Capítulo 59: Esta Porta Leva ao Desaparecido
A parte inferior do Desaparecido estava completamente em ruínas, com seus componentes espalhados por toda parte, enquanto a área além da cabine destruída era engolida por um abismo de profunda escuridão, pontilhado por luzes que cintilavam aleatoriamente.
Seria esta a verdadeira “estrutura do porão” do Desaparecido? E, se fosse, o que poderia existir além desses destroços da cabine? Poderia haver algo tão estranho oculto nas profundezas do Mar Sem Fim?
Avançando cautelosamente, Duncan deu dois passos sobre a peça mais robusta de madeira flutuante, mantendo a saída que acabara de usar ao alcance de seus olhos para garantir que ela não desaparecesse misteriosamente.
“Capitão…” A voz de Alice, carregada de preocupação, ecoou novamente. Mostrando mais emoção do que o habitual, a boneca espiou cautelosamente pela porta, seus olhos preenchidos de medo. “Isso é esperado, certo?”
Duncan sentia um turbilhão mais profundo do que o dela. Alice depositava uma confiança inabalável em seu capitão, mas ele não tinha ninguém em quem confiar. Apesar disso, ao ver a clara ansiedade da boneca e relembrar as estranhas ‘regras da tripulação’ mencionadas pela sinistra cabeça de bode, Duncan conseguiu conter seus próprios medos, mantendo a calma e a compostura habituais.
“Fique tranquila”, a tranquilizou suavemente. “O Desaparecido é um navio além da sua imaginação.”
“É verdadeiramente incompreensível…” murmurou Alice, parecendo um pouco mais calma enquanto olhava ao redor para os restos despedaçados do nível mais baixo do navio. “Capitão, parece que não há água lá fora.”
Duncan refletiu sobre as palavras dela e então ergueu uma sobrancelha, curioso.
“Você está sugerindo que esta pode ser uma parte submersa do Desaparecido?”
Alice pareceu surpresa.
“Por que está me perguntando isso?”
Duncan manteve-se neutro:
“Porque você já experimentou isso em primeira mão.”
“Não foi porque você me empurrou para fora do navio…?” Alice começou a retrucar, mas logo se conteve. “Isso não parece certo… Deveria haver água se estivermos debaixo do mar. Mesmo que o Mar Sem Fim não seja exato, ainda deveria haver água abaixo do oceano. Mas isso aqui parece mais com…”
“Um abismo preenchido por fluxos caóticos de luz”, completou Duncan, incrédulo. Ele se aproximou do limite da prancha flutuante em que estava e olhou para as fitas brilhantes abaixo. “As partes inferiores do Desaparecido… não estão no Mar Sem Fim.”
Alice parecia chocada com essa constatação:
“O quê? Então onde estamos?”
Duncan não respondeu. Ele estava tão confuso quanto ela, mas uma teoria começava a se formar em sua mente.
Seria possível que o navio estivesse navegando por múltiplas dimensões simultaneamente? Enquanto parecia atravessar o Mar Sem Fim no mundo físico, diferentes partes do Desaparecido poderiam existir em várias dimensões ao mesmo tempo. Essa teoria poderia explicar por que as partes mais profundas do navio pareciam cada vez mais estranhas e desoladas. Talvez o desespero não viesse das cabines em si.
Se fosse isso, o que seria esse espaço discordante, se não o Mar Sem Fim? Não se parecia com o mundo espiritual, nem com o túnel sombrio da viagem espiritual… Poderia ser uma representação de uma dimensão mais ‘profunda’ e oculta?
Cheio de teorias, Duncan alcançou cautelosamente a espada pirata ao seu lado. Em vez de arriscar a si mesmo, decidiu usar a lâmina para testar os arredores, atento a qualquer presença maligna que pudesse estar à espreita, pronta para emboscar.
No entanto, ele ficou surpreso ao ver a ponta da espada desaparecer e reaparecer em meio a outro conjunto de destroços mais à frente.
Franzindo a testa, Duncan repetiu a ação em outra direção, apenas para ver o mesmo fenômeno.
Então, ele entendeu.
As áreas aparentemente desconectadas estavam, na verdade, interligadas no espaço, e a estrutura do porão que parecia quebrada estava, de fato, inteira!
Erguendo-se com uma nova confiança, ele olhou ao redor cautelosamente para se certificar de que não havia outras irregularidades antes de soltar um longo suspiro de alívio.
As ‘rachaduras’ eram meramente ilusões ópticas. Embora a causa por trás delas fosse diferente, o efeito sobre sua percepção era o mesmo.
Mas qual seria a causa subjacente disso? Seria uma sobreposição de espaços diferentes? Ou talvez uma projeção distorcida de uma dimensão superior para uma inferior?
Duncan revisou todas as informações que havia reunido, fosse confiável ou não, tentando entender os estranhos acontecimentos que se desenrolavam diante dele.
Enquanto isso, Alice observava, confusa, enquanto o capitão fazia gestos estranhos na borda da plataforma de madeira. Eventualmente, ela perguntou:
“Capitão, você está realizando algum tipo de ritual especial para acalmar o navio?”
Surpreso, ele rapidamente guardou sua espada e respondeu:
“Sim, isso mesmo…”
“Isso é incrível!” Os olhos de Alice brilharam. “Você vai fazer essa cerimônia para todas as seções aqui?”
“Só uma é suficiente”, respondeu Duncan, mantendo a compostura enquanto continuava seu ato. Ele rapidamente desviou a atenção de Alice para evitar mais perguntas da curiosa boneca. “Vamos seguir em frente.”
Ele verificou a lanterna para garantir que estava funcionando corretamente e a segurou perto. Apesar de ser um ponto sem retorno, nada de anormal aconteceu…
Assim como havia testado antes com sua espada, Duncan descobriu que poderia ‘pular’ a travessia do que parecia ser uma lacuna perigosa.
Alice observava maravilhada enquanto o capitão atravessava com facilidade. Embora o visse fazer isso com segurança, ela ainda se sentia nervosa. Em um momento de coragem, ela correu à frente e saltou de olhos fechados. Como esperado, ela colidiu com Duncan, tirando-lhe o fôlego.
Depois de se recompor da queda, Duncan lançou um olhar severo e sem graça para a boneca sem cabeça, que se arrastava atrás dele — a cabeça de Alice havia se soltado novamente no caos, rolando cerca de dez metros de seu corpo.
“Eu… Eu sinto muito…”
“Fique aí. Eu vou pegá-la para você”, Duncan suspirou profundamente, questionando sua decisão de trazer uma boneca tão problemática. “Já pensou em prender sua cabeça com um parafuso para evitar isso?”
A cabeça de Alice, aparentemente não percebendo o comentário sarcástico de Duncan, gaguejou, chocada:
“H-Há… Há uma p…”
Confuso, Duncan olhou na direção para onde ela apontava os olhos.
Uma porta de madeira escura e ameaçadora estava no final dos destroços.
“Uma porta… Existe uma aqui, de verdade!”
Duncan havia pensado na possibilidade de encontrar um clichê de filmes antigos de terror. Mas vê-la pessoalmente ainda fez seu coração disparar.
Nesse momento, o corpo sem cabeça de Alice também se aproximou de forma desajeitada. Já não suportando mais a absurda situação, Duncan rapidamente pegou a cabeça da boneca e a entregou a ela:
“Você viu essa porta antes?”
Com um ‘pop’, Alice recolocou sua cabeça e respondeu:
“Não me lembro de tê-la visto. Deve ter aparecido depois que cruzamos.”
Duncan fez um som de desdém e se moveu cautelosamente em direção à enigmática porta, lanterna em mãos.
Ele já não precisava mais da lanterna para iluminar, pois o brilho errático das rachaduras fornecia luz suficiente. No entanto, ele manteve a lanterna acesa por outro motivo — sua própria segurança.
A porta que acabara de aparecer parecia comum, feita dos materiais usuais encontrados nas cabines dos navios a bordo do Desaparecido.
“Esta porta leva ao Desaparecido”, Duncan leu em voz alta as palavras gravadas na moldura de cobre da porta.