Capítulo 45: Salão de Sienna (2)
— Esse cajado é o qual a Senhorita Sienna usou durante a maior parte de sua vida. — Mer disse, agindo como um guia turístico.
A Bruxaria não era o único item no Salão de Sienna. As várias ferramentas mágicas que Sienna usou durante sua vida que não podiam ser mantidas em sua mansão porque ela havia sido aberta como uma atração turística foram armazenadas ali.
Por exemplo, o cajado para o qual Mer estava apontando. Esse item também estava incluído nas memórias de Eugene.
— Chama-se Akasha. — Lembrou ele.
— Como esperado, você já sabia disso. — Mer sorriu triunfante e estufou o peito.
— Existe um tipo de árvore conhecida como Árvore das Fadas, que só cresce na Floresta de Samar, o santuário dos elfos. Akasha, o cajado mágico mais poderoso do mundo, foi feito das raízes daquela árvore de mil anos que cresce no centro de sua floresta.
A voz dela, que estava tremendo de empolgação, realmente fez Eugene sentir que estava ouvindo Sienna. Ela havia explicado pessoalmente as origens do cajado para ele há muito tempo e, como um papagaio, ela repetia essa ostentação sempre que ficava bêbada.
Mer continuou sua história.
— Os elfos acreditam que a árvore antiga contém os espíritos de seus ancestrais e que suas raízes sustentam o mundo inteiro. Esta Árvore do Mundo é o centro da religião dos elfos. Você sabe o que isso significa, certo? Aqueles elfos arrogantes cortaram uma raiz daquela árvore antiga e sagrada para fazer este cajado como um presente para Senhorita Sienna!
Sienna não era uma elfa ou mesmo meio-elfa.
Embora fosse humana, Sienna era frequentemente associada aos elfos. Entre os muitos rumores sobre onde ela poder ter entrado em reclusão, alguns especularam que ela poderia ter se refugiado na Floresta de Samar, o santuário dos elfos.
Sienna não sabia quem eram seus pais. Quando era apenas um bebê, foi abandonada na grande selva no extremo sul do continente, a Floresta Samar. Normalmente, teria sido comida por um monstro ou uma fera selvagem, mas a sorte de Sienna foi boa naquele dia. Um elfo que por acaso estava passando foi atraído pelos gritos do bebê e salvou Sienna.
Foi assim que Sienna foi levada para o bosque sagrado dos elfos, que ficava em algum lugar no coração daquela selva.
Os elfos não foram muito receptivos a Sienna. No entanto, depois de descobrir que ela tinha um tremendo talento mágico, eles a reconheceram como uma deles e lhe ensinaram a magia dos elfos.
Enquanto Eugene olhava para Akasha com olhos vazios, Mer continuou a palestra em sua voz aguda.
— A Senhorita Sienna é a primeira pessoa a possuir um cajado feito das raízes da Árvore do Mundo. Mesmo entre os elfos, esta era uma honra sem precedentes. Não só isso, você vê aquela coisa ali. A joia vermelha no final do cajado! Se você está curioso para saber o que é isso, é—
— Um Coração de Dragão. — Interrompeu Eugene.
Mer aceitou essa interjeição com calma:
— Sim, isso mesmo! Entre todos os cajados mágicos que existem no mundo, existem apenas dois cajados que incorporaram um Coração de Dragão. Um é o Akasha da Senhorita Sienna, e o outro é…
— Blood Mary. — Eugene respondeu à pergunta silenciosa em um tom calmo.
Aquele cajado terrível já existia há trezentos anos. Naquela época, o dono de Blood Mary era um lich chamado Belial, um servo do Rei Demônio do Encarceramento.
Eugene teve um relacionamento malfadado com esse cajado.
Ele olhou desnecessariamente para seu próprio estômago. Em sua vida anterior, quem o matou foi aquele lich, Belial. Esse cara era responsável pelas poderosas armadilhas instaladas em todo o castelo do Rei Demônio, e seu grupo tinha sido constantemente perturbado por essas armadilhas sem ter tempo para descansar.
Durante seu tempo naquele castelo, Hamel ficou com um corpo que corria o risco de morrer a qualquer momento depois que um buraco foi perfurado em seu peito.
Desde o início, o Castelo do Rei Demônio do Encarceramento era tão torturante que era incomparável aos castelos dos Reis Demônios anteriores. Além disso, todas as bestas demoníacas e demônios que guardavam o castelo eram poderosos o suficiente para serem páreo para qualquer um dos servos dos Reis Demônios anteriores.
E mesmo entre aqueles poderosos guardiões, havia três demônios especialmente poderosos. Esses três eram conhecidos como Lâmina, Escudo e Cajado do Encarceramento, respectivamente.
Enquanto eles estavam no meio da luta contra o Escudo do Encarceramento, Belial, o Cajado, interveio. No Castelo do Rei Demônio do Encarceramento, era impossível remover completamente os efeitos da magia negra e quaisquer maldições lançadas sobre eles pelo Cajado, mesmo com a magia sagrada de Anise.
Alguém precisava avançar e abrir um caminho.
Hamel se ofereceu para esse papel. Embora Moron normalmente fosse aquele a assumir esse papel, Hamel o rejeitou e insistiu que assumiria a liderança, abrindo caminho para o futuro.
Era impossível conquistar o Castelo do Rei Demônio do Encarceramento sem que ninguém morresse.
Então, se alguém tivesse que morrer por isso…
“Deixe essa pessoa ser eu”, ele insistiu.
Hamel era forte.
Mas não era tão forte quanto Vermouth.
Hamel era resistente.
Mas não era tão resistente quanto Moron.
Estando bem ciente desses fatos, ele assumiu a liderança. Para que, mesmo que morresse, Moron estivesse lá para suportar os golpes. Mesmo que não pudesse mais lutar, Vermouth ainda estaria lá para continuar lutando.
Uma vez que o Escudo do Encarceramento foi derrotado, Hamel sofreu tantos ferimentos que já estava à beira da morte. Nem o poder divino, nem a magia poderiam ser usados para curar suas feridas. O poder maligno do Castelo do Rei Demônio e as maldições do lich levaram Hamel à beira da morte.
E uma vez que a batalha contra Belial, o Cajado do Encarceramento, terminou, um grande buraco foi perfurado no peito de Hamel.
Foi assim que sua vida anterior terminou.
Hamel foi morto por Belial e Blood Mary. Eugene definitivamente acreditava que Blood Mary tinha sido destruído. Pouco antes de morrer, ele testemunhou o filactério de Belial sendo quebrado e o próprio lich desmoronando em pó.
No entanto, Blood Mary de alguma forma não foi destruído. Embora não soubesse todos os detalhes de como sobreviveu, o atual proprietário de Blood Mary era o Conde Edmond Codreth de Helmuth. Junto com o Mestre da Torre Negra Balzac, Edmond Codreth era um dos três magos negros que assinaram um contrato com o Rei Demônio do Encarceramento.
— Posso tentar segurar? — Eugene perguntou enquanto apontava para Akasha.
A esta pergunta, Mer deu um sorriso malicioso e acenou com a cabeça.
— Claro, está tudo bem, mas só para você saber, é impossível lançar qualquer magia com esse cajado.
— Por quê? — Eugene perguntou.
— Akasha só reconhecerá a Senhorita Sienna como sua mestra. Depois que ela entrou em reclusão, vários magos tentaram se tornar o novo dono de Akasha, mas nenhum deles conseguiu receber a aprovação do cajado.
— Se não podem usá-lo, por que deixá-lo aqui? Eles deveriam ter quebrado o cajado e pelo menos levado o Coração de Dragão.
— Por favor, não diga essas bobagens. Akasha é um tesouro presenteado à Senhorita Sienna pelos elfos e dragões. Embora não seja possível de ser usado, apenas por conta própria, ele possui um valor tremendo.
Quando Mer apontou isso com um estalar de sua língua, Eugene deu um leve sorriso. Ele sentiu alguma nostalgia da resposta dela. Há muito tempo, ele também ouviu o mesmo de Sienna.
— Você já deve saber disso também, certo, Sir Eugene? Um coração de dragão é literalmente o coração de um dragão. Porque o coração de um de seus camaradas falecidos foi sacrificado para fazer um cajado para Senhorita Sienna… Se alguém quebrar Akasha por isso, embora eu não tenha certeza sobre os elfos, os dragões definitivamente aparecerão e atacarão Aroth com seus ataques de sopro.
Ele também tinha ouvido algo nesse sentido de Sienna. Quando brincou sobre quebrar o cajado e dividir a mana do Coração de Dragão entre eles, Sienna jogou uma garrafa de cerveja nele com um grito alto.
—Seu maldito ignorante. Quer quebrar o quê? Você realmente quer condenar a todos?
Claro, Mer não o xingou duramente como Sienna fez. Mesmo assim, ouvi-la dizer as palavras que Sienna disse, com um rosto que lembrava Sienna, fez com que Eugene se lembrasse da Sienna de sua vida passada.
“Isso não é…” Depois de ficar ali atordoado por alguns segundos, Eugene voltou a si com um pensamento, “nada bom.”
Ele estava ficando muito obcecado com as memórias de sua vida passada. Eugene balançou a cabeça vigorosamente e se afastou de Mer. Ele não foi a Acryon apenas para mergulhar em suas lembranças.
— Por enquanto, vamos apenas tentar segurar. — Dizendo isso, Eugene estendeu a mão.
O cajado era tão alto quanto Sienna. Embora ele o estivesse segurando diretamente, nada parecia ter acontecido. Depois de dar uma olhada em Mer, Eugene tentou infundir um pouco de mana em Akasha.
Mas, mais uma vez, nada aconteceu. Akasha não aceitou a mana que ele havia oferecido. Desde que viu a ilusão de Sienna, Eugene tinha uma pequena esperança de que pudesse obter a aprovação de Akasha. Mas parecia que Sienna não havia deixado tais arranjos para ele.
“Se você fosse deixar algo para mim, eu preferiria que deixasse Akasha em vez do meu colar.”
Ele ainda não tinha certeza de quem havia deixado para trás o colar na propriedade principal dos Lionheart. No entanto, Eugene estava quase certo de que Sienna tinha sido a responsável por deixá-lo lá.
— Você sabe o que é isso? — Eugene perguntou; tendo tido um pensamento repentino, ele puxou o colar e mostrou a Mer.
Mer examinou-o e disse:
— É apenas um colar desgastado.
— Então você não se lembra de tê-lo visto antes?
— Não tem como. Já não lhe disse que não saí de Acryon em todas essas centenas de anos?
— Bem, não importa se você não o reconhece.
Sem fazer mais perguntas, Eugene enfiou o colar de volta no colarinho. Então deixou Akasha para trás e começou a olhar ao redor do Salão de Sienna com seriedade.
Havia algumas coisas que ele se lembrava de ter visto antes.
Lá estavam as vestes e o chapéu que Sienna sempre gostou de usar. Eles também eram artefatos de extraordinário valor mágico. O primeiro andar do salão estava cheio dessas coisas. Com a Bruxaria no centro, seus arredores estavam cheios de todas as ferramentas mágicas que Sienna havia usado pessoalmente.
— Você não pode levar nada para fora com você. — Mer avisou.
Eugene acenou para ela.
— Eu não vou tentar levar nada comigo.
Talvez devido à magia de preservação ter sido aplicada a eles, ainda estavam em perfeitas condições, embora centenas de anos tivessem se passado. No entanto, isso não queria dizer que eles estavam em perfeitas condições. As vestes estavam desgastadas em muitos lugares. Enquanto Eugene tentava não se sentir incomodado com isso, subiu as escadas.
— Esses livros são as notas escritas durante o processo de construção de Acryon. — Mer continuou a atuar como guia turístico.
O décimo terceiro andar estava cheio de estantes. Embora houvesse muitos livros na mansão, os livros expostos não podiam ser comparados aos exibidos ali em termos de valor. Os livros mágicos de valor verdadeiramente excepcional definitivamente não estavam guardados na mansão, mas ali, em Acryon.
— E esse é um rascunho da fórmula mágica do Círculo, escrita quando Sienna estava no processo de desenvolvê-la. Se você lesse como está agora, Sir Eugene, provavelmente não seria capaz de entendê-lo. Mesmo que seja um rascunho, as técnicas e pesquisas utilizadas para desenvolvê-lo são extremamente avançadas. —Enquanto Mer seguia atrás de Eugene, ela continuou a murmurar:
— Isso vale para seus outros diários de pesquisa armazenados em Acryon também. Entre todos os magos que chegaram até aqui, nenhum deles conseguiu entender a pesquisa da Senhorita Sienna a princípio.
Permitindo que essas palavras fluíssem por um ouvido e saíssem pelo outro, Eugene pegou um dos diários de pesquisa de uma estante. Embora os livros da mansão estivessem expostos, você não tinha permissão para abri-los e lê-los. No entanto, ali, você tinha permissão para ler quantos diários de pesquisa quisesse.
— Ha. — Uma risada escapou antes que Eugene tivesse folheado mais do que algumas páginas.
— Veja, você não tem ideia do que essas palavras significam, certo? — Mer disse.
— Acho que sim. — Admitiu Eugene com um sorriso ao se afastar da estante. Ele pensou consigo mesmo: “A caligrafia dela ainda era ruim como sempre.”
A caligrafia horrível de Sienna foi preservada para sempre dentro desses livros. Já era difícil entender do que estava falando quando falava sobre mana isso e Círculos aquilo, mas os arranhões de galinha rabiscados de Sienna exigiam descriptografia por si próprios.
Eugene ficou ali por alguns momentos, lendo o diário de pesquisa de Sienna. Quando parecia que sua cabeça estava prestes a começar a girar, ele fechou o livro e olhou ao redor. Parecia que havia cerca de cem volumes de livros armazenados ali.
Depois de olhar para todos eles, Eugene abriu a boca e perguntou:
— Não há notas pessoais de Sienna? Aqueles que não falam sobre magia.
— Não há nenhuma. — Mer afirmou.
— Pouco antes de entrar em reclusão, a Senhorita Sienna apagou todas as anotações pessoais que havia deixado em sua mansão.
— Parece que ela foi muito cuidadosa em cobrir seus rastros.
— Isso só mostra o quanto ela não queria que ninguém soubesse para onde estava indo para sua reclusão.
— E qual a sua opinião sobre isso? — Eugene perguntou. Enquanto devolvia o diário de pesquisa para a estante de onde o havia tirado: — Fala-se muito sobre onde a Senhorita Sienna pode ter entrado em reclusão. Alguns dizem que ela foi para Helmuth, outros dizem que ela foi para a Floresta de Samar… E alguns até dizem que ela foi assassinada pelos magos negros.
— Acho que ela foi para Floresta de Samar. — Mer respondeu com um encolher de ombros: — Embora muitas pessoas pensem que ela pode ter ido para Helmuth, pelo que me lembro, Senhorita Sienna não era do tipo que ousaria fazer algo tão imprudente e impossível. Claro… Até a Senhorita Sienna entrar em reclusão, era a pessoa mais bonita e forte que conheci. No entanto, para desafiar os Reis Demônios de Helmuth sozinha, Senhorita Sienna não era alguém que faria algo assim.
— Também concordo com isso. — Eugene assentiu.
— Também é impensável que os magos negros tenham assassinado Sienna. Embora, nesse momento, poderosos magos negros como Balzac Ludbeth possam ser encontrados em Aroth, duzentos anos atrás, os magos negros que viviam em Aroth eram todos insignificantes e fracos. — Mer zombou com desdém.
— Mas magos negros de Helmuth poderiam ter se infiltrado para assassinar a Senhorita Sienna. — Disse Eugene, bancando o advogado do diabo.
— Ha! Isso é ainda mais impensável. Sir Eugene, pense nisso. A barreira mágica de Senhorita Sienna foi capaz de bloquear a magia negra lançada pelo Rei Demônio da Fúria. — Mer gritou em agitação.
“Embora não tenha sido capaz de bloquear a magia negra de Belial”, observou Eugene silenciosamente.
Em termos de seus níveis mágicos, o nível de Belial, o lich, era realmente maior que o do Rei Demônio da Fúria. Embora isso não significasse que Belial era mais forte que o Rei Demônio da Fúria.
Mer continuou seu discurso,
— Se, apenas se, os magos negros de Helmuth realmente tivessem se infiltrado para assassinar a Senhorita Sienna, não há como eles terem a derrotado tão silenciosamente. Teria que ter havido ondas de mana suficientes para sacudir toda a capital do Pentágono até suas fundações. No entanto, tal desastre não aconteceu quando Senhorita Sienna entrou em reclusão! Isso significa que ela deve ter entrado em reclusão por vontade própria e não poderia ter sido assassinada por ninguém.
Sem se acalmar nem um pouco, Mer continuou a encarar Eugene. Mer se recusou a aceitar a menor possibilidade de que sua criadora, a quem ela amava e respeitava, pudesse ser assassinada por alguém como um mago negro.
— A Senhorita Sienna definitivamente ainda deve estar na Floresta de Samar. — Mer insistiu: — Embora eu não saiba exatamente onde fica a clareira sagrada élfica dentro daquela vasta floresta, a Senhorita Sienna está definitivamente… Definitivamente…
Incapaz de terminar suas palavras, Mer caiu em murmúrios. Duzentos anos era muito tempo. Se fosse um humano comum, definitivamente morreria durante esse tempo. Nem mesmo Vermouth conseguiu se libertar dos limites naturais de sua vida.
— Ela tem que estar confortavelmente… Descansando os olhos em algum lugar. Embora… Eu não tenha certeza se ainda está viva. — Mer admitiu relutantemente.
— Acredito que ela esteja viva. — Declarou Eugene de repente.
Os ombros caídos de Mer o incomodavam. Embora ele quisesse dar um tapinha nas costas dela, lembrando-se do aviso severo de Mer mais cedo, Eugene se impediu de estender a mão indesejada.
Sem saber como continuar, Eugene hesitou:
— Isso é… O Corajoso Sir Moron também ainda vivia vigorosamente há apenas cem anos. Então a Senhorita Sienna ainda deve estar viva. Ela provavelmente parou seu envelhecimento com magia ou algo assim.
— Parece que o Sir Eugene realmente gosta muito de Senhorita Sienna? — Acusou Mer.
— Você não pode chamar isso de gostar dela.
— Mentiroso. Você não sabe que tipo de expressão estava fazendo, não é, Sir Eugene?
Mer ergueu os ombros caídos e olhou para Eugene.
— Toda vez que conto uma história sobre a Senhorita Sienna, seus olhos brilham, e sempre que você vê algo que pertenceu à Senhorita Sienna, fica extremamente imerso em sua história — Mer listou as evidências.
— Sempre gostei de histórias antigas. — Protestou Eugene.
— É mesmo? Então você deve gostar desse livro também.
Com um sorriso, Mer dirigiu-se a um canto de uma estante. Ela pegou um livro, cuja capa estava desbotada pelos traços do tempo.
Ela leu o título.
— As Grandes Aventuras do Herói Vermouth.
As bochechas de Eugene começaram a se contorcer no momento em que viu.
— É um famoso conto de fadas, não é? — Mer orgulhosamente ergueu-o: — Como a Senhorita Sienna e seus outros companheiros sempre relutaram em falar sobre o que aconteceu em Helmuth, este conto de fadas é na verdade o primeiro livro a contar ao mundo sobre as lendas do Grande Vermouth.
— É um livro maldito, é o que é. — Resmungou Eugene.
— Hã? Por que você o chamaria de um livro maldito? — Mer perguntou, parecendo intrigada.
— Quer dizer, a verdade é que eu gosto mais de Sir Hamel, e o respeito e admiro. — Eugene lutou para esconder seu constrangimento: — Mas naquele conto de fadas, Sir Hamel é muito, muito feito para parecer um idiota.
— Mas a própria Senhorita Sienna chamou Hamel de idiota, filho da puta, imbecil e arrombado, não foi?
— Não, ele não era assim. Sir Hamel não era idiota, filho da puta, imbecil ou arrombado. Em vez disso, ele era muito legal e corajoso, e uh… Hum…. De qualquer forma, ele era uma ótima pessoa.
Por que ele tinha que ser o único a dizer essas coisas? Como Eugene sentiu uma profunda sensação de vergonha, suspirou pesadamente.
— Receio que Sir Eugene deve ter uma personalidade bastante estranha. Normalmente, não haveria ninguém que gostasse de Hamel depois de ler esse conto de fadas, certo? — Mer expressou suas preocupações.
— Desculpe, mas além de mim, nosso Patriarca também disse que gosta mais de Hamel. — Eugene se defendeu.
Mer argumentou:
— Isso significa apenas que seu Patriarca também é uma pessoa meio estranha.
— Você está mesmo xingando meu pai adotivo agora? — Eugene tornou-se agressivo diante de seu argumento perdedor.
— Só estou dizendo que ele é um pouco estranho, como isso é considerado xingar? Enfim, Sir Eugene, se realmente gosta de histórias antigas, deveria ter lido este livro também.
— Não seria mentira dizer que li esse livro mais de cem vezes quando ainda era jovem.
— Pode ser, mas este livro é a primeira edição. É diferente da versão revisada que está espalhada por todo o mundo agora. Você pode não estar ciente disso, Sir Eugene, mas esse conto de fadas foi publicado pela primeira vez em Aroth trezentos anos atrás.
— Então quem é o maldito responsável por publicá-lo?
— Como eu iria saber? Afinal, o autor deste livro é anônimo… Provavelmente foi um bardo de muito tempo atrás, não?
Como poderia o autor ter sido um bardo? Eugene bufou e balançou a cabeça. Enquanto estava vagando pelo continente em sua vida anterior, conheceu alguns bardos, mas nunca encontrou um bardo em Helmuth.
— Ou então, bem, ele pode ser apenas um romancista que reuniu e conectou todos os rumores em torno de Helmuth. Embora eu não saiba porque ele não deixou seu nome no livro. — Enquanto Mer balançava o livro de contos de fadas, continuou falando: — A Senhorita Sienna também gostou desse conto de fadas. Mesmo que não fosse alguém que sorria com frequência, às vezes à noite, quando não conseguia dormir… Ela costumava sorrir brevemente enquanto lia este livro sozinha em seu quarto. Sei, porque ela leu para mim também.
— Você disse que o conteúdo da primeira edição é um pouco diferente das versões modernas? — Eugene perguntou.
— Humm… Também já faz um tempo desde a última vez que li a última versão revisada, então não posso ter certeza de que é exatamente a mesma que você leu… Mas como a primeira a sair, a primeira edição é… Um pouco mais… Como devo dizer…É um pouco grosseira.
— Grosseira?
— Há muitos xingamentos. As anedotas sobre Vermouth e seus companheiros também são um pouco diferentes… Devo dizer que eles são um pouco mais pessimistas?
— Me deixa dar uma olhada.
Eugene rapidamente se aproximou e pegou o livro de contos de fadas. Pode ser porque o livro era de trezentos anos atrás, mas as páginas pareciam realmente desgastadas. Isso era provavelmente um sinal de quantas vezes foi lido.
[Hamel era um cuzão. Embora aquele cuzão tenha lutado tão animadamente contra Vermouth em seu primeiro encontro, ele não conseguiu nem tocar o colarinho de Vermouth, e seu rosto foi jogado no chão com tanta força que ele chorou.]
— Esse filho da puta. — O rosto de Eugene se contorceu enquanto xingava.
Mer havia dito que era grosseiro e cheio de xingamentos, e realmente era. A versão do conto de fadas que Eugene leu dizia que Hamel era um idiota, mas pelo menos não o chamava de cuzão assim.
“Poderia a maldita que escreveu isso ter sido Anise?”, ele se perguntou.
Lembrando-se de Anise, cujos olhos estavam sempre presos em um sorriso alegre, Eugene cerrou os dentes com raiva. Embora ele considerasse comparar a caligrafia com a de Anise, o livro de conto de fadas parecia ter sido feito por magia ou usando uma prensa, então a escrita era limpa e mecânica.
“É verdade que fui jogado de cara no chão primeiro, mas pelo menos consegui pegar no colarinho dele. Vermouth chegou a dizer que derramou uma gota de sangue por minha causa. E chorando porque meu rosto foi esmagado? De onde essa pessoa sai falando tanta besteira?”
Enquanto tentava esfriar a raiva fervente, Eugene colocou o conto de fadas de volta na estante.
Depois de se controlar, Eugene perguntou:
— O que há no décimo quarto andar?
— O décimo terceiro andar é para revistas de pesquisa, então o décimo quarto andar tem os livros mágicos que organizam e conectam toda essa pesquisa. Embora ainda sejam difíceis de ler para Sir Eugene, ainda serão mais fáceis de manusear do que esses diários de pesquisa. Porque as explicações são muito mais claras. — Mer os recomendou avidamente.
— Mas eles ainda não são muito piores do que a Bruxaria? — Eugene questionou por que deveria se preocupar com eles.
— Hehehe… — Mer riu, suas bochechas se contorcendo enquanto ela tentava evitar a zombaria: — Claro, eles são muito piores. Mas isso… Em vez de tentar explicar com palavras, será melhor se você tentar ler a Bruxaria. Bem, para simplificar, deixe-me explicar a diferença entre os dois. Bruxaria é mais difícil de entender do que de ler, mas quanto aos livros de magia no décimo quarto andar… Se puder lê-los, pode pelo menos entendê-los um pouco. Embora não seja razoável esperar tanto de você, Sir Eugene.
Virando-se, Mer dirigiu-se ao elevador.
— Por enquanto, por que não subimos até o décimo quarto andar? — Sugeriu Mer: — Você provavelmente preferiria aquele andar a este.
— Por quê? — Eugene perguntou cautelosamente.
— Porque você disse que gosta de histórias antigas, certo? E que você também gosta do Hamel, o Tolo.
Embora Eugene não pudesse compreender essas palavras, quando chegaram ao décimo quarto andar, ele imediatamente entendeu o que Mer quis dizer com isso.
— Dê uma olhada. — Mer riu enquanto acenava com a mão: — Essas são as memórias pessoais que a Senhorita Sienna extraiu para suas próprias lembranças. Esses não são apenas retratos, mas são as versões reais dos camaradas da Senhorita Sienna como ela se lembrava deles.
Dentro das paredes do décimo quarto andar, as figuras de quatro pessoas estavam claramente refletidas.
— Ali, o homem bonito de pé no centro é o Grande Vermouth — Mer apontou para ele ansiosamente.
Vermouth parecia exatamente como nas memórias de Eugene.
— Ao lado dele, a loira cujos olhos estão sorrindo tanto que é impossível ver suas pupilas — essa é a Santa Anise.
A santa, que carregava garrafas de vinho enquanto as chamava de água benta.
— O grandão que te confunde sobre se ele é um troll ou um humano é o Corajoso Moron.
Mesmo que seu corpo já fosse tão grande, ele sempre carregava um machado que era ainda maior que seu próprio corpo, e ele era um idiota que continuava causando problemas em todas as lutas.
— E ali, o homem que parece ter uma personalidade ruim, com uma carranca no rosto, é Hamel, o tolo. Este é o único registro da aparição de Hamel. Você só pode encontrar o rosto dele aqui, no Salão de Senhorita Sienna.
Naquele momento, Eugene não conseguiu encontrar nenhuma palavra.
Hamel, que morreu em Helmuth, não deixou um único retrato para o mundo ver.
— Puhahaha. — Enquanto continuava a olhar para esta aparência de sua vida anterior, Eugene finalmente caiu na gargalhada: — Se fosse deixar algo assim para trás, não teria sido melhor com um sorriso no rosto?
Enquanto Eugene ria, ele balançou a cabeça.