Capítulo 341
Shimuin (4)
Shimuin era o país com a maior população de anões no continente. Os hábeis e meticulosos artesãos dessa raça desprezavam viver em cidades humanas movimentadas, como qualquer outra raça.
Assim, a família real de Shimuin presenteou uma ilha inteira aos anões como domínio. Na realidade, isso era para evitar que outros países roubassem os anões e garantir que eles permanecessem em Shimuin. Quaisquer que fossem os motivos, a decisão acabou satisfazendo ambas as partes.
A Ilha do Martelo, um paraíso exclusivamente desenvolvido para os anões, era uma ilha escolhida pelos próprios anões e adaptada às suas preferências ao longo dos séculos.
Todo mês, vastas quantidades de recursos, como cerveja, minerais e esboços para equipamentos encomendados, eram transportadas para a Ilha do Martelo. Os hábeis anões na ilha fabricavam os equipamentos solicitados com perfeição e os enviavam de volta nos navios de transporte.
Normalmente, o comércio com anões acontecia dessa maneira. No entanto, em casos raros e verdadeiramente importantes, os anões embarcavam nos navios e iam para o continente.
Há quinze dias, os melhores artesãos anões, considerados mestres, embarcaram em um navio partindo da Ilha do Martelo para a Ilha de Shedor.
Os Cavaleiros da Maré Violenta, representando Shimuin, liderados por Ortus Hyman, estavam todos equipados com Exids de alta qualidade. Os Exids apresentavam excelente desempenho e habilidades, mas também exigiam manutenção regular.
— Dez artesãos anões e dez aprendizes estavam a bordo do navio de transporte. Apenas um total de vinte, mas podiam ser considerados a essência de todas as técnicas na Ilha do Martelo. Além disso, hmm, vários bens fabricados pelos anões estavam a bordo também. — Disse Ciel, explicando a situação.
A jornada da Ilha do Martelo para a Ilha de Shedor exigia uma viagem de quatro dias. No entanto, perderam a comunicação com o navio de transporte dois dias após a partida, e o navio ainda não havia chegado.
O valor de um único artesão anão era inestimável e não podia ser medido em termos de dinheiro. Anões com habilidades extraordinárias eram realmente como gansos que botam ovos de ouro.
Com dez desses anões e aprendizes, juntamente com os vários produtos da Ilha do Martelo, o navio havia sido minuciosamente protegido. Uma unidade dos Cavaleiros da Maré Violenta estava presente, junto com seu comandante, que era classificado em quarto lugar em Shimuin, além de dezenas de magos de alto escalão, incluindo os do Sexto Círculo, e centenas de soldados comuns.
Em primeiro lugar, a presença de um navio com a bandeira nacional de Shimuin sozinha deveria ter dissuadido qualquer navio pirata.
— A Imperatriz realmente ultrapassou os limites. — Disse Carmen enquanto abria e fechava a tampa do isqueiro.
— Com o envolvimento da raça anã, Shimuin não pode mais tolerar os ataques da Imperatriz. A família real estava bastante desesperada para que os anões permanecessem em Shimuin, a ponto de lhes dar uma ilha inteira sob seu próprio controle.
— Os anões são uma raça econômica. — Murmurou Sienna.
Todos se voltaram para ela com surpresa. Ela apenas sorriu em resposta.
— Por que todos me olham assim? Ah, será que os jovens de hoje não sabem muito sobre anões? — Ela perguntou, meio surpresa.
— Não… Nós sabemos.
— Olha, os anões, essencialmente, são um bando de terrestres feios que preferem não vagar pelo mundo. Seus rostos são cobertos de sujeira, e seus corpos cheiram a suor e cerveja velha misturada com tabaco. Suas barbas são emaranhadas e desarrumadas. Um lar para todo tipo de insetos.
Sienna suspirou e beliscou o nariz como se estivesse imaginando o mau cheiro.
Ela continuou.
— Mas sua habilidade artesanal é inquestionavelmente impressionante. Bens anões mal elaborados podem rivalizar com os meticulosamente trabalhados por mestres artesãos humanos. Além disso, os anões têm pouco desejo materialista. Eles relutam em vender suas habilidades por dinheiro. Eles vivem despreocupadamente, seja se deliciando com cerveja interminável ou criando obras-primas se lhes forem fornecidos materiais que os empolgam. É por isso que os anões são uma raça econômica.
— Hm… Hum.
— Em outras palavras, este reino está tirando o máximo proveito dos anões. Eles os presentearam com uma pequena ilha distante como domínio? Pode ser um belo local de férias com céu claro e mares pitorescos. Mas não seria uma perda enorme para o reino, já que os clientes forneceriam os materiais para as encomendas de produção. Além disso, poderiam cobrar comissões consideráveis. Como eu disse, os anões não são ávidos por dinheiro, então Shimuin poderia levar uma grande parte da comissão em troca de coisas como barris de cerveja ou o que quer que seja…
Sienna continuou com seus comentários sobre os anões. Suas palavras estavam impregnadas de desdém. Todos a olharam, de boca aberta. Não podia ser evitado. Embora Sienna fosse humana, ela cresceu entre elfos, e elfos e anões eram duas raças completamente opostas com uma longa história de discórdia.
— De onde você ouviu essas palavras, Senhorita Sienna?
— Hein? Meu irmão mais velho me contou. Além disso, eu vi anões algumas vezes há trezentos anos. O que eu disse não estava completamente errado, sabem? Ainda me lembro. Eu pedi alguns punhais a eles, e eles reclamaram sobre por que uma maga insignificante estaria balançando uma espada…
Sienna recordou memórias distantes. Naquela época, Hamel estava ao seu lado, e Eugene conhecia toda a história muito bem.
No final, o anão levou uma surra sólida de Sienna, que não usou sua magia e suportou graciosamente o incômodo para fabricar um conjunto de punhais para ela. Ele recebeu três barris de cerveja como pagamento.
— Hm… Bem, hoje em dia não é tão extremo para os anões. — Disse Ciel, tentando se livrar de seu choque. Ela não podia acreditar que ouviu tal preconceito racial forte da Sábia Sienna. — A maioria dos anões vive na Ilha do Martelo, mas isso não significa que não haja anões na Ilha de Shedor.
Havia uma Guilda de Anões na Ilha de Shedor. Eles eram responsáveis pela inspeção primária de pedidos que seguiam para a Ilha do Martelo. Ao contrário dos anões na Ilha do Martelo, esses eram jovens anões que haviam aceitado um pouco a vida na cidade.
— Os anciãos de sua raça foram sequestrados em massa, então a Guilda de Anões está naturalmente furiosa. Eles já declararam greve contra todos os pedidos da família real. Se a família real não resgatar os artesãos, eles continuarão a greve contra todos os pedidos dos clientes e realizarão protestos. — Explicou Ciel a situação atual dos anões.
A ameaça dos ataques de Iris já havia crescido além de medidas recuperáveis. A culpa era de Shimuin. O reino havia perdido a chance de conter Iris.
— Em outras palavras, Eugene, se você pretende matar a Imperatriz, agora é o momento oportuno. — Disse Ciel, virando-se para olhar Carmen. — De qualquer forma, Sir Ortus tem solicitado ajuda da Senhora Carmen recentemente.
— Ajuda? — Perguntou Eugene.
— É bastante óbvio. Ele está pedindo para a Senhora Carmen se juntar à expedição contra a Imperatriz. Embora ela seja estrangeira, ainda é considerada uma das mais fortes no continente. — Disse Ciel.
— Ainda não dei minha resposta. — Comentou Carmen com um encolher de ombros, colocando o charuto de volta na boca.
Ao contrário de Eugene, que agia como queria, Carmen surpreendentemente tinha essas normas sociais enraizadas. Ela sabia a importância de sua existência na família Lionheart. Se ela fosse enfrentar uma elfa negra formidável como Iris, Carmen tinha que arriscar sua vida, então naturalmente, ela precisava consultar a família antes de se comprometer com uma batalha tão importante.
Se não fosse por encontrar Eugene hoje, Carmen já teria escrito uma carta para seu irmão mais novo e o Chefe Ancião da família, Klein, e o chefe da família Lionheart, Gilead, para discutir a participação na expedição. Ela até poderia ter deixado um testamento para Ciel, apenas por precaução.
— Pensei que não era algo que eu poderia decidir sozinha, mesmo que tivesse justificativa suficiente. No entanto… Você poderia ser chamado de sucessor do grande fundador. Você, o Herói, o Leão de Sangue, o Asssassino de Dragões—
— Não um ou dois títulos seriam suficientes? — Eugene perguntou.
— Todos os três descrevem você, Eugene Lionheart. — O sucessor do Grande Vermouth. Se você realmente deseja a morte da Imperatriz, o clã Lionheart seguirá incondicionalmente sua vontade. — Carmen declarou firmemente.
O Grande Vermouth, o lendário Herói de trezentos anos atrás, foi o fundador da família Lionheart.
Se Eugene Lionheart, o Herói comparável ao grande Vermouth, desejasse a queda de Iris, então o clã Lionheart sem dúvida cumpriria seus desejos.
— Bem, então, Eugene Lionheart. Vou organizar uma reunião com Ortus como você deseja. De acordo com minhas fontes, Ortus não está… Totalmente limpo, mas ele não é alguém que se aliaria à Imperatriz. — Disse Carmen.
— Hmm…
Eugene ponderou por um momento.
Inicialmente, ele planejava se aproximar de Iris sob a fachada de um comerciante ou navio de comércio. No entanto, Iris havia ameaçado abertamente a autoridade do reino, e a força expedicionária estava prestes a zarpar.
— Não. Nesse caso, parece que não há necessidade de eu me encontrar com o Sir Ortus. — Disse Eugene.
Eugene tomou sua decisão.
Por que a atitude de Iris mudou repentinamente?
Trezentos anos atrás, após a queda do Rei Demônio da Fúria, Iris fixou-se em um objetivo. A elfa negra era alguém que poderia verdadeiramente ser considerada a personificação de uma ilusão arraigada.
Pai.
Seu objetivo era a ressurreição do Rei Demônio da Fúria. Apesar de não compartilhar uma única gota de sangue, Iris considerava sinceramente o Rei Demônio da Fúria como seu pai.
O que era ridículo era que o Rei Demônio da Fúria pensava o mesmo. O Rei Demônio da Fúria tinha quatro filhos. Apesar de cometer atrocidades terríveis, ele amava seus filhos, incluindo Iris. E seus filhos o amavam de volta. Nem mesmo Eugene conseguia entender por que isso aconteceu na época.
Entre os filhos da Fúria, Kamash, o chefe dos gigantes, e Sein, o senhor vampiro, haviam caído na guerra por causa de seu pai.
Os dois filhos restantes, Oberon, chefe do povo-besta, e Iris, princesa dos elfos negros, estavam destinados ao mesmo destino. No entanto, seu pai, o Rei Demônio da Fúria, se sacrificou para permitir a fuga deles. O ato inexplicável havia concedido loucura ao coração de Iris.
Trezentos anos se passaram em uma era pacífica sem guerras, um tempo em que os Reis Demônios não mais assolavam as terras.
No entanto, nas profundezas da mente de Iris, o sonho do ressurgimento de Fúria persistia. Como era impossível ressuscitar seu pai, ela buscava se tornar a nova Rainha Demônio da Fúria.
O conflito com Noir Giabella fora impulsionado por tais ambições. Mas depois de ser derrotada e despojada de tudo, ela encontrou consolo neste vasto mar, ansiando por um reino que pudesse governar firmemente.
Iris provavelmente julgou que havia reunido poder suficiente, significando que estava buscando território, uma terra sobre a qual pudesse ficar de pé e governar.
O que mais ela precisaria para alcançar seu objetivo?
Mesmo o Rei Demônio ainda era um rei; para governar, um rei precisava não apenas de um título, mas de um domínio e súditos. Em sua busca, Iris ousadamente tentou provocar Shimuin a enviar uma cruzada contra ela.
Sem mais disfarces para se esconder, ela buscou provocar Shimuin à ação, sabendo que não podia mais ocultar a verdade.
No entanto, isso permanecia uma questão apenas dentro do reino de Shimuin. Apesar de ser chamada de Imperatriz, Iris ainda era uma pirata. Uma nação orgulhosa por ser o ‘Reino dos Cavaleiro’ hesitaria em buscar ajuda contra meros piratas.
— Mesmo que enviem uma expedição, Iris não fugirá. Sua confiança está na crença de que pode aniquilar qualquer número de inimigos. — Disse Carmen. Ela entendia a confiança e determinação de Iris.
Ela poderia capturar e escravizar as forças expedicionárias ou até mesmo virar a mesa e invadir a ilha principal de Shimuin.
— Não duvido das habilidades do Sir Ortus, mas se uma expedição em larga escala for montada, o número de participantes será avassalador. Será melhor entrar sem ser notado. A situação está permitindo isso, afinal. — Explicou Eugene.
Se as notícias de Eugene, o Herói, Kristina, a Santa, e a Sábia Sienna se juntando à expedição se tornassem públicas, Iris poderia alterar sua atitude e evitar qualquer confronto direto.
— Entendi. — Carmen reconheceu o ponto.
A escala completa da expedição ainda era desconhecida, mas sem dúvida envolveria a frota naval de Shimuin, juntamente com os Cavaleiros da Maré Violenta em pleno vigor. Guerreiros ambiciosos aspirando fama em Shimuin e mercenários atraídos pelo cheiro do dinheiro também se juntariam à causa.
— Eu também quero ir. — Disse Ciel, que estava ouvindo silenciosamente. — Estou classificada em sétimo entre os gladiadores. Certamente, você não acha que minhas qualificações são inadequadas, certo?
— Ciel. — Chamou Carmen.
— Senhora Carmen, você me disse que algumas coisas só podem ser vivenciadas e entendidas em combate real. Honestamente, as batalhas neste coliseu são mais como shows do que batalhas reais. Eu me perguntei se as coisas seriam diferentes em um nível mais alto, mas parece que não. — Interveio Ciel.
Ciel estava determinada a não ficar para trás.
— Além disso, meu irmão… Ele lutou em uma guerra com Eugene, não é? — Questionou Ciel.
— Sua tola, aquilo foi na floresta, e desta vez, é o mar. — Retrucou Eugene.
— Qual é a diferença? — Ciel olhou para Eugene com perplexidade.
— Cyan me acompanhou na luta. E daí? Cyan fez isso, então significa que você também tem que fazer? — Eugene perguntou.
— Então eu não posso? — Ciel respondeu com uma pergunta própria.
— N—
Eugene estava prestes a responder, mas foi interrompido pelo olhar determinado de Ciel. Era muito parecido com o olhar gélido que tinha visto dela nas planícies de neve do norte. Embora não tão choroso como naquela época, seus olhos resolutos permaneciam tão ferozes quanto antes.
— Sir Eugene. — Uma voz falou do lado.
Era Anise. Ela inclinou ligeiramente a cabeça para Eugene e disse:
— É uma escolha da Ciel.
— Hmm…
— Bem, qual é o problema? Dificuldades fazem parte da vida e devem ser enfrentadas quando jovem. — Sienna acrescentou, dando tapinhas nas costas de Eugene com uma risada. — Isso me traz lembranças. Ciel, não é? Você disse que tem vinte e um anos?
— Sim.
— Veja só, você fará vinte e dois em um mês, não é? Bem, eu naveguei pelo mar na sua idade. Isso mesmo, na sua idade, eu me aventurei em Helmuth, e oh, como sofri…
Sienna tremeu ao lembrar daqueles terríveis tempos.
— Mas aqueles dias me fizeram ser a Sábia Sienna que sou agora. Ah, não se preocupe demais. Você é descendente de Vermouth e irmã do meu sucessor, Eugene Lionheart. Eu posso não me importar com os outros, mas vou cuidar de você.
Apesar de quase perder a vida para Vermouth, Sienna ainda confiava nele e o considerava um amigo. Como resultado, ela achava os jovens descendentes, especialmente os gêmeos que ainda não estavam totalmente maduros, incrivelmente adoráveis. Ela queria desenvovê-los e cuidar deles.
No entanto, Cyan achava a atenção e os cuidados de Sienna um fardo e evasivos, muitas vezes levando-o a fugir. Por outro lado, Ciel tinha um temperamento diferente. Ela sorriu amplamente para Sienna e assentiu.
— Sim, obrigada, Senhorita Sienna. — Disse Ciel.
— Não há necessidade de formalidades. Fique à vontade. Por que não me chama de irmã também? — Respondeu Sienna.
— Não, isso não seria apropriado.
Naturalmente, Ciel não achava que poderia se dirigir a Sienna de maneira tão grosseira.
— O que você quer dizer com que vai cuidar dela? — Perguntou Eugene.
— O que mais, meu sucessor? Significa que vou protegê-la daquela detestável Iris. Não me diga que você está com ciúmes, meu sucessor! Eu vou me certificar de—
Disse Sienna.
— Ah, caramba, nem sabemos se poderemos usar magia lá. Como você pode dizer essas coisas com tanta confiança…? — Eugene interrompeu.
— Meu sucessor! Nem mesmo o Rei Demônio do Encarceramento poderia suprimir toda a minha magia. Você acha que o Mar de Solgalta pode fazer isso, se nem mesmo ele conseguiu? Suprimir a Sábia Sienna? Pode ser um pouco inconveniente, mas você acha possível tirar a magia da Sábia Sienna?
Sienna zombou e estufou o peito.
— Lembre-se bem disso, pois esta Sábia Sienna é magia, e a magia é a Sábia Sienna. — Proclamou.
— Heh…
Eugene só pôde resmungar, balançando a cabeça sem encontrar uma resposta adequada.