Capítulo 95: Samar (5)
Os lobos Vakhan eram lobos monstruosos que viviam na floresta Samar e possuíam agilidade surpreendente para seu grande tamanho. Além disso, eles ainda tinham glândulas venenosas que secretam veneno paralisante na curva interna de suas longas garras.
Primeiro arranhavam suas presas com suas garras e depois as rasgavam assim que parassem de se mover, era o método de caça preferido desses lobos Vakhan.
Os nativos daquela floresta tropical sabiam como domar monstros. Isso valia para a tribo Garung também. Esses lobos Vakhan, que recebiam treinamento desde o momento em que nasciam, não tinham inibição de carregar os guerreiros tribais em suas costas.
Esses lobos Vakhan domesticados eram facilmente capazes de correr pelo complexo terreno da floresta como se fosse uma planície plana, antes de atacar a presa dos guerreiros tribais e afundar em suas garras e presas.
Quando os lobos o atacaram, Eugene se levantou em sua rocha. O lobo correndo à frente do bando saltou no ar e se jogou em Eugene. Ele primeiro o atacou com suas garras ao invés de suas presas.
Slash!
Um jato de sangue caiu do ar. Uma coluna de pedra explodiu do chão e perfurou o corpo do lobo. O animal soltou um grito agonizante, mas o guerreiro que estava cavalgando em cima do lobo moribundo apenas deu um chute em suas costas e saltou em direção a Eugene.
— Kiaaaah! — Soltando um grito estridente, o guerreiro empurrou sua lança em direção a Eugene.
Eugene ainda não havia sacado uma arma. Ele estendeu as mãos nuas e agarrou a lança no ar. Puxando a lança com uma mão, ele bateu com o outro punho no rosto do nativo antes que ele tivesse tempo de soltar outro grito. O punho de Eugene fez todo o rosto do guerreiro desmoronar com apenas um golpe.
Ignorando o guerreiro agora esparramado, Eugene agarrou sua lança roubada com ambas as mãos. A lâmina da lança estava brilhando, mas não era o brilho do metal. A ponta de lança foi revestida com o veneno paralisante dos Lobos Vakhan. Com um sorriso malicioso, Eugene pulou da pedra.
Os lobos não estavam mais investindo contra ele e, em vez disso, pararam.
Boom!
A coluna de pedra caiu de volta na terra, jogando o lobo que havia empalado no chão. Embora o lobo mau respirasse, não estava longe da morte.
— Um mago?
Entre os guerreiros, parecia haver outro que sabia falar a língua comum. Ele estreitou os olhos e olhou para Eugene.
O guerreiro gritou: — Você. Guerreiro de Garung. Matou ele.
— Tenho quase certeza de que ele ainda está vivo. — Eugene apontou.
Esta era a verdade. Embora seu rosto estivesse praticamente amassado para dentro, o nativo ainda estava vivo. Enquanto soltava gemidos indecifráveis, o homem caído se contorcia no chão.
— Não. Você o matou. Ele não luta mais. — O guerreiro cuspiu em sua linguagem comum arrastada enquanto lançava olhares para os outros guerreiros.
Os guerreiros que cavalgavam nas costas de seus lobos começaram a desmontar no chão. Eugene sentiu a mana no ar começar a flutuar.
Só porque eram guerreiros tribais, os membros da Tribo Garung não eram oponentes que ele poderia desprezar. Esses guerreiros tribais possuem habilidade suficiente para serem capazes de atacar as luxuosas escoltas contratadas pelos ricos mercadores e nobres que visitavam Samar.
Woo…
Ahwoooo…
Um som sinistro soprou pela floresta. O chão começou a tremer. Os guerreiros abaixaram seus corpos enquanto retesavam seus músculos.
Eugene olhou para o chão.
“‘Então eles estão usando espíritos da terra”, ele percebeu.
Os nativos de Samar eram adeptos do xamanismo e da magia espiritual. Com o quão perto eles estavam da densa floresta onde nasceram e cresceram, era quase como se fossem amados pela própria floresta.
Esta era uma desvantagem para Eugene. Tentar incitar qualquer movimento inicial da terra usando magia era muito cansativo. No entanto, a terra era muito mais receptiva à persuasão dos espíritos do que a magia lançada sobre ela.
“Não, isso não é apenas um espírito da terra.” Eugene se corrigiu.
Havia algo mais misturado naquilo. Algo que não era bem mana… Os lábios de Eugene se torceram em uma carranca.
— Tem um gosto desagradável. — Resmungou Eugene.
Esse sentimento era um pouco semelhante à magia negra, mas a essência era diferente. Aqueles guerreiros tribais não estavam usando poder demoníaco como um demônio ou um mago negro faria.
Eles estavam usando o poder do xamanismo.
Os corpos dos lobos de repente caíram, enquanto as almas dos monstros deixavam seus corpos e entravam nos guerreiros. Os guerreiros tremeram e o barulho sinistro ficou ainda mais alto.
Enquanto cuspia o gosto desagradável na boca, Eugene preparou sua lança.
Bang!
Os guerreiros chutaram o chão. Seus movimentos pareciam ser uma mistura de humanos e monstros. Já era nojento o suficiente sentir as almas dos monstros se sobrepondo às dos guerreiros, mas seus movimentos fizeram com que Eugene recordasse algumas memórias desagradáveis.
Eles se assemelhavam ao Cavaleiro da Morte criado colocando a alma de um licantropo no cadáver de Hamel.
Boom!
O próprio ar foi dilacerado quando a lança que Eugene jogou rasgou um dos guerreiros agressores em pedaços.
* * *
Quando Eugene voltou para a beira do rio, Narissa estava dobrando as roupas no lugar de Kristina.
— Por que você está fazendo ela fazer isso? — Eugene questionou Kristina.
— Não estou obrigando-a a nada. — Protestou Kristina. — Ela disse que queria retribuir o favor e começou a trabalhar sozinha.
— Mesmo que começasse a trabalhar sozinha, você poderia simplesmente ter dito a ela que não precisava fazer isso.
— Ela se ofereceu de livre e espontânea vontade, porque queria retribuir nossa ajuda; se eu dissesse a ela para parar, isso deixaria a Senhorita Narissa se sentindo estranha.
Kristina estava sentada na cadeira que Eugene havia deixado na beira do rio. Ela examinou a aparência imaculada de Eugene antes de sorrir suavemente.
— Então, qual tribo era? — Kristina perguntou.
— Os Garung. — Respondeu Eugene.
Os ombros de Narissa tremeram enquanto ela ouvia a conversa entre eles.
— Os Garung não são uma pequena tribo. Você se certificou de matar todos eles? — Kristina conferiu.
— O quê? Você acha que eu só mataria alguns deles? Ou acha que eu deveria apenas avisá-los de quão forte sou e dizer-lhes que deveriam desistir de perseguir a elfa se não quisessem morrer? — Eugene perguntou com um bufo de diversão.
— Eles provavelmente não teriam ouvido o aviso, mesmo se você tivesse falado. — Kristina suspirou.
— Provavelmente não. — Concordou Eugene.
Eugene também não encontrava prazer em cuidar de assuntos tão inúteis e cansativos. Se possível, ele queria resolver os problemas sem entrar em conflito. No entanto, os guerreiros nativos não eram o tipo de oponente que poderia ser tão facilmente persuadido. Se Eugene tivesse dito a eles que estaria disposto a pagar o que a elfa pudesse ter trazido para eles no mercado, eles certamente teriam insistido em pegar todo o dinheiro que Eugene tinha como preço para libertar a elfa.
— Bem, não é como se estivéssemos planejando ficar aqui para sempre. Então, o que ela disse? — Eugene perguntou.
Kristina devolveu a pergunta: — Por que você mesmo não pergunta a ela?
— Ela está com muito medo até mesmo de fazer contato visual comigo. — Eugene apontou.
— Provavelmente porque os ouvidos de uma elfa podem ser um pouco aguçados demais para o seu próprio bem. — Disse Kristina com um sorriso ao se levantar de seu assento.
Levantando-se ao mesmo tempo, Narissa repetidamente abaixou a cabeça para Eugene enquanto se desculpava com ele: — E-E-Eu sinto muito, grande e temível senhorio. Estou tão sobrecarregada. Sinto muito, meus ouvidos captaram coisas que não deveriam…
— O que ela quer dizer com ‘coisas que não deveriam’? Eu disse algo importante enquanto estava lá? — Eugene murmurou para si mesmo enquanto se dirigia para a tenda.
Esta grande tenda era um artefato que havia sido modificado para maior conveniência, usando magia. Um simples toque em um botão afixado no mastro central fazia com que a barraca se dobrasse perfeitamente sobre si mesma.
Embora ainda fosse volumosa, isso não era problema para Eugene. Ele enfiou a barraca inteira dentro de seu manto e se virou para olhar para Narissa.
— Então, o que exatamente você ouviu? — Eugene perguntou a ela.
Narissa gaguejou.
— G-Gritos, e… Pessoas implorando por suas vidas…
—P-Por favor, me poupe.
—Você estava fazendo todos os tipos de poses antes, enquanto agia legal e fingia ser forte. O que há com você de repente implorando por sua vida? Tão chato.
—Eu… Eu sou um guerreiro da tribo Garung. Se eu não voltar. Eles vão… Eles vão enviar perseguidores. Além disso, nossos camaradas não estão longe.
—Mesmo que o poupe, eles ainda enviarão perseguidores. Eu roubei sua presa, afinal. Então, se eu matar você agora, isso significa que haverá uma pessoa a menos atrás de mim. Então, não diria que seria melhor para mim, simplesmente matá-lo agora? Você não concorda?
— Eu… Por minha causa… Sinto muito por incomodar vocês. — Narissa se desculpou.
— É realmente mais irritante do que preocupante. Além disso, você já nos pediu ajuda? Quando veio boiando rio abaixo, fui eu que puxei você por vontade própria, e matei aqueles caras porque quis, você nem ao menos me pediu para fazer isso. — Eugene insistiu enquanto enfiava as roupas que Narissa havia dobrado em seu manto.
Kristina falou.
— Vai carregá-la, Sir Eugene?
— Carregá-la? Que tipo de bobagem você está dizendo de rep… — Eugene parou quando seus olhos se voltaram para Narissa. De repente, ele lembrou que o pé esquerdo dela havia sido amputado.
Os ombros de Narissa se curvaram quando ela sentiu o olhar de Eugene pousar sobre ela e então se levantou sozinha.
— E-Eu vou ficar bem. — Afirmou ela. — Consigo correr bem mesmo com apenas uma perna. Se eu encontrar um galho útil no caminho, posso usá-lo como muleta. Então por favor… Por favor não…
— Por favor, isso, por favor, aquilo, pode parar com esses malditos por favores? — Eugene suspirou exasperado.
Narissa soluçou.
— Uh… Uwah… D-Desculpe…
— Não, eu que me desculpo, mas por favor, você pode parar de pedir desculpas o tempo todo também? — Eugene resmungou com alguma vergonha enquanto invocava um espírito do vento.
Quando uma rajada de vento repentinamente a fez começar a flutuar, Narissa entrou em pânico e começou a se debater no ar.
— Diga-me se precisar ir ao banheiro durante a viagem. — Instruiu Eugene. — Não se mije tentando inútilmente se conter.
— S-Sim. — Narissa respondeu enquanto engolia seu choque.
Como uma elfa, ela também sabia como realizar um pouco de invocação de espíritos.
No entanto, os elfos como raça, geralmente tendem a permitir que seus talentos inatos permaneçam inativos devido à sua natureza orientada para a paz. Embora já tivesse vivido por um longo período de cento e trinta anos, a magia de invocação de espíritos de Narissa estava apenas ligeiramente acima do nível de um iniciante na arte.
Os elfos eram uma dessas raças. Eles viviam muito tempo, de fato, mas passavam a maior parte do tempo cantando com os pássaros selvagens da floresta e cuidando das flores e das árvores.
Mesmo assim, com quanto tempo eles viviam, um arquimago élfico que viveu por centenas de anos era forte o suficiente para fazer um arquimago humano parecer ridículo em comparação.
— Hmmm… Sir Eugene… Importa-se de me dizer… Quantos anos tem? — Narissa perguntou hesitante.
— Se você converter em anos de elfo, tenho cerca de duzentos. — Eugene respondeu a ela.
Narissa se perdeu por um momento.
— Hã…? Hum… Ah! Sim, entendo. Isso é realmente incrível. Mesmo que você não seja tão velho, para poder controlar livremente os espíritos assim… E você é forte o suficiente para aterrorizar aqueles temíveis guerreiros… Eu realmente admiro você.
O tremor de Narissa diminuiu um pouco enquanto ela olhava para Eugene com olhos de admiração. Kristina, que percebeu esse olhar, bufou e balançou a cabeça.
— Primeiro ela disse que você tem um rosto tão impressionante e incrível que nem um elfo se compara a você… E agora está dizendo que te admira? Parece que você pode estar ouvindo mais elogios hoje do que ouviu na vida inteira. — Observou Kristina.
Eugene discordou.
— Na verdade, não. Acho que já ouvi muitos elogios assim, desde que eu era jovem. Também já me disseram algumas vezes que tenho um rosto bonito.
Em sua vida passada, com o rosto de Hamel, ele nunca ouviu nada parecido, mas depois que reencarnou com esse rosto, realmente ouviu esses elogios algumas vezes antes. Mesmo para o próprio Eugene, quando olhava para seu reflexo em um espelho ou em um copo d’água, havia momentos em que ele tinha esse tipo de pensamento. ‘Que desgraçado mais bonito.’
Kristina de repente estremeceu.
— Espere, Sir Eugene, você não está pensando em abandoná-la no meio do caminho, só porque ela pode ser um fardo, está? Recuso-me a acreditar que sua personalidade seja tão confusa.
Eugene bufou.
— Se eu fosse jogá-la fora, não a teria pego em primeiro lugar. Além disso, isso é um bom pretexto, não é? Estamos apenas protegendo uma elfa viajante e guiando-a até a vila élfica. Não importa o quão feroz seja o guardião que protege a vila, ele provavelmente não rejeitará seu próprio povo.
Com esta resposta, Narissa engoliu um suspiro de alívio.
Eugene de repente se virou para ela.
— Mas enfim, Narissa.
Narissa gritou.
— S-Sim!
— Você veio aqui procurando o santuário élfico que dizem estar ao pé da Árvore do Mundo? — Eugene perguntou.
— Esse foi um dos motivos, mas… Também pensei que seria mais fácil viver escondida em uma floresta tropical do que em uma cidade. E-Eu não precisaria me preocupar com a Doença Demoníaca também… — Narissa vacilou.
Eugene olhou para ela.
— Mas não parece que você pegou a Doença Demoníaca. Pegou?
— Uh, não… Ainda não peguei, mas quem sabe quando pode acontecer. — Narissa murmurou enquanto seu queixo caía no peito.
A Doença Demoníaca era uma doença que afligia apenas os elfos. A razão pela qual Sienna, que vivia pacificamente dentro do santuário élfico, acabou saindo para o mundo foi por causa da Doença Demoníaca.
Agora era raro qualquer elfo pegar a Doença Demoníaca, mas trezentos anos atrás, quando todos os cinco Reis Demônios ainda estavam vivos, incontáveis elfos contraíram a Doença e morreram. Os elfos que viviam no santuário não eram exceção a isso.
Como tal, Sienna partiu do santuário élfico. Sua missão era matar todos os cinco Reis Demônios e impedir que mais elfos fossem afligidos pela Doença.
— A Doença Demoníaca é incurável. — Murmurou Kristina. — Mesmo com a luz da magia divina, é impossível tratá-la. Até mesmo o Rei Demônio do Encarceramento não teve escolha a não ser fugir da responsabilidade por isso, chamando a Doença Demoníaca de ‘doença inevitável’.
— Bem, isso faz sentido. Para se livrar da Doença Demoníaca, todos os Reis Demônios e demônios teriam que cometer suicídio. — Eugene deu uma resposta reprimida antes de se virar para Narissa. — Seus pais também nasceram fora da floresta?
— Sim… — Narissa admitiu cautelosamente.
Isso significava que ela não seria de nenhuma ajuda para encontrar o lugar. Ele conteve a vontade de dizer isso em voz alta, mas Eugene ainda não podia deixar de pensar isso consigo mesmo.
* * *
Ujicha era um guerreiro sênior da tribo Garung. Ele era um gigante imponente que se assemelhava a uma estátua de pedra. Sua cabeça raspada e corpo musculoso eram completamente cobertos de cicatrizes e tatuagens.
Cheio de raiva fria, Ujicha se virou para olhar ao seu redor e expressou sua conclusão.
— Foi um massacre unilateral.
Ele não teve escolha a não ser julgar a batalha que ocorreu ali como tal. Os guerreiros da tribo e os Lobos Vakhan, todos foram massacrados unilateralmente. Ujicha caminhou lentamente pelo campo de batalha, examinando os cadáveres.
Logo, os olhos de Ujicha se iluminaram. Embora os cadáveres já estivessem ali há alguns dias e tivessem sido danificados por monstros que se alimentavam deles, os ferimentos que sofreram ainda podiam ser vistos claramente, principalmente por causa da variedade de golpes que haviam sido desferidos.
Alguns foram mortos por um punho, alguns cortados por uma espada, alguns outros foram golpeados com uma lança, outros feitos em pedaços como se estivessem ao alcance de uma explosão, e outros ainda pareciam ter sido agarrados por algum monstro enorme e esmagado até a morte.
No entanto, ao contrário dos vestígios deixados nos cadáveres, o conjunto de pegadas que ficaram impressas no chão indicavam que havia apenas um oponente.
— Então tudo isso foi feito por uma pessoa. — Ujicha murmurou.
Ujicha não foi o único a chegar a essa conclusão. Um homem vestindo uma camisa grande que permitia facilmente que o vento soprasse em sua pele se aproximou e ficou ao lado de Ujicha.
O homem falou: — Então, esses bravos guerreiros da Tribo Garung… Eles realmente não conseguiram derrotar apenas uma pessoa e até tiveram sua presa roubada deles?
— É o que parece. — Concedeu Ujicha.
As veias na cabeça calva de Ujicha latejavam de raiva. Ele olhou para o homem ao lado dele e rosnou com uma voz feroz:
— Vou caçá-lo e voltar com a presa.
— Claro que você vai. — O homem assentiu. — Você não vê como nosso jovem mestre ficou animado depois de saber que você daria a ele aquela elfa de presente?
— Se ele quiser elfas, há outras que podemos dar a ele. — Ujicha grunhiu. — O mercado de escravos deve reabrir em breve. Uma ou duas elfas provavelmente devem ser colocadas à venda desta vez também.
Não era apenas a tribo Garung que estaria participando deste mercado de escravos, várias outras tribos vizinhas também estariam presentes. Esse mercado, que acontecia duas vezes ao ano, comercializava criminosos tribais condenados à escravidão, monstros domesticados e estrangeiros também escravizados.
Não eram apenas os nativos de Samar que frequentavam esse mercado; nobres e comerciantes estrangeiros que haviam desenvolvido laços estreitos com uma tribo também podiam encontrar seu caminho para lá. Dito isto, o principal objetivo da visita não era a compra de escravos, mas sim assistir a este raro espetáculo de um evento que só acontecia duas vezes por ano.
— Não, não, outras elfas não servem. Nosso jovem mestre… Bem… ele tem gostos ligeiramente incomuns. Ele é obcecado por elfas que tiveram uma parte do corpo amputada. — O homem admitiu com um encolher de ombros e um olhar de constrangimento. — Você entendeu o que estou dizendo, certo? Ele tem um pouco de… Fetiche por amputadas? Algo nessa linha. Ele gosta quando lhes falta um membro, ou mesmo apenas um olho…
— Se é isso que ele quer, então posso simplesmente cortá-las para ele. — Ofereceu Ujicha.
— Não, não, estou lhe dizendo que isso não serve. Se isso pudesse funcionar, você não acha que eu já teria pensado nisso? O jovem mestre diz que não consegue se entusiasmar com tais medidas artificiais. Ele precisa saber que já estava faltando um membro antes de colocar as mãos nelas. — Explicou o homem. — Claro, aquela elfa perneta provavelmente não nasceu com apenas uma perna, mas o jovem mestre insiste que ele quer uma elfa cujo pé foi cortado, não um elfo cujo pé foi cortado por causa dele.
— Então ele é louco. — Ujicha bufou em desgosto. Ele não tinha nenhum desejo de entender os gostos distorcidos do jovem nobre.
O homem continuou:
— Além disso, se quisermos uma elfa do mercado, ainda precisamos pagar por ela, certo? Por que desperdiçar nosso dinheiro com isso? Quando podemos pegar aquela elfa de uma perna só, de graça.
— Bron. Não me apresse. — Ujicha rosnou.
— Não estou apressando você… Parecia que estava? Bem, então acho que vou deixar você fazer isso do seu jeito. — Bron murmurou enquanto chutava um dos cadáveres. — Tirando isso… As habilidades dele devem ser bem impressionantes. Minha primeira impressão é que não parece vir de um passado de cavaleiro. Poderia ser um mercenário? Mas que motivo um mercenário poderia ter para vir até aqui apenas para vagar pela floresta sozinho?
— Ele deve ser um caçador de escravos. — Ujicha adivinhou.
— Para ele ter entrado tão profundamente na floresta sozinho, não deve ser um caçador comum. — Bron murmurou para si mesmo.
— Faz dois dias que foram mortos. Ainda podemos alcançá-lo. — Ujicha afirmou firmemente enquanto cerrava os dentes em raiva reprimida.
— Que bom, a viagem estava ficando um pouco chata. Vamos atrás dele juntos. — Propôs Bron. — Ah, não vai ser só nós dois, né? Pode ter sido apenas um cara que matou todos os seus guerreiros, mas ele ainda pode ter companheiros.
— Você está assustado? — Provocou Ujicha.
— Haha! Eu, um dos Doze Melhores de Shimuin, com medo? — Bron riu enquanto batia no ombro de Ujicha.
Assim que se acalmou, Bron lembrou a Ujicha:
— Ainda assim, é melhor ser cauteloso.