada tão rapidamente.
— Honestamente, eu realmente não queria usá-la. — Eugene admitiu prontamente.
— Ouvi dizer que foi um encontro acidental. Foi uma grande surpresa para mim também. E pensar que ela realmente iria criar outra dungeon, e que realmente encontraria Sir Eugene lá… — Balzac maravilhou-se com a coincidência.
— Você está ciente da história completa? — Eugene checou.
— Não consegui ouvir. Embora eu estivesse curioso, Amelia Merwin se recusou a me contar sobre isso. — Balzac reclamou.
— Ahaha. — Eugene riu mais uma vez. — Então o motivo pelo qual você veio me procurar hoje é para perguntar sobre a história completa?
— Você estaria disposto a me contar? — Balzac perguntou esperançoso.
— Não. — Eugene respondeu sem qualquer hesitação. — Se isso realmente te deixa tão curioso, em vez de me perguntar, o Mestre da Torre Negra não pode simplesmente perguntar ao Rei Demônio do Encarceramento, a quem você serve tão feliz?
— Talvez eu consiga fazer isso, mas o Rei Demônio do Encarceramento provavelmente não vai me responder. Porque eu não sou o único que está recebendo o favor dele. — Balzac disse relutantemente, franzindo os lábios como se estivesse desapontado com isso. — Eu queria ouvir toda a história de Sir Eugene, mas como você não tem intenção de me contar, não vou ser teimoso e insistir em perguntar sobre isso.
— Se for esse o caso, vai embora agora? — Eugene perguntou esperançoso.
— Ainda há um assunto que precisa ser resolvido.
— Que tipo de assunto?
— A princesa Rakshasa. — A voz de Balzac baixou quando ele disse esse nome. — Também conhecida como Íris. Você já ouviu falar dela?
— Disseram-me que ela é a líder dos elfos negros de Helmuth. — Respondeu Eugene.
— A notícia de que Sir Eugene trouxe mais de cem elfos de Samar com ele com certeza também chegou à princesa Rakshasa. Então, em pouco tempo, ela pode ir até o clã Lionheart para algumas negociações. — Balzac relatou.
As sobrancelhas de Eugene franziram enquanto repetia a palavra de Balzac.
— Negociações?
— Sim. — Balzac confirmou. — É porque ela está obcecada em aumentar seu poder de luta. Enquanto você estava em Samar, viu algum elfo negro?
— Havia rumores sobre eles e ouvi algumas histórias dos elfos. — Eugene respondeu evasivamente.
— Se é esse o caso, então deve ser fácil para você entender. A influência da princesa Rakshasa em Helmuth não é tão grande assim. Os demônios de sangue puro consideram ela e seus elfos negros como híbridos, e a princesa está atualmente competindo com outros demônios de alto escalão para se tornar o próximo Rei Demônio. — Balzac expôs.
— Você acha que ela tem chance? — Eugene perguntou.
— Claro que não. — Balzac respondeu sem hesitar. — Os elfos negros são uma subespécie especial. É impossível até mesmo para o Rei Demônio do Encarceramento corromper uma raça e criar uma nova a partir dela. Os únicos com esse poder especial eram o Rei Demônio da Fúria, que morreu trezentos anos atrás, e sua filha adotiva, a Princesa Rakshasa, que agora comanda os elfos negros.
O Rei Demônio da Fúria havia sido morto. Isso deixou Iris como a única neste mundo que poderia transformar um elfo comum em um elfo negro.
— Como eu disse durante a audiência, o Rei Demônio do Encarceramento oferece muita caridade aos elfos que migram para Helmuth após serem afligidos pela Doença Demoníaca. Eles recebem isenção total do imposto vitalício e, mesmo sem vender suas almas, recebem uma generosa pensão todos os meses. Pelo bem dos elfos negros, ele ordenou que uma floresta que já é grande demais para seus números reduzidos fosse reservada como território da princesa Rakshasa. — Disse Balzac com um leve sorriso e balançando a cabeça. — Claro, a maior parte da pensão que cada elfo recebe é retirada para ser usada como fundos militares da Princesa Rakshasa, mas… O problema é que o objetivo da Princesa é muito grande e com seu exército independente tão fraco, é impossível para ela alcançá-lo. Tanto quanto sei, o número de elfos negros liderados por ela é inferior a mil.
Não havia como evitar que esse número fosse muito menor do que trezentos anos atrás. Naquela época, mais da metade dos elfos negros liderados por Iris foram mortos por Sienna durante a subjugação do Rei Demônio da Fúria. Além disso, a maioria dos elfos preferia morrer da doença demoníaca em vez de se tornar um elfo negro.
— Em outras palavras, Sir Eugene está abrigando um aumento de dez por cento da mão de obra da princesa Rakshasa na propriedade principal do clã Lionheart. Cega como está pelo desejo de aumentar seu potencial de guerra, é inevitável que a princesa Rakshasa volte os olhos para você. — Alertou Balzac.
— Se ela vier me procurar, vou mandá-la se foder. — Respondeu Eugene com um sorriso frio. — Ou talvez… Você está me pedindo para tentar negociar com a princesa Rakshasa?
Balzac negou apressadamente.
— Que direito tenho de persuadir Sir Eugene disso? Sem mencionar que eu não sou nem mesmo um dos aliados dela.
— Então o que é que você quer me dizer? — Eugene exigiu exasperado.
Balzac começou a explicar:
— Já lhe disse algo assim antes. Mesmo que o Rei Demônio do Encarceramento controle Helmuth, ele não controla a totalidade do povo demônio. A Rainha dos Demônios da Noite, Noir Giabella, e o Dragão Negro, Duque Raizakia, não assinaram contratos com o Rei Demônio do Encarceramento e, além deles, inúmeros outros demônios também estão fora do controle do Rei Demônio do Encarceramento.
Eugene silenciosamente olhou para Balzac. Ele ainda não tinha ideia do que diabos Balzac estava tentando alertá-lo.
— Claro, esses demônios ainda estão sujeitos a sanções quando quebram as leis estabelecidas pelo Rei Demônio do Encarceramento, então são forçados a assumir a responsabilidade em troca das liberdades de que desfrutam. Assim como o Barão Olpher foi decapitado por tentar seduzir Sir Eward. — Balzac trouxe um exemplo conhecido por Eugene.
No final, o Rei Demônio era apenas o mais poderoso entre os demônios. Assim como o rei de um reino comum não poderia saber cada movimento que seu povo faz, o Rei Demônio era igualmente indefeso. Um Rei Demônio só seria capaz de assumir o controle da alma de uma pessoa demônio se tivesse feito um contrato com ela.
No entanto, tudo isso sendo dito, a força dos Reis Demônios era absoluta em Helmuth. Se o Rei Demônio do Encarceramento ordenasse a morte de alguém, qualquer pessoa demônio mais fraca do que ele teria que oferecer sua cabeça, mesmo que não tivesse assinado um contrato com ele.
— Mesmo em Helmuth, existem alguns demônios que o Rei Demônio do Encarceramento não pode controlar totalmente. — Balzac apontou.
— Você está falando daqueles que seguem o Rei Demônio da Destruição? — Eugene perguntou, pegando a dica.
— Sim, especialmente o povo-besta entre eles. — Balzac respondeu, confirmando as suspeitas de Eugene.
Eugene tentou impedir que qualquer emoção que estivesse sentindo fosse expressa em seu rosto. Balzac devia estar falando sobre o filho de Oberon, o irmão jurado de Barang, o homem-besta contra quem Eugene lutou em Samar.
— A princesa Rakshasa só recentemente percebeu a realidade de sua situação. Com menos de mil elfos negros, é impossível para ela se tornar um Rei Demônio se teimosamente insistir em contar apenas com o apoio de seu próprio povo. — Balzac revelou.
— Então você está dizendo que ela se aliou ao povo-besta? — Eugene adivinhou. — Mas, até onde sei, o atual líder do povo-besta, Jagon, matou o próprio pai para assumir o cargo. E aquele pai dele era irmão da princesa Rakshasa.
Balzac balançou a cabeça e disse:
— Não, a princesa Rakshasa não se aliou a Jagon. Em vez disso, ela recrutou alguns dos homens-besta que seguiam Jagon para serem seus mercenários.
“Mercenários?” Eugene inclinou a cabeça e silenciosamente murmurou esta palavra para si mesmo.
— Jagon é uma besta tirânica que reina apenas por meio de sua própria força. Ele despreza os fracos e nem os coloca diante de seus olhos. Para chamar a atenção de Jagon, o ambicioso povo-besta não tem escolha a não ser desenvolver força suficiente. — Balzac continuou sua explicação.
Eugene silenciosamente absorveu essa informação.
— Por causa disso, há muitos homens-besta seguindo carreiras ativas como mercenários em Helmuth. Ao lutar nas batalhas territoriais entre os aristocratas de pequeno e médio porte, eles são capazes de ganhar experiência de combate e aumentar sua própria força atacando outros demônios. Eles fazem tudo isso apenas porque não conseguirão ganhar o favor de Jagon se não forem fortes o suficiente. — Balzac terminou de apresentar suas observações sobre o povo-besta.
Barang disse que a razão pela qual ele estava procurando pelo território élfico não tinha nada a ver com Jagon.
“Será que aquele cara estava servindo como mercenário para alguns demônios e foi para lá depois de receber uma ordem deles?” Eugene especulou.
Eugene não podia fazer perguntas abertamente sobre Barang. Por enquanto, ele não tinha escolha a não ser esperar e ver que tipo de informação Lovellian poderia obter.
“O Mestre Lovellian deve estar ouvindo esta conversa também”, Eugene pensou com alguma segurança.
Lovellian também deveria ter apurado os ouvidos para essa conversa sobre mercenários, e poderia usar isso como ponto de partida para reunir informações sobre Barang.
Sem qualquer hesitação, Eugene acenou com a cabeça em compreensão e disse:
— Aquele cara chamado Jagon, ele parece ter uma personalidade bastante louca.
Balzac apontou:
— Ele é alguém que rasgou a garganta do próprio pai, afinal. Mesmo a princesa Rakshasa não seria tão rápida em se unir a tal renegado. E como Sir Eugene já disse, o pai que Jagon acabou com as próprias mãos também era irmão da princesa.
As tribos do povo-besta, quando lideradas por Oberon, serviam ao Rei Demônio da Fúria ao lado da Princesa Rakshasa. Embora o povo-besta agora jurasse servir ao Rei Demônio da Destruição, a Princesa Rakshasa definitivamente relutaria em dar as mãos a Jagon, que havia matado seu antigo camarada e irmão, Oberon.
— Se Sir Eugene se recusar a negociar, então a princesa Rakshasa certamente recuará. Porque ela não está tão desesperada a ponto de atacar a propriedade principal do clã Lionheart para tomar aqueles elfos para si mesma. No entanto, existe a possibilidade dela enviar o povo-besta para atacar. — Balzac levantou-se e deu um último aviso: — Jagon não deve ter nenhum motivo para aparecer pessoalmente, mas você não deve considerar nenhum membro do povo-besta levianamente.
— Quais são as suas razões para nos fornecer tal aviso? — Eugene perguntou desconfiado.
Balzac admitiu hesitantemente:
— Uma razão é que eu quero que você me deva um favor… Sir Eugene… Mas por favor, não leve a mal. Não quero usar esse favor para nenhum propósito sexual.
Por mais que ele fingisse que não o afetava, parecia que o que aconteceu da última vez, quando Eugene perguntou se Balzac estava fazendo tudo aquilo porque queria namorar com Eugene, deixou um espinho cravado no coração do mago negro.
— A outra razão pela qual dou este aviso é para minha própria reputação pessoal. Eu já sou muito odiado apenas por ser um mago negro, mas se o povo-besta de Helmuth realmente atacar o clã Lionheart sem nenhum aviso… Se uma tragédia acontecer como resultado disso, temo que qualquer culpa possa vir a mim por não ter dito nada. — Balzac confessou.
— Você não acha que está atraindo tanto ódio por ficar desnecessariamente em Aroth? Se você partisse para Helmuth, tenho certeza de que haveria muito menos hostilidade. — Aconselhou Eugene gentilmente.
— Haha… Embora possa ser o caso, não gosto muito de Helmuth. — Balzac afirmou com um sorriso enquanto baixava o chapéu de feltro de volta à cabeça.
* * *
Kristina esfregou as bochechas rígidas.
A aparência refletida no espelho não era familiar para ela, especialmente suas expressões. Kristina franziu as sobrancelhas, endireitou-as e piscou atentamente. A carne sob as pontas dos dedos era macia, mas ela podia sentir os músculos faciais enrijecerem à menor pressão.
Originalmente, esse era o estado natural das coisas. Naquela época, não parecia nada estranho. Esse tipo de expressão era exatamente como Kristina costumava parecer. Kristina mordeu os lábios algumas vezes, depois sorriu constrangida.
“Faz apenas alguns meses…” Ela pensou consigo mesma.
Kristina tentou mudar seu sorriso mais algumas vezes. No entanto, não importava o que fizesse, não parecia certo para ela.
Será que ela sorriu assim quando estava em Samar? Deve ter havido mais do que algumas vezes em que sorriu assim. Para Kristina, sorrir o tempo todo era apenas um hábito. Mesmo que não tivesse um motivo para sorrir. Isso foi exatamente o que ela aprendeu a fazer desde criança, no monastério. Em vez de um rosto inexpressivo ou chateado, um rosto sorridente a faria parecer mais amigável.
“Faz apenas alguns meses, mas não consigo me lembrar de como era minha expressão habitual.” Kristina suspirou silenciosamente.
Kristina ergueu os cantos dos lábios com os dois dedos indicadores. Mas um sorriso forçado como esse era realmente melhor do que um de fachada? Quando seus dedos caíram, os cantos levantados de seus lábios também caíram mais uma vez.
Kristina suspirou.
— Família…
Partes da conversa que ela teve com Eugene antes de deixar a propriedade dos Lionheart recusaram-se a sair de sua cabeça.
—Afinal, meu próprio pai biológico só está dizendo essas palavras para mim, porque está preocupado comigo, seu filho único.
—Enfim, como sei que é tudo por mim, como filho dele, devo ao menos fingir que escuto meu pai.
Esses não eram trechos de conversa particularmente importantes, mas, mesmo assim, eles permaneceram em sua cabeça nos últimos dias. Kristina também sabia que não havia nada inerentemente especial nessas palavras. No entanto, o que realmente importava era que tais palavras só eram comumente encontradas entre ‘famílias’ verdadeiras.
Foi por isso que Kristina não foi realmente capaz de entender o sentimento por trás de tais palavras.
Desde que nasceu, Kristina nunca fez parte de uma família verdadeira.
“Mas é por isso que é ainda mais importante para mim”, Kristina admitiu para si mesma.
Ela ouviu uma batida na porta.
Kristina colou o sorriso de fachada ainda estranho de volta em seu rosto.
Em sua própria mente, Kristina se dirigiu distraidamente a Eugene. “Eu sei que você não tinha um bom motivo para fazer isso…”
Sua fachada poderia parecer estranha agora, mas ela logo se acostumaria.
“Mas eu estaria bem se você me matasse…”
Porque ao conhecer seu pai, o cardeal Rogeris, Kristina precisaria ser capaz de manter esse sorriso sem se concentrar nele.
“Assim, eu poderia sair deste lugar e nunca mais voltar.”
Kristina esperava nunca mais voltar a aquele lugar.