Capítulo 149: Visitas à beira do leito (1)
O constrangimento era insuportável.
Se ele não estivesse tão ferido, pelo menos seria capaz de virar a cabeça ou ajustar a postura. Mas agora, para Eugene, mover qualquer coisa abaixo do pescoço era um desafio assustador. Portanto, só conseguiu manter uma expressão estranha enquanto olhava para o topo da cabeça de Doynes enquanto o homem se curvava profundamente para ele, com o maior respeito.
— Isso é… Em seu estado de saúde precário… Por que você não para com isso e se senta? — Eugene recomendou.
— Estou bem assim. — Doynes rejeitou a oferta.
— Não, o que você quer dizer com ‘estou bem’? Você não levou uma facada no peito? Deixe-me apenas dizer, como alguém que também teve um buraco perfurado no peito, estou muito familiarizado com a sensação. — Eugene divagou desajeitadamente enquanto relembrava as memórias de sua vida passada. — É uma sensação muito merda e oca, não é? Hmmm… Hum… Bem… O buraco pelo qual me atravessou pode ter sido maior, mas ainda assim… Eu não era capaz de andar por aí como você, e só tive que ficar lá esperando a morte, sabe?
— Que incrível. — Foi a resposta de Doynes.
Constrangido com as palavras que proferiu, Eugene tossiu desajeitadamente.
— Hm… Eu não estava tentando me gabar de que meu buraco no peito era maior… — Eugene se desculpou rigidamente enquanto tentava desesperadamente se livrar da fixação com buracos no peito chocalhando dentro de sua cabeça, mas não estava indo do jeito que ele queria.
Se ele realmente pensasse sobre isso, ter um buraco no peito era uma lesão com muitas conotações para Eugene. Sua morte em sua vida anterior também foi devido a um buraco em seu peito, e Sienna, ainda selada na Árvore do Mundo, também tinha um buraco em seu peito…
— Eu não disse para você parar de ficar aí parado e se sentar? Meu corpo também não está em boa forma, então ter que olhar para você parado aí é um pouco difícil. — Reclamou Eugene.
— Sim. — Doynes concordou e, sem mais tentativas de recusa, sentou-se em uma cadeira perto da cama.
À medida que a distância entre eles diminuía, Eugene era mais capaz de sentir a aura de morte que pairava sobre Doynes.
— Quanto tempo você ainda tem? — Eugene perguntou.
— Não vou sobreviver à noite. — Doynes respondeu com voz calma.
— Se você convocar um sumo sacerdote do Império Sagrado, ainda existe a possibilidade de você ser salvo, ou talvez possamos chamar a Santa. — Propôs Eugene.
— Sou eu quem melhor conhece meu próprio corpo. — Refutou Doynes. — Nem a bênção da Santa poderá revitalizar este meu corpo.
Não houve mudança na expressão de Doynes enquanto continuava a falar. — Esta situação atual… É uma evidência de quão incompetente o clã Lionheart, não, os Leões Negros se tornaram. Éramos tão arrogantes e embriagados com a honra de ser descendentes de um grande herói que não fomos capazes de corresponder às exigências de nossa posição.
— Você percebeu isso tarde demais. — Repreendeu Eugene.
— É porque o mundo tem estado muito pacífico. — Disse Doynes com pesar.
— O que é ridículo é que os descendentes de Vermouth tenham ficado tão bêbados de paz. Se meu corpo fosse saudável e eu ainda tivesse a força que costumava ter nos velhos tempos, teria feito todos vocês, arrogantes Leões Negros, se ajoelharem e depois batido em vocês com um remo. — Ameaçou Eugene.
— Minhas desculpas. — Disse Doynes enquanto inclinava a cabeça mais uma vez. — Permita-me levar a culpa desse pecado comigo quando eu morrer. Qualquer zombaria adicional apenas alimentará o descontentamento da geração mais jovem. Então, por favor, espero que você tenha isso em mente e cuide de nós.
— Você não está me pedindo para entrar para os Leões Negros, está? — Eugene perguntou com ceticismo.
Doynes balançou a cabeça ao dizer:
— Estou bem ciente de que os Leões Negros são pequenos demais para retê-lo, Sir Hamel. No entanto, como Sir Hamel tem um relacionamento conectando-se aos Leões Negros, espero que possa acompanhar as mudanças nos Cavaleiros Leão Negro, mesmo que seja à distância.
— Mudanças, você diz? — Eugene estalou os lábios e inclinou a cabeça curiosamente. — Pare de ser tão vago e me diga, o que exatamente você vai mudar?
— O Castelo dos Leões Negros estará abrindo suas portas.
— Suas portas?
— Como deve saber, Sir Hamel, os Leões Negros não são um lugar onde alguém pode entrar só porque quer. As restrições são relativamente mais flexíveis para qualquer membro da família principal que deseje ingressar, mas para que um descendente colateral se torne um Leão Negro, ele deve primeiro possuir habilidades que não podemos deixar de reconhecer.
— Isso mesmo.
— A partir de agora, se houver uma criança que deseja se tornar um Leão Negro entre os descendentes colaterais que participam de uma Cerimônia de Continuação da Linhagem Sanguínea, eles podem ser trazidos diretamente para o castelo para treinamento adicional—
— A Cerimônia de Continuação da Linhagem Sanguínea em si é o problema. — Eugene interrompeu enquanto seu rosto se contorcia em uma carranca. — As mudanças de que você está falando vão, no final das contas, apenas aumentar o número de Leões Negros na próxima geração. Bem, isso pode realmente ser bom em termos de aumentar o poder do clã. Mesmo que a qualidade diminua um pouco, o aumento na quantidade mais do que compensa, e mesmo que isso signifique ensinar um burro desde tenra idade, eles ainda devem ser úteis.
No entanto, enquanto a tradição da Cerimônia de Continuação da Linhagem Sanguínea permanecesse, quaisquer outras mudanças seriam inadequadas.
— Após esse incidente, você não disse que alguns das linhagens colaterais desapareceram de forma suspeita ao mesmo tempo? Esse fato nos mostra que este caso traiçoeiro surgiu da insatisfação que os descendentes colaterais carregam para com a família principal. E de onde vem essa insatisfação? É tudo por causa daquela idiota Cerimônia de Continuação da Linhagem Sanguínea. — Eugene criticou.
Doynes hesitou.
— No entanto… A Cerimônia de Continuação da Linhagem Sanguínea é do nosso grande ancestral-
— Aquele desgraçado do Vermouth devia estar senil. — Explodiu Eugene. Incapaz de controlar sua raiva, ele inconscientemente tentou pular para ficar em pé.
Claro, no momento em que tentou exercer qualquer força, teve que se conter para não gritar com a dor terrível que percorria todo o seu corpo.
Francamente, a tradição não era completamente incompreensível. Vermouth tinha tomado mais de dez esposas e tinha dezenas de filhos. Entre seus muitos filhos, o filho mais notável se tornou o próximo patriarca da família.
Mas e depois disso? Isso deixou para trás vários irmãos que não conseguiram se tornar o Patriarca. A situação teria sido bem amarrada se o próximo Patriarca tivesse acabado de realizar um expurgo, mas teria sido ridículo para os filhos de um herói lutarem entre si, matando seus próprios irmãos. No final, toda a primeira geração faleceu e os numerosos irmãos também deram à luz vários filhos mais uma vez.
O problema começou a partir daí. Vermouth morreu, deixando para trás seu legado, o clã Lionheart do Grande Herói. E as famílias colaterais que não se tornaram a família principal tentaram herdar o grande legado e ganhar glória.
— A Cerimônia de Continuação da Linhagem Sanguínea era necessária. — Doynes insistiu depois de soltar um longo suspiro. — A Cerimônia garante que a família principal mantenha sua estatura única e impede que qualquer família colateral a domine. Se não fosse pela Cerimônia de Continuação da Linhagem Sanguínea, o clã como um todo poderia ter desaparecido há muito tempo devido a lutas internas.
— Eu sei. — Reconheceu Eugene, relaxando a expressão. — Vermouth, aquele sacana. Ele deve ter criado a Cerimônia de Continuação da Linhagem Sanguínea, porque tinha suas próprias razões para isso.
Quanto ao motivo, pensamentos que Eugene não queria ter continuavam se desenrolando em sua cabeça.
Junto com a Fórmula da Chama Branca da família principal, a tradição coercitiva da Cerimônia de Continuação da Linhagem Sanguínea garantia a superioridade da família principal. Nos últimos trezentos anos, isso permitiu que a família principal acumulasse uma força que não poderia ser superada, mesmo quando as linhagens colaterais aumentaram gradualmente em número. Se não houvesse uma Cerimônia, e a Fórmula da Chama Branca tivesse sido passada para todos os descendentes Lionheart, então…
O clã Lionheart realmente se pareceria com agora? Todos receberiam o mesmo tratamento, mas apenas um deles chegaria a ser especialmente referido como a ‘família principal’. Os outros ramos, além da linhagem direta, realmente os reconheceriam como a família principal? Talvez, como Doynes havia dito, o clã Lionheart pode ter se fragmentado imediatamente devido a lutas internas.
E agora? Múltiplos fatores garantiam que as linhagens colaterais não pudessem superar a superioridade da linhagem direta: o status único da família principal, armazenando todas as relíquias de Vermouth, exceto a Espada do Luar no cofre do tesouro da família principal, e herdando a Fórmula da Chama Branca em sua forma perfeita, junto com o uso da linha lei especial.
Tudo isso garantiu a continuidade da existência da família principal nos últimos trezentos anos, bem como sua capacidade de controlar o crescente número de linhagens colaterais.
Mas tudo isso por qual motivo?
“Foi realmente tudo pela honra do clã?” Eugene se perguntou incerto.
Vermouth esteve envolvido na reencarnação de Hamel.
Eugene pôde confirmar isso por meio de seu encontro com Sienna. A alma de Hamel foi selada dentro do colar que Sienna manteve com ela desde que ele morreu, como uma memória de Hamel. Vermouth havia roubado aquele colar de Sienna.
“Vermouth… Se você pretendia que eu reencarnasse como um Lionheart…”
Eugene não sabia exatamente como sua reencarnação havia sido realizada.
No entanto, algumas coisas se destacaram quando ele pensou sobre isso em termos simples. O corpo em que ele reencarnou era superior ao corpo de sua vida anterior. Não, era tão superior que até se destacava entre os Lionhearts. Para garantir que ele nascesse em um corpo tão excelente quanto este, o método mais conveniente seria primeiro aumentar o número total de descendentes.
“É apenas um palpite, mas… E se for verdade?”
Teria Vermouth aumentado propositalmente o número de seus descendentes para dar a Hamel o melhor corpo possível?
A fim de preservar o núcleo da força do clã Lionheart, Vermouth se certificou de que a família principal fosse especial.
E se Hamel reencarnasse como um descendente colateral? Isso ainda não seria um problema. Contanto que a base de seu corpo fosse excelente, com as memórias de sua vida anterior para extrair, Hamel definitivamente cresceria forte o suficiente para eventualmente ser capaz de suprimir a família principal.
As coisas de alguma forma correram tão bem que Eugene foi adotado pela família principal e até herdou a Fórmula da Chama Branca, mas… Mesmo que isso não tivesse acontecido, ele ainda poderia ter pisoteado a família principal e reivindicado todo o poder da família principal para si mesmo.
— Livre-se da Cerimônia de Continuação da Linhagem Sanguínea. — Eugene murmurou com um suspiro. — Não há mais necessidade disso. Também levou ao problema atual. Se simplesmente nos livrarmos dessa Cerimônia, a maioria das queixas das linhagens colaterais desaparecerá.
Doynes ainda hesitava.
— Mas…
— Você ainda vai ser teimoso mesmo que isso tenha te levado a uma facada nas costas? — Hamel perguntou com desdém. — Como você disse, o mundo tem sido tão pacífico que até os Lionhearts se tornaram idiotas incompetentes. No entanto, agora, as coisas não serão tão pacíficas. Você nunca sabe quando Helmuth pode declarar o início da guerra, e os descendentes colaterais que guardam rancor contra a família principal desapareceram.
Doynes ouviu em silêncio.
— É um bom momento para uma mudança. — Eugene insistiu enquanto olhava para Doynes. — Se você vai morrer antes do final do dia, então deve deixar um testamento antes de fechar os olhos. Afinal, você é o Leão Branco Imortal. Sua morte pode não ser a mais honrosa, mas seu nome ainda tem influência sobre os outros anciãos. Portanto, se você abolir a Cerimônia de Continuação da Linhagem Sanguínea em seu testamento, nem mesmo os anciãos poderão levantar fortes objeções a ela. Ninguém quer ser o primeiro a dizer isso, mas todos sabem que essa situação surgiu por causa dessa porra de tradição apodrecendo o clã por dentro.
Doynes não respondeu imediatamente.
Enquanto Doynes fechava os olhos e refletia sobre o assunto por alguns momentos, Eugene riu e continuou falando:
— Na verdade, quem sou eu para tentar pressioná-lo a fazer isso? Você não precisa deixar um testamento se não quiser. Porque depois que você morrer, vou desmontar essa bagunça e tentar consertar sozinho. Claro, teria que ser uma solução grosseira que não se compararia a um testamento deixado pelo Leão Branco Imortal, mas o que você pode fazer?
— Hahaha… — Doynes caiu na gargalhada com essa ameaça flagrante. — Para receber conselhos não de qualquer um, mas de um herói que viveu trezentos anos atrás… Tudo bem, eu entendo. Vou me certificar… De deixá-lo em meu testamento.
A Cerimônia de Continuação da Linhagem Sanguínea foi uma tradição por trezentos anos. Como alguém que viveu cento e vinte anos, Doynes era uma testemunha viva da história do clã Lionheart. Como ex-membro da família principal, ele foi um dos beneficiários da Cerimônia. Portanto, negá-la parecia o mesmo que negar a fundação do clã Lionheart, do qual ele tinha tanto orgulho por toda a sua vida.
No entanto, isso precisava ser feito. Doynes reconheceu o quanto esse incidente foi vergonhoso e também reconheceu que o neto que o esfaqueou no peito não sentia o mesmo sentimento de orgulho que ele…
— Meu neto… Dominic, ele morreu arrependido? — Perguntou Doynes.
— Não deveria haver espaço para arrependimento. — Respondeu Eugene, pensativo.
— Isso é decepcionante. — Doynes riu antes de continuar. — Eu queria que ele morresse enquanto lamentava suas escolhas e ações. Mas, se ele morreu sem sequer ter a chance de se arrepender, isso não significa que sua morte foi tão dolorosa que ele não pôde poupar nenhum pensamento de arrependimento?
— Foi uma morte terrível. — Concordou Eugene. — Mas as mortes daqueles que cobiçam o que não merecem e caem no mal são sempre terríveis.
— Tenho uma grande dívida com você, Sir Hamel. — Disse Doynes enquanto se levantava mais uma vez e inclinava profundamente a cabeça para Eugene. — Ao mesmo tempo, cometi muitos pecados. Se Sir Hamel não os tivesse parado ali, todos os filhos da família principal teriam sido oferecidos como sacrifícios… E Eward teria sido completamente possuído pelo remanescente dos Reis Demônios. Para o descendente do Grande Lionheart que matou os Reis Demônios… Ser usado como uma ferramenta para reviver esses mesmos Reis Demônios… Tal coisa nunca poderia acontecer.
Eugene tossiu.
— Hm, agora que penso nisso… Não parece que eles realmente teriam renascido… Já que eram apenas alguns remanescentes. Em outras palavras, realmente não era tão sério assim. Eles eram apenas um bando de canalhas.
Eugene estava tentando dizer tudo isso com uma expressão digna, mas ergueu o queixo um pouco alto demais e agora seu pescoço latejava de dor.
Estranhamente, o manto que ele havia deixado no sofá parecia estar se contorcendo. Eugene imaginou Mer cobrindo a boca com as mãos enquanto tentava conter o riso lá dentro.
— Ahem… A propósito, como você percebeu o fato de que eu sou Hamel? — Eugene questionou Doynes, tentando mudar de assunto.
— Eu vi isso em um sonho. — Confessou Doynes.
— Um sonho? — Eugene repetiu surpreso.
Essa foi uma resposta bastante inesperada.
— Depois de ser emboscado por Dominic e desmaiar… Parece que minha consciência ainda tinha uma leve conexão com a Lança Demoníaca. Deve ter sido porque está em minhas mãos há dezenas de anos e é uma arma sinistra e misteriosa. Nesse sonho, vi como você levou Dominic à morte, Sir Hamel… — Doynes parou por um momento ao terminar de falar e olhou para a própria mão.
Sua única mão restante tremia de medo só de imaginar a cena que ele havia testemunhado no sonho.
— Essa força e essa técnica jamais poderiam pertencer a um jovem de vinte anos. Além disso… A raiva que você demonstrou na tumba de nosso grande ancestral estava mais próxima da traição que alguém sentiria em relação a um amigo, e não em relação a um ancestral reverenciado. — Explicou Doynes.
— De fato… — Eugene murmurou com um aceno de compreensão.
Quando descobriu que o caixão de Vermouth estava vazio, Eugene não conseguiu conter totalmente suas emoções. Uma sensação de traição em relação a Vermouth o dominou e o abalou profundamente.
Doynes hesitou antes de continuar.
— A Lança Demoníaca e o Martelo da Aniquilação–
— Mer. — Eugene gritou sem permitir que Doynes terminasse suas palavras.
Ao seu chamado, a cabeça de Mer apareceu entre as dobras de seu manto.
— Sim, Sir Eugene, que se machucou a ponto de não conseguir se mover depois de uma briga com alguns canalhas, me chamou? — Mer perguntou provocando.
— Cuidado com suas palavras. — Eugene a advertiu. — Não estou ferido. Isso é apenas tensão muscular.
Mer assentiu.
— Entendido. Você está sofrendo de tanta tensão muscular que não consegue se mover depois de uma briga com alguns canalhas, correto?
— Você realmente vai ver só quando meu corpo estiver melhor. — Eugene ameaçou Mer.
Ignorando a ameaça, Mer perguntou:
— Então por que você me chamou, Sir Eugene, que só consegue mover os lábios?
— Pegue a Lança Demoníaca e o Martelo da Aniquilação… Do meu manto. — Eugene resmungou enquanto segurava a raiva fervendo dentro dele.
Mer apenas mostrou a língua para ele antes de voltar para dentro.
Voltando-se para Doynes, Eugene exigiu:
— Você acabou de rir?
— De jeito nenhum. — Negou Doynes.
— Mas sinto que você estava rindo. — Eugene o acusou.
— De jeito nenhum. — Repetiu Doynes.
— Você estava rindo por dentro, não estava?
— De jeito nenhum.
No final deste breve interrogatório de um velho que estava programado para morrer hoje mais tarde, Mer saiu do manto arrastando a enorme Lança Demoníaca e o Martelo da Aniquilação com um gemido tenso. Ambas as armas eram evidentemente maiores que seu próprio corpo.
— Vou ficar com elas. Você não tem nenhuma reclamação, certo? — Eugene afirmou enquanto gesticulava para a Lança Demoníaca e o Martelo da Aniquilação com o queixo.
Esses não eram mais os mesmos armamentos anteriores dos Reis Demônios. Embora sua forma não tivesse mudado, o poder demoníaco que formou as fundações dessas armas foi apagado de forma limpa.
Em vez disso, uma parte das chamas do raio que fluem pelo corpo de Eugene foi derramada na Lança Demoníaca e no Martelo da Aniquilação. Devido a isso, Eugene sentiu que havia uma forte possibilidade de algo específico pertencente a essas armas. Ele não foi capaz de testar essa suspeita imediatamente, pois seu corpo não estava forte o bastante. Mas considerando o fato de que a Chama Relâmpago agora residia no lugar do espírito das trevas que havia desaparecido junto com o poder demoníaco… Ele poderia não ser capaz de reproduzir seus ataques especiais, mas ainda poderia ser possível usar a Lança Demoníaca e o Martelo da Aniquilação como armas poderosas.
— Quem mais poderia ser o mestre dessas armas senão o Sir Hamel? — Doynes disse, já tendo decidido não mostrar mais resistência às palavras de Eugene.
Embora tivessem apenas conversado por um tempo, esse grande herói de trezentos anos atrás ainda tinha a mesma personalidade impetuosa descrita no conto de fadas transmitido ao longo da história.
— Tenho certeza de que você tem muito o que fazer. — Eugene alertou Doynes.
A aura de morte que ele vinha sentindo de Doynes continuou a se aprofundar ao longo da conversa.
— Dominic pode ter sido seu único descendente, mas… Mesmo assim, você não deveria ao menos se despedir dos anciãos que conhece há tanto tempo. — Sugeriu Eugene.
— Eu também preciso preparar um testamento. — Doynes concordou com uma risada enquanto se levantava. — Muito obrigado por sua consideração, Sir Hamel… Como cavaleiro, sinto que é uma grande honra ter me encontrado com você assim. Se eu tivesse tempo suficiente, gostaria de lhe pedir que me presenteasse com algumas de suas sagas passadas, Sir Hamel.
— De jeito nenhum, isso seria muito constrangedor. — Eugene expressou sua rejeição com um olhar de desgosto enquanto balançava a cabeça. Então, mudando de assunto, Eugene perguntou: — Então, quem vai ser o próximo Chefe do Conselho?
— Estou pensando em Carmen, mas ela provavelmente não vai querer assumir o cargo. — Admitiu Doynes.
— Se for esse o caso, então o irmão mais novo provavelmente se tornará o chefe do conselho. — Ponderou Eugene.
— Sim. — Concordou Doynes.
Eugene perguntou de repente:
— Tudo bem se eu fizer apenas um pedido?
— Por favor, fale livremente.
— Deixe a família principal fora disso.
Doynes, que havia se afastado respeitosamente, ergueu a cabeça para olhar para Eugene.
— Quero dizer, você não deveria assediar inutilmente o Patriarca sobre esse assunto. — Eugene especificou. — Porque, sem ninguém aumentar seus problemas, ele deve ser aquele cujo coração está sofrendo mais agora.
— Hoho. — Doynes riu com um leve sorriso com essas palavras. — É uma bênção para a família principal que você os ame assim, Sir Hamel.
— Dito isso, não tenho intenção de me tornar o Patriarca. — Eugene insistiu cautelosamente.
— No entanto, como Sir Hamel preza tanto os gêmeos quanto a família principal, mesmo que você não se torne o Patriarca, tenho certeza de que levará a família principal a uma glória sem precedentes. — Declarou Doynes com confiança.
O único arrependimento que permanecia no coração de Doynes era o desejo de ver tal espetáculo pessoalmente. No entanto, era impossível sustentar sua vida e alguém tinha que assumir a responsabilidade por essa situação. Assim, com sua morte, ele acenderia as centelhas da reforma para o clã.
“Minha morte pode estar contaminada com desgraça, mas…” Havia um sorriso amargo no rosto de Doynes quando se virou para sair e pensou consigo mesmo: “Parece que com minha morte, ainda posso ter algum uso para a família.”
Enquanto era chamado de Leão Branco Imortal, ele viveu cento e vinte anos. No entanto, nunca imaginou que realmente morreria assim.
No entanto, Doynes não se ressentiu de ter sido condenado a tal morte. No final, tudo isso foi inconsequente. Com sua confiança cega em seu neto e sua própria arrogância em pensar que tudo o que fazia era pelo bem do clã, Doynes cavou esta sepultura para si mesmo.
Claro, foi uma morte feia e desonrosa, mas antes de morrer, ele soube que uma lenda de trezentos anos atrás agora residia no clã Lionheart.
Doynes fechou silenciosamente a porta atrás de si. Do lado de fora da porta, Genos esperava pacientemente.
Genos se aproximou para oferecer seu apoio, mas Doynes balançou a cabeça em recusa.
— Vamos. — Disse Doynes.
Os dois então seguiram para a Mesa Redonda, onde eram realizadas todas as reuniões do Conselho dos Anciãos.
Doynes insistiu em caminhar em direção à Torre da Mesa Redonda com seus próprios pés, a fim de deixar para trás seu testamento final.
