Capítulo 5

Pé Amigo

Tradução: Chailon S / Revisão: Fafnir20

 

 Durante a madrugada, Shouji grita para os homens chutando bolas para um gol em um parque público decadente.

 Eles falam sobre o tempo, fumam tabaco, informam sobre sua condição física … E também falam sobre como está seu trabalho recentemente.

 Tem o cara que está desempregado desde que saiu do trabalho de minerador de carvão porque não aguentou a vida na mina. Tem o cara que trabalha com o contrabando que a Marinha contrabandeia. E tem aquele cara que ganha à vida caçando ratos nos esgotos.

 Quando ele mostra a poção perfeita, eles perguntam de que organização ele é.

 Shouji responde com o nome de uma organização, ele acabou de escolher aquela ao acaso entre muitas.

 Sua habilidade de vendedor começa.

 Aqueles que não bebem poções são tolos super diligentes ou covardes sem respeito próprio. Esses exageros saem livremente de sua boca.

 Ele fala do prazer facilmente obtido, de quão facilmente você pode se separar da realidade, deste pequeno e singular bilhete para a Utopia.

 Ele afirma veementemente que os efeitos colaterais são basicamente inexistentes. Mas a verdade é que ele realmente não sabe. Pode não haver efeitos colaterais, mas com certeza existe a dependência de drogas.

 Seu primeiro discurso de vendas foi bastante bem-sucedido. Enquanto eles provarem, os boatos sobre o produto se espalharão. Um aumento na demanda é inevitável.

 Durante o dia, ele fica na periferia do distrito de restaurantes, chamando as prostitutas que fumam cigarros.

 Shouji ficou muito surpreso com todas as personalidades maliciosas de seus clientes. Sem pensar na sua posição, todos queriam definir o preço de acordo com as suas próprias avaliações.

 Eu vou te pagar de volta mais tarde. Eu vou te pagar com meu corpo. Vou pagar depois de engoli-lo.

 Ele não deu ouvidos a essas declarações. A qualidade inferior de seus clientes o desesperava.

 Shouji estava constantemente recusando com uma expressão gentil. Com a linguagem de um cavalheiro, ele estava dando tanto a cenoura quanto o pau na forma verbal. Infelizmente, com essa qualidade de clientes, suas vendas foram desfavoráveis.

 Estava se tornando possível que a oferta e a demanda não combinassem.

 Ele decidiu controlar suas expectativas para essa multidão.

 “… Acho que vou comer alguma coisa.”

 Lidar com suas poções perfeitas em pé e andando era irritante.

 Por natureza, falar de negócios não era o ponto forte do rude Shouji. Ele só estava fazendo isso porque não tinha escolha.

 Ele havia treinado no passado a etiqueta das classes altas, mas sem a habilidade de mesclar isso com os costumes das ruas, era inútil.

 Suas pernas o apontaram a esmo na direção de um restaurante que servia culinária de uma região remota, o principal ingrediente do restaurante era o porco preto.

 Ele se sentou no balcão e abriu o cardápio assim que entrou no restaurante.

 Pensando em pedir um café, agora que se acalmou, percebeu que estava morrendo de fome.

 Coxa de porco, porco cozido, porco assado e a engenhosidade do molho foram explicados em parágrafos excessivamente longos.

 Segundo a explicação, os porcos pretos de que tanto se orgulhavam eram alimentados com cevada.

 Suas vidas aparentemente foram encerradas por métodos humanos e suas entranhas foram removidas com muito cuidado.

 Querendo fazer o pedido, procurou uma garçonete. Naquele momento, ouviu-se um grito vindo da cozinha.

“Ei você! De que maneira você está cortando isso? Faça de novo imediatamente.”

 “Me-me-m-me desculpe. E-eu vou resolver isso!”

 Os olhos de Shouji se voltaram para a abertura da cozinha. Por lá, podia-se ver um cozinheiro gordo recebendo gritos. Enquanto gaguejava, o cozinheiro começou a trabalhar com entusiasmo, mas era óbvio que ele estava se sentindo mal.

 Seu trabalho com a faca era lento e instável.

 Ele parecia ser um aprendiz, visível pela falta de seu chapéu de cozinheiro. Sua apresentação da comida cozida era tão pobre quanto seu trabalho com a faca.

 Reconhecendo aquele rosto infantil, Shouji gritou.

 “Ei, se não é o Doldo. Você já foi solto, hein?”

 “Eh, ah, Qu, Quik … e-, ei, já faz um tempo.”

 O homem, Doldo, que se virou e caminhou até Shouji, era um homem muito tímido com quem já havia cumprido pena na prisão.

 Sua personalidade tímida e gentil podia ser compreendida à primeira vista, com os olhos honestos que ele possuía.

 “Você, você quer uma refeição?”

 “Hehe, é como você pode ver. Quando você sai do trabalho? Vamos beber.”

 Doldo olhou rapidamente para o relógio de parede e sorriu, desculpando-se.

 “Desculpe. Será por volta das três.”

 Shouji rapidamente verificou a hora no relógio de parede. Era pouco depois do meio-dia. Ele acenou com a cabeça generosamente.

 “Eu vou esperar. De qualquer forma, esse estabelecimento vende bebidas alcoólicas? Vou pedir algumas.”

 “Aa, foi mal. Além do mais …”

 “Volte rapidamente ao trabalho, seu retardado!”

 O grito vem das costas de Doldo. O gerente do restaurante parecia ser um homem vigorosamente enérgico, e Doldo estremeceu um pouco ao sair do lado de Shouji rapidamente.

 Doldo apareceu com uma expressão ofuscada pela porta dos fundos do restaurante.

 “E aí?”

 “Não vale a pena mencionar.”

 “Não tem como ser verdade. Jogue isso fora rápido, amigo.”

 Tendo bebido uísque puro o quanto quisesse, Shouji soltou um hálito com cheiro de álcool enquanto incitava Doldo, que estava coçando a nuca.

 “Fui demitido. Do meu trabalho de cozinha.”

 “Se eu queimar este estabelecimento, seus problemas irão embora?”

 “Eles não vão. Quik, está tudo bem. Obrigado. Portanto, você não precisa juntar papel seco.”

 Shouji juntou um monte de papel do lixo próximo. Ele derramou o uísque da garrafa nos papéis e bateu com a pederneira para acendê-lo.

 Como a maioria dos uísques tinha alto teor de álcool, o fogo foi facilmente iniciado. Chamas vermelhas brilhantes começaram a piscar. A pequena fogueira recém-nascida pegou o vento assim e acendeu-se.

 As faíscas espalharam o fogo para um saco redondo e, mais adiante, para algum óleo usado abandonado. O ímpeto do fogo continuou aumentando. O telhado saliente do restaurante estava começando a ficar queimado pelo fogo. O fogo parecia exultante com a lenha seca prontamente disponível.

 “Quik. Isso não vai ficar muito ruim?”

 “Não se preocupe com isso. Ei, Doldo. No momento, estou no ramo de venda de poções. Não vai se juntar a mim?”

 Como se estivesse surpreso, Doldo ergueu e abaixou os ombros. A expressão em seu rosto estava longe de ser ensolarada.

 A língua do fogo do inferno rachou a janela da entrada traseira. O gerente enfurecido saltou gritando “Seus bastardos de merda.”

 Shouji não deu tempo para ele, plantando o punho bem fundo em suas entranhas, mandando-o voando direto de onde ele veio.

 Na mesma batida, a porta foi fechada novamente.

 A conflagração tornou-se cada vez mais forte.

 As cores vermelhas aumentaram e as chamas se espalharam.

 “Se eu fizer poções, minha mãe vai ficar triste. Eu não consigo fazer isso. Poções foram a razão pela qual fui jogado na sarjeta em primeiro lugar. Eu decidi fazer um trabalho adequado.”

 “Estaria tudo bem se você apenas os vendesse nos intervalos entre seus outros trabalhos. Eu preciso de um revendedor. E conexões. Afinal, você é um cara ótimo, tem muitos conhecidos, certo?”

 “Quik…”

 “Por favor, venha em meu auxílio, Doldo. Eu te imploro. Somos amigos, certo?”

 O silêncio desceu sobre o espaço entre os dois.

 Não era só que eles pararam de falar. Pela cabeça de Doldo correram memórias compartilhadas.

 Como ele havia sido usado como um subordinado humilde por um pequeno yakuza. Enquanto ele estava lidando com aquele cara, ele foi pego pela operação policial da guarnição.

 Jogado na prisão, suas refeições racionadas foram roubadas dele por causa de seu físico corpulento.*

(n/t: Consequentemente muita comida.)

 Numerosas vezes Shouji as havia recuperado.

 Não era por um senso de justiça.

 Ele só fez isso por qualquer motivo. Simplesmente matando tempo. Também lhe deu uma desculpa para bater nas pessoas … Não havia nenhum significado profundo.

 Essa amizade nasceu também por acaso. Ambos entenderam isso perfeitamente, mas amizade era amizade.

 Os clientes fugiram do restaurante.

 A fumaça preta queimada atravessou o telhado e se estendeu em direção ao céu.

 “Mais especificamente, um aprendizado de cozinheiro não vai te render nenhum dinheiro. Se acostumando com um cara desagradável, trabalhando pra caramba, sempre baixando a cabeça. Isso é tudo que você terá. Na verdade, o descontentamento deve ter aumentado em você. Vou pagar a você exatamente por cada lote que você vender. Confie em mim, amigo.”

 “… Nn.”

 “Posso interpretar isso como consentimento?”

 “Sim. No entanto, se vamos ser associados, terei que ter certeza do sabor das poções.”

 Contendo firmemente sua brincadeira, Doldo sorriu.

 Shouji bateu nos ombros de Doldo.

 “É assim que as coisas deveriam ser … Vamos comemorar. Reúna nossos companheiros de prisão. Estamos dando uma festa de poção.”

 “Ótimo!”

 A brigada de incêndio veio correndo para o restaurante para lidar com o incêndio. Os habitantes vieram correndo com baldes cheios de água. Não houve efeito mensurável. As casas foram todas queimadas de preto pelas chamas.

 Talvez algum material inflamável tenha pegado fogo, porque uma forte explosão sacudiu o ar. Os curiosos gritaram.

 O corpo de bombeiros percebeu que havia alguém lá dentro, com espírito de “faça ou morra” se preparando para entrar juntos. Seus rostos cobertos de fuligem negra como breu, eles formaram um círculo.

 Eles compartilharam piadas para encorajar um ao outro. Alguém reuniu coragem e saltou. A explosão o levou para longe. Ele pousou na estrada de cascalho na forma de um sapo seco. Ninguém lá dentro poderia ser salvo.

 Como se quisesse chamar a atenção para o assunto, a placa do restaurante caiu no chão com um estrondo.

 Doldo e Shouji saíram de costas, conversando preguiçosamente.

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