Damn Reincarnation - Capítulo 274 - Anime Center BR

Damn Reincarnation – Capítulo 274

Capítulo 274

História paralela — Interlúdio (4)

Entre os Reis Demônios que mataram até agora, o Rei Demônio da Fúria, que ficava em terceiro lugar, tinha quatro subordinados de confiança sob seu comando. Eles eram os Filhos da Fúria, também conhecidos como os Quatro Reis Celestiais, e eram demônios extremamente poderosos.

Os quatro recebiam grande favor do Rei Demônio da Fúria e um tremendo poder depois de se tornarem seus filhos. Kamash, o Terremoto, o Derramador de sangue Sein, o Depravado Oberon e a Princesa Abissal Iris, todos os quatro eram incomparavelmente mais fortes que os outros demônios, mas eram matáveis.

Os cinco heróis que desafiavam o castelo do Rei Demônio do Encarceramento já haviam matado Kamash e Sein e derrotado Iris e Oberon há muitos anos.

No entanto, havia uma diferença marcante entre os Quatro Reis Celestiais e os três subordinados do Encarceramento. Pouco se sabia sobre a verdadeira força do Escudo e do Cajado do Encarceramento, além dos rumores que circularam quando eles surgiram no campo de batalha no início da guerra. Os cinco heróis nunca haviam enfrentado pessoalmente nenhum deles em batalha.

No entanto, já haviam enfrentado Gavid Lindman, a Lâmina do Encarceramento, duas vezes antes. Através desses encontros, adquiriram conhecimento da imensa força que os subordinados do Encarceramento possuíam e que excedia em muito a dos Filhos da Fúria. Com esse entendimento em mente, os cinco Heróis fizeram preparativos completos para enfrentar mais uma vez os subordinados do Encarceramento.

— Keugh. — A cabeça de Hamel se ergueu quando ele cuspiu um bocado de sangue.

Não conseguia se lembrar do que aconteceu depois de ser atingido por um escudo. Parecia que havia sido nocauteado por um breve momento.

— Hamel! Você está bem?! — Um grito estridente veio de algum lugar à sua frente e chamou sua atenção.

Hamel viu as costas de Anise enquanto suas asas brilhantes emitiam luz. O golpe que Hamel recebeu continha uma força enorme, suficiente para fazê-lo explodir em pedaços. Se não fosse pela magia divina de Anise, ele sabia que teria morrido no local.

“Não deveria ter pousado…”, pensou Hamel, engolindo um bocado de sangue enquanto se levantava.

Urogos, o Escudo do Encarceramento, era um enorme demônio. Embora não fosse tão alto quanto um gigante, tinha o dobro do tamanho de Moron e estava coberto por uma armadura impenetrável. Na mão esquerda, ele empunhava um escudo que lembrava o portão de um castelo em termos de tamanho, e na mão direita segurava uma lança monstruosa que parecia capaz de perfurar a pele mais grossa de dragão.

Porém, havia muitos pontos para Hamel mirar, já que Urogos era muito grande. Mesmo que sua armadura e escudo grossos e impenetráveis fossem desconsiderados, o próprio Urogos era durão. Mas isso significava apenas que Hamel teria que atacá-lo até que conseguisse passar.

Então, e se o demônio contra-atacasse? Urogos definitivamente não era lento e, na verdade, era incrivelmente rápido, apesar de seu grande tamanho e do peso de sua armadura. No entanto, não era rápido o suficiente para evitar a detecção de Hamel, e era fácil para Hamel prever os movimentos de Urogos devido à sua grande estatura.

Mesmo assim, Hamel não conseguiu evitar o ataque de Urogos. Hamel estava preparado, mas perdeu momentaneamente o controle de seu corpo. Então, acabou levando o golpe, resultando no seu estado atual. Hamel riu enquanto esfregava o sangue da boca.

“Ainda estou bem.”

O golpe teria esmagado todos os ossos de seu corpo, mas o poder divino de Anise havia colado seu corpo novamente. Mas… Não estava completamente curado. Ele ainda podia sentir seus ossos rangendo e seus órgãos doendo.

Independentemente disso, não havia como evitar, já que estavam no Castelo do Rei Demônio do Encarceramento. O Poder Negro que pesava sobre eles era pesado, e o Cajado do Encarceramento, o lich esbranquiçado, estava lançando magia negra a partir do portão do castelo, amortecendo os efeitos da magia divina.

Apesar disso, não chegou ao ponto de deixar Hamel imóvel. Então, ele tropeçou enquanto olhava para frente. A primeira coisa que viu foram as asas de Anise. Embora suas costas estivessem obscurecidas pelo manto, podia imaginar que suas costas e os estigmas estavam completamente encharcados de sangue.

Hamel então encontrou o olhar de Sienna. Ela estava ao lado dele, a uma pequena distância. Sienna só conseguiu lançar olhares preocupados para Hamel, pois não conseguia expressar suas preocupações. Não havia como evitar, já que estava dedicando a maior parte de sua atenção ao controle de sua magia enquanto verbalizava os encantamentos de seus feitiços.

— Estou bem. — Disse Hamel com um sorriso, apertando as mãos para ela ver.

Então avançou. Além da tempestade rodopiante de poder e magia divinos, ele podia ver Moron e Vermouth.

Moron estava enfrentando Urogos, que tinha o dobro do seu tamanho. O idiota jogou fora suas armas e estava empurrando o escudo de Urogos com as duas mãos. O rugido do desafiante e do defensor ressoava por todo o corredor, e Urogos avançou com todas as suas forças. A cada vez, os pés de Moron eram forçados a se arrastar para trás enquanto seus músculos inchavam e suas veias explodiam. Mesmo assim, Moron conseguia se manter firme de alguma forma.

Então, e se ele estivesse sendo empurrado um pouco para trás? Moron não estava sozinho na luta contra Urogos. Enquanto segurava Urogos no lugar, Vermouth cavou nas aberturas da defesa do monstro. Ele balançou a Espada Sagrada e a Espada do Luar, fazendo com que uma onda de luz caísse sobre Urogos.

Bruuum!

Urogos foi empurrado para trás além do terreno que havia percorrido. Havia rachaduras visíveis em sua armadura sólida e sangue negro jorrava de dentro de seu capacete.

— Hamel! — Gritou Vermouth. Foi um grito estranhamente emocionado.

Vermouth sempre gritava por Hamel no campo de batalha. Ele era o único que conseguia acompanhá-lo no combate corpo a corpo, e os dois sempre trabalhavam em harmonia. Assim que Vermouth acertava um golpe, Hamel imediatamente seguiria com um ataque próprio, abrindo caminho para Vermouth assumir o controle novamente. Os dois lutaram sempre da mesma maneira nas batalhas contra os demônios e os Reis Demônios.

Os lábios de Hamel se curvaram em um sorriso quando sentiu a preocupação contida no grito de Vermouth.

Enquanto colocava a mão no peito esquerdo, Hamel sussurrou baixinho:

— Eu disse que estou bem.

— Ei! — Sienna gritou mais uma vez enquanto olhava para ele ansiosamente.

— Está tudo bem. — Hamel sussurrou mais uma vez enquanto agarrava seu coração e seu Núcleo.

Hamel foi mais uma vez surpreendido por uma conclusão, e a mesma verdade foi mais uma vez esclarecida para ele. Ele não podia usar o poder divino como Anise, e não podia usar magia como Sienna. Tudo o que podia fazer era avançar e lutar na frente.

Hamel era forte, mas não era mais forte que Vermouth. Não podia empunhar a Espada do Luar, muito menos a Espada Sagrada. Além disso, não era proficiente em tudo como Vermouth.

Hamel era durão, mas não era mais durão que Moron. Ao contrário de Hamel, que quase foi morto por um único golpe de Urogos, Moron ainda estava resistindo aos ataques de Urogos pela frente.

— Se alguém tiver que morrer…

“Eu irei”, decidiu Hamel.

Mesmo que Hamel morresse, Moron persistiria e lutaria. Mesmo que Hamel não pudesse mais lutar, Vermouth lutaria em seu lugar.

“Ignição.”

As brasas moribundas começaram a queimar mais uma vez.

Houve um breve momento antes do pôr do sol em que o mundo se encheu de luz. Os incêndios sempre queimavam com mais intensidade antes de serem completamente extintos. Hamel usou o pouco que restou de sua vida e de seu corpo como combustível para reacender seu fogo. Ele se importava pouco com o que dava a isso.

A chama cresceu exponencialmente enquanto devorava os sacrifícios de Hamel, e seu Núcleo enrugado emitiu uma explosão de mana incrivelmente densa. Hamel dobrou os joelhos enquanto respirava fundo.

Booom!

Seu primeiro passo foi acompanhado por uma explosão de mana. Hamel usou a torrente de mana para acelerar seu corpo e tomou seu lugar ao lado de Vermouth em um instante. O amigo estremeceu ao ver a enorme aura de mana que cercava Hamel, bem como os olhos brilhantes dele.

No entanto, Vermouth segurou a língua e a batalha recomeçou. Foi completamente unilateral. Hamel e Vermouth atacaram juntos para quebrar a lança e a armadura de Urogos. Moron roubou o escudo de Urogos e o balançou como uma arma contundente, jogando Urogos contra a parede. Urogos também foi bombardeado por uma barragem de magia e poder divino, que quebrou completamente sua armadura e o despedaçou.

Então Vermouth arrancou a cabeça de Urogos com a Espada do Luar.

— Vamos. — Disse Hamel.

Hamel foi o primeiro a pular por cima do corpo de Urogos. Ele acalmou seu Núcleo furioso e esfregou o sangue seco de seu queixo.

— Você está louco?! — Gritou Sienna enquanto corria sem se importar com seus próprios ferimentos. Ela estendeu a mão e agarrou o ombro de Hamel. — Ir aonde?! Seu corpo está—

— Movendo-se muito bem. — Respondeu Hamel com um leve sorriso.

Foi o mesmo de antes, durante a batalha nas Planícies Vermelhas. Mesmo tendo usado Ignição, ele não sentiu nenhum efeito colateral.

Hamel sabia muito bem por que não estava sentindo nenhum efeito colateral. Uma pequena faísca permanecia em seu Núcleo, que estava prestes a desmoronar completamente. Uma vez apagado o fogo, seria impossível ele lutar mais. Não, na verdade, sua vida se extinguiria junto com a faísca.

No entanto, enquanto a faísca permanecesse, ele ainda poderia se mover e ainda poderia lutar. Já havia enfrentado inúmeros obstáculos e dificuldades ao longo de sua vida, e seu corpo estava resistindo a uma luta final, um último ato de desafio. Hamel estava determinado a não recuar e deixar seu espírito desaparecer. Ele sabia que se ainda pudesse se mover e lutar, avançaria com todas as suas forças e se recusaria a deixar sua chama se apagar.

No momento, eles estavam apenas no nível inferior do castelo e ainda tinham que enfrentar os outros subordinados do Encarceramento, bem como o próprio Rei Demônio do Encarceramento. Hamel estava determinado a manter a sua chama acesa, independentemente dos desafios que enfrentasse.

— Vamos subir. — Disse Vermouth.

Embora não pudesse deixar de questionar o julgamento de Hamel, Vermouth afastou esses pensamentos. Ele não queria mais pensar nisso. Vermouth viu a… Luz nos olhos de Hamel e não conseguiu ignorá-la. Ele queria acreditar na luz.

— Como já nos infiltramos no castelo, não podemos nos dar ao luxo de relaxar. Podemos ter ganhado algum tempo, mas não tenho certeza se seremos capazes de dissipar a maldição e o poder sombrio de todo o castelo. — Disse Anise.

Ela tentou desesperadamente se livrar da ansiedade, mas não pôde deixar de morder o lábio, preocupada, quando olhou para os portões bem fechados.

O Rei Demônio do Encarceramento não tinha intenção de permitir a retirada de qualquer intruso. Assim que entraram no castelo, os portões foram fechados. Para abrir os portões novamente, eles teriam que matar o Rei Demônio do Encarceramento ou negociar com ele.

No entanto, quem entre os cinco tentaria negociar com o Rei Demônio?

— O Rei Demônio não nos deixa descansar. — Comentou Moron enquanto apertava suas mãos trêmulas.

Ele caminhou até Hamel e ergueu seu amigo. Hamel ficou pasmo e tentou escapar das mãos de Moron, mas ele o ignorou e colocou Hamel em seu ombro.

E disse:

— Vamos assim, Hamel. Tente descansar o máximo possível em meu ombro.

— Mas… — Hamel disse, mas não pulou do ombro de Moron.

Sienna não conseguiu dizer nada enquanto puxava ansiosamente a túnica.

— Acho que não há como evitar. — Ela forçou um sorriso no rosto enquanto afastava seus pensamentos desconfortáveis. — Hamel, fique um pouco afastado para não se deixar levar pela magia da Arquimaga Sienna.

Era uma piada que ela fazia com frequência. Sienna levantou Akasha e bateu na perna de Hamel, que caiu ao lado do ombro de Moron.

“Vai ficar tudo bem”, Sienna pensou consigo mesma pela centésima vez.

Hamel parecia bem mesmo depois de usar a Ignição, e todos ainda estavam em condições decentes. Não era como se fossem estranhos às lutas que enfrentavam sempre que entravam no castelo de um Rei Demônio.

O castelo do Rei Demônio do Encarceramento não seria diferente. Os castelos dos outros Reis Demônios também eram impossíveis de escapar. Eles subiram até o último andar e lutaram contra o mestre do castelo sem fazer pausas. Os cinco sempre travaram batalhas desfavoráveis e aparentemente sem esperança.

“Será a mesma coisa.”

Sienna imaginou a cena que viria depois da batalha, depois de terem matado o Rei Demônio do Encarceramento e conquistado o castelo. Simplesmente ter tais pensamentos ajudava a aliviar um pouco a ansiedade em seu coração. Em vez de ser oprimida pelo desespero generalizado e deixá-la enlouquecer, ela encheu sua mente de esperança. O inalcançável estava próximo.

“Ter esperança.”

Sienna apertou o chapéu enquanto mastigava os lábios.

 

***

 

Belial era o Cajado do Encarceramento, o lich e mestre de Vladmir. O grupo de Heróis superou inúmeras armadilhas terríveis que Belial havia preparado, bem como repetidas emboscadas. Depois de subir aos andares intermediários do castelo, finalmente o encontraram.

Todo o andar era a masmorra de Belial, e ele invocou vários familiares para receber os intrusos. Belial exercia o poder do Rei Demônio a quem servia, e sua magia era sombria e ameaçadora. Apesar disso, a magia de Sienna e Vermouth não era inferior. Além disso, Sienna tinha um ódio profundo pelos necromantes e por sua capacidade de formar um exército interminável de mortos-vivos.

A forma da batalha não era importante. Sienna deu o seu melhor. Todos deram o seu melhor.

Foi como se o tempo tivesse parado. Todos viram a mesma coisa.

O orbe vital de Belial foi destruído. Embora os liches estivessem perto de serem imortais, suas vidas estavam ligadas aos seus orbes vitais. Uma vez destruído, eles também seriam vencidos.

Ao ser varrido pela Espada do Luar, Belial usou seu último recurso, um ataque contendo o que restava de seu poder antes da morte. Foi uma tentativa bastante óbvia de ataque. Foi apontado para Vermouth, mas ele era mais do que capaz de evitá-lo. Ninguém duvidava dele.

Deveria ter sido o mesmo para Hamel. Hamel era o último a duvidar de Vermouth. Porque sabia como ele lutava e sabia o quão forte era. Tal ataque nunca poderia matar Vermouth.

— Por quê? — Pronunciou Sienna com choque total.

Foi um ato inesperado e repentino, o que tornou tudo ainda mais inacreditável. Por uma razão desconhecida para eles, Hamel pulou na frente de Vermouth. Mesmo antes dele poder evitar a maldição, Hamel usou a si mesmo como escudo contra ela.

— Por quê? — Sienna não conseguia entender o motivo.

Hamel não deveria estar lá. Não havia muito que Hamel e Moron, os guerreiros, pudessem fazer em uma batalha mágica contra Belial. O papel deles em uma batalha como essa era proteger Sienna e Anise.

Eles também cumpriram seus papéis com perfeição desta vez. Apesar de suas lutas, Hamel cumpriu seu dever de qualquer maneira, e era aí que tudo deveria ter terminado.

— Hamel. — Sienna cambaleou até Hamel.

Vermouth ficou atordoado, olhando para o amigo.

— Por favor… — Disse Sienna.

Moron gritou:

— Hamel!

Ele ergueu o corpo de Hamel. Estava claro. Os olhos de Moron estremeceram e ele olhou em volta, sem saber o que fazer. Então caminhou até uma parede próxima e sentou Hamel.

Moron disse:

— A-Anise. Venha aqui, rápido. H-H-Hamel está…

As pernas de Anise cederam enquanto ela cobria a boca com as duas mãos.

Seu papel como sacerdotisa era garantir a segurança de seus companheiros, mas ela não poderia cumprir seu papel agora.

“Uma maldição.”

Esta não era uma maldição comum. Era uma maldição conjurada por Belial, o maior mago negro e lich da história, em troca de sua vida. Até mesmo de raspão teria causado uma maldição fatal que permearia o corpo de alguém.

— Ha… — Hamel riu, inclinando a cabeça para trás, mas sangue preto jorrou assim que abriu a boca.

Lágrimas caíram dos olhos de Anise com a visão.

Anise sabia o que viria a seguir. A maldição, que utilizava o poder sombrio do Rei Demônio do Encarceramento, destruiria lentamente o corpo de Hamel de dentro para fora. Mesmo que Anise fosse a Santa e a Imitação da Encarnação da Luz, era impossível para ela purificar todo o poder negro de um Rei Demônio. No final, o corpo de Eugene desmoronaria completamente e ele morreria.

Infelizmente, esse não seria o seu fim. Uma alma infligida pela maldição do Rei Demônio não poderia ir para o céu ou para o inferno. No momento da morte, iria se tornar posse do Rei Demônio. Essa verdade devastou Anise.

Hamel não poderia ir para o céu.

— Hamel… Hamel, Hamel…!!!! — Sienna uivou.

Ela tentou se aproximar de Hamel, mas tropeçou nos passos e suas pernas cederam. Sienna tentou se levantar, mas não conseguiu dar força às pernas. No final, foi forçada a rastejar em direção a Hamel.

— Por que você está chorando? — Disse Hamel com um sorriso.

Por que ele estava sorrindo? Sienna simplesmente não conseguia entender o porquê Hamel estava sorrindo. Ela balançou a cabeça enquanto lágrimas escorriam por seu rosto. Então olhou para a figura nebulosa de Hamel através de sua visão turva.

Sienna podia ver um… Buraco no centro do corpo dele, mas não conseguia ver as entranhas de Hamel através do buraco. O buraco foi preenchido com a maldição e apenas a escuridão era visível dentro dele. À medida que a maldição se espalhava, ela corroía o corpo de Hamel.

— Anise… O-O que você está fazendo? Venha rápido. A ferida… A ferida está ficando maior. — Sienna gaguejou.

Não havia nem sangue saindo do buraco. Sienna enfiou a mão trêmula dentro da túnica.

Certo, ela ainda tinha o elixir. Era um remédio precioso elaborado com água benta e infundido com poder e magia divinos. A mistura servia como um remédio multiuso para emergências quando a magia ou magia divina não pudesse ser empregada. Eles ainda tinham várias doses de reserva, pois a presença de Anise significava que realmente não precisavam daquilo.

— Está tudo bem. — Sienna murmurou para si mesma mais uma vez.

Tudo estava bem. Tinha que estar. Sienna murmurou repetidamente essas palavras enquanto tirava uma garrafa.

Ela abriu a tampa do elixir e derramou a mistura sobre o ferimento de Hamel. Infelizmente, embora ela tenha terminado de servir uma garrafa inteira, a ferida não mostrou sinais de cura.

— Está tudo bem.

Havia mais garrafas e Anise também estava ali. Anise parecia ter desmaiado com o choque, mas rapidamente recuperaria os sentidos e viria correndo. Ela repreenderia Hamel por ser um idiota antes de curá-lo e torná-lo inteiro novamente.

— Está tudo bem. — Sienna murmurou mais uma vez.

Ela esvaziou várias garrafas. Nesse meio tempo, Hamel apenas tossiu sangue, e a luz em seus olhos diminuía cada vez que piscava.

— Vá embora. — Disse Hamel.

Sua voz estava fraca; era como se sua vida estivesse se esvaindo.

— Por favor. — Sienna implorou enquanto chorava.

Ela estava com dor de cabeça, sentia um gosto horrível na boca e seu coração batia forte. Ela estava com frio, calor e tremendo.

— É por isso … É por isso que eu disse para você voltar. Por que você teve que ser tão teimoso e…? — Sienna disse sem querer.

Sentindo-se enojada consigo mesma, ela rapidamente cobriu a boca com a mão.

— Sienna. Guarde isso primeiro. — Hamel deu um sorriso fraco enquanto olhava para Sienna. Ele podia ver a figura dela enquanto sua visão diminuía.

— Os elixires são preciosos. Por que está tentando usar coisas tão preciosas aqui? Não os desperdice. — Disse Hamel.

— Mas—! — Sienna balançou a cabeça com lágrimas escorrendo pelo rosto.

Como os elixires poderiam ser considerados preciosos quando não conseguiram curar as feridas de Hamel nos momentos mais terríveis?

Naquele momento, Anise juntou-se a Sienna. Ela sentou-se e segurou seu rosário enquanto recitava uma oração. Lágrimas escorreram pelo rosto de Anise enquanto ela invocava uma luz brilhante na ponta dos dedos e a direcionava para o ferimento de Hamel.

No entanto, a Luz não conseguiu iluminar as trevas.

— Já chega. Eu conheço melhor meu corpo. Não vou sobreviver. Estou prestes a morrer. — Afirmou Hamel calmamente enquanto vomitava sangue.

Sienna não queria ouvir tais palavras. Ela também não queria aceitá-las. Abaixou a cabeça, respirando irregularmente.

— Eu poderia ter evitado. — Murmurou Vermouth, tropeçando em direção a Hamel. — Não havia necessidade de você fazer isso.

A maldição de Belial foi dirigida a Vermouth, mas Hamel a interceptou de propósito. Sienna não conseguiu olhar para o rosto de Vermouth.

— Saiam daqui. — Hamel disse rindo.

— Você deveria saber… — Vermouth agarrou seu rosto pálido. — Não havia necessidade de você morrer assim.

Sienna soluçou silenciosamente. Ela não queria aceitar e não queria acreditar. No entanto, no final, não teve escolha senão enfrentar a realidade. O calor da mão de Hamel estava desaparecendo e a luz em seus olhos diminuía.

— Isso é suficiente para ser uma morte honrosa. — Disse Hamel.

Por que isso importa? Sienna ergueu a mão de Hamel e colocou-a em seu rosto. As lágrimas que escorriam pelo seu rosto eram tão quentes. Ela queria adicionar calor à mão dele.

— Era óbvio que eu seria apenas um fardo se continuássemos, e também não queria voltar. — Explicou Hamel.

No final, Hamel provou ser um tolo teimoso.

Sienna sabia que sua condição física era anormal. Na verdade, ela sabia que estava se enganando com seu próprio consolo de que Hamel estava bem. Ela tinha visto o corpo de Hamel ficar lento enquanto eles lutavam para subir no castelo, e ele não estava mais no centro das batalhas.

Se os acompanhasse ainda mais, apenas atrapalharia. No entanto, agora que estava ali, não poderia mais retornar.

— Você tem que ser o cara mais legal do mundo, então eu não deveria precisar consolá-lo, porra. — A voz de Hamel estava morrendo lentamente.

Sienna murmurou repetidamente para si mesma que estava tudo bem enquanto apertava as mãos dele.

— Estou ficando com sono, então vão logo. — Hamel murmurou.

Ele não disse mais nada depois disso e a luz desapareceu de seus olhos.

Vermouth abaixou a cabeça e se ajoelhou, murmurando em voz baixa:

— Obrigado.

Este foi o fim. Hamel não falou mais e não abriu mais os olhos. A mão que Sienna segurava ficou flácida.

Sienna odiou a forma como Hamel agiu. Isso a magoou e ela se ressentiu por ele não ter deixado nada para trás. Ela esperava por algo mais, mesmo que acabasse sendo uma maldição vitalícia para todos os que sobrevivessem.

Ela estava esperando por algo clichê, algo como ‘Certifiquem-se de matar os Reis Demônios, Salvem o mundo ou Sejam felizes’. Mas Hamel, aquele maldito, não deixou tais desejos. Foi porque ele confiava em seus companheiros? Talvez. Mas mesmo assim…

— Eu… Eu preciso… — Sienna murmurou.

Sienna nunca imaginou um futuro sem Hamel e, embora isso estivesse acontecendo diante de seus olhos, ela não conseguia acreditar. Hamel sempre esteve presente no futuro que Sienna pintou.

— Eu… Preciso… — Repetiu Sienna.

Mesmo que a vontade dele se transformasse em uma maldição, ela precisava de um motivo para continuar. Se Hamel tivesse pedido a ela para matar os Reis Demônios e salvar o mundo, Sienna teria vivido sua vida para realizar seus desejos. Se Hamel tivesse pedido que eles fossem felizes, então…

— Por favor… — Sienna implorou.

A maldição a teria deixado infeliz pelo resto da vida, mas ela teria se forçado a ser feliz pelo bem de Hamel.

— Deus da Luz, Todo-Poderoso, por favor… Por favor, proteja e cuide deste cordeiro estúpido. A difícil jornada que ele experimentará… Depois de… Descansar… Sniff… Com amor e misericórdia… — Anise não conseguiu levar sua oração até o fim.

Ela começou a soluçar e Moron começou a gritar. Ele atacou como um louco, quebrando as paredes e o chão com os punhos.

BoomBoom!

Enquanto Anise e Sienna choravam e Moron rugia e gritava, Vermouth permaneceu ajoelhado no chão com a cabeça baixa.

— N-Não. — Sienna ergueu a mão depois de soluçar por algum tempo.

A mão que ela segurava estava ficando muito leve. A maldição que penetrou no corpo de Hamel estava corroendo seu corpo, fazendo-o desaparecer. Sienna balançou a cabeça enquanto agarrava desesperadamente o corpo dele.

— Não, não, não…! N-Não vá. Não… Me deixe para trás! — Sienna uivou enquanto colocava a bochecha no rosto de Hamel.

Anise olhou para os dois com olhos vermelhos.

— Por favor… Me diga. — Sienna gemeu entre lágrimas.

Ela não conseguia mais sentir o corpo de Hamel em seus braços. Seu corpo desapareceu, vaporizado pela maldição do Rei Demônio.

— Anise. Por favor. Hamel… Hamel foi para o céu? Hein? Para o céu… Ele tem que ter ido para lá, certo? — Disse Sienna enquanto olhava para Anise.

Mais do que qualquer outra pessoa no mundo, os cinco mereciam ser felizes. Era uma completa certeza. E se eles não pudessem ser felizes nesta vida… Então pelo menos mereciam ser felizes depois de morrerem.

— Ele… Não consegue… — Anise disse enquanto soluçava.

Sienna gritou e pegou Anise pelo colarinho.

— Por que não?! V-Você sempre disse que existia um deus, que o céu era real…! Você disse… Que todos iriam para o céu depois que morrêssemos! Você disse isso! — Uivou Sienna.

— A alma de Hamel… Naturalmente… Ele deveria ter ido para o céu… Mas agora, sua alma está… Nas mãos do Rei Demônio do Encarceramento. Contanto que o Rei Demônio opte por não deixá-lo ir, Hamel…

— Ahhhh!!! — Sienna gritou, porque não queria mais ouvir.

Ela caiu no chão e gritou ainda mais enquanto batia a testa no chão.

Hamel não seria capaz de ver o fim da guerra e viver uma vida feliz, e nem mesmo poderia ir para o céu…? Depois de passar dezesseis anos vagando pelo campo de batalha e não fazer nada além de lutar… Ele teria que passar uma eternidade nas mãos do Rei Demônio?

— Ainda não… — Vermouth quebrou o silêncio.

Ele ergueu a cabeça e Sienna finalmente conseguiu ver seu rosto. O rosto de Vermouth, que sempre foi calmo e sem emoção, estava enrugado e havia marcas de lágrimas sob seus olhos vazios.

— Ainda não é o fim. — Afirmou ele.

— O fim…?

— Ainda estamos aqui. — Disse Vermouth, levantando-se cambaleando.

Moron parou no meio de suas palavras e Anise olhou para Vermouth com olhos vazios.

— Isso é… Verdade. — Murmurou Sienna.

Ela viu que suas mãos estavam ensanguentadas, mas não sabia se o sangue era dela ou de Hamel. Sienna abriu lentamente as mãos e viu o colar que Hamel havia deixado para trás.

— Só temos que matar o Rei Demônio do Encarceramento. — Disse Vermouth.

O tremor nos olhos de Sienna diminuiu.

— Só temos que resgatar a alma de Hamel depois de matar o Rei Demônio do Encarceramento. — Continuou Vermouth.

Vermouth estava certo. Ainda não havia acabado. Eles ainda estavam ali. Ela ainda estava ali. Sienna pegou Akasha do chão e apertou ainda mais.

— Um dia… — Sienna murmurou enquanto colocava o colar de Hamel em sua bochecha.

Quase parecia que o calor de Hamel permanecia no acessório. Suas lágrimas continuaram a fluir sem parar, e o gosto terrível em sua boca ainda persistia. Sienna mastigou o interior da boca e sentiu gosto de sangue.

“Eu estou viva.”

Ela colocou o colar enquanto enfrentava a terrível realidade.

— Algum dia… Que algum dia possamos nos encontrar no mundo que você desejou. — Disse ela.

Sienna considerou suas próprias palavras uma maldição para toda a vida. Ela olhou para o teto com olhos completamente desprovidos de qualquer luz.

Vermouth foi o primeiro a começar a andar, tropeçando como se pudesse cair a qualquer momento. Moron seguiu atrás dele com os ombros caídos. Enquanto isso, Anise abriu a garrafa em suas mãos. Ela tentou derramar água benta, ou melhor, álcool, na boca, mas não sobrou nem uma única gota.

Sienna arrastou os pés enquanto segurava Akasha, olhando para trás várias vezes ao longo do caminho. Ela olhou para a parede onde Hamel morreu. Não restava nenhum corpo, mas ela ainda via Hamel encostado na parede.

— Espere, Hamel. — Ela apertou firmemente a mão em volta do colar. — Virei salvar sua alma.

Nota: Próximo capítulo são de ilustrações.

In this post:

Deixe um comentário

Ads Blocker Image Powered by Code Help Pro

Adblock detectado! Desative para nos apoiar.

Apoie o site e veja todo o conteúdo sem anúncios!

Entre no Discord e saiba mais.

Você não pode copiar o conteúdo desta página

|