Capítulo 241
O Corajoso Moron (1)
Quatro dias se passaram desde o encontro, mas Ortus ainda não havia revisitado Eugene.
“Parece que eles ainda não estão com pressa”, ponderou Eugene.
Talvez fosse uma oferta menos chocante encurtar os cinquenta anos para apenas vinte e cinco?
Eugene também tinha a intenção de um dia encontrar Iris, que navegava pelos mares do sul, e matá-la. No entanto, honestamente falando, isso estava muito abaixo em sua lista de prioridades.
A primeira coisa que Eugene precisava fazer era visitar o Castelo do Dragão Demoníaco em Helmuth. Ele encontraria o filhote do Raizakia lá e, se fosse possível, o mataria. Claro, antes disso, usaria o filhote para encontrar Raizakia na brecha entre as dimensões.
Iris e qualquer outro assunto inacabado viriam depois disso. A julgar pela forma como Ortus formulou seu pedido, parecia que o lado de Shimuin ainda pensava em Iris apenas como um incômodo e não havia decidido cuidar dela o mais rápido possível.
Além disso, o maior problema com a captura de Iris era que os mares eram muito largos. Além disso, o Olho Demoníaco das Trevas de Iris era formidável não apenas em combate, mas também quando se tratava de fugir.
No meio daqueles mares abertos, o que deveriam fazer se Iris usasse o Olho Demoníaco das Trevas para escapar? Não apenas Eugene, mas qualquer outro mago no mundo não seria capaz de impedir que Iris fosse embora.
“Bem, comparada a Noir Giabella, Iris é bem louca”, Eugene pensou distraidamente enquanto limpava a neve de sua bochecha.
Dois dias antes, Moron havia deixado repentinamente a fortaleza.
Deixando para trás as palavras ‘já volto’ na parede de um corredor, o idiota saiu sem dizer nada a Eugene ou Anise. Do nada, ele simplesmente desapareceu no meio da noite.
Eles poderiam adivinhar o motivo disso. Que outro motivo Moron poderia ter para desaparecer de repente? Não era óbvio? Em Lehainjar, além do Grande Cânion do Martelo, os Nur provavelmente reapareceram.
— Idiota. — Resmungou Eugene ao pensar em Moron.
Depois de chegar à fortaleza, Moron estava extremamente ocupado.
Naquela primeira noite, ele, Eugene e Anise beberam e conversaram até o amanhecer. Depois que o Rei Demônio do Encarceramento saiu, Moron falou com cavaleiros de todo o mundo, começando com os Lionhearts, e participou de várias reuniões com os outros reis.
Ele observou brevemente os cavaleiros durante seus treinamentos e deu-lhes conselhos semelhantes, e ofereceu um pequeno banquete com os outros membros da tribo Bayar que viviam lá. Ele também passou algum tempo com Aman Ruhr e os Presas Brancas. Então, mesmo já tendo falado com a maioria deles, ainda foi visitar os Lionhearts em sua mansão para que pudesse conhecer pessoalmente todos aqueles que levavam o sobrenome Lionheart e contar-lhes várias histórias.
Moron gostava especialmente de Gilead e seus gêmeos. Embora não houvesse muita semelhança facial, o cabelo comprido de Gilead parecia lembrar Moron de Vermouth. Os gêmeos acharam difícil superar o nervosismo quando conheceram Moron pela primeira vez, mas mesmo que não combinasse com ele, Moron agiu como um avô gentil com eles e até deu dicas enquanto os gêmeos treinavam.
Enquanto estava na fortaleza, Moron não dormiu um minuto. Tudo por causa dos Nur. Mesmo que os dois dias que passou ali tenham sido tão ocupados, Moron manteve um olho em Lehainjar continuamente. Ninguém sabia quando os Nur poderiam reaparecer.
Dois dias antes, parecia que finalmente reapareceram. Mas se isso fosse tudo, então Eugene e Anise teriam aceitado como algo que não poderia ser evitado. Se Moron tivesse voltado naquela mesma manhã, o teriam encontrado e xingado algumas vezes. No entanto, já haviam se passado dois dias inteiros e Moron ainda não havia retornado à fortaleza.
Então, para encontrar Moron, Eugene e Anise partiram para escalar Lehainjar. Para evitar que alguém se preocupasse desnecessariamente, Eugene deu uma explicação vaga ao Patriarca, ele disse a Gilead que iriam receber um teste do Corajoso Moron em Lehainjar. Foi uma desculpa inventada às pressas, mas ser submetido a um teste pelo grande herói tinha peso suficiente para convencer os outros.
— Na verdade, é tudo porque Moron é um idiota. — Eugene cuspiu enquanto olhava para a luz piscando na palma de sua mão. — Porque aquele maldito fez um ato tão duro quando todos os cavaleiros estavam reunidos, todo mundo pensa que fazer coisas assim é apenas Moron sendo Moron.
— Você está sendo muito duro com Moron. — Os olhos de Anise se arregalaram quando olhou para Eugene. — Moron definitivamente age como um tolo quando está conosco, mas na frente de seus descendentes e das pessoas desta época, ele se comportou muito bem, não?
— Sim, e ele parecia muito sério. Dizem que “a posição faz a pessoa”, e parece que realmente é assim. — Eugene suspirou.
— Hamel, você já estava morto na época, então pode não saber bem sobre isso, mas trezentos anos atrás, Moron era realmente incrível. — Anise o repreendeu. — Moron foi quem primeiro se estabeleceu nesta terra inexplorada e congelada no extremo norte do continente apenas com sua própria força pessoal. Naquela época, as pessoas do continente o chamavam de Rei Pioneiro do Norte.
— Mas falando de fato, não é como se Moron tivesse feito tudo sozinho, certo? — Eugene argumentou. — Ouvi dizer que você também ajudou na fundação de Ruhr pressionando o Papa de Yuras, não?
Anise reconheceu seu ponto.
— Sienna também ajudou, e Sir Vermouth também forneceu uma parte significativa dos fundos pioneiros de Moron. No entanto, ainda foi por causa da força pessoal e da firme vontade de Moron que ele conseguiu se estabelecer nesta terra e criar um reino.
Isso era simplesmente um fato, sem nenhum exagero. Eugene estalou a língua enquanto olhava para as chamas bruxuleantes.
— Em todo caso, eles só permitiram que nós dois viéssemos aqui procurar Moron sem protestar, porque achavam que era muito próprio de Moron dar às pessoas esse tipo de tarefa. — Insistiu Eugene.
— É um pretexto bastante razoável. — Lembrou Anise. — O fundador de Ruhr, o grande herói de trezentos anos atrás, reapareceu pela primeira vez em cem anos; a lenda viva decide testar o Herói e a Santa da era atual… Não parece algo de um mito ou lenda?
— E, no entanto, aqui estamos nós, realmente procurando por ele depois que desapareceu por conta própria. — Resmungou Eugene.
Ao contrário da última vez, eles não precisavam da orientação de Abel. Quando estavam deixando o Grande Cânion do Martelo da última vez, Eugene havia deixado para trás um sinal mágico para a próxima vez que viessem à procura de Moron. A chama que Eugene segurava na palma da mão indicava o caminho enquanto procuravam o sinal mágico.
Graças a tudo isso, sua velocidade de movimento aumentou significativamente. Isso porque da última vez que foram ali, foram forçados a acompanhar a velocidade de Abel, mas agora não havia necessidade disso. Eugene ergueu a cabeça enquanto apagava a chama que segurava na palma da mão.
Nos limites de seu campo de visão, o Grande Cânion do Martelo oscilava à distância. Ainda faltava uma boa distância antes que pudessem alcançá-lo, mas se mantivessem o ritmo atual, provavelmente chegariam lá em meio dia.
— O problema vai ser a barreira, o que vamos fazer a respeito? — Anise perguntou.
— Se eu tivesse parado para pensar nisso, não teríamos chegado aqui tão rápido, não é? — Eugene apontou. — Nesse caso, enquanto estávamos atravessando aquela nevasca, podemos até ter nos cruzado e não notado quando Moron voltou para a fortaleza à nossa frente.
— Se isso realmente aconteceu, então eu vou dar um soco na cara de Moron quando o vir. — Anise ameaçou.
Eugene concordou.
— Vá em frente e quebre a frente da cabeça dele, eu cuido da parte de trás.
— Parece bom. Hamel, vou entrar um pouco, então cuide bem de Kristina e mantenha-a fora de perigo. — Anise pediu enquanto trocava de lugar com Kristina.
Agora de pé em seu lugar, Kristina piscou surpresa algumas vezes antes de franzir as sobrancelhas e estremecer de frio.
— Você não acha que está indo longe demais? — Kristina reclamou.
— O quê? — Eugene perguntou.
Kristina esclareceu.
— Estou falando da irm– Quero dizer, da Senhorita Anise!
Quando eram apenas as duas conversando, Kristina sempre se dirigia a Anise como ‘irmã’, mas usar essa forma de tratamento na frente de outras pessoas era de alguma forma constrangedor.
[Qual é a diferença? Eu já disse isso antes, mas entre as freiras, não há nada de especial em chamar uma à outra de ‘irmã’, não é?]
Certamente não havia nada incomum em freiras chamando umas às outras de ‘irmã’, mas quando Kristina usava essa palavra, Anise sempre interpretava como Kristina chamando-a de ‘irmã mais velha’. Kristina estava bem ciente disso, então ficava envergonhada de chamar Anise de ‘irmã’ na frente dos outros.
Kristina expressou suas queixas.
— Posso entender por que ela pediria para trocar de lugar comigo quando tem muito a dizer. Também posso entender por que ela deixou a maior parte da caminhada por esta terra fria e inóspita para mim. Mas a Senhorita Anise está sendo bastante mal-educada ao remover todos os milagres que impedem que o frio nos atinja no momento em que troca de lugar comigo.
Anise admitiu: [É divertido ver você tremendo de frio. Além disso, isso é tudo para o seu bem, Kristina.]
Krisitna murmurou.
— Como no mundo isso poderia ser pelo meu bem…
[Quando você de repente percebesse como estava frio, não teria sido bom se tivesse se jogado nos braços de Hamel para escapar do frio?]
Os lábios de Kristina, que estavam prestes a desabafar seu desprazer transbordante, ficaram se movendo silenciosamente.
[Isso é o que eu esperava que você fizesse sem nem pensar nisso, mas agora que dissemos tudo isso, você perdeu a chance de fazê-lo. Embora essa oportunidade tenha se mostrado um fracasso, da próxima vez você deve se concentrar em abraçar Hamel. Se você o está abraçando porque está com frio, mesmo que ele esteja envergonhado, Hamel não rejeitará.]
— Por que você parou de falar de repente quando estava prestes a dizer alguma coisa? — Eugene perguntou preocupado.
Todo o rosto de Kristina ficou vermelho enquanto ela gaguejava:
— U-U-Um demônio, um demônio está sussurrando para mim dentro da minha cabeça.
* * *
Embora já tivesse passado a hora em que o sol normalmente se punha, não havia noite em Lehainjar. Eugene olhou para o céu coberto de nevasca e para a luz do sol distante, bem como para os imponentes penhascos em forma de martelo abaixo.
A última vez que foram ali, armaram uma barraca nas proximidades e acamparam no local. No entanto, não havia necessidade de fazê-lo agora. Nem Eugene nem Kristina sentiam necessidade de descansar.
Vendo o Grande Cânion do Martelo dali, dava uma atmosfera completamente diferente do que sentiram na última vez que estiveram lá. Não… Em vez disso, era melhor dizer que o Grande Cânion do Martelo tinha sido assim desde o início. A atmosfera naquela época era incomum, havia passado por uma transformação repentina devido ao aparecimento do Nur.
Atualmente, não havia nenhum sentimento no ar como o que sentiram na última vez que o Nur apareceu. Não podiam ver nenhum sinal daquele monstro hediondo, nem sentiram a aura sinistra que tanto se assemelhava ao Rei Demônio da Destruição. Eugene estalou a língua e continuou andando de onde havia parado.
Já descendo pelas colinas, Eugene voltou-se para Kristina e perguntou:
— Você precisa que eu a carregue?
Kristina hesitou por um momento, incapaz de dar uma resposta imediata. Durante essa pausa, seus olhos encontraram o olhar furioso de Mer através de uma abertura no manto de Eugene. O olhar de Mer era tão desdenhoso e desconfiado que, por alguns momentos, Kristina considerou seriamente aceitar a oferta de ser carregada, mas…
Eventualmente, rejeitou a oferta.
— Ahem… Vou ficar bem.
Não que ela não gostasse da ideia, mas sentia que não seria capaz de suportar o constrangimento de ser carregada por Eugene. Especialmente porque estava claro que a voz de Anise em sua cabeça a provocaria o suficiente para fazê-la querer morrer, então Kristina não tinha confiança de que seria capaz de lidar com a provocação enquanto mantinha a compostura.
[O que haveria de tão embaraçoso nisso?] Anise reclamou. [Se você continuar hesitando assim, acabará tendo muitas coisas roubadas de você.]
“R-Roubadas de mim?” Kristina repetiu interrogativamente.
[Posso pensar em dezenas de coisas que podem ser roubadas de você, mas seria muito constrangedor ter que dizê-las com meus próprios lábios, uma por uma.]
Anise estava provocando Kristina novamente. No entanto, esse tipo de provocação estava fazendo a imaginação de Kristina se descontrolar. Enquanto a neve continuava a cair, o vento estava gelado, mas apesar da brisa fria soprando em seu rosto, o rosto de Kristina estava queimando.
Depois que acalmou sua respiração acelerada com uma tosse, abriu suas asas de luz.
O topo das colinas parecia o mesmo da última vez. A única coisa que se via era muita neve, não havia outros vestígios.
Eugene, que esperava pelo menos algumas manchas de sangue, não conseguiu esconder sua decepção. E se realmente tivessem se cruzado com Moron sem nem perceber? Além de ficarem chateados, nesse caso, Eugene e Anise seriam forçados a esperar até que Moron voltasse para procurá-los.
“Ele disse que seria capaz de ver Lehainjar mesmo à distância”, lembrou Eugene.
Por alguns momentos, Eugene ficou perdido em pensamentos enquanto caminhava pelo topo dos penhascos.
Este lugar, o Grande Cânion do Martelo, agia como uma espécie de fronteira, a zona de fronteira à qual os Nur estavam limitados ao fazer sua aparição neste mundo. O outro lado de Lehainjar, onde Moron havia empilhado os cadáveres dos Nur, também era acessível a partir deste ponto.
“Isso está muito bem escondido”, julgou Eugene.
Akasha, que concedia ao seu portador a compreensão de toda a magia, já estava nas mãos de Eugene. No entanto, ainda não foi fácil para ele encontrar os feitiços que estavam escondidos neste penhasco.
Isso o lembrou da Sala Escura. Os feitiços eram impossíveis para ele entender, mas Eugene ainda se lembrava de algumas das fórmulas mágicas usadas para criar a Sala Escura.
— Mer. — Eugene Chamou.
[Estou me concentrando.], veio a resposta imediata de Mer de dentro do manto.
Ao vincular sua consciência com Akasha, Mer estava tentando interpretar quais feitiços existiam no local. Sem nenhuma pista, ela levaria muito tempo para interpretar os feitiços em toda essa área, mas felizmente ela não estava completamente sem noção, pois havia obtido algumas informações de seu tempo na Sala Escura.
— Ele realmente escondeu isso profundamente. — Eugene murmurou.
Mer concordou. [Sim, isso mesmo. Eu realmente não sei o que é o Nur, mas você se lembra do que Sir Moron disse, certo?]
O Nur emitia uma aura sinistra, como uma espécie de veneno. Mesmo que morresse, aquela aura sinistra não desapareceria. Mesmo um cadáver comum poderia se tornar a fonte de doenças infecciosas quando apodrecesse, mas se uma massa de miasma sinistra como o cadáver de Nur apodrecesse… E se esses cadáveres tivessem sido empilhados por cem anos, então Lehainjar definitivamente não teria sido capaz de manter sua aparência atual.
[O espaço aqui foi cortado. Ou talvez ‘em quarentena’ seja uma palavra melhor… Você também sabe para que esses feitiços são mais usados, certo?] Mer o lembrou.
“Eles devem manter as coisas em segredo”, Eugene respondeu silenciosamente.
[Sim, e também tem que ser completamente seguro. Deve ser completamente imperceptível e impenetrável por dentro e por fora. Graças às pistas que encontramos, entre mim e Akasha… Acho que podemos encontrá-lo. No entanto, não tenho certeza se é possível invadi-lo.] Mer disse em dúvida.
Eugene discordou. “Não é como se não tivéssemos nenhum método.”
[Você quer tentar usar aquela espada absurda?] Mer perguntou preocupada.
Eles estavam falando sobre a Espada do Luar.
[Bem, se usar essa coisa, então não tenho certeza… Realmente pode ser possível criar uma abertura nessa barreira mágica que não parece magia comum], Mer refletiu. [No entanto, Sir Eugene, o que você vai fazer depois disso? Sir Moron não é um mago. Se essa barreira é resultado do poder que lhe foi concedido por Sir Vermouth, isso significa que é única. Uma vez que a barreira for quebrada pela Espada do Luar, pode ser impossível consertar a abertura.]
“Não tenho intenção de quebrá-la”, Eugene respondeu enquanto colocava as mãos na Espada do Luar dentro de seu manto. “Só vou bater um pouco na porta. Se ele ainda estiver do lado de dentro, verá que algo está acontecendo fora da barreira. Se nada acontecer e ninguém reagir, isso significa que Moron não está lá dentro. Ou talvez aquele idiota seja estúpido demais para notar.”
Claro, também havia outra possibilidade… Mas Eugene realmente não queria seguir essa linha de pensamento.
— Já chegamos até aqui, mas, para ser sincera, não tenho certeza disso. — Confessou Kristina de repente enquanto seguia atrás de Eugene, que ainda circulava pelos topos dos penhascos.
O som de sua voz foi uma surpresa, mas Eugene imediatamente percebeu que Anise havia retomado o controle de seu corpo compartilhado. Como as duas haviam trocado de lugar na frente dele tantas vezes, Eugene aprendeu a perceber a sutil diferença de sotaque entre Anise e Kristina.
— No que você está tão pensativa? — Eugene questionou.
Anise o lembrou:
— Moron disse que não queria nos mostrar o que havia do outro lado, porque a aura venenosa lá é muito espessa e porque pode deixar sua cabeça estranha.
Então disse que poderia até nos deixar doentes. Ele continuou inventando mais desculpas como essa para nos impedir de olhar.
Moron, aquele Moron, continuou tentando inventar desculpas, apesar de ser péssimo nisso.
— Isso significa que há algo que Moron não quer que vejamos do outro lado. — Concluiu Anise.
— E daí? — Eugene bufou com desdém.
Anise olhou para ele.
— Hamel, eu sabia que você diria algo assim. Você é tão imprudente quanto era trezentos anos atrás.
Eugene respondeu:
— Anise, você também viu aquele olhar nos olhos de Moron. Bem aqui, quando o encontramos, você realmente esqueceu como ele estava naquele momento?
— Naquele momento, ele realmente não era como o Moron de sempre. — Lembrou Anise.
— Isso mesmo, Moron não era como ele. — Concordou Eugene. — Ele nos expulsou com um golpe feroz de seu machado. Mas depois de todo esse desastre, apenas alguns dias depois, ele aparece sorrindo como um idiota, nos arrastando para abraços e soluçando como um bebê.
Eugene não queria aceitar que a situação era suspeita, mas neste momento, não tinha outra escolha a não ser reconhecê-la. Ele assim expressou seus medos.
— Não é que Moron não pudesse ter mudado nos últimos trezentos anos. Ele definitivamente mudou, mas quando está na nossa frente, parece que não mudou nada. Talvez ele esteja escondendo essas mudanças por algum motivo. Não sei o motivo, e parece que Moron não quer falar sobre isso, mas como sou filho da puta, não preciso ter consideração por Moron. Preciso ver por que Moron está fazendo isso com meus próprios olhos.
— Por favor, não se chame de filho da puta. — Protestou Anise.
— Mas você me chamou de filho da puta mais cedo. — Eugene argumentou de volta.
— Eu disse que você não é diferente de um filho da puta, eu não disse que você era um filho da puta. — Corrigiu Anise. — Além disso, Hamel, se até você pensa que o que está tentando fazer atualmente o torna um filho da puta, mesmo que seja apenas para o seu próprio bem, você não deveria tentar não ser um filho da puta?
Eugene apenas sorriu em resposta a isso. No final, Anise estava jorrando todas essas palavras e argumentando que deveriam levar em consideração os sentimentos de Moron, mas ela ainda estava ali e na verdade não havia se recusado a passar para o outro lado. Afinal, não foi Anise quem primeiro apontou a incongruência nas palavras de Moron alguns dias atrás?
—A coisa que você não quer que vejamos lá não são apenas coisas aleatórias como alguns cadáveres de monstros.
—Além disso, ainda sou a mesma velha eu. Quanto mais você não quer me mostrar algo, mais eu quero ver, independentemente do custo.
Anise Slywood realmente era esse tipo de pessoa terrível. Na verdade, Anise não era a única. Eugene era o mesmo tipo de pessoa, e se Sienna também estivesse ali, também teria se comportado da mesma maneira.
O grupo tinha passado por todos os tipos de coisas juntos. Eles quase morreram várias vezes. Passaram dezenas de anos vagando juntos assim. A jornada por Helmuth mudou cada um deles de várias maneiras.
No entanto, algumas coisas não mudaram. Se Moron realmente mudou, se não teve escolha a não ser mudar durante esses longos trezentos anos, e se foi forçado a mudar durante os cem anos que passou bloqueando a fuga dos Nur, então…
Hamel e Anise precisavam descobrir o motivo disso.
— Está aqui. — Eugene gritou quando seus passos pararam.
Dentro do manto, Mer estava ofegante. Era natural para ela fazer isso, já que quase teve que se sobrecarregar para interpretar os feitiços lançados sobre este espaço. Eugene enfiou a mão no manto e deu tapinhas na cabeça de Mer algumas vezes.
[Não pense que você pode terminar as coisas apenas com isso], Mer o avisou. [Da próxima vez, precisa me levar para andar no carrossel.]
— Carrossel…? — Eugene repetiu em confusão.
Mer fez beicinho. [Sir Eugene, você frequentemente mostra uma reação estranha às palavras carrossel. Será que está com vergonha de andar no carrossel comigo?]
— Não é vergonha, mas… Algo está um pouco errado… — Eugene murmurou desajeitadamente enquanto tirava a mão da cabeça de Mer e puxava a Espada do Luar.
— A Espada do Luar… — A expressão de Anise enrijeceu um pouco quando disse seu nome.
A espada manteve a mesma aparência de trezentos anos atrás, mas só de olhar para ela, Anise podia sentir seu coração começar a bater forte. Embora tivesse sido quebrada, deixando para trás apenas o punho e os fragmentos da lâmina, a aura estranhamente sinistra que a espada emitia ainda permanecia.
À primeira vista, parecia ser apenas uma parte de uma espada comum, algo que poderia ter sido vendido em qualquer oficina de ferreiro.
Eugene segurou a espada pela bainha e lentamente puxou o cabo como se estivesse puxando a lâmina para fora.
Fwooosh…!
A pálida luz da lua cintilou, formando a lâmina. Como sempre, Anise simplesmente não conseguia se acostumar com a visão daquela luz.
Eugene era igualmente incapaz de se acostumar com a luz da Espada do Luar. Sua aura sinistra era diferente da do Rei Demônio da Destruição… Era refinada, mas de alguma forma ainda turbulenta.
Destruição em forma de espada.
A lâmina de luz cintilou ao alcance de Eugene. Ele não tinha intenção de quebrar a barreira; tudo o que queria fazer era bater levemente. Era possível para ele ajustar o poder da espada a esse ponto.
Com esse pensamento em mente, Eugene ergueu a Espada do Luar.
No entanto, descobriu-se que não havia necessidade dele bater. No momento em que a Espada do Luar caiu em direção à barreira, como se respondesse à sua luz, a barreira se abriu. Embora abrir o caminho para a dimensão do outro lado não fosse como abrir uma porta física real.
Também não havia nenhum sentimento flutuante.
Como se o mundo ao seu redor tivesse decidido mudar por conta própria, Eugene e Anise de repente estavam em um local diferente.
— O que… O que você fez? — Anise perguntou hesitante.
Eugene negou seu envolvimento.
— Não, eu não fiz nada. A barreira acabou de se abrir sozinha…
Será que Moron sentiu algo antecipadamente? Ou talvez a barreira de Vermouth tenha respondido à Espada do Luar e aberto a porta? No momento, Eugene não sabia a resposta para essas perguntas.
— Ugh… — Anise de repente se engasgou e levou a mão à boca.
Trezentos anos atrás, eles viram tantas visões terríveis que quase se cansaram delas. No entanto, por mais experiente que a própria Anise fosse, no corpo de Kristina, que não tolerava tais coisas, sua primeira reação à visão diante deles foi uma rejeição violenta.
O mesmo aconteceu com Eugene também. Ele se sentiu tonto e teve que se segurar nos próprios joelhos para não cair.
Este lugar ainda estava em Lehainjar, o outro lado do Grande Cânion do Martelo.
No entanto, não havia semelhanças com o mundo além. Não havia neve no chão e também não caía neve do céu. Fosse o chão sob seus pés ou a paisagem ao redor deles, tudo parecia bizarramente distorcido.
Este cenário lembrou Eugene de Helmuth de trezentos anos atrás. No Domínio Demoníaco, não era nada estranho que qualquer coisa acontecesse. Era uma terra hedionda e grotesca que, para qualquer um dos humanos capturados ali, não era diferente do inferno.
Boom, boom.
Eles podiam ver os picos sinuosos e retorcidos das montanhas acima. O solo agitado, que parecia ter sido criado quando a lava ferveu abaixo da superfície e depois esfriou, estava coberto de sangue e pedaços de carne.
Boom, boom.
Um cadáver estava no chão não muito longe de onde estavam. O corpo era familiar para Eugene, assim como o que ele tinha visto alguns dias atrás, era um cadáver de gorila como o Nur. Mas esse cadáver era uma visão muito mais medonha.
Naquela época, o cadáver do Nur que encontraram havia sido morto de forma limpa e estava no chão com a garganta cortada. Em contraste, este cadáver não estava caído no chão, mas espalhado pelo chão, feito em pedaços.
Boom, boom.
De algum lugar distante e muito acima, sons altos e pesados ecoaram.