Capítulo 348
O Mar (1)
Embora naturalmente não pudesse ser comparado a Moron nesse aspecto, Eugene também era bastante alto.
Não se tratava apenas dele parecer uma pessoa comum esticada verticalmente. Tendo passado por treinamento incessante desde a infância, o corpo de Eugene, que se desenvolvera de acordo com o estilo de batalha ao qual aderira de sua vida anterior, de maneira alguma era magro.
Embora Gargith, que praticamente venerava músculos, criticasse o corpo de Eugene sempre que se encontravam, aos olhos de Eugene, eram os músculos absurdamente grandes de Gargith que eram um desperdício de esforço. De qualquer forma, Eugene se orgulhava muito da excelência física de seu próprio corpo.
Em outras palavras, o corpo de Eugene era extremamente viril. Mesmo como piada, seria difícil afirmar que ele ficaria bem vestindo roupas femininas.
Seus ombros largos, seu peito grosso e seus antebraços inchados… embora Eugene tenha nascido com um rosto extremamente bonito que ainda tinha algumas características infantis, uma vez que esse rosto dele fosse coberto com a ajuda de uma peruca, restava apenas uma visão de pura feiura.
Ou pelo menos, era isso que Eugene insistia de todo coração. No entanto, os outros se recusavam a aceitar a opinião de Eugene. Mas se fosse só isso, realmente não importaria para Eugene. Não importa o que Sienna, Kristina ou Anise possam afirmar, Eugene era alguém que poderia se apegar aos seus princípios de não gostar do que ele não gostava.
No entanto, as coisas eram diferentes desta vez.
E tudo por causa do pedido de Ciel. Um pedido malicioso e desagradável, a propósito…
Na verdade, mesmo que Eugene tivesse recusado seu pedido, Ciel ainda teria mantido o segredo de Eugene para si mesma. Afinal, não era algo para ser espalhado levianamente. Mesmo que ela tivesse ameaçado contar a verdade ao irmão dela, Ciel não era alguém que faria algo assim de verdade.
Eugene também estava ciente desse fato, mas — mesmo que esse fosse o caso — Eugene ainda tinha decidido atender ao pedido de Ciel. Era pelo bem dela, porque ele queria fazê-la se sentir melhor. Mesmo que fosse apenas por uma pequena margem, Eugene decidiu fazer um sacrifício nobre.
Mesmo que isso significasse morder a língua.
Feitiços para mudar a cor do cabelo ou dos olhos eram realmente bastante simples. Feitiços que poderiam fazer os sentidos de alguém perceberem as coisas de maneira diferente também não eram um campo desafiador de magia se fosse apenas para alterar os sentidos de pessoas comuns.
No entanto, qualquer feitiço que transformasse completamente o corpo de uma pessoa de alguma forma era uma magia muito avançada. Mas para um Arquimago, definitivamente estava dentro de suas capacidades reconstruir seu próprio corpo e se transformar em uma aparência diferente.
Mas Eugene ainda não havia alcançado esse nível. Eugene poderia ser dito ter mal atingido o Oitavo Círculo, que poderia ser chamado de nível padrão de força para um Arquimago, por causa de sua Fórmula do Anel de Chamas, que substituía os Círculos de um mago pelas suas Estrelas e amplificava seu poder. Além disso, havia também o apoio de Akasha.
Por causa disso, Eugene sentiu um lampejo de esperança. Não importava o quão bonito fosse seu rosto depois da maquiagem, ou não importava como seu cabelo fosse alongado ou coberto por uma peruca, se um rosto tão bonito estivesse localizado acima de seus grandes e inchados músculos, no final, essa visão ainda seria desagradável?
No entanto, essas esperanças foram frustradas por Sienna. Afinal, ela não precisava de um feitiço complexo como Polimorfia, que poderia mudar completamente a raça e o gênero de alguém para algo assim.
Embora, mesmo para Sienna, fosse impossível fazer algo como regenerar membros decepados de alguém. No entanto, se fosse apenas alguma reconstrução física no limite de reduzir um pouco sua altura e comprimir seus músculos até seus limites, então…
— Isto é… — Sienna murmurou com um engolir audível.
Mesmo com magia, há limites para o que é fisicamente possível, então Sienna só podia fazer ajustes dentro dos limites do que o corpo de Eugene podia suportar. Também era impossível para ela fazer seios incharem onde simplesmente não existiam.
No entanto… mesmo que fosse só isso…. Sienna não pôde deixar de admirar sua própria habilidade em magia, bem como a nova aparência de Eugene.
Sua altura foi reduzida para cerca do nível de Krisitna. Seus músculos grossos também foram comprimidos até seus limites. Mesmo com isso, sem todas as suas roupas, Eugene ainda pareceria robusto e em forma, mas quando coberto por algumas roupas, as linhas de seus músculos não poderiam ser vistas, então não havia problemas nesse sentido.
— Está ainda… melhor… do que eu esperava… — Murmurou Sienna.
As maçãs do rosto afiadas de Eugene e seu cabelo comprido e cinza ficavam bem acima do vestido branco puro que Sienna havia comprado para ele no dia anterior como parte da brincadeira.
Sienna não foi a única que pensou assim. Kristina e Anise sentiram seus corações pulsando enquanto encaravam Eugene com olhos vazios.
Que bonito…
Sua impressão não era apenas de um ponto de vista estético. Afinal, este era o nobre Eugene Lionheart. Esta era uma faceta dele que ele nunca havia mostrado a ninguém antes em toda a sua vida, e ele obviamente estava constrangido a ponto de mal poder suportar, mas o fato dele ainda se expor assim a eles estava fazendo o coração compartilhado das Santas bater forte.
— Já terminamos… agora? — Eugene implorou entre dentes cerrados, lutando para suportar sua vergonha.
O som da voz que saiu de seus lábios era tão prateado que até mesmo o surpreendeu.
— Acho que seria melhor se mudássemos a cor do seu cabelo e dos seus olhos. — Ciel disse enquanto examinava a aparência de Eugene com uma expressão séria. — Estamos planejando levá-lo comigo como minha empregada, mas não seria muito óbvio quem você é se você retiver as características Lionheart? Se vamos vesti-lo como uma mulher, devemos ir até o fim.
— Você está planejando mesmo me trazer a bordo do navio assim? — Eugene perguntou incrédulo.
— A Senhorita Sienna e a Santa Rogeris também concordaram em se disfarçar como empregadas para embarcar no navio. — Ciel rebateu.
— O que uma coisa tem a ver com a outra?! — Eugene explodiu.
— O que exatamente você não entende? — Ciel respondeu calmamente. — Dessa forma, devemos ser capazes de enganar completamente nossos inimigos.
Eugene implorou desesperadamente:
— Mas realmente não precisamos me vestir como uma mulher para fazê-los baixar a guarda. Eu poderia simplesmente usar um disfarce diferente e comum. Se isso não fosse suficiente, eu poderia me esconder em um barril de madeira—
— Você não prometeu ouvir meu pedido? — Ciel o interrompeu com um sorriso astuto.
Eugene rangeu os dentes enquanto sua boca se fechava.
Está bem, era exatamente como Ciel tinha dito. Se Eugene se disfarçasse de empregada, ninguém deveria conseguir enxergar através de sua identidade. Embora houvesse o risco da magia que o disfarçava ser desfeita quando chegassem ao Mar de Solgarta, se isso significasse que eles poderiam chegar ao destino com segurança e se aproximar o suficiente para enfrentar Iris, ainda seria útil.
“Mas se eu for pego antes disso…” Eugene pensou sombriamente.
Eles estavam mortos.
Quem quer que fosse, ele se certificaria de matá-los. Essa era a convicção sincera de Eugene. Ele não podia permitir que essa aparência dele fosse vista por mais ninguém.
Creak.
À medida que a porta se abria, o tempo parecia parar para Eugene. Ele se virou para olhar para a porta aberta com uma expressão de horror no rosto. Através da porta entreaberta, ele viu Carmen do outro lado.
Silêncio.
O que diabos era isso? Carmen não conseguia compreender o que estava vendo agora. Havia uma mulher com um vestido branco, não… aquele era Eugene… Eugene Lionheart. Por que ele estava vestido assim?
— Ahem… — Carmen limpou a garganta de maneira constrangedora.
Ela achou que seria uma má ideia perguntar a ele por que ele estava vestido assim…
Todos tinham segredos que queriam esconder. Carmen nunca esperava que Eugene Lionheart, o Leão de Sangue, Assassino de Dragões e Herói, tivesse gostos tão particulares, mas… Carmen possuía uma visão flexível que poderia aceitar algum grau de desvio se fosse apenas nesse nível.
Como tal, sem dizer nada, Carmen decidiu apenas dar um passo para trás por enquanto.
Ela deveria deixar a porta aberta? Ou deveria fechá-la? Por um breve momento, Carmen ponderou essa pergunta em sua mente, mas não se via nenhum traço de sua hesitação por meio de sua expressão. No final, Carmen moveu-se para fechar a porta com uma expressão calma.
— Espera aí. — Eugene chamou.
Se ele não conseguisse esclarecer as coisas a tempo, esse mal-entendido poderia explodir de tamanho como uma bola de neve rolando. Correndo, Eugene rapidamente colocou o pé na lacuna que se fechava entre a porta e segurou o pulso de Carmen.
— Está… está tudo bem. Eu entendo. — Carmen disse, tentando ser compreensiva com os sentimentos de Eugene.
Ela entende? O que exatamente ela estava entendendo?
— Ei, Senhora Carmen, não é isso. — Eugene negou rapidamente. — Eu não estou vestindo essas roupas e alterando minha aparência porque eu quis. Você estava aqui conosco há dois dias, Senhora Carmen? Para enganar completamente a Princesa Rakshasa, eu concordei—
Carmen interrompeu:
— Você quer dizer que isso não foi uma brincadeira? Você está realmente pensando em se disfarçar de mulher?
Eugene assentiu firmemente:
— Preciso que você entenda claramente, Senhora Carmen, mas eu não tenho o menor interesse em me disfarçar assim. Eu realmente não queria fazer isso, mas… bem… como devo colocar isso…? Acho que você poderia dizer que realmente não tive escolha a não ser fazer isso…. S-Se é você, Senhora Carmen, confio que entenderá minha posição.
Ele não podia lhe dar nem a evidência mais frágil para ganhar sua confiança, mas mesmo assim, não podia admitir que havia prometido cumprir o pedido de Ciel em troca de manter algo em segredo.
— Hmm… — Carmen não pôde ignorar o apelo de Eugene.
Sem fazer muitas perguntas, ela apenas balançou a cabeça. Eugene soltou um suspiro de alívio ao soltar o pulso de Carmen.
Apenas para Carmen dizer:
— Fica bem em você.
O rosto de Eugene se contorceu diante do elogio cuidadosamente oferecido.
* * *
Iris estava tendo um sonho.
Ela já havia desistido de contar quantas vezes o teve, mas era sempre o mesmo sonho.
Quando os sonhos começaram a vir, eles não eram tão frequentes quanto agora, mas o intervalo entre eles havia diminuído lentamente. O que antes era uma vez por semana há pouco tempo se tornou uma vez a cada quatro dias, e agora ela sonhava o mesmo sonho quase todos os dias.
A princípio, ela suspeitou que Noir Giabella, aquela Rainha das Vadias, poderia estar pregando uma peça nela. A última vez que se encontraram foi na batalha territorial há alguns anos. No entanto, seu relacionamento, não, sua inimizade, ainda não havia sido cortada.
Iris sabia que não havia acabado ainda. Mesmo agora, pensar sobre essa derrota a fazia ranger os dentes de raiva.
Relembrando aquela batalha territorial de um para um… poderia até ser chamada de batalha? Mesmo Iris sentia que considerá-la como tal era um ato de arrogância excessiva e autoengano. A batalha territorial nem mesmo foi uma luta. Foi apenas um massacre unilateral…
Como tal, Iris não tinha intenção de cortar essa inimizade. Ela não podia esquecer a rancor que foi forjado naquela época.
Depois de perder seu território em Helmuth, Iris chegou ali, a esses mares distantes. Uma vez que ganhasse força suficiente, voltaria um dia para Helmuth e pisotearia Noir Giabella. Iris queria rasgar aquela imunda Demônio da Noite em pedaços com as próprias mãos, e se Noir ainda conseguisse sobreviver, Iris a transformaria em um receptáculo para todo tipo de sujeira nojenta e faria ela implorar para ser morta…
Noir Giabella também deveria estar plenamente ciente de que Iris nutria tal malícia profunda por ela. Foi por isso que Iris não pôde deixar de ter tal mal-entendido no início.
Em Helmuth, Iris foi reprimida por todos os outros demônios que viviam lá. Isso porque ela teimosamente insistia em confiar apenas em elfos negros como seus subordinados. Portanto, mesmo que Iris tivesse passado os últimos trezentos anos em Helmuth, ainda não conseguira acumular tanto poder quanto os outros demônios de alta patente que haviam sobrevivido à guerra.
No entanto, as coisas eram diferentes ali nos Mares do Sul. Depois de chegar a esses Mares do Sul, Iris nunca experimentou o fracasso. Em vez disso, tudo ia do jeito dela — o destino parecia sorrir para Iris. Tinham se passado apenas dois anos desde que Iris chegara aos Mares do Sul, mas o poder que ela acumulou nesse curto período de tempo era maior do que ela jamais conseguira durante seus trezentos anos em Helmuth.
Uma única palavra de Iris poderia colocar centenas de frotas piratas em movimento. Mobilizando uma força tão enorme, ela havia capturado inúmeros elfos que tentavam cruzar os mares para entrar na Floresta Samar.
Tudo estava indo bem.
Isso mesmo, assim como o significado literal dessas palavras, Iris parecia estar navegando tranquilamente em direção ao futuro de seus sonhos.
Mas notícias desse tipo devem ter de alguma forma chegado à arrogante e suja Rainha das Vadias de Helmuth. Iris suspeitava que Noir talvez tenha decidido que era melhor impedir Iris agora, antes que os preparativos de Iris fossem concluídos, do que esperar pela guerra total que certamente se desencadearia entre elas. Afinal, a especialidade de Noir Giabella era fazer com que suas vítimas passassem por pesadelos irresistíveis repetidamente até que suas mentes entrassem em colapso completamente.
“Mas não era verdade.”
Suas suspeitas só duraram nas primeiras vezes em que teve o sonho. Depois de ter o mesmo sonho várias vezes, Iris percebeu que esse sonho não era um pesadelo. Na verdade, Iris sabia a verdade desde o momento em que experimentou esse sonho pela primeira vez. Mas, inicialmente, ainda havia algumas suspeitas persistentes de que poderia haver algum outro esquema em andamento.
No entanto, agora ela não tinha mais dúvidas.
Pesadelos eram dolorosos e, como regra, faziam você querer acordar deles. Os pesadelos prejudiciais usados pelos Demônios da Noite usariam métodos diferentes para tentar desgastar a mente e quebrar a vontade do sonhador. Mas os sonhos recorrentes de Iris não eram nada assim.
Em vez disso… eram doces e nostálgicos. Ela sempre tinha o mesmo sonho repetidamente, mas Iris nunca achou que fosse entediante.
— Ahhhh… — Iris suspirou.
Em vez de ficar entediada, ela sempre se sentia triste e decepcionada sempre que o sonho terminava. Acordando do sonho, Iris enxugou as lágrimas nos cantos dos olhos. As marcas secas de lágrimas em suas bochechas se puxavam e se esticavam junto com suas expressões faciais. Depois de esfregar as bochechas com as costas das mãos algumas vezes, Iris se imergiu no brilho posterior dos seus sonhos.
Seu enorme dorso e sua mão que gentilmente a abraçava. Era difícil de ver porque tudo estava coberto por uma névoa, mas mesmo através de tal neblina, ela ainda conseguia reconhecer o sorriso carinhoso em seu rosto. No sonho, ele daria o primeiro passo em direção a um caminho, e ela o seguiria, tentando viajar junto com ele.
Depois de dar alguns passos para frente, em questão de momentos, seu enorme dorso subitamente recuaria para a distância, lançando uma longa sombra que envolvia ‘todos’ ali. Isso mesmo, Iris não estava sozinha no sonho. Todos… todos estavam olhando para o mesmo dorso por trás e caminhando para frente juntos.
— Kamash, Sein, Oberon… — Iris murmurou os nomes de seus irmãos falecidos.
Um gigante, um vampiro e um homem-besta. Podiam pertencer a raças diferentes, mas eram definitivamente irmãos.
— Hah… — Iris deu outro longo suspiro ao sair da cama.
Era um sonho estranho.
Definitivamente era nostálgico, pois o sonho trazia memórias do passado distante. No entanto, nas memórias de Iris, uma cena assim não existia. Poderia ser que a nostalgia pelo passado estivesse fazendo-a sonhar com lembranças que nunca existiram?
“Não, não é isso.”
Ela não tinha base para isso, mas Iris tinha certeza de que esse sonho não era uma ilusão criada pelo seu anseio pelo passado.
O ‘pai’ caminhando à frente deles, liderando todos os seus filhos pela mão, era definitivamente o Rei Demônio da Fúria. Aqueles que o seguiam eram todos os seus irmãos, como Iris os lembrava.
“Pai…”
Iris recordou-se do Rei Demônio da Fúria, que morrera há trezentos anos. Mesmo sendo um Rei Demônio, ele sempre foi extremamente gentil com seus filhos. E até o final, Iris ainda não conseguia entender por que havia sido escolhida como filha de Fúria.
Isso não podia ser evitado porque Iris tinha a origem mais humilde entre todos os filhos de Fúria. Kamash era o chefe dos gigantes. Oberon também era o chefe dos povos-besta corrompidos. Até mesmo Sein era o Lorde de um dos maiores clãs de vampiros.
Iris não tinha um histórico tão impressionante. Ela apenas fora uma patrulheira elfa negra entre muitos outros, e havia uma quantidade considerável de elfos negros que tinham se corrompido junto com ela.
No entanto, mesmo entre esses outros elfos negros, o Rei Demônio da Fúria havia escolhido Iris. O Rei Demônio da Fúria não mostrou nem mesmo um vestígio de hesitação ao fazer essa escolha, e para fortalecer sua filha mais fraca, ele lhe deu pessoalmente o seu Olho Demoníaco.
Iris ficou em frente a um espelho, vestindo absolutamente nada. Ela viu sua pele cinza, orelhas pontiagudas, cabelos brancos e olhos vermelhos refletidos no espelho.
Tudo isso lhe foi dado por seu pai. Enquanto abraçava seu próprio corpo, Iris fechou os olhos.
O destino sorriu para ela e se transformou em um vento forte que a levou a este lugar. Isso mesmo, tudo isso tinha que ser destino.
Iris abriu os olhos novamente. Neles estava o Olho Demoníaco das Trevas que recebeu do Rei Demônio da Fúria trezentos anos atrás. Sombras negras se contorciam nas pupilas de seus olhos vermelhos sangue.
“Pai…”
O final do sonho sempre era o mesmo.
Seu pai, que estava mais à frente de todos, se ajoelhava. Antes que ela pudesse se aproximar de seu pai agora parado, o mundo dentro do sonho era submerso em água. Graças a isso, tudo foi afogado na água e levado embora. Seu pai, Iris, seus outros irmãos, tudo.
— Pai, você está tentando me mostrar alguma coisa através desse sonho? — Iris murmurou enquanto acariciava suavemente a pálpebra.
Ela se lembrou de quando começou a ter esse sonho.
Foi quando o Castelo do Dragão Demoníaco em Helmuth caiu.
Quando Jagon, que matou e devorou Oberon, morreu.
Foi a partir desse momento que os sonhos começaram.
Iris murmurou para si mesma.
— Como sua única filha sobrevivente… o senhor está tentando me mostrar como abrir um caminho?
Kamash morreu há trezentos anos. Sein e toda a sua linhagem também morreram há trezentos anos. Entre os filhos de Fúria, os únicos que sobreviveram à guerra foram Iris e Oberon, e mesmo Oberon foi eventualmente devorado por seu próprio filho.
Agora que o filho de Oberon também morreu, o único descendente restante de Fúria era Iris.
— Se esse for o seu desejo, pai. — Iris disse enquanto continuava a acariciar seus olhos vermelhos sangue com as pontas dos dedos.
Então, mesmo depois de ter sido levada ao oceano pela primeira vez em sua vida, Iris garantiria de velejar até o final dos Mares do Sul.
Para aquele mar cheio de mistérios, o Mar de Solgalta.
Mas, por alguma razão desconhecida, Iris sentia que este lugar era confortável e acolhedor, como se fosse sua casa.