Capítulo 60: O Lado Oposto da Porta

Esta porta leva ao Desaparecido.

As letras na moldura da porta, fundidas em latão, pareciam ter resistido a um século de tempo. À luz da lanterna do Fogo Espiritual e do caos escuro que enchia toda a cabine, cada linha das letras parecia estar revestida com uma camada de tempo solidificado, exalando uma aura de mistério antigo.

Duncan olhou para a linha de letras por vários segundos antes de se afastar inexpressivamente.

O silêncio foi repentinamente quebrado pela voz de Alice, cheia de curiosidade e preocupação. “Capitão Duncan, já estamos indo embora? Não deveríamos verificar esta porta primeiro? Parece que pode ser interessante investigar, mesmo que não planejamos abri-la…”

Duncan respondeu com um gesto desdenhoso, claramente desinteressado. “É uma perda de tempo. Já inspecionamos todas as partes do porão do navio. Não há nada novo para encontrar aqui.”

A conversa deles foi interrompida abruptamente por um leve som de batidas, quase inaudível, fazendo-os parar e escutar atentamente.

Duncan virou-se bruscamente para Alice, que havia vacilado ligeiramente, seus olhos arregalados de medo enquanto procurava freneticamente pela sala. Seu foco finalmente se fixou na porta de madeira ominosa. Tremendo, ela sussurrou: “O barulho… está vindo de trás desta porta…”

Duncan permaneceu parado, seu olhar fixo na porta enquanto as suaves batidas continuavam, quietas, mas claras. Instintivamente, ele deu um passo para trás, seus sentidos alertando-o para o perigo potencial do outro lado.

Após um momento de hesitação, Duncan, movido pelo silêncio inquietante que se seguiu às batidas, decidiu se aproximar da porta.

Iluminado pela luz espectral de sua lanterna, espada em mãos, ele examinou cuidadosamente a porta. Percebeu que ela estava ligeiramente aberta, com uma pequena fresta no canto inferior direito, grande o suficiente para espiar.

 

Parece que a porta foi fechada rapidamente, deixada parcialmente aberta na pressa de alguém.

Aproveitando a oportunidade, Duncan se inclinou, tentando ver através da fresta, enquanto preparava sua espada para qualquer perigo.

O que ele viu foi completamente inesperado.

Ele vislumbrou um pequeno cômodo, com papéis de parede antigos descascando, aparentemente intocados pelo tempo. O ambiente estava desordenado, com uma cama simples e uma mesa que tinha um computador, estranhamente familiar.

No entanto, o que realmente chamou sua atenção foi a figura alta e esbelta, escrevendo fervorosamente à mesa. Vestido com uma camisa branca simples, com cabelo despenteado e uma expressão de grande preocupação, o homem estava imerso em um velho diário que normalmente guardava na gaveta da mesa. Sentindo a presença de Duncan, o homem, que Duncan reconheceu como Zhou Ming, de repente olhou para cima e correu até a porta, encarando diretamente Duncan.

Os dois se encararam em um impasse silencioso e tenso. Zhou Ming então começou a empurrar freneticamente a porta, tentando escapar, mas ela não se movia. Desesperado, ele tentou forçar a abertura com uma ferramenta, mas a tranca permaneceu segura.

Eventualmente, o homem dentro se resignou à derrota. Duncan não conseguiu entender as palavras de Zhou Ming; elas estavam abafadas e indistintas. No entanto, Duncan conhecia bem suas intenções, já que ele mesmo já havia sentido um desespero semelhante.

Os olhos de Duncan então se fixaram na maçaneta ao lado dele da enigmática porta. Parecia tão simples de abrir… apenas uma torção e um empurrão…

Mas um medo profundo e instintivo o impediu.

Irritado pela hesitação de Duncan, o homem preso retomou a batida na porta, gritando algo incompreensível. Em seguida, ele rapidamente escreveu uma mensagem em um pedaço de papel e pressionou contra a fresta da porta.

 

Duncan leu as palavras urgentes: “Me salve! Estou preso nesta sala! Não consigo abrir as janelas ou a porta!”

Em vez de se sentir compelido a ajudar, Duncan estourou em gargalhadas, divertido pela situação irônica de Zhou Ming preso.

No momento seguinte, Duncan avançou com sua espada de pirata com considerável força, perfurando a figura conhecida como ‘o outro Zhou Ming’.

O clone foi perfurado sem esforço, sua expressão inalterada mesmo ao abrir a boca para gritar. Duncan, firme e resoluto, empurrou a espada ainda mais fundo, garantindo que ela penetrasse completamente o homem.

“Se você não consegue inventar histórias convincentes da Terra, evite tais enganações”, Duncan retrucou, sorrindo ironicamente.

Naquele instante, Ai, a pomba geralmente silenciosa, começou a bater suas asas e grasnou: “Isso é apenas uma ilusão. O que você está escondendo?”

Quase imediatamente, a figura atrás da porta começou a se desintegrar, derretendo como uma figura de cera até desaparecer em um elaborado jogo de luz e sombra. Simultaneamente, a ilusão da sala se dissipou, revelando sua verdadeira natureza a Duncan: uma cabine escura e em ruínas, cheia de poeira e decadência.

A espada em sua mão não encontrou resistência, atingindo apenas o ar.

Essa ‘porta extra’ era meramente uma fachada que escondia outra cabine deteriorada?

Duncan continuou sua exploração, mas, de todos os ângulos, parecia ser apenas uma cabine comum.

 

Mas será que essa cabine era realmente ‘real’?

Duncan retirou lentamente sua espada da fresta estreita, exalando profundamente antes de recuar cautelosamente.

O estranho encontro deixou uma marca profunda em sua mente, e ele lutava para determinar se fora apenas uma ilusão ou algo mais tangível. Uma coisa estava clara… algo extremamente estranho e potencialmente perigoso estava à espreita atrás daquela porta.

Se a ilusão fosse uma manifestação de suas próprias memórias e percepções, então o perigo que ela representava era muito maior do que sua própria identidade, como ‘Capitão Duncan’, poderia sugerir. Essa realização fez um arrepio percorrer sua espinha, transformando-se em um cenário de pesadelo.

Era improvável que alguém mais neste mundo soubesse sobre aquele quarto, ou sobre a identidade de ‘Zhou Ming’.

No entanto, a presença misteriosa atrás da porta parecia estar ciente…

Enquanto Duncan tentava acalmar sua ansiedade crescente com respirações profundas, ele se tranquilizou, pensando que evitar a porta era a decisão certa. Era perigoso demais para ser aberta sob qualquer circunstância.

Seus pensamentos foram abruptamente interrompidos pela voz de Alice: “Capitão…” Ao olhar para sua face de boneca, ele viu sua expressão cheia de preocupação e medo. “Capitão, você está bem? O que há atrás daquela porta? Por que você parece tão preocupado?”

Duncan descartou suas preocupações com um gesto de cabeça: “Não se preocupe com o que há atrás dessa porta; não é nada que precisamos. Já exploramos o suficiente. É hora de voltar.”

Ele tentou fechar a porta com firmeza, mas ela resistiu como se fosse viva, recusando-se a se fechar.

 

Huh? Ah… tudo bem!” Inicialmente surpresa, Alice rapidamente recuperou a compostura. “Vamos voltar rápido. Tenho que admitir, este lugar é bem assustador. Está me dando arrepios…”

Com uma risadinha suave ao ouvir suas palavras, Duncan conduziu Alice até a ‘Porta Final’ que dava para a escada.

Ambos estavam ansiosos para deixar a cena inquietante para trás, especialmente após a tentativa frustrada de fechar a porta.

A jornada de volta pelo navio foi sem incidentes. Eles passaram pelo porão deteriorado, pelo compartimento de carga mal iluminado, e pela escada e corredores sombrios, finalmente chegando à cabine acima da linha d’água.

Enquanto Duncan mantinha uma postura composta, Alice relaxou visivelmente no momento em que pisou no convés, como se fosse aliviada de um peso pesado.

Percebendo a ansiedade contínua de Duncan, Alice hesitou antes de perguntar, “Capitão, você está cansado? Gostaria que eu preparasse algo para você comer? Você não teve um jantar adequado…”

Duncan, retirado de seus pensamentos pela preocupação de Alice, olhou para seu rosto preocupado, que lhe lembrou o de Nina quando ela estava ansiosa.

Percebendo que seu humor estava afetando os outros ao seu redor, ele tentou iluminar sua expressão e dissipar a tristeza.

“Só não coloque nada estranho na panela dessa vez.”

“Minha cabeça não é uma coisa estranha!”

 

“Especialmente sua cabeça.”

“… Woohoo.”

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