Ato 1: Archer
Ele era verdadeiramente um mago, em todos os aspectos—
No entanto, ele tinha estagnado, em todos os aspectos.
A falsa Guerra do Santo Graal.
Ele sabia que se tratava de uma imitação do ritual, outrora realizado em uma ilha do Extremo Oriente. Isso não o incomodava.
—— Isso não importa.
—— Talvez seja uma farsa ou uma falsificação. Mesmo que seja, no entanto, isso não importa. Contanto que produza os mesmos resultados que o original, será suficiente.
Nenhum mago orgulhoso dependeria do fruto do trabalho de outra pessoa. Tal mago escolheria, em vez disso, construir um sistema próprio, assim como as três famílias fundadoras criaram a Guerra do Santo Graal. No entanto, ele foi rápido para seguir os passos dos outros. Dirigir ou seguir — ambas as opções eram razoáveis, em certo sentido.
Desde o início dessa mera imitação da Guerra do Santo Graal, não havia ninguém tão determinado, em todos os aspectos, quanto ele. Ninguém tão entusiasmado quanto ele.
Desde o início, ele estava preparado para qualquer coisa que viesse a ocorrer quando veio para Snowfield.
Quando ouviu pela primeira vez os rumores, debochou deles como meras fofocas. Então, um relatório emitido por Rohngall enviou tremores através da Associação. A notícia se espalhou de mago em mago até que o alcançou.
Ele era de uma família de reputação não insignificante entre magos, mas o poder de sua linhagem estava em declínio. Como chefe de família, estava sob pressão.
Ele havia formulado sua parte de teorias mágicas durante seu tempo. Era um homem inteligente. Conhecia várias técnicas. Tudo o que lhe faltava era poder puro, do tipo que deveria ter sido construído ao longo de muitas gerações. Isso o levou a uma frustração cada vez maior.
O normal a se fazer nesta situação seria passar muitos anos pesquisando maneiras de aumentar o poder de sua família e, em seguida, passar esse conhecimento, juntamente com seu Magic Crest, para um descendente suficientemente capaz.
Mas ele estava com pressa.
Seu filho era ainda mais incapaz com a magia do que ele.
Haviam muitas famílias cuja natureza mágica se tornava mais e mais fraca ao longo do tempo, até perder completamente o contato com o mundo da magia.
—— Isso não é motivo para rir.
—— Não vou me rebaixar como os Makiri.
Como qualquer outra organização ou corporação, a Associação estava repleta de obstáculos.
Somente um mago de uma linhagem poderosa poderia possuir um método para produzir sucessores poderosos e prósperos.
Era um beco sem saída. Ele era um mago, em todos os aspectos, e mesmo assim, não era suficiente.
Ele apostou tudo na talvez-falsa Guerra do Santo Graal, veio para Snowfield e colocou todas as suas fichas na mesa.
Todos os seus bens, todo o seu passado, até mesmo o seu futuro.
—— Não tenho nada a temer. Tudo correrá bem.
Para demonstrar sua determinação, ele exterminou seu filho. Seu filho que não tinha futuro.
Ele fez o mesmo com sua esposa, que tentou detê-lo.
Ele não sentia nada por ela, uma mulher que não podia oferecer uma descendência próspera.
Mesmo assim, ele achou chocante que ela não entendeu nada do que significava se respeitar como um mago.
Deve ter sido culpa dela que seu filho era fraco.
Alas, a melhor mulher que poderia obter na sua atual posição.
Para subir na vida, ele tinha que ganhar esta guerra.
Mesmo que este Santo Graal fosse uma falsificação, o mero ato de ganhar uma Guerra do Santo Graal bastaria para melhorar sua posição como mago. Ele poderia até encontrar um caminho para a Raiz ao vencer esta guerra.
Ou talvez pudesse aprender os segredos dos Makiri e dos Einzberns.
Não importa o que, ele estava destinado a estar em uma posição melhor no final desta guerra.
Era um esplêndido apostador.
Pelo menos, ele colheria uma recompensa mais valiosa do que todas as coisas que ele arriscava ao entrar na guerra.
Ele pensou em todas as maneiras de se beneficiar dessa guerra — mas nunca considerou a possibilidade de sua derrota e o fim da sua linhagem.
Havia uma boa razão para que não considerasse a possibilidade.
Ele tinha uma sólida chance de vencer.
Ou pelo menos, tinha uma chance boa o suficiente para justificar ter acabado com seu filho.
—— Então… estes são os Selos de Comando, devo aceitá-los?
Eles eram um pouco diferentes do que esperava.
Mesmo assim, ele olhou para a mão direita, um sorriso amoroso preso ao seu rosto como se estivesse olhando para o seu próprio bebê.
O selo tomou a forma de correntes entrelaçadas e serviu como a prova que tinha sido selecionado como mestre nesta guerra do Santo Graal.
—— Mas se isto apareceu….
—— Então o Graal me reconheceu! Eu! Como um mestre!
—— Como aquele que deve controlar esse Espírito Heroico!
Enquanto falava, o homem olhou para o pacote ao lado dele—
E então, ele riu.
Ele riu. Ele riu. Ele riu.
Um ravina grande, norte de Snowfield.
Na cadeia de montanhas perto do penhasco avermelhado, havia um conjunto de cavernas.
Embora as cavernas fossem originalmente formadas por processos naturais, agora serviam como atelier do mago. Ele havia estabelecido um Bounded Field para impedir que outros se aproximassem.
Uma lâmpada iluminou o espaço ao redor do mago. Pegou o embrulho e retirou um objeto cuidadosamente e com respeito.
Era—uma chave.
No entanto, não seria apropriado descrevê-la como uma mera chave.
Era extremamente ornamentada, com o comprimento e peso de uma pequena faca de combate.
Lhe parecia que as joias que a ornamentavam eram extremamente valiosas, tanto magicamente quanto monetariamente.
—— Ouvi dizer que foi convocado em uma Guerra do Santo Graal anterior usando uma serpente fossilizada….
—— E usando esta relíquia, não há dúvida de que vou convocá-lo.
Há um tempo atrás — quando sua família ainda era poderosa — um de seus ancestrais apostou tudo para obter essa chave, assim como ele acabou de fazer.
O que seu ancestral buscava era o tesouro da cidade dourada, que dizia abrigar todas as coisas que existem no mundo. Essa chave era o dispositivo que abriria as portas para a cidade da lenda.
Ele não tinha nenhum interesse na riqueza material. No entanto, um tesouro que continha todos os possíveis artefatos mágicos era algo que não podia ignorar.
Esse antepassado conseguiu verificar que a chave era genuína, mas não fez mais nenhum progresso. Ele nunca encontrou o tesouro. A chave estava impregnada de alguma energia mágica de origem desconhecida, mas isso não importava para neste momento.
Era uma relíquia pertencente ao Espírito Heroico que desejava. A chave serviria como um catalisador, tudo para assegurar que alcançaria o Servo que buscava.
—— A hora chegou.
—— Vamos começar.
O mago se levantou — e seu sorriso desapareceu abruptamente. Deixou de lado suas emoções e seus desejos egoístas, concentrando toda sua atenção na cerimônia que devia conduzir.
Unificou todos os seus sentidos, focalizando em um ponto e selando os que eram desnecessários.
Seus nervos, seus vasos sanguíneos, e os Circuitos Mágicos invisíveis que percorriam seu corpo.
Ele sentiu um líquido quente correr por esses caminhos e —
O mago proferiu uma invocação, tanto uma felicitação à si mesmo como uma maldição contra o universo.
Alguns minutos atrás.
Ele perdeu a vida e tudo o que havia sacrificado por essa guerra.
A linhagem de magos a que pertencia tinha chegado ao fim.
Tudo aconteceu em uma fração de segundo. Uma mera fração de segundo.
Depois de uma batalha de poucos segundos, ele encontrou seu fim.
“Eu fiz isso…. Ha ha, ha ha ha ha ha! Eu consegui!”
Quando o mago o viu diante dele, não pôde ficar em silêncio.
Não havia necessidade de determinar o verdadeiro nome do ser.
Desde o início, ele sabia quem ele iria invocar.
Ele mal conseguiu suprimir um riso. Por alguns segundos, ele ficou ali parado, ignorando o Espírito Heroico.
O semblante do Espírito Heroico estava obviamente insatisfeito. No entanto, ele cumpriu seu dever como um Espírito Heroico. Claro, não há como dizer via isso como um “dever” em primeiro lugar.
“…Me responda. Você é o mago insolente que ousa convocar um rei em toda a sua glória?”
Ele tinha cabelos dourados e uma armadura dourada.
Como um servo, ele esbanjava uma magnificência incomparável. Sua pergunta ao mago foi feita com desprezo.
O mago ficou desanimado quando ouviu a pergunta do Servo. Embora pudesse sentir o enorme poder esmagador do ser antes dele, sentiu uma pontada de raiva.
—— Como se atreve um simples servo ser tão impertinente!
Seu orgulho como um mago trepidava. No entanto, uma dor nos Selos de Comando em sua mão direita o trouxe de volta.
—— …Que assim seja. Dada a personalidade deste Herói, eu deveria esperar por isso.
Logo no início, ele teria que deixar sua relação clara.
Nesta guerra, ele estaria no comando. O Espírito Heroico que invocou como Servo era apenas um instrumento.
—— Sim. Isso mesmo. Eu sou seu mestre.
Preparou-se para dar sua resposta à pergunta do Servo, estendendo sua mão direita para a frente para exibir os Selos de Comando—
Foi quando ele percebeu que sua mão direita tinha desaparecido.
“…Hã? O quê?”
Ele estava sem palavras. Seus balbucios ecoaram por toda a caverna.
Embora nem uma gota de sangue tivesse caído de seu corpo, sua mão direita tinha claramente desaparecido.
Em pânico, ergueu o pulso até o rosto. O cheiro forte de carne queimada enchia sua cavidade nasal.
Pequenos fios de fumaça subiam do coto do pulso. Claramente, sua mão tinha sido cortada com algum tipo de chama.
No momento em que ele tomou consciência disso, uma onda de dor atravessou seu sistema nervoso e —
“HiII gAA- giIIHIIii gaAAAAAaAAAAaaA! AAaaaAAAAAaaaaaaaa!”
Um grito — um grito — um grito incontrolável.
Ele gritou com toda a força, soando como um enorme inseto. Percebendo isso, o Espírito Heroico, parecendo entediado, disse: “Então, você é um palhaço? Sendo assim, divirta-me com gritos mais elegantes. Esses não bastam.”
O Servo nem sequer levantou uma sobrancelha, orgulhoso como sempre. Parece que ele não era responsável pelo desaparecimento da mão direita do mago.
“HiaAAA, HYaa, hiiIIAaaAAAaa!”
Diante desse acontecimento incompreensível, o mago estava prestes a perder o controle de si mesmo — mas como um mago, ele não podia permitir que isso acontecesse. Se forçou a se acalmar e rapidamente se recompôs.
—— Há alguém… dentro do Bounded Field!
—— Como pude permitir que isso acontecesse? Que imprudência da minha parte!
Em circunstâncias normais, ele poderia ter sentido qualquer intruso no momento em que entrasse nessas cavernas, uma vez que este era seu ateliê. No entanto, ele tinha deixado sua guarda baixa, enquanto estava focado em convocar seu servo. O intruso poderia entrar sem ser notado enquanto as cavernas estavam repletas de energia mágica do Espírito Heroico.
Mesmo assim, havia outras armadilhas criadas para dar suporte ao Bounded Field. Nenhuma das armadilhas tinha sido ativada. Se o intruso conseguisse desativar todas as armadilhas que estavam em seu caminho, teria que ser bastante cauteloso ao lidar com eles. Isso estava claro.
Enquanto reconstituía magicamente o que restava da sua mão direita, ele encarou a presença que agora sentia — em direção ao túnel que saía da caverna — e gritou: “Quem é você?! Como conseguiu ultrapassar meu Bounded Field?!”
E então… uma resposta veio imediatamente, saindo das trevas da caverna.
No entanto, a resposta não foi para o mago, mas sim para o servo dourado: “Ó rei poderoso, sua humilde serva implora permissão para se apresentar diante de ti.”
O Servo pensou por um segundo e respondeu, arrogantemente: “Pois bem. Eu lhe concedo a licença para testemunhar minha glória.”
“…Sou muito grata por este privilégio, Sua Majestade.” Sua voz era clara — imaculada. Estava desprovida de emoção, como se rejeitasse tudo o que era.
Ela emergiu da sombra de uma rocha — e embora sua voz já desse a impressão de que era jovem, ela era ainda mais jovem do que sua voz sugeria — talvez doze anos de idade. Sua pele era marrom escura, e seu cabelo era preto lustroso.
Vestida em sua elegante roupa cerimonial, decorosa em todos os sentidos, ela era como uma criança de educação nobre. Embora seu rosto fosse formoso, o que se destacava com seu vestido, a expressão que carregava era bem menos resplandecente.
Ela humildemente deu um passo para dentro do ateliê e se curvou profundamente diante do altar em cima do qual estava o Espírito Heroico. Então, sem se importar com a sujeira no chão, ela caiu de joelhos.
“O qu…” O mago sufocou um grito de raiva. Incapaz de discernir o quão forte era a garota, não podia se dar ao luxo de agir precipitadamente. Enquanto isso, a garota não deu atenção ao mago.
O Espírito Heroico não se surpreendeu com a postura deferente da garota. Ele olhou para ela e falou, com grande poder transparecendo a cada palavra. “Você fez bem em não derramar o sangue de um impuro na minha presença. No entanto, o ar agora está repleto por um odor duradouro de carne. Se deseja me dar uma explicação para essa indiscrição, faça-o agora.”
A moça olhou rapidamente para o mago.
“Eu imploro seu perdão, Sua Majestade. Achei oportuno punir este ladrão por ter roubado a chave para o teu tesouro, pois ele era indigno de enfrentar a justiça por tuas mãos.” Ela respondeu, ainda ajoelhada.
Enquanto ela falava, apresentou um pedaço de carne humana.
Certamente, isto era parte do corpo do mago e estava magicamente conectada ao Espírito Heroico em virtude dos Selos de Comando inscritos nele. Era, em outras palavras, a mão direita do mago.
O Espírito Heroico assentiu com a resposta da garota. Olhou para baixo e viu a chave, colocada em um pedestal aos seus pés. Ele a pegou — e então a descartou sem interesse.
“Esta chave é uma frivolidade. Não existe um só homem na totalidade do meu jardim que ousasse pôr a mão sobre um dos meus tesouros. Embora eu tenha ordenado que essa chave fosse criada, não precisava dela, então a descartei.”
“…?!”
O mago estava proferindo um encantamento para amortecer a dor em seu pulso direito. Quando ouviu a declaração do Espírito Heroico, ficou chocado.
Um de seus antepassados tinha apostado tudo nas esperanças de alcançar a chave para aquele tesouro.
Esse artefato, o único orgulho de sua família, fora descartado como um pedaço de sujeira. E acima de tudo, por seu servo, um ser que deveria ser seu escravo, sua ferramenta.
Possuído por raiva, a dor em seu braço direito ficou dormente, mesmo quando ele parou o encantamento.
No entanto, como se para criar uma ferida fatal no mago, a menina de pele castanha se virou para olhar para ele e falou com uma voz intimidante. “Se Sua Majestade quiser que assim seja, não mais o enfrentarei. Peço que se retire agora.” Sua voz gotejava desprezo.
“O qu…”
“Se fizer isso, não terei que esmaga-lo.”
“—— ————” O mago ficou fora de si.
A fúria que se infiltrou dentro dele tomou o controle de seus Circuitos Mágicos. Ele nem sequer tinha capacidade para falar. Histericamente, liberou toda a energia mágica armazenada em sua mão esquerda.
Ele colocou toda a sua magia, sua loucura e seu poder em uma esfera de luz negra e a lançou para a garota com todas as suas forças. Ela rasgou o espaço em direção a garota, pronta para consumi-la — atingiu em cheio.
A menina deveria ter sido destruída por sua explosão de energia mágica antes que ela pudesse sequer piscar.
Mas isso não aconteceu.
“( )”
Um encanto silencioso.
Quando seus lábios se moveram, a magia começou a tomar forma em torno dela.
Quase imediatamente, uma imensa energia mágica irrompeu entre ela e o mago.
Era como um feitiço que tinha sido comprimido até ficar sem som — um encanto de poder esmagador.
E no último instante — o mago viu.
Uma enorme mandíbula ardente, talvez duas vezes maior que ele, apareceu na frente dela e engoliu toda a energia mágica que tinha liberado, e então —
—— Não pode ser.
Essa foi a última coisa que ele pensou.
Afinal, o que era isso que não poderia ser? Ele nem sequer teve tempo de pensar.
—— N-não pode… po-pode… não… p-pode ser.
Como mago, ele gostaria de pensar que, mesmo que morresse, sua linhagem continuaria viva… mas então, lembrou que apenas alguns dias antes havia matado seu futuro sucessor com suas próprias mãos.
—— Não pode ser! Não! Eu… vou… morrer? Aqui? Não p-pode…
—— Isso não nã————
—————.
E então, o mago desapareceu.
Ele perdeu a vida e tudo o que havia sacrificado por essa guerra.
A linhagem de magos a que pertencia tinha chegado ao fim.
Tudo aconteceu em uma fração de segundo. Uma mera fração de segundo.
Depois de uma batalha de poucos segundos, ele foi engolido por essas chamas. Ele encontrou o seu fim, simples assim.
“Eu imploro seu perdão por tê-lo submetido a uma visão tão indecorosa, Sua Majestade.”
Ela tinha acabado de matar um homem, mas não estava nervosa. Inclinou a cabeça diante do Espírito Heroico.
O servo dourado a olhou para dizer que não se importava. Então, em referência à magia que a garota usara, ele disse: “Entendo. Então, o teu povo governou esta terra na minha ausência.”
A magia que acabara de usar não se originou dentro de si mesma.
Era provável que tivesse explorado as linhas espirituais da terra.
Em reconhecimento a esse fato, emoções surgiram na face da garota pela primeira vez. Sua cabeça ainda se curvou, ela respondeu melancolicamente. “Nós não a governamos. Pelo contrário, vivemos em harmonia com ela. …Assim como Sua Majestade supôs, meu povo não passa de meros plebeus uma vez que deixamos Snowfield.”
“Um impuro nunca será nada além de um impuro. Aqueles com magia não são diferentes daqueles que não tem.”
Sua arrogância sugeria que ele acreditava que assim eram todas as coisas, exceto por si mesmo. A garota não respondeu.
Os Selos de Comando que estavam na mão direita do mago já haviam migrado para sua própria mão direita.
A energia mágica que agora fluía para o Espírito Heroico, não vinha do mago, mas da garota. Enquanto observava isso, falava tão imponente como sempre — de alguma forma entediado, mas ao mesmo tempo infinitamente majestoso. “Muito bem. Mais uma vez, responda-me. Você é a mago insolente que ousa convocar um rei em toda a sua glória?”
O Espírito Heroico dourado.
O maior de todos os heróis. O homem que afirmava ser o rei de todos os reis —
A garota assentiu firmemente e se inclinou diante dele novamente.
“…Eu não procuro o Santo Graal”, disse a menina calmamente, enquanto saíam da caverna.
Ela se identificara como Tiné Chelc. Como a Mestra do Servo dourado, ela era agora uma integrante da Guerra do Santo Graal.
No entanto, ela fez a contraditória declaração de que não desejava o Santo Graal. Elaborando seus verdadeiros objetivos, ela disse: “Queremos expulsar os magos que escolheram este lugar como o local de sua Guerra do Santo Graal, que têm tratado esta terra com desprezo. Essa é a extensão do nosso desejo, Majestade.
Ela declarou seu desejo de destruir a Guerra do Santo Graal sem o menor indício de dúvidas. O Espírito Heroico — o rei convocado para esta era como Servo da classe Archer — desinteressadamente respondeu: “Eu também não me importo com o Graal. Se for o verdadeiro Graal, punirei os malfeitores que roubaram meu tesouro. Se for um falso Graal, executarei os ingratos que realizaram este ritual.”
“Suas palavras graciosas me dão força, Majestade,” Ela agradeceu. Continuando, ela falou de seu povo: “Por mil anos minha tribo viveu em harmonia com a terra em que Snowfield foi construída. Nós até a protegemos contra os tiranos vindos do leste que procuravam governar este lugar. Mas, então, uma seita no governo uniu forças com aqueles magos miseráveis… e em apenas setenta anos, eles invadiram esta terra.” Sua voz era grossa com uma mistura de raiva e tristeza.
Mas o Espírito Heroico não parecia se importar. “Que tolice. Não importa qual impuro reine supremo sobre esta terra mesquinha, ainda é uma parte de meu jardim e no fim retornará para mim. Normalmente, não me dignaria interpor em uma briga entre impuros… mas se ousarem pôr suas mãos em meus tesouros, isso seria um assunto diferente.”
Como sempre, ele pensava apenas em si mesmo. E o que a garota fez sobre isso?
Ela não achou isso terrivelmente desagradável, nem particularmente surpreendente.
Ele agia como um rei em todos os momentos, assim ninguém poderia questionar sua realeza.
Seu orgulho inspirava uma pontada de algo como inveja nela. Ela se compôs e saiu da caverna.
Do lado de fora, talvez uma centena de pessoas com roupas negras estavam de prontidão, esperando seu retorno.
A maioria deles era de pele morena, como ela, mas havia também alguns brancos e negros entre eles.
Eles conduziam uma frota de veículos na borda do vale e cercaram a entrada para a caverna. Claramente, eles não estavam lá para fazer um trabalho honesto.
Eles puseram os olhos sobre a menina e o homem imponente ao lado dela e —
Em uníssono, reverentemente se ajoelharam diante da menina e do Espírito Heroico.
“Quem são estes vermes?”
Tiné também se ajoelhou diante dele antes de responder. “…Eles são simples membros da sociedade que procura reviver nossa tribo e derrotar os magos que se infiltraram na cidade, Sua Majestade. Eu sucedo meu pai como representante da sociedade. E assim, devo lutar nesta guerra.”
“Oh?”
Muitas pessoas ajoelharam diante dele em veneração. Talvez isso o lembrasse de como as coisas eram quando ainda estava vivo. Seus olhos se estreitaram ligeiramente quando ele a aprovou.
“Embora sejam impuros, parecem entender quem é digno de sua adoração.”
“Não nos atreveríamos a presenciar o esplendor de Vossa Majestade com algo além de profunda gratidão.
“Então, você deseja fazer uso da minha força para seus fins. Parece que você se preparou adequadamente para as batalhas que virão.”
“….”
Ela sabia que ela deveria ser honrada por esse comentário, mesmo assim estava desconfortável.
O rei estava claramente entediado e não se esforçava em ocultar.
E imediatamente, como para confirmar suas suspeitas, o Espírito Heroico falou: “Mas este Graal é, afinal, uma falsificação. Os outros invocados aqui são insignificantes. Ao subjuga-los não encontrarei descanso para esse tédio.”
Quando terminou de falar, pegou uma pequena garrafa.
Todo mundo que estava lá para testemunhá-lo lembraria com carinho sobre isso mais tarde. E o que era aquilo? Era uma distorção do espaço, da qual surgiu uma única garrafa que caiu diretamente na mão do Espírito Heroico.
Um jarro maravilhosamente ornamentado feito não se sabe do quê.
Talvez porcelana ou talvez cristal — era lustroso e translúcido. Algum tipo de líquido estava dentro dele.
“Se esta guerra for uma mera frivolidade para mim, é justo que eu a trate de acordo: como um jogo infantil. Não haverá necessidade de usar toda a força de minhas habilidades. Até que um inimigo digno de meu poder se apresente, gastarei meu tempo em lazer.”
Quando ele se retirava, abriu a jarra e estava a bebê-la em um único gole, quando —
De repente.
Com uma sincronização tão perfeita que deve ter sido provocado pelas maquinações do destino, ao invés do acaso —
A terra gritou.
[ —— ———— —— ———— — —— — —— — —— ]
““!?””
Tiné e seus seguidores olharam para o céu.
Eles ouviram um poderoso rugido ao longe — com o poder de abalar o céu e a terra.
Mas era muito bonito para ser chamado de “rugido”. Era como se um anjo gigante ou algo do tipo, ou talvez até mesmo a própria Terra, estivesse cantando uma canção de ninar.
Eles podiam dizer que o som veio de longe, muito longe — das florestas que ficavam ao oeste de Snowfield.
Esse tremendo ruído, que ameaçou as próprias leis da física, era, por alguma razão, algo em que Tiné tinha fé.
Era como o primeiro grito de um recém-nascido e ao mesmo tempo—
Era certamente a voz de um servo absurdamente poderoso.
Archer também ficou imóvel ao ouvir aquela voz.
A jarra que tinha conjurado estava em seus lábios. Estava prestes a beber, quando parou — e foi então que o rei dourado exibiu uma emoção poderosa pela primeira vez.
Mesmo aqueles que haviam conhecido Archer durante algum tempo diriam que era raro vê-lo tão emocional. Esse rei entre todos os reis ficava rapidamente com raiva e de mal temperamento, mas pensar que ele poderia ficar neste estado.
“Essa voz… poderia ser?”
Seus olhos se iluminaram de surpresa, consternação, perplexidade — e então, alegria.
“…É você?”
Tiné notou que a poderosa aura do Espírito Heroico oscilou por um instante enquanto sussurrou aquelas palavras.
Mas, sem hesitar, Archer exalou arrogância mais uma vez, dominador como sempre. Ele estourou em um ataque de riso. O som de sua voz jubilosa penetrou o céu vasto, cada vez mais alto.
E então, depois de rir o bastante —
“Ha! Que sorte! Do que chamaria esse acontecimento se não uma prova da minha realeza?!”
Ele se encheu com prazer e vigor, como se não estivesse entediado alguns minutos atrás.
“Alegra-te, garota impura! Parece que terei oportunidade de usar toda a força de minhas habilidades nesta guerra!”
O rei dos heróis estava estranhamente falante, talvez porque estivesse cheio de alegria.
“Que prazer seria acabar tudo em um duelo naquele lugar… Mas, se ele foi chamado como um guerreiro enlouquecido, ou se… Não, não vou falar sobre isso. Este não é um assunto que os impuros devam ouvir.”
Estava de bom humor, incapaz de sufocar o riso, tão majestoso como sempre. Enquanto olhava na direção de onde vinha o rugido, falou com Tiné, que ainda se ajoelhava ao lado dele.
“Olhe para mim, Tiné.”
Chocada que o Espírito Heroico se referisse a ela pelo nome, Tiné levantou a cabeça para olhar para ele.
O rei lhe atirou a garrafa que estava segurando.
“É um elixir da juventude. Imagino que você não tenha necessidade disso na sua idade, mas agora que isso ocorreu, também não preciso mais disso. Esteja grata.”
“S-sim…? Sim, Sua Majestade!” Os olhos dela estavam arregalados de surpresa.
Archer olhou para ela por um momento antes de continuar. “Se você quiser se tornar minha serva, eu a comandarei” ele disse, majestoso. Embora prestasse pouca atenção a ela, Archer estava animado quando pronunciou sua ordem real. “Você é uma mera criança. Aja como uma. Até que aprenda os caminhos do mundo, para você bastará olhar com
júbilo meu poder imponente.” Embora houvesse um toque de sarcasmo júbilo meu poder imponente.” Embora houvesse um toque de sarcasmo em suas palavras, elas eram, no entanto, poderosas.
Ela tinha descartado todas as suas emoções por causa da sua tribo e mesmo assim, quando confrontada com estas palavras, ela vacilou.
De fato, justamente por ter descartado suas emoções, ela não podia fazer nada além de mostrar todo o seu respeito para ele. Ela era incapaz de jubilar, e assim que curvou sua cabeça.
“Tentarei fazê-lo, Majestade” ela disse se desculpando.
E assim — um Servo e seu Mestre pisaram no campo de batalha.
Gilgamesh, o Rei dos Heróis, junto com a garota cuja terra tinha sido roubada.
Embora eles soubessem que esta Guerra do Santo Graal fosse uma farsa, continuaram apostando tudo o que tinham.
A partir desse momento, o rei e a garota reinaram supremos.
Eles iriam lutar — para substituir as mentiras desta guerra com suas próprias verdades.
A batalha do rei tinha começado.