Capítulo 152: A Inquisição (1)
Depois de mais dois dias, Eugene finalmente saiu da cama. Embora não tivesse se recuperado completamente, depois de cinco dias inteiros de repouso absoluto, seu corpo já havia se recuperado o suficiente para que ele pudesse se mover com dificuldade.
— Você não precisa que eu te dê algum apoio? — Mer se aproximou dele com esta oferta.
Mas Eugene apenas balançou a cabeça e disse:
— Não precisa.
De pé na frente de um espelho, Eugene secou o cabelo úmido.
— Qual é a sensação de tomar banho depois de cinco dias? — Mer perguntou.
Eugene apenas deu de ombros.
— Parece o mesmo de sempre?
— Afinal de contas, o óleo está se acumulando em seu cabelo há cinco dias. — Apontou Mer.
Eugene negou isso com uma careta.
— Mas não está, né? Você não sabe que eu cuido disso todos os dias usando magia?
— Então por que precisou tomar banho?
— Porque eu queria?
— Sim, sim. — Mer admitiu com uma risadinha enquanto arrastava uma cadeira atrás das costas de Eugene.
Então Mer subiu na cadeira e começou a pentear o cabelo de Eugene. Seu cabelo, que estava molhado apenas alguns momentos antes, já havia sido seco por um vento quente que soprava sobre ele.
— Na verdade, não precisa ser penteado. — Resmungou Eugene.
— Estou fazendo isso porque estou entediada. — Explicou Mer. — Além disso, você realmente acha que é desnecessário? Parece pensar que o cabelo despenteado fica melhor em você, mas acredito que ficaria muito melhor com o cabelo bem penteado.
— Sabe por que isso? É porque eu tenho um rosto bonito. — Gabou-se Eugene.
— Você é tão sem vergonha… — Mer murmurou.
Enquanto Mer penteava o cabelo, Eugene ajustou sua roupa. Ele estava usando o uniforme formal preto do clã Lionheart. Estava limpo, sem vincos, mas Eugene ainda sentiu a necessidade de mexer em sua roupa, desabotoando um botão e fechando-o novamente.
— E o seu manto? — Mer perguntou.
— Não deve haver problema em usá-lo. — Respondeu Eugene.
Com um sorriso suave, Mer envolveu o Manto das Trevas em volta dos ombros de Eugene. Depois que terminou, Eugene olhou de volta para o espelho, apenas para descobrir que, por algum motivo, ele realmente não gostou da aparência de seu cabelo bem penteado.
Então casualmente o agitou com a mão.
— Por que você faria uma coisa dessas! — Mer exclamou, com as bochechas inchadas de desagrado.
No entanto, ela não insistiu teimosamente em pentear mais e imediatamente entrou no manto, quando Eugene o segurou aberto para ela.
— Não saia hoje a menos que eu chame você. — Instruiu Eugene.
— O que você acha de mim? — Mer disse com um beicinho. — Não sou indelicada o suficiente para lhe causar problemas, Sir Eugene.
No portão de dobra do Castelo dos Leões Negros, havia tão poucas pessoas por perto que parecia estranho.
Isto porque o acolhimento dos visitantes de hoje não era motivo de orgulho. Os que esperavam no portão de dobra junto com Eugene eram Genos, que havia chegado logo depois de Eugene, e Ciel, que havia passado a maior parte do tempo inconsciente entre os sacrifícios. Havia também Klein, recém-nomeado para o cargo de Chefe do Conselho. Além disso, aquele encarregado de administrar pessoalmente o portão de dobra era o capitão da Sexta Divisão, Diard.
— Os convidados de Aroth serão os primeiros a chegar. — Diard os informou.
Depois de verificar a hora, Diard ergueu seu cajado.
Puff!
O portão de dobra brilhou quando a conexão foi estabelecida.
Pouco depois, ele começou a ondular. O primeiro a sair foi Lovellian, vestindo um manto preto. Em vez de Eugene, que foi o primeiro a encontrar seus olhos, Lovellian se aproximou de Klein, o novo chefe do Conselho, e estendeu a mão para o homem.
— Faz muito tempo desde a última vez que nos encontramos. — Disse Lovellian em saudação.
— Teria sido melhor se tivéssemos nos reunido para um caso mais agradável. — Disse Klein com um sorriso irônico enquanto apertava a mão de Lovellian.
Melkith, que havia seguido Lovellian pelo portão de dobra, estava vestindo uma roupa surpreendentemente comum hoje. Ela usava um casaco de doninha preto brilhante. No entanto, ela tinha botas de couro que eram tão altas que chegavam até os joelhos e faziam barulho a cada passo que ela dava.
— Oi! — Melkith gritou.
Um funeral havia sido realizado apenas alguns dias atrás e, com a gravidade do recente incidente, a atmosfera do castelo estava afundada em depressão, mas… Melkith não se importava com nada disso. Depois de olhar ao redor, ela viu Eugene e acenou para ele com um sorriso largo.
Melkith primeiro se dirigiu a Ciel.
— Já faz um tempo desde a última vez que nos encontramos, não é, mocinha? Você se lembra de mim?
— Sim, claro… — Ciel relutantemente admitiu.
— Então cadê aquela Capitã que não sabe como agir com a idade? Estou falando da mulher que ficava verificando a hora em seu relógio de bolso, embora estivesse usando um relógio de pulso. — Melkith elaborou.
— A capitã Carmen está atualmente posicionada na propriedade principal. — Ciel eventualmente se sentiu pressionada a revelar a verdade pela alegre e sorridente Melkith, embora ela realmente quisesse dizer: “Quem é você para acusar alguém de ser incapaz de agir de acordo com sua própria idade?”
— Esta é a primeira vez que visito o Castelo dos Leões Negros. Tudo bem se eu der uma olhada ao redor? — Melkith pediu.
— Por que não guardamos isso para mais tarde. — Interrompeu Klein. — O Patriarca também deve chegar em breve.
— Hm, bem, ele já está preocupado o bastante. Vou me certificar de manter minhas expressões faciais sob controle — Melkith prometeu.
Mas por que ela tinha que ficar com aquele cara como se fosse natural para ela fazer isso? Ciel franziu as sobrancelhas enquanto olhava para Eugene e Melkith. Era algo semelhante ao afeto materno? De fato, essa era certamente uma possibilidade. Eugene não sabia como era o amor de uma mãe. Então pode ser que ele estivesse fazendo amizade com essa mulher que tinha uma figura madura, uma boa idade e era cheia de carinho maternal.
“Embora ao invés de uma mãe, ela não é mais como uma avó?” Ciel rudemente especulou.
Embora tivesse a bela aparência de uma jovem de vinte anos… Ciel não se permitiu terminar esse pensamento. No momento em que ela começou a considerar Melkith desse aspecto, Ciel sentiu que estava prestes a ter alguns pensamentos rudes sobre sua própria superiora direta, Carmen Lionheart… Como Capitã da Terceira Divisão, uma mulher, embora forte e bonita, ela deixou os outros sem escolha a não ser respeitá-la…
— A conexão foi estabelecida com Yuras. — Relatou Diard.
Com essas palavras, Melkith se aproximou de Eugene e sussurrou: — Então, ouvi dizer que um inquisidor está chegando? Você já conheceu um antes?
— Nunca. — Respondeu Eugene.
— Deixe-me apenas dizer, embora eu odeie o Império Sagrado, odeio os Inquisidores ainda mais. Você sabe por quê? — Melkith perguntou.
Eugene assentiu e disse:
— Sim. Dizem que no passado distante, o Império Sagrado julgou a adoração de espíritos como um tipo de heresia e perseguiu invocadores de espíritos, certo?
Melkith engasgou.
— Minha nossa, você é bastante experiente, não é? Parece que também estudou muito sobre a história dos magos?
— Mas isso não foi há muito tempo? — Eugene apontou.
— Bem, pode ser o caso, mas mesmo agora, eles ainda podem estar perseguindo secretamente invocadores de espíritos, não? Enquanto dizia isso, os olhos de Melkith se encheram de uma jovialidade alegre.
Enquanto olhava diretamente em seus olhos, Eugene bufou e murmurou:
— Você é como uma avó que gosta de assustar crianças contando-lhes histórias assustadoras…
— Hum? O que você disse? Não consigo ouvi-lo muito bem. — Mentiu Melkith.
Enquanto Melkith cobria os ouvidos e fazia um som de ‘Aaah’ para abafar qualquer objeção, o portão de dobra começou a brilhar.
Duas pessoas saíram de lá. Ambos usavam mantos vermelhos como sangue e, por baixo deles, usavam o uniforme preto como azeviche que todos os sacerdotes do Deus da Luz usavam, com barretinas pretas na cabeça.
O líder se apresentou:
— Meu nome é Atarax e sou membro do Maleficarum. E esta é Hemoria, minha discípula.
Atarax era um homem com longos cabelos loiros, mas a mulher, Hemoria, tinha cabelos mais curtos que Atarax e cobria a boca com uma máscara preta de metal. Com seu cabelo liso e curto que parecia ter sido cortado com uma faca emoldurando seu rosto, Hemoria examinou seus arredores.
Embora Hemoria mantivesse seu silêncio exceto por um curto grunhido em saudação, Atarax falou como se falasse em seu lugar.
— O Patriarca ainda não chegou?
Klein assegurou-lhe:
— Ele chegará em breve. Acabamos de nos conectar a Kiehl.
Eugene olhou descaradamente para Atarax e Hemoria. O Maleficarum, aquele ramo violento e implacável da Inquisição, também existia há cerca de trezentos anos.
Para ser honesto, Eugene não nutria nenhum receio em relação a eles. E a crueldade com os magos negros e o povo demônio? Era exatamente assim que Hamel era, na vida anterior de Eugene. No mundo caótico de trezentos anos atrás, o Maleficarum também era um dos aliados de Hamel.
“Mas eles não são uma organização muito antiquada para a era atual?”
Este era um mundo onde você não podia mais caçar magos negros indiscriminadamente ou mostrar hostilidade aberta para com o povo demônio. Portanto, para este ramo da Inquisição, que existia com o único propósito de fazê-lo, ainda existir, Eugene não pôde deixar de se sentir surpreso.
O portão de dobra ondulou.
Eugene endireitou as costas enquanto olhava para o portão de dobra. Pouco depois, o Patriarca do clã Lionheart, Gilead, passou por ele. A impressão que Eugene teve do atual Gilead foi marcadamente diferente do Gilead que Eugene encontrou apenas alguns meses antes. O Patriarca tinha bochechas profundamente encovadas e olheiras sob os olhos. Sua barba ainda estava bem aparada, mas Eugene podia ver os cortes que haviam sido deixados nas bochechas e no queixo de Gilead.
“Para um guerreiro tão habilidoso se permitir ser cortado por uma navalha”, Eugene pensou com pesar.
Todo o seu corpo parecia ter encolhido nos últimos meses. Parecia que o estado mental de Gilead havia sido abalado pelo último incidente de Eward.
— Patriarca. — Klein soltou um suspiro e se aproximou dele com esta saudação.
Apenas para Gilead imediatamente cair de joelhos e dizer:
— Sinto muito.
Klein ficou surpreso com essa visão e rapidamente colocou Gilead de pé.
— Ei, ei… Você não deveria ter uma aparência tão lamentável. — Klein o repreendeu.
— Eu realmente tenho outra escolha a não ser fazer isso? Tudo isso aconteceu por causa da minha própria inaptidão. Isso, essa crise… Não sei nem como começar a assumir a responsabilidade por isso… — Gilead parou de falar, culpado.
— Vamos discutir tudo isso mais tarde. Por enquanto, fique em pé. Seus filhos estão observando, lembre-se. — Klein o lembrou.
Deixando escapar um suspiro profundo, Klein deu um tapinha no ombro de Gilead. Com esse lembrete, a luz voltou tardiamente aos olhos escurecidos do patriarca. Ele se virou para olhar para Ciel e Eugene.
Normalmente, ela teria cumprimentado seu pai com seu sorriso, mas a atual Ciel não conseguiu fazê-lo. Ela rapidamente curvou a cabeça em direção a Gilead enquanto segurava a vontade de começar a chorar.
— Haaah…! — Gilead soltou um suspiro aliviado ao se aproximar de Eugene e Ciel.
Ele os puxou para um abraço apertado e inclinou a cabeça sobre eles.
— Eu ouvi a história completa. É um grande alívio… Que vocês estejam bem. — Gilead murmurou baixinho.
— Pai…. — Ciel sussurrou enquanto enterrava o rosto no peito de seu pai e chorava um pouco.
Em vez de deixar escapar qualquer lágrima, Eugene olhou para o braço que Gilead envolveu seus ombros.
Ele não se enganou quando teve a sensação de que todo o corpo de Gilead parecia ter diminuído. Os braços de Gilead realmente estavam mais finos do que há alguns meses. Fazia apenas cinco dias desde que o incidente de Eward havia sido resolvido, mas parecia que a angústia que Gilead sentiu durante esses poucos dias foi o suficiente para deixar suas bochechas encovadas e os músculos de seus braços murcharem.
— Obrigado, Eugene. — Gilead dirigiu-se a ele com gratidão.
— Eu só fiz o que deveria ser feito. — Eugene respondeu evasivamente.
— Se não fosse por você, seria tarde demais para fazer qualquer coisa.
— Eu tive sorte. Não era apenas a minha força também.
Ao dizer isso, Eugene olhou para os dois Inquisidores do Maleficarum — Atarax e Hemoria. Eles estavam descaradamente olhando para a cintura nua de Eugene.
— A Espada Sagrada está em boas mãos. — Eugene finalmente assegurou a eles.
— Isso é um alívio. — Atarax disse com um sorriso enquanto colocava a barretina que havia tirado em saudação no topo da cabeça. — Bem, então… Por favor, mostre o caminho. Precisamos ver o lugar onde aquele demônio, Eward Lionheart, realizou seu ritual proibido, depravado e quase calamitoso.
“Aquele demônio.”
Os olhos de Gilead tremeram com essas palavras. No entanto, não estava em posição de mostrar qualquer reação a essa acusação. Gilead apenas soltou um suspiro curto e soltou Eugene e Ciel de seu abraço.
— Por favor, sigam-me. — Genos falou de repente.
Genos não confiava no Maleficarum como um todo. Mas mesmo entre eles, o nome de Atarax era especialmente famoso por ter uma reputação suja ligada a ele, da qual Genos estava bem ciente.
“Para a igreja enviar o Justiceiro Atarax… E a Guilhotina Hemoria,” Genos considerou pensativamente.
Embora ele soubesse que alguém de alto status seria enviado devido à importância desse incidente, pensar que eles realmente enviariam o Justiceiro. E sua discípula, Hemoria, era tão importante quanto Atarax.
— E os sobreviventes? — Atarax disse.
— Estão todos seguros. — Relatou Genos.
— Quer dizer que não sofreram de nenhuma poluição mental?
— Felizmente.
— A poluição pode se espalhar rapidamente até mesmo do menor grão. Depois de inspecionar o local do ritual, entrevistaremos cada um dos sobreviventes individualmente. — Declarou Atarax.
— Sabe, seu tom não soa como alguém que está pedindo permissão. — Genos apontou agressivamente.
— Isso precisa ser feito. Você não quer que mais nenhum membro do seu clã caia na corrupção, não é? — Atarax respondeu.
A expressão de Klein endureceu com as palavras de Atarax. Ele olhou para o inquisidor com uma hostilidade incomum em seus olhos. Hemoria reagiu a esse olhar colocando os dedos na máscara que cobria sua boca e olhando para Klein.
— Não estamos aqui para simpatizar com o infeliz incidente do clã Lionheart, nem para ajudar a descobrir a verdade. — Disse Atarax enquanto levantava a mão e agarrava o ombro de Hemoria. — Este incidente é um caso sem precedentes e bizarro dos remanescentes dos Reis Demônios, que foram subjugados trezentos anos atrás, voltando para causar o caos. No atual Maleficarum, podemos não ter permissão para caçar magos negros ou demônios, mas… Para caçar os culpados, não importa quem eles possam ser.
— Portanto…? — Klein sugeriu.
— Estamos aqui para fazer o que precisa ser feito. — Afirmou Atarax com determinação. — Como tal, não pediremos permissão. Chefe do Conselho, entendemos que você pode querer encobrir o constrangimento do seu clã, mas… E se alguma semente do mal permanecer nas cabeças dos sacrifícios? E se isso os levar à loucura e um dia realizar o mesmo ritual demoníaco que Eward fez?
— Tudo bem, vejo a necessidade. — Admitiu Klein relutantemente enquanto suspirava e balançava a cabeça. — No entanto, permita-me corrigir apenas uma coisa. Não tenho intenção de encobrir o constrangimento de nosso clã. Porque se tentarmos cegamente escondê-lo, tudo o que faremos é apodrecer por dentro. No entanto, o que me preocupa é que seus métodos de entrevistar os sacrifícios possam ser muito duros.
— Nossas entrevistas serão gentis e educadas. — Prometeu Atarax.
— Nesse caso, você não vai se importar que eu assista. — Solicitou Klein.
Atarax concedeu.
— Sim, por favor, assista como quiser.
Eles se dirigiram para as profundezas da floresta. Encontrar o local onde o ritual foi realizado não foi difícil, pois vários Leões Negros estavam guardando a floresta para que nenhuma besta demoníaca pudesse danificar o local.
— Hm. — Melkith murmurou pensativamente.
Durante todo esse tempo desde que entraram na floresta, Melkith permaneceu focada sem dizer uma palavra. Ela parou de andar por alguns instantes, depois se abaixou e tocou o solo com as mãos.
— Hm. — Melkith murmurou novamente, estreitando os olhos.
O solo sobre o qual ela varreu as mãos tremeu e pessoas de barro do tamanho de um dedo saíram do chão.
— Na verdade, parece… Que realmente havia um espírito das trevas… Isso é bastante incomum. — Melkith murmurou enquanto dava tapinhas na cabeça do povo de barro com um dedo. — Os espíritos desta terra… Não estão realmente em harmonia com o solo daqui. Eles foram empurrados de um pedaço de terra diferente para este. E ali… Hmmm… O número de espíritos primitivos é menor do que deveria.
Melkith pegou um monte de terra com as mãos. Então abriu os dedos e deixou o solo escorrer como grãos de areia.
— Talvez, uma vez que esta estação passe, não haverá sequer uma folha de grama naquela área? É bem curioso… Isso é… Em vez da terra estar morta… Hmm, isso mesmo… Então é isso mesmo. Parece que os espíritos primitivos da terra foram realmente transformados em espíritos das trevas? — Melkith levantou a hipótese.
— Algo assim é possível? — Eugene perguntou a ela.
— Para mim? Claro, é impossível. Não tenho nenhum contrato com os espíritos das trevas, nem quero fazer um. Mesmo assim, não é como se eu precisasse conhecer os espíritos das trevas em primeira mão, não? Nenhum espírito pode interferir ou obstruir outros espíritos de elementos completamente diferentes. Mesmo que sejam um Rei Espírito. — Melkith disse com uma risada enquanto se endireitava. Portanto, um espírito normal das trevas não deveria ter o poder de assimilar à força os espíritos primitivos de outro elemento. Além disso… Você não disse que ele foi capaz de bloquear os olhos e os ouvidos dos prestigiados Cavaleiros Leão Negro? Haha! Isso é impossível.
— É porque não era um espírito qualquer. — Explicou Eugene.
— Sim, é por isso que é tão curioso… Que intrigante. — Disse Melkith entusiasmada. — Os remanescentes dos Reis Demônios que foram derrotados centenas de anos atrás permaneceram em suas armas… Isso eu posso entender. No entanto, para que esses remanescentes se tornem espíritos? Já existem vários artigos escritos sobre a estreita relação entre mana e espíritos, mas para um Rei Demônio se tornar um espírito é–
— Também pode significar que a adoração de espíritos é realmente um tipo de heresia. — Atarax murmurou.
— Você ainda está falando bobagens. — Disse Melkith com um bufo enquanto levantava as mãos.
O povo de barro rastejou de volta ao solo, fazendo com que ele tremesse e subisse. Era a onda de terra que Melkith havia mostrado a eles na floresta do clã Lionheart.
— Para alguém como você, que fala tanta besteira, não merece surfar nesta minha incrível onda de terra. — Melkith declarou com orgulho.
— Em vez de fazer algo tão vergonhoso, vamos logo. — Lovellian a repreendeu.
— É aqui. — Disse Eugene ao chegarem ao local onde o ritual ocorrera. — Ali… Era ali que acontecia o ritual. Talvez restem alguns vestígios dele? Um círculo mágico foi desenhado por todo o chão… Partes dele também foram pintadas no ar, mas aquelas desapareceram.
Ele foi observado em silêncio enquanto os outros examinavam o local.
— Além disso, havia uma… Árvore negra ali. Não sei se realmente deveria ser chamada de árvore, mas bem, pelo menos parecia uma. Os sacrifícios eram pendurados em galhos que se contorciam como tentáculos. E tudo foi engolido por uma escuridão absoluta. — Eugene disse enquanto olhava para Ciel. — Como não fui capturado como um sacrifício, se você quiser saber como foi, pergunte a Ciel em vez de mim. Ela foi capaz de se manter parcialmente consciente mesmo nessa situação.
— Realmente, isso é… — Lovellian murmurou baixinho enquanto olhava ao redor, então soltou um bufo. — Isso é ainda pior do que eu pensava.
— Foi um ritual horrível. — Concordou Eugene.
— Não, não estou falando do ritual. — Esclareceu Lovellian enquanto levantava um dedo e apontava para alguma coisa. — Pode até ser considerado uma sorte haver apenas uma vítima inocente.
Lovellian apontava para os vestígios da batalha. Ele olhou para um grande buraco tão fundo que parecia ter perfurado todo o leito rochoso. Melkith também assobiou enquanto olhava ao redor.
— Isso é enorme. Quão ruim é que não há espíritos no solo? — Melkith ficou maravilhada.
— Que terrível. — Atarax rosnou enquanto estreitava os olhos e levantava a mão.
Ele ‘agarrou’ o ar com os dedos enluvados de branco e os esfregou. Depois de fazer isso, suas luvas foram instantaneamente tingidas de preto.
— E pensar que eu seria capaz de ver tal poder demoníaco sinistro em um lugar fora do Domínio Demoníaco… — Atarax murmurou.
— Cinco dias atrás, era ainda pior do que agora. — Eugene falou casualmente, depois se encolheu e abriu o manto. — Sem o poder da Espada Sagrada e do Akasha, eu também não teria sobrevivido.
Embora já tivesse recebido bastante atenção, Eugene não queria atrair ainda mais atenção e suspeita desses estrangeiros.
Então ele pegou a Espada Sagrada e o Akasha e os mostrou ao grupo. Akasha não recebeu muita atenção, mas os olhos de todos brilharam ao olhar para a Espada Sagrada que Eugene segurava em suas mãos. Eles não podiam deixar de fazê-lo. Esta Espada Sagrada fazia parte da lenda do Grande Vermouth e dizia-se ser a espada lendária que havia derrubado três Reis Demônios. Depois que Vermouth faleceu, apenas o Patriarca foi capaz de carregar a Espada Sagrada durante as cerimônias familiares, e nenhuma pessoa foi reconhecida pela Espada Sagrada como seu mestre.
— Uau… — Atarax suspirou em admiração enquanto também olhava para a Espada Sagrada.
Hemoria, que não havia pronunciado uma única palavra até agora, também olhou para a Espada Sagrada com olhos alarmados.
Atarax murmurou.
— É mesmo Altair…!
— Sim, isso mesmo. — Confirmou Eugene.
— A princípio, pensei que o relatório estava errado… Mas e pensar que um novo mestre de Altair realmente foi encontrado…! — Atarax exclamou em espanto.
Eugene começou a dizer.
— Minhas desculpas por esconder isso—
— Não há necessidade de dizer tal coisa. — Atarax interrompeu Eugene com um aceno de cabeça. — Havia uma boa razão para você não poder anunciar que é o mestre da Espada Sagrada, e a Candidata a Santa Kristina e a Santa Sé já não estavam cientes de seu status como o novo mestre da Espada Sagrada, afinal?
Atarax ergueu as mãos.
— Hemoria! Aplausos para o mestre da Espada Sagrada! — Atarax instruiu.
Hemoria silenciosamente ergueu as mãos e começou a bater palmas. Mas o som das palmas de Atarax era muito mais alto que o de Hemoria.
— Chega. — Disse Atarax quando os aplausos pararam abruptamente. — Agora então, mestre da Espada Sagrada, por favor, conte-nos a história de como você matou heroicamente o demônio que tentou descer aqui!
— Ele morreu, porque brandi a Espada Sagrada nele. — Eugene simplesmente explicou.
Atarax e os outros ficaram mudos.
— Bem, também fez um som de ‘kaagh’ antes de mordê-lo. — Eugene murmurou enquanto caminhava até o altar onde partes do círculo mágico permaneciam.