DanMachi Light Novel Capítulo 4 – Vol 05 - Anime Center BR

DanMachi Light Novel Capítulo 4 – Vol 05

 

 

Capítulo 4: Dungeon Resort?

 

A primeira coisa que sinto é um abatimento, como se meu corpo estivesse pesado.

Não sei há quanto tempo estou aqui. Meus braços e pernas parecem sujos e eu continuo perdendo e recobrando a consciência. Depois de muito tempo lutando contra a sensação de nada que vem com um sono profundo, eu finalmente desperto.

Está tudo embaçado.

Pisco algumas vezes para limpar minha visão. Minha mente ainda está em branco.

Eu vejo… tecido. Provavelmente o interior de uma barraca.

Estou de costas, olhando para o teto.

Assim que começo a olhar pela área — meus olhos se abrem enquanto as memórias inundam meu cérebro.

“Lili, Welf ?!”

Nossa busca desesperada pelos níveis intermediários, a aparição do Golias, o décimo oitavo andar. Tudo voltou de uma vez.

A adrenalina começa a bombear nas minhas veias. Não sei o que aconteceu; eu preciso descobrir.

Todos os meus músculos se agitam para me ajudar a sentar. Uma nova onda de dor passa por mim um segundo depois.

“— ?!”

Eu me enrolo em uma pequena bola.

Eu acho que foi um grito que saiu da minha garganta. Não, o grito veio do meu corpo inteiro.

Parece que cada golpe que eu tomei, cada corte, arranhão e contusão que eu recebi desde que entrei no décimo terceiro andar grita de uma só vez. Estou em frangalhos; todo o abuso físico realmente teve seu preço.

Estou me contorcendo com tanta dor que posso desmaiar de novo.

“Você está bem?”

— Mais uma vez, meus olhos se abrem.

Aquela linda voz veio do meu lado. Eu fiquei deitado por um momento, incapaz de acreditar nos meus ouvidos antes de levantar a cabeça.

A primeira coisa que vejo é uma parede de tecido branco, provavelmente parte da barraca. Então, os longos cabelos dourados de uma aventureira sentada ao meu lado entram na minha visão.

“Eh, hein, o que…?”

“… Você está bem?”

Suas sobrancelhas franzem em preocupação enquanto ela fala com aquela bela voz.

A-Aiz… Aiz Wallenstein…?!

Eu não estou alucinando! É ela mesmo!

Porque ela está aqui ?! Grito silenciosamente enquanto minhas últimas lembranças antes de desmaiar voltam para mim.

Cabelos longos e bonitos refletiam nos meus olhos nublados.

Engulo o ar na minha garganta. A pessoa que eu implorei por ajuda era… Aiz?

Eu, eu agarrei a perna dela…?! Uma nova tempestade de fogo surge dentro de mim enquanto eu cerro meu punho trêmulo.

“P-por que você está aqui…?!”

“Voltando da nossa expedição… Paramos no décimo oitavo…”

O grupo de Aiz, <Família Loki>, devem estar voltando da sua exploração aos níveis anteriormente desconhecidos nas profundezas da Dungeon. Então isso significa que eles estão descansando aqui no ponto seguro, nível dezoito.

Eles partiram em sua expedição há quase duas semanas… Considerando o que Lili disse anteriormente, nossos caminhos apenas devem ter se cruzado.

Essa foi a minha linha de pensamento enquanto eu estava lá, maravilhado com a beleza dela.

“…! Meus amigos! Eles estão —?!”

Lili ! Meus ombros tremem quando meu cérebro liga os pontos.

— eles estão bem ?! Estou prestes a perguntar quando meu corpo se levanta sozinho.

Meus cotovelos saem do chão, meu corpo fica reto.

Parece que algo está me empurrando por trás. Eu nem consigo piscar. De repente, toda a dor que eu sentia não importava. Meu senso de urgência a cancela. Isso não significa que meus músculos aguentem.

Eu não consigo me equilibrar. O chão está se aproximando da minha cara.

Aiz se ajoelha ao meu lado e estende os dois braços.

Pwff.

“…”

“…”

Ela pega meus dois ombros com suas mãos. Meu rosto, no entanto, é enterrado profundamente em seu peito.

Eu posso sentir seus cabelos dourados no meu nariz.

Sua armadura metálica parece fria nas minhas bochechas. Segurou minha queda.

Estou tão feliz por ter sido a armadura e não o seu — não há tempo para esse tipo de pensamento ?!

“D-desculpe!”

Meu corpo se lança para longe dela mais rápido do que o Golias me jogando pelo túnel.

Com meu rosto queimando em vermelho, eu me afasto do peito dela o mais rápido possível. Ignorando a dor insuportável, eu me esquivo para colocar alguma distância entre nós.

Meu corpo se move quase como se fosse um reflexo. Perdendo meu equilíbrio novamente, eu bato a parte de trás da minha cabeça no chão, e as estrelas dançam na frente dos meus olhos. Para piorar a situação, grito de agonia na frente de Aiz e agarro a parte de trás do meu pescoço.

Vergonha e dor percorrem meu corpo quando… Swish. Meu cabelo passa contra alguma coisa.

“Ah… Welf.”

Ele estava dormindo profundamente sob cobertas grossas exatamente onde eu caí. Lutando contra a dor, forço meu corpo novamente e dou uma boa olhada ao redor. Lili está ao lado dele, do outro lado.

Eu posso sentir a tensão sair dos meus ombros quando olho para eles dormindo. Finalmente, alívio.

“Eles estão bem… Riveria e os outros os curaram.”

Após uma inspeção mais minuciosa, a perna direita de Welf e os inúmeros ferimentos de Lili haviam sido tratados. Eu não acho que nossos socorristas fizeram algo extravagante, mas ambas as feridas de Welf e Lili foram cuidadosamente embrulhadas em bandagens.

“Eles sofreram muitos danos… mas você estava em péssimo estado…”

Somente depois que ela diz isso, percebo que minha cabeça também está envolvida em bandagens. Ela separa minha franja com os dedos e acaricia lentamente minha cabeça.

Minhas bochechas ficam vermelhas quando sinto as pontas dos dedos dela percorrendo meu cabelo.

E então: “Alguma dor?” Ela inclina a cabeça para o lado enquanto pergunta. Esse é o golpe final.

Meu corpo inteiro fica vermelho.

“M-muito obrigado… por nos salvar, de verdade…”

De alguma forma eu consigo forçar meu corpo a se afastar de suas mãos gentis e expressar minha gratidão.

Aiz coloca as mãos no colo e balança a cabeça de um lado para o outro. “Não foi nada”, diz ela com um pequeno sorriso. Não sei por que, mas me sinto muito feliz agora.

Então ela me olha com seus olhos dourados e pergunta quais são os nossos planos daqui em diante.

Ela lentamente move a cabeça para olhar em direção a saída da barraca.

“Você pode se mexer?”

“Umm… S-sim.”

“Finn me disse… Nosso comandante me disse para contatá-lo. Venha comigo, você consegue?”

Aiz se levanta quando eu aceno com a cabeça.

Eu rapidamente me levanto. Ela oferece a mão para me ajudar, mas eu não posso me dar ao luxo de me envergonhar ainda mais. Tentando exibir alguma quantidade de masculinidade, eu respeitosamente recuso. Há uma nova onda de dor… owwww…

Concentrando-me completamente nas minhas pernas oscilantes, finalmente me levanto. Todos os músculos do meu corpo estão reclamando, mas eu posso lidar com isso. Sigo Aiz pela saída enquanto ela levanta a porta de tecido da barraca.

“Uau…?!”

Um enorme acampamento apareceu.

Estamos cercados por árvores, mas a floresta não é tão densa aqui. Barracas foram armadas ao nosso redor. Todas elas estão voltadas para uma área central. Grandes caixas de carga estão em cima das raízes das árvores por todo o acampamento.

Anões, meio feras, elfos… Uma quantidade surpreendente deles são mulheres. Outro grupo de aventureiros, uma mistura de semi-humanos, tem um ar muito sério sobre eles. Mas alguns estão apenas conversando, quase relaxando um com o outro. Dois meio feras estão sentadas um ao lado do outro na grama. Um anão e uma elfa, um com os braços cruzados encostado em uma árvore enquanto a outra usa as mãos para fazer gestos enquanto ela fala… Suas armas e armaduras mostram sinais de ferozes batalhas, e ainda assim brilham. Quem fez seu equipamento era extremamente bom.

Um grupo de aventureiros do que poderia ser chamado de a mais forte <Família> em Orario… posso sentir a aura de força irradiando de todos eles. Meu corpo está instintivamente tentando se afastar deles.

Os membros da <Família Loki> começam a nos notar.

Mas eles parecem passar por Aiz e ir direto para mim. Eles não parecem todos felizes em me ver. Por outro lado, é apenas natural, olhando pelo ponto de vista deles… Mas o que é isso… Eles estão me olhando como se eu fosse uma espécie de inimigo. Aiz inclina a cabeça.

Uma gota de suor frio rola pelo meu pescoço quando algo me ocorre. É porque Aiz está cuidando de mim? Estou ponderando sobre esse assunto quando Aiz começa a andar. Eu quase tropeço tentando acompanhá-la.

Uma enxurrada de olhares inquisitivos continua chegando enquanto eu avanço. Ainda sim, esta é uma floresta, digo para mim mesmo enquanto olho para o cobertura escura acima, tentando não chamar a atenção de mais ninguém. As folhas e galhos criam um tipo de cúpula sobre nossas cabeças.

No entanto, a luz do sol pisca através das aberturas.

Parece quente no meu rosto. Para completar, acho que consigo ver azul através das folhas.

Essa é a Dungeon. Nenhuma luz do sol chega aqui — então por que há sombra e um céu azul? Estou tão confuso.

Existe realmente um céu azul e um sol quente do outro lado dessas folhas?

“O que há de errado?”

“Ah, é… hum, bem…”

Aiz deve ter percebido minha perplexidade, porque ela se virou para mim.

Meu cérebro confuso tenta pensar em como responder. No final, não consigo controlar minha curiosidade, então eu faço uma pergunta.

“Este é o décimo oitavo andar… da Dungeon, certo? Por que é tão brilhante…?”

Eu olho para o céu enquanto falo. Eina nunca mencionou nada sobre isso — aposto que ela nunca pensou que eu chegaria tão longe no meu primeiro dia nos níveis intermediários — por isso estou completamente sem ideias. Aiz segue meu olhar, seu queixo fino se levanta.

“… Devemos fazer um desvio?”

Ela olha para mim de novo e eu aceno desajeitadamente.

Nós nos desviamos de nossa rota original e deixamos a área do acampamento. Esta parte da floresta, completamente intocada pelos seres humanos, se espalha ainda mais alto do que as copas das árvores acima de nós. Não sei por que, mas sinto que um peso está saindo dos meus ombros.

Eu sigo seus cabelos dourados por alguns minutos antes da paisagem tirar o meu fôlego.

Cristais.

Claros e brilhantes, eles são absolutamente lindos.

Alguns deles são realmente pequenos, não maiores que o meu pé. Mas há alguns que são tão grandes que eu poderia ficar dentro deles. Um gigante poderia usar uma dessas coisas como uma adaga. Cristais de todas as formas e tamanhos pontilham a paisagem.

Minha cabeça está girando. Os cristais parecem estar brotando em pequenos grupos, com cristais altos e finos emitindo luz azul. A floresta inteira está silenciosamente iluminada por seu brilho. O chão da floresta está coberto de pequenos fragmentos azuis, juntamente com uma boa quantidade de musgo e raízes de árvores.

É uma visão incrível e maravilhosa.

É impossível não ficar parado olhando.

O som da água fluindo enche meus ouvidos. Um pequeno rio atravessa essa floresta. Membros da <Família Loki> estão tirando água dela. Um elfo percebe Aiz e acena.

Dizem que a terra natal dos elfos está em algum lugar no fundo de uma floresta.

Mesmo que eu nunca tenha visto, tive a sensação de que seria um lugar muito parecido com esse.

“Ah…”

A floresta se abre.

Aiz continua andando pela floresta banhada em luz branca, em direção a uma saída semicircular em forma de arco. Cubro meus olhos enquanto eles se ajustam a este novo caminho mais brilhante.

Pisco algumas vezes enquanto tudo entra em foco.

“… Incrível.”

Uma fronteira selvagem se abre na minha frente.

A primeira coisa que meus olhos percebem é a grande planície. Minha visão é preenchida com um verde que eu nunca vi na superfície. As pequenas sombras se movendo são provavelmente monstros. Mesmo aqui, os cristais estão espalhados por toda a paisagem.

Há uma lagoa a minha esquerda… Pensando bem, é grande o suficiente para chamá-la de lago. A superfície perfeitamente lisa é de um azul incrivelmente puro. Lá há algumas rochas grandes — não, ilhas — saindo do meio.

A floresta se espalha a minha direita. É muito maior do que eu pensava. E então, bem na minha frente, posso ver claramente uma grande árvore saindo do meio das planícies.

Meus olhos seguem seu tronco enorme até…

Por acaso, vislumbrei o teto.

“… Ah, aquilo não é?”

“Sim, são cristais.”

Aiz foi gentil o suficiente para responder a minha pergunta inacabada.

Assim como ela disse, todo o teto desse nível é coberto por uma camada de cristais.

Eles vão de um canto ao outro, como um campo de flores desabrochando olhando para baixo. Eles são divididos em duas cores: os grandes do centro são brancos e me lembram o sol; os que rodeiam os brancos são azuis como o céu.

Não há céu azul na Dungeon.

Mas todos os cristais acima de nós fazem parecer que existe.

“A luz dos cristais desaparece depois de um tempo… É quando a noite chega.”

Meus olhos se abrem de surpresa.

Segundo Aiz, a quantidade de luz muda da mesma maneira o tempo todo. Agora é a “tarde”. Aparentemente, ele não corresponde ao céu real, no entanto…

É quase como se a Dungeon prepara-se isso olhando para fora, eu penso comigo mesmo enquanto olho para os cristais azuis.

“…”

O ponto seguro, nível dezoito.

Um mundo cheio de natureza e cristais bem abaixo da superfície.

Tem outro nome: Resort Inferior.

Planícies e um lago, com um céu azul. Eu estou ao lado de Aiz e guardo tudo isso dentro de mim.

De volta ao acampamento no meio da floresta, há uma barraca um pouco maior que as outras.

Uma bandeira com o emblema da <Família Loki> está pendurada no interior.

E agora estou diante de alguns dos aventureiros mais famosos em Orario.

“Aiz me contou sobre sua situação… mas eu não achei que você já tinha sido levado para o nosso acampamento.”

A pessoa falando comigo tem cabelos loiros, muito parecidos com os cabelos dourados de Aiz. Seus olhos são de um azul profundo, da mesma cor de um lago. Agora mesmo, ele está fazendo o seu melhor para forçar um sorriso.

Apenas ficar em pé na frente desse Pallum está fazendo todos os cabelos no meu corpo ficarem de pé.

Não, não é só ele. Existem dois semi-humanos incrivelmente fortes atrás de cada um de seus ombros. Eu lanço alguns olhares na direção deles, mas eu evito o contato visual a todo custo.

“Oh-ho, esse é o aventureiro que você estava falando, Riveria?”

“De fato, Gareth. Este é Bell Cranel.”

Um anão robusto e uma elfa muito refinada. Eu posso sentir seus olhares; apenas ouvindo a conversa deles, sei que eles estão me avaliando, me julgando. Está me deixando ainda mais nervoso.

O Pallum é Finn Deimne, ele é o aventureiro de mais alto nível da <Família Loki> e é o líder do acampamento. O Anão forte e sábio é Gareth Landrock. E a mais poderosa usuária mágica de Orario é a elfa Riveria Ljos Alf.

Os três são todos de primeira classe e são praticamente o rosto dos aventureiros de Orario.

“O-o-obrigado por tudo que vocês fizeram. E-e-eu não posso agradecer o suficiente…!”

Acabei de me tornar um aventureiro de classe alta. Mas olhando para estes três — e Aiz também — não há dúvida de que eles estão em uma categoria própria, muito acima de mim.

Estou fazendo o possível para expressar minha gratidão, corpo curvado e cabeça baixa. Mas sinto que minha patética gagueira e fraqueza está apenas irritando eles. Até Aiz, parada ao meu lado, está olhando engraçado para mim.

A pele do meu corpo está vermelha o suficiente para rivalizar com a lã da salamandra que estou usando.

“Não fique tão tenso, vá com calma. Somos todos aventureiros, não somos? É em momentos como esses, que temos que nos ajudar “, diz Finn Deimne enquanto ele alonga os ombros. “E considerando que você é amigo de Aiz, não podemos exatamente afastar você. Ela guardaria um rancor pior do que você pode imaginar. Se não fizéssemos tudo ao nosso alcance para ajudar, nenhum de nós poderia dormir a noite.”

Há um tom de humor na voz dele. Estou tão nervoso que quase não percebo. Um sorriso cresce nos meus lábios antes que eu perceba. Cada fibra do meu ser está me dizendo para manter distância deles, mas o ar parece mais leve de alguma forma.

Aiz lançou um olhar para ele. Eu acho que significou algo como “não diga nada estranho”. Toda a tensão na sala de repente sai. A atmosfera aqui é quase cômica.

O Sr. Finn sorri para mim. Todos os meus nervos se acalmaram.

“Eu acredito que entendi exatamente o que aconteceu, mas eu posso ouvir isso em suas próprias palavras? Também vou falar para você sobre a nossa situação. Pense nisso como uma troca de informações.”

“Ah, claro.”

Esse garoto tem habilidades interpessoais muito boas. Eu me sinto muito confortável dizendo tudo para ele. Deve vir da experiência. Eu aceno e começo a falar.

Do décimo terceiro ao décimo oitavo, não poupo detalhes na minha explicação.

“Ga-ha-ha! Todo o caminho até o nível dezoito no seu primeiro dia! Finn, Riveria, vocês estavam certos! Esse jovem é bem interessante!”

“Gareth, isso não é uma conversa particular. Por favor, segure sua língua.”

A elfa Riveria lança um olhar de aviso para o anão, Gareth.

Na verdade, eu disse a eles que descer para o décimo oitavo andar era ideia da Lili… mas o anão não prestou atenção. Em vez disso, ele continuou me elogiando, dizendo coisas como: “Você é muito sortudo! Escapando do chefe de andar assim!” Não posso deixar de sorrir para ele.

“Quanto a nós, estamos descansando aqui. Geralmente passamos direto pelo décimo oitavo andar, indo diretamente para a superfície ao retornar de uma expedição… mas desta vez encontramos alguns monstros com um veneno particularmente forte.”

O Sr. Finn continua dizendo que boa parte dos aventureiros da <Família Loki>, excluindo os de nível superior, como Aiz, estão envenenados. Muitos deles não podem se mover por conta própria.

Já que eles estavam voltando de uma expedição… significa que seu estoque de itens de cura é muito baixo, eles não tinham como curar a todos. Era impossível para eles continuarem se movendo como um grupo.

“Enviamos Bete, o membro mais rápido da nossa família, para reunir alguns antídotos na superfície. Com sorte ele voltará amanhã, mas de qualquer jeito, estamos presos até ele chegar.”

Aparentemente, ele partiu para coletar os itens de cura antes de chegarmos no décimo oitavo andar.

Nós não nos encontramos porque usamos os buracos em vez de seguir o caminho regular.

“Temos poucos suprimentos, principalmente comida. Nós lhe daremos tudo o que podemos, mas entenda que não é muito.”

“N-não, seremos extremamente gratos por tudo!”

Considerando o fato de que eles já nos deram uma barraca para usar, embora muitos de seus membros estejam sofrendo com o veneno, eles já nos tratou extremamente bem. Não temos o direito de reclamar.

“É apenas por pouco tempo, mas nós iremos tratá-lo como um convidado. Desde que você não tente causar problemas, você pode usar a barraca enquanto estivermos aqui. Vou avisar a todos sobre isso.”

“… Realmente, sou muito grato por tudo… Muito obrigado.”

Eu agradeço a ele, preenchendo minhas palavras com a maior gratidão possível.

“Você nos deve uma”, diz Finn com um leve sorriso. Eu digo mais alguns obrigados enquanto Aiz e eu deixamos a barraca.

“Você tem certeza, Finn?”

Riveria fez uma pergunta a Finn depois que Bell deixou a barraca.

Os cabelos verde-esmeralda balançavam em volta dos ombros enquanto ela olhava em direção ao pequeno general.

“É verdade que Aiz gosta dele… Além disso, há um membro da <Família Hephaistos> no grupo de Bell.”

“Você tem certeza disso?”

“Sim. Um dos ferreiros me disse.”

Os Grandes Ferreiros da <Família Hephaistos> se juntaram a esta expedição ao lado da <Família Loki>. Um dos ferreiros informou a Finn que ele reconheceu Welf quando o jovem foi levado para o acampamento.

“A deusa Hephaistos não considera que nenhum de seus seguidores é mais importante do que os outros, certo? Eu odiaria ver o lado ruim dela só porque nós nos recusamos a ajudar um deles.”

“Lógico”, assentiu Riveria com um olhar satisfeito no rosto.

Finn virou os olhos para encontrar o olhar dela.

“A cereja no topo do bolo é que você também está interessada em Bell Cranel, não é mesmo, Riveria? Aiz se interessou por ele, então como você também não se interessaria?”

“… eu não vou negar isso.”

“Ga-ha-ha! Olhe para você, Riveria! Sendo toda maternal!”

“Sem brincadeiras, Gareth”, respondeu ela, parecendo um pouco irritada.

As gargalhadas do grande anão continuaram iguais.

“É bom que ela demonstre interesse e iniciativa… Pessoalmente, acho que esta é uma oportunidade para ela. Mas e a sua perspectiva como o líder da nossa <Família>? É muito provável que a razão pela qual Aiz tenha saído de casa antes da expedição, foi para se encontrar com Bell Cranel.”

Finn, como Riveria, havia notado mudanças estranhas no comportamento dela antes da expedição, como perguntar como dar comandos para os aventureiros. Eles podiam ver o efeito que as sessões de treinamento com Bell tiveram na garota.

“Hmm, acho que seria bom para Aiz mudar também… Mas por agora, vamos manter Loki no escuro sobre isso.”

“Ei, Finn! Você devia desafiar Bell Cranel para uma luta livre! É um estilo de luta que Loki estava falando. E esse velhote gostaria muito de saber o quão forte ele é.”

“Hmm… não.”

Finn explicou que, como líderes do grupo, não havia espaço para descuido. Eles poderiam acabar colocando o garoto que estava seguindo Aiz pelo acampamento em perigo.

“De qualquer forma, não deve haver problemas. Bell Cranel não parece o tipo de humano que iria procurar uma luta. Vamos ficar de olho nele por enquanto,” disse Finn, lançando seu olhar de volta para a saída da barraca.

Sigo Aiz de volta ao acampamento principal depois de me encontrar com o Sr. Finn e os outros.

Se eu tivesse que adivinhar, diria que há mais de dez barracas brancas montadas na floresta. Tenho certeza de que há pessoas sofrendo com o veneno dentro de cada uma delas. Aventureiros saudáveis ​​ficam de guarda do lado de fora de cada barraca.

A luz que passa através dos galhos e folhas é suave. As folhas farfalham nas árvores acima de nós, mas não somos os únicos fazendo coisas normais.

“Aiz, boa tarde.”

“Boa tarde…”

Os membros da <Família Loki> cumprimentam Aiz enquanto passam.

É isso mesmo, ela é uma das líderes deles…

Esquecer algo tão importante envia uma pontada no meu corpo. Eu pertenço a uma <Família> diferente, e aqui estou eu andando com ela assim. Não é estranho que eu esteja recebendo todos esses olhares estranhos.

Como prova, “acolhedor” é a última palavra que eu usaria para descrever sua atitude em relação a mim. Homens e mulheres olham para mim como se eu fosse algum tipo de criminoso ou me encaram com olhos muito sérios.

Uma elfa que acabou de passar, provavelmente uma usuária de magia, não parou de encarar até que ela passou por mim. Eu estou assustado…!

Eu seria dominado em um instante se me envolvesse com qualquer um deles. Eles estão em um nível mais alto do que eu, com certeza. E tenho certeza de que eles não estão exatamente felizes comigo andando pelo acampamento assim.

“Nível dezoito…”

“Hã?”

Aiz de repente fala de costas para mim.

Olho para cima e vejo que ela está olhando por cima do ombro para mim.

“Você… já chegou ao nível dezoito…”

“Eh, umm… Assim como eu disse ao Sr. Finn, uma coisa levou a outra e nós meio que acabamos aqui… Não estávamos planejando, e nós quase morremos!”

Tropeço nas minhas palavras enquanto tento responder e arranho o curativo da minha bochecha.

Aiz se vira para me encarar, como se ela não estivesse satisfeita com tal resposta fraca.

“Matar aquele Minotauro fez você subir para o Nível Dois?”

Ela não está piscando. Seu olhar é bastante intimidador, então eu aceno com a cabeça.

Ela fica assim por um momento antes de torcer o corpo como se estivesse tentando dar uma olhada nas minhas costas.

Então: shuffle, shuffle. Ela se move para o meu lado. Eu faço o meu melhor para ficar parado e começo a suar frio.

… Ela está tentando olhar o meu Status?

Não sei por que estou tendo essa impressão, mas mais uma vez, shuffle, shuffle. Ela se move mais uma vez. Eu também me movo. Shuffle, shuffle, passo, passo, shuffle, shuffle, passo, passo. O que está acontecendo?

Outros membros de sua <Família> estão nos observando. O garoto de cabelos brancos brilhando de suor e a boba Aiz — deve parecer que estamos fazendo algum tipo de prática de dança… Do nada:

“Uau — é mesmo o Argonauta!”

Uma voz muito enérgica chega aos meus ouvidos.

Claro, eu não esperava que alguém falasse, mas foi pelo que ela chamou que fez meu coração pular mais forte.

Eu giro rapidamente para encarar o dono da voz e vejo duas garotas com a pele morena chegando até mim.

“Tiona, Tione…”

“Você esteve ocupada, Aiz. Ouvi dizer que você já conversou com Finn?”

“Ouvi dizer que você foi carregado, mas você está acordado! Você é um sortudo, Argonauta!”

Aiz chamou essas duas de Tiona e Tione… gêmeas, talvez? Uma tem cabelos pretos longos o suficiente apenas para cobrir os ouvidos; o da outra é da mesma cor e se estende até a metade das costas dela. Suas roupas são diferentes, mas seus rostos são quase idênticos. A altura delas também.

Com base na pele bronzeada, é uma aposta segura dizer eles são Amazonas. A de cabelos compridos fala primeiro com Aiz, enquanto a de cabelos curtos chega até mim… No entanto.

Ela me chamou de “Argonauta” duas vezes. Esse é o mesmo nome da minha Habilidade. Sangue está rasgando pelas minhas veias.

Ela sabe?! Minha mente está acelerada. Eu abro e fecho a boca, tentando falar, mas nada sai. Na minha terceira ou quarta tentativa, as palavras finalmente emergem.

“A-Argonauta? O que você quer dizer…?”

“Ahh, não ligue para ela. É apenas um nome que essa idiota inventou para chamar você.”

“Todos nós vimos você lutar contra aquele Minotauro! E ver você me lembrou desse conto de fadas que eu adorava quando criança. Então, sim, você estava incrível!”

De alguma forma, minha batalha com o Minotauro no nono andar a lembrou da lenda do Argonauta. Eu respiro fundo e sinto o alívio sobre mim. Não era minha Habilidade, mas a personalidade dessa garota que a levou a me chamar de Argonauta. O Status de um aventureiro, Magias, e Habilidades são a sua salvação. Eles são mais bem protegidos.

Começamos a nos apresentar.

A garota que me chama de Argonauta é Tiona Hiryute e a garota de cabelos longos é Tione Hiryute… Espere um minuto. As irmãs Amazonas Hiryute? Elas não são aventureiras famosas de primeira classe como Aiz?

Claro, eu nunca as vi cara a cara e nunca soube seus primeiros nomes, mas levei muito tempo para descobrir.

“O fato de você estar aqui significa que atingiu o Nível Dois, estou certa? Eu sei que você pode derrubar um Minotauro por conta própria, mas você é incrível, garoto.”

“Ah! Ele está corando! Tão bonitinho!”

“…”

A provocação delas me faz sorrir, mas, para ser sincero, não consigo me concentrar no que elas estão dizendo.

Meus olhos continuam à deriva em direção às amplas extensões de pele bronzeada.

Tiona só tem uma tira de tecido enrolada no peito. Sua saia desce até os joelhos, mas sua barriga está completamente exposta. Enquanto isso, o traje de Tione parece um pouco mais do que roupas íntimas — sutiã e calcinha… Ou seja, não há um lugar seguro para colocar meus olhos. É ou olhar para seus grandes seios balançando enquanto ela se move ou seguir seu longo e esbelto corpo cintura abaixo…

Esse novo tipo pressão é esmagador.

Cercado por garotas bonitas que são provavelmente ​​alguns anos mais velhas do que eu… sinto que posso desmaiar a qualquer momento.

((((Não fique convencido!))))

” — ”

Eu não ouvi exatamente o tanto quanto eu senti.

Veio de todos os homens ao redor do acampamento com os olhos em nós — olhos frios e brilhantes.

A cor saiu do meu rosto em um instante.

“E-eu vou checar meus amigos ?!”

Acho que ouvi alguém dizer: “Ah, lá vai ele”, enquanto eu faço minha fuga.

Eu quase caio várias vezes enquanto corro como um louco para colocar alguma distância entre as meninas e eu.

A floresta está ficando mais escura.

A “luz do sol” descendo através das muitas folhas acima da minha cabeça está escurecendo… A luz dos cristais está desaparecendo.

A “tarde” na Dungeon acabou. A “noite” está prestes a começar.

Está realmente escurecendo…

Olho para fora da barraca.

Não há um crepúsculo vermelho entre os dois; o “céu” vai do azul para o preto. Embora pareça um pouco estranho que a progressão natural lá de fora não exista aqui embaixo, ainda é incrível para mim que a noite possa cair na Dungeon.

Saio da entrada da barraca e volto para dentro.

Lili e Welf ainda estão dormindo. Mesmo que não haja nada a fazer, eu sinto que estou cuidando deles enquanto olho para seus rostos pacíficos.

O acampamento fica mais animado com o passar do tempo. Eu não sei o que está acontecendo, mas eles provavelmente estão fazendo o jantar agora.

“Hnnn…”

O corpo de Welf se move. Ao mesmo tempo, o cobertor sobre Lili começa a se mover pouco a pouco.

Outra onda de alívio flui através do meu corpo.

“… Onde estamos?”

“Sr. Bell…?”

Ambos piscam lentamente enquanto olham em volta. Saber que ambos estão vivos tira o último pedaço de peso dos meus ombros, e eu posso finalmente respirar com calma.

Eu falo com eles, minha voz está relaxada e calma.

“Lili, Welf, vocês dois estão bem? Você sabem quem eu sou?”

“… Lili não acha que haverá um dia em que ela não reconhecerá o rosto do Sr. Bell.”

“Ah… Pequena L está tão petulante como sempre. Não há nada de errado comigo. E aí, Bell.”

Um sorriso percorre os lábios de Lili enquanto Welf responde de maneira normal.

Eu sorrio de orelha a orelha e espero que os dois acordem completamente.

Ambos estão um pouco tontos depois de abrir os olhos, mas depois de um tempo suas cabeças clareiam o suficiente para se sentarem sozinhos. Eles ficam no chão, os cobertores cobrindo as pernas enquanto eu explico tudo o que aconteceu.

Primeiro, como chegamos em segurança ao décimo oitavo andar. Em seguida, que a <Família Loki> está cuidando de nós.

Eu tento ser o mais simples e preciso possível. Ambos se sentam quietos, olhando para mim até eu terminar. Então… eles se desculpam.

“Lili sente muito, Sr. Bell…”

“Eu atrapalhei você lá atrás, eu não… desculpe, cara.”

“N-não é assim!”

Ambos ficam em silêncio quando as palavras saem da minha boca.

Pareço quase zangado ao liberar tudo de uma só vez. Se Lili não estivesse lá, teríamos vagado sem rumo pela Dungeon por sabe-se lá quanto tempo. Se Welf não estivesse lá, os Cães Infernais teriam nos assados vivos.

Os olhos de Lili e Welf parecem encolher enquanto ouvem silenciosamente meu discurso.

“É graças a vocês dois, graças a todos nós… que estamos aqui, que sobrevivemos.”

“… Bem dito.”

“Nós morreríamos se um de nós não estivesse aqui. Lili concorda.”

A confiança deles parece estar voltando. Seus rostos se transformam de caretas para sorrisos reais.

Ao mesmo tempo, sinto-me um pouco envergonhado com a minha explosão.

Um momento depois, nós três enrugamos o rosto enquanto rimos juntos.

“… O jantar está pronto. Você está bem?”

“Ah sim!”

Eu pulo de pé em resposta a uma voz vinda de fora da barraca. Aiz enfia a cabeça para dentro.

As mandíbulas de Lili e Welf caem quando a Princesa da Espada aparece na frente de seus olhos.

“O-obrigado, sério. Compartilhando comida conosco e tudo mais…”

“Não é nada… vocês podem vir para fora?”

Eu congelo por um momento. Eu tenho um mau pressentimento sobre ir lá, mas eles fizeram muito para nos ajudar, então… seria rude não dizer oi, não seria?

Olho para Lili e Welf e uso meus olhos para perguntar se está tudo bem. Os dois acenam.

Eles se levantam e todos nós seguimos Aiz para fora da barraca e em direção ao acampamento.

“Ei, Bell. Como você conhece a Princesa da Espada?”

“Umm… é uma longa história.”

“Sr. Bell. Por favor, conte a Lili tudo sobre isso em breve.”

Estou emprestando meu ombro para Welf mais uma vez e Lili está sorrindo ao meu lado, mas é um pouco assustador.

Essa história é um momento embaraçoso após o outro, então prefiro não dizer a ela se eu puder evitar…

Nós três forçamos uma risada vazia enquanto acompanhamos Aiz.

Lili e Welf começam a olhar em volta e a absorver tudo. Chegamos ao centro do acampamento rapidamente.

“Humph, são eles…”

Um grande número de pessoas estão sentadas em círculo no espaço aberto no centro de seu acampamento. Algumas lâmpadas de pedras mágicas estão instaladas no meio. Brilhantes e tremeluzentes, parecem quase chamas. Se eu me lembro bem, esse design é chamado de “fogueira”.

Esse grande círculo não é formado apenas por membros da <Família Loki>. Os Grandes Ferreiros da <Família Hephaistos> também estão aqui. Aiz explica o que está acontecendo enquanto Welf reconhece alguém no círculo e murmura.

“O-olá…”

Todos os olhos estão em nós. Fazemos nosso caminho até um lugar vazio e nos sentamos.

No momento em que me sento, Aiz se senta à minha direita. Lili se senta à minha esquerda e Welf do outro lado dela. Nós naturalmente nos sentamos de acordo com o nosso ranking… o que é meio assustador.

Eu já me sentei ao lado de Aiz antes, durante nossas sessões de treinamento matinal… mas ainda parece que há muita distância entre minha ídolo e eu. E eu não sei se isso vai embora algum dia.

Dou uma espiada na direção dela. No entanto, ela percebe imediatamente e faz contato visual. Seu cabelo dourado é sedoso e brilhante, como se ela tivesse acabado de tomar um banho. Parando para pensar sobre isso, o ar ao seu redor cheira a uma primavera quente.

“Algo errado?”

“… n-não! Está tudo bem!”

Eu posso sentir meu rosto esquentando, então interrompo o contato visual antes do meu rosto ficar vermelho.

“Todo mundo, por favor, ouçam. Como já contei para muitos de vocês, estamos hospedando alguns convidados hoje a noite. Todos eles corajosamente arriscaram suas vidas para salvar um ao outro e conseguiram chegar com segurança ao décimo oitavo andar. Eu não vou pedir para vocês serem amigáveis com eles. No entanto, gostaria que vocês respeitassem eles como colegas aventureiros enquanto estão conosco… Agora, vamos dar um novo começo.”

“Uau, ele é muito bom nisso…”

O Sr. Finn caminha até o centro do círculo e se dirige a todos. Ele apela ao orgulho de todos como aventureiros para ajudar a evitar discussões e brigas. Parece que Lili está realmente impressionada com sua abordagem.

Finalmente, a comida chega. Duas ou três frutas por pessoa.

São frutas vermelhas, em forma de cabaça. A parte cor de âmbar dentro delas parece doce… nunca vi nada assim na superfície. Elas devem crescer aqui no décimo oitavo andar. Eu cuidadosamente dou uma mordida na fruta que parece algodão banhado em mel. Não é de se admirar que ela seja chamada de “Nuvem de Mel”.

Minha boca se enche instantaneamente com um suco grosso e doce — e eu quase a cuspo.

É doce — muito doce. Eu não sou tão bom com coisas doces para começar, mas isso está me fazendo chorar. Eu sinto que vou morrer! Fazendo meu melhor para engolir, dou uma olhada em volta. As mulheres membros da <Família Loki> parecem estar gostando. Apenas uma mordida e seus rostos derretem, suas mãos nas bochechas. Eu posso dizer que arrepios estão correndo por suas espinhas.

“Sr. Bell, Sr. Bell? Lili ficaria feliz em terminar isso para você, se você não gostou?”

“C-claro. Aqui…”

“Oh, tudo bem — Ahhhh.”

“Tudo bem, Bell. Deixe comigo, eu vou terminar para você… Uau, você estava certo, muito doce.”

Lili se move para a minha frente e abre a boca, como se ela quisesse que eu a alimentasse. Mas antes que eu pudesse colocar o resto da fruta em sua boca, Welf a arranca da minha mão e devora tudo com uma mordida.

Lili está louca de raiva, seu rosto está vermelho como beterraba e uma veia sai de sua testa enquanto ela chuta Welf repetidamente na canela. Ele não parece notar, porque está batendo no peito como se a fruta estivesse presa em sua garganta.

Aiz assiste os eventos se desenrolarem, completamente sem palavras.

“Mas sim, eu ouvi histórias sobre esse lugar… Não é um andar normal da Dungeon, não é?” Welf deve ter conseguido engolir a fruta, já que está conseguindo falar.

Todos os cristais brancos no teto ficaram escuros, o que significa que apenas os azuis estão produzindo luz. Toda a floresta está coberta de uma sombra azul escura. Um “céu noturno” não muito diferente daquele lá fora da Dungeon, está do outro lado das folhas acima de nós.

Todos no círculo ao nosso redor são iluminados pelas cores laranja e bronze emitidas pelas lâmpadas de pedra mágica parecidas com uma fogueira. Eles estão todos comendo, bebendo e conversando. Eles parecem estar se divertindo, suas sombras dançando nas árvores atrás deles enquanto vários jogam a cabeça para trás, rindo ao mesmo tempo. Toda essa cena parece uma imagem dos contos que eu costumava ler —um grupo de aventureiros fazendo uma refeição juntos, no fundo de uma floresta sob a lua cheia.

Finn, Riveria e Gareth estão sendo servidos por outros membros do grupo — mais daquelas bombas de açúcar vermelha, pelo que parece. Eu não sei se é porque eles estão quase terminando sua expedição, mas os membros da <Família Loki> não parecem ansiosos.

Eu posso ver que eles têm algumas pessoas cercando o acampamento como vigias, mas todo mundo parece estar de férias.

“Frutas exóticas, um céu… Também deveria haver uma cidade aqui, certo?”

“Eh… uma cidade?!”

Essa é uma palavra que eu não esperava ouvir.

Um “céu” estando tão longe no subsolo já era difícil de engolir, mas uma cidade real na Dungeon…

Eu me viro para Aiz sem pensar. Ela olha por cima do seu prato de cubos de nutrição e rapidamente concorda.

“… Devemos ir amanhã?”

“Sim, por favor!”

Eu acho que nunca acenei com a cabeça tão rápido em minha vida.

Isso é tão emocionante! Eu tento imaginar essa cidade da Dungeon na minha cabeça. Como seriam os edifícios? O que as pessoas fazem lá…? Muitas perguntas correm pela minha cabeça. Esse deve ser um dos encantos de ser um aventureiro! Eu digo para mim mesmo quando meu entusiasmo chega a outro nível.

Meu rosto deve estar radiante agora. Aiz olha para mim de lado… eu acho que ela está sorrindo.

“Oi, Sr. Argonauta!”

Eu sei exatamente quem é mesmo antes de olhar para ver a Srta. Tiona andando em minha direção.

A irmã mais velha, Srta. Tione, está apenas a alguns passos atrás. As gêmeas Amazonas vieram até mim mais cedo. Swoop. Elas se sentam em ambos os meus lados.

“O que?”

“Você tem que nos contar sua história. Pense nisso como pagamento pela comida e hospedagem. Você não se importaria, não é?”

“Por favor, por favor!”

Lili olhou boquiaberta para a Srta. Tione enquanto ela se aproximava de mim. Aiz apenas inclinou a cabeça para o lado enquanto a Srta. Tiona se sentava. Todo o ar deixa meu corpo enquanto a pele delas se escova contra a minha, meu corpo prensado entre elas. Meu rosto deve estar da cor de carne crua agora.

Lili parece chateada, as sobrancelhas levantadas. O rosto da Srta. Tiona aparece a minha direita. Ela parece muito feliz e animada por algum motivo. Então ela me faz uma pergunta.

“Como você conseguiu colocar todas as suas habilidades básicas em ‘S’?”

Meu rosto tenta se esconder atrás do meu crânio.

Meus músculos meio que se abrem em um sorriso enquanto olho para a esquerda. A Srta. Tione está rindo, seus olhos estreitos. A mensagem que recebo desse olhar é: você não vai fugir até falar.

Uma nova rodada de perguntas surge em minha mente: Quando que meu Status foi exposto? Como ela sabe quais eram minhas habilidades básicas? Mais e mais aparecem a cada segundo. Meu coração treme dentro do meu peito e ele não vai se acalmar.

E se eu responder honestamente… Ela ficaria satisfeita se eu dissesse “com esforço”? Tudo o que fiz foi tentar perseguir meu objetivo, minha ídolo.

E quanto a ídolo, ela está sentada ao lado com os braços em volta dos joelhos e não fazendo muita coisa. No entanto, posso dizer que seus ouvidos estão em alerta máximo… Minha ídolo pode ser cruel às vezes.

O Sr. Finn e a Srta. Riveria estão apreciando a vista da floresta um pouco longe, mas eles não fazem nada para intervir. O Sr. Gareth está olhando diretamente para mim, acariciando sua barba e absorvendo cada palavra.

Welf é minha última esperança. “O que foi, garotinho Welfy? Você sente tanto a nossa falta que você nos segue até aqui como um cachorrinho perdido? Que gentileza sua.” Ele está cercado pelos ferreiros da <Família Hephaistos>.

“Ei, já chega! Se manda!” Ele parece realmente zangado. A Lili ainda está furiosa, olhando para as gêmeas Amazonas e até para mim.

Estou completamente isolado.

Rios de suor frio fluem pela minha pele. Eu daria tudo para desmaiar agora mesmo.

“— GUnuAHH ?!”

Veio nada.

“?!”

Conheço essa voz melhor do que ninguém, mas esse é o último lugar que eu deveria ouvi-la.

Lili e eu imediatamente nos olhamos. Ela também sabe. Nós dois acenamos a cabeça firmemente.

“Com licença, por favor, deixe-me passar!”

Não espero nenhuma delas responder e fico de pé.

Eu saio andando com Lili logo atrás de mim e Welf não muito longe atrás dela.

Eu corro na direção do som. A floresta se abre rapidamente acima. Eu posso ver um penhasco enorme na minha frente e a entrada de uma caverna circular em sua base. Esse é o túnel que liga o décimo sétimo ao décimo oitavo andar, com certeza.

Os vigias da <Família Loki> já estão se reunindo no local. Eu me aperto para passar e vejo…

“Owwwww… ?! Ninguém nunca me disse que os monstros eram tão grandes ?!”

“Ah-ha-ha-ha-ha! Eu pensei que era o fim!”

A deusa está de quatro, ofegante.

Sinto minhas pálpebras abrirem. Há também uma divindade masculina sentada no chão ao lado da minha deusa, bem como um número de aventureiros tentando recuperar o fôlego —uma garota de óculos parece absolutamente exausta.

Eles devem ter escapado por pouco do chefe do andar, assim como nós. Eu reconheço o medo em seus olhos.

“… Ah.”

O grupo começa a me notar e a deusa levanta a cabeça. Ela olha ao redor até que, zing! Os olhos dela se fixam em mim.

Seus suaves olhos azuis crescem cada vez mais. Sem aviso, ela se lança para frente, tropeçando enquanto tenta correr em minha direção.

“— Bell!!”

“Ouff ?!”

Os vigias se afastam quando ela corre para a frente. A deusa pula e dá uma cabeçada no meu estômago.

Infelizmente, eu estava com os pés no chão e não estava preparado para o impacto. Eu caí e aterrissei de costas para o chão.

“Bell, Bell! Você é de verdade?!”

“D-deusa…?!”

Ela está sobre minha barriga, batendo vigorosamente em meus braços e pernas até alcançar meu rosto. Agarrando minhas bochechas, ela puxa meu rosto de muitas formas diferentes. Estendo a mão e de alguma forma consigo fazê-la soltar.

Estou prestes a perguntar por que ela está aqui enquanto me apoio nos cotovelos, mas ela pressiona seu corpo contra o meu e envolve os dois braços em volta do meu pescoço com tanta força que não consigo falar.

“…?!”

Meus olhos estão bem abertos, a pele vermelha e brilhante.

Sinto que estou sendo espremido por muitos travesseiros macios. Quase consigo ouvir o ar sendo empurrado entre nossos corpos.

A deusa me abraça completamente, colocando a cabeça debaixo do meu queixo. Hálito quente no meu pescoço, todo o seu peso nos meus ombros, e eu não tenho ideia do que fazer.

Eu tento dizer algo, mas o que? Abro e fecho a boca algumas vezes, quando de repente ouço:

“… Graças aos céus.”

Eu posso sentir sua voz suave na minha pele.

Meus nervos se acalmam, a tensão escoando dos meus ombros.

O corpo da deusa está tremendo como o de uma criança pequena. Seus braços finos me puxam para mais perto dela. Eu sinto algo molhado vindo do meu pescoço.

Não há mais necessidade de perguntar por que ela está aqui.

Ela estava preocupada e se arriscou para vir me encontrar.

Dou uma olhada em um de seus rabos de cavalo que está roçando o lado do meu rosto.

Nossos corpos e mentes parecem muito próximos, e até nossa respiração está alinhada. O calor do seu corpo me faz sentir como se algo insubstituível estivesse sendo reabastecido.

Devo abraçá-la? Eu fico sentado pensando por um momento e começo a levantar minhas mãos… É quando eu percebo que temos uma audiência.

Eles estiveram aqui o tempo todo, assistindo silenciosamente.

Meu corpo fica rígido como uma prancha novamente, enquanto o constrangimento inunda minha mente.

Minhas mãos estão fora do chão, mas ainda não estão ao redor da deusa. Com nenhum lugar para ir, elas meio que flutuam lá.

“Por favor, controle-se, Lady Hestia.”

“Ei! Não estrague nossa linda reunião! Gah! Me solta!”

Lili segura a gola do manto da deusa. Ela faz o seu melhor para resistir, mas a Pallum tem um Status. Lili é mais forte. Uma garotinha está puxando outra garotinha, enquanto os braços e as pernas da última se agitam tentando escapar.

Livre do abraço da deusa, eu assisto as duas com uma gota de suor escorrendo pela minha bochecha.

“Sr. Cranel, você está ferido?”

“Eh… R-Ryuu ?!”

Uma aventureira vestindo uma capa com capuz se aproxima e se ajoelha ao lado de onde estou sentado no chão.

Não só reconheço a voz, mas também consigo distinguir dois olhos azuis parcialmente escondidos sob o capuz.

Não há engano. É a linda garçonete elfa que trabalha na Senhora da Abundância.

“Ryuu também? Por quê…?”

“Uma certa divindade insistiu bastante para eu aceitar uma missão. Ele queria que eu me juntasse a equipe de busca para encontrar você.”

Ela olha para o outro lado.

Eu sigo sua linha de visão para o deus que estava ao lado da deusa momentos atrás.

Ele está sentado lá, o cabelo laranja se movendo enquanto olha em volta. Batendo no chão algumas vezes com as mãos, a divindade se levanta.

“Ok, tenho uma boa ideia do que está acontecendo.”

Ele olha para Aiz e outros membros da <Família Loki>, dando a todos um sorriso caloroso.

Então ele me nota olhando para ele.

Ele se aproxima, o rosto ainda preso naquele sorriso encantador.

“Então você é Bell Cranel, hein?”

“S-sim.”

Eu posso sentir seus olhos estreitos me analisando.

Meu corpo não se mexe, minha boca não se abre. Seus olhos se encontram com os meus e se estreitam mais ainda.

“Ahhh… eu estive procurando por você.”

Seus olhos pareciam sorrir depois que ele disse isso.

“Meu nome é Hermes. Prazer em conhecê-lo.”

“Lorde… Hermes?”

“Esse sou eu, Bell.”

Ele estende a mão sem quebrar o contato visual enquanto eu faço o meu melhor para responder.

É uma grande primeira impressão, com esse sorriso encantador e esse aperto de mão. Ele parece uma divindade amigável.

“Lorde Hermes, se você não se importa que eu pergunte, hum…”

“O motivo de eu ir tão longe para ajudar alguém que nunca conheci?”

“S-sim.”

“Veja bem, Hestia é uma velha amiga minha, então é claro que eu vou ajudá-la. Ela queria te encontrar, então naturalmente eu também.”

Ele olha para o local onde a deusa e Lili estão tendo uma conversa bastante espirituosa e ri para si mesmo.

Quando ele olha para mim, inclino a cabeça e digo: “Muito obrigado, senhor.”

Provavelmente é graças a ele que a deusa conseguiu chegar tão fundo na Dungeon. Tenho a sensação de que ele mexeu alguns pauzinhos para fazer isso acontecer.

“Não sou eu a quem deveria agradecer, são eles. É graças a aventureira encapuzada e aquelas crianças que conseguimos chegar tão longe.”

Ele aponta para um pequeno grupo de aventureiros que ainda estavam de pé na entrada do túnel.

Há uma jovem de cabelos azuis e óculos prateados. Os outros três usam armaduras iguais — provavelmente membros da mesma <Família>…

“… Ei, Bell.”

Eu os noto antes mesmo de Welf apontá-los.

Essas pessoas são —

Eu já vi aqueles olhos roxos. Eles estavam cheios de lágrimas no décimo terceiro andar.

Eles são a principal razão pela qual estamos no décimo oitavo andar agora… Os aventureiros que lideraram um enxame de monstros diretamente para nós.

Há um emblema brilhante em suas armaduras: uma espada saindo da Terra.

“— Nossas mais profundas e sinceras desculpas.”

De volta a barraca fornecida pela <Família Loki>.

Voltamos aqui depois de nos encontrarmos com o grupo liderado pela minha deusa.

Ryuu, Lorde Hermes e sua seguidora, a garota chamada Asfi, não vieram conosco.

A garota na minha frente tem os joelhos, as mãos e a testa pressionados no chão em desculpas.

“Whoa…” A deusa e eu damos um passo para trás por causa do poder esmagador, quase divino, de sua posição.

Estão esta é a técnica final da <Família Takemikazuchi>: o arco prostrado…!

“… Todas as desculpas no mundo não serão suficientes para a Lili perdoar você. Nós quase morremos.”

“Sim, isso não vai acabar com algumas palavras.”

Lili e Welf, no entanto, não se incomodam com a reverência. Eles se mantém confiantes e falam com muita seriedade em suas vozes. É um pouco intimidador, para falar a verdade.

Ouka e Chigusa estão atrás de Mikoto, não tendo certeza do que fazer. A garota no chão levanta a cabeça para encontrar os olhos de Lili. Ela mantém contato visual enquanto levanta o corpo e fica de joelhos.

“Hum, então, realmente… sentimos muito…”

“Sua raiva é justificada. Você é livre para nos repreender em seu coração.”

A tímida Chigusa gaguejou enquanto falava, os olhos escondidos pela franja. Mikoto, por outro lado, falou claramente e com grande remorso.

Passar monstros para outros aventureiros na Dungeon é normal. A tal ponto que, muitos aventureiros a consideram uma tática necessária para a sobrevivência. Ninguém espera que isso aconteça com eles… mas enquanto não houver malícia, espera-se que todos os aventureiros aceitem o fato de que podem receber um desfile em algum momento. Pelo menos é o que eu ouvi.

No entanto, no nosso caso, chegando tão perto da linha entre a vida e a morte por causa disso, deixou um gosto amargo na boca dos meus amigos. Até a deusa cruza os braços e solta um longo “Hmmmm” enquanto o drama se desenrola diante dela.

“Fui eu quem deu a ordem. Mesmo agora, acredito que foi a escolha correta.”

Disse Ouka enquanto caminha para a frente de Mikoto.

Eu olho com admiração para ele por um momento. Ele não mexe e nem treme, uma montanha no meio da barraca.

É mais do que provável… que Ouka tinha cuidadosamente considerado e pesado todas as opções. Ele escolheu a vida de seus amigos em vez da vida de estranhos.

Ele estava preparado para enfrentar esse tipo de resultado no momento em que deu a ordem, tudo por causa de seus aliados.

Não sei se está certo ou errado… mas ele tomou a decisão pelo bem de seu grupo.

“… Você tem coragem de dizer isso na nossa cara, grandão.”

Welf dá um passo na frente de Ouka e ajeita os ombros. Não seria um exagero dizer que o olhar em seus olhos pode matar um homem mais fraco.

Parece que tem uma bomba relógio aqui. Todo mundo está se olhando, se avaliando para uma luta. Mas eu meio que estou na terra de ninguém, olhando de um lado para o outro.

Algo ruim vai acontecer… Eu tenho que encontrar uma maneira de resolver essa situação, rápido —

“Olá novamente, pessoal. Estamos de volta. A <Família Loki> foi muito compreensiva com a nossa situação.”

Então é por isso que Lorde Hermes e Asfi desapareceram. Eles estavam obtendo permissão para permanecer no acampamento com o Sr. Finn e os outros líderes.

“Minha nossa… O que está acontecendo aqui, Hestia?”

“Ah, você sabe. Isso e aquilo.”

O resumo da minha deusa é um pouco breve demais, mas Hermes parece estar satisfeito com ele e dá um sorriso maior do que eu pensava ser possível.

“Não há necessidade de pensar tanto sobre isso! Olhe dessa maneira: Mikoto deve a vocês um grande favor. Ao mesmo tempo, você quer ser indenizada — estou certo?”

“Claro que nós queremos…”

“Pense nisso, Lili. Se chegar a hora, eles podem ajudar vocês a sair de uma situação complicada. Isso não soa bom?”

“… Se chegar a hora.”

Lorde Hermes se afasta do concurso de encarar de Lili e Mikoto e volta sua atenção para Welf e Ouka.

“Welf. Claro, esse grupo na sua frente colocou você em uma grande bagunça, mas eles vieram aqui porque queriam ajudá-lo. Minha presença não teve nada a ver com isso.”

… Um silêncio pesado cai.

“… eu vou deixar isso pra lá. Mas não pense que você foi perdoado.”

“Sim… está bem.”

Ouka também não parece particularmente feliz. Welf se afasta e volta para o meu lado.

De repente, a tempestade que estava se formando se dissipou. Pode não ser algo especial para uma divindade como Lorde Hermes… mas vê-lo limpar a atmosfera sem esforço assim, não posso deixar de ficar impressionado.

“Então, quais são os planos daqui em diante?”

Lorde Hermes sorri novamente e abre os braços como se nada estivesse errado em primeiro lugar. O resto de nós teve toda a raiva sugada de nossa corpos de uma só vez.

Lorde Hermes apontou para Asfi. A menina parece um pouco perplexa, mas se apresenta mesmo assim.

“Antes de tudo, com relação ao nosso retorno a superfície… Vamos deixar esse andar uma vez que a <Família Loki> mate o Golias. É do nosso interesse evitar o perigo.”

Todos nós concordamos.

“A <Família Loki> sairá daqui a dois dias, no mínimo.”

“O que significa que temos um dia inteiro sem nada para fazer… Como já estamos aqui, por que não fazemos um pequeno passeio no décimo oitavo andar?”

Parece que todo mundo gosta da sugestão do Lorde Hermes.

Esse pode ser um ponto seguro na Dungeon onde não nascem monstros, mas ainda é a Dungeon. Decidimos permanecer juntos como um grupo. Considerando que Aiz prometeu me levar para a cidade amanhã, concordamos que é para onde iríamos.

Nossa sessão de planejamento termina rapidamente. Agora tudo o que resta é dormir um pouco.

“Oh, é mesmo. Welf.”

“Lady Hestia?”

As mulheres tinham reivindicado o direito de dormir dentro da barraca, então os homens estavam saindo para vigiar e encontrar um lugar confortável para dormir quando Welf foi puxado.

A deusa também chamou Chigusa e recebeu dela um longo embrulho enrolado em pano branco.

“Isso é algo que Hephaistos mandou. Ela também tinha algo a dizer. Deixe-me ver… “Pare de colocar seus aliados em perigo por causa de seu orgulho” … ou algo assim.”

“…”

Welf fica em silêncio enquanto pega a arma da deusa e silenciosamente caminha para fora.

“Welf?”

 

“… Não é nada. Não se preocupe com isso”, ele responde para mim, mas ele não tirou os olhos da coisa coberta de panos em suas mãos.

A “noite” no décimo oitavo andar terminou. É “manhã” agora.

A <Família Loki> foi legal o suficiente para nos dar alguma comida no café da manhã. Aiz nos leva em direção a cidade, como ela prometeu que faria. A Srta. Tiona e a Srta. Tione também devem ter tido algum tempo livre, porque elas estão vindo conosco.

… Ryuu não está aqui.

Eu me pergunto o porque. Conversamos brevemente ontem, mas ela não foi até a barraca. Lorde Hermes disse que ela tinha algo que precisava cuidar e que eu não precisava me preocupar, mas pareceu estranho. Sigo Aiz para fora do acampamento com Ryuu em minha mente.

A cidade tem vista para o lago… ou melhor, foi construída na ilha principal no meio do lago. Saímos da floresta que cobre a parte sul do décimo oitavo andar em direção ao lago, no oeste.

“Hum, deusa…”

“Hum? O que foi, Bell?”

“Algo sobre você parece diferente, desde que você chegou aqui ontem…”

Aiz e os outros foram adiante. A deusa está bem perto de mim, então eu faço uma pergunta a ela.

Isso estava me incomodando há um tempo, mas agora é a primeira chance que tive para perguntar. “Ahh”, ela responde e sorri de volta para mim. “Todos os deuses e deusas tem uma aura especial. Estou escondendo a minha agora — então ninguém sabe que eu estou aqui.”

Aura… A maneira que o povo de Gekai tem para saber que a pessoa em pé na frente deles é uma divindade. É quase como um brilho. Eu já ouvi dizer que quando um deus usa seu poder divino, <Arcano>, sua aura se esgota e as outras divindades ficam sabendo disso. Basicamente, todos saberiam que eles haviam violado suas próprias regras e seriam exilados de volta para Tenkai.

“De um modo geral, deuses e deusas não são permitidos na Dungeon.”

“Posso perguntar por quê?”

“Porque seria ruim se eles descobrissem.”

Quem são eles? Inclino minha cabeça em confusão. Mas tenho a sensação de que eu não deveria pressioná-la por uma resposta, então deixo para lá.

“Eu sei que estamos indo para aquela ilha… mas como vamos atravessar o lago?”

“Há uma árvore muito grande deitada de lado que serve de ponte. Veja, entendeu?” A Srta. Tiona responde a pergunta de Welf sem hesitação. Eu olho para onde ela está apontando… e com certeza, há uma árvore grande o suficiente para se ver de tão longe em cima da água, conectando a ilha ao resto do andar.

A imensa ilha rochosa parece crescer a cada segundo quando chegamos mais perto. A árvore está sem todos os seus galhos e folhas, e é basicamente apenas um tronco gigante. Eu sigo as meninas em direção a árvore, olhando para todas as pegadas na superfície. Não é nada plano e não há corrimão; Eu realmente tenho que me concentrar para ficar de pé. E não sou só eu — eu pego a deusa no momento em que ela estava prestes a cair da árvore.

A “manhã” não é tão brilhante quanto a “tarde” na Dungeon, mas a luz que sai dos cristais levemente brilhantes no teto é quente. Há luz suficiente para eu ver meu reflexo na superfície da água embaixo de mim.

“Se há uma cidade, vocês não estariam melhores ficando lá ao invés da floresta…?”

“Eles iriam nos extorquir, então não.”

A Srta. Tione respondeu minha pergunta imediatamente. Isso implora por uma nova pergunta sobre o que ela quis dizer com isso, mas eu mantenho minha boca fechada enquanto chegamos à ilha.

A estrada que leva a cidade é íngreme. A ilha parece uma montanha de longe, mas daqui parece mais um penhasco. Pequenas plantas e cristais se sobressaem das rachaduras na parede de pedra. Nós subimos alto o suficiente para obter uma vista incrível de todo o andar.

“Sim. Isso é o que eu chamo de bonito.”

“Huff, huff… ha, uau. Isso é incrível.”

Lorde Hermes parece perfeitamente bem enquanto minha deusa está ofegante, mas ambos têm a mesma reação ao cenário. Não me entenda errado, o resto de nós também está absolutamente espantado. Nós podemos ver tudo daqui.

Não há paredes ou quartos no décimo oitavo andar, é apenas um grande cilindro com um topo em forma de abóbada. Os cristais cobrem cada centímetro do teto e se espalham por todo o caminho até o outro lado do andar.

O túnel para o décimo sétimo andar fica na borda sul da floresta. O acampamento da <Família Loki> fica nessa área. A floresta se estende até o leste e tem muitos rios e nascentes por toda a sua extensão. As árvores afinam consideravelmente no norte. Não sei se é porque o resto da terra é uma planície aberta, mas as sombras escuras vagando realmente se destacam. Não havia mais nada além de monstros.

“Monstros chegam a este andar, assim como nós…”

“Seria apropriado dizer que este é o seu refúgio, não o nosso.”

Aiz e Asfi explicam que os monstros vêm aqui procurando pelas frutas abundantes e água fresca.

A árvore colossal que eu vi antes fica no centro de tudo. É o único lugar mais alto do que a ilha em que estamos.

Essa é a verdadeira identidade do décimo oitavo andar, uma região selvagem enterrada profundamente no subterrâneo.

“Lili nunca esteve muito longe de Orario, mas… isso é muito bonito.”

“Não, você pode viajar para longe e nunca encontrar uma visão que rivalize com esta.”

“… me lembra as montanhas em nossa amada terra natal no Leste.”

“Sim…”

Primeiro Lili e Mikoto, depois Ouka e Chigusa. É impossível não se impressionar pela beleza natural que nos rodeia. Estou fazendo o meu melhor para gravar esta visão em minha memória.

Deixamos o penhasco com vista para o décimo oitavo andar e seguimos o que resta do caminho para o topo da ilha.

“O que…!!”

Um portão em forma de arco decorado com bandeiras em seus dois pilares de madeira, cumprimentam nossos olhos.

OLÁ AMIGOS, BEM VINDOS A RIVIRA! está escrito na língua comum de Koine no topo do portão.

“Melhor não deixar isso te enganar. Eles estão apenas aquecendo você, fazendo você se sentir bem antes de vir buscar seu dinheiro.”

Essa é a segunda vez que Tione me avisa para ter cuidado aqui. Em qualquer caso, passamos pelo portão.

A cidade fica no topo da ilha, misturado com belos cristais brancos e azuis.

Os “edifícios” nada mais são do que barracos feitos de restos de madeira e tendas grandes com letreiros. Alguns deles são construídos em grandes rachaduras na parede de pedra e entradas do túnel. O hotel da cidade é assim também. Como a cidade está construída no meio do penhasco, ao lado de um área plana, muitas escadas são necessárias para ajudar as pessoas a ir de loja em loja. Não importa onde você vá na cidade, o lago intocado abaixo e o incrível cenário do décimo oitavo andar estão sempre à vista.

A cidade de descanso cercada por pedras e cristais… Rivira.

“Esta cidade é administrada por aventureiros, é claro. Não há regras incômodas ou regulamentos aqui, então todos são capazes de fazer negócios como bem entenderem.”

A deusa, Lili, Welf e eu olhamos pela cidade e ouvimos a explicação de Asfi.

Ela diz que esta cidade no meio da Dungeon já foi controlada pela Guilda como uma espécie de base da linha de frente. Os aventureiros assumiram o lugar depois que a Guilda desistiu de tentar mantê-lo. A razão pela qual esse local foi escolhido de qualquer outro lugar no décimo oitavo andar, era porque o lago e os penhascos forneciam proteção.

Com exceção do portão sul, que é por onde entramos, e do portão norte e do portão leste que possuem vista para o lago, a cidade é cercada por uma densa parede. Não é muito comparado ao muro que rodeia Orario, mas a estrutura de cristal e rocha parece bastante resistente.

Muitos aventureiros usam esta cidade como base para viagens abaixo do décimo oitavo andar. Descanse, explore a Dungeon, volte e descanse novamente… não é incomum que as pessoas sigam esse ciclo até que não consigam mais continuar.

“Então os monstros não atacam esta cidade?”

“Claro que sim. No mês passado eles destruíram tudo completamente.”

“Aquela passou perto! Nós vimos tudo na primeira fila!”

As gêmeas Amazonas respondem muito casualmente sobre algo que deve ser realmente assustador. Minha boca se contorce só de pensar nisso.

“Mas todos os aventureiros aqui são realmente bons em fugir. Eles esperam um pouco depois de um ataque, voltam e reconstroem.”

“Construa, seja esmagado, construa novamente… Isso acontece repetidamente.”

Segundo elas — apesar de este ser um ponto seguro na Dungeon — a cidade de Rivira está sob a ameaça constante de ataques de monstros. Embora todos os moradores sejam aventureiros de classe alta, a cidade é reduzida a escombros assim que um monstro irregular aparecer. Mas assim que os monstros vão embora, os aventureiros voltam para se estabelecer novamente.

A Rivira atual é a 334º reencarnação.

O nome vem de uma grande aventureira chamada Rivira Santilini, que ajudou a estabelecer a primeira versão da cidade.

“Com licença, Srta. Asfi. Há toneladas de cristais por toda a cidade…”

“De fato. Qualquer um dos cristais encontrados no décimo oitavo andar pode ser trocado por dinheiro na Estação de Troca.”

“— Sr. Bell, vamos coletar o máximo que pudermos antes de partir!”

Os olhos de Lili brilham quando ela sorri para mim, enquanto entramos no quarteirão principal da cidade.

“Se ficarmos juntos assim vamos apenas bloquear a estrada. Vamos nos dividir em grupos menores e dar uma olhada!”

Lorde Hermes gesticulou enquanto falava, e todos nós concordamos com ele.

Ninguém está permitido a viajar sozinho, então começamos a formar nossos grupos.

“Tudo bem, Bell. Vamos sair juntos pela cidade! Você aí, fica longe!!”

“Eh, deusa, o que você está… ?!”

“…”

A deusa rosna para Aiz, pega minha mão e me puxa para mais dentro da cidade.

Devido a natureza da cidade de Rivira, quase todas as estruturas da cidade eram lojas.

Claro, havia alguns hotéis apertados e uma taberna aqui e ali, mas lojas de armas e itens dominavam as ruas. Cada estabelecimento pertencia e era operado por aventureiros.

Apenas aventureiros e alguns suportes enchiam suas ruas. Sendo aventureiros da classe alta, suas armas e armaduras também eram de primeira linha — além do equipamento para ser usado a qualquer momento. Espadas de duas mãos, alabardas e armaduras corporais estavam por toda parte. Era uma versão muito mais extrema da “Rua dos Aventureiros” na superfície.

Apenas monstros teriam chance de atacar uma cidade com residentes que estavam tão fortemente armados quanto essas pessoas.

“Você?! Por quê você está aqui?!”

“D-deusa, por favor, se acalme… ?!”

“Ha-ha, quanto mais melhor, certo?”

Bell seguiu por um caminho sinuoso de rochas sob um céu azul, composto de cristais que parecem que podem cair a qualquer momento.

Aiz estava liderando o caminho, seguido de perto por uma furiosa Hestia, assim como Hermes e Asfi atrás de Bell. Todo mundo estava observando e ouvindo os sons da próspera cidade. No entanto, o terreno era tão desigual que grandes cristais e até árvores precisavam ser usadas como escadas para ir de um lugar ao outro da cidade.

“Hum, esses itens em exibição… Eles não são um pouco… caros?”

“Essa é uma das características de Rivira…”

Os olhos de Bell estavam correndo sobre os preços das armas e itens nas vitrines das lojas por onde passava, e ele perguntou a Aiz sobre isso. O mesmo equipamento estava disponível na superfície com um ou dois dígitos a menos no preço.

Asfi e Hermes explicaram quando o grupo entrou em uma nova rua.

“Coisas como armas, itens e alimentos são vendidos com um valor muitas vezes maior que o seu preço original aqui.”

“Não é fácil conseguir essas coisas na Dungeon, então a maioria dos aventureiros compram o que precisam, não importa o custo.”

Assim como Hermes disse, os suprimentos eram muito difíceis de obter. Os empresários de Rivira sabiam disso e se aproveitavam dos aventureiros que não conseguiram preparar estoque o suficiente.

“A água é cara no deserto… é a mesma coisa.”

Não importa onde alguém viaja ao redor do mundo, haverá lugares onde eles podem obter itens específicos muito mais baratos que outros e vice-versa.

Gaste uma grande quantidade de dinheiro em um item que pode salvar sua vida ou guarde esse dinheiro para depois e arrisque a morte.

Os aventureiros que passam por Rivira são todos obrigados a fazer essa escolha.

Tudo aqui é extremamente caro.

“A Lili não acredita nisso! Vinte mil vals por uma mochila… absurdo!”

“Esse tanto por uma pedra de amolar? Você só pode estar brincando…”

Lili jogou sua nova mochila de tamanho grande por cima dos ombros, fumegando de raiva. Welf considerou comprar uma pedra de amolar em uma das lojas de armas da cidade e ficou em choque com o preço.

Não havia ninguém fora das lojas tentando atrair clientes; ao invés disso, eles se sentaram confortavelmente em uma cadeira na parte de trás da loja.

A beleza da cidade não podia fazer nada para esconder a ganância de seus habitantes.

“É por isso que estamos acampando na floresta, em vez de ficar aqui durante a noite.”

“A quantidade de dinheiro necessária para que todos em nossa expedição fiquem em um desses hotéis seria ultrajante.”

Tiona sorriu enquanto entrelaçava os dedos atrás da cabeça e viu o olhar nos rostos de Welf e Lili. Tione soltou um longo suspiro de desgosto. Os dois aventureiros de nível 1 estavam tentando substituir tudo que eles perderam em sua jornada para o décimo oitavo andar. As gêmeas Amazonas se ofereceram para ajudá-los a encontrar o que precisavam.

“É exatamente por isso que Lili odeia aventureiros! Eles são tão obcecados com dinheiro que vão se aproveitar de qualquer oportunidade de tirar vantagem de alguém.”

“Há muitas coisas que eu gostaria de dizer a uma certa Pallum obcecada por dinheiro que eu conheço… Pequena E, você deveria abrir uma loja aqui em baixo!”

“…”

“Ei, não leve a sério.”

Tudo o que eles aprenderam foi que sairiam de mãos vazias se tentassem comprar algo pelo preço de varejo estabelecido.

“Isso é uma Estação de Troca…”

“Eles realmente podem fazer qualquer coisa aqui em baixo…”

“… uau.”

Uma placa decorada com desenhos de um Minotauro e pedras roxas estavam do lado de fora das outras lojas da rua. Seu objetivo era incentivar as pessoas a vender suas pedras mágicas e itens dropados.

Mikoto, Ouka e Chigusa encararam espantados um aventureiro que estava tentando vender a presa de um monstro gigante na Estação de Troca. O homem ficou insatisfeito com o valor que o funcionário ofereceu pelo o item que ele arrastou até aqui. Apesar de todos os gritos de raiva, o funcionário apenas encolheu os ombros e disse: “Você pode levá-lo para outro lugar.” No final, o aventureiro concordou com o preço, vendeu a presa e foi embora com os punhos cerrados e o rosto fervendo de raiva.

Era um sistema muito simples. Os aventureiros que dirigiam essa Estação de Troca compravam itens dropados ​​e pedras mágicas por menos da metade de seu valor e as vendia para Guilda pelo preço total, quando eles retornavam a superfície. É claro, os aventureiros que vendiam os itens ficavam chateados, mas eles sabiam que havia um limite para o quanto eles podiam carregar. Era melhor vender seus itens extras aqui do que jogá-los fora. Isso também dava a eles a oportunidade de continuar explorando a Dungeon e achar mais pedras mágicas e itens dropados para levar a superfície.

Do ponto de vista do comprador, era uma maneira fácil de obter itens valiosos e lucrar com eles.

“Isto é uma fraude…”

“Capitão Ouka, você está correto, mas por favor seja prudente.”

A compensação era baixa, mas não valia a pena brigar por causa disso.

Os donos eram bastante fortes — fortes o suficiente para manter os outros lojistas calados — e administravam o negócio mais lucrativo de Rivira.

Um desses proprietários notou Mikoto, Ouka e Chigusa. Ele olhou para eles enquanto batia um enorme taco contra seu ombro. Os três aventureiros saíram rapidamente.

Compre barato, venda caro.

Não era apenas o lema dos aventureiros na cidade de Rivira, era seu modo de vida.

“… Mas Hermes, nenhum aventureiro carrega grandes quantias de dinheiro aqui. Como eles podem comprar algo com preços tão altos?”

O grupo de Bell, assim como o de Lili e Mikoto, tinha visto os preços altos. Foi Hestia quem fez a pergunta que estava na cabeça de todos. Ela tinha encontrado algo… um pequeno frasco de perfume. Os olhos dela estavam presos nele mesmo enquanto ela falava.

Hermes fez um gesto em direção ao homem sentado nos fundos da loja, que pegou um pedaço de papel e solicitou uma assinatura.

“Bem desse jeito, eles colocam por escrito. A loja recebe a assinatura do aventureiro e o emblema de sua <Família> para criar um contrato. Eles vêm para recolher o dinheiro depois.”

Havia duas opções de pagamento em Rivira: trocar itens por mercadoria diretamente ou assinando um contrato de pagamento.

Seria complicado e até perigoso transportar grandes quantidades de dinheiro para a Dungeon. Para contornar isso, o emblema de uma <Família> era usado como crédito. Então, alguém representando a loja retornaria a superfície e iria até a casa da <Família>, com o emblema na mão.

O contrário acontecia com a Estação de Troca em Rivira. A loja tinha um representante na superfície, onde um aventureiro poderia apresentar o recibo emitido pela loja para receber seu dinheiro.

Por esse motivo, pessoas suspeitas que se recusam a se identificar nunca poderiam fazer negócios nesta cidade.

“Você ainda não fez um emblema, não é Hestia? Seria uma boa ideia fazer isso; ajudaria muito Bell também. Um emblema funciona como uma verificação de identidade; existem lugares em Orario onde eles são úteis.”

“Ohhh, um emblema… entendo…”

Hestia cruzou os braços e olhou para o teto.

Embora sua falta de seguidores fosse um problema, o pensamento de Bell ter seu próprio emblema deixou Hestia empolgada. Ela lançou um olhar para o emblema de <Família> costurado na roupa de batalha de Asfi, no seu chapéu de viajante e nas sandálias, e se divertiu imaginando o emblema que ela poderia criar para ele.

Ela ficou perdida em seus pensamentos quando de repente — thump.

“Você tem um problema?”

“Ah… desculpe!”

Bell foi rápido em ir para a frente de Hestia e se desculpar. Ele se curvou algumas vezes antes de olhar para o rosto do aventureiro com uma cicatriz e se lembrou de tê-lo visto em algum lugar… “Hein?” Ele lembrou de onde o conhecia ao mesmo tempo que ele.

“Você… De jeito nenhum…!”

“Esse é ele! Mord, esse é o pirralho do bar!”

Todos os três eram homens humanos. Aquele com a cicatriz era chamado de Mord, e seus dois companheiros estavam atrás dele.

Os três estavam presentes na Senhora da Abundância durante a festa de Bell. Eles sofreram a ira de Ryuu e das outras funcionárias antes de serem expulsos.

Bell assistiu horrorizado quando Mord assumiu um tom muito mais assustador no rosto.

“O que diabos você está fazendo aqui…!”

A raiva de Mord pelo incidente no bar deve ter sido dirigida a Bell, porque ele tentava falar com o garoto.

No entanto, ele captou o brilho de cabelos dourados pelo canto do olho. A Princesa da Espada estava assistindo.

Seus olhos hesitaram enquanto seus dentes estavam à mostra na direção de Bell. Ele sentiu o olhar dourado vazio de Aiz varrê-lo. “Tsk!” O homem fez um barulho enquanto se afastava, seus aliados o seguindo.

“Ei, ei, Bell. Você não está saindo e brigando com outros aventureiros, não é?”

“Não, não é bem assim…”

“Então, o que aconteceu entre você e eles? Estranhos não ficam com tanta raiva um do outro só por se verem.”

Preso entre as perguntas de Hestia e Hermes, Bell forçou um sorriso e explicou o que aconteceu.

“Ohh?”, disse Hermes, com os ouvidos se animando no meio da história de Bell.

“Então, essas crianças consideram Bell um inimigo…”

 

Ele deu uma olhada nos três, ficando menores enquanto andavam pelo outro lado do caminho.

A vista do décimo oitavo andar do quarteirão central da cidade é de tirar o fôlego. Há um penhasco do outro lado deste corrimão e o lago está bem abaixo. Duvido que alguém que caia possa sobreviver. Mesmo a pessoa mais louca nem sequer pensaria em experimentar isso.

Todos nos encontramos depois de explorar a cidade em grupos, mas eu vim aqui para conferir a paisagem sozinho.

Lorde Hermes se ofereceu para comprar a todos um “Sanduíche da Dungeon” em um café nas proximidades. A deusa e os outros estão comendo lá agora. Sanduíches com quantidades generosas de frutas entre duas fatias de pão… incluindo a Nuvem de Mel. Eu tive que fugir.

Além disso… a Dungeon se cura depois de sofrer dano físico, então é impossível abrir caminho e construir algo resistente, ou arrebentar a rocha e escavar uma área para uma loja. Eles têm que usar o terreno como ele é. Entretanto, ouvi dizer que alguns aventureiros bastante entusiasmados trouxeram materiais de construção da superfície e os utilizaram em combinação com as características naturais do décimo oitavo andar para fazer um forno. Eu não sei se eles são apaixonados ou apenas loucos… mas o fato é que a cidade de Rivira tem pão fresco e outros alimentos disponíveis. Está vendendo muito bem, na verdade.

“A cidade mais profunda do mundo, hein?”

Uma cidade administrada inteiramente por aventureiros.

É literalmente a base da fronteira para a exploração da Dungeon.

Muitos aventureiros usam essa área como um local para organizar seus planos finais para viajar para os níveis mais baixos. Claro, isso é apenas para aventureiros de primeira classe que estão a altura desse desafio.

É onde ela está — em um nível extremamente alto, que eu só posso olhar para cima e admirar.

Eu dou uma outra olhada no vasto espaço aberto que é o décimo oitavo andar, em pé atrás de um corrimão feito de espadas e lanças velhas e enferrujadas.

“Ah…”

Eu ouço passos e imediatamente me viro, apenas para vê-la… Aiz está caminhando sozinha em minha direção.

Meu corpo congela quando ela para na minha frente. Mas ela está olhando para longe.

“O que você estava olhando…?”

“Eh, hum… Bem, e-eu estava procurando a entrada do décimo nono andar.”

Eu entro em pânico quando ela fez a pergunta do nada e isso é o melhor que eu consigo responder.

Ela caminha ao meu lado e aponta para algum lugar no décimo oitavo andar. Ela deve ter acreditado em mim. Eu forço meu corpo a se virar e dar uma olhada.

“A Árvore Central…”

“A grande no meio… Aquela ali?”

“Sim. A entrada para o décimo nono andar está entre suas raízes…”

Seus dedos, punho e cotovelo estão estendidos diretamente em direção a base da árvore gigante.

Como se para reforçar o que ela estava dizendo, sombras negras se erguem das raízes quase que na mesma hora. Os monstros dão uma olhada rápida antes de se separar, alguns indo para o norte e o restante indo para o leste.

“… Hum, Aiz, por que você veio aqui?”

“Porque você não estava com todo mundo… Então, hum.”

… Ela estava preocupada comigo.

Essas palavras fazem meu coração bater mais forte.

Apenas pensar nelas me faz corar. Ela está ali, olhando para mim com aqueles olhos dourados. Nós estamos tão perto que eu poderia estender a mão e tocá-la facilmente. Eu posso sentir o sangue correndo pelas minhas veias. Está quente.

“… você queria ficar sozinho?”

“N-não é isso! Estou muito feliz que você esteja aqui — não, espera — o que eu quero dizer é, hum…”

A expressão de preocupação no rosto dela me deixa tão nervoso que eu não consigo falar direito, ao ponto que a verdade sai.

Eu tento rapidamente esconder meu rosto atrás do ombro direito e cautelosamente olhar para ela.

Quando eu finalmente a olho… seus olhos estão bem abertos e ela está sorrindo. Se eu não me engano, Aiz está corando.

“Bell, você está sempre tão nervoso…”

Suas palavras são calorosas e cheias de carinho, como da maneira que ela falaria com alguém próximo a ela.

Ela disse meu nome. Eu não posso falar. Meu peito pode explodir.

Meu espírito está tremendo.

Eu nunca… me senti assim antes.

“…”

Isto não é bom. Minha determinação está vacilando.

Se ela continuar assim tão perto de mim…

Mesmo que eu nunca tenha conquistado nada, mesmo que ela seja demais para mim, se meus joelhos ficarem mais fracos no calor da presença dela…

Eu poderia apenas desistir de persegui-la.

Eu rapidamente olho para baixo, escondendo meus olhos atrás da minha franja e corando muito.

Meu espírito está cantando por todo o meu corpo. Eu aperto minhas sobrancelhas em uma tentativa desesperada de me manter firme.

Todas as borboletas no meu estômago estão subindo pelas minhas costas. Eu posso sentir seu calor enquanto se movem.

Então, sem aviso:

A deusa de repente pula na minha linha de visão, como se estivesse tentando nos separar.

“— Uau, que vista !!”

“O que — ?!”

Flip! Eu tiro meus olhos do chão e, com certeza, a deusa se enfiou entre nós.

Aiz parece tão surpresa quanto eu. A deusa está forçando um sorriso, seus olhos estão semicerrados.

“Não é justo, Bell. Indo para um lugar tão bonito e não me convidando! Nós somos mais do que apenas companheiros, você sabe!”

Um toque de medo percorre minha pele enquanto peço desculpas repetidamente para o rosto sorridente da deusa. A maneira como ela enfatiza a palavra “companheiros” é absolutamente aterrorizante.

“Então, como pode ver, senhorita Wallenalgumacoisa, dá o fora! Não entre no caminho da nossa família! Isso é reservado apenas para Bell e eu !!”

“U-um…”

Shove, shove. A deusa continua cutucando o peitoral de Aiz com a mão e Aiz não tem ideia do que fazer. Eu me aproximo para tentar detê-la.

Eu consigo me encaixar na frente da deusa — ela está quase rosnando — mesmo enquanto ela olha para Aiz ameaçadoramente. O suor não para de escorrer pelo meu rosto.

“…? Deusa, você está usando algo novo?”

“Oh, Bell! Você percebeu!”

Ela gira na minha direção, sua expressão está completamente diferente. Ela empurra uma pequena bolsa aberta para mim. Há um frasco claro dentro.

“Isso não é… perfume? Esse é aquele que você viu antes…?”

“Isso é — afinal, uma garota tem necessidades! Não me diga que você quer uma garota fedida e balançando a espada ao seu lado, Bell ?!”

Ela realmente cheira bem, mas eu sinto algo malvado em suas palavras. Aiz pisca algumas vezes, leva o braço ao nariz e — sniff, sniff. Ela cheira a água pura, no entanto… Por que a deusa está tão agressiva hoje?

Ela me disse que pegou emprestado o emblema de Lorde Hermes para comprar o perfume. Ela passou mais de um dia na Dungeon, então não posso culpá-la por estar um pouco constrangida com o cheiro dela.

“O que… Aiz, você derrotou um chefe de andar sozinha, certo?”

Eu tenho que limpar o ar, mudar de assunto a qualquer custo.

Além disso, eu… preciso ouvir isso por mim mesmo.

A cabeça da deusa gira para olhá-la. Aiz apenas inclina a cabeça para o lado e acena, com um baixo “Sim”.

“Mas foi só porque eu tive a ajuda da Riveria…”

“Mesmo assim…”

“… Sim, eu matei.”

— Tudo o que pude fazer foi fugir do Golias.

— Ela lutou contra um deles sozinha e venceu.

Ela ainda está longe, muito acima de mim. De fato, a distância óbvia entre nós é tão grande que eu não ficaria surpreso se a garota parada aqui fosse uma ilusão. Eu tenho um pouco de fama, e daí.

Eu me reconecto com meu verdadeiro eu, covarde, e com o que estou visando, o que eu quero ser.

“Nada para se preocupar, Bell! Com nós dois trabalhando juntos por tempo suficiente, você também vai poder fazer isso!”

A deusa de repente levanta a voz.

Admito que estou um pouco frustrado, mas ouvir isso me deixa feliz.

Eu posso trabalhar pesado, ficar mais forte e alcançar meu objetivo.

No entanto, pelo bem da deusa, pela minha família, não vou exagerar. Eu não vou deixá-la para trás.

A promessa que fiz há muito tempo ecoa no fundo da minha mente. Eu olho para os dois rostos, o de Aiz e da deusa… Tudo o que posso fazer agora é concentrar toda a minha energia em ficar mais forte.

Parece tão claro novamente.

“Wallenalgumacoisa, sem perambular novamente sem a minha permissão!”

“Sinto muito…?”

Aiz e a deusa parecem estar tendo algum tipo de discussão.

Eu abaixo as sobrancelhas e forço um sorriso. Mas em pouco tempo, todas as preocupações me deixam e eu sorrio de verdade.

A “tarde” começou no décimo oitavo andar no momento em que Bell e os outros retornaram ao acampamento da <Família Loki>.

A luz que vinha dos cristais brancos e azuis que cobriam o teto, se intensificaram visivelmente no espaço de alguns minutos. Monstros vagando pela área norte do andar uivavam como se comemorassem o presente da Dungeon.

“Ei, vamos todos tomar um banho!”

Tiona chamou a todos animadamente antes de chegar ao centro do acampamento. Todas as árvores ao redor deles foram banhadas com o calor dos cristais acima.

O grupo estava prestes a seguir caminhos separados quando ela fez a sugestão. Primeiro, ela olhou para Aiz e Tione, mas também estendeu o convite para o grupo de Hestia e Mikoto.

“De novo — ? Quantas vezes serão necessárias para que você fique satisfeita?”

“Qual é o problema? Há muito tempo. E a água parece incrível.”

“Além disso, a visão dos peitos de Lady Hestia não deixaria você brava?”

” Sem chance! P-por que deixaria ?!”

O argumento cômico das gêmeas não mostrou sinais de que ia parar. Não muito longe, Lili olhou para Hestia.

“O que devemos fazer, Lady Hestia?”

“Beeem… Claro, eu gostaria de me lavar um pouco…”

Hestia olhou para sua pele e roupas sujas.

Claro, sua jornada para o décimo oitavo andar a fez suar mais do que ela gostaria de admitir, e ela caiu no chão tantas vezes desde que chegou aqui que suas roupas normalmente brancas estavam agora alguns tons mais escuros. Mesmo que lavá-las fosse uma causa perdida, ela pelo menos queria sentir seu corpo limpo.

“E quanto a vocês, Mikoto, Chigusa? Querem vir tomar banho com a gente?”

“Se eu for bem-vinda eu gostaria… Chigusa?”

“E-eu também… S-sim.”

“E você Srta. Asfi?”

“… Lorde Hermes.”

“Ahhh, claro, claro. Estou bem protegido aqui, então você pode relaxar por enquanto.”

Lili olhou para Asfi quando ela perguntou. Hermes nem olhou para sua seguidora quando ela pediu permissão, ao invés disso, ele apenas acenou a mão como se não se importasse com nada. “Bem, então eu devo acompanhar vocês”, disse Asfi enquanto empurrava seus óculos prateados para cima de seu nariz.

“Aiz também. Vamos!”

“Certo…”

“Convide Line e as outras também. Nós revezaremos como vigias.”

Tiona abraçou Aiz por trás, sorrindo brilhantemente. A loira assentiu e o resto das mulheres começaram a sair do acampamento.

Tione foi ao redor do acampamento para convidar mais algumas mulheres de seu grupo de batalha para ir com elas. Estar pelado e indefeso em uma floresta onde os monstros se escondiam era uma ideia muito assustadora.

Tiona levou o grupo para fora do acampamento e para a floresta, todos os homens ficaram para trás.

“Ta-da, aqui estamos nós!”

” ” ” ” Uau… ” ” ” ”

Hestia, Lili, Mikoto e Chigusa responderam em uníssono.

A primeira coisa que viram quando entraram em uma clareira foi uma cachoeira com dez metros de altura.

A água descia com força suficiente para liberar uma névoa fina, esfriando o ar ao redor delas. Suas peles estavam coberta de pequenas gotas de umidade em um piscar de olhos.

Tiona as levou a uma lagoa isolada na base da cachoeira. Estava completamente envolta por uma parede de árvores e cristais. A copa de uma grande árvore cobria a lagoa por cima. A cor azul da superfície da água brilhava na luz da tarde, refletindo a dança das árvores que as cercavam. Elas haviam encontrado uma jóia escondida dentro da floresta.

“Isso não é ótimo? Eu encontrei no outro dia!”

“Concordo, este é um local muito bonito…”

“Lili tem uma pergunta, se você não se importa, Srta. Tione. De onde essa água vem?”

“É diferente do escoamento de água das geleiras ou da neve derretida. Há um cristal especial ainda mais fundo na floresta que produz constantemente água pura. É muito mais limpa que a água da superfície. Você pode beber sem problemas.”

As conversas entre Tiona e Mikoto, bem como Tione e Lili, encheram os ouvidos das companheiras enquanto o grupo caminhava em direção a água.

Não havia timidez ou hesitação entre elas neste momento. Elas despiram as armaduras e roupas enquanto falavam como se estivessem em volta da mesa de jantar. Os seios cheios e deliciosos de Tione e o corpo esbelto e elegante de Tiona surgiram. Mikoto e Asfi tiraram suas roupas e as colocaram ordenadamente no chão ao seu lado. Chigusa, corando da cabeça aos pés, foi a última a começar a se despir.

Quanto a Aiz… Depois de uma série de cliques para soltar sua armadura, ela gentilmente agarrou sua roupa de baixo. Havia um certo par de olhos nela — Hestia assistiu de perto enquanto Aiz expunha sua forma curvilínea, e ainda assim feminina e bem definida.

Um momento depois, a deusa praticamente jogou suas roupas no chão.

“Heh-heh…… parece que eu venci!”

“Estamos competindo, Lady Hestia…?”

A pequena deusa estufou o peito, olhando em volta triunfantemente.

As roupas íntimas de Aiz estavam frouxas em suas mãos enquanto ela olhava com confusão para a divindade extremamente confiante. Lili estava prestes a remover sua calcinha quando ela também se virou para olhar a jovem deusa com olhos cansados.

“Adivinha? Essas faixas de cabelo foram um presente de Bell! Um presente para demonstrar sua afeição!”

“Lady Hestia, você se importaria de compartilhar mais dessa história…!”

Lili se aproximou quando Hestia removeu as faixas de cabelo e a segurou para todo mundo ver. Até Aiz se endireitou para ter uma visão melhor.

Todas as meninas se reuniram, conversando animadamente enquanto davam seus primeiros passos na lagoa. Suas vigias ficaram na beira da clareira, prontas para proteger suas amigas de qualquer coisa que chegasse muito perto.

“… Acho que agora já está bom.”

Lorde Hermes assente para si mesmo enquanto sussurra essas palavras.

“Hã?”

“Bell, você se juntaria a mim por um momento?”

Nós estávamos meio que andando pelo acampamento, mas Lorde Hermes falou comigo com um olhar sério em seu rosto.

Ele mantém a voz baixa, como se estivesse tentando não ser ouvido.

“Eu estava esperando por essa chance. Não, não seria exagero dizer que essa chance é a razão de eu estar aqui… Uma chance de ficar sozinho com você.”

Ele está esperando uma chance de falar… comigo…?

Ele deve ter algo muito importante para conversar. Pelo menos é isso o que estou entendendo de como ele está agindo. Ele desligou todo o seu charme, seus olhos laranja olhando para frente sem piscar.

Eu nunca vi Lorde Hermes assim. Engulo o ar da minha garganta. Posso ver Welf e Ouka por conta própria em diferentes áreas do acampamento. Eles não nos notaram.

Me sentindo um pouco apreensivo, eu lentamente aceno.

“Venha comigo”, diz Lorde Hermes quando ele começa a se mover. Ninguém se move para nos parar quando deixamos o acampamento e entramos na floresta.

“… Hum, Lorde Hermes? Onde estamos indo?”

Eu o segui silenciosamente por um tempo, mas ele não está diminuindo a velocidade. Tudo o que eu posso fazer é direcionar uma pergunta para a parte de trás de sua cabeça.

Estamos bem no fundo na floresta agora. Não há ninguém por perto aqui, então deve ser seguro para nós conversarmos sobre qualquer coisa.

“… Isso já parece bom”, diz Lorde Hermes enquanto ele para na frente de uma árvore.

Seu tronco e galhos parecem muito fortes e resistentes. Lorde Hermes de repente começa a subir. Parece que ele já fez isso algumas vezes. Ele usa seus longos braços e pernas para subir o tronco.

“Agora, Bell, suba aqui.” Eu fiquei sem entender por um segundo, mas rapidamente respondo a sua chamada e o sigo. Duas pessoas subindo em uma árvore no meio do nada — tenho certeza de que é uma cena muito bizarra.

“C-com licença, Lorde Hermes?”

“Como eu pensei. Dê uma olhada, Bell. Esses galhos são fortes o suficiente para caminhar.”

Quando pensei que ele ia me dizer o que estamos fazendo aqui, ele sorri para mim com olhos brilhantes.

Dou uma olhada neste ponto alto na copa das árvores, e com certeza existe uma pequena rede de galhos de árvores robustos que formam um caminho oculto. Eu estou completamente sem pistas do por que ele apontou isso para mim, mas de repente ele ri com um “Ho-ho!” e sai para o primeiro galho.

“Lorde Hermes, você não… queria conversar comigo sobre algo?!”

“Conversar? Eu nunca disse nada sobre conversar, meu garoto.”

“O que…?” Começo a dizer, mas Lorde Hermes empurra algumas folhas para o lado e pisa no galho de outra árvore. Nós passamos pelas árvores, a luz mudando acima de nós, filtrando através das folhas enquanto os galhos mudam sob o nosso peso. Isso é pior que a ponte de árvore para Rivira; manter o equilíbrio requer cada grama da minha concentração.

“Por que estamos aqui em cima ?!” Minha frustração me domina enquanto tento acompanhá-lo — ele para de repente e olha para mim.

Hermes me dá um sorriso muito viril, depois sacode o queixo em uma certa direção para chamar minha atenção.

Dossshhhh. Eu posso ouvir uma cachoeira.

“Já chegamos até aqui. Você já deveria ter descoberto agora — estamos espiando.”

“?!”

Eu congelo enquanto meus olhos se abrem. Lorde Hermes assume um ar de providência divina em suas próximas palavras.

“Todas aquelas garotas lá embaixo estão tomando banho, sabe? É praticamente nosso dever dar uma olhada, você não acha?”

“Não, eu não acho!”

“Não há necessidade de fugir, Bell. Sério, aposto que Hestia esfrega suas costas no chuveiro todas as noites.”

“Isso nunca aconteceu!”

O que esse deus está dizendo?!

“Ah-ha-ha-ha-ha-ha!” Ele está rindo de mim. E acho que ele também não acredita em mim. Meu rosto pulsa com calor enquanto Lorde Hermes vira as costas para mim e silenciosamente se move para frente, quase flutuando no caminho de galhos. Ele deve saber exatamente para onde ele está indo, porque ele não hesita em nenhum momento. Eu já ouvi falar de pessoas que estão desesperadas, mas isso é loucura!

O som da água correndo está do outro lado da parede de folhas, na momento em que eu o alcanço.

“Isso está errado — vamos voltar, Lorde Hermes! Não deveríamos estar aqui…!”

“Bell, aventureiros de primeira classe vão nos ouvir se fizermos muito barulho.”

Ele coloca a mão na minha boca e aponta para baixo. Meus olhos seguem direto para — um grupo de mulheres aventureiras fortemente armadas. Elas devem estar de olho na floresta.

Eu me afasto de sua mão e olho para ele. O sorriso dele é absolutamente radiante. Nunca vi um sorriso pervertido parecer tão atraente.

Pode ser por causa do som da cachoeira ou pela largura que as folhas são, mas parece que Aiz e as outras, incluindo as vigias, ainda não nos notaram.

“Lorde Hermes, Lorde Hermes, isso é ruim, elas vão nos despedaçar…!”

“Isso é lamentável, Bell. Espiar é o dever de um homem! Pense nisso como você e eu compartilhando uma garrafa particularmente deliciosa de vinho… Seu avô não te ensinou nada?”

Nós dois avançamos lentamente pelo galho, sussurrando um para o outro, quando de repente um arrepio percorre minha espinha.

Espiar é… o dever de um homem?

Sinto como se algo estivesse acordando dentro de mim. Algo de um longo tempo atrás, algo de quando eu era criança. O que o vovô estava tentando me ensinar naquela época? Meu entorno de repente não importa quando minhas memórias entram rapidamente.

Tudo vem de uma só vez, como a névoa de um frasco preto — especialmente quando ouço a voz inocente de Aiz vindo de baixo — mas eu uso todas as fibras do meu ser para selar esse frasco.

“Deixe-me sair — !” As palavras parecem vir por de trás do selo na minha cabeça. Se eu hesitasse por um momento, tenho certeza de que seria dominado pelo desejo contido nele. Mas minha razão vence. Estendo a mão e a coloco no ombro a minha frente.

“Vamos voltar, Lorde Hermes!”

Inclino-me para a frente como se estivesse tentando ficar de pé e começo a puxá-lo para longe da cachoeira.

“Ah, se você se mexer demais…”

E então.

Crack. O galho abaixo faz um barulho. Começa a se mover para cima e para baixo.

O galho grande que tem apoiado nosso peso quebra em sua base perto da árvore.

Lorde Hermes consegue mudar seu peso para um ramo adjacente, mas eu estou desequilibrado e em pé. Whoop —

Eu caio diretamente.

“— Daaaaaahhhh !!”

Sem nada para me impedir, eu caio de cara na água.

Splash! A água explode ao meu redor enquanto eu faço um grande barulho.

“Blugh, glub, glublubb ?!”

Felizmente, eu caio em uma parte relativamente profunda. Eu freneticamente bato meus braços e pernas para voltar a superfície. Meu rosto sai da água e eu respiro profundamente muitas vezes.

A água está nos meus pulmões, me deixando em pânico. Eu escolho uma direção e agito meus braços e pernas em uma tentativa desesperada de chegar a terra. Finalmente meus pés tocam o fundo, depois minhas mãos.

Khaa, khaa! Depois de um ataque de tosse, finalmente recupero o fôlego.

“… Argonauta?”

Meu corpo treme com o som da voz que vem logo acima da minha cabeça.

Eu olho para o meu reflexo na água azul por um momento antes de lentamente, muito lentamente, levantar meus olhos.

“O que, você também queria tomar banho?”

“Um rosto tão calmo… Você é muito bom, não é?”

U — waaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa !!

 

As gêmeas Amazonas estão logo ali. Tiona está se inclinando em minha direção com olhos curiosos, enquanto Tione está atrás dela, passando os dedos em seus longos cabelos.

 

 

Elas estão completamente nuas e não estão tentando esconder nada, a pele bronzeada completamente exposta.

— Amazonas não tem vergonha ?!

“O qu-qu-qu-que… ?!”

“Eh? Ehhh… ?!”

“Não me diga… Lorde Hermes?”

A minha direita, uma Mikoto muito rosa fica completamente parada enquanto Chigusa rapidamente esconde seu corpo debaixo d’água.

Asfi está ao lado delas. Ela não está de óculos, mas isso não a impede de olhar para a árvore, raios de raiva saindo de seus olhos.

Farfalhar. Os galhos ao redor da área em que caí começaram a tremer.

“Bell, são crianças como você…!”

“O que você pensa que está fazendo, Sr. Bell ?!”

A minha esquerda, a deusa tem o cabelo solto e os pés no fundo da lagoa. Metade de seus grandes peitos estão escondidos sob a água enquanto ela grita comigo com uma cara vermelha.

Lili está do mesmo jeito, gritando com uma voz aguda.

“… ah.”

E diretamente na minha frente…

Aiz está de costas para a cachoeira, abraçando seu corpo para esconder seus seios. Suas bochechas são de um tom claro de vermelho.

A água está pingando de seus cabelos dourados, traçando todo o caminho até as pernas dela.

Fico vermelho escuro enquanto a imagem do corpo nu de Aiz é gravada em meus olhos.

No momento seguinte, minha cabeça explode.

“D-DEEEEEESSSSSCUUUULLPPPPEEEEEE !!”

Eu me lanço para fora da água e corro pelas vigias num piscar de olhos, partindo para a floresta o mais rápido que posso.

Eu corro pela floresta imprudentemente.

Mais distância, mais rápido, para a frente! Uma grande árvore fica no meio do meu caminho, então eu viro a direita. Corto pelo chão da floresta, correndo como um coelho assustado.

Mas então eu percebo algo importante.

“Eu… eu estou perdido…”

Finalmente, as chamas queimando dentro de mim se esfriam o suficiente para eu pensar direito. Olho em volta e vejo que não reconheço nada. As árvores e cristais nessa área não se parecem com os próximos ao acampamento; a copa das árvores são mais finas e brilhantes também.

Estou na parte sul da floresta? O leste? Talvez o sudeste?

Tento o máximo possível me lembrar de como a floresta se parecia da cidade de Rivira hoje de manhã, mas não me lembro de nenhum detalhe. Eu não acho que qualquer um conseguia se lembrar do layout de uma área após apenas um dia.

Eu não tenho ideia de onde estou.

“Guaaa…”

“Bugbear… ?!”

Eu rapidamente me escondo depois de ter um vislumbre de um monstro parecido com um urso sentado na base de uma árvore.

Se bem me lembro… sua Força e Defesa estão a par com um Minotauro. Mas o que realmente os torna perigosos é sua alta Agilidade, que não corresponde ao seu grande tamanho corporal. Aparecendo pela primeira vez no décimo nono andar, eles encurralam suas presas antes de rasgá-las. O pensamento de um Minotauro ágil é absolutamente aterrorizante. Esse Bugbear em particular deve estar com fome ou encontrou sua coisa favorita no mundo, porque está completamente distraído pelas frutas nos galhos mais baixos da árvore. Tem uma Nuvem de Mel em sua enorme pata e outra na boca.

Coloco as mãos sobre meu nariz e boca enquanto tento controlar meus batimentos. Virando as costas para a árvore, eu lentamente me movo ao redor do tronco para esperar o urso sair.

Isso é ruim, muito ruim…!

Uma sensação de perigo iminente por estar perdido em uma floresta cheia de monstros, toma conta de mim.

Aiz disse algo mais cedo hoje sobre os aventureiros de Rivira abaterem regularmente os monstros no décimo oitavo andar para manter seus números baixos. Infelizmente, acho que eles não viriam tão longe na floresta — por que eles viriam? Isso significa que há mais deles por aqui do que mais perto da cidade.

Estou perdido e mais do que provavelmente cercado por monstros. Essa é uma situação muito perigosa.

Se eu não voltar ao acampamento até a “noite”…!

Eu avanço, meus olhos me pregando peças, fazendo à floresta parecer como um pântano ameaçador, meus ouvidos em alerta máximo.

Espere… o que é isso?

Um tipo diferente de som envia minha mente para um turbilhão.

Este não é o som silencioso de um riacho, mas como a água sendo derramada de um copo… Muito antinatural.

Não posso negar que há uma chance de um monstro estar emitindo esse som em um lago próximo. De fato, provavelmente é isso. Mas estou com fome e minha garganta está seca o suficiente para rivalizar com um deserto. Eu decido que vale o risco e ando em direção ao som da água.

Eu vejo uma pilha de toras quando eu viro uma esquina. Elas estão bloqueando a área entre duas árvores no chão, mas eu posso subir e passar sobre elas. De olho no meu pé para evitar os pedaços de musgo, eu caminho para o topo e através da abertura, em direção a fonte do ruído. Kaw, kaw! Dois pássaros monstros voam ao longe.

A folhagem ao meu redor se torna mais espessa, o caminho mais escuro. Mas em pouco tempo, tudo ao meu redor começa a assumir uma tonalidade azul claro.

As árvores são como colunas verticais, cristais brilhando sob meus pés como se estivessem me guiando para a frente…

” — ”

A floresta se abre para revelar um pequeno lago.

Todas as palavras me deixam assim que coloco os olhos no meio da água.

Há uma fada.

Ela não tem roupa, apenas uma pele branca — suas costas esguias voltadas para mim enquanto ela lava seu corpo. Ela coloca as mãos juntas e levanta cuidadosamente a água acima da cabeça antes de deixá-la escorrer pelo seu cabelo.

Parece uma página de um conto de fadas.

Uma fada do banho. Um encontro casual no meio da floresta com um belo Espírito da Água.

Blip, blip. A água produz sons suaves quando a fada se move. Ela tem uma estrutura esbelta, mas musculosa, e orelhas longas e pontudas.

Fico com a mão apoiada na árvore ao meu lado, petrificado enquanto aprecio a vista. Meu cérebro não tem a capacidade de produzir nenhum tipo de emoção quando confrontado com esse tipo de beleza.

Mas espere, naqueles contos de fadas, bem nessa hora…

A pessoa que vê a fada tomando banho de repente é atingida por uma flecha —

“— Quem está aí!”

A luz pisca.

Uma voz aguda e uma lâmina branca são lançadas contra mim ao mesmo tempo — uma adaga se enterra na árvore ao lado do meu rosto, acima da minha mão. Shing! Meus ouvidos finalmente registram o som da lâmina perfurando a casca da árvore. Eu engulo o ar da minha garganta.

Os olhos azuis da elfa se fixam em mim. Os olhos de Ryuu.

Ela tem o braço esquerdo em volta do peito, escondendo-o da vista. Sua mão direita, a que atirou a adaga, ainda está estendida enquanto ela olha direto para mim… Suas sobrancelhas afundam no momento em que ela percebe que era eu quem estava espiando ela.

“Sr. Cranel?

“… D-DESCULPEEEEEEEE ?!”

Todos os meus músculos ganham vida com o som do meu nome. Eu pulo de volta e para longe, antes de pousar de quatro e executar a reverência que é marca registrada da <Família Takemikazuchi>.

Eu bato meu rosto no chão, tentando me desculpar.

O que estou fazendo, O QUE EU ESTOU FAZENDO ?! Eu cometi o mesmo erro de novo?!

Duas vezes seguidas ?! Eu grito comigo mesmo repetidamente. Lorde Hermes nunca deve saber disso.

Meus ouvidos ficam vermelhos enquanto fecho meus olhos. “Haa…” Eu a ouço suspirar.

Meus ombros estremecem de medo enquanto espero suas próximas palavras.

“Por favor, vire de costas.”

“S-sim, senhora!”

Eu mantenho minha cabeça baixa, girando sobre os joelhos. A beira da lagoa deixa minha linha de visão; as raízes das árvores tomam seu lugar. Nesse ponto, eu levanto a parte superior do meu corpo e me sento imóvel como uma pedra.

Eu posso ouvir o som de pano atrás de mim enquanto rios de suor escorrem pelo meu rosto. Minhas bochechas coram. Ela está vestindo as roupas.

“Você pode se virar.”

Lentamente, com cuidado, eu me viro. Ryuu está usando a mesma roupa de batalha que eu a vi usando ontem.

Calças curtas e botas compridas. Ela está usando uma capa sobre a blusa dela, mas o capuz está para baixo. A bela elfa e eu fazemos contato visual.

“Primeiro, eu gostaria de ouvir sua explicação.”

“S-sim !! Bem, então, é assim…!”

Ryuu caminha até mim e eu fico parado, gaguejando, tentando dizer a ela o que aconteceu… mas a verdade é muito embaraçosa. O que eu devo dizer? Que eu fui descoberto vendo as outras garotas tomando banho e depois vim aqui?!

Eu tenho que pensar em outra coisa… Não.

Seus olhos azuis estão olhando através de mim; ela iria perceber a mentira imediatamente. E isso a deixaria ainda mais furiosa.

Minha mandíbula abre e fecha algumas vezes antes que as palavras comecem a sair. Ela ouve calmamente enquanto confesso todos os ultrajes morais que eu cometi na última hora.

Eu abaixo minha cabeça e digo a ela tudo o que havia para contar.

“Entendo sua situação, Sr. Cranel. Permita-me guiá-lo de volta para o acampamento da <Família Loki> depois disso.”

“… Você vai me perdoar?”

“Não há necessidade de perdão, pois você não tem culpa. Um rancor contra você seria mal direcionado.”

“C-como você sabe que eu não estou mentindo…?”

“Sr. Cranel… A modéstia pode ser uma virtude, mas por favor, pare de se diminuir. É um mau hábito.”

Peço desculpas a ela mais uma vez. Ryuu parecia um pouco brava.

Olhando para as minhas habilidades… Então ela está com raiva de mim pelo jeito que eu penso em mim mesmo?

Ryuu caminha em direção a uma árvore diferente, me deixando ali de pé por um momento. Ela deve ter escondido sua espada de madeira e suas outras armas lá antes de entrar no rio.

Por fim, ela coloca uma pequena bolsa no cinto, debaixo da capa. “Minhas desculpas pela espera “, diz ela quando volta.

“… Hum, é um pouco tarde, mas obrigado por ter vindo até aqui me salvar. Este andar é bem abaixo…”

“Não, por favor, não se preocupe. Eu estava planejando vir para este andar de qualquer forma. A distância não é um problema.”

Meus olhos piscam um pouco mais. Eu não esperava uma resposta como aquela.

Ryuu continua falando assim mesmo.

“Eu tenho algo para resolver antes de levá-lo de volta ao acampamento. Você pode dispensar um pouco do seu tempo?”

“Ah… claro.”

Ela agradece rapidamente e começa a andar.

Eu vislumbro o lado do rosto dela antes de segui-la.

“Ryuu… você estava, um… na floresta esse tempo todo?”

“Sim.”

“Por que você não se juntou a todos no acampamento? Existem monstros por aqui! Não seria muito mais seguro com — ”

“Eu tinha uma missão a cumprir. E eu não queria que outros vissem meu rosto.”

Ela disse tudo uniformemente e sem emoção, como sempre.

Lorde Hermes disse algo antes, que ela tinha seus “motivos”… É disso que ele estava falando?

“Presumo que o deus Hermes já tenha lhe informado sobre o meu passado.”

“Não, nada…”

“… Sério?”

“S-sim.”

“Parece que cheguei a conclusão errada…” Embora ela esteja olhando para o outro lado, posso sentir o sorriso de dor em seu rosto. “Nós já chegamos até aqui. Não há sentido em esconder nada nesta fase. Me siga.”

O que é isso…? Ela tem algum tipo de conexão com esse andar?

Tudo o que posso fazer é seguir sua capa e pensar no momento em que ela disse que já foi conhecida como aventureira.

Ryuu deve conhecer esta área extremamente bem. Ela está caminhando objetivamente enquanto faz curvas fechadas em árvores e cristais específicos, como se seguisse um caminho. Andamos por cerca de vinte minutos sem encontrar nenhum monstro, antes de chegar ao seu destino.

“Isso é…”

O que meus olhos veem depois de emergir de um túnel estreito através das árvores é um cemitério.

Há um pequeno espaço aberto cercado por árvores finas e uma formação de cristais absolutamente impressionante.

Uma série de cruzes de madeira, feitos de galhos de árvores quebrados e cordas, estão alinhados na clareira e banhados pela luz cristalina que brilha através da copa das árvores acima.

“… Mama Mia ocasionalmente me dá tempo para trazer flores.”

Ryuu vai para cada uma das sepulturas e cuidadosamente coloca uma flor em frente deles.

Colocar essas flores era sua “missão”?

Ela enfia a mão embaixo da capa e tira uma garrafa da pequena bolsa— derrama um pouco de vinho em cada um dos túmulos.

“Ryuu, que lugar é esse?”

“Tudo o que resta das mulheres que lutaram ao meu lado. Minha <Família>.”

Ela calmamente olha para mim enquanto fala. Eu sinto que acabei de ser atingido por uma tonelada de tijolos.

Seus olhos azuis me atraindo.

“Outra pessoa com conhecimento do meu passado surgiu. É apenas uma questão de tempo antes de você descobrir… eu me arrependeria de não ter lhe contado.”

Ela diz que é um pouco egoísta da parte dela, mas pede minha permissão.

Eu aceno de volta para ela.

“Meu nome aparece na lista negra da Guilda.”

“?!”

Então ela diz algo inacreditável.

“Minha posição como aventureira foi revogada. Houve um tempo em que uma recompensa foi colocada pela minha cabeça.”

Ela escondeu o rosto e não ficou conosco no acampamento… É por isso?

“Uma vez eu pertenci a <Família Astrea>… Ela é a deusa da justiça e ordem, e eu a idolatrei desde o dia em que nos conhecemos.”

Ryuu Lion. Era assim que ela era conhecida. O título dela, “Ventania”.

Uma aventureira encapuzada envolta em mistério e cujo nome completo era desconhecido.

“Além das atividades na Dungeon, minha <Família> se encarregou de eliminar aqueles que tentavam roubar a paz de Orario. Por esse motivo, fizemos muitos inimigos.”

Ela diz que há cinco anos atrás, Orario foi inundada com um “mal” que ameaçava a cidade.

Jurando sobre o brasão de Astrea, uma espada alada da justiça, Ryuu e seus aliados lutaram para expurgar a cidade daquela presença cancerosa e proteger aqueles que eram vulneráveis a ela.

“Até que, um dia, uma <Família> que havia pegado em armas contra nós montou uma armadilha na Dungeon. Eu fui a única a escapar viva… Incapaz de recuperar seus corpos, eu coletei os artigos que pude e os enterrei aqui.”

“Então é isso que essas sepulturas são…?”

“Sim. Essas mulheres gostavam deste local.”

Ela me diz que elas sempre brincavam casualmente, dizendo que se elas morressem, gostariam de ser enterradas aqui.

Não consigo imaginar quais imagens devem estar passando pela cabeça dela. Ela olha para o chão, o lábio inferior tremendo.

“… fui a Astrea como a única sobrevivente e contei tudo a ela. Então eu implorei para que ela deixasse Orario sozinha. Eu implorei por dias, até que finalmente eu a obriguei.”

“V-você ajudou sua deusa a escapar?”

“Não, não isso.”

A voz de Ryuu vacila, dizendo que seu raciocínio era muito mais egoísta enquanto cerrava os punhos.

“Eu não queria que ela visse a criatura violenta que eu estava me tornando.”

Ela diz que não sabia como controlar as emoções que a estavam atingindo naquela época.

“Eu tive que vingar aqueles que lutaram ao meu lado. Eu olhei para a <Família> que acabou com suas vidas e jurei me vingar sozinha.”

“Sozinha…?”

Ataques sob a cobertura da escuridão, emboscadas, armadilhas. Ela usou ataques furtivos para eliminá-los um a um — até que a <Família> foi exterminada.

Um grupo grande e influente em Orario foi arrancado pelas raízes e totalmente eliminado pelas mãos de uma única elfa.

“Minhas ações não tiveram nada a ver com justiça. Cheia de desejo por vingança, localizei cada membro e os matei junto com qualquer pessoa conectada a eles… Até a menor suspeita era suficiente.”

Foi isso que a colocou na lista negra da Guilda.

Em sua busca por vingança, ela ganhou o ódio de não apenas aventureiros, mas comerciantes, ferreiros e pessoas da cidade. Foram eles que emitiram a recompensa.

A recompensa por sua captura continuou crescendo e crescendo… A Guilda não tinha escolha a não ser puni-la, apesar das circunstâncias. Especialmente considerando que ela também havia atacado grupos ligados ao seu agressor. Afinal, eles venderam os itens e armas usados ​​para matar a família dela.

Com a deusa Astrea fora dos muros da cidade, seu Status permaneceu intacto como a “Ventania”, que cobriu Orario em uma tempestade de fúria.

“… Então, o que aconteceu depois disso?”

“Eu desabei. Com todos os alvos eliminados, sem mais ninguém, sozinha em um beco.”

Ela deve ter aceitado a morte no momento em que jurou vingança.

Com sua busca completa, sua deusa desaparecida e seus amigos mortos, não havia nada restando para ela neste mundo.

“Coberta de sangue e sujeira na beira da estrada… Foi um final apropriado para alguém que cometeu atrocidades como eu.”

“…”

“Contudo…”

“— Você está bem?”

Uma mão quente se estendeu para pegar a dela.

Syr encontrou Ryuu naquele beco e a salvou.

Ela ouviu sua história — tudo o que Ryuu havia feito — e conseguiu trazê-la de volta.

“Depois de me resgatar, Syr convenceu Mama Mia a me empregar como garçonete na Senhora da Abundância… também mantenho meu cabelo tingido.”

Como ela sempre vestia o capuz e usava o nome Lion durante seu tempo como aventureira, as chances de ser descoberta eram muito baixas, desde que ela mudasse a cor do cabelo.

Em um tom suave, Ryuu continua explicando como ela se tornou seu eu atual.

“… Peço desculpas por sujar seus ouvidos.”

“O quê?”

“Em resumo, a elfa que você vê diante de si é uma criminosa desavergonhada e violenta… eu traí sua confiança, Sr. Cranel.”

Ela olha para mim com a mesma expressão calma, apesar de estar confessando todos os seus crimes. Eu limpo minha garganta.

Eu não sei como responder, então digo a primeira coisa que vem a minha mente:

“Ryuu… por favor, pare de se diminuir. Eu vou ficar bravo com você.”

Seus olhos azuis se abrem um pouco mais.

Ela fica parada por um momento antes de finalmente dizer:

“Isso foi… muito inteligente.”

Só um pouquinho, mas seus lábios amolecem.

Ela não está sorrindo, mas seus olhos não parecem tão penetrantes quanto eles normalmente são.

Tudo o que fiz foi repetir suas próprias palavras de volta para ela, apenas roubei sua frase, mas a reação dela me faz sentir bem. Por que não iria? Sua habitual expressão gelada esquentou um pouco.

Um clima tranquilo nos toma no meio do cemitério, cercado por folhas verdes e luz cristalina.

“… Posso perguntar…”

“O que é?”

“Posso perguntar por que você veio para Orario?”

Esta é a minha melhor chance.

Minha melhor chance de descobrir por que Ryuu veio ao lugar onde as pessoas vão para seguir seus sonhos.

Quero saber por que eu e ela nos conhecemos.

“…”

Ela abre a boca um pouco antes de olhar para o teto.

Então Ryuu aperta os olhos para protegê-los dos raios de luz penetrando pelas árvores acima.

“… Nós elfos somos uma raça conhecida por nossa boa aparência.”

Seus olhos mal se abrem, eles vagueiam pelo chão gramado da Dungeon.

Finalmente, Ryuu continua sua história.

“Eu e os outros fomos louvados por nossa beleza. No entanto, isso é realmente verdade? Extremamente orgulhosos e revoltados com qualquer coisa impura, nós não permitimos que outras pessoas toquem nossa pele com facilidade…”

“…”

“Há alguns que acreditam que as outras raças são sujas na superfície assim como em seu interior, e se recusam a interagir com eles, se isolando em suas florestas de origem. Pelo menos, a maioria dos elfos da minha floresta natal acreditam nisso…”

“No entanto”, ela continua.

“Apenas reconhecendo nossa própria beleza enquanto observamos todo o resto como se não fosse nada além de lixo… Um pensamento me ocorreu.”

Ryuu mais uma vez olha para a luz.

“Que os elfos, lindos e magníficos, eram realmente os mais repugnantes.”

Sabendo o valor que os elfos atribuem às relações interpessoais, aposto que ela era a única que se sentia assim.

Entre todos os elfos, tão cheios de orgulho, ela foi a única a questionar sua lógica.

“Assim que essa ideia surgiu, foi impossível removê-la. Eu me envergonhei da minha própria terra natal, então eu saí… e finalmente cheguei a Orario.”

“Por acidente?”

“Não exatamente… eu ouvi muitos viajantes dizerem que Orario era o lar de deuses, humanos e outras fadas, um lugar cheio de vida onde as pessoas se reúnem. Eu pensei que se eu estivesse lá, eu poderia encontrar algo… Não, não é isso.”

Ela olha nas palmas das mãos como se estivesse se lembrando dos primeiros dias na cidade.

“Eu queria companheiros dignos do meu respeito, que sentissem que eu era digna do respeito deles.”

Era a única coisa que ela não tinha ao ter crescido na cultura élfica e com os costumes élficos.

Pessoas que não atribuem valor a raça ou aparência, mas ao conteúdo de sua personalidade. Amigos que iriam rir ao lado dela.

“Vim para a cidade com grandes esperanças… mas elas foram rapidamente frustradas. Eu não expus minha pele a ninguém além de outros elfos. Meu rosto sempre coberto por um capuz, eu afastei todas as mãos que se estendiam para mim.”

A cultura élfica estava muito entranhada… Ryuu não conseguiu começar uma nova vida.

Nesse novo lugar, ela era constantemente encarada por causa de sua beleza, e ela não aguentou.

Os elfos não permitem que alguém em quem não confiem, toquem sua pele. Ela não conseguiu consertar isso e os outros ensinamentos élficos que foram colocados em sua cabeça desde a infância — isso deve ter atormentado ela.

“Que piada. Eu deixei minha terra natal porque não aguentava meu próprio povo, e no entanto, no mundo exterior, eu não era diferente deles. Então eu me cortei de todo mundo, criando um muro.”

Então foi por isso que ela usava o capuz durante o seu tempo em Orario.

Ela ficou desapontada por perceber que era exatamente igual aos elfos da floresta.

Do seu ponto de vista, era ela quem olhava as pessoas com superioridade.

Seu desdém por outras raças deu uma volta completa, voltando para si mesma. Se tornando uma auto aversão.

“Eu não mudei. Eu ainda era uma elfa, com o nariz erguido de orgulho.”

“Ryuu…”

“No entanto.”

Seu tom muda de repente.

Então ela caminha até mim, cara a cara, e gentilmente agarra minha mão.

“— Hã?”

“Desse mesmo jeito, houve alguém que segurou minha mão, que eu pude tocar.”

Ela está apertando minha mão.

Seus dedos são tão pequenos e delicados que eu tenho medo que eles possam quebrar se eu os apertasse de volta. E no entanto, sua pele é muito macia e flexível. Minhas bochechas coram antes que eu perceba.

“Essa é minha segunda vez com você, sim? Você se lembra?”

“S-sim ?!”

“O dia em que você perdeu sua faca e estava procurando desesperadamente.”

Estou muito surpreso para perceber do que ela está falando, mas então a sensação de sua pele em minhas mãos provoca uma memória. O dia em que Lili, disfarçada como uma meio fera, roubou a <Faca de Hestia>. É sobre isso que ela está falando.

Me lembro claramente de alegremente abraçar suas mãos porque ela tinha recuperado minha faca.

“Eu fiquei muito surpresa. Surpreendida por não jogar imediatamente o humano que agarrou minhas mãos na beira da estrada.”

O rosto dela forma uma expressão que eu nunca vi em Ryuu antes: um sorriso malicioso.

Eu não seria capaz de dizer nada se ela tivesse me cortado pela metade… Só agora eu percebo o que está acontecendo. Minhas bochechas e ouvidos estão queimando, mas eu faço o meu melhor para forçar um sorriso.

“Você é a terceira pessoa que eu não castiguei imediatamente por tocar minha pele.”

Ela diz isso com sua mão ainda firmemente agarrada a minha.

— Eh? Seu nome é Ryuu? Isso é muito difícil de dizer. Eu vou te chamar de Lion de agora em diante!

A primeira, a garota brilhante e alegre que a convidou para se juntar a sua <Família>.

— Você está bem?

A segunda, a garota legal que estendeu a mão quente para os seus dedos frios, a garçonete que lhe deu um lugar para se estar.

E o terceiro é…

“Por favor, não faça uma cara tão confusa. Eu sinto que você está zombando de mim.”

“D-desculpe!”

“Estou brincando… tenho acompanhado suas ações desde que nos conhecemos. Eu vim a entender sua fraqueza, sua sinceridade e acima de tudo seu espírito.”

“Ryuu…?”

“Sr. Cranel, você é gentil.”

Completamente esmagado por essa nova aura irradiando de seus olhos, eu só consigo responder dizendo o nome dela.

Ela pisca os olhos, as esferas azuis escondidas da vista por um momento, antes de lentamente abri-los novamente.

“Você é um humano digno do meu respeito.”

Ryuu… sorri.

Suas sobrancelhas finas relaxam enquanto as bordas de seus lábios femininos se curvam para cima.

Meu corpo inteiro fica rosa quando ela me olha com um sorriso tão puro e limpo quanto um lótus branco.

“… Uh.”

“Sr. Cranel?”

Eu sei que é um pouco tarde, mas agora eu realmente sei por que o sorriso de um elfo é uma coisa perigosa.

O sorriso de um elfo refinado é particularmente brutal. É um trunfo poderoso o suficiente para fazer meus joelhos enfraquecerem apesar de ter minhas próprias ambições.

A beleza élfica não está só na aparência.

Um sorriso que eles dão apenas aos companheiros mais confiáveis.

Meus olhos estão cheios com os raios de luz vindos de cima e das cores tranquilas do cemitério e das flores, mas acima de tudo, com o lindo sorriso dela.

Agora acho que sei por que as outras raças tem um queda pelos elfos.

“Ow, ow, ow… O que você faria se quebrasse meu rosto, Asfi?”

“Você colhe o que planta.”

A “noite” já havia caído no décimo oitavo andar da Dungeon.

Duas figuras saíram silenciosamente do acampamento da floresta: Hermes e Asfi.

“Um deus que não é melhor que um tarado… Você não tem vergonha!”

“Espiar não é grande coisa para nós…”

Bell, que desapareceu após o incidente, voltou ao acampamento pouco antes do jantar. O fato de ele ter sido levado à cena pela divindade — e que ele praticamente enterrou o rosto no chão ao se curvar — o permitiu escapar com um aviso verbal severo. Somente Hermes, o instigador, foi fisicamente punido.

“… Bem, então, onde estamos indo nessa noite escura?”

“Em uma noite escura como essa, só há um lugar para trazer uma dama. Não é óbvio?”

Do outro lado do gramado diante deles, as luzes da cidade de Rivira brilhavam como um farol do oeste.

“Para uma taverna.”

“Droga!”

Dentro de uma das poucas tavernas de um pequeno nicho de Rivira.

Construído dentro de uma fenda que ocorre naturalmente na face do penhasco, o chão estava coberto por um tapete sujo e tinha apenas uma mesa com algumas cadeiras. As paredes estavam pontilhadas com lâmpadas portáteis de pedra mágica. Mesmo aqui, cristais cresceram em uma das paredes e em alguns pontos no teto.

Um homem que era um pouco diferente do que a maioria dos outros aventureiros, bateu sua caneca sobre a mesa.

“Acalme-se, Mord.”

“Cale a boca! Aquele pirralho, eu não tenho nenhuma ideia de como ele chegou aqui… É um maldito arrogante!”

“É ciúme o que eu ouço?”

Essa frase provocou risadas em todos ao redor da mesa, exceto Mord.

Apenas alguns poucos aventureiros da classe alta tinham a capacidade de chegar a Rivira, o que significa que quanto mais tempo você passa lá, mais você conhece os moradores que fazem negócios.

Os clientes deste bar podem ser de <Famílias> diferentes, mas eles tinham boas relações com o grupo de Mord.

“Sobre o que diabos você está rindo?! Esse novato idiota não fez nada, sobe de nível em alguns meses, e agora o rabo dele vem por todo o caminho até aqui em baixo?! Quão estúpidos somos, trabalhando duro por anos apenas para chegar até aqui!!”

Recontando os eventos na Senhora da Abundância, Mord não desperdiçou tempo em apontar a fonte de sua raiva.

Todas as pessoas aqui faziam parte de um clube exclusivo de aventureiros de classe alta dentro de Orario. O pensamento de algum novato andando nas mesmas ruas era algo que ele não aguentava.

Ainda mais que alguns dos deuses estavam falando sobre esse novato em particular, esse “coelho”.

O bar ficou quieto o suficiente para se ouvir um agulha cair quando o discurso de Mord finalmente chegou ao fim.

“Ele até mesmo chegou a comprar lã de salamandra de alta qualidade… Merda de garoto, eu quero arrancar a cabeça dele.”

Mord cuspiu em raiva antes de tomar outro gole de uma cerveja particularmente potente, mesmo para os padrões de Rivira.

“Mas Mord, não importa o quanto você queira derrubá-lo — como você vai fazer isso? Ele está com a Princesa da Espada.”

“Um do grupo de Hermes e também… o grupo de Takemikazuchi.”

Os companheiros de Mord estavam sentados ao seu lado, tentando fazê-lo voltar a razão.

“O cara não estaria aqui sem eles… Você não acha que o Pequeno Recruta percebe isso?”

“Chega de conversa fiada! Vocês vão me ajudar ou não? Qual é?!”

Suas palavras não fizeram nada além de deixar Mord ainda mais irritado.

Os aventureiros sentados ao redor da mesa congelaram no lugar; a fúria emanando dos olhos do homem os impediam de se mover. Eles sabiam que a qualquer momento Mord poderia sacar uma das armas penduradas em sua cintura, se o pensamento passasse por sua mente.

“Se pudéssemos pegá-lo sozinho, atrair aquele pirralho para longe dos outros…”

Bell se destacou demais.

Ele chegou aos níveis intermediários muito rapidamente depois de subir de nível.

Rápido o suficiente para chamar a atenção e indignação de outros aventureiros de classe alta.

“O-oh, vocês realmente estão aproveitando aqui!”

Todos os olhos no bar caíram na entrada.

Eles viram Hermes, entrando como se fosse o dono do lugar, seguido silenciosamente por Asfi.

“… Que negócios você tem aqui, Sr. Divindade? Se você está procurando uma bebida, é melhor ir embora.”

“Ha-ha, acabei de ouvir alguns planos sorrateiros em andamento e não pude me segurar.”

Passo. Um dos aventureiros se colocou firmemente entre o deus e a saída.

Ele conhecia o plano deles. Hermes esteve com Bell, e sem dúvida o avisaria. O deus não podia escapar.

Coisas como essa acontecem o tempo todo hoje em dia… Asfi lamentou enquanto se escondia na sombra de Hermes.

“Então, o que vai ser? Você vai tentar nos parar sozinho?”

“O que lhe deu essa ideia? Faça como quiser. Me ignore e continue formando um plano.”

“O que?” O queixo de Mord caiu em descrença.

“Eu gosto de crianças como você. Este mundo seria tão chato se todos fossem bons.”

O rosto de Hermes se arqueou em um sorriso enquanto ele ria para si mesmo.

Por um momento, Hermes mostrou seu verdadeiro caráter — alguém que desfrutava de todos os encantos de estar na terra como um deus.

Ele não estava mostrando tolerância pelo bem e pelo mal. Ele realmente era bom e mau.

Mord ficou sem palavras por essa presença diante dele, algo muito mais misterioso do que qualquer monstro.

“Você quer uma chance de atacar Bell, sim? Nesse caso, por que eu não digo para vocês os nossos planos de amanhã?”

“… Como sei que posso acreditar em suas palavra, Sr. Divindade?”

“Ei, ei, é com Hermes que você está falando. Eu não minto para crianças.”

Alguns dos outros aventureiros ao redor da mesa tentaram chamar a atenção de Mord, mas ele os ignorou e aceitou a oferta de Hermes.

“Eu não estou em condições de ajudá-lo diretamente… Ah, sim, se você precisar de um ‘Amuleto da Sorte’ de coragem para derrotar seus inimigos, eu tenho uma coisinha que você pode pegar emprestado.”

Com isso, Hermes se virou para Asfi, que lhe entregou um item. Hermes pegou e o apresentou a Mord.

Era um pequeno capacete. Com base em seu design, parecia mais um chapéu com uma pequena aba na frente.

Sua cor era igual a sujeira encontrada no fundo da terra, preto como carvão.

“E isso é…”

“Um item mágico forjado pela primeira e única Perseus. Seria mais fácil mostrar para você o que ele pode fazer.”

As palavras de Mord o deixaram enquanto observava outras pessoas colocarem o capacete. Ele não podia acreditar em seus olhos.

Um item mágico criado por um dos fabricantes de itens mais famosos de Orario. Era dito que os itens de Perseus concediam ao usuário Magia e Habilidades através do poder do “Enigma”.

“Sério, eu posso usar isso…?”

A voz de Mord tremeu quando Hermes assentiu com um “Sim”.

“No entanto, com uma condição…”

Mord pegou o item com uma mão e o segurou contra o peito, os olhos brilhando.

 

“Me divirta. Me dê um show que eu não esquecerei facilmente.”

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