DanMachi Light Novel Capítulo 1 – Vol 08 - Anime Center BR

DanMachi Light Novel Capítulo 1 – Vol 08

Capítulo 1: Uma canção de amor para um certo deus da guerra

“Então, é aqui onde você estava, Mikoto.”

Ela viu isso em um sonho.

O ar estava frio em sua pele enquanto ela se sentava nas raízes murchas da árvore.

Seu eu mais jovem abraçou os joelhos contra o peito. Foi quando ela soube que não era um sonho, mas uma memória.

“O que há de errado? Está com fome?”

A jovem Mikoto enterrou o rosto nos joelhos. Ela não olhou para cima mesmo quando Takemikazuchi — parecendo exatamente como ele era hoje em dia, com os mesmos laços de cabelo pendurados em cada lado do rosto — chamou por ela.

Eles estavam em sua cidade natal no Extremo Oriente, atrás do santuário em que costumavam viver. Suas vozes pairavam no ar.

“… Lorde Takemikazuchi.”

A voz da menina saiu de entre seus joelhos, ela ainda se recusava a olhar para cima.

Takemikazuchi se inclinou na frente dela, esperando pacientemente até que ela falasse mais uma vez.

“Por que eu não tenho uma mamãe ou um papai…?”

Porque sou órfã.

A atual Mikoto poderia responder essa pergunta imediatamente.

Desastres, pragas e monstros.

Não era tão incomum para crianças no Extremo Oriente perderem seus pais e ficarem sozinhos. Na verdade, Mikoto era uma das sortudas, já que foi levada para um santuário onde deuses como Takemikazuchi residiam.

— Eles a levaram para ver um festival na cidade.

— Ou talvez fosse um porto com navios. Ou talvez a cidade grande.

Ela tinha estado entre amigos como Ouka e Chigusa junto com os deuses e deusas, mas tudo que Mikoto via naquela época eram pais brincando com crianças felizes. Isso a deixou com um sentimento de desolação, e ela não aguentava mais.

“… A mãe e o pai que lhe deram à luz, Mikoto, deixaram você em nosso cuidado e partiram em uma jornada para o além.”

“Será que vou… vê-los novamente…?”

“Bem… Eles podem não retornar a este mundo enquanto você ainda estiver viva.”

Poderia levar dezenas ou centenas de anos antes que as almas de seus pais renascessem.

Mikoto era muito jovem para entender o significado das palavras de Takemikazuchi na época. A única coisa que ela entendeu claramente era que ela nunca os veria novamente. Ela apertou as pernas para ficar ainda mais perto de seu corpo.

“Você se sente solitária?”

A jovem Mikoto não conseguia mover a cabeça.

Ela apenas se segurou mais forte, os dedos cavando profundamente dentro de sua pele como se estivesse tentando desesperadamente manter algo contido dentro de si que ameaçava transbordar.

Takemikazuchi se ajoelhou ao lado da garota quando seu corpo começou a tremer.

De repente, ele a ergueu no ar como se ela fosse leve como uma pena.

Mikoto ergueu o rosto, surpresa com a repentina explosão de luz. Ela olhou para a divindade abaixo dela.

“Mikoto, torne-se minha filha.”

O rosto sorridente de Takemikazuchi se refletiu nos olhos chorosos da garota.

“Hã…?”

“Algum dia eu irei te conceder minha <Graça Divina>. Quando fizermos isso, iremos compartilhar um laço de sangue de verdade — seremos uma <Família>.”

“<Família>… <Família>.”

Suas palavras não soaram apenas doces, elas forneceram calor para uma garota cuja alma estava cheia de dor.

Nos olhos de Takemikazuchi, ela podia ver uma ternura que era igual à de um pai vendo seu filho. Ele continuou a segurá-la bem acima de sua cabeça, como um pai orgulhoso faria por sua filha.

“A dor mora no espírito e o espírito mora no corpo — essa é a minha teoria. Então, vou te ensinar tantas artes marciais que seu corpo e espírito não terão tempo para sentir solidão. Fique à vontade, Mikoto, e esteja pronta”, disse Takemikazuchi para a atordoada jovem Mikoto. Então, ele sorriu para ela com uma inocência infantil. “Mikoto, o que você queria fazer com sua mãe e pai?”

Ele disse a ela para falar de seu coração, com a mesma ternura em seus olhos.

“Eu… eu queria uma carona nas costas do papai.”

“Vou fazer isso agora mesmo. Algo mais?”

“Dor-dormir um ao lado do outro à noite para não ficar sozinha.”

“Ok, hoje à noite vamos fazer isso. Mais alguma coisa?”

“Queria comer <Konpeitou>, aquele doce que vimos na cidade outro dia!”

“Tudo bem.”

Um pedido sincero de doces coloridos trouxe um sorriso para o rosto de Takemikazuchi.

Apesar de seu santuário ser incrivelmente pobre, Takemikazuchi levou ela, Ouka, Chigusa e as outras crianças para a cidade e cumpriu sua promessa apenas alguns dias depois.

Criança e divindade, vestidas com pouco mais do que trapos, trocaram olhares de afeto e carinho.

“Mas está tudo bem se você preferir entrar na família de Tsukuyomi, caso você não queira estar na minha —”

“Eu quero a sua, Lorde Takemikazuchi!!”

A voz alta da jovem Mikoto interrompeu a divindade.

Com suas pequenas bochechas corando, ela manteve o olhar fixo diretamente sobre ele.

“… Está bem então.”

Takemikazuchi piscou algumas vezes antes de finalmente sorrir para ela.

Ele colocou a jovem de volta no chão e bagunçou seu cabelo.

Mikoto apertou os olhos com força enquanto os dedos do deus faziam cócegas. Uma última lágrima correu por sua bochecha.

Ela então subiu nas costas dele e os dois foram se reunir com Ouka, Chigusa e os outros que estavam procurando por ela. O deus e a garota sorriram quando seus amigos vieram encontrá-los.

Daquele dia em diante, Takemikazuchi se tornou seu pai, e Mikoto foi rodeada de amor.

E em algum ponto, o amor dela por ele se tornou algo um pouco mais especial.

“…”

Mikoto abriu lentamente os olhos.

Raios de luz entrando pela janela e pássaros cantando do lado de fora informaram para ela que a noite havia acabado.

Ela olhou para o teto acima, sentindo-se nostálgica por causa do sonho. Não demorou muito para ela perceber que estava sorrindo.

À medida que mais memórias fluíam para sua mente, ela começou a sair da cama.

[Zzz. Zzz. Zzz.]

O som de outra pessoa ainda dormindo alcançou seus ouvidos.

Olhando para o lado, ela viu uma garota raposa — Haruhime — dormindo na cama ao lado dela.

Os lábios de Mikoto mais uma vez se curvaram em um sorriso. Os eventos em torno da <Família Ishtar> causaram muitos problemas e tribulações, mas foi graças a isso que ela se reencontrou com sua amiga de infância do Extremo Oriente. Com cuidado para não acordá-la, Mikoto tirou alguns cabelos dourados dos olhos da garota adormecida e acariciou suavemente suas orelhas de raposa.

Elas estavam em um quarto da casa da <Família Hestia>, a Mansão Coração de Pedra.

Mikoto e Haruhime, ambas entrando na família por <Conversão>, receberam um quarto no terceiro andar.

Não havia cama neste quarto, e a abundância de itens do Extremo Oriente entrou em conflito com o estilo do continente e o design da arquitetura. Um armário aberto ficava no canto com muitos quimonos coloridos e trajes de batalha de estilo oriental pendurados nele.

Deixando seu sonho para trás, a atenção de Mikoto mudou do santuário que ela uma vez chamou de lar para o lugar em que vivia agora.

Ela deu outra olhada no rosto adormecido da garota que ela tinha sido sortuda o suficiente para se reunir depois de todos esses anos, antes de olhar para a janela que ficava mais brilhante a cada momento.

“… Belo dia!”

Ela se espreguiçou na luz da manhã.

*****

“Lady Haruhime, posso lhe pedir para pôr a mesa?”

“S-sim, é claro!”

Aromas deliciosos invadiram a sala de jantar da mansão.

Mikoto, com seus longos cabelos negros amarrados para trás e um avental apertado em sua cintura, estava trabalhando duro na cozinha ao lado. Vários peixes estavam cozinhando enquanto ela mexia em uma panela com uma colher de pau.

Os sons de sua preparação de café da manhã se misturavam com o barulho dos pés de Haruhime enquanto ela caminhava ativamente entre a cozinha e a sala de jantar com comida e utensílios em seus braços.

“Lady Haruhime, você não precisa se esforçar tanto…”

“Oh, não, não. Fui aceita como membro desta família. Por favor, permita-me fazer isso, Srta. Mikoto.”

Haruhime estava vestindo uma roupa de empregada ao invés de seu quimono de costume.

Lili estava querendo algum tipo de governanta, e Haruhime foi rápida em se voluntariar — “Por favor, me dê um trabalho para fazer!” — no momento em que ela chegou.

Nascida na nobreza e tendo passado cinco anos em um bordel, ela tinha pouquíssima experiência em limpar ou servir aos outros. No entanto, ela estava muito ansiosa para aprender e agora usava uma blusa preta com um avental, sua cauda dourada balançando sua saia para frente e para trás. Mikoto estava feliz por ter sua ajuda.

A Aliança de Orario e as forças do Reino de Rakia estavam batalhando neste exato momento.

A <Família Hestia> não foi convocada para a luta porque eles não tinham membros suficientes para se qualificar. Portanto, hoje foi um dia tranquilo como qualquer outro.

“Uau, isso cheira bem…”

“Então, hoje é a vez da Mikoto? É por isso que é bom.”

“Ah, Sir Bell, Lady Hestia. Bom Dia.”

Mikoto provou sua sopa enquanto cumprimentava o menino humano e a deusa enfiando a cabeça pela entrada da cozinha.

Os membros da <Família Hestia> se revezavam na preparação da comida todos os dias. Contanto que nada drástico tivesse acontecido, normalmente duas ou três pessoas, incluindo sua deusa, preparariam a sala de jantar para a refeição.

Algum tipo de carne grelhada ou assada estava normalmente no cardápio nos dias em que Welf estava no comando. Lili, no entanto, encontrava maneiras de colocar comida na mesa enquanto economizava tanto dinheiro quanto possível. As personalidades de todos surgiam em suas refeições, mas era apenas nos dias em que Mikoto preparava a comida que a família inteira concordava unanimemente que era delicioso.

Ela havia desenvolvido suas habilidades desde nova ao lado de Chigusa e as outras meninas no santuário, transformando todos os ingredientes que ela pudesse encontrar em algo saboroso. Sua seriedade e habilidade se juntaram para criar pratos que até Hestia, obcecada por Bolinhos de Batata Crocante, não pôde deixar de aproveitar.

“Hum, Srta. Mikoto, a sopa marrom nesta panela… O que é?”

“Chama-se sopa de missô.”

Bell espiou por cima da borda da panela enquanto Mikoto respondia alegremente.

Era uma sopa tradicional de sua terra natal que combinava caldo de peixe com um tempero chamado missô. Normalmente, Mikoto preparava refeições usando pão e ingredientes facilmente encontrados em Orario para combinar com os gostos de seus aliados. Contudo, ela achou que seria divertido fazer sopa de missô pela primeira vez em muito tempo depois de encontrar o tempero em um mercado alguns dias antes.

Ela explicou que era uma especialidade de sua terra natal, uma comida que ela cresceu comendo. Então ela deu a ambos uma colher cheia da misteriosa “sopa marrom”. Bell e Hestia arregalaram os olhos, parecendo agradavelmente surpresos.

“O sabor é… não sei, relaxante.”

“Sim, isso não é de todo ruim. Então, isso é o que as crianças de sua cidade natal chamariam de comida da alma?”

Mikoto não poderia estar mais feliz que seus amigos pudessem desfrutar dos sabores de sua terra natal.

Bell e Hestia sorriram, continuando a enchê-la de elogios.

“Senhorita Mikoto, você é uma ótima cozinheira.”

“Sim, algum cara vai ter muita sorte de ter você como noiva.”

Então, toda a cor desapareceu do rosto de Mikoto no momento em que Hestia pronunciou essas palavras.

“No-noiva?!”

O branco fantasmagórico foi rapidamente substituído por vermelho enquanto a garota balançava as mãos e negava tudo ferozmente.

“O que você quer dizer, Lady Hestia?! Eu ainda sou muito imatura para ser considerada digna de me tornar uma noiva. Ah-ha-ha-ha-ha-ha-ha!”

“Senhorita Mikoto, a faca! A faca!”

“Isso é perigoso!”

Rindo e vermelha como uma beterraba, Mikoto se esqueceu completamente do utensílio afiado em suas mãos enquanto vigorosamente acenava para as palavras de Hestia.

Bell e Hestia entraram em pânico e tentaram desesperadamente se afastar dela.

A agitação matinal e o café da manhã chegaram ao fim.

Hestia saiu para seu emprego de meio período enquanto os outros terminavam a limpeza. Mikoto guardou os últimos pratos e foi se juntar a seus aliados já reunidos na sala de estar.

“Aqui está você…” As mãos de Haruhime tremiam enquanto ela cautelosamente colocava uma xícara de chá na frente de Bell. Ele forçou um sorriso quando ela se sentou à mesa e a reunião matinal começou.

“Hoje, Lili gostaria de discutir se devemos ou não levar a Srta. Haruhime conosco à Dungeon…”

Lili assumiu o controle do processo enquanto todos os olhos ao redor da mesa se voltaram para a pessoa-raposa sentada ao lado de Mikoto.

Ainda vestindo sua roupa de empregada, Haruhime balançou sua cauda dourada nervosamente.

“Para ser franca, Lili gostaria que ela se juntasse a nós sob quaisquer condições. A incrível força que a Magia dela nos fornece não precisa ser explicada.”

“Mas, Lady Lili, não podemos nos dar ao luxo de ter os efeitos da Magia da Lady Haruhime revelados a outros…”

“Claro. Mas mesmo assim, a presença da Srta. Haruhime seria um valioso ativo para o nosso grupo. Cada um de nós estaria mais seguro com isso. Contanto que tomemos cuidado para limitar e ocultar o lançamento de sua Magia, Lili é a favor de trazer a Srta. Haruhime para a Dungeon.”

A Magia de Haruhime, <Martelo da Fortuna>, aumentava instantaneamente o Nível do alvo.

Embora ela não pudesse lançar sobre si mesma, a capacidade de fazer outro aventureiro subir de nível por um período de tempo era muito raro. Este feitiço da pessoa-raposa quase lhe custou a vida nas mãos da <Família Ishtar>. Se a notícia de sua Magia se espalhasse, seria quase uma certeza que muitos tentariam recrutá-la para ajudar em suas próprias ambições sombrias.

Mas, ao mesmo tempo, uma joia que nunca vê a luz do dia está condenada a juntar poeira. O argumento de Lili era válido. Contanto que fossem cuidadosos, as vantagens de tê-la no grupo eram grandes demais para serem ignoradas. A opinião de Lili tinha um peso considerável porque ela havia se tornado o “cérebro” da família.

Os homens na sala ouviram a discussão de Lili e Mikoto — Bell não tinha certeza de que lado escolher. Welf decidiu por uma abordagem mais objetiva e perguntou diretamente a Haruhime.

“O que você fazia quando estava com Ishtar? Já te levaram alguma vez na Dungeon?”

“Eu estive entre elas, participando de atividades rotineiras e de explorações ocasionais nas profundezas da Dungeon… No entanto, fui forçada a andar com a carga ou completamente protegida durante as batalhas…”

“…”

“Eu nunca enfrentei um monstro em combate…”

Com exceção da Magia, todas as habilidades básicas em seu Status eram abaixo da suporte do grupo, Lili. Ninguém questionou que ela poderia ser uma desvantagem na batalha.

Haruhime não conseguiu dizer nada em sua defesa e olhou para a mesa. Welf e Lili olharam para a garota raposa com pena.

“… Então, o que vai ser? Ela vai cuidar da casa enquanto estamos fora?”

Welf sugeriu que Haruhime ficasse dentro da mansão, como uma verdadeira empregada faria.

Mikoto olhou para Bell quase por reflexo.

Embora imperfeito, ele era o líder, e Mikoto queria saber os sentimentos do menino que antes havia arriscado tudo para salvar sua amiga.

“… Eu fiz uma promessa a Aisha. Eu não sei qual é a melhor decisão agora, mas se levarmos a Srta. Haruhime para a Dungeon ou não… eu vou… protegê-la.”

Ele começou a corar quando sua frase chegou ao final, mas sua posição era clara.

Haruhime também ficou rosa quando Bell se calou. Lili, entretanto, não estava se divertindo. Quanto a Mikoto, sua expressão ficou mais animada pelo momento.

O garoto humano de cabelos brancos não conseguia olhar para ninguém, seus olhos indo do chão ao teto. Welf sorriu para ele e lhe deu um tapa fraternal nas costas. Não demorou muito para que todos os olhos voltassem para Haruhime.

Cabia a ela tomar a decisão final.

“… Eu devo acompanhá-los. Eu, Haruhime, gostaria de me tornar um ativo para o grupo de batalha.”

Alguns momentos ​​se passaram antes que a garota falasse seu desejo.

Ela olhou para Mikoto e Bell, determinação irradiando de seus olhos verdes.

“Po-porque eu sou… um membro desta família.”

Seu olhar voltou para a mesa quando toda a confiança deixou sua voz.

Bell, Welf e Lili trocaram olhares e sorrisos antes de olhar novamente para a sua mais nova aliada, que estava se remexendo ansiosamente ao lado da mesa da sala. Sua cauda de raposa não parou de se mexer enquanto suas bochechas adquiriram um tom ligeiramente mais escuro de rosa. Até Mikoto estava sorrindo de orelha a orelha e não disse nada contra a decisão.

Um grupo de batalha de cinco pessoas.

Haruhime Sanjouno havia se juntado à equipe como suporte e feiticeira.

*****

Os uivos dos monstros perfuraram a escuridão que dominava as distantes cavernas subterrâneas.

Rochas e pedregulhos revestiam as paredes da caverna. Vários morcegos voavam no alto, criaturas terríveis semelhantes a vermes abriam caminho através das paredes rochosas e os fortes rugidos dos <Ligres de Presa> encheram o ar — aventureiros gritavam um para o outro enquanto faziam seu caminho através do corredor cheio de monstros.

“Armas e armaduras prontas para usar?”

“Sem problemas aqui!”

“Pronta para o combate!”

As lâminas de Bell e Mikoto assobiaram no ar enquanto se preparavam para enfrentar as feras que se aproximavam e respondiam ao chamado de Welf.

O Grande Ferreiro havia reparado e renovado a armadura de Bell, agora em sua quinta versão. A mistura de ouro e metais brancos manteve seu brilho mesmo com pouca luz. A armadura leve foi projetada para proteger o usuário sem prejudicar sua velocidade ou agilidade, e fez exatamente isso enquanto Bell desencadeava uma chuva de ataques de faca na besta mais próxima. Mikoto foi rápida em exterminar o monstro com um golpe de sua arma secundária, uma lança longa. Ela rompeu o pelo grosso do <Ligre de Presas> como se fosse feito de papel. O uivo da besta próxima da morte ecoou pela caverna.

O décimo quinto andar da Dungeon.

O grupo, com Haruhime entre suas fileiras, foi direto para o labirinto após a reunião daquela manhã em sua casa.

Apoiando-se fortemente no Status de aventureiro de segunda categoria de Bell e nas armas e armaduras recém-forjadas de Welf, eles avançaram com rapidez e eficiência através dos níveis superiores e chegaram a um andar que ainda não tinham conquistado.

Haruhime, obviamente sobrecarregada, ficou perto de Lili enquanto ela fornecia apoio às linhas de frente com sua arma de arco. Enquanto isso, os outros três membros lutaram incansavelmente para manter a interminável onda de monstros à distância.

“— Minotauros aparecerão em breve!”

“Eles vão uivar! Pequena L, tampe os ouvidos!”

Mikoto constatou a chegada de mais monstros no campo de batalha graças a sua habilidade de detecção, <Corvo Negro Yatano>. Welf finalizou um <Verme da Dungeon> com sua espada larga enquanto gritava um aviso para a parte de trás da formação.

A linha de frente, Bell e Welf, e a suporte do meio, Mikoto, avançaram para afastar a linha de monstros que se aproximava; silhuetas de Minotauros com dois metros de altura apareceram nas profundezas da caverna. Assim como Welf havia avisado, os monstros recém-chegados desencadearam um grito ensurdecedor de suas gargantas.

“UooOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!”

O uivo do Minotauro, um som ameaçador que despertava o instinto de medo em criaturas mais fracas, explodiu através do corredor.

Lili e Haruhime foram rápidas em proteger seus ouvidos do uivo. Como aventureiras de Nível 1, as meninas teriam dificuldade de resistir aos seus efeitos. Welf, por outro lado, encolheu os ombros com um sorriso.

Ele usou a força de seu poderoso “recipiente” espiritual para superar o ataque auditivo e se juntou a Bell e Mikoto na contra-ofensiva.

“— Vou usar a Espada Mágica!”

Lili se recuperou dos efeitos do uivo e viu Bell enfrentando os Minotauros. Ela percebeu que ainda mais monstros estavam próximos de se juntar à batalha, então gritou um aviso para seus aliados. Os outros olharam para trás a tempo de ver Lili puxar um punhal escarlate de sua enorme mochila. Bell, Welf e Mikoto imediatamente saíram do caminho.

Um golpe rápido da adaga cintilante lançou uma enorme bola de fogo através do campo de batalha.

“!”

A explosão de fogo varreu todos os monstros em seu caminho.

Até mesmo os Minotauros, cuja pele era conhecida por ser naturalmente resistente ao fogo, foram destruídos junto com os outros monstros do corredor rochoso carbonizado.

“Pequena L, não se precipite ao usar essa coisa! É apenas para emergências — confiar nisso não vai nos ajudar a longo prazo!”

“A situação era bastante emergencial! A Dungeon é imprevisível, não podemos só reagir às mudanças!”

“Peguem leve, okay? Welf, Lili?”

“P-por favor, vocês dois — falar alto agora só vai atrair mais monstros… Ohh.”

“É exatamente como Lady Haruhime disse. Se acalmem.”

Terminada a batalha, uma discussão começou entre os restos ainda fumegantes de seus oponentes. A fonte da raiva de Welf era a pressa de Lili em usar a Espada Mágica dos Crozzo do comprimento de uma adaga.

Welf a havia forjado e colocado sob seus cuidados para que a parte de trás da formação pudesse se proteger, ou para ser um ás na manga em caso de um desastre. Este em particular era mais fraco do que o usado na batalha contra o <Golias Negro> ou aqueles que ele forjou para os Jogos de Guerra, mas ainda estava no mesmo nível de poder destrutivo de muitos usuários mágicos de alto nível.

“Não dependa da Espada Mágica — você ficará mais fraca com ela. Nós teríamos ficado bem sozinhos!” ele gritou com raiva para a Pallum.

Lili respondeu insistindo que suposições casuais podem ser fatais na Dungeon.

“É melhor garantir a segurança antes de ser dominado.” Ela não estava mudando sua postura. A Dungeon não era conhecida por sua delicadeza, então ela afirmou com a maior confiança que era melhor não arriscar.

Ambas as opiniões estavam corretas. Não havia nada de errado com o que eles disseram.

Tanto Welf quanto Lili estavam pensando em termos do que era melhor para o grupo.

Bell e Mikoto só conseguiram sorrir fracamente em resposta, enquanto Haruhime timidamente tentava bancar a mediadora entre eles.

Depois de colocar a situação sob controle, todos voltaram sua atenção para a próxima tarefa.

“Então, este é um item dropado, uma pedra mágica…”

“Está correto. Itens dropados irão para a mochila de Lili, então, por favor, colete as pedras mágicas, Srta. Haruhime — e se certifique de não deixar nenhuma cair.”

“S-sim!”

Haruhime ouviu as instruções de Lili enquanto caminhava entre as cinzas das vítimas carbonizadas e coletava as pedras mágicas caídas no chão.

Ela estava vestida com uma roupa de batalha no estilo do Extremo Oriente que parecia o traje de uma sacerdotisa, o mesmo que usava quando estava com a <Família Ishtar> — forçada por Aisha — e estava equipada com uma mochila tubular. Ela também usava uma capa de lã de salamandra, a mesma de seus aliados.

Lili havia declarado que treinaria a genuína não combatente “em uma suporte completa” para seu grupo de batalha. Haruhime se curvou várias vezes, dizendo: “Eu me dedico aos seus ensinamentos”, e aceitou seu novo papel sem pestanejar. Uma espécie de vínculo de mestre e aprendiz tinha se formado entre elas.

Mikoto e os outros reconheceram este novo desenvolvimento com um sorriso e continuaram avançando pela Dungeon, derrotando todos os monstros em seu caminho.

“Fizemos um bom progresso no décimo quinto andar e em um bom ritmo.”

“Isso deveria ser esperado, com o Nível do Sr. Bell e o equilíbrio do nosso grupo de batalha.”

“A Srta. Eina — er, minha conselheira nos deu permissão para descer até o décimo oitavo andar, desde que nada de importante aconteça.”

Lili e Bell responderam ao comentário de Mikoto, balançando a cabeça enquanto caminhavam.

Lili continuou com um comentário de que a frente de sua formação era quase perfeita. “O ponto fraco deste grupo é a falta de força na parte de trás, onde a Lili está. Para consertar isso, Lili gostaria de adicionar um forte curandeiro.”

“Um usuário de Magia também não faria mal”, acrescentou Welf com indiferença, quase como se alertando Lili contra o uso da Espada Mágica novamente.

“Lili está ciente”, ela respondeu enquanto contraia o canto de sua boca.

“E quanto a Srta. Ryuu, daquele bar? Ela tem grande domínio de magia de cura, não é? E a magia que ela usou durante a batalha no décimo oitavo andar foi muito impressionante… Ela estaria disposta a se juntar ao nosso grupo?”

“Não, eu duvido… E Mia é muito assustadora.”

Bell sorriu, mas recusou a sugestão de Lili. Perguntar a Ryuu — uma ex-aventureira que trabalhava como garçonete na Senhora da Abundância — para se juntar a eles provavelmente irritaria a proprietária, Mia. O pensamento do rosto enfurecido dela enviou um calafrio pela espinha de Bell, então ele respondeu com um não.

Sua formação atual consistia em Bell e Welf na linha de frente, Haruhime e Lili na parte de trás, e Mikoto preenchendo um amplo papel de apoio no centro. Os cinco fizeram seu caminho para mais fundo na Dungeon, todos os sentidos em alerta máximo enquanto passavam pelos sombrios corredores.

Embora também fosse verdade para Lili, um golpe direto de um monstro na inexperiente Haruhime de Nível 1 resultaria em um desastre. Graças ao <Corvo Negro Yatano> de Mikoto, eles foram capazes de detectar todos os monstros que se aproximavam e responder adequadamente para defendê-la.

“Depois de um pouco mais de exploração, Lili recomenda que voltemos ao décimo quarto andar. Conforme discutido, seria um bom momento para encontrar um canto deserto da Dungeon e testar as magias da Srta. Haruhime, uma por uma.”

“De acordo. Não queremos ficar confusos experimentando pela primeira vez durante uma batalha tensa… Lady Haruhime, tudo bem?”

“Sim. Isso seria bom.”

“Ei, Bell, você já usou antes, certo? Como é?”

“Bem, um… Houve um grande clarão e me senti mais forte, e pude me mover mais rápido…”

Mikoto foi rápida em ajudar todos os seus aliados enquanto o grupo entrava em formação e continuava andando pela Dungeon.

*****

Já estava quase anoitecendo quando Mikoto e os outros voltaram para a superfície.

Depois de parar para trocar seu saque por dinheiro na Estação de Troca da Torre de Babel, eles seguiram para o Parque Central, que já estava lotado com aventureiros saindo da Dungeon. Enquanto os outros estavam conversando animadamente e fazendo seu caminho para os bares ou de volta para a sede da Guilda, a <Família Hestia> optou por ir direto para casa.

“Oh, vocês voltaram.”

“Lorde Takemikazuchi!”

Uma divindade estava esperando para cumprimentá-los assim que eles passaram pelo portão de ferro e pela entrada principal.

Takemikazuchi sorriu para eles. Mikoto estava tão feliz em vê-lo que caminhou até a divindade com um sorriso no rosto grande o suficiente para rivalizar com o dele.

“Desculpe, Lorde Takemikazuchi… Pedindo para você ficar aqui enquanto estávamos fora.”

“Não pense nisso, Bell Cranel. Meus próprios filhos tiraram o dia de folga da Dungeon e me fizeram companhia.”

Por meio de Hestia, Bell pediu à <Família Takemikazuchi> que ficassem em sua casa enquanto eles estavam fora hoje.

Ao contrário da sala escondida sob a velha igreja que Bell e Hestia uma vez compartilharam ou o prédio humilde onde residia a <Família Takemikazuchi>, a <Família Hestia> agora possuía um imóvel de primeira linha e o Status de uma família de classe média. Se todos os membros e sua deusa deixassem a casa completamente vazia, havia um perigo muito real de assaltantes entrarem para roubar itens ou informações. A situação mudou desde quando eles eram muito menos conhecidos.

Foi por isso que eles pediram a uma família amigável para intervir e vigiar enquanto eles estavam fora. Eles também pediram o mesmo da <Família Miach>, e esta situação continuaria por algum tempo. Cada membro da <Família Hestia> ficou extremamente grato, principalmente por que eles estavam fazendo isso de graça.

“Como eu disse, não ligue. Estamos nos ajudando. Cada um de nós aproveitou ao máximo as instalações de banho como garantia”, disse a divindade. “Não se preocupe, elas foram completamente limpas depois.” Todo o grupo compartilhou uma risada.

“Muito obrigado”, disse o grupo de aventureiros uma última vez.

As duas famílias planejavam compartilhar uma grande refeição mais tarde naquela noite, então Bell e seus aliados voltaram para seus quartos para remover suas armaduras.

“Com licença, Lorde Takemikazuchi… Por favor, pegue isso.”

Dizendo a Haruhime que a alcançaria depois, Mikoto foi falar com Takemikazuchi sozinha. Ela segurava uma pequena bolsa cheia de algo pesado.

Cada um deles recebeu sua parte do dinheiro ganho na Dungeon naquele dia, esta era a porção de Mikoto.

“Por favor, envie isto para apoiar o santuário.”

A razão pela qual Takemikazuchi e sua família viajaram para Orario em primeiro lugar, era para arrecadar dinheiro para o santuário em sua terra natal.

Mikoto implorou que ele enviasse o dinheiro para o santuário onde ela havia crescido, mas a divindade balançou a cabeça.

“Certamente este é o dinheiro que você ganhou lutando ao lado de Bell Cranel e seu grupo. Não o use para nós, use-o para seus aliados.”

Entrar na Dungeon exigia muita preparação, incluindo reparos de armas e uma grande quantidade de itens.

Takemikazuchi pediu a Mikoto que usasse esse dinheiro para beneficiar seu grupo de batalha.

“M-mas eu sou a única que não está fazendo nada para ajudar o santuário…”

Mikoto tentou insistir novamente para que Takemikazuchi ficasse com o dinheiro, mas…

“Mikoto, você está aqui agora como um membro da <Família Hestia>.”

“…!”

Essas palavras colocaram um fim abrupto em sua discussão.

Não havia como refutar uma verdade tão óbvia. Colocar em risco seus atuais aliados para o benefício de ex-compatriotas era contra a lógica.

Afinal, ela se juntou à <Família Hestia> para pagar uma dívida com Bell.

Mesmo assim, eu…

Memórias daquele sonho flutuaram em sua mente.

O momento em que Takemikazuchi pediu que ela se tornasse sua filha. A conexão de sangue compartilhada, a palavra <Família>.

Ela não se arrependia de ter se tornado membro da família de Hestia. Ela estava orgulhosa de ser uma das aliadas de Bell e lutava alegremente ao seu lado. Foi graças à sua nova família que Haruhime ainda estava viva.

Mas, no fundo, ela não queria esquecer que já havia feito parte da família de Takemikazuchi. Ela olhou para o chão enquanto todos esses pensamentos correram por sua cabeça.

“… Mikoto, você se lembra do dia em que eu pedi que você se tornasse minha filha?”

“!”

Mikoto ficou surpresa. Ele tinha usado a frase exata que estava em sua memória.

Takemikazuchi estava diante dela, com as sobrancelhas afundando enquanto sorria cativantemente — um sorriso calmo e paternal.

“O primeiro <Ikoru> que uma criança recebe nunca desaparece completamente, mesmo que eles passem pela <Conversão>. Assim como Hestia pode sentir você através da Bênção que ela concedeu, eu também posso sentir cada respiração que você dá.”

“…”

“Você sempre será minha filha, minha família. Eu nunca me esquecerei disso. Então, por favor, não faça essa cara.”

Ele leu os sentimentos dela como um livro. Avançando, a divindade gentilmente acariciou seu cabelo. A garota ficou vermelha em um piscar de olhos.

Sua mão parecia menor do que ela se lembrava, ela cresceu muito desde então. No entanto, ainda possuía o mesmo calor de todos aqueles anos atrás.

Takemikazuchi não percebeu o quanto a menina estava corando enquanto corria os dedos por seu cabelo preto e ria levemente para si mesmo.

“Estou feliz que você ainda se preocupe com o bem-estar do santuário. Mas você deve saber que Chigusa e Ouka alcançaram o Nível 2 durante os confrontos com a <Família Ishtar>. Estamos indo bem, não há necessidade de preocupação.”

Takemikazuchi então a lembrou de que ambas as famílias trabalhariam juntas na Dungeon quando seus horários permitissem, e isso foi o suficiente.

“Tenha fé.”

Mikoto ergueu o rosto para fazer contato visual com a divindade. Ela deu a ele um aceno firme.

“Bom”, disse o deus enquanto tirava a mão de sua cabeça e se virava para sair. Takemikazuchi casualmente disse que iria chamar os outros para jantar e desceu pelo corredor principal. Mikoto o observou até que ele desaparecesse completamente de vista.

… Agora que estou separada de sua família, eu…

O tempo que passaram separados renovou seus sentimentos de afeto por ele, ela pensou consigo mesma com as bochechas ainda rosadas.

Seu coração batia descontroladamente no peito. Ela apertou a gola de sua roupa de batalha na tentativa de manter seu pulso sob controle.

“… Hum, Mikoto?”

“— Uwah!”

Uma voz suave vinda de trás fez Mikoto pular.

Recuperando o equilíbrio e girando, ela avistou Chigusa parada atrás dela.

“— Lady Chigusa! Há quanto tempo você está aí?”

“Umm, desculpe… um bom tempo.”

A franja de Chigusa normalmente escondia seus olhos de vista, mas agora ela estava separada de tal forma que Mikoto podia ver o olho direito da garota e as suas bochechas rosadas. Ela soube imediatamente que sua amiga tinha visto tudo.

Ela viu como Takemikazuchi recusou sua doação, quão vermelha ela ficou ao toque da divindade, e como ela olhou para ele enquanto ele andava para longe — tudo.

Mesmo que Chigusa soubesse de seus sentimentos por seu deus, Mikoto não queria nada mais do que cavar um buraco e se enterrar naquele momento.

“Eu realmente sinto muito. Não queria interromper nada…”

“Eu imploro, Lady Chigusa, nem mais uma palavra!”

Mikoto era normalmente muito séria e direta, mas os sentimentos dormentes de uma jovem donzela vieram como uma tempestade, fazendo com que ela gritasse o mais alto possível.

Ela apertou a cabeça entre as mãos, às orelhas queimando de vergonha. As duas meninas eram próximas desde pequenas, haviam pouquíssimas coisas que elas não sabiam uma sobre a outra. No entanto, situações embaraçosas ainda eram constrangedoras mesmo na frente de uma de suas melhores amigas.

Chigusa parecia arrependida e deu a Mikoto alguns minutos para se recuperar antes de revelar por que ela estava lá em primeiro lugar.

“Então, é um pouco tarde, mas Ouka e o resto de nós estamos planejando fazer a nossa celebração usual para Lorde Takemikazuchi…”

A normalmente tímida Chigusa poderia falar sobre qualquer coisa com Mikoto. As palavras dela foram suaves e claras quando ela informou a amiga sobre os planos em ação.

“Gostaríamos de convidar Haruhime e preparar um presente para ele… O que você acha?”

A mudança de assunto finalmente afastou Mikoto de seus sentimentos de vergonha.

Havia um brilho de determinação em seus olhos.

*****

Dois dias se passaram desde o jantar com a <Família Takemikazuchi>.

Mikoto, que queria uma folga após um dia na Dungeon, fez seu caminho pelas ruas de Orario sob o céu claro da manhã.

Bell e Welf estavam com ela.

“Então, por que estamos aqui…?”

“Minhas desculpas a vocês dois… mas, por favor, me ajudem nas compras de hoje!!”

Welf murmurou enquanto o grupo caminhava por uma rua lateral com muitas lojas diferentes que se ramificavam na Rua Principal Norte.

Mikoto juntou as mãos e se curvou várias vezes, pedindo aos dois que desistissem de um tempo na Dungeon e na forja para se juntar a ela. Bell forçou um sorriso e fez uma pergunta.

“Bem, hum, você disse que íamos fazer compras, então o que você quer comprar?”

“A verdade é… Ouka e os outros estão planejando uma celebração para o Lorde Takemikazuchi nestes últimos dias…”

Mikoto disse a Bell e Welf sobre a celebração que Chigusa tinha lhe falado.

Antes de virem para Orario, às crianças do santuário faziam algo especial para os deuses e deusas no aniversário de sua chegada em Gekai — semelhante a uma festa de aniversário para as divindades. No entanto, devido aos Jogos de Guerra e os eventos envolvendo Haruhime, eles se esqueceram de fazer algo para Takemikazuchi na data real, apenas alguns dias antes.

Mikoto queria fazer a mesma coisa que seus amigos de infância estavam planejando: dar presentes ao seu deus para comemorar o dia especial.

“Eu sempre coloquei muito pensamento e sinceridade em meus presentes, mas nunca houve dinheiro suficiente para algo realmente grande. Sendo este o meu segundo ano em Orario, e tendo uma renda decente, gostaria de dar a ele um presente adequado.”

“Eu entendo… mas por que nós estamos aqui?”

“Ah, sim! Eu gostaria que suas opiniões como homens, assim como ele, para encontrar algo que deixaria Lorde Takemikazuchi feliz…!”

Mikoto se inclinou para perto de Welf enquanto respondia sua pergunta.

A celebração estava planejada para amanhã.

“Por favor, me ajudem…!”

“Isso é… mais fácil falar do que fazer.”

“Eu, hum, bem… eu realmente gostaria de ajudar.”

Mikoto se curvou ainda mais na frente dos dois jovens. Welf coçou a nuca ao mesmo tempo em que Bell coçava seu queixo.

Ambos estavam pensando a mesma coisa. Basicamente, eles não achavam que seus conselhos seriam de alguma utilidade.

Quando se tratava da Dungeon ou de uma forja, Bell e Welf eram muito bem informados. No entanto, nenhum dos dois tinha muito interesse em outras coisas. Se fossem perguntados o que a maioria dos homens gostava de fazer ou queria de presente, ambos iriam sofrer para dar uma resposta.

“Mas, você sabe, você conhece Lorde Takemikazuchi há muito mais tempo do que nós. Suas ideias não seriam melhores do que tudo o que pensássemos?”

“S-sim, mas…!”

“Hee-hee-hee… Já que estamos aqui, podemos muito bem dar uma olhada por aí.”

Mikoto não podia negar a verdade nas palavras de Welf e perdeu a confiança momentaneamente. Bell sorriu sem jeito para o olhar de choque no rosto da garota e sugeriu que os três vissem o que a área comercial tinha a oferecer.

A Rua Principal Norte se estendia ao lado do primeiro distrito de Orario. Lojas sob medida para cada raça de semi-humanos tinham maior destaque, mas havia muitas lojas menores e barracas de rua que vendiam produtos artesanais e outros itens interessantes. Mikoto, sendo tão séria e meticulosa como sempre foi, se demorou em cada lugar e examinou cada item à venda antes de passar para a próxima loja. Assim como Bell, ela viveu em pobreza até muito recentemente e não era acostumada em ter tantas opções. Ela andou da esquerda para a direita como uma camponesa na cidade grande pela primeira vez.

Bell e Welf trocaram olhares preocupados enquanto a seguiam de perto por trás.

O sol estava no meio do céu antes que eles percebessem. Os três humanos decidiram fazer uma pausa na sombra de um prédio após dar uma volta completa na área comercial.

“Srta. Mikoto, você viu algo promissor?”

“E-eu não sei…”

“Ah.”

Mikoto respondeu a pergunta de Bell honestamente, apenas para receber um golpe verbal de Welf.

Uma expressão de desculpas apareceu em seu rosto enquanto ela girava os polegares, sem saber como proceder.

“Nesse caso, que tipo de presentes você costumava dar a ele?”

“Enquanto estava no Extremo Oriente, coletava belas conchas, pedras e sementes para fazer colares e outras coisinhas…”

Essa informação não ajudou muito a resolver o dilema de Mikoto.

Chigusa tinha dito a ela que todos eles iriam preparar presentes para Takemikazuchi este ano, mas ela não tinha ideia de que escolher um seria tão difícil… Ela ficou lá, quebrando a cabeça, quando os olhos de Bell se arregalaram de repente. Ele se virou para ela e disse:

“E quanto à comida? Isso é uma opção?”

“Eh?”

“Senhorita Mikoto, você é uma ótima cozinheira. Então por que não fazer algo delicioso para a festa…? É apenas uma ideia.”

Ele deve ter se lembrado da sopa de missô que tomou na outra manhã e fez a sugestão. Mikoto pensou um pouco.

“… Pensando bem, nunca houve muita comida nas comemorações no santuário…”

No mínimo, eles nunca fizeram nada tão sofisticado.

Welf podia ver as engrenagens girando na cabeça de Mikoto enquanto esperava ao lado dela. “Por que não tentamos algo nesse sentido?” ele propôs. “É uma festa, afinal. Que tal um bolo?”

“Bolo…”

Seus lábios involuntariamente repetiram suas palavras.

Não era uma comida do oriente, mas Mikoto tinha uma ideia geral — uma massa suave e fofa que era assada no forno e decorada com creme e frutas… Ela teve a sensação de ter visto muitos exemplos disso quando participou do banquete oferecido por Apollo.

Quanto mais ela pensava nisso, mais sentido fazia. Era isso.

“Vou tentar… vou fazer um bolo.”

Welf e Bell acharam que era uma boa ideia e concordaram.

Mikoto se desculpou pelas horas de caminhada desperdiçadas e tentou descobrir sobre como proceder a partir dali.

“Tenho certeza que você mesma quer fazer, mas você consegue?” Welf perguntou.

“Eu nunca fiz isso antes, então não posso dizer com certeza… Mas, provavelmente, se eu tiver uma receita e provar um primeiro”, respondeu Mikoto.

“A Senhora da Abundância vende bolo… Acham que elas nos dariam uma receita se nós perguntarmos?” Bell disse.

Embora a Senhora da Abundância servisse como bar para os aventureiros à noite, ela funcionava como um café durante o dia para os cidadãos normais. Bell já havia comido bolo lá e fez o possível para explicar. Mikoto ouviu cada palavra e decidiu visitar a Senhora da Abundância onde Syr, Ryuu e muitas outras garçonetes trabalhavam.

Passava um pouco do meio-dia.

Mikoto liderou o grupo pela Rua Principal Oeste e para a Senhora da Abundância.

Ryuu estava lá para recebê-los e eles explicaram a situação. Bell estava no meio da negociação quando as pessoas-gato Ahnya e Chloe, assim como o resto das meninas da equipe, detectaram a presença de uma história de amor no ar e se reuniram com sorrisos em seus rostos. Elas concordaram em ajudar depois de provocar Mikoto até outro ataque de vergonha. Mia chegou e acrescentou: “Contanto que você continue a frequentar o bar, posso lhe dar a receita, claro”, e concedeu sua permissão. As cozinheiras trabalhando na cozinha anotaram a receita e deram para Mikoto.

Depois de ouvir Ahnya e as outras garçonetes reclamarem do fato de Syr ter se ausentado do trabalho mais uma vez, os três aventureiros deixaram a Senhora da Abundância.

“Bem, definitivamente conseguimos o que viemos buscar… mas você acha que pode continuar a partir daqui?”

“Sim, muito obrigado, Sir Welf, Sir Bell.”

“Estou feliz que pudemos ajudar.”

Com a receita em mãos e ansiosa para começar, Mikoto disse um rápido agradecimento aos dois rapazes enquanto voltavam para casa.

Ela estava carregando uma caixa que continha um bolo inteiro. Mia tinha sido bastante insistente para que eles comprassem tudo. Eles comeram alguns pedaços enquanto estavam no bar, mas agora que tinham o produto pronto e a receita, Mikoto não pôde deixar de se sentir confiante.

Com os lábios curvados para cima, ela se sentiu como se estivesse um passo mais perto de seu objetivo.

“Oh…”

“Algo aconteceu, Bell?”

“Aquele não é… Lorde Takemikazuchi?”

Eles estavam no meio de uma rua lateral quando Bell parou de caminhar de repente. Welf perguntou a ele o que estava errado e ele apontou para mais baixo na rua.

Mikoto se virou para olhar e viu Takemikazuchi parado não muito longe.

Ele parou uma deusa com cabelo cor de mel que por acaso estava passando.

“Oi, Demeter. Você está pálida. Está se sentindo bem?”

“… Nossa, devo estar um pouco gripada e não percebi.”

“Por que você está agindo tão despreocupada? Venha aqui, me mostre seu rosto.”

— Com isso, ele a segurou pelos ombros e pressionou sua bochecha contra a dela sem aviso.

“Você não parece… estar com febre.”

“Oh minha nossa… V-você não pode, Takemikazuchi. Esse tipo de coisa é para alguém importante, não para qualquer um na rua.”

“Não seja estúpida, estou preocupado porque é você.”

“…”

“Lembro-me bem de quem trouxe frutas e vegetais frescos quando meus filhos estavam morrendo de fome. Estamos eternamente em dívida com você.”

“… Haaa! É por isso que você e Miach não deveriam ter permissão para falar com mulheres.”

Uma pequena troca de palavras com Takemikazuchi foi o suficiente para fazer Demeter ficar vermelha.

A deusa certamente não parecia com raiva quando se afastou dele e foi embora.

“…”

“Se-senhorita Mikoto?”

“E-ei.”

Preocupados, Bell e Welf olharam para Mikoto e tentaram chamar sua atenção, mas a menina fingiu que não podia ouvi-los.

“L-Lorde Takemikazuchi! Muito obrigada por nos salvar daqueles deuses pervertidos no outro dia!”

“Por favor, aceite isto.”

“Espere aí, você não acha que isso é um pouco demais para um favor tão pequeno?”

Duas garotas humanas correram para Takemikazuchi um momento depois.

Elas pareciam ser cidadãs comuns que não pertenciam a nenhuma família. As duas seguravam pequenos pacotes de biscoitos, as bochechas rosadas. A divindade tentou fingir que sua boa ação era de bom senso enquanto se aproximava delas e aceitava o presente.

Então veio o golpe final. Ele acariciou suavemente seus cabelos à medida que os rostos das duas meninas coravam ainda mais.

“…”

Squish! A caixa contendo o bolo foi esmagada nas mãos de Mikoto depois que ela assistiu os acontecimentos do início ao fim.

“Geh!”

“Ei! Oi?”

Calafrios de medo percorreram as espinhas de Bell e Welf enquanto os dedos da garota amassavam o recipiente ainda mais. Mas, mais uma vez, ela não pareceu notá-los.

A partir daí, o contato físico entre Takemikazuchi e outras mulheres na rua continuou a aumentar.

Às vezes as meninas iniciavam, às vezes ele o fazia. Não importava se era jovem ou velha, de alguma raça ou divindade, cada interação envolvia um certo grau de contato na pele. Todas as mulheres reagiam muito inocentemente, adquirindo vários tons de vermelho e sorrindo para ele. A pior parte de tudo isso é que parecia que Takemikazuchi não tinha ideia do que estava fazendo, e nem percebia as reações.

Mikoto assistiu a tudo das sombras. Novas mulheres surgiam quando as anteriores finalmente se afastavam, quase como se estivesse mostrando o quão popular ele era com o sexo oposto.

“…”

“Senhorita Mikoto? Senhorita Mikoto!”

“Ei, diga alguma coisa — qualquer coisa!”

Mikoto ficou lá como uma estátua, sua franja cobrindo os olhos enquanto olhava para o pavimento de pedra sob seus pés.

O arrepio de medo se tornou uma torrente de terror quando Bell e Welf testemunharam um miasma de energia escura subindo dos ombros da garota. Suas vozes excepcionalmente agudas ecoaram pela rua lateral.

Ela não disse uma palavra. No entanto, a aura se formando em torno de seu corpo se tornava mais forte a cada momento que passava.

“Lorde Takemikazuchi!”

“Bem, se não é Haruhime.”

— Então.

“Finalmente, eu fiz certo! Por favor, pegue um!”

“Ótimo… vamos ver, vamos ver… Hmm?”

Takemikazuchi estendeu a mão para pegar um dos bolinhos da bandeja nos braços de Haruhime quando percebeu outra coisa. A mão dele foi para o queixo ao invés disso.

“Haruhime, você já comeu alguns, não é?”

“O quê?!”

“Tem umas migalhas grandes nos seus lábios… Fique parada.”

Ele pegou uma grande migalha em seu lábio entre o polegar e dedo indicador — e comeu.

“Sim, muito doce.”

“Lorde Takemikazuchi… Fazendo uma coisa dessas comigo…”

“Eles são deliciosos, Haruhime. Tenho certeza de que todos gostarão muito… Mas sim, tenho a sensação de que você será uma noiva maravilhosa.”

“Eh?!… Você… você realmente acredita nisso?”

“De fato. Você tem um bom temperamento e um espírito trabalhador. É exatamente isso o que eu gostaria em uma noiva se eu não fosse um deus. Ha-ha-ha!”

Snap!

Mikoto definitivamente ouviu algo quebrar dentro dela.

Passo, passo, passo. Ela não olhou para cima, mas seus pés a levaram para frente. Ela não conseguia nem ouvir Bell e Welf gritando atrás dela. Mikoto se moveu em direção a Haruhime, que estava com ambas às mãos pressionadas em suas bochechas em constrangimento e com a divindade rindo ao seu lado.

“Mikoto?”

“Senhorita Mikoto?”

Os dois a notaram quando ela parou.

Ainda em silêncio e envolta em uma aura, Mikoto arrancou a tampa do recipiente deformado em seus braços com um barulho alto.

“Oh? O que é isso…?”

Takemikazuchi inclinou a cabeça para o lado na tentativa de ver o que estava no recipiente. Mikoto finalmente se virou para encará-lo, seus lábios tremendo.

“— Lorde Takemikazuchi…”

Sua cabeça se ergueu quando ela levantou o recipiente no ar e gritou com toda a sua raiva:

Lorde Takemikazuchi, seu prostituto sem cérebro!

“Bu-UOHH?!”

O bolo inteiro o atingiu bem no rosto, espirrando em todos os lugares.

“Lorde Takemikazuchi?!”

Mikoto correu para longe dele quando o grito de Haruhime ecoou pela rua.

“Pequena Mikoto, boa!!” “Bom trabalho!” “Me considere oficialmente um fã da <Sombra Eterna>!!” Uma chuva de aplausos e vivas veio de outras divindades que por acaso estavam se escondendo nas sombras, mas ela não ouviu nada disso.

Mikoto deu as costas a Takemikazuchi e correu para longe.

*****

“Que diabos foi isso?!”

“Por que você fez isso?!”

Bell e Welf alcançaram Mikoto depois de sua corrida louca pelas ruas de Orario, e gritaram com ela em uníssono.

Toda a corrida deu a ela um momento para manter o fogo queimando em seu coração sob controle. No entanto, seus olhos estavam cheios de arrependimento enquanto ela balançava para frente e para trás no local.

“E-eu sinto muito… Meu corpo se moveu sozinho e eu simplesmente fiz isso…”

“O que você ‘simplesmente fez’ foi acertar um deus na cara com um bolo inteiro!”

“É uma blasfêmia! Completamente profano!”

Mikoto pareceu encolher sob a força das vozes de Bell e Welf.

Ela sabia que deveria fazer o que eles disseram e refletir sobre a seriedade de suas ações, mas mesmo assim, o calor que emanava de seu coração estava fazendo seus braços e pernas tremerem.

“Foi um erro grave — minha devoção é insuficiente… Mas meu corpo não me ouviu…!”

” “…” “

“A única opção que me restou foi jogar algo no rosto do Lorde Takemikazuchi…! É minha culpa por não conseguir controlar o impulso. Eu sou totalmente inútil!”

” “…” “

“Oh, eu poderia me chutar!”

Ela caiu de joelhos e bateu repetidamente com o punho cerrado na superfície da rua de pedra.

Bell e Welf a olharam, sem saber o que dizer. “O que é isso, o que é isso?” vieram as vozes de semi-humanos passando na rua, tentando descobrir o que estava acontecendo. Muitos pares de olhos estavam colados na garota à beira de perder a cabeça.

Mikoto teve um vislumbre das interações sociais de Takemikazuchi com outras mulheres enquanto viviam no santuário no Extremo Oriente. No entanto, não havia muitas pessoas por perto já que o santuário era bastante isolado, então ela nunca viu o suficiente para fazê-la perder completamente a cabeça.

As coisas eram diferentes em Orario. Mais pessoas significam mais chances de fazer novas conexões. Agora, o único pensamento na mente de Mikoto era que enquanto ela estava trabalhando duro na Dungeon, Takemikazuchi estava caminhando pela cidade fazendo aquilo… e isso estava rasgando-a por dentro.

Ela estava com raiva de si mesma, percebendo que seu ódio era proveniente da falta de virtude nas palavras e ações de Takemikazuchi, bem como em seu próprio ciúme. Isso só adicionou combustível ao fogo, porque ela pensava que era mais tolerante.

O constrangimento estava se instalando, as lágrimas brotaram de seus olhos.

“Umm, eh… Srta. Mikoto?”

“O que você vai fazer?”

Bell tentou gentilmente chamar sua atenção, mas Welf foi mais direto com a garota que jogou um bolo na cara de um deus.

Os olhos lacrimejantes de Mikoto se voltaram para eles enquanto ela ficava de pé sobre as pernas bambas.

“Fazer um bolo, como planejado… e pedir desculpas.”

Sua voz estava fraca e abatida, como se fosse parar a qualquer momento. Mas ela foi capaz de responder à pergunta.

Não havia escolha a não ser pedir desculpas a Takemikazuchi. No entanto, ela não sabia como reagiria, quase com medo do que poderia dizer quando o visse novamente. Uma tempestade de emoções complicadas girava em seu interior quando ela deu seu primeiro passo em direção a casa.

Bell e Welf olharam preocupados enquanto ela fazia seu caminho pelas ruas.

O sol se escondeu atrás das montanhas.

Conforme os aventureiros começaram a emergir de um longo dia de trabalho na Dungeon, a noite caiu sobre uma casa em uma área degradada em um dos blocos ocidentais.

A uma boa distância da Rua Principal, a casa foi impedida de receber diretamente luz solar pelos edifícios circundantes. Esta casa também vendia itens de cura, mas poucas pessoas passavam por ali. O emblema de uma família, um esboço básico do corpo humano, estava pendurado do lado de fora com as palavras FARMÁCIA AZUL soletradas na linguagem comum conhecida como <Koine>. Esta era a casa da <Família Miach>.

Um grupo de aventureiros percorreu o pequeno labirinto de prateleiras dentro da loja, em busca do produto exclusivo desta família, uma poção dupla. Encontrando-a, eles foram até uma jovem Chienthrope de pé atrás do longo balcão. “Obrigada…” ela disse com um aceno enquanto eles deixavam a loja. Um momento depois, duas jovens fizeram seu caminho através das portas duplas de madeira na entrada.

Carregando armas e vestidas para o combate, as duas aventureiras falaram com Nahza, a Chienthrope.

“Voltamos.”

“Es-estamos em casa…”

Uma com cabelo curto, a outra com cabelo comprido. Um par de olhos afiados e focado, o outro preguiçoso e cansado. Lado a lado, elas faziam um par interessante. Aquela de cabelo curto anunciou claramente sua presença enquanto a de cabelo comprido fez apenas uma saudação indiferente.

Nahza, que sempre parecia sonolenta com os olhos semicerrados, sorriu e cumprimentou as duas jovens quando elas entraram.

“Bem-vindas de volta, Daphne, Cassandra…”

As duas mulheres, Daphne e Cassandra — ambas aventureiras de Nível 3 e ex-membros da <Família Apollo> — caminharam até o balcão e colocaram um saco de moedas nele.

“Aqui. Ganhos de hoje na Dungeon. Já pegamos o que precisamos para preparativos.”

“Desculpe pelo incômodo, e obrigada…”

“N-não, não. Afinal, estamos na mesma família…”

Nahza pegou o dinheiro de Daphne e expressou sua gratidão. O cabelo comprido de Cassandra balançava para frente e para trás enquanto ela falava.

Nahza, que até recentemente era a única membro da <Família Miach>, alegremente balançou o rabo.

“Bell se tornando famoso nos Jogos de Guerra foi uma ótima publicidade… Mais e mais clientes vêm todos os dias graças a ele, então estou muito feliz por vocês estarem aqui para ajudar.”

Nahza sorriu, pegou dois frascos cheios de suco e os entregou às duas mulheres.

“Tem certeza de que nossa família foi a melhor escolha…? Nós temos um pouco de dívida.”

“Depois de ouvir aquele número ridículo de duzentos milhões de vals, todas as outras dívidas parecem pequenas em comparação.”

Clique, clique. O braço direito artificial de Nahza fez sons mecânicos enquanto ela se movia. Daphne tomou um gole do suco e encolheu os ombros com um olhar distante nos olhos.

Tanto Daphne quanto Cassandra foram para o evento de recrutamento da <Família Hestia> na esperança de se juntarem a eles, mas reconsideraram após a revelação bombástica da dívida de 200 milhões de vals. Então as duas jovens aventureiras pensaram melhor e viajaram por uma estrada longa e sinuosa que acabou as levando à porta da <Família Miach>. Passando por uma <Conversão>, elas agora tinham Miach como seu deus, e Nahza como amiga e aliada.

Cassandra estava decidida a ingressar na <Família Hestia>, então ela ainda estava um pouco decepcionada com o resultado dos eventos.

“Além disso, Lorde Miach é um grande deus. Com uma divindade como essa no comando, nós não tínhamos nada a perder ao entrar.”

“Embora eu esteja feliz em ouvir isso… não se apaixone por ele.”

“Como se eu fosse.”

“Heh-heh-heh…”

Após uma rápida troca de brincadeiras, “A propósito…” disse Daphne enquanto olhava além de Nahza e mais atrás do balcão. “O que está havendo ali?”

Através de uma porta aberta, ela podia ver duas divindades sentadas em uma mesa no quarto de hóspedes. Um deles era um homem bonito com longos cabelos azul-marinho presos atrás do pescoço — Miach, o deus de Nahza, Daphne e Cassandra. Ele usava um manto cinza que já tinha visto dias melhores, um sinal de suas dificuldades financeiras, mas seu rosto poderia ser facilmente confundido com o de alguém de nascimento nobre.

O outro usava o cabelo preto em dois rabos de cavalo, um em cada lado da cabeça — a digna divindade Takemikazuchi.

“O encontro mais inútil da história…”

Com essa nota ligeiramente irritada, Nahza deixou Daphne e Cassandra encarregadas da loja e caminhou em direção à cozinha.

Os dois deuses continuaram sua conversa no quarto de hóspedes, ignorando os sons de Nahza caminhando pelo prédio que servia como casa e loja.

“— Foi isso que aconteceu hoje.”

Takemikazuchi terminou de contar os eventos daquela tarde que envolviam Mikoto.

Depois de levar um bolo na cara, a divindade confusa procurou o conselho de um companheiro deus que vivia na pobreza.

Seu problema: ele não conseguia descobrir por que Mikoto estava com raiva.

“…”

Miach ouviu atentamente a história do início ao fim, sem interromper. Então ele fechou os olhos, respirou fundo e suspirou.

Abrindo os olhos, ele olhou diretamente para a divindade que não conseguia entender a causa da explosão de sua seguidora e disse:

“— Eu não tenho a menor ideia.”

“Não é?”

BAQUE! Um som veio do outro lado da porta aberta. Daphne e Cassandra, que ouviram a conversa, bateram a cabeça no pilar de madeira mais próximo ao mesmo tempo.

As duas divindades as olharam por um momento, ligeiramente confusos. Cassandra massageou o lado de sua cabeça enquanto Daphne murmurava, “Quão idiotas eles são…?” Eles podem ser deuses, mas a falta de sensibilidade de Miach e Takemikazuchi estava causando dor de cabeça a elas.

“É por isso que os seguidores de Lady Hestia ficam frustrados…”

“Nahza?”

Carregando em um prato duas xícaras de chá que havia preparado na cozinha, Nahza entrou no quarto de hóspedes.

Ela ignorou a expressão no rosto de Miach e colocou uma xícara na frente de cada um deles.

“Eu sinto muito por ela… por Mikoto.”

“Oh…?”

“Se você realmente não entende… não vou dizer para você ter cuidado, mas…”

Os ombros de Takemikazuchi se mexeram desconfortavelmente sob o olhar de Nahza.

Ao mesmo tempo, Miach sentiu que a Chienthrope também estava incluindo-o quando ela olhou em sua direção. “O que há de errado?” ele perguntou. Ela não respondeu, apenas suspirou na frente de seu deus. Quando terminou, Nahza mais uma vez fez contato visual com Takemikazuchi.

“Pense nisso com cuidado e, por favor, aceite tudo o que puder descobrir…”

Takemikazuchi permaneceu imóvel enquanto as palavras da mortal ecoavam em seus ouvidos. Então ele cruzou os braços sobre o peito por alguns momentos.

O vapor subiu da xícara de chá em frente dele na mesa, e o rosto dócil da divindade estava refletido em sua superfície.

*****

O dia da celebração de Takemikazuchi havia chegado.

Mikoto começou a assar o bolo na cozinha da mansão mais cedo naquela manhã.

Ela tinha feito algumas tentativas ontem depois de voltar para casa, mas nenhuma delas saiu como planejado. Ela até pediu a Bell e Welf que provassem suas criações, e cada um passou o resto da noite não muito longe de um banheiro. A melancolia começou a se estabelecer, mas ela foi rápida em dar um tapa no rosto com ambas as mãos e dizer a si mesma para se concentrar.

Ela forçou os eventos de ontem para fora de sua cabeça e se concentrou inteiramente na tarefa em mãos.

“Desculpe a intrusão, Srta. Mikoto… Sobre meu encontro com Lorde Takemikazuchi ontem, eu, hum…”

“Não é um problema, Lady Haruhime. Eu não me importo.”

“Não foi isso que eu quis dizer… Mikoto, isso foi —”

“Eu disse que não me importo!”

Mikoto nem mesmo olhou para Haruhime quando ela entrou na cozinha, focada inteiramente na massa em suas mãos.

Haruhime não tinha certeza de como responder ao tom hostil de Mikoto e apenas ficou lá, com um olhar de desculpas em seu rosto. A pessoa-raposa saiu da cozinha um momento depois.

Hestia e Lili viram a breve conversa à distância e ficaram confusas até que Bell as colocou a par dos acontecimentos. Suas expressões confusas se transformaram rapidamente em frustração com Takemikazuchi, mas elas ficaram quietas e decidiram ficar fora disso.

Mikoto expulsou todos os pensamentos perdidos de sua mente, seguindo a receita de bolo da Senhora da Abundância o mais precisamente possível. Primeiro assou a massa em uma forma de metal, normalmente usada para arroz, e depois juntou todos os doces e frutas… E então um impressionante bolo estava completo.

Decorado com muitos tipos de frutas vermelhas, ninguém teria imaginado que o bolo no estilo do continente fora feito por alguém do Extremo Oriente.

“Está feito, mas…”

Ela ficou na frente de sua obra-prima, mas agora todos aqueles pensamentos perdidos estavam voltando.

Não havia mais nada a fazer. Mikoto ficou na cozinha até que o céu começou a escurecer. O horário da celebração estava se aproximando, então ela colocou o bolo em uma caixa e ficou pronta.

Saindo da mansão, ela caminhou pelas ruas tortuosas de Orario em direção à casa da <Família Takemikazuchi> enquanto segurava a caixa com cuidado em seus braços.

Lâmpadas de pedra mágica acenderam enquanto o céu ficava ainda mais escuro, ecoando o estado de sua mente. Muitos sentimentos diferentes rodavam dentro dela até que ela chegou ao seu destino.

A velha e degradada habitação comunitária que ela costumava chamar de lar era localizada em uma rua estreita na parte noroeste da cidade. Agora mesmo, Takemikazuchi e os cinco membros restantes de sua família viviam aqui. A luz estava inundando as janelas da sala — talvez as festividades já estivessem em andamento?

“Perdoe a intrusão…” disse Mikoto enquanto abria a porta e entrava com uma expressão de incerteza no rosto. Seguindo as tradições do Extremo Oriente, ela tirou os sapatos. Ela estava um pouco irritada pelo fato de que ninguém saiu para cumprimentá-la. No entanto, ela passou pela entrada e por um corredor estreito.

Chegando à porta que dava para a sala, ela parou, respirou profundamente e a abriu.

Um segundo depois.

“— Eh?”

Um som agradável irrompeu de cima de sua cabeça, e várias fitas e confetes multicoloridos caíram em torno dela antes que ela soubesse o que estava acontecendo. Pétalas de flores reais caíram sobre seus ombros.

Ela só conseguiu ficar lá, lutando para absorver a vibrante exibição.

“Já era hora de você chegar.”

“Bem-vinda, Mikoto.”

Seus amigos a saudaram com aplausos e palavras gentis.

Ouka, Chigusa, os outros três membros da <Família Takemikazuchi>, e até mesmo Haruhime estavam rindo com o olhar de choque no rosto de Mikoto. Eles conseguiram recriar um kusudama do Extremo Oriente — uma bola de origami recheada com tudo o que o fabricante queria e que poderia quebrar com o puxão de uma corda — e penduraram no teto.

A sala estava decorada com lâmpadas de pedra mágica de muitos tipos diferentes e flores artificiais nas paredes. Havia também uma pequena montanha de comida espalhada sobre a mesa. Os Bolinhos de Batata Crocante se destacavam.

Recebida como se fosse a estrela do dia, Mikoto ficou com o bolo em seus braços, mais confusa do que nunca.

“O que… qual é o significado disso…? Hoje é o dia do Lorde Takemikazuchi, não é…?”

“Claro, isso é verdade… mas a principal razão de nos reunirmos aqui hoje era para lhe dar uma despedida adequada.”

Mikoto olhou para cada um de seus amigos de infância até que o sorridente Ouka lhe contou o segredo.

Ela pode ter ido embora por apenas um ano, mas eles estavam planejando ter uma festa de despedida para Mikoto desde que ela foi para a <Família Hestia>.

Eles queriam que fosse uma surpresa, então disfarçaram o evento como a celebração anual de Lorde Takemikazuchi e até mesmo envolveram Haruhime.

O queixo de Mikoto caiu no momento em que entendeu. Ela olhou para cada um deles mais uma vez.

“Haruhime nos auxiliou no preparo da comida… Disse que também queria ajudar a celebrar nossa reunião.”

“… Eu também queria comemorar a partida da Srta. Mikoto.”

Ouka fez o possível para conter uma risada enquanto Haruhime sorria para Mikoto como uma flor desabrochando.

Um olhar para os bolinhos sobre a mesa e Mikoto finalmente conectou os pontos sobre o motivo de ela ter se encontrado com Takemikazuchi no dia anterior.

“Foi Lorde Takemikazuchi quem sugeriu que lhe fizéssemos uma festa de partida.”

Uma onda de nervosismo passou por Mikoto assim que Chigusa disse essas palavras.

Seus amigos se afastaram para abrir caminho quando Takemikazuchi veio à frente.

Tantas emoções atingiram seu coração que Mikoto não conseguia se mexer, muito menos dizer algo. A divindade parou bem na frente dela e gentilmente colocou a mão no topo de sua cabeça.

“Ahh… Minhas desculpas por ontem.”

Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios ao ver o olhar de choque no rosto da garota. A expressão de Takemikazuchi suavizou e seus ombros afundaram.

“Para ser honesto, ainda não tenho certeza do que fiz para merecer tal reação… mas no final, eu fiz algo que te chateou, não foi?”

“…!”

“Mesmo no Extremo Oriente, eu costumava fazer coisas que te chateavam.”

“N-não é isso!”

Mikoto voltou a si quando Takemikazuchi começou a se desculpar, e ela balançou a cabeça vigorosamente.

“Sou eu, é tudo minha culpa! Minha culpa por estar chateada com você, minha culpa que eu senti raiva… Eu estava com ciúmes!!”

Sua atitude tinha causado angústia a Takemikazuchi, trazendo ainda mais vergonha e culpa na tempestade de emoções que atingiam seu coração.

Lágrimas começaram a derramar de seus olhos, seu rosto com um leve tom de vermelho enquanto ela explicava que não tinha o direito de ficar chateada, com raiva ou com ciúme.

Mas ela não teve coragem de dizer a ele o que realmente estava acontecendo em seu coração. Ela sentiu que não tinha o direito de fazer isso.

“Não, não é sua culpa. Porque eu sou seu deus, e também seu pai.”

O olhar de Mikoto estava fixo no chão, mas as palavras de Takemikazuchi fizeram seus olhos se arregalarem.

“Se há algo que você quer dizer, diga. Vou aceitar qualquer coisa. É para isso que servem as famílias, não é?”

Então ele sorriu e acrescentou que era a única maneira de ele perceber coisas.

Lentamente, muito lentamente, Mikoto levantou a cabeça. Seus lábios se separaram e se fecharam repetidamente sem emitir nenhum som. Mesmo que ela estivesse separada da família, eles se importavam o suficiente com ela para organizar uma festa de despedida. Eles ainda eram sua família, e saber disso aqueceu seu coração.

Aceitar o que ela tinha a dizer — ele aceitaria?

Não apenas aceitar, mas responder.

Ela queria ouvir o que ele tinha a dizer sobre ir além de sua relação como pai e filha, como uma família.

Ela queria saber os verdadeiros pensamentos do deus com quem ela conviveu por muitos anos.

Com os lábios tremendo, as orelhas de Mikoto ficaram vermelhas enquanto seu batimento cardíaco batia de forma audível.

Chigusa, Ouka e os outros membros da família perceberam o que aquilo significava e esperavam pelas próximas palavras de Takemikazuchi sem respirar.

Mikoto chutou seu orgulho para o lado e criou tanta coragem quanto possível.

“Lorde Takemikazuchi, eu —!!”

“Mikoto, tenho um presente para você. Espere bem aqui.”

Havia um toque de satisfação em sua voz quando Takemikazuchi se afastou dela e caminhou para o canto da sala.

Mikoto congelou, uma estátua na frente da porta. Ouka e os outros olharam para seu deus, decepcionados com seu horrível senso de tempo.

Uma nova torrente de lágrimas desceu pelo rosto de Mikoto. Desatento para os olhares de consternação, Takemikazuchi voltou para ela com um sorriso satisfeito e estendeu seu presente.

“Um presente de despedida.”

“Eh…?”

Uma pequena espada do comprimento de uma adaga estava em sua mão direita.

Ele segurava outra em sua mão esquerda, mas de uma cor diferente.

“… Masculino e feminino, um par de espadas combinando.”

A voz de Mikoto tremeu.

“Isso mesmo,” Takemikazuchi respondeu com um aceno satisfeito.

“Usei o dinheiro ganho em meu trabalho de meio período sem envolver a <Família>… e, sim, um empréstimo também.”

A surpresa tomou conta do rosto de Mikoto com essa admissão.

Ouka e Chigusa também não sabiam sobre isso. Eles estavam tão chocados quanto Mikoto.

“Ouvi dizer que Hestia se endividou para adquirir uma faca para Bell Cranel. Não estou tentando competir com ela, mas achei que também deveria ser capaz de fazer algo nesse nível… Não considero que um empréstimo seja atraente, mas eu…”

Ele fechou os olhos no final, tropeçando nas palavras.  Seu rosto ficou levemente rosado.

Enquanto isso, Mikoto olhou para as pequenas espadas enquanto o deus admitia sua rivalidade com a jovem deusa.

Um preto, um branco. Em forma de katana, até mesmo suas bainhas eram bem desenhadas e de alta qualidade.

A assinatura da <Família Goibniu> foi gravada em cada uma; ambas eram pedidos personalizados.

Os olhos escuros de Mikoto começaram a tremer e umedecer.

“… Algo para minha linda filha, um pequeno símbolo.”

O sorriso que ele deu a ela quebrou o que restava da barragem, enviando mais lágrimas do que nunca por seu rosto.

Takemikazuchi hesitou por um momento, forçando um sorriso na frente da menina chorosa. Ele deu um passo à frente e dobrou os joelhos para que seus olhos estivessem no nível com os de Mikoto.

“O macho é <Tenka>, a fêmea <Chizan>… Eu dou este para você agora, e eu carrego o outro.”

Com a caixa em seus braços, Mikoto não conseguia pegar a lâmina, então Takemikazuchi deslizou a espada negra do tamanho de uma adaga — a fêmea, <Chizan> — na faixa em volta de sua cintura.

Depois de se certificar que estava seguro, ele olhou para os olhos de Mikoto.

“E o outro será seu no dia em que você voltar para nós”, ele disse. “Então, tenha certeza de voltar.”

Mostrando a ela a lâmina branca, <Tenka>, Takemikazuchi sorriu novamente.

“Vou esperar o tempo que for preciso, Mikoto.”

Mais lágrimas fluíram quando Mikoto fechou os olhos.

Uma sensação agradável e calorosa surgiu em seu coração e cresceu para envolver seu corpo inteiro. Com os olhos ainda fechados, ela sorriu para ele.

Ela imaginou o momento em que as duas lâminas seriam reunidas.

Esse seria o dia em que ela revelaria seus verdadeiros sentimentos, aqueles que ela não poderia dizer esta noite.

Ela se tornaria alguém digna de carregar as duas lâminas.

Da próxima vez, com certeza, ela falaria o que pensava.

“— Sim!! Por favor, espere por mim!”

Com as bochechas cheias de lágrimas, uma alegria genuína apareceu em sua expressão.

Ela trocou sorrisos com Takemikazuchi, cara a cara.

Chigusa, Ouka, Haruhime e o resto do grupo que os cercavam não puderam deixar de seguir o exemplo.

“Hum, isso… isso é um bolo… então, Lorde Takemikazuchi, todos juntos…”

“Oh, obrigado, Mikoto! Agora então, todos vocês — vamos comer!”

” “Sim!” ” Vieram suas vozes em uníssono.

Takemikazuchi pegou a caixa de Mikoto enquanto a animação da sala crescia. Os homens não podiam esperar mais e estavam em torno da mesa em um piscar de olhos, com as mãos estendidas.

Chigusa, Haruhime e as outras meninas se reuniram em torno de Mikoto. Todas elas trocaram abraços, sorrisos e tapinhas nas costas. A estrela da noite enxugou as lágrimas com o braço e sorriu para as amigas.

A luz das lâmpadas de pedra mágica do lado de fora entravam pelas janelas da sala.

Era exatamente como no santuário. Sua pequena casa transbordada com risadas.

*****

A luz do sol brilhava através do céu azul claro.

Este era o primeiro sinal de que o verão chegou a Orario. Uma lâmina brilhou na luz vinda de cima enquanto assobiava no ar.

A casa de <Família Hestia>, o jardim da mansão.

Mikoto estava sozinha, derramando gotas de suor enquanto praticava técnicas de combate entre o verde exuberante do gramado, arbustos e árvores.

Girando, caindo e cortando como um ninja, ela segurou o presente de Takemikazuchi, <Chizan>, firme em sua mão.

“Minha opinião sobre Lorde Takemikazuchi melhorou… um pouco…”

Bell e Welf assistiram ao treinamento de Mikoto da sombra de um corredor. Nahza falava ao lado deles.

Ela veio para a mansão para entregar os itens que a <Família Hestia> tinha encomendado. Ouvir sobre o que aconteceu ontem pareceu colocá-la em um bom humor. Até a cauda dela balançava para frente e para trás com mais entusiasmo do que o normal.

“Fiquei um pouco preocupado por um tempo. Não posso deixar de sentir que estamos perdendo algo importante,” Welf comentou enquanto ficava com sua mão contra um pilar de madeira.

“Mas a senhorita Mikoto fez as pazes com Lorde Takemikazuchi. Ela certamente parece feliz…” Bell, bem ao lado dele, tinha um sorriso alegre.

De vez em quando, Mikoto parava de praticar, admirava a lâmina em sua mão e sorria.

Ela parecia estar muito animada. Bell e Welf a observaram e compartilharam um sorriso alegre e irônico. Por outro lado, Nahza estreitou os olhos para a garota. Embora ela admirasse Takemikazuchi por preparar uma arma para Mikoto por conta própria, havia outra preocupação.

“Mas, você sabe…”

Lentamente o canto de sua boca se ergueu.

“… ele faz coisas assim o tempo todo como se não fosse nada. Eu acho que é por isso que as pessoas o chamam de insensível.”

Dividindo um par de lâminas masculino e feminino entre um deus e sua seguidora como Takemikazuchi acabou de fazer.

A lâmina feminina para a mulher e a masculina para o homem.

Foi quase como…

“— Um anel de noivado. As divindades tendem a chamá-lo de ‘proposta’.”

“… Bem, sim.”

“Ah, ha-ha-ha-ha…” Welf esfregou o pescoço com a mão livre. Uma risada vazia escapou da boca de Bell antes que ele pudesse reprimi-la.

Foi fácil ter a ideia errada como receptor de algo próximo a uma proposta de casamento. Todos os três observadores estavam pensando a mesma coisa.

“Ei! Por que vocês não se juntam a mim no treinamento se vocês tem tempo?”

Mikoto interrompeu sua prática e se virou para encarar os espectadores.

Com a metade feminina do par firmemente em sua mão, um sorriso tão claro quanto o céu acima floresceu em seu rosto.

 

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