Damn Reincarnation – Capítulo 56 - Anime Center BR

Damn Reincarnation – Capítulo 56

Capítulo 56: Dezenove anos (3)

 

“O que está acontecendo hoje?” Eugene pensou exasperado.

Não havia como isso ser uma coincidência. Tinha que ser um movimento daquele Comandante dos Magos da Corte que o estava seguindo como um rastro de cocô de peixe dourado. Mas, por enquanto, Eugene largou a garra de lagosta que estava segurando e se levantou.

— E pensar que eu encontraria um personagem tão honrado em um lugar tão pobre… — Eugene parou.

— Este lugar dificilmente pode ser chamado de pobre. — Contestou a pessoa a quem Eugene se dirigia: — Mesmo em todo o Pentágono, esse restaurante é bem famoso, afinal.

— Mas você não vai negar que é um personagem honrado?

— Se dependesse de mim, eu negaria, mas não seria ridículo da minha parte cometer um crime contra sua majestade fazendo isso?

A pessoa que Eugene estava falando era Honein Abram. O príncipe herdeiro de Aroth que acaba de entrar no salão privativo que haviam reservado neste restaurante sem um único atendente o acompanhando. Com um sorriso brilhante, ele apontou para um lugar vazio na mesa de Eugene.

— Posso sentar aí? — Perguntou educadamente.

Eugene respondeu:

— Não importa para mim, mas…

Pode não haver muito significado para esta escolha, mas Eugene ainda olhou para Lovellian pedindo permissão. Assim como Eugene, Lovellian também se levantou da cadeira.

— Também estou bem com isso. No entanto, príncipe herdeiro, seria melhor para você se eu saísse do meu lugar? — Perguntou Lovellian.

Honein assegurou-lhe:

— Não há necessidade disso. Se o Mestre da Torre Vermelha fosse forçado a deixar seu assento, tenho certeza de que Sir Eugene também se sentiria desconfortável, e também não quero atrapalhar essa refeição entre um mestre e seu discípulo.

— Receio que já tenha sido interrompido. — Resmungou Eugene enquanto enxugava as mãos com uma toalha molhada: — Se você estava realmente levando isso em consideração, deveria ter nos abordado depois do jantar.

Essa maneira de falar era grosseira demais para ser usada ao falar com o príncipe herdeiro, que era o primeiro na linha de sucessão. No entanto, nenhum dos presentes apontou a grosseria de Eugene. Fazia dois anos desde que Eugene chegou a Aroth e, embora não fosse muito frequente, ele se encontrava com Honein algumas vezes durante esse período.

— Essa também era minha intenção. — Revelou Honein: — Mas me parece, Sir Eugene, que sua refeição acabou demorando mais do que eu pretendia. Você estava realmente planejando comer todas as lagostas que este restaurante tem disponível?

— Ei, isso é um exagero. Você não sabe, príncipe herdeiro? Essas lagostas, na verdade, têm muito pouca carne depois de serem descascadas. — Eugene se defendeu.

Honein mudou de assunto: — Não sabia que Sir Eugene gostava tanto de frutos do mar.

— Eu gosto de qualquer coisa desde que tenha um gosto bom. Mas por que ainda não se sentou? — Eugene perguntou enquanto puxava a cadeira vazia.

A este convite, Honein riu e sentou-se.

— Vendo você mostrar uma cortesia tão incomum, parece que caminhar até aqui foi em vão. — Observou Honein.

— Você deveria ter suspeitado em seu coração antes mesmo de vir para cá. — Disse Eugene.

— Bem, pode ser esse o caso.

— Agora, vamos ver, parece que vai demorar um pouco para eles nos servirem novos pratos, então…

Honein disse:

— Se está me convidando para jantar, temo que terei que recusar.

— Se for esse o caso, então vamos direto ao assunto. — Disse Eugene com um sorriso ao largar a toalha molhada: — Embora não importa o que o príncipe herdeiro ofereça, temo que minha decisão não mude.

— Mesmo que eu esteja prometendo a você o cargo de Comandante dos Magos da Corte? — Honein respondeu calmamente como se estivesse esperando a recusa de Eugene: — Posso garantir esta oferta com meu bom nome.

Eugene ergueu uma sobrancelha: — Acredito que isso deve estar fora de suas capacidades por enquanto.

— Em dez anos. — Declarou Honein com firmeza.

Embora Honein tivesse prometido que o cargo seria dele em dez anos, Eugene ainda tinha apenas dezenove anos. Nem um único mago na história de Aroth conseguiu se tornar o Comandante dos Magos da Corte na tenra idade de vinte e nove anos.

— Não é um pouco otimista demais? — Eugene perguntou duvidosamente.

Honein explicou calmamente:

— Em dez anos, serei o rei de Aroth.

Até ouvir essas palavras era o suficiente para ser perigoso para o ouvinte. No entanto, este salão privativo foi projetado para que qualquer conversa que ocorresse dentro dele não pudesse vazar. Além disso, no momento em que Honein entrou, Lovellian lançou pessoalmente um feitiço para aumentar a proteção da sala contra a vigilância.

Dito isso, não era como se as palavras de Honein fossem menos perigosas para todas essas precauções.

— Acredito que o monarca reinante ainda deve ter a palavra final sobre esse assunto?

Quando Lovellian fez essa pergunta com os olhos semicerrados, Honein sorriu brilhantemente e levantou as duas mãos em rendição.

— Por favor, não entendam errado. — Disse ele: — Já recebi uma promessa de meu pai sobre a sucessão do trono. Não apenas meu direito de sucessão é incomparável, mas o povo de Aroth também confia em mim e não tem dúvidas de que serei seu próximo rei.

— Mesmo que seja esse o caso, suas palavras ainda são inadequadas. — Lovellian o advertiu.

Apesar de ter dito isso, Lovellian também não tinha dúvidas de que Honein seria capaz de se tornar o próximo rei. Claro, havia outros sucessores em potencial, mas Honein era incomparável entre todos os seus irmãos.

O povo de Aroth tinha tanto respeito e admiração pela magia que foi chamado de Reino Mágico. Embora este país tenha produzido muitos grandes magos geração após geração, mesmo entre todos esses magos, a família real de Aroth podia orgulhosamente se gabar de possuir uma excelente ‘linhagem’ para magia.

E mesmo entre a família real, Honein era absolutamente excepcional. Todos na família real de Aroth podem ter começado a aprender magia desde tenra idade, mas Honein foi o primeiro na história da família real a chegar ao Quinto Círculo antes mesmo de se tornar adulto.

“E não é apenas comparado ao resto da família real”, Lovellian pensou.

Entre todos os magos que estudaram em Aroth, nenhum conseguiu chegar ao Quinto Círculo antes de entrar na idade adulta. Mesmo Lovellian, que sempre foi chamado de gênio desde muito jovem, subiu para o Quinto Círculo somente depois de se tornar adulto.

Se Lovellian não tivesse conhecido Eugene, ele teria acreditado que este príncipe herdeiro era o que tinha mais talento para esta geração em termos de ‘magia’.

— Os Magos da Corte estão sob o comando direto do rei. É claro que será necessária alguma mediação em relação ao parlamento, mas se for você, Sir Eugene, tenho certeza de que em dez anos terá obtido qualificações suficientes para o papel. — Declarou Honein.

Eugene expressou suas dúvidas.

— Embora eu seja grato por sua autoestima, príncipe herdeiro, você não pode ter certeza de que nível minha magia atingiu, correto?

— Não foi porque Sir Eugene e o Mestre da Torre Vermelha foram bastante meticulosos em escondê-lo? Agora, por que vocês esconderiam isso? — Honein perguntou com um sorriso: — Suspeito que esteja escondendo, porque há uma boa razão para fazê-lo. Já que não revelou diretamente, só posso fazer suposições, mas… Os outros magos também devem suspeitar de algo nesse sentido.

— Hm. — Eugene grunhiu para que ele continuasse.

— Bruxaria. — Disse Honein enquanto olhava para Eugene com os olhos semicerrados.

Honein estava usando o feitiço do Sexto Círculo, Olho Investigativo. Este feitiço era capaz de detectar a mana contida no corpo de Eugene. Só de olhar para a quantidade de mana que ele possuía, poderia dizer que a mana de Eugene estava muito além do que um mago comum do Quinto Círculo poderia possuir.

Honein foi direto ao ponto:

— Você compreendeu o Eternal Hole?

— Realmente precisa que eu responda a isso? — Eugene perguntou em troca.

— Se diz algo assim, então está praticamente admitindo. — Observou Honein.

— Isso é porque eu não posso fazer algo como mentir para o príncipe herdeiro, certo? — Eugene sorriu: — Embora isso não signifique que eu tenha qualquer intenção de lhe dizer toda a verdade.

— O Comandante dos Magos da Corte de Aroth… Essa posição realmente não lhe interessa? — Tentou Honein.

Eugene descartou sua oferta.

— É certamente um papel de prestígio, mas posso conseguir algo assim onde quer que eu vá.

Eugene realmente não estava interessado em tal posição. Especialmente porque vinha com deveres militares. Além disso, como acaba de dizer, Eugene estava confiante de que, com suas habilidades, seria bem-vindo em qualquer lugar que fosse.

Apenas em termos de poder nacional, o Império Kiehl era superior a Aroth. Afinal, apenas três países neste vasto continente eram poderosos o suficiente para serem chamados de impérios: O Sacro Império de Yuras, o Império Kiehl e o Domínio Demoníaco de Helmuth.

No momento, Eugene era apenas um membro do clã Lionheart. Embora o Patriarca da família principal não tivesse um título nobre desde a passagem do Grande Vermouth, na verdade havia muitos membros entre as linhagens colaterais dos Lionheart que detinham títulos nobres de alto escalão. Se Eugene tomasse um título jurando fidelidade à coroa, ele seria capaz de obter o posto mais baixo de barão com facilidade.

— Se for com a habilidade de Sir Eugene, é claro que é o caso. — Concordou Honein. — Mas é realmente impossível tentarmos você a ficar em Aroth com essa posição?

— Não é que eu não goste de Aroth ou odeie a ideia de me tornar um mago da corte. É só que não estou muito interessado nisso. — Confessou Eugene.

Honein de repente mudou de tom.

— Se é esse o caso, então e quanto ao conhecimento?

Incapaz de entender o que Honein quis dizer com isso, Eugene inclinou a cabeça em confusão, mas ao seu lado, a expressão de Lovellian endureceu.

Hesitante, Lovellian perguntou:

— Príncipe herdeiro, você poderia estar falando sobre…?

— Apenas o primeiro volume da Bruxaria foi armazenado em Acryon. — Disse Honein com uma voz calma enquanto olhava diretamente para Eugene: — Como você já sabe, a Sábia Sienna escreveu a Bruxaria como um conjunto completo de três volumes. O primeiro deles está guardado em Acryon… E os outros dois volumes estão guardados no tesouro real.

Essas palavras surpreenderam tanto Lovellian quanto Eugene. De acordo com Mer, os dois últimos volumes da Bruxaria ainda deviam estar na posse de Sienna.

— Desde quando a Família Real colocou as mãos neles? — Lovellian exigiu com uma expressão firme.

Sentindo esse olhar penetrante direcionado a ele, Honein rapidamente deu uma explicação:

— Por favor, não tenha a ideia errada. Os volumes guardados no tesouro real são apenas cópias que a Senhorita Sienna deixou como presente para a família real. Mesmo a família real ainda desconhece o paradeiro atual da Senhorita Sienna e dos dois volumes originais.

— Isso é mesmo verdade? — Lovellian perguntou desconfiado.

Honein deu de ombros.

— Não tenho motivos para mentir para vocês.

Lovellian olhou para Honein por alguns momentos antes de soltar um suspiro pesado. Já que a questão da Bruxaria ser escondida pela família real havia ocorrido centenas de anos antes, seria ridículo discutir sobre isso com o príncipe herdeiro, que ainda estava na casa dos vinte. Mas embora conseguisse conter sua raiva, Lovellian ainda achava surpreendente que o príncipe herdeiro revelasse uma carta tão oculta para atrair Eugene.

— Você está dizendo que vai me deixar ver seu exemplar da Bruxaria? — Eugene esclareceu.

— Bem, é impossível fazê-lo imediatamente. — Admitiu Honein com um sorriso irônico enquanto olhava para Lovellian: — A Bruxaria é o maior grimório da história da magia. Embora seja verdade que sou favorecido por sua majestade, quando se trata da Bruxaria, mesmo que seja eu, ainda não posso usá-la como desejo. No entanto… Uma vez que eu ascender ao trono, estarei um pouco mais livre para agir de acordo com meus desejos.

— …

Eugene ficou em silêncio.

— Parece que finalmente fiz uma oferta tentadora. Sir Eugene, se eu ascender ao trono, juro usar todo o meu poder para permitir que você leia a Bruxaria. — Honein prometeu a Eugene: — Embora eu tenha medo de que seja difícil estender a mesma oferta a você, Mestre da Torre Vermelha…

— Se irá me permitir ler, não posso ler junto com meu mestre? — Eugene perguntou esperançoso.

— Se o Mestre da Torre Vermelha estiver disposto a se transferir para os Magos da Corte, então talvez eu possa reconsiderar. — Honein contra ofereceu.

Eugene especulou:

— Mas se for esse o caso, então parece que seria impossível eu assumir o cargo de Comandante dos Magos da Corte.

— Se conheço o Mestre da Torre Vermelha tão bem quanto acredito que conheço, suspeito que ele não esteja interessado no cargo, não? — Honein fez essa pergunta para Lovellian.

— Parece que realmente me conhece bem. — Respondeu Lovellian com um sorriso: — Se for por esse grimório, sua oferta seria suficiente para tentar qualquer um, mas não tenho intenção de deixar a Torre Mágica Vermelha. E também não tenho nenhum desejo de me tornar um membro dos Magos da Corte.

Honein continuou a convencê-lo:

— Se realmente deseja, posso conseguir uma posição adequada para você. Será apenas uma questão de mudar sua afiliação; não será exigido nada de você que possa perturbar ou incomodar o Mestre da Torre Vermelha.

Lovellian o rejeitou.

— Não, estou bem onde estou. Quanto à Bruxaria… Embora esteja muito tentado, não quero seguir cegamente os passos do meu Mestre. Porque eu também tenho minha própria forma ideal de magia para perseguir.

— Respeito sua decisão, e você, Sir Eugene? — Honein virou-se para Eugene.

Mas havia realmente alguma necessidade de Eugene considerar?

Nos últimos dois anos, Eugene certamente sentiu o que era um grimório verdadeiramente incrível, a Bruxaria. Mesmo depois de vê-lo centenas de milhares de vezes, ainda era difícil compreender. Já era tão difícil de entender quando você podia vê-lo bem na sua frente, mas Sienna conseguiu criar a Bruxaria em primeiro lugar sozinha.

Já que o único volume armazenado em Acryon já era tão incrível, quão extraordinários seriam os dois volumes restantes?

E não era só isso. Pode haver outras pistas que levem à localização atual de Sienna nos dois volumes restantes da Bruxaria. Embora se tais pistas permanecessem, então aqueles que estavam armazenando o grimório, a família real de Aroth, já deveriam ter rastreado Sienna de alguma forma….

“Ainda é possível que eles simplesmente não conseguissem entender, mesmo que o vissem”, Eugene persuadiu a si mesmo.

Ele conhecia Sienna muito bem. Mesmo que a família real de Aroth não tivesse visto as pistas que ela deixou para trás, se fosse Eugene, ele ainda poderia encontrá-las.

Eventualmente, Eugene perguntou:

— Mas você estava dizendo que é impossível por enquanto, correto?

Como a situação era essa, ele não podia simplesmente aceitar a oferta imediatamente. Se só se tornasse possível ler a Bruxaria depois que Honein ascendesse ao trono, então isso poderia ser adiado por dez anos a partir de agora.

Eugene continuou.

— Já que é assim, eu certamente passarei por Aroth depois que o príncipe herdeiro ascender ao trono. Vamos falar sobre esse assunto novamente naquele momento.

— Então está dizendo que vai pensar nisso? — Honein perguntou.

— É realmente uma proposta de dar água na boca, mas falando honestamente, não há necessidade de eu me juntar aos Magos da Corte imediatamente, não é? — Eugene apontou.

Honein ficou perdido em pensamentos por alguns momentos. Para ser honesto, ele esperava ouvir a aceitação imediata de Eugene para que pudesse rapidamente recrutá-lo para os Magos da Corte.

Tudo isso para garantir a estabilidade de seus planos. Embora seu direito de sucessão não pudesse ser abalado, para lidar com aquelas velhas raposas espertas no parlamento, ele precisava de um poder diferente daquele que lhe era concedido por seu direito de sucessão.

Honein tinha o apoio dos Magos da Corte de Aroth. Mesmo neste Reino Mágico, os Magos da Corte eram um corpo mágico que era conhecido por sua habilidade em magia de combate. No entanto, apenas com isso, Honein sentiu que não seria capaz de manter sob controle o poder das Cinco Torres Mágicas ou da Guilda dos Magos, cuja última estava intimamente ligada ao Parlamento.

A sorte era que, por enquanto, as Torres Mágicas permaneciam neutras. Dito isto, a Guilda dos Magos ainda era uma preocupação. Mesmo que fossem compostos de magos que não conseguiram entrar nas Torres Mágicas, a guilda superava esmagadoramente as Torres em termos de números puros. Além disso, a guilda tinha um relacionamento próximo com o parlamento que realmente governava os assuntos de Aroth.

Honein considerou a situação: “As Torres Mágicas estão apenas neutras por enquanto. Eles podem respeitar a família real, mas têm laços mais estreitos com o Parlamento.”

O rei reinava, mas não governava. Aroth seguiu o sistema de monarquia constitucional por centenas de anos. Os reis de Aroth só conseguiram manter o poder de governar o povo por algumas gerações após a morte do Fundador de Aroth, o Rei Mágico.

Honein desejava mudar isso. Ele queria abandonar o papel simbólico que a família real havia assumido e reformar Aroth. O parlamento, que deveria governar o povo com justiça, já mostrava sinais de corrupção desde o início de sua existência. Os magos negros que vieram se esgueirando de sei lá onde estavam minando a guilda e até estendiam seu alcance ao parlamento. Não só isso, o povo demônio de Helmuth e indivíduos ricos de outros países eram suspeitos de comprar membros do parlamento.

Nessas circunstâncias, o mestre da Torre Mágica Negra, Balzac Ludbeth, felizmente estava mantendo distância tanto do parlamento, quanto da guilda, preservando sua neutralidade. Dito isso, Honein não pôde deixar de desconfiar de Balzac. Se fosse por causa de Aroth, todas as raízes perturbadoras teriam que ser arrancadas.

Esse era o objetivo final de Honein, mas a atual família real não tinha esse tipo de poder. Seu pai real era um homem de vontade fraca que relutava em brigar com o parlamento ou com a guilda. Como tal, Honein sentiu que não tinha escolha a não ser dar um passo à frente e fazer isso sozinho.

“Se eu conseguir atrair Sir Eugene para se tornar o Comandante dos Magos da Corte… Poderei pegar emprestada a força do clã Lionheart”, pensou Honein.

Na verdade, ele não gostava de ter que fazer isso. Já que era problema de Aroth, não deveria Aroth ser o único a consertá-lo?

Honein continuou tramando: “Se eu conseguir recrutar Sir Eugene, tenho certeza de que o Mestre da Torre Vermelha também dará sua força. É um fato bem conhecido que o Mestre da Torre Vermelha odeia o Mestre da Torre Negra…”

No entanto, Honein não podia se dar ao luxo de falar abertamente e pedir ajuda a Eugene. Como príncipe herdeiro, Honein não estava em uma posição em que pudesse contar livremente à um estranho alguns dos segredos vergonhosos de Aroth. Afinal, ele ainda tinha apenas suas suspeitas de que havia corrupção no parlamento. De fato, a própria Rua Bolero poderia ser considerada um foco de corrupção, mas a existência dessa rua também recebeu a aquiescência tácita da família real.

Eventualmente, Honein respondeu:

— Compreendo, então se é assim, enviarei uma carta a você quando minha coroação for confirmada.

— Obrigado por pensar tão bem de mim. — Disse Eugene.

— A propósito, Sir Eugene, você poderia me dizer o que exatamente conseguiu de Acryon? — Honein perguntou com curiosidade.

Eugene minimizou suas conquistas.

— Nada muito impressionante. Apenas… Passei a sentir que a magia realmente tem possibilidades extraordinárias, e consegui aprender apenas uma pequena quantidade de conhecimento.

— É mesmo?

A resposta de Eugene pode ter sido ambígua, mas Honein ficou satisfeito. Uma pequena quantidade de conhecimento, disse Eugene. Se outra pessoa tivesse falado essas palavras, então Honein poderia não ter pensado muito nelas, mas quem disse isso foi o jovem leão que teria nascido com a maior quantidade de talento visto desde o Grande Vermouth.

Honein mudou de assunto.

— Ouvi dizer que deixará Aroth assim que a tese em que está trabalhando estiver concluída. Onde planeja ir a seguir?

Eugene revelou:

— Vou sair para comer os caranguejos de gelo do Reino Ruhr do Norte e, em seguida, estou planejando provar os escorpiões de cactos de Nahama.

— Você é um fã de gastronomia?

— Sim.

— Está falando sério?

— Sim.

Honein ficou atordoado.

— …

A reação mostrada por Honein não foi tão diferente da de Lovellian quando ouviu pela primeira vez os planos de Eugene. Honein olhou para Lovellian com um olhar confuso, apenas para receber um breve aceno de cabeça dele.

— A gastronomia é um hobby bastante impressionante. — Honein finalmente comentou assim que voltou a si.

— Obrigado pela compreensão. — Respondeu Eugene com um sorriso.

 

***

 

O verão praticamente passou voando.

Eugene não gastou nem um momento de tempo desfrutando de nenhuma das atividades que caracterizavam a temporada. Este não era apenas um comportamento que havia adquirido desde que chegou a Aroth; depois de ter reencarnado, ele nunca voltou os olhos para se divertir.

Enquanto estava hospedado na propriedade principal, Cyan e Ciel tentaram repetidamente convencê-lo a sair de férias com eles no verão e, no inverno, eles conspiravam para levá-lo a esquiar com eles, mas Eugene nunca ia junto com seus planos. Eugene também não tinha nenhuma intenção de fazê-lo no futuro.

O mar com o qual Eugene estava familiarizado era um lugar assombroso onde naufrágios e cadáveres flutuantes podiam ser vistos aonde quer que olhasse. A área do mar que ligava Helmuth aos países vizinhos estava cheia de ninhos de monstros marinhos terríveis e poderosos.

A neve com a qual Eugene estava familiarizado era tingida de vermelho com sangue, formando um cemitério de cadáveres congelados cujos membros podiam ser vistos saindo de todo o lugar. O clima na parte mais ao norte de Helmuth era aterrorizante, independentemente da estação. Ainda assim, mesmo em tal região, o reino governado pelo Rei Demônio da Fúria era especialmente terrível, um inferno de inverno onde as nevascas nunca paravam de soprar.

“Poderia algo assim ser chamado de trauma?” Eugene ponderou profundamente sobre esse pensamento.

Uma vez que realmente pensou sobre isso, Eugene percebeu que toda a sua vida após sua reencarnação havia sido ofuscada pelas memórias de sua vida anterior.

Esta não era a primeira vez que considerava algo nesse sentido. Sempre que ficava muito preso nas memórias de sua antiga vida, tinha que se sacudir várias vezes apenas para se libertar de seu domínio. Mas como já havia reencarnado, não seria lamentável e risível se continuasse revivendo as memórias de sua vida anterior para sempre?

No entanto, não era tão fácil para ele resistir a isso. O colar que insistiu em tirar do tesouro do clã Lionheart, a ida para Aroth para seguir as pistas deixadas por Sienna, e suas razões para ir ao norte em Ruhr e Nahama; tudo isso era por causa das memórias de sua vida anterior.

Ele não podia simplesmente evitar essas várias memórias e complicações. Embora já tivesse vivido dezenove anos inteiros desde que reencarnou, o tempo que passou como Hamel ainda era muito maior. A duração da existência de Eugene ficou muito aquém das experiências de Hamel.

“Bem, no final, ambos são eu”, Eugene estalou a língua enquanto inclinava a cadeira para trás.

Ele não queria passar muito tempo se preocupando com um problema sem resposta fácil. O que iria conseguir ficando frustrado, preocupado e contemplativo? Ele pode ter reencarnado, trezentos anos também podem ter se passado, e até mesmo seu nome pode ter mudado, mas ele poderia simplesmente ignorar todas as memórias de sua vida passada?

Como alguém poderia fazer algo assim?

— Haaaah… — Eugene suspirou ao chegar a essa conclusão.

Enquanto isso, na frente dele, Mer estava lendo a tese de Eugene com os olhos bem abertos. A tese era apenas para autossatisfação, uma tese que nunca teve a intenção de ser publicada, mas que não diminuiu seu valor. Em primeiro lugar, uma tese não era apenas para mostrar o que alguém conseguiu aprender?

Nesse sentido, a tese de Eugene foi impressionante. Embora outros magos possam não ser capazes de entendê-la à primeira vista, Mer, como a inteligência artificial da Bruxaria, foi capaz de compreender completamente a tese.

“Os Núcleos e o Eternal Hole alcançaram uma combinação perfeita através disso. Pode haver algumas imperfeições inatas, mas… Estruturalmente, atingiu um nível em que não consigo ver nenhuma maneira de melhorá-lo”, observou Mer.

Mesmo com essas imperfeições, já se poderia dizer que chegou à conclusão assim. Era impossível acreditar que esta tese foi escrita por um jovem calouro que começou a praticar magia há menos de três anos. Esta Fórmula do Anel de Chamas estava mais perto de reproduzir todas as possibilidades do Eternal Hole do que qualquer Arquimago havia conseguido.

“Quanto às imperfeições inatas, elas são devido um Núcleo ser diferente de um Círculo. As variáveis ​​resultantes… Ele é capaz de ajustá-las usando apenas seus sentidos,” Mer percebeu em choque.

Isso mostrou que Eugene deve ter um controle aterrorizante sobre a mana.

“Mesmo que continue se ajustando a essas variáveis ​​usando seus sentidos, ele ainda consegue lançar seus feitiços perfeitamente. Pode ficar aquém do Eternal Hole, mas a Fórmula do Anel de Chamas de Eugene supera em muito a fórmula mágica comum de Círculos.”

Os magos eram pessoas obcecadas por magia. Eles não paravam até que tivessem descartado todas as imperfeições. Qualquer coisa que pudesse dar errado com um feitiço precisava ser corrigida para que não pudesse dar errado. Isso porque, se houvesse um único erro, poderia causar um problema irreversível.

No entanto, Eugene simplesmente aceitou essas imperfeições. Com a experiência de sua vida anterior e o talento de sua vida atual, Eugene foi capaz de trazer um desafio que deveria ser tão difícil que era impossível para o reino das possibilidades. Mesmo a fórmula mágica, que outros magos não conseguiam entender e podiam até considerar um fracasso, não era um fracasso aos olhos de Eugene.

O sucesso desta Fórmula do Anel de Chamas foi baseado em uma proposta muito absurda.

— I-Incrível. — Mer não pôde deixar de dizer isso eventualmente: — Quanto ao seu nível de acabamento… Está bom. Mas já que o único que pode usá-lo é você… Parece… Hum… Um pouco egoísta? Pelo menos foi o que senti ao ler. De um ponto de vista geral, suas imperfeições o tornam inutilizável, mas esse não é o seu caso, Sir Eugene, e… Julgando pelos seus padrões… Seu nível de acabamento é excelente.

A expressão de Mer se contorceu quando relutantemente admitiu isso.

Assim como Eugene havia dito, ele conseguiu concluir sua tese antes do final do verão.

— Quando vai partir? — Mer finalmente perguntou.

— Depois de amanhã. — Respondeu Eugene.

— Com sua personalidade, eu tinha certeza de que partiria amanhã, Sir Eugene.

— Já que sou apenas humano, preciso pelo menos descansar um dia inteiro. Além disso, eles disseram que fariam uma festa de despedida para mim na Torre Mágica Vermelha.

— Isso deve ser tão bom para você. Não vai poder ir lá e comer muita comida deliciosa? Também receberá parabéns de todos os lados. — Mer disse sarcasticamente enquanto fazia beicinho.

Enquanto amassava o grande chapéu que havia colocado ao lado dela, Mer olhou para Eugene.

Ela o lembrou:

— Sir Eugene, certamente não esqueceu o que me disse há alguns meses, certo? Você não disse que teria algo para me dizer?

— Primeiro, deixe-me perguntar uma coisa. — Disse Eugene ao parar de se reclinar na cadeira: — As coisas de que falamos… Você consegue passar para outra pessoa?

— Nossa, você está mesmo suspeitando de mim agora? — Mer exigiu enquanto chamas de raiva queimavam em seus olhos: — Você está me perguntando isso, porque tem medo de que eu tenha contado para outro mago sobre o que conversamos ao discutir sua tese?

— Bem, você já disse alguma coisa?

— Não! Sir Eugene, você sabe o quanto aqueles filhos da puta, o Mestre da Torre Verde e alguns outros ficam me irritando quando você não está por perto?

— Mesmo que não tenha dito nada, eles não podem simplesmente forçá-la a dizer algo?

— Ha! Nunca percebi que você era esse tipo de pessoa, Sir Eugene. Você realmente não consegue confiar em alguém—não—algo como eu? Mesmo que aqueles malditos tentassem dissecar tanto a Bruxaria quanto a mim, eu absolutamente nunca diria nada.

— Por que não?

— Porque fui programada para não fazer isso! Isso não é algo especial em relação a você; é uma função destinada a preservar a segurança e a privacidade de todos os magos autorizados a entrar em Acryon. Eu armazenei as informações gravadas e conversas de todos os magos que fizeram pesquisas no Salão de Sienna, não apenas o seu, Sir Eugene, nas profundezas dos arquivos de armazenamento da Bruxaria. A menos que esses desgraçados decidam destruir completamente a Bruxaria, não há como as informações de Sir Eugene serem expostas ao mundo exterior.

— Você tem certeza sobre isso?

Quando Eugene fez essa pergunta com um sorriso, Mer não aguentou mais e soltou um grito.

— Argh, sério!

Eugene riu enquanto observava Mer lutar para recuperar o fôlego.

— Se você é tão meticulosa sobre isso, certifique-se de não deixar o que estou prestes a lhe dizer vazar para mais ninguém. — Eugene ordenou.

Mer suspirou.

— Hah, eu já disse que vou fazer isso. Quantas vezes você vai me perguntar—

Eugene interveio.

— Eu reencarnei.

Assim que Eugene começou a falar, Mer imediatamente ficou em silêncio.

Mer olhou para Eugene com os olhos semicerrados antes de cuspir:

— Que tipo de besteira é essa?

Eugene repetiu:

— Eu disse que reencarnei, e ainda tenho as memórias da minha vida passada.

Mer zombou.

— Não, eu ouvi você, e é por isso que perguntei, que tipo de besteira é essa? Você está tentando tirar sarro de mim agora? É tão sem graça que nem consigo me forçar a rir—

— Meu nome em minha vida passada era Hamel Dynas. — Eugene continuou falando com uma voz calma.

Seu nome em sua vida anterior era Hamel Dynas.

Seu nome em sua vida atual era Eugene Lionheart.

Eugene declarou:

— Eu era Hamel, o Tolo.

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