Damn Reincarnation – Capítulo 84 - Anime Center BR

Damn Reincarnation – Capítulo 84

Capítulo 84: Kristina Rogeris (2)

 

Mechas douradas de cabelo escaparam de seu capuz e balançaram no ar, enquanto Kristina caminhava sob o luar. Eugene olhou para as costas dela enquanto a seguia.

Todo dragão tem uma escama reversa. Embora ela não tivesse mostrado nada na superfície, quando mencionou Anise mais cedo, o sorriso de Kristina vacilou um pouco. Eugene lambeu os lábios enquanto sentia seu coração batendo com a tensão.

— Hmm, me desculpe. — Eugene decidiu se desculpar por enquanto.

Com isso, Kristina, que ainda caminhava à frente dele, deu de ombros e riu:

— O que há com esse pedido de desculpas repentino?

— É que, bem… — Eugene hesitou: — Acho que fui um pouco descuidado demais com minha pergunta anterior.

— Não há necessidade de se sentir assim. Você não estava apenas perguntando, porque não me conhece muito bem, Sir Eugene? Tendo visto a aparência da Senhorita Anise, era natural que você tivesse algumas dúvidas sobre mim. — Disse Kristina enquanto virava a cabeça ligeiramente para olhar para Eugene: — Além disso… Você não tem muito interesse nos heróis de trezentos anos atrás, Sir Eugene? Isso só torna mais compreensível que tenha essas perguntas.

— Muito interesse? — Eugene repetiu curiosamente.

— Há muito mais pessoas prestando atenção em você do que parece estar ciente. Como filho adotivo da família principal… Isso por si só já teria feito você se destacar, mas seus talentos, Sir Eugene, são tais que até mesmo os Mestres das Torres de Aroth foram forçados a reconhecê-lo, não? — Kristina perguntou enquanto olhava para frente mais uma vez.

Quando recuperou sua velocidade anterior, continuou falando.

— Embora Hogani possa fazer parte do território de Nahama, também foi designado como local sagrado pelo Império Sagrado. Todos os anos, muitos crentes fazem uma peregrinação a esse local. Naturalmente, isso significa que o Império Sagrado tem muitos olhos observando aquela terra sagrada.

— …

Eugene silenciosamente processou isso.

Kristina confessou:

— Pode ser desagradável para você ouvir isso, mas já fui informada do que estava fazendo durante sua estadia em Hogani.

— Isso não é suficiente para me irritar. Eu já havia notado que estava recebendo muita atenção enquanto estava em Hogani. — Eugene respondeu com uma bufada.

Eugene e Laman ficaram juntos em Hogani por menos de uma semana. Nesse curto espaço de tempo, Eugene realmente sentiu um grande número de olhos observando-o.

Não havia hostilidade naqueles olhares, então não se preocupou em evitá-los. Já que também havia aquele assunto com Amelia Merwin em sua cabeça, Eugene não queria causar um estardalhaço e chamar sua atenção. Como tal, ele havia deixado seus observadores em paz, mas manteve vigilância constante enquanto seus olhares eram direcionados para ele.

Desde os sacerdotes que rezavam para a estátua de Anise, aos crentes no Deus da Luz que carregavam a cruz(o símbolo de seu Deus)  em volta de seus pescoços ou pulsos, e até mesmo os guerreiros carregados de adagas de Nahama…

— A forma como o Império Sagrado tem prestado atenção em mim, é também por causa da revelação? — Eugene perguntou.

— Perdoe-me por repetir o que disse antes, mas temo não poder lhe revelar nada, pois você não é membro de nossa fé. — Kristina repetiu sua recusa.

— Eu me lembro disso, mas realmente não posso deixar de ficar curioso sobre a situação. — Reclamou Eugene.

— Informei você sobre isso porque esperava que despertasse sua curiosidade. — Admitiu Kristina descaradamente.

“Ela tem uma personalidade desagradável”, pensou Eugene enquanto seu rosto se contorcia em uma carranca.

Não só o rosto dela se assemelhava a Anise, mas a personalidade miserável de Kristina também o lembrava de sua antiga companheira. Kristina poderia realmente ser descendente de Anise?

“Seria tirar conclusões precipitadas decidir que Kristina é descendente de Anise apenas por causa de uma semelhança entre seus rostos e personalidades. Em primeiro lugar, não seria estranho que a descendente de Anise se parecesse tanto com ela depois de trezentos anos inteiros?”

Atualmente, não havia nenhum descendente na família principal do clã Lionheart cujo rosto se assemelhasse ao de Vermouth. A única semelhança que podia ser vista entre o ancestral e seus descendentes estava em seus cabelos grisalhos e olhos dourados.

Talvez fosse apenas uma ‘coincidência’ que o rosto de Kristina se assemelhasse ao de Anise. Cabelo loiro e olhos azuis eram um par bastante comum. Na verdade, suas características faciais e aparência não eram exatamente idênticas às de Anise. Para ser franco, foram as características e a aura de ‘Santa’ que desempenharam um papel importante em lembrar Eugene de Anise.

No entanto, era verdade que suas aparências eram semelhantes. Pode ser por isso que ela foi acolhida pelo Cardeal em primeiro lugar, para que ele pudesse criá-la como uma cópia da Santa… Quanto mais Eugene pensava sobre isso, mais complicado ele se sentia.

Anise não tinha falado muito sobre seu passado. Na verdade, ela não era a única; além de Moron e Sienna, nem Hamel nem Vermouth gostavam de trazer à tona histórias de seus passados.

No entanto, a atitude de Anise em relação ao seu passado era diferente da de Hamel ou Vermouth.

Anise odiava seu passado.

Embora ela nunca tivesse dito isso diretamente, Eugene… Não, Hamel havia sentido esse sentimento nela. Afinal, eles viajaram juntos por muito tempo. Enquanto passavam por todos os tipos de dificuldades, eles haviam compartilhado muita conversa sobre isso ou aquilo.

Trazer à tona ‘memórias’ era uma maneira simples de passar o tempo, e era bom falar sobre elas enquanto bebia. Sienna delirava sobre a beleza da floresta élfica onde passou a infância. E sempre que tocava nesse assunto, Moron também parecia não querer perder para ela, pois se gabava de quão magníficos eram os campos de neve do norte onde sua tribo vivia.

Sempre que começavam a falar nisso, Vermouth e Hamel preferiam fazer furos nas histórias dos outros em vez de contar suas próprias histórias. Assim como Hamel, Vermouth também perdeu tudo o que tinha para o povo demônio.

Quanto a Anise, ao contrário deles, não perdeu sua cidade natal. Afinal, havia nascido no Império Sagrado, Yuras. Mesmo agora, depois de trezentos anos, era um país poderoso que ainda reinava forte como um dos três impérios.

Mesmo assim, Anise estranhamente parecia não ter vontade de falar sobre o Império Sagrado. Ela falou sobre o Deus da Luz várias vezes, mas quase não disse nada sobre os Cardeais do Império que estiveram envolvidos em criá-la.

Hamel não sabia como tinha sido para Anise crescer no Império Sagrado. No entanto, considerando seu silêncio e a maneira como seu sorriso tinha um toque diferente de sua aparência habitual, e quando ele pensava em ‘como’ Anise se tornou companheira de Vermouth, não era difícil imaginar que ser a santa era uma posição bastante merda para estar.

Anise se tornou companheira de Vermouth, tudo porque o Império Sagrado ordenou que ela o fizesse.

A razão pela qual Anise se juntou à jornada de Vermouth e partiu em sua missão de salvar o mundo foi simplesmente que era a vontade do Império e de seu Deus que ela o fizesse.

— O caminho continua lá embaixo. — Informou-o Kristina ao parar.

Os dois chegaram aos fundos do Castelo dos Leões Negros e agora estavam de pé na frente de um penhasco, cujo fundo podia ser visto lá embaixo. Eugene caminhou ao lado dela e olhou para o fundo do penhasco.

A primeira coisa que apareceu foi a floresta abaixo. Nos cumes das montanhas além da floresta, eles podiam ver wyverns e outros monstros voadores voando pelo céu.

— A que distância? — Eugene perguntou cautelosamente.

— Não sei a localização exata, mas devemos conseguir localizá-la enquanto estivermos caindo. — Kristina assegurou.

— Ah puta merda. — Eugene soltou essas palavras enquanto balançava a cabeça: — Então o que você está dizendo é que, sem tomar nenhuma medida de segurança, nosso próximo passo é apenas nos jogarmos do precipício?

— Não é como se você fosse cair sozinho, certo, Sir Eugene? — Kristina o encorajou.

Eugene verificou:

— Você sabe usar magia de voo, Bispa Auxiliar Kristina?

— Claro que sei. — Disse Kristina com um sorriso largo enquanto estendia a mão para Eugene.

Eugene estreitou os olhos e olhou para a mão dela em confusão.

— O que você está fazendo?

— Já que vamos para o mesmo lugar de qualquer jeito, não há necessidade de cairmos separados, não? — Kristina propôs alegremente.

— Sinceramente… — Balançando a cabeça em exasperação, Eugene pegou a mão de Kristina.

Então, Kristina imediatamente puxou Eugene com ela enquanto se jogava do penhasco. Estalando a língua em seu comportamento ousado, Eugene puxou seu manto que estava balançando ao vento e o enrolou firmemente em torno de seu corpo.

Depois de um tempo, ele pensou consigo mesmo: “Será que precisamos cair até o fundo?”

A queda foi longa o suficiente para que Eugene não pudesse deixar de considerar essa questão. Em algum momento, Kristina se aproximou de Eugene, como se estivesse pedindo para ser abraçada. Eugene, que ainda estava olhando para o chão lá embaixo, voltou seu olhar para Kristina.

Em vez de olhar para o chão, Kristina olhava diretamente para Eugene. Quando seus olhos se encontraram, Kristina sorriu para ele apenas com os olhos. Ela estendeu um de seus dedos e cutucou Eugene no peito.

— Se morrermos caindo assim, você acha que iremos para o céu? — Kristina perguntou provocante.

— Você me enganou para cair porque queria me levar para o céu? — Eugene retornou a pergunta.

— Você não quer ir para o céu, Sir Eugene?

— Eu quero ir para lá eventualmente, mas não quero ir agora.

— Se for esse o caso, parece que não poderei acompanhá-lo até lá. — Kristina deu uma risadinha e puxou a varinha que carregava na cintura.

A joia azul incrustada no centro da cruz da varinha emitia uma luz deslumbrante. A luz ofuscante imediatamente envolveu Eugene e Kristina, formando um par de grandes asas.

“Isso…” Eugene sentiu o calor vindo da luz que o cercava.

Esta luz… Era poder divino. Um feitiço de Magia Sagrada, as Asas de Luz. Era um dos feitiços divinos que Anise mais gostava de usar. Eugene virou a cabeça para olhar para trás.

Eugene engasgou.

“…?”

Por um momento, Eugene viu a figura de um anjo com as asas abertas. Sua aparência era tão majestosa e divina que até Eugene, que não acreditava em deuses, ficou chocado. Ao mesmo tempo, transmitia-lhe uma forte sensação de pavor.

Esta não era a primeira vez que ele via um anjo. Trezentos anos antes, Anise convocou anjos várias vezes através do uso de magia divina de alto nível. No entanto, o anjo que ele havia visto naquela época… Tinha uma aparência diferente do que estava vendo agora.

O anjo atual estava com os olhos fechados e um sorriso benevolente no rosto.

Seu rosto também era exatamente idêntico ao de Anise, a ponto de lhe dar arrepios.

Logo, ele não podia mais ver a figura do anjo. As majestosas asas de luz retardaram a queda deles e então envolveram Eugene e Kristina. Eugene ficou boquiaberto por alguns momentos, antes de seu rosto se contorcer em uma carranca.

— O que foi isso agora? — Eugene perguntou.

— Do que você está falando? — Kristina perguntou por sua vez.

— Agora mesmo… Aquele anjo… — Eugene hesitou.

Kristina inclinou a cabeça em confusão com essas palavras murmuradas.

— Um anjo? Sir Eugene, tem tomado alucinógenos?

— …

Eugene balançou a cabeça sem dizer nada.

— O nome deste Feitiço Sagrado é Asas de Luz. Não é o tipo de Feitiço Sagrado de alto nível que pode fazer com que um anjo apareça. No entanto, como o feitiço será capaz de nos manter seguros enquanto caímos dessa altura, você não precisa se preocupar com nenhuma ameaça às nossas vidas. — Kristina o assegurou.

Parecia que Kristina suspeitava que Eugene teve uma visão de um anjo porque estava preocupado em cair para a morte. Eugene não fez mais perguntas e manteve os lábios cerrados.

Este não era o momento para perguntas.

Espaço subitamente distorcido. Este não era um fenômeno causado pelas Asas de Luz. Surpresa com isso, Kristina desenrolou as Asas de Luz. As penas das asas então se espalharam em luz e desapareceram.

Tum.

Os pés de Eugene e Kristina tocaram o chão. Eugene suprimiu seu alarme e observou seus arredores.

Alguns segundos antes, Eugene e Kristina estavam caindo no fundo do penhasco. Mas agora, ele não conseguia nem ver as montanhas ou a floresta, muito menos o penhasco.

Eles foram atraídos para um espaço estranho.

A grama no campo abaixo era verde e o céu era azul. Não havia sol alto no suposto céu, mas o céu estava azul e brilhante. Não havia vento, mas a grama do campo balançava.

Eugene se agachou lentamente e tentou tocar a grama. A sensação que ele teve ao tocá-la não era diferente da grama real, mas, ao mesmo tempo, ele não conseguia sentir nenhuma presença de vida na grama. Era o mesmo com o solo.

— Então este lugar foi criado usando magia espacial. — Kristina murmurou, fazendo com que Eugene acenasse com a cabeça.

Claro, era impossível criar um subespaço desse tamanho com apenas uma simples compreensão de magia. Um dos andares de Acryon era dedicado ao Salão do Espaço. Embora Eugene tenha tocado nos mais altos níveis de magia espacial enquanto estudava lá, entre todos os feitiços que viu, nenhum deles era capaz de criar um subespaço desse tamanho.

“Sienna… Não, poderia ter sido o Vermouth?” Eugene especulou.

Como Vermouth também era um arquimago comparável a Sienna em habilidade, Eugene suspeitou que teria sido possível ele criar um subespaço tão grande. Eugene voltou a ficar em sua altura máxima e olhou para frente.

Do outro lado do campo havia um lindo jardim. No centro das flores, Eugene avistou um santuário branco. Embora não fosse apenas um santuário comum. Em frente ao santuário, uma estátua de pedra de Vermouth foi erguida. Eugene olhou para a estátua por alguns momentos, antes de caminhar até o santuário.

Ao aproximar-se do santuário, Doynes e Gilead saíram de dentro, com Doynes perguntando assim que os viu:

— Vocês não acham este lugar muito bonito?

Doynes olhou para Eugene e Kristina com um leve sorriso no rosto.

— Se não fosse a necessidade de guardar este túmulo, eu a teria deixado aberta para todos os membros do clã Lionheart prestarem seus respeitos. — Admitiu Doynes.

— Tenho certeza de que nosso ancestral ficaria feliz em receber a honra e o respeito de seus muitos descendentes. — Falou Eugene.

— Haha. Então parece que você compartilha da minha opinião. No entanto, não foi outro senão o nosso próprio antepassado que criou este lugar. Se ele queria receber a honra e o respeito de seus descendentes, não havia necessidade dele ter construído seu túmulo em um lugar tão difícil de alcançar como este. — Disse Doynes enquanto olhava para a estátua. — Hum… Sobre a estátua de Sir Hamel… Acho que seria bom você colocá-la em frente a esta. O que você acha?

— Tenho certeza de que Sir Hamel ficaria satisfeito em colocá-la em qualquer lugar aqui. — Respondeu Eugene.

— Mas também precisamos considerar se nosso ancestral ficaria satisfeito com sua colocação. Bem… Eu não acho que seria tão ruim colocá-la lá também. Como esta estátua do fundador está sozinha há trezentos anos, gostaria de acreditar que seria significativo colocar uma estátua de um velho amigo nas proximidades para que possam ficar aqui juntos. — Disse Doynes, e então manteve seu silêncio por alguns momentos.

Até agora, ele estava simplesmente liderando a conversa no lugar do silencioso Gilead, mas agora seu olhar se voltou para Kristina antes de continuar com assuntos mais sérios. — Para abrir o caminho que leva a este espaço… Tanto o selo do Patriarca como o selo do Chefe do Conselho. Essas duas chaves foram criadas pessoalmente por nosso grande ancestral, e ele também deixou uma mensagem de que seu túmulo não deve ser acessado a menos que a posição do Patriarca da família principal esteja sendo sucedida ou se um novo Capitão dos Cavaleiros Leão Negro estiver sendo nomeado.

— Então você está dizendo que algo assim é sem precedentes. — Kristina falou em reconhecimento ao ponto que ele estava fazendo.

Ela olhou para as flores que estavam balançando a seus pés. Assim como a grama do campo, as flores abaixo eram apenas para as aparências e moviam-se com uma estranha harmonia sem vida.

Ela continuou:

— Também entendo por que você pode querer repreender minha presunção, mas estou aqui para um propósito importante, tão importante que até desculpa subverter uma tradição tão antiga.

— Estamos apenas preocupados que agora não seja o melhor momento para o que quer que você esteja aqui. — Gilead falou. — Enquanto a Senhorita Kristina está seguindo a vontade do Império Sagrado, como pode um mero clã como nossa família Lionheart desobedecer a vontade de um deus?

O olhar de Gilead deixou Kristina e se voltou para Eugene. Seu olhar não estava repreendendo Eugene, nem estava cheio de desagrado por ser colocado em tal situação. Havia apenas arrependimento e preocupação por Eugene refletidos em seus olhos. Gilead não queria que seu filho tivesse que se envolver em uma visita tão sem precedentes.

Gilead continuou.

— Senhorita Kristina. Você nos visitou em um momento como este e insistiu obstinadamente em acompanhar meu filho em seu pedido para entrar no túmulo de nosso ancestral. Como Patriarca do clã Lionheart, tenho o direito de ignorar uma exigência tão presunçosa, mas optei por não ignorar seu pedido em consideração à aliança de longa data entre o Império Sagrado e o nosso Império Kiehl, bem como a amizade que foi passada de nossos grandes ancestrais.

— Eu também sinto o mesmo. — Doynes assentiu em aprovação às palavras de Gilead. — Senhorita Kristina. Você nos disse que não poderia nos informar sobre o motivo de fazer essa exigência até que entrasse no túmulo. Falou de uma ‘revelação’, e que agora que o Rei Demônio do Encarceramento espalhou seu aviso para o mundo inteiro, a longa era de paz está prestes a ser quebrada. Para que uma revelação seja dada em tais circunstâncias… Deve ser para algo que não pode ser ignorado. Então, agora que estamos aqui, por favor, solte o cadeado apertado que você manteve em seus próprios lábios.

— Então me permita dizer isso. — Disse Kristina, ao passar por Eugene e se colocar no centro da sala. Ela ergueu a varinha que ainda estava segurando desde a entrada deles neste espaço na frente de seu peito, e com a outra mão lentamente desenhou seu próprio nome no ar. — Sou Kristina Rogeris, filha adotiva do Cardeal Michael Logeris, Bispa Auxiliar da Paróquia de Alcarte, e única candidata a Santa em todo o Império Sagrado Yuras. De agora em diante, estarei representando a vontade do Papa, e estou aqui diante de vocês como a santa recém-confirmado, tendo recebido uma revelação do Deus da Luz.

Os olhos de Doynes e Gilead se arregalaram com essa declaração calma.

No entanto, Kristina não prestou atenção à surpresa deles e simplesmente continuou:

— Agora, por favor, abra o caixão do herói.

— O que diabos você está dizendo…? — Doynes respondeu depois de se recompor.

— O Grande Vermouth, o Herói que encerrou a Era da Crueldade forçando um Juramento ao Rei Demônio do Encarceramento, o Mestre-de-tudo, nosso maior Herói. Como fundador do clã Lionheart, ele era uma pessoa impecável que realmente merecia ser chamada de herói. Como não há outro herói que tenha realizado feitos tão grandes quanto os de Vermouth, então certamente ele deveria ter sido o primeiro a entrar no céu em sua passagem, antes de qualquer outra pessoa. — Declarou Kristina sugestivamente.

Por enquanto, Eugene apenas ficou quieto e ouviu Kristina falar. Gilead e Doynes foram tomados pelo espanto, que rapidamente dava lugar à raiva, mas não havia uma única razão para Eugene se sentir chateado com a forma como as coisas estavam acontecendo.

Pelo contrário, essa situação era perfeita para ele. O túmulo não estava simplesmente selado com magia, estava trancado e sem os selos que haviam sido divididos entre o Chefe do Conselho e o Patriarca seria impossível abrir a porta para este lugar. Além disso, o túmulo de Vermouth não estava localizado dentro de uma barreira como ele esperava, mas dentro desse subespaço.

Era absolutamente impossível para o atual Eugene abrir à força uma porta que levava a este lugar. Se fosse esse o caso, seria possível para ele fazê-lo no futuro? Eugene não podia ter certeza de uma resposta.

Mas Kristina não estava dizendo para eles abrirem o caixão de Vermouth sozinha?

— Tendo chegado até aqui, não sei se você entende o que está nos dizendo para fazer. — Disse Doynes, não mais sorrindo. — Toda discussão sobre o túmulo de nosso ancestral já foi sepultada há mais de trezentos anos. O Império Sagrado canonizou nosso grande ancestral como um Santo e cedeu formalmente a Espada Sagrada ao clã Lionheart como símbolo de sua amizade com ele. Com isso, a conexão entre o Império Sagrado e o clã Lionheart tornou-se ainda mais forte do que antes e se desenvolveu em um vínculo sagrado.

— Sim, claro que sim. — Concordou Kristina com ele. — Em uma era de paz, isso por si só já seria uma confirmação suficiente. No entanto, agora que o Rei Demônio do Encarceramento emitiu seu aviso, o mundo está destinado a não mais estar em paz.

— E o que isso tem a ver com abrir o caixão do nosso ancestral? Além disso, o que você quis dizer ao falar sobre o céu? — Doynes exigiu.

— A alma do Grande Vermouth não entrou no Céu. — Confirmou Kristina enquanto levantava a mão e apontava para a estátua dele. — Na revelação, dizia-se que a alma de um herói continua a vagar sem descanso. É por isso que eu, como a Santa, devo realizar uma verificação final nos restos mortais do herói.

— Você está… Ciente… Do quão desrespeitosas… Suas palavras atuais são… Para o clã Lionheart? — Gilead resmungou lentamente, incapaz de esconder sua raiva.

Ele inconscientemente manifestou uma juba branca flamejante de mana enquanto olhava para Kristina, e ao lado dele, Doynes também olhava para Kristina com os olhos apertados. No entanto, Kristina não estava nem um pouco hesitante. Em vez disso, apenas acenou com a cabeça com um sorriso pesado.

— Não tenho intenção de minar as muitas realizações do grande herói. — Declarou Kristina.

— …

Gilead e Doynes permaneceram em silêncio.

Kristina argumentou com confiança:

— No entanto, em vez de elogiar sem pensar o grande herói, devemos pelo menos confirmar seus momentos finais. Nós, que estamos vivendo neste mundo trezentos anos depois que a última guerra finalmente terminou, não somos capazes de entender completamente os eventos que ocorreram durante aquela época. Por que um herói tão grande teve que ser enterrado tão rapidamente? Por que a Sábia Sienna entrou em reclusão tão repentinamente, e então por que a Fiel Anise desapareceu durante sua peregrinação? Por que o Corajoso Moron não aparece neste mundo há cem anos?

Kristina voltou a andar. Atravessando o campo de flores, ela se aproximou de Doynes e Gilead enquanto continuava seu discurso. — Por que os heróis não derrotaram os Reis Demônios restantes? Que tipo de juramento foi feito entre o Rei Demônio do Encarceramento e o Grande Vermouth? Receio que não saibamos nada sobre isso. Nem Deus sabe o que aconteceu naquele momento. Tudo o que Ele pode dizer é que a alma do herói não entrou no céu. É por isso que devemos pelo menos verificar o túmulo, a fim de acabar com nossas suspeitas.

— Rejeitar seu pedido seria ir contra a vontade de seu deus? — Doynes exigiu.

— Não desejamos impor a autoridade de nossa fé àqueles que não creem n’Ele, mas, neste caso, sim. Como crente em nosso Deus, sentiria uma grande decepção com sua rejeição. — Confessou Kristina.

Mesmo naquela época, com Anise, Eugene pensou várias vezes que era um raciocínio muito irritante afirmar que era tudo a vontade de Deus. Não importava o que você dissesse em resposta, depois que afirmaram que era a vontade de seu deus, não precisavam mais de nenhum outro motivo para continuar avançando no que decidiram fazer.

Como crente, a vontade de seu deus era absoluta. Para aqueles que não acreditavam em seu deus, suas palavras poderiam soar como besteira, mas também era difícil simplesmente desconsiderar suas revelações quando os crentes depositavam tanta fé nelas.

“Que sorte”, Eugene comemorou silenciosamente.

Agora, é claro, não havia razão para Eugene se envolver nesse assunto problemático. Como tentou não mostrar nenhum interesse óbvio no resultado, continuou assistindo à situação se desenrolar com o rosto mais rígido que conseguiu segurar.

— Quais são os seus motivos para envolver meu filho nesta sua ‘confirmação’? — Demandou de Gilead.

— Isso também faz parte da revelação, mas receio não poder dizer mais nada sobre isso ainda. — Kristina se desculpou com pesar.

O tom de Gilead tornou-se sarcástico.

— ‘Santa’ Kristina, você realmente entende o quão ridícula e ofensiva você está se revelando?

— Pode ser, mas esta é toda a vontade de Deus, assim como a vontade de Sua Santidade, o Papa. — Defendeu-se Kristina.

“Ela absolutamente se recusa a perder a discussão”, observou Eugene.

Anise era assim. Eugene olhou para as costas de Kristina, boquiaberto com sua teimosia.

— Uma confirmação, você diz. — Murmurou Doynes. Ele cerrou os punhos por um momento antes de afrouxá-los, então se virou para olhar Gilead e disse: — Vou seguir a decisão do Patriarca nisso.

— Tem certeza? — Gilead perguntou surpreso.

— Embora eu esteja em uma posição que exija que eu lidere o Conselho dos Anciãos, ainda não posso assumir o lugar do Patriarca quando se trata de decidir tais questões. No entanto, como Chefe do Conselho, embora eu acate incondicionalmente a decisão tomada pelo Patriarca, nunca permitirei que ela se transforme em um problema no futuro. — Prometeu Doynes.

Gilead ficou em silêncio por alguns momentos enquanto se perdia em pensamentos. Eventualmente, ele soltou um longo suspiro e então sorriu bravamente.

— Nunca imaginei que iria abrir o caixão de nosso ancestral com minhas próprias mãos. — Gilead murmurou enquanto se virava e se afastava. — Por favor sigam-me.

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