Capítulo 261
Jagon (1)
Depois de mandar Ramira de volta, Eugene se escondeu nas sombras do Castelo do Dragão Demoníaco. Ele foi incapaz de garantir acomodações legítimas, então decidiu se esconder nas sombras do Castelo, mantendo um olhar atento sobre a situação conforme ela se desenvolvia.
Ao se instalar em seu esconderijo, Eugene percebeu que esta era sua chance de reunir mais informações. Ele já havia conduzido uma investigação completa no Castelo, então sabia que apenas alguns poucos selecionados de Karabloom eram privilegiados o suficiente para chamá-lo de lar. Com isso em mente, Eugene ficou atento a qualquer sinal de atividade. Ele queria reunir o máximo de informações possível para entender melhor a situação em questão e determinar o melhor curso de ação no futuro.
Eugene estava bem ciente de que apenas a elite do povo demônio de Karabloom tinha o privilégio de viver dentro das muralhas do Castelo do Dragão Demoníaco. Aquele lagarto arrogante Raizakia era conhecido por ser obcecado por privilégio e exclusividade, e Eugene suspeitava que o grupo que Raizakia havia escolhido a dedo para se chamar de Nobreza era ainda mais distinto do que o residente médio do castelo.
“Hã?”
As observações de Eugene sobre os residentes do Castelo do Dragão Demoníaco foram uma surpresa para ele. Apesar do seu estatuto privilegiado, pareciam longe do grupo de elite que ele esperava. Na verdade, se pareciam muito com o inspetor Bhud — preguiçosos e contentes em seu ambiente pacífico. Sem o governo de punho de ferro de Raizakia para mantê-los sob controle, os demônios do Castelo tornaram-se complacentes e letárgicos ao longo dos séculos. Eugene podia sentir que tinham engordado e se corrompido, confiando em seu status e isolamento para protegê-los de quaisquer ameaças potenciais.
Os demônios que residiam ali não precisavam se preocupar em sofrer quaisquer inconvenientes ou em ter que lutar para manter seu sustento. Em seus lugares, os demônios de Karabloom estavam trabalhando duro e não ousavam se rebelar por causa da sombra persistente de Raizakia.
Enquanto Eugene continuava observando os residentes do castelo, percebeu que o estado corrupto e preguiçoso do Castelo do Dragão Demoníaco não era inteiramente obra deles. Um fator significativo que contribuiu para sua queda foi o fato de ser um ducado sem população humana para fornecer força vital para a cobrança de impostos.
No entanto, Raizakia ainda era um dos Três Duques, então Pandemonium enviava força vital mais do que suficiente para o Castelo do Dragão Demoníaco regularmente. Embora Raizakia odiasse humanos, ele não odiava matar e comer humanos. Entendeu que não poderia rejeitar a força vital dos humanos se quisesse desenvolver sua força como demônio e dragão demoníaco. Mesmo assim, Raizakia tinha um plano maior em mente. Procurou fortalecer-se através de seus descendentes, comprometendo seu orgulho e sua estética em prol de seus objetivos futuros.
Enquanto isso, embora o dragão louco tivesse desaparecido há muito tempo, Babel continuou a enviar força vital humana, que engordou os demônios do Castelo.
“O Poder Negro deles é ótimo, mas isso é tudo… Eles literalmente nada mais são do que porcos engordados.”
Aconteceu o mesmo com Bhud. Embora ele fosse absurdamente fraco, seu poder regenerativo era formidável, permitindo-lhe sobreviver por muito tempo no Purgatório Infinito. Isso significava que Bhud possuía bastante Poder Negro, mas estava limitado a usá-lo apenas para regeneração.
Poder Negro não era uma medida absoluta da força de um demônio. No final, o mais importante era como eles poderiam lidar com o poder e aplicá-lo. A esse respeito, os demônios do Castelo do Dragão Demoníaco eram porcos praticamente esperando para serem devorados por outros demônios, se não fosse pela proteção que o nome de Raizakia lhes concedia.
— Contemplem! — Exclamou Ramira. — Esta senhorita é o único sangue do Dragão Negro! O nome dela é Ramira! Vocês, demônios humildes e mansos do Castelo do Dragão Demoníaco! Demonstrem sua admiração e elogios a esta senhorita!
Assim, o desfile começou nos portões, com Ramira de pé em uma carruagem elegante e declarando sua presença majestosa a todos. Os demônios nas ruas comemoraram e aplaudiram Ramira. Suas vozes se elevaram em um coro de louvor à descendente de seu grande e poderoso governante, o Dragão Negro.
A expressão de Eugene era de descrença enquanto observava essa cena se desenrolar do telhado de um prédio próximo.
O que diabos esses idiotas estavam fazendo? Ele não conseguia entender por que esses indivíduos estavam agindo de forma tão imprudente, dada a ameaça iminente de guerra pairando sobre eles. Além disso, por que Ramira, aquela garotinha demente, estava gritando como uma idiota agora, embora parecesse que ela entendia o que ele estava dizendo antes?
Mer soltou um suspiro descontente. Seus lábios carnudos revelaram sua irritação quando ela colocou a cabeça para fora do manto de Eugene.
— Eu sabia. — Resmungou ela. — Deveríamos tê-la matado quando tivemos a chance.
Mer achou Ramira bastante irritante e insuportável, embora por razões que ela mesma não conseguia explicar.
Era porque Ramira era filha do Dragão Negro, a criatura responsável por tentar matar a amada Senhorita Sienna de Mer? Parcialmente. Mer sabia que não era certo responsabilizar a filha do Dragão Negro pelos pecados de seu pai, mas era difícil sempre permanecer racional.
Ainda assim… Esse não era o único motivo. Mer estava consciente do fato de que Ramira era semelhante a ela em idade, bem como do fato de que ambas se assemelhavam a uma criança na aparência. Além disso, Ramira estava confinada em seu palácio, assim como Mer estava presa em Acryon.
Mesmo que Eugene agisse como um valentão e xingasse sempre que podia, Mer sabia que ele não era uma pessoa má no coração. Por isso ia levar Ramira sem matá-la.
“Uma inimiga.”
Mer estava convencida de que Ramira se tornaria sua inimiga — sua rival — desde o primeiro encontro.
— Mer, eu não disse para você não dizer coisas ruins? — Disse Eugene.
— Sir Eugene, acho que não é você que está falando. Afinal, é você quem está sempre dizendo foda-se isso, foda-se aquilo. E quando foi que eu disse algo ruim? — Retorquiu Mer.
— Você não deveria dizer imprudentemente que devemos matar alguém. Isso é ruim. — Disse Eugene.
— Mas você sempre diz coisas assim, Sir Eugene. — Retrucou Mer.
— Tudo bem para mim, já que sou uma pessoa má por natureza. — Respondeu Eugene.
— Não sei se você é uma pessoa má, mas o que eu sei é que você é um sem vergonha que não quer ceder nem um centímetro para uma criança numa discussão.
Centenas de refutações diferentes vieram à mente, mas Eugene não se preocupou em verbalizar nenhuma delas. Independentemente do que ele dissesse, ele só se tornaria alguém que se recusava a perder para uma criança, assim como Mer disse. Eugene não poderia permitir isso.
Mesmo assim, teve que dizer uma coisa em resposta:
— Mas você é mais velha que eu.
À medida que as palavras de Eugene foram absorvidas, Mer ficou em silêncio e seu comportamento anteriormente resmungão tornou-se moderado. Os dois ficaram sentados em contemplação silenciosa, observando o desfile barulhento abaixo com expressões solenes.
As horas se passaram e a marcha continuou até o amanhecer, quando o desfile estridente finalmente parou. Enquanto a criança voltava para o Castelo do Dragão Demoníaco, os portões se fecharam atrás dela. Os demônios outrora energéticos que acenavam e gritavam com grande entusiasmo ficaram em silêncio com o fechamento repentino dos portões. Agora, com rostos inexpressivos, se dispersaram e cuidaram de seus próprios negócios.
Eugene viu tudo do telhado. Parecia que a maioria dos demônios que estavam retornando para suas respectivas casas estavam se preparando para partir — ou melhor, escapar.
Ele não pôde deixar de sorrir com desprezo enquanto observava a cena abaixo. O desfile deu a impressão de que todo o Castelo estava unido em sua lealdade à sua nova líder, mas agora era evidente que todos eram cúmplices da conspiração contra Ramira.
— É um pouco lamentável. — Murmurou Mer enquanto observava as ruas sofrerem uma rápida mudança.
Ela não pôde deixar de sentir um pouco de pena dela, embora não gostasse da filhote.
Eugene bagunçou silenciosamente o cabelo de Mer e depois se virou.
— Onde vamos dormir? — Perguntou Mer.
— Na rua secundária. — Respondeu Eugene.
— Bem, na verdade não me importa onde dormimos. Afinal, será você quem terá que dormir no chão, Sir Eugene. Dormirei confortavelmente em seus braços.
— Você quer dizer na cama dentro do manto.
— Você entendeu. — Mer pulou de volta para o manto com uma risadinha.
Eugene começou a encontrar um lugar para se sentar em um beco deserto. Ele sabia que não teria que se preocupar em ser pego, mas queria estar preparado para qualquer situação inesperada antes de poder descansar.
O dia seguinte chegou e, para grande emoção de Eugene, ele permaneceu invisível para todos. A Helmuth que ele conhecera há três séculos era um pesadelo vivo, um lugar de terror e morte indescritíveis. Em comparação, o Castelo do Dragão Demoníaco parecia um mero chiqueiro sem preocupações reais. Eugene sentiu-se ao mesmo tempo aliviado e decepcionado com essa constatação.
“Eles não poderiam simplesmente invadir o castelo e esmagar o núcleo sem precisar ir para a guerra…? Acho que nada vai acontecer mesmo se eu sequestrar Ramira agora.”
Foi na medida em que Eugene ponderou seriamente se deveria apenas levar Ramira embora. Claro, ele encontraria muitos problemas se quisesse implementar seu plano imediatamente. Então, decidiu examinar a situação por cerca de um dia e procurar uma oportunidade de se infiltrar no Castelo do Dragão Demoníaco.
“E se parecer que pode ser facilmente infiltrado? Bem, então vou tentar. E se eu conseguir entrar sem que ninguém perceba, então… Devo procurar o núcleo primeiro? Ela disse que estava no porão, então… Ou eu poderia ir direto para aqueles malditos dos Quatro Generais Divinos e acabar com eles”, Eugene ponderou muitas possibilidades enquanto prosseguia com a coleta de informações mais uma vez.
Depois de algum tempo, já passava do meio-dia, mas ainda faltavam algumas horas para o sol se pôr.
— …
Eugene permaneceu alerta, nunca baixando a guarda nem por um momento. Apesar de estar em um chiqueiro cercado por indivíduos que não representavam nenhuma ameaça real para ele, sabia que não deveria baixar a guarda em território inimigo. Suas experiências passadas o ensinaram a ser cauteloso e não cometer erros tolos.
Consequentemente, percebeu uma sensação avassaladora de malícia pairando à distância — uma intenção assassina tão feroz que não deixava espaço para negociação ou diplomacia. Isso não era apenas hostilidade, mas um desejo não adulterado de extinguir toda a vida em seu caminho. Era uma força monstruosa e abrangente, não nascida de nenhuma inimizade ou rancor específico, mas sim de uma pura e simples sede de sangue.
Eugene não podia ignorar isso, nem por um momento. Ele não estava familiarizado com tal sentimento. Pelo menos, ele nunca sentiu uma intenção assassina tão grande e incondicional durante sua vida como Eugene Lionheart.
Assim que Eugene percebeu a sensação, ele inconscientemente voltou seu olhar para a fonte da intenção assassina. O céu visto de dentro do Castelo não era escuro, embora o castelo estivesse coberto por uma barreira gigante. No entanto, a barreira estava definitivamente lá. Isso permitia que o Castelo permanecesse como uma fortaleza inviolável e impenetrável enquanto controlava o clima e a temperatura dentro da barreira para torná-lo o mais agradável possível para os residentes do castelo.
A barreira Dracônica foi projetada e manifestada pelo próprio Raizakia, e foi mantida pela mana na atmosfera, o núcleo do Castelo do Dragão Demoníaco e a joia vermelha de Ramira e o Coração de Dragão. A barreira também atraía a mana dos demônios do castelo. Poderia muito bem ser considerada uma das barreiras mais formidáveis que Eugene já havia visto.
Eugene sentiu a presença cada vez maior de uma força assassina se aproximando, e ele não fechou os olhos para isso. Em vez disso, concentrou sua atenção na direção de onde a ameaça se aproximava. Apesar da distância entre ele e a fonte da malevolência, Eugene podia ver uma figura borrada voando pelo ar em direção ao castelo. Vendo isso, Eugene permaneceu vigilante e inabalável diante do perigo.
Era uma figura desconhecida, alguém que Eugene estava vendo pela primeira vez. No entanto, ele reconheceu a figura ao vê-lo, ou melhor, no momento em que Eugene sentiu a intenção assassina da figura. Havia apenas uma existência que lançaria uma emboscada contra o Castelo do Dragão Demoníaco. Mais importante, Eugene podia sentir uma energia bárbara e bestial emanando da malícia do invasor. Era Jagon.
Jagon havia se lançado sem esforço do chão abaixo, voando alto no ar. Ele não precisava contar com plataformas ou asas para realizar tal façanha; sua força era suficiente. Para ele, o salto não era nada fora do comum — uma simples flexão de suas pernas seguida de um lançamento poderoso para o céu.
Ele rapidamente alcançou uma altura com vista para a totalidade do Castelo do Dragão Demoníaco. Mesmo os residentes do Castelo, que eram porcos gordos apenas esperando para serem abatidos e cujas mentes estavam embaçadas pelos anos de paz, não puderam deixar de notar a malícia esmagadora que se aproximava do castelo. Como tal, numerosos demônios olharam para o céu com expressões de surpresa.
Enquanto isso, os olhos escuros de Jagon só viam incontáveis pedaços de carne. Ele ficou desapontado, porque sua presa não cheirava a carne e sangue, mas seu coração se encheu de alegria ao pensar na matança e no banquete que logo aconteceria.
Agora era a hora de retirar a tampa do prato. Era hora de liberar toda a extensão de seu poder. Jagon recuou como um arco tenso, pronto para desencadear um ataque devastador.
Craaaack!
Seus braços incharam muito. Embora Jagon ainda fosse pequeno em comparação com o tamanho do Castelo do Dragão Demoníaco, ele parecia um gigante aos olhos daqueles que olhavam para ele. Parecia que Jagon engoliria o castelo com uma mordida.
Ele atingiu a barreira com os dois punhos.
Booooooom!
Assim que fez contato, o Castelo do Dragão Demoníaco tremeu e a poderosa barreira falhou em resistir ao golpe de Jagon. A aparência transparente da barreira tornou-se turva e uma rachadura começou a se espalhar de onde os punhos de Jagon fizeram contato.
— Hehe. — Jagon riu, seus lábios se contraindo.
Então levantou os braços mais uma vez. Como a barreira já estava quebrada, ele não precisava mais concentrar todas as suas forças em um só lugar. Se deixada como estava, a barreira certamente entraria em colapso por conta própria. No entanto, Jagon não queria esperar mais, então atacou com todas as suas forças.
Bruuuuum!
Seus dois punhos quebraram a barreira, e o Castelo do Dragão Demoníaco perdeu um pouco de altitude. No entanto, não caiu no chão. Mesmo que a barreira tenha quebrado, o núcleo do Castelo ainda estava intacto.
— Maldito maluco. — Comentou Eugene.
Ele esperava que Jagon atacasse como um idiota, mas não esperava que aparecesse correndo apenas um dia após o início da guerra. Eugene ficou surpreso e perplexo, mas não foi dominado pela malícia e presença de Jagon.
Pelo contrário, Eugene estava feliz por ele ter escolhido invadir como um idiota.
Todo o Castelo do Dragão Demoníaco foi instantaneamente jogado no caos, e todos começaram a correr para salvar suas vidas enquanto gritavam. O primeiro a invadir foi Jagon, mas não estava sozinho.
Os mercenários Povo Besta, subordinados a Jagon, e os soldados do conde Karad apareceram acima do Castelo do Dragão Demoníaco também. Como não podiam pular tão alto como Jagon, todos estavam nas costas de bestas demoníacas voadoras. Havia alguns tipos de bestas demoníacas voadoras que Eugene reconhecia.
Um demônio gigante, que parecia ser o Conde Karad, ergueu a mão, e as feras demoníacas, que pareciam pedaços de bolo de carne, abriram bem as mandíbulas.
Boooom!
Um feixe de luz foi liberado das mandíbulas das bestas demoníacas, e seu ataque pousou exatamente em seu alvo. Os portões hermeticamente fechados do Castelo do Dragão Demoníaco desmoronaram sob o bombardeio das bestas demoníacas.
As criaturas então desceram para a cidade, e o Povo Besta, que era tão mal-humorado quanto seu líder, saltou das criaturas e avançou para a cidade a pé.
Enquanto isso, Jagon já havia causado o colapso de vários prédios. Ele estava rasgando todos os demônios em seus arredores em pedaços e enfiando sua carne, ossos e sangue em sua boca. Não importava se estavam tentando retaliar, fugindo gritando de terror ou desmaiando pateticamente no local; todos eram presas.
Eugene ignorou tudo isso. Não era da sua conta se todos os demônios no Castelo morressem. Além disso, ele não sentia necessidade de lutar contra Jagon agora. Sua prioridade no momento era proteger Ramira, a Duquesa Dragão.
[V-V-Você! O que… O que está acontecendo? O Castelo do Dragão Demoníaco… O que aconteceu com o castelo desta senhorita?] A voz de Ramira ressoou dentro do bolso de Eugene.
Estava vindo do dispositivo de comunicação de portal que Eugene havia dado à garota no dia anterior.
Eugene colocou o comunicador em seu ouvido antes de responder.
— Onde você está?
[O-O que… Você disse?]
— Onde você está? Não mova um músculo e espere por mim aí.
Asas de chamas irromperam das costas de Eugene. Ele estava usando a Proeminência para acelerar até o limite.
[Esta senhorita… Está atualmente no trono do Castelo do Dragão Demoníaco, que…]
“Deve ser o lugar mais alto e esplêndido.”
[Waa… Waaaaah…] Ramira começou a chorar.
Não querendo ouvir seus soluços, Eugene desligou o aparelho. Então, um raio roxo passou sobre as ruínas do portão.