Capítulo 278
Ivatar Jahav (4)
— Então, você realmente assinou um contrato com Ifrit? — Eugene perguntou.
— Chame-o pelo nome completo, o Rei Espírito das Chamas, Ifrit. — Melkith exigiu.
Eugene repetiu:
— Perguntei se você realmente conseguiu assinar um contrato com ele?
Melkith recusou-se a responder:
— É segredo.
— Mas me parece que você não conseguiu assinar o contrato, não?— Eugene disse provocativamente. — Se realmente tivesse conseguido assinar o contrato, Senhora Melkith, com a sua personalidade, não teria como ficar calada sobre isso, certo?
Os olhos de Melkith escureceram sombriamente com essa provocação que Eugene fez com uma risadinha.
Porém, Eugene não parou por aí e continuou falando:
— Mesmo que você tenha dito que tinha a sensação de que definitivamente seria capaz de assinar um contrato, no final, você não conseguiu assinar um contrato com Ifrit, não é?
Melkith respondeu friamente:
— Eu disse para chamá-lo de Rei Espírito das Chamas, Ifrit.
— Por que tenho que dizer o nome dele desse jeito? — Eugene perguntou.
Finalmente perdendo a paciência, Melkith soltou um rugido alto:
— Porque ele pode estar ouvindo nossa conversa agora mesmo!
Ela pegou a Pedra de Fogo, que havia cuidadosamente enfiado entre os seios, e colocou-a em cima da mesa.
— Deixe-me ser clara, não falhei em fazer um contrato com ele. — Insistiu Melkith. — O fracasso não existe para alguém como eu, Melkith El-Hayah. Foi só que, mesmo que levemente, parece que nossas opiniões um sobre o outro não são bem coordenadas? Mas é assim que os contratos são. Precisamos continuar ajustando os termos e ajustando-nos um ao outro até que ambos finalmente cheguemos ao ponto desejado em que decidiremos: ‘Tudo bem, vamos fazer um contrato!’
— Bem, isso significa apenas que você realmente falhou. — Eugene disse com desdém.
— Como eu disse, não falhei! Estou lhe dizendo, estamos apenas reconciliando uma diferença de opiniões. Como tal, Eugene, tenha cuidado com a maneira como você fala. Neste momento, esta conversa está sendo ouvida pelo grande e apaixonado Rei Espírito das Chamas, Lorde Ifrit. Lorde Ifrit, é assim que eu adoro você. — Disse Melkith enquanto segurava a Pedra de Fogo com as duas mãos e a esfregava em sua bochecha.
Vendo esta cena, Tempest rangeu os dentes ruidosamente dentro da cabeça de Eugene.
— Por quanto tempo você vai continuar forçando os olhos assim? — Eugene perguntou, inclinando a cadeira para trás e olhando para o lado.
Desse ângulo, ele podia ver Cyan, que parecia franzir a testa.
— Não estou fazendo nada. — Cyan grunhiu.
Eugene ressaltou:
— Mesmo agora, você ainda está encarando.
— Aqueles desgraçados estão olhando para nós desde mais cedo. — Cyan finalmente cuspiu enquanto de repente desabotoava os punhos e começava a arregaçar as mangas.
Quando Cyan cerrou os punhos, os músculos tensos de seus antebraços se contraíram ameaçadoramente. E como se isso não bastasse, Cyan até desembainhou a espada da cintura e encostou-a na mesa para que pudesse facilmente chamar a atenção dos outros.
— Você está realmente exagerando. — Eugene suspirou.
— Os nativos de Samar são conhecidos por sequestrar estrangeiros para comê-los ou vendê-los. Ouvi dizer que cidades comerciais como esta, em particular, servem como áreas de caça para os nativos. — Cyan murmurou cautelosamente.
Fazia dois dias desde que deixaram a mansão dos Lionheart. Como não havia portões de teletransporte em Samar, eles chegaram à fronteira sul de Kiehl antes de atravessarem diretamente a fronteira para a cidade comercial localizada logo na entrada da Floresta Samar.
As palavras de Cyan não estavam totalmente erradas.
Samar era uma zona sem lei onde nenhuma das leis do continente se aplicava, por isso havia muitos criminosos que fugiram de outros reinos para lá. Tais criminosos muitas vezes cometiam crimes em conluio com os nativos agressivos e violentos, e os turistas ricos e imprudentes que se aventuravam imprudentemente até este lugar perigoso eram algumas das suas presas favoritas.
Eugene zombou:
— Eles não nos atacariam a menos que ficassem malucos.
Eugene e seus companheiros estavam sentados em uma mesa ao ar livre em um bar de rua. Embora ele tivesse feito contato visual com alguns dos que passavam por eles na rua, a maioria imediatamente desviou o olhar dele e passou rapidamente. O mesmo acontecia com os caras que observavam o grupo nas sombras.
As pessoas sempre liberam inconscientemente um tipo específico de aura. Embora não estivesse usando as roupas formais do clã Lionheart, a aura emitida por Eugene era agressiva o suficiente para que ninguém mais ousasse fazer contato visual com ele.
Em contraste, o ambiente à mesa deles era bastante aconchegante.
— Isso é muito delicioso. — Disse Ramira com um grande sorriso enquanto se deliciava com os exóticos refogados que foram colocados em seus pratos e servidos a eles.
— Você tem alguma coisa na bochecha. — Kristina, sentada em frente a Ramira, repreendeu gentilmente enquanto limpava a bochecha dela com um guardanapo.
— Mãe… — Ramira murmurou inconscientemente.
Ela já vinha recebendo esse tipo de cuidado há vários dias. No primeiro encontro, Ramira quase foi morta quando um mangual foi impiedosamente balançado contra ela, mas desde então, aquela sacerdotisa loira estava sendo muito gentil e legal com ela. Ramira desejou sinceramente que Kristina pudesse ser sua mãe de verdade.
“Quando eu falar com o Lorde Pai, Dragão Negro, posso pedir a ele que me deixe levar aquela humana como minha babá”, Ramira pensou seriamente consigo mesma.
Pelo que ela ouviu, o único que aceitaria o desafio de matar o Dragão Negro seria Eugene Lionheart. Embora Ramira não pudesse fazer nada para impedi-lo de ser morto daquela forma, ela pelo menos seria capaz de salvar a sacerdotisa.
— Eu também, Sir Eugene, tem alguma coisa na minha bochecha também — Mer, que estava comendo no assento ao lado de Ramira, choramingou por ajuda.
Sem qualquer sinal de aborrecimento, Eugene limpou o rosto de Mer.
— Isso é realmente um dragão? — Cyan perguntou cético.
Ramira exigiu:
— Chame-me de Duquesa Dragão, seu humano insignificante.
— Ela é mesmo um dragão, um dos mestres de toda magia…? — Melkith murmurou com uma expressão de descrença.
Agora que o acompanharam até Samar, Eugene foi forçado a compartilhar alguns detalhes de sua outra missão com Cyan e Melkith.
Ele não contou a eles sobre como estiveram envolvidos na queda do Castelo do Dragão Demoníaco e na erradicação de Karabloom. Em vez disso, Eugene apenas disse a eles que invadiu o Castelo durante uma batalha e sequestrou a Duquesa Dragão. Isso era tudo que ele tinha a dizer.
— Todas as minhas ilusões sobre os dragões foram destruídas. — Cyan murmurou enquanto balançava a cabeça.
A razão pela qual Cyan estava constantemente nervoso e inspecionava continuamente os arredores não era apenas o lugar sem lei que era Samar.
Cyan pensava que tudo o que eles estavam fazendo ali era investigar a verdade por trás da magia negra que estava sendo preparada na Floresta Samar, mas então havia descoberto que estavam ali para assuntos ainda mais importantes.
Iriam salvar a Sábia Sienna, mas Cyan parecia se sentir sobrecarregado pelo peso de seu propósito.
— Não podemos interferir na magia daqui? — Cyan perguntou agitadamente.
Eugene balançou a cabeça.
— Sinto que precisaremos ir mais fundo.
Assim que chegaram à cidade comercial, Eugene tentou usar o Feitiço Dracônico em Ramira. No entanto, parecia que eles ainda não conseguiam alcançar a fenda dimensional onde Raizakia estava localizado dali.
Mesmo depois de ficar preso em uma fenda dimensional, Raizakia conseguiu de alguma forma vincular sua existência à terra da Floresta Samar. Aparentemente abandonando a dignidade de um dragão, ele caiu em uma existência que não era diferente de um espírito da terra. Graças a isso, Raizakia não desapareceu nos últimos duzentos anos e conseguiu sobreviver enquanto estava dentro da fenda dimensional.
Para chegar ao espaço onde Raizakia estava localizado, eles precisavam abrir o portal usando Ramira como chave, e o portal estava enraizado em algum lugar nas profundezas da Floresta.
“Ou então, precisaríamos apagar toda a floresta”, Eugene considerou pensativo.
Isto era, claro, impossível. Apagar toda a Floresta Samar significaria destruir a Árvore do Mundo na qual Sienna foi selada e também todo o território élfico.
Eles precisavam matar Raizakia e depois salvar Sienna. Para realizar ambas as tarefas, não tinham escolha senão primeiro abrir o portal dimensional escondido nas profundezas da Floresta.
“Se algo assim não estivesse acontecendo, não seria tão difícil se infiltrar na Floresta Samar”, Eugene pensou franzindo a testa enquanto examinava o lado de fora do bar.
Houve uma grande mudança na atmosfera da cidade comercial desde a última vez que vieram ali. Eugene estava muito familiarizado com ambientes como esse. Não pôde deixar de se acostumar com eles depois de passar tanto tempo.
A cidade comercial estava envolvida em uma guerra ou se preparando para uma. Os produtos comercializados eram principalmente materiais de guerra, como armas, e os turistas eram raros. Também era possível ver alguns mercadores da morte e outras hienas que foram atraídas pelo cheiro da guerra. Até mesmo os nativos podiam ser vistos frequentemente contratando mercenários.
“Mas ouvi dizer que o Exército da Independência da Fúria se retirou”, lembrou Eugene. “Parece que Iris não quer se envolver nesta guerra.”
O Exército da Independência da Fúria era um grupo de elfos negros liderados por Iris. A última vez que Eugene passou, aqueles orelhas-de-faca estavam no meio de criar raízes nesta cidade comercial.
Mas agora sua líder, Iris, foi derrotada em uma guerra territorial contra Noir Giabella e assumiu o papel de pirata. Dito isto, não significa que o seu objetivo final havia sido mudado. Iris ainda esperava criar suas próprias raças e eventualmente alcançar o reconhecimento de ser coroada como o próximo Rei Demônio.
Parecia que, em vez de procurar diversão nesta guerra, Iris decidiu recuar suas forças mais cedo, a fim de evitar quaisquer perdas para seus já insignificantes números e se concentrar em saquear os mares.
— Ele está aqui. — Disse Melkith com um sorriso.
Ela avistou um homem vestido com uma túnica vermelho-escura, com o cabelo loiro preso para trás, vindo em sua direção.
Este era o Mestre da Torre Vermelha, Lovellian Sophis. Como ele partiu imediatamente de Aroth quando recebeu a mensagem, eles estavam esperando para encontrá-lo ali hoje.
— Já faz muito tempo. — Disse Lovellian, que se aproximava com um leve sorriso.
Ivatar decidiu ficar fora dos portões da cidade, então agora que Lovellian, a última pessoa que esperavam, havia chegado, eles não precisavam mais ficar sentados ali.
Depois de trocar algumas saudações casuais, Eugene e os outros começaram a andar pela rua.
Eugene advertiu Lovellian:
— Tudo isso é segredo do Patriarca.
— Sim, eu sei. — Lovellian respondeu com um leve aceno de cabeça antes de olhar para Cyan.
Ao vê-los juntos assim, o contraste entre os irmãos ficou claro. Ambos, com vinte e um anos, podiam ter a mesma idade, mas Eugene tinha compostura suficiente para parecer calmo. No entanto, Cyan teve que acalmar sua respiração acelerada várias vezes desde que começaram a andar.
“Embora essa seja a reação normal a tudo isso”, pensou Lovellian enquanto, sem que ele soubesse, sorria ironicamente.
Ele cuidou de Cyan, Ciel e Eugene desde a infância. Os gêmeos da família principal eram extraordinários o suficiente para serem chamados de gênios, mas ainda não eram nada comparados a Eugene.
Não era esse o caso agora? Nas profundezas da Floresta Samar, uma trama desconhecida estava sendo realizada. Inúmeros nativos estavam se reunindo para travar a guerra. E finalmente… Eles estavam prestes a tentar resgatar a Sábia Sienna, que havia desaparecido há mais de duzentos anos.
Mesmo Lovellian, que já vivia há muitos anos, não pôde deixar de sentir a pressão. Era compreensível que Melkith, que os acompanhou apenas por capricho, ainda pudesse parecer calma. No entanto, Lovellian não conseguiu fazer o mesmo.
Eles primeiro tinham que lidar com sua odiada magia negra, e se isso fosse tudo o que havia para lidar, então Lovellian teria sido capaz de recorrer à sua sede de sangue para manter a calma; mas sempre que pensava na Sábia Sienna, a quem respeitava como sua Grão-Mestra, o coração de Lovellian ficava pesado e a boca seca.
Como poderia Cyan, um jovem de vinte e um anos, fazer melhor? Além disso, havia também o fato de Cyan ter aparecido devido ao seu senso de dever como o próximo Patriarca do clã Lionheart.
O único que poderia estar sentindo um fardo ainda maior que Cyan seria Eugene.
Como o Herói que foi reconhecido pela Espada Sagrada e sucessor da Sábia Sienna, Eugene também era aquele que seria forçado a lutar contra Raizakia sozinho dentro da fenda dimensional. Lovellian nem seria capaz de fazer nada para intervir na luta deles.
Mesmo com tudo isso, o rosto de Eugene ainda estava calmo.
Embora esse sentimento de incongruência fosse um sentimento que Lovellian já havia experimentado muitas vezes até agora, a sensação desta vez era particularmente intensa.
Lovellian perguntou cautelosamente:
— Você está bem, Sir Eugene?
Eugene começou:
— Hã? Por que está me perguntando isso?
— É que você não parece nem um pouco preocupado… — Lovellian parou.
— Só parece. Na verdade, estou extremamente nervoso. — Confessou Eugene.
Mas realmente não parecia que ele estava.
Lovellian teve uma suspeita repentina: “E se…?”
Embora fosse uma ideia absurda, Lovellian era um mago. Ele acreditava que não havia nada verdadeiramente absurdo neste mundo.
A partir do momento em que Eugene criou sua Assinatura, ele se tornou igual a Lovellian como mago.
Não importava que eles tivessem diferenças nos tipos de magia que eram e não eram capazes de conjurar. Em uma batalha mágica, desde que ambos usassem suas Assinaturas, Lovellian não seria mais capaz de obter vantagem sobre Eugene. Só isso já era impressionante o suficiente, mas e se Eugene usasse tudo ao seu alcance para lutar? Nesse caso, Lovellian não tinha confiança para vencer Eugene.
No entanto, ainda era apenas um jovem de vinte e um anos de quem estava falando.
Mas e se ele fosse…?
Lovellian considerou mais uma vez suas suspeitas anteriores enquanto olhava para as costas de Eugene. As costas do jovem que caminhava à sua frente pareciam tão confiáveis e experientes que era difícil acreditar que ele tinha apenas vinte e um anos.
“Talvez Sir Eugene seja…”
— Aaah!
Os pensamentos de Lovellian foram subitamente interrompidos pelo grito estridente de Cyan. Eugene de repente atingiu Cyan, que estava andando ao lado dele, com um chute baixo.
Eugene deu um sermão em Cyan:
— Relaxe essa sua cara, seu maldito. Então, enquanto você relaxa essa expressão, estique os ombros também. Por que está agindo de forma tão rígida quando foi você quem teimosamente insistiu em seguir em frente?
Cyan protestou:
— Por que diabos você me bateu…?!
— Para fazer você relaxar. — Eugene respondeu encolhendo os ombros.
Talvez ele estivesse apenas pensando demais nas coisas? Lovellian tinha uma expressão confusa no rosto enquanto tentava sobrepor a suspeita que havia surgido em sua cabeça com a aparência atual de Eugene.
No fundo, Lovellian suspeitava que Eugene Lionheart fosse a reencarnação do Grande Vermouth. No entanto, quando via Eugene assim… Sentiu que não poderia ser esse o caso.
O Grande Vermouth, cujas histórias foram transmitidas através de lendas, simplesmente não parecia coincidir com esta imagem de Eugene Lionheart. Em vez disso, sua aparência casual e sorridente lembrava mais a de Hamel, o Tolo.
“Mas isso seria realmente impossível”, pensou Lovellian com desdém.
Seria difícil de acreditar que o Grande Vermouth reencarnasse como um descendente de sua própria linhagem, mas ainda parecia um tanto plausível.
No entanto, como diabos Hamel, o Tolo poderia ter reencarnado como um Lionheart, uma família com a qual ele não tinha qualquer ligação? As almas dos falecidos deveriam fluir para a vida após a morte de acordo com as leis naturais do mundo.
“A menos que algum lunático fosse contra a ordem natural das coisas e recuperasse à força a alma do Hamel…”, Lovellian pensou mais um pouco, mas ainda assim parecia absolutamente ridículo.
Lovellian se esforçou para ignorar os arrepios estranhos que percorriam suas costas.
Eugene virou-se e perguntou:
— Houve mais alguma notícia sobre Balzac Ludbeth?
Lovellian respondeu tardiamente:
— Ah… Não, não houve nenhuma notícia. Ele simplesmente seguiu o procedimento e pediu licença há quinze dias antes de deixar a Torre Mágica Negra.
— E você não sabe para onde ele foi, certo? — Eugene confirmou.
— Podemos ter certeza de que ele deixou Aroth. Mas, honestamente, não creio que tenha sido Balzac quem idealizou este esquema. Embora eu concorde com você que Balzac é um indivíduo suspeito, se ele inventasse um esquema como este… Não estaria agindo tão descaradamente como está. — Lovellian supôs.
— Isso faz sentido. Por alguma razão, tenho a imagem de Balzac conduzindo experimentos humanos em seu laboratório secreto e não revelado em algum lugar. — Disse Melkith com uma risada.
[Que frustrante. Kristina, vá e dê um tapinha na bunda de Hamel.] Anise instruiu de repente.
Kristina se assustou, “Hã?”
[Quando éramos apenas nós dois viajando com Hamel, pude sair quando quisesse, mas como nosso grupo cresceu, não posso mais sair livremente] explicou Anise.
“Desde quando você se preocupa com algo assim?” Kristina perguntou. “Está tudo bem para você sair se quiser, irmã. Contanto que tome cuidado para não chamar Sir Eugene de Hamel, claro.”
Anise recusou, [Não, não vou sair. Se houver uma situação em que eu tenha que intervir, não terei escolha a não ser sair… Mas, se possível, pretendo deixar isso para você desta vez.]
As palavras de Anise foram sinceras. Assim como Eugene sentiu o cheiro da guerra, Anise também detectou o cheiro do campo de batalha. Anise estava familiarizada com a guerra. No entanto, Kristina ainda era uma estranha com tudo isso.
[Você terá que ver muitos cadáveres nesta floresta. Aprenderá o quão brutal é a guerra, o que você, como uma única sacerdotisa, pode fazer no campo de batalha e quão pequena é sua existência quando enfrenta a crueldade da guerra.] alertou Anise.
Kristina permaneceu em silêncio.
[Espero que não seja destruída pela primeira guerra que vir. Em vez disso, espero que se torne uma experiência que a ajude a crescer. Kristina, meu conselho imediato para você é… Livre-se do seu desejo arrogante de salvar a todos.]
“Sim, irmã”, Kristina respondeu mentalmente enquanto olhava para as costas de Eugene.
Kristina jurou que o seguiria. Ela decidiu que sempre veria as mesmas coisas que Eugene via. Não era o mesmo que o dever de uma Santa seguir o Herói. Foi Kristina Rogeris quem decidiu seguir Eugene Lionheart.
Ao relembrar essas memórias, o rosto de Kristina pareceu esquentar um pouco. Enquanto abanava as mãos para refrescar o rosto corado, Kristina apressou os passos.
* * *
— Se for possível, gostaria de parecer um pouco mais humano. — Hector murmurou com uma expressão distorcida.
Era uma reclamação válida. Mesmo nos termos mais educados, a aparência atual de Hector não poderia ser descrita como algo próximo de humana.
O número de braços de Hector que deveriam ter parado em dois foi aumentado para seis e, desses braços adicionados, dois pareciam ter pertencido a algum tipo de monstro cruel. A metade inferior de seu corpo também tinha pernas de monstro em vez de pernas humanas. Para equilibrar o aumento do número de braços, o torso de Heitor teve que ficar maior e mais grosso e, além de tudo isso, o rosto também era feio.
Uma voz perguntou:
— Seu corpo não está bom assim?
— Já me acostumei um pouco. Só não gosto da aparência. — Reclamou Hector.
— Não fique muito insatisfeito. Afinal, eu o criei para se ajustar ao formato da sua alma, então é o corpo ideal para você. — Revelou a voz.
O corpo de Hector Lionheart morreu e se desintegrou.
Naquele exato momento, a alma de Hector foi convocada pelo mago negro com quem ele assinou um contrato, Edmond Codreth.
Já fazia um ano desde que isso havia acontecido.
A forma de sua alma, hein? Hector estalou a língua em decepção enquanto olhava para seu corpo. Ele só recentemente obteve este corpo depois de ser forçado a existir apenas como uma alma.
Este corpo hediondo podia ter desistido de toda semelhança com a humanidade, mas era ainda mais forte por isso, e também podia mover-se facilmente nele. No início, foi estranho aprender a lidar com seis braços, mas agora estava completamente acostumado com isso. Hector balançou levemente os seis braços enquanto se virava para olhar ao redor.
Estava atualmente dentro de uma arena espaçosa, mas não havia oponentes à vista. Edmond era o único sentado na arquibancada. Normalmente, era ali que os escravos da tribo Kochilla eram forçados a matar uns aos outros para sobreviver. Talvez por se tratar de uma tribo cuja cultura se baseava numa hierarquia de crueldade, havia vestígios dessa crueldade por toda parte.
Cada grão de terra exalava cheiro de sangue. Uma cerca feita de ossos humanos foi erguida em frente às paredes da arena. Os corpos daqueles que morreram ali no dia anterior estavam pendurados nas pontas de longos espetos erguidos como decoração.
Hector realmente não sentia nenhuma repulsa por isso. Sua reação calma a tudo surpreendeu até a si mesmo.
— Ugh. — Uma voz rouca de repente quebrou o silêncio. Um homem que acabara de entrar fez uma careta para Hector e disse: — Você realmente está horrível. Isso me faz querer matar você.
Edmond interrompeu: — Pensei ter lhe contado a hora de antemão, então aonde você foi?
— Saí para passear. — Disse o homem secamente.
Embora suas mãos possam ter sido limpas, havia um forte cheiro de sangue exalando do homem.
Edmond deu um sorriso irônico e encolheu os ombros.
— Se você queria dar um passeio, não tem jeito. Obrigado por ter vindo de qualquer maneira.
— E agora? Tudo bem se eu matar aquela coisa? — O homem perguntou, levantando um dedo e apontando para Hector.
— Não, você não pode matá-lo. — Negou Edmond. — Ainda precisarei testar o desempenho e os limites de estresse desse corpo depois.
— Mas você não iria tão longe a ponto de me chamar para uma coisa dessas, certo? Não dê uma desculpa tão óbvia. Você só quer dar uma olhada nas minhas habilidades. — Disse o homem com um sorriso de escárnio.
— Claro, esse é um dos motivos para chamá-lo aqui. — Admitiu Edmond prontamente.
— Eu realmente não quero brincar. Se não fosse pelo pedido do meu Mestre, eu mataria você também. — O homem cuspiu, seus lábios se torcendo em uma carranca, mas Edmond apenas sorriu em resposta.
— Por favor, entenda meus sentimentos. — Edmond pediu educadamente. — Não é natural que eu queira ver as famosas habilidades do Hamel, o Tol—
Antes mesmo de Edmond terminar de falar, o homem — não, Hamel diminuiu a distância em um instante e enfiou a espada na garganta de Edmond.
— Não me chame assim. — Sibilou o homem, com os olhos brilhando fracamente.
A lâmina tocava seu pomo de Adão, mas a pele de Edmond ainda estava calma como sempre.
— Sei que você ajudou muito na minha criação. No entanto, isso não significa que você é meu mestre. Você entende o que estou dizendo? Se não, deixe-me explicar para você. Cuidado com a boca. — Rosnou o homem.
Edmond encolheu ligeiramente os ombros e assentiu:
— Entendido, terei mais cuidado.
O homem bufou e baixou a espada. Então pulou na frente de Hector, que ainda estava na arena e jogou a espada que segurava para trás.
— Sua espada? — Hector disse interrogativamente.
— Você acha que vou precisar usar uma espada para lidar com um maldito como você? — O homem zombou.
Sem dar mais nenhuma resposta, Hector assumiu uma posição.
O homem riu enquanto examinava Hector, que agora segurava uma espada em cada uma das seis mãos, da cabeça aos pés, e disse:
— Isso me lembra dos velhos tempos.