Capítulo 97: O Sonho (2)
“Por que estou segurando isso na minha mão?” Foi o primeiro pensamento de Eugene ao acordar.
Depois de retirá-la do cofre do tesouro, ele a balançou algumas vezes para saber como se sentia em sua mão, mas ainda não havia usado a Espada Sagrada em uma batalha.
A razão para isso era simples. A Espada Sagrada era muito atraente. A espada cerimonial desnecessariamente ostensiva se destacava mesmo quando a estava segurando em sua mão, mas quando infundia sua mana nela, começava a emitir uma luz brilhante.
As pessoas das tribos de Samar eram selvagens e gananciosas. Não eram apenas eles; havia muitas outras pessoas perigosas perambulando por lá. Contanto que não fosse em Helmuth, Eugene tinha confiança para ser capaz de se proteger, não importava onde fosse, mas não queria atrair muita atenção antes de terminar seus objetivos ali.
Era por isso que ele usava uma carteira de identidade falsa e também usava magia para pintar seus cabelos grisalhos de preto. Quanto a Altair, podia ser a única Espada Sagrada do mundo, mas Eugene não tinha intenção de sacá-la enquanto estivesse em Samar.
Isso significava que Eugene a manteve dentro de seu manto todo esse tempo e nunca a sacou. Então… Por que agora estava segurando Altair na mão? Seria realmente possível que Altair tivesse caído de seu manto enquanto se revirava durante o sono? Ou então era possível que ele tivesse algum tipo de distúrbio de sonambulismo ou um distúrbio obsessivo compulsivo que nunca havia notado, levando-o a sacar inconscientemente uma arma enquanto dormia em um lugar tão perigoso?
Não havia como isso acontecer.
Sentindo-se angustiado, Eugene esfregou os cantos dos olhos com a ponta dos dedos. Felizmente, não derramou nenhuma lágrima. Deve ter sido porque já derramou muitas lágrimas durante sua primeira visita ao túmulo.
No entanto, mesmo que não tivesse derramado nenhuma lágrima, suas emoções ainda não haviam diminuído. Ele podia já ter acordado de seu sonho, mas as memórias de seu sonho e a cena que viu não estavam desaparecendo. Era como se realmente tivesse estado com seus antigos companheiros naquele momento há tanto tempo.
“Porém, parando para pensar sobre isso, eu estava realmente com eles.”
Seu cadáver morto também estava presente no local.
“Bem, meu cadáver estava dentro do caixão. Mas a cena que vi no meu sonho… Poderia ser apenas uma ilusão?”
Parecia realista demais para isso. Sienna, Moron, Anise e Vermouth, suas aparências eram exatamente como Eugene se lembrava; e o comportamento deles não era muito diferente do que Eugene imaginara quando viu pela primeira vez a estátua e a pedra memorial em seu túmulo.
“Mas, em vez disso, isso torna ainda mais provável que… Todo o sonho possa ser apenas uma invenção da minha imaginação.”
Se o sonho não fosse apenas um produto de sua imaginação, se algo assim realmente tivesse acontecido trezentos anos atrás…
Então, por que apareceu para ele em um sonho agora?
— Foi você? — Eugene disse enquanto olhava para Altair.
O sonho que ele acabou de experimentar era algo diferente do ataque de um Demônio da Noite. Demônios da Noite não criavam sonhos como este ao atacar suas presas. Se realmente tivesse sido um ataque de um Demônio da Noite, ele teria percebido enquanto dormia.
Tudo bem então.
Eugene já havia confirmado a verdade. O sonho não foi um ataque destinado a quebrar sua determinação. Só havia mostrado a Eugene- não, a Hamel uma cena que aconteceu depois que ele morreu.
E quando acordou, Eugene estava segurando Altair em suas mãos.
— Isso foi uma revelação? — Eugene perguntou enquanto levantava Altair para ver melhor.
A Espada Sagrada não respondeu às suas perguntas.
— Eu nem acredito em deuses, então esse cara realmente enviaria uma revelação para alguém como eu?
Também tinha sido diferente do que ele imaginara que seria a revelação usual. Uma revelação de Deus não deveria ser um pouco mais impressionante, enquanto alerta sobre algo que pode acontecer no futuro? Mas o sonho que lhe foi mostrado não era do futuro, mas do passado, e de um passado distante, de trezentos anos atrás.
Eugene murmurou para si mesmo:
— Não sei qual é o significado disso. O que você está tentando me dizer…?
—Sienna. Aquele colar.
—Vou levá-lo comigo.
—Isso vai contra o acordo.
—Já não concordamos com isso…
—Depois de criar o mundo que Hamel queria ver …
—Permita que todos nós nos encontremos novamente no mesmo lugar.
—Algum dia poderemos nos encontrar novamente no mundo que você tanto deseja ver.
—Certamente poderemos nos reunir no Paraíso.
—Se isso não for possível…
—Então isso significa apenas que Deus não existe.
Eugene apertou o colar com mais força. Aquele colar foi levado por Sienna, fazendo com que Anise dissesse que isso era contra o acordo. Sienna respondeu que todos já haviam concordado em algo.
No entanto, esse colar de alguma forma deixou as mãos de Sienna e encontrou seu caminho para o cofre do tesouro do clã Lionheart.
—Encontrei você.
O que diabos estava acontecendo? Se iam mostrar algo a ele, deveriam pelo menos deixar claro.
“Você poderia pelo menos ter me mostrado algo que eu ainda não descobri”, Eugene disse a si mesmo ressentido.
Mas o que estava acontecendo entre Sienna e Vermouth? Que tipo de promessa ele tinha feito com os Reis Demônios? E onde todos foram parar agora? Vermouth, Sienna, Anise e Moron ainda estavam vivos? Enquanto sentia um profundo sentimento de frustração fervendo dentro dele, Eugene colocou Altair de volta dentro do manto e então deixou sua tenda.
Algo mais estava fervendo do lado de fora também. Era uma sopa clara cheia de vegetais e cogumelos, e quem cozinhava era Narissa. Enquanto a pessoa que estava no último turno, Kristina, era em princípio responsável por cuidar do café da manhã, ela havia deixado para Narissa ferver um pouco de sopa enquanto se sentava sob o sol quente e fazia suas orações matinais.
— Foi você? — Eugene acusou.
Surpresa, Kristina disse:
— O que você está dizendo de repente?
— Estou perguntando se foi você que entrou na minha tenda enquanto eu dormia? — Eugene esclareceu.
— Que vergonha… Sir Eugene, que tipo de pessoa você pensa que eu sou? Por que me acusaria de entrar em sua tenda? — Os olhos de Kristina se estreitaram quando ela se virou para encarar Eugene.
Na verdade, não havia razão para ela fazer isso. Se Kristina realmente tivesse entrado na tenda de Eugene e enfiado a mão em seu manto, não havia como Eugene não ter notado.
Mudando de assunto, Eugene apontou.
— Você é quem deveria estar fazendo as tarefas matinais.
Kristina se defendeu.
— Eu ia fazer isso, mas Narissa se ofereceu para ajudar.
— Isso não está no nível de apenas ajudar alguém. Ela não está fazendo tudo sozinha?
— Os ingredientes e utensílios de cozinha foram todos fornecidos por mim.
Eugene ficou impressionado com sua falta de vergonha.
— Também fui eu que preparei todas essas coisas… Eu até peguei os cogumelos também.
— Sir Eugene, não vamos nos atrapalhar com assuntos tão triviais. Mas o que diabos você está fazendo tão cedo pela manhã? De repente você começou a suspeitar de mim, e até me acusou de fazer algo tão vergonhoso… Será que viu minha figura em seus sonhos? — Kristina perguntou a ele com um pequeno sorriso no rosto.
Esse olhar dela fez com que Eugene se lembrasse da aparência de Anise que viu em seu sonho. A excessiva semelhança entre elas estava se tornando um grande problema.
Mesmo assim, sua resposta veio sem qualquer hesitação.
— Não. — Eugene negou categoricamente.
Anise e Kristina eram duas pessoas diferentes. Ainda assim, isso o incomodava. Elas poderiam ser duas pessoas diferentes, mas talvez Kristina fosse realmente descendente de Anise.
Pode ser por causa da visão de Anise com lágrimas escorrendo pelo rosto que ele viu em seu sonho, mas Eugene sentiu que deveria tratar Kristina com um pouco mais de gentileza. No entanto, antes disso, decidiu fazer algumas perguntas sobre a Espada Sagrada.
Depois de usar magia para bloquear o som de se espalhar para que Narissa não pudesse ouvi-los, Eugene falou,
— Ei, sobre a Espada Sagrada, às vezes ela se move por vontade própria?
Tanto quanto Eugene sabia, a Espada Sagrada nunca havia mostrado nenhum sinal de movimento por conta própria durante sua vida anterior.
— O que você está dizendo de repente… ah! — Kristina respondeu com uma expressão perplexa, mas de repente soltou um suspiro quando seus olhos se iluminaram.
Ela colocou as mãos juntas na frente do peito e olhou para Eugene com olhos reverentes.
— Sir Eugene, será que você recebeu uma revelação? — Kristina perguntou.
Eugene hesitou.
— Não… Acho que estava apenas sonhando acordado…
— Então a Espada Sagrada comunicou a voz de nosso Deus a você, Sir Eugene. — Afirmou Kristina com confiança.
Eugene negou.
— Não era a voz do seu deus, mas—
— Sir Eugene. — Kristina o interrompeu. — Por favor, não ignore a clara sinceridade que está dentro de sua própria alma. Embora você possa dizer que não acredita em Deus, a verdade é que você realmente tem fé nele. Por favor, pare de se enganar, não há necessidade de se sentir envergonhado.
— Quando foi que eu me senti envergonhado—
— É natural que os humanos tenham medo e fujam do escuro. Sir Eugene pode ser um pouco grosseiro e sem escrúpulos às vezes, mas como você ainda é muito imaturo, não é incomum que tenha medo do escuro… Então nosso Deus benevolente olhou em seu coração e veio até você, para que não precisasse temer a escuridão.
— …
Eugene ficou em silêncio enquanto Kristina continuava a se deixar levar.
— Porque era isso que Sir Eugene desejava inconscientemente. ‘Não tenho medo do escuro, posso superar o escuro.’ Tais desejos fizeram com que Eugene agarrasse a Espada Sagrada, um artefato milagroso concedido por nosso Deus misericordioso. Com sua ajuda, Sir Eugene conseguiu adormecer sob a luz quente da Espada Sagrada e, em seu sonho, recebeu uma revelação de Deus. — Disse Kristina com devoção.
— Isso mesmo. — Concordou Eugene. — Eu recebi uma revelação. Deus apareceu no meu sonho, e você sabe o que ele disse?
Com essas palavras, Kristina juntou as mãos com uma expressão brilhante no rosto.
Ela comemorou:
— Aah! De fato, esse realmente foi o caso! Sir Eugene, que mensagem Deus passou para você?
— Ele disse para te olhar nos olhos e dizer para você calar a boca. — Eugene afirmou.
— …
Kristina ficou muda.
— E sobre o deus que apareceu no meu sonho, ele era muito feio. Não, ele ultrapassou em muito o nível de feiura normal, era simplesmente horrível. Parecia que estava coberto por uma mistura de baratas, centopeias e larvas; tinha a cabeça de um orc que parecia ter sido marcada por um incêndio e fazia sons de ‘kweeek, kweeek’ sempre que falava. — Eugene descreveu calmamente.
— Sir Eugene.
— Sempre que Kristina fica muito tagarela – kweeek – e parece carecer de lógica apesar da torrente de palavras… Diga a ela para parar de usar a fé como um substituto para a eloquência – kweeek – e não use o nome de Deus para apoiar suas próprias reivindicações – kweeeeek…
— Por favor, cale a boca. — Sibilou Kristina.
Eugene pensou que deveria tratar Kristina um pouco mais gentilmente de agora em diante, porque ela se parecia com Anise, mas parece que isso era impossível.
— A sopa está pronta. — Gritou Narissa.
— Tudo bem. — Respondeu Kristina, acalmando-se.
— Não tem carne? — Eugene perguntou.
A sopa de Narissa provou ser bastante saborosa.
* * *
— Deve estar na hora de nossos perseguidores nos alcançarem. — Ponderou Eugene.
Fazia três dias desde que Narissa se juntou a eles.
— Realmente. — Concordou Kristina.
O lugar onde Eugene lutou contra os guerreiros da tribo Garung ficava um pouco fora do território de sua tribo. No entanto, depois que dez guerreiros que saíram em uma caçada falharam em retornar, e quando sua presa era um elfo altamente valioso, não havia como a tribo simplesmente ignorar esse problema.
— O que você fez com os cadáveres? — Kristina perguntou.
— Eu os queimei. — Respondeu Eugene.
Claro que ele tinha feito isso. Deixar inútilmente seus cadáveres intactos só tornaria mais fácil para seus perseguidores alcançá-los. Eugene queimou todos os guerreiros mortos e lobos Vakhan com magia, de modo que nem mesmo um osso foi deixado.
— Mas como não nos alcançaram nem depois de três dias, parece que estão tendo dificuldades em nos acompanhar. — Observou Eugene.
A floresta era muito grande e cada centímetro dela era perigoso. As tribos que viviam ali, apesar disso, estavam unidas por uma complexa rede de interesses. Os Garung eram, sem dúvida, uma tribo selvagem, mas isso não significava que pudessem se intrometer tão facilmente no território de outra pessoa. Isso fazia parte das leis mantidas entre as tribos.
Se quisessem permanecer como uma ‘Tribo de Samar’, era melhor que os Garung seguissem essas leis obedientemente.
No entanto, o guerreiro chefe dos Garung, Ujicha, não tinha intenção de fazer isso. Aquele homem careca de aparência horrível tinha ambições que não perdiam em magnitude para seus músculos maciços.
Os nascidos na floresta só poderiam ser criados na floresta e eventualmente morrer na floresta.
Mas, assim como a maioria das tribos, a tribo Garung, no entanto, tinha alguns laços contínuos com algumas figuras de alto nível no mundo exterior.
Seu contato com o mundo exterior era o Conde Kobal do Reino Marítimo Shimuin.
A Tribo Garung operava uma pequena mina, que começou a produzir mithril alguns anos antes.
Isso levou o Conde Kobal a observar o mithril de alta qualidade produzido nesta mina de propriedade da Tribo Garung. Mas não queria apenas colocar as mãos nele, queria comprar a própria mina. Já que a mina começou a produzir mithril, também poderia haver outros minérios preciosos dentro dela.
Para chegar até eles, a mina primeiro precisava ser devidamente desenvolvida, mas era impossível desenvolver uma mina apenas pegando cegamente em uma picareta. Os nativos que nasceram na floresta e só conheciam a caça, não tinham o conhecimento necessário para desenvolver a mina. Eles mal tinham a capacidade de extrair o minério de ferro que era usado para fabricar suas armas e ferramentas.
Para desenvolver a mina, o conde Kobal estava disposto a mobilizar alguns artesãos anões. No entanto, não importava o quão entusiasmado seu lado estivesse, a tribo Garung não tinha intenção de vender a mina que estava em sua posse desde o tempo de seus ancestrais, ou de permitir que forasteiros desenvolvessem a mina. Esta era a decisão teimosa do último chefe da tribo Garung.
Mas o chefe era velho. Ujicha viu sua oportunidade de tirar o chefe do trono e se tornar o próprio chefe. Depois disso, poderia vender a mina por uma grande soma de dinheiro. Para Ujicha, não importava se esses forasteiros viessem e desenvolvessem a mina.
Ele não tinha intenção de ficar preso nesta floresta como o chefe e envelhecer assim. A força pode enfraquecer com a idade, mas o poder do dinheiro nunca enfraqueceria com o passar dos anos. Ujicha queria usar sua conexão com o Conde Kobal para deixar a floresta. Queria cruzar o vasto mar e viver uma vida luxuosa em uma cidade brilhante.
A fim de garantir tal futuro para si mesmo, Ujicha foi forçado a atender aos gostos pobres daquele garoto gordinho ao lado dele. Embora Ujicha fosse bastante incapaz de respeitar ou entender os desejos distorcidos daquele nobre, ainda não podia recusar ou ignorar suas ordens.
Quando Ujicha usurpou o chefe e anunciou sua disposição de vender a mina, o conde Kobal enviou seus cavaleiros juramentados e seu próprio filho para Samar.
Dajarang Kobal, o filho do conde, parecia um porco andando sobre as patas traseiras. No entanto, para Ujicha, este leitão tinha um par de asas; ao satisfazer os desejos vorazes de Dajarang, essas asas permitiriam que ele voasse para seu esplêndido futuro.
Dajarang queria profundamente possuir o elfo de uma perna só. Ele ficou furioso com o fato da caçada ter falhado. Ele zombou dos guerreiros, chamando-os de tolos por não conseguirem capturar uma única elfa. Então, enquanto dizia que não podia mais confiar neles, insistiu em segui-los em sua caçada.
O fato de não terem conseguido alcançar a elfa, mesmo depois de três dias, foi em parte por causa das reclamações do nobre porco. Depois de caminhar apenas alguns passos, ele reclamava que estava com calor. Se lhe dessem uma carona nas costas de um lobo, ele começava a surtar, por causa de como era fedorento. E quando tentavam correr um pouco mais rápido, ele começava a gritar que seu estômago estava revirando.
Se Dajarang não fosse o filho do conde, já teria sido morto, mas toda vez que Ujicha sentia uma onda de intenção assassina, Bron, o cavaleiro jurado que acompanhava Dajarang, o confortava.
— Só espere mais um pouco. Com certeza contarei ao conde o quanto você sofreu para manter seu pirralho feliz. — Bron prometeu a ele.
— Tem certeza que vale a pena? — Ujicha perguntou em tom cético.
— Aham, sem dúvida. O conde aprecia muito as pessoas talentosas. Com suas habilidades como guerreiro chefe e todos os presentes atenciosos que preparou para o jovem mestre… Haha! O Conde com certeza valoriza você. — Disse Bron com um sorriso perverso no rosto.
— Tudo bem então, se você ainda não tem certeza, por que não fazemos isso. Antes de vender a mina, certifique-se de vir a Shimuin pelo menos uma vez. Deixe-me apresentar-lhe algumas das senhoritas de quem sou íntimo. Todas as senhoritas são de famílias aristocráticas. Se for um homem como você que as apresentarei, as mulheres com certeza ficarão interessadas em você, e se for bem-sucedido em desenvolver um relacionamento com uma delas… Então pode se tornar um nobre imediatamente.
Essas palavras calmantes conseguiram aplacar a raiva de Ujicha. Certo, ele só precisava aguentar um pouco mais. A perseguição estava sendo realmente um pouco mais lenta do que o planejado, mas ainda conseguiram encontrar vestígios que levavam aos ladrões que ousaram roubar a presa da tribo.
— Lorde Ujicha. — Chamou um guerreiro que acabara de retornar de uma patrulha à frente. — Algum jovem desconhecido nos espera lá na frente.
— É um membro da tribo Yabang? — Ujicha perguntou.
Eles estavam atualmente no território da tribo Yabang. Como dezenas de guerreiros de outra tribo haviam invadido seu território, era natural que os guerreiros da tribo Yabang saíssem e os enfrentassem. A tribo Yabang não era uma tribo que precisaria abaixar a cabeça ao enfrentar a tribo Garung, mas se as duas tribos entrassem em conflito, ambas certamente sofreriam perdas significativas.
Como tal, uma vez que explicassem a situação, a tribo Yabang deveria permitir que continuassem em seu caminho. Afinal, guerreiros da tribo Garung foram mortos e suas presas roubadas. Embora a tribo Yabang pudesse ficar indignada com a temeridade da tribo Garung em não enviar um emissário com antecedência para obter permissão para passar por suas terras, isso não importava para Ujicha. Para Ujicha, cujos planos para o futuro estavam fora da floresta, os problemas de seguir as leis da floresta e equilibrar as relações entre as tribos não importavam nem um pouco.
— Não é um guerreiro da tribo Yabang. — Relatou o batedor.
— Poderia ser um dos companheiros dos ladrões? — Ujicha suspeitou.
Tendo notado que estavam sendo perseguidos, os ladrões podem ter deixado um de seus companheiros para trás para bloquear seu caminho. Com um sorriso sanguinário no rosto, Ujicha montou em seu lobo.
Ujicha rosnou.
— Parece que estão sendo arrogantes, só porque conseguiram matar alguns de nossos guerreiros.
Mesmo que o garoto não fosse um dos ladrões, não importava. Contanto que não fosse um guerreiro da tribo Yabang, isso significava que não havia necessidade de mostrar misericórdia a ele. Se algo bloqueasse seu caminho, eles só precisavam abrir caminho e seguir em frente.
— Quando você vai pegar a elfa? — O porco gordo, Dajarang, choramingou.
Com os lábios trêmulos, Ujicha virou-se para olhar para Dajarang e disse:
— Parece que um camarada dos ladrões que roubou a elfa está esperando por nós lá na frente. Devemos ir encontrá-lo, jovem mestre.
— Por que eu deveria? Não quero. Quero ficar na sombra…
— Vamos todos juntos, jovem mestre. Se conseguirmos capturá-lo, isso significa que poderemos encontrar a elfa ainda mais rápido. Se deseja ficar aqui e descansar, a captura do elfo pode ser adiada ainda mais.
— Ah, sinceramente… — Finalmente Dajarang se levantou de sua cadeira com um suspiro.
Ujicha estava planejando matar brutalmente o cara bloqueando seu caminho à frente; ao fazer isso na frente de Dajarang, ele esperava aterrorizar o pirralho e fazê-lo obedecer. Se conseguisse fazer isso, então a atitude de Dajarang, que já havia levado Ujicha ao ponto de uma fúria assassina algumas vezes, provavelmente melhoraria um pouco.
— Kyaaaah! — Ujicha gritou.
Dezenas de lobos correram pela floresta.