Capítulo 28 – Tecendo Fios.

Sarana sentou-se entorpecida em seu assento enquanto os gritos de todos os outros na sala ricocheteavam nas paredes desta realidade cinzenta. Seu sangue agora negro neste mundo cinza se espalhava no chão enquanto vida após vida se apagava como pequenas chamas. Ela observou Lorde Pelle, um nobre menor na corte, gritar quando a besta se virou para olhar para ele.

Ele era um homenzinho triste, um sobressalente para sua família. Era o quarto filho de sua casa, o primeiro filho era o herdeiro e os herdeiros se casavam com a segunda filha de outras casas. Os terceiros filhos eram os sobressalentes para o primeiro ou segundo filho. O quarto filho em diante, no entanto, foram os sobressalentes dos sobressalentes, na melhor das hipóteses, ou acidentes indesejados, na pior das hipóteses.

Sarana sabia que ele veio aqui para escapar de sua existência miserável nos tribunais. Ninguém ali o reconheceu, quer ele vivesse ou morresse, ninguém além de sua mãe se importaria. Ele economizaria por meses para uma noite aqui, uma noite para se sentir importante neste mundo.

Bem, no final, o que este lugar oferecia era uma ilusão, a mais doce das mentiras. Arrebatamento e importância nascidos de fumaça e espelhos. Mas não importa quão tenra, suculenta ou sedutora, uma mentira sempre será uma mentira…

Todo mundo quer alguma coisa, Sarana sabia muito bem disso. A chave para o conteúdo da mente de alguém está dentro do tecido de seus desejos mais profanos. Para muitos a vida é uma coisa brilhante, uma coisa linda, que encanta… muitas vezes até a obsessão.

Sarana não foi diferente, ela nasceu camponesa, agraciada com beleza. Então ela se vendeu pelo lance mais alto e dentro de sua profissão ela aprendeu a encontrar o que as pessoas queriam. Na maioria das vezes, as pessoas querem ser importantes, querem ser especiais quando não são nada especiais. Sarana pensou que sabia disso, mas aqui está ela… uma tola como todas as outras…

Sua ambição e sede de poder a levaram ao ouvido de um rei. Com o ouvido do rei ela encontrou um grande propósito, um sussurro aqui e uma canção ali. Ela poderia fazer casas nobres se erguerem ou voltarem ao pó. Todos os grandes homens da corte queriam seu favor, pois ela era a grande aranha, tecendo sua teia pela corte. Com muitos olhos e muitas mãos nas sombras.

Sarana se sentiu uma deusa… agora olhe para ela…

Escrava do Sindicato e em breve lacaia de uma princesa que ela selou. Ou talvez comida por uma grande fera…

Sarana observou enquanto a besta levantava Lorde Pelle em um de seus braços. Lorde Pelle gritou e soluçou quando a besta abriu sua boca cheia de dentes serrilhados. Então, com um simples movimento, a besta o jogou em sua boca. As mandíbulas se fecharam e Sarana ouviu o esmagamento do osso quando a besta esmagou seu corpo.

Ela observou a besta se virar para ver um dos guardas de Cornenk que acabou de disparar sua besta contra a ela. A flexa de aço apenas ricocheteou em sua pele emplumada e caiu no chão. Houve um clarão e Sarana viu um espinho do tamanho de uma espada empalar o guarda. O guarda foi derrubado e caiu no chão. Então começou a ofegar enquanto arranhava o peito. Ela o viu tossir e um jato de sangue preto saiu de sua boca. Suas veias incharam quando uma espuma preta apareceu em sua boca. Ele engasgou e se contorceu enquanto qualquer mistura que vivia dentro do corpo da besta agora o devastava.

Veneno… Beatrice estava certa… essa besta tinha veneno…

A essa altura, os sobreviventes restantes estavam amontoados em um canto desse mundo cinza. Eles martelavam nas paredes desta pequena dimensão, mas seus esforços eram inúteis. Sarana olhou em volta e viu os corpos quebrados caídos no chão. Os corpos foram todos cortados em pedaços por aquelas enormes lâminas de osso.

A besta fez uma pausa enquanto olhava para a pequena multidão de pessoas gritando e em pânico. Sarana o viu inclinar a cabeça levemente como se estivesse pensando em algo. Então ela viu o mais leve indício de um sorriso em seu rosto…

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Cecilia observou seu bom amigo abrir a boca e incendiar a dúzia de pessoas que se encolhiam no canto da sala. Ela torceu o nariz levemente com o cheiro da carne queimada, mas tinha que admitir que era eficiente e mais importante… ilustrativo…

“Pronto… tudo feito.” disse seu querido amigo.

“Excelente, obrigado amigo.” Cecilia disse calorosamente.

Foi engraçado, quando ela se encontrou pela primeira vez com seu querido amigo, ela queria um acordo e um aliado. No final encontrou um amigo, ambos surpreendentemente tinham muito em comum. Ambos eram párias de certa forma, ambos queriam poder e ambos odiavam ser controlados e acorrentados.

O amigo dela pode não parecer, mas ele tinha um lado suave. Bem, nenhum deles tinha certeza se ele era homem ou mulher, mas eles apenas decidiram que ele seria homem por enquanto para tornar as coisas mais fáceis. Bem, era principalmente a própria Cecilia se sentindo desconfortável sobre como chamá-lo. Ele não tinha um nome e realmente não queria pensar em um. A própria Cecília não quis dar um nome a ele, isso faria com que parecesse um animal de estimação. Além disso, ela não queria chamá-lo disso, ela sentiu que era um insulto. Mais uma vez, por isso ele não parecia se importar.

Embora eles precisem criar o nome em algum momento, se tudo correr conforme o planejado, ele precisará interagir com outros humanos em algum momento. Uma boa maneira de reduzir o desconforto deles perto dele seria fazê-lo parecer um pouco mais familiar. A maioria dos humanóides teme o que eles não entendem, afinal.

Seu amigo era estranhamente sensível, era como se ele pudesse sentir o que ela estava sentindo. Ele diria a coisa certa na hora certa, daria conselhos e clareza quando ela precisasse. Era estranho encontrar apoio emocional em um monstro. Ele parecia focado e lúcido o tempo todo. Nunca se incomodando muito, tinha essa capacidade de aceitar as coisas como elas são. Não pensava demais, não rumina sobre os significados mais profundos e inconsequentes das coisas. Ele apenas é, e o mundo para ele… apenas é…

Cecilia estava particularmente grata a ele. Seu tempo no berço foi terrível, quatro anos. Ninguém com quem conversar, exceto seus carcereiros. Com as ditas conversas geralmente evoluindo para ela gritando com eles…

Quando ela recuperasse seu trono, estava determinada a manter sua parte no trato. Ela esculpiria para ele um belo pedaço de seu domínio. Um lugar tranquilo para morar, se desejasse, tanta comida o quanto quisesse. Se ele quisesse seguir em frente, Cecília ficaria um pouco triste em vê-lo partir, mas respeitaria sua decisão. Ela não sabia o que o destino tinha reservado para ela. Com a profecia e tudo, mas Cecilia não pretende ser colocada em outra coleira ou jogada em outra jaula. Ela decidiria seu próprio destino, era por isso que ela estava lutando.

“Agora então vocês dois. Serei simples…” Cecilia disse enquanto acenava com a mão e se desfazia da ilusão ao seu redor. Revelando seu cabelo platinado e olhos vermelhos rubi.

“Sou Cecilia Averlon, herdeira do trono de Averlon. Voltei para reivindicar meu direito de primogenitura e tenho uma proposta muito simples para vocês dois. Se vocês discordarem, eu os matarei, mas se você concordar, serão generosamente recompensado. Cecília disse calmamente.

“Como eu sei que você não vai simplesmente nos matar depois?” Cornenk perguntou.

“Por que eu deveria? Você já ouviu falar da frase, sempre deve haver um rei. Pois é preciso governar ou a sociedade cai no caos. Eu sei que isso não é diferente com o Fosso dos Descascadores. Uma vez disse ao meu pai para elevar um dos senhores do crime.

O crime acontecerá de qualquer maneira, então, se o rei puder controlar o senhor do crime, poderemos controlar melhor o Fosso dos Descascadores. Se eu matar você, outro se levantará para tomar seu lugar. Eu ofereço a você o domínio deste pequeno pedaço de Averlon.

Você será o rei da escória e da sujeira que vivem nesta fossa. Você vai governar com o meu mandato e pode se sentir livre para viver tão luxuosamente quanto quiser. disse Cecília.

“Então e quanto a mim?” Sarana perguntou suavemente.

“Oh Lady Sarana, eu sei o que você fez. Afinal, você era a única com meios para fazer isso. Para que uma estrutura complexa como essa seja construída e mantida, é necessário um nível de sutileza que está fora do alcance do cortesão comum…”, disse Cecilia enquanto se aproximava calmamente de Sarana.

Cecilia estava de pé sobre Sarana sentada, sua sombra projetando-se sobre ela. Cecilia podia ver o medo em seus olhos. Suas ações sempre alcançam você eventualmente…

“Ah, como eu sonhei com esse momento, passei por isso na minha cabeça inúmeras vezes. Que punição e crueldade eu infligiria a você…

Esfolar você viva?

Arrancar a alma de seu corpo e guardá-la em uma jarra?

Amaldiçoar você a queimar eternamente com fogo mágico?

Tantas possibilidades… mas eu mudei de idéia. Cecilia disse enquanto levantava a cabeça novamente e diminuía a presença dominante sobre ela.

“Mudou de ideia?” Sarana perguntou trêmula.

“Você vê, eu tenho conversado com meu amigo aqui por um tempo…” Cecilia disse enquanto pensava em sua conversa.

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Cecilia sentou-se em uma cadeira enquanto olhava para seu amigo que estava preguiçosamente no chão de pedra lendo um de seus livros.

“Amigo, posso ouvir seu conselho?” perguntou Cecília.

“Conselho? Infelizmente, não estou tão familiarizado com os assuntos humanos.” seu amigo disse enquanto levantava a cabeça ligeiramente para olhar para ela.

“Foi por isso que perguntei. Preciso de uma nova perspectiva.” disse Cecília.

“Tudo bem, sobre o que você quer conselhos?” seu amigo perguntou.

“Você sabe aquela mestre espiã

de quem falei com você?” perguntou Cecília.

“Sim? Por quê? Você decidiu como vai matá-la? seu amigo perguntou.

“Não, eu estava me perguntando o que você faria. Se alguém te ofendeu como ela fez comigo? perguntou Cecília.

“Eu veria que utilidade poderia tirar dela. Como você sabe, eu poderia comê-la e ganhar algumas habilidades. Mas acho que não se aplica a vocês humanos.” seu amigo respondeu ironicamente.

“Sim, suponho que não, isso tornaria as coisas mais fáceis, eu acho.” Cecilia disse com uma leve risada.

“Bem, eu descobriria o que poderia fazer com ela. Pelo que você me contou, o que aquela mestre espiã fez foi no mínimo impressionante. Ela tem um conjunto de habilidades únicas. Se o que você disse sobre ela ser a melhor Espiã Mestre da região for verdade, então ela é uma das duas coisas.

Uma ameaça ou um ativo potencial…

Posso estar errado sobre a próxima parte, mas acho que não sinto essa coisa toda de vingança como vocês, humanos. Sinceramente, não me importo muito com isso, ou talvez ninguém tenha conseguido me enganar ainda, então não posso me relacionar. Para mim, parece mesquinho e estúpido.

Há duas coisas em sua vida, ativos e ameaças. Os ativos devem ser preservados e as ameaças devem ser removidas. Se alguém conseguisse me ferir tanto, eu ficaria impressionado. Eu aprenderia com isso e veria o que poderia extrair daquela ferida.

Além disso, se você pudesse usar aquela mestre espiã, matá-la não seria apenas para sua própria satisfação passageira? Se ela tem uma dívida com você, por que não colocá-la para pagar? Se você quiser matá-la mais tarde, sempre poderá fazê-lo mais tarde.

Então, para mim… a verdadeira questão é. Você pode usá-la e ela é muito perigosa para usar?” seu amigo disse.

“Hmmm… obrigado amigo. Esse é um bom conselho. Você me deu muito em que pensar. Embora eu tenha uma última pergunta, por que você acha isso estúpido? Eu entendo porque você diria que é mesquinho, mas por que estúpido? Querer vingança não é inerentemente estúpido.” Cecília perguntou curiosa.

“Porque aqueles que querem vingança são previsíveis, aqueles que usam o coração na manga são previsíveis. O que é previsível é fraco e o que é fraco não sobrevive por muito tempo…

Havia um grupo de aventureiros que deveria verificar você. Eu os segui por um dia ou mais e descobri que um dos aventureiros estava apaixonado por outro. Então eu peguei um deles e usei sua dor e sofrimento para incitá-lo a perder a calma.

Com certeza ele perdeu a cabeça e entrou na floresta para lutar sozinho comigo. Ele não durou muito…

Ele se comportou exatamente como eu esperava, então ele correu direto para a minha boca…” seu amigo disse com um sorriso.

“Entendo… esse é um bom conselho amigo…” Cecilia disse com um aceno de cabeça agradecido.

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“Então não, você não vai passar o resto de sua existência como uma jarra na minha mesa. Não, eu vou usar você. Você trabalhará para que eu derrube o governo vil de meu pai. Cecilia disse com naturalidade.

“E como você evitará nossa traição?” Cornenk perguntou.

Para um observador desinformado, esta questão pode ser vista como pisar no rabo de um grifo. Mas todos os vivos nesta pequena dimensão de bolso não eram tolos. Um serviço comprado com ameaças era frágil, então essa questão talvez seja a mais importante de todas.

“Hmmm que bom que você fez essa pergunta. Se não o fizesse, eu poderia ter matado você de qualquer maneira. Cecilia disse com um sorriso frio.

“Diga-me, você sabe por que eu estava trancado naquele maldito berço?” perguntou Cecília.

Com essas palavras tudo começou a clicar na mente de Sarana. Ao ajudar a prendê-la, eles agora eram cúmplices desse grande engano. Os anjos não discriminam, eles queimariam todos se descobrissem…

Cecilia sorriu ao ver como o rosto do orc ficou ligeiramente pálido com suas palavras. Os dois tinham a mesma cara quando ela disse essas palavras. Eles eram muito bons em esconder isso para seu crédito, mas as sutilezas de ler um rosto são domínio dos nobres, não dos plebeus. Além do mais, Cecilia teve que extrair informações das pessoas ao seu redor apenas usando perguntas indutoras e lendo seus rostos. Afinal, ninguém confiava nela e todos que tinham contato com ela a temiam.

“Você senhor? E sim, eu sei que você teve um papel a desempenhar nisso. Está escrito na sua cara. Mas só para ter certeza, tenho que perguntar… você participou da construção daquela torre amaldiçoada? Eu não mentiria se fosse você, porque se você o fizesse, minha vida agora determinaria a sua…”, disse Cecilia.

“Eu… fiz os trabalhadores que construíram o berço desaparecerem…” Cornenk disse entorpecido.

“Existe mais alguma coisa que você saiba?” Cecilia perguntou timidamente enquanto se aproximava dele lentamente.

“Eu sei que foi você que foi trancado lá e… alguns rumores sobre uma profecia. Apenas isso.” Cornenk respondeu.

“Bom, agora deixe-me dizer por que a princesa herdeira de Averlon foi trancada em uma prisão ridiculamente cara. Quando nasci, um vidente fez uma profecia sobre mim, dizendo que eu destruiria a preciosa pequena ordem do Céu. Não era um vidente comum, o vidente uma vez serviu ao Conselho Divino no Alto Céu. Então acredite em mim quando digo isso, se o Céu descobrir sobre mim, sobre a profecia, sobre seu envolvimento neste segredo. Eles vão queimá-lo até virar cinzas. Cecilia disse ao chegar na frente de Cornenk.

“Portanto, existem dois caminhos, vocês podem ser cinzas e brasas ou podem trabalhar para mim. Enquanto eu viver e o segredo durar, você pode fazer o que quiser. Seu envolvimento neste segredo selou seu destino.

O destino é uma coisa tão curiosa, não é? A vidente disse que minha profecia seria a sua última. Meu pai então mandou matá-la para manter o segredo e a primeira peça se encaixou.

Então um grupo de aventureiros idiotas libertou meu amigo aqui no mundo. A profecia dizia que eu me aventuraria a desfazer o trabalho do Céu no dia em que atingisse a maioridade. Com certeza, no meu aniversário, encontrei meu amigo aqui e quando o relógio bateu meia-noite, eu estava livre…

Agora, as primeiras pessoas que encontro quando volto para Averlon são vocês dois? As duas pessoas que têm tanto motivo para temer o Céu quanto eu…

É quase perfeito demais, você não acha? Cecília disse com um sorriso.

Sarana engoliu em seco enquanto olhava para seu rosto sorridente. Sim, parecia um pouco perfeito demais…

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Era verdade que todo esse tempo eu senti que era um pouco perfeito demais. Não só para ela, mas também para mim…

A placa na tumba onde acordei tinha algumas palavras interessantes…

A criança lembrará ao mundo a verdade que tanto tentou esquecer

Isso foi escrito sobre mim. Cecilia tinha uma profecia diferente aparentemente, mas sua profecia era muito semelhante…

Ela se aventurará a lembrar ao mundo a verdade que tanto tentou esquecer.

Essa foi a linha em sua profecia. Curioso não acha? Honestamente, todo mundo parece tão obcecado pela profecia de Cecilia. Mas ninguém sabe sobre a minha, mas não estou reclamando. Os holofotes não me interessam muito, o que me agrada é a falta de atenção que essa omissão me deu. Não é tão surpreendente que os humanóides neste mundo pareçam pensar que o mundo gira em torno deles. Novamente, isso não é surpreendente, considerando o que sei da minha vida passada. Mas agora que não sou humano, isso me deu uma nova perspectiva. Por favor, deixe os holofotes cair sobre eles, eu esperarei nas sombras…

Afinal, um predador invisível é o mais mortal…

Eu acho que você poderia dizer que eu sou um…

Protagonista Fantasma…