Goblin Slayer 3 - Anime Center BR

Goblin Slayer 3

Capítulo 3

Os aventureiros deixaram a aldeia ao amanhecer. Eles queriam chegar ao ninho o mais rapidamente possível, mas a noite pertencia aos goblins. Verdade, a “escuridão branca” reinava no dia e na noite aqui, mas não havia razão para proporcionar uma vantagem aos seus oponentes. Não houve qualquer objeção em deixar a cidade quando os níveis entre segurança e perigo estavam bastante equilibrados.

Nenhuma objeção quanto a isso, de qualquer forma…

— Ooooh… Está tão f-f-f-frio…! — choramingou Alta-Elfa Arqueira, com suas orelhas compridas tremendo enquanto caminhavam entre o monte de neve. Ela estava acostumada com a vida sob seus pés, mas sua primeira vez em uma montanha nevada continuava surpreendente.

Uma corda amarrava todos os membros do grupo juntos. Escalar o pico nevado não seria fácil. A neve branca e fofa cobrindo o chão era profunda e fria, e se alguém tivesse azar, seu pé poderia encontrar um lugar onde não existia nada além de um amontoado de neve solta. Havia locais com pedra pontiagudas caídas, onde um tropeço descuidado poderia custar a vida.

— Er… Ugh. Hum. É bastante…

— Você está bem…?

— Oh… Mas é claro…

Lagarto Sacerdote, que veio do Sul, se tornou ainda mais lento à medida que ficava mais frio. Ele assentiu para Sacerdotisa, que olhava para ele com preocupação, e enrolou a cauda. Anão Xamã agarrou a sua mão.

— Aguente aí um pouco mais. Estou usando Vento Favorável para manter a nevasca longe de nós. Poderia ser pior.

— Hmm. E sou muito grato. — Lagarto Sacerdote assentiu. — Meu senhor Matador de Goblins, qual é a situação?

— Sem problemas.

— Isso é reconfortante.

Matador de Goblins estava andando um pouco à frente de seus quatro companheiros. Ele olhou para o cume da montanha, comparando sua posição com o mapa em sua mão.

— Estamos quase lá.

Seja como for, a cena diante deles era nada inspiradora. Um buraco escuro marcava a paisagem branca da montanha. Resíduos estavam empilhados em um dos lados da entrada. Era certamente o tipo de lugar que monstros chamariam de casa.

Eles estavam todos agradecidos pela magia Vento Favorável de Anão Xamã, que reuniu a ajuda dos espíritos do vento para manter a nevasca afastada. Mesmo assim…

— Precisamos nos aquecer — disse o anão. — Eeei, Corta-barba! Tudo bem se eu acender uma fogueira?

— Por favor.

— Está bem.

Com a habilidade digna de um anão, ele pegou alguns galhos secos e os acertou com uma pederneira.

— Onde você achou isso? — perguntou Sacerdotisa.

— Sob a neve, e depois um pouco mais fundo. Seria bom se lembrar disso.

Eles se abrigaram em uma pequena caverna que cavaram da neve, então os goblins não veriam o fogo. O céu, cheio de nuvens, ainda estava um pouco escuro; o sol estava fraco e distante.

— O pôr-do-sol está próximo. Quando os nossos corpos relaxarem, vamos entrar. — Matador de Goblins afrouxou as correias de sua armadura e abaixou sua bolsa.

Sacerdotisa olhou para ele com surpresa; ela não se lembrava de ele remover sua armadura assim antes. — Tem certeza de que não tem problema ao fazer isso?

— Se eu não passar ao menos alguns minutos assim, meu corpo não vai relaxar.

Ele retirou suas manoplas, apertando suas mãos ásperas, mas pálidas, mecanicamente.

— Vocês devem esfregar seus braços e pernas — disse ele. — Se forem envenenados pelos espíritos de gelo, apodrecerão e cairão.

— Oh! — gritou Alta-Elfa Arqueira. Ela sabia tanto sobre espíritos quanto qualquer um deles, e talvez isso fez o pensamento ainda pior para ela. Com uma careta, ela começou a passar os dedos pelos seus membros.

— Seus pés também. Não se esqueçam.

— Ér, certo! — Sacerdotisa retirou suas botas e meias, e começou a esfregar seus dedos magros e pálidos. Suas meias a surpreenderam; estavam encharcadas e bem pesadas. Talvez fosse uma mistura de suor e neve derretida.

Deveria ter trazido um segundo par…

— Como está? — perguntou Matador de Goblins, olhando pra Lagarto Sacerdote. O rosto escamado do monge era tão difícil de se compreender quanto o de Matador de Goblins, mas por uma outra razão completamente diferente. Ainda assim, ficava claro o suficiente que ele estava praticamente congelando de frio.

Lagarto Sacerdote pegou um pouco de gelo de suas escamas. — H-hum. Bem, chegamos de qualquer maneira. Quem saberia que existia locais tão frios no mundo?

— Há outros locais ainda mais frio do que esse.

— Inacreditável!

Ele bem poderia acreditar nos rumores de que seus antepassados foram aniquilados por um congelamento profundo.

Rindo discretamente do lagarto, Anão Xamã alcançou sua bolsa e pegou uma jarra de vinho de fogo e copos para todo o grupo. Ele começou a servir.

— Tome, aqui está um pouco de vinho, beba. Vai aquecer suas entranhas.

— Maravilhoso. Hmm, sabe bem o que fazer, Mestre Conjurador.

— Ah, pare com isso, está me envergonhando. Tomem, um pouco para vocês.

— O-obrigada — disse Sacerdotisa.

— Obrigada. — Alta-Elfa Arqueira.

— Agradeço. — Matador de Goblins.

Cada um começou a dar golinhos em suas bebidas. Eles só estavam buscando um pouco de calor; seria contraproducente ficar bêbados.

Sem aviso e sem razão perceptível, Alta-Elfa Arqueira trouxe a conversa sobre Lagarto Sacerdote. — Ei, não nos disse que o seu objetivo consistia em elevar seu ranque e se tornar um dragão?

O corpo enorme do lagarto estava encolhido o mais perto possível do fogo, e a bolsa de provisões estava em sua mão. Talvez estivesse com fome, ou talvez ele só quisesse desfrutar um pouquinho do queijo que agora pegava.

Lagarto Sacerdote não tentou esconder o que estava fazendo, mas concordou significativamente.

— De fato; apesar de tudo.

— Um dragão que ama queijo, hã? — Ele tomou outro gole de seu copo em mãos e riu.

— É melhor para o mundo do que uma serpe que busque tesouros ou sacrifícios de donzelas — disse Anão Xamã.

— Ao menos ele não precisa se preocupar com alguém tentando matá-lo. Posso pegar um pedaço disso?

— Claro que pode.

Eles estavam a uma curta distância de um ninho de goblins, ainda congelando apesar do fogo, mas Alta-Elfa Arqueira estava se sentindo um pouco mais quente e de bom humor. Ela usou uma adaga de obsidiana para cortar um pedaço do queijo que Lagarto Sacerdote lhe ofereceu, e então o jogou na boca.

A comida daquela fazenda estava deliciosa, como sempre. Suas orelhas balançaram alegremente.

— Me diga a verdade. Garotas realmente tem gosto assim tão bom para os dragões? Ou é algum tipo de ritual ou algo parecido?

— Uma boa pergunta. Talvez quando me tornar um dragão, irei entender.

— Você está… Digo, você não tem nenhuma dúvida de que vai conseguir se tornar um dragão? — perguntou Sacerdotisa, bebendo hesitantemente seu vinho. Um pequeno suspiro escapou de seus lábios. — Quero dizer… cuspir fogo e voar pelo céu… talvez sejam coisas que conseguiria fazer com milagres?

— Heh-heh-heh! É assim que os velhos descrevem dragões, está bem? — Anão Xamã já havia terminado um copo e se servia um segundo. — Mas não pode acreditar na maior parte do que os velhos dizem.

— Mas na minha cidade natal residia um dragão grande e terrível que se tornou um esqueleto. E se macacos podem se tornar humanos, certamente lagartos…

Sacerdotisa sorriu ligeiramente com esse murmúrio sério de Lagarto Sacerdote. Cada pessoa possuía a sua própria fé.

— Ah, isso mesmo! — disse Alta-Elfa Arqueira de repente, estalando seus dedos longos. — Quando se tornar um dragão, vai ser imortal, não é? Eu vou ir te visitar!

— Oh-ho.

— Digo, estamos falando de pelo menos mil anos, certo? Você vai ficar super entediado. Vai ficar louco sem amigos para te ajudar a passar o tempo.

Ela disse com seriedade que estimava que ao menos 60 por cento dos dragões enlouquecidos do mundo só estavam procurando algo para fazer.

Lagarto Sacerdote assentiu como reconhecimento. Então tentou imaginar como seria quando se tornasse um dragão.

— Um dragão que fala das aventuras de Matador de Goblins. Um visitado por uma alta-elfa.

— E… um que gosta de queijo — acrescentou Alta-Elfa Arqueira.

Isso fez Lagarto Sacerdote revirar os olhos alegremente. — Isso parece bastante agradável.

— Não é?

— Mas chega desse assunto. Mil anos se passarão a seu tempo, e temos que atentar ao que está vindo agora. — Lagarto Sacerdote se virou para olhar para Matador de Goblins — Meu senhor Matador de Goblins, como vamos atacá-los?

— Mas chega desse assunto. Mil anos se passarão a seu tempo, e temos que atentar ao que está vindo agora. — Lagarto Sacerdote se virou para olhar para Matador de Goblins. — Meu senhor Matador de Goblins, como vamos atacá-los?

Ele esteve ouvindo a conversa em silêncio. Agora ele disse: — Boa pergunta — e logo voltou a afundar nos pensamentos. Então ele disse: — Acho que devemos fazer como costumamos. O guerreiro na frente, depois a patrulheira, o monge-guerreiro, a clériga e o conjurador.

— Seguindo o padrão — disse Lagarto Sacerdote.

— Aquele túnel parece suficientemente largo — disse Anão Xamã, que espiou pelo monte de neve para dar uma olhadela na entrada. — Talvez dois a três passam?

Goblins tinham boa visão noturna. A entrada do ninho era silenciosa e escura. Não parecia haver nenhum guarda. Era uma armadilha? Falta de vigilância? Ou…

— Tsc. Meu vinho não está mais tão saboroso — disse Anão Xamã estalando a língua. Ele deveria ter notado que os resíduos na entrada era mais do que apenas lixo.

O corpo de uma aventureira estava entre o lixo. O cadáver fora jogado fora como se fosse não mais importante que uma cerca quebrada. Seu equipamento foi retirado; estava claro que ela foi bastante profanada, e seus restos expostos roídos por bestas.

O mais cruel de tudo era que a aventureira parecia ser uma elfa. Parecia; bem, ela deve ter lutado, e a violência parecia ter continuado após a sua morte. Suas orelhas foram cortadas do tamanho das de um humano, e suas pontas presas em sua boca. Os jogos perversos dos goblins não possuíam limites.

Alta-Elfa Arqueira olhou para Anão Xamã. — Hmm? Algo errado?

— …Não. Nada — disse ele sem rodeios. — Mas siga o meu conselho, Orelhuda, e não fique espiando muito por aí.

— Eu jamais faria isso. Na maioria das vezes.

— Ei — grunhiu Matador de Goblins, e perguntou baixinho a Anão Xamã — …era cabelo dourado?

O anão balançou a cabeça lentamente. Ele tocou a barba, deu uma outra olhada, depois balançou mais firmemente. — Não parece, pelo que vejo.

— Então ainda podemos ter tempo — disse Lagarto Sacerdote, e os outros dois homens assentiram.

Sacerdotisa estremeceu, talvez intuindo algo do que a conversa deles pressagiava. Matador de Goblins tocou em seu ombro e disse “Vamos”. Então ele olhou para a garota pálida e descalça. — Vista suas meias e botas.

As sombras formadas pela tocha dançavam estranhamente ao vento. Mas o ângulo em que o túnel fora cavado significava que mesmo que só um passo para dentro, a pessoa estaria protegida pela neve e o vento; quase se poderia ficar aquecido. Se não fosse pelo cheiro de carne e excrementos flutuando de dentro, o lugar até poderia ser aconchegante.

— Hmm. O caminho desce em um ângulo bastante íngreme — disse Lagarto Sacerdote, com sua cauda balançando de interesse.

— É, mas ele volta para cima de novo além — disse Alta-Elfa Arqueira.

— Humm.

Parecia que os goblins cavaram para baixo no chão logo após o começo do ninho e depois voltaram a subir. Os ângulos bastante extremos não pareciam naturais; muito provavelmente, eles foram feitos por mãos de goblin.

— Hmm. Uma barreira bem inteligente contra chuva e neve — disse Anão Xamã, mostrando seu ótimo conhecimento de construção. Ele olhou de volta para a entrada por cima do ombro. — Qualquer precipitação que avançar é apanhada aqui e não vai mais longe pelos túneis.

— Goblins fazem coisas assim? — perguntou Sacerdotisa, pestanejando de perplexidade, ou, talvez, de surpresa. Ela bem lembrava do que sempre era dito: que os goblins eram estúpidos, mas não tolos. Em outras palavras, só porque eles não possuíam muito conhecimento não queria dizer que não pensassem. Mas isso…

— Não sei. — A resposta de Matador de Goblins foi desapaixonada, quase mecânica. Ele sacou a espada do quadril e a usou para mexer na poça de resíduos no fundo da descida. Ele estalou a língua. — Não podemos afirmar nada ainda. Tudo o que posso dizer é tente não pisar na água.

— Há alguma coisa ali? — perguntou Sacerdotisa.

— É uma armadilha. Há estacas no fundo.

Uma armadilha de queda, em outras palavras. Em vez de enterrá-la, os goblins esconderam no fundo de uma piscina de resíduos.

Alta-Elfa Arqueira, analisando a profundidade da piscina com uma de suas flechas ponta-broto, franziu a testa. — Agh. Isso é vil.

— Preciso que escute os inimigos.

— Eu sei, eu sei. Deixe comigo, já te disse. — Ela saltou agilmente pela piscina, mas então piscou o olho travessamente e riu. — Não suporto ficar toda suja tantas vezes.

Havia um sachê aromático pendurado ao redor do pescoço de Alta-Elfa Arqueira para ajudar a afastar os odores. Ela sacudiu as orelhas longas com orgulho, mas Matador de Goblins balançou a cabeça e disse francamente: — Ficar suja não é a questão.

— Ah-ha-ha-ha-ha… Certo, mas, bem, quando você fica sujo, é uma dor de cabeça para limpar… não é?

Sacerdotisa ouviu a gargalhada da elfa. Um saco semelhante estava pendurado próximo a insígnia de seu próprio pescoço. Ela poderia ter se acostumado a esfregar sangue e tripas por todo o corpo, mas não era algo que adorava.

Pensando nisso, a pilha de cadáveres ao lado da entrada do túnel era muito similar. Ela agora possuía bastante experiência com goblins, vira isso muitas vezes e se imaginava acostumada a isso; mas ainda assim. Ela precisava mais do que uma piada ou uma gargalhada…

— Ei. — Alta-Elfa Arqueira, mais adiante, olhou para ela e assentiu suavemente. Ela era assim também. Elfos possuíam senso de percepção excepcional. Vendo a agitação das orelhas da arqueira, Sacerdotisa assentiu de volta.

— Vamos… fazer o que pudermos.

— Certo.

Depois de descerem e então subirem mais duas ou três vezes, o grupo finalmente chegou no túnel principal da caverna. A tocha quase acabara, e Matador de Goblins a substituiu por outra de sua bolsa.

— Segure isso.

— Ah, sim, senhor!

Ele deu a tocha menor para Sacerdotisa, enquanto segurava a nova, que queimava intensamente.

Os humanos eram os únicos membros desse grupo, de fato, os únicos nessa caverna, que careciam de visão noturna decente. À luz da tocha, Matador de Goblins examinava atentamente as paredes de barro.

Elas pareciam ter sido cavadas com alguma ferramenta rustica. Elas eram grosseiras, mas resistentes; um bom exemplo de ninho de goblins.

O problema estava em outro lugar.

— Não vejo qualquer tipo de totem.

— Quer dizer que não existem xamãs?

— Não sei. — Ele balançou a cabeça. — Não sei, mas isso não me agrada.

— Mmm… Mas não seria mais fácil para nós se não tivessem conjuradores? — perguntou Alta-Elfa Arqueira.

— Isso começou a me incomodar também — disse Lagarto Sacerdote, abrindo suas mandíbulas enormes. — O ataque à aldeia, a habilidade com que eles acabaram com os aventureiros anteriores. Seria difícil de se imaginar que não existe um cérebro por trás dessa operação.

— Acha que é outro elfo negro ou um ogro? — perguntou Sacerdotisa.

— Ou talvez… um demônio? — sussurrou Alta-Elfa Arqueira com uma expressão apavorada. A palavra ecoou pelos corredores da caverna, deixando os seus cabelos em pé.

— Acha que é outro elfo negro ou um ogro? — perguntou Sacerdotisa.

— Ou talvez… um demônio? — sussurrou Alta-Elfa Arqueira com uma expressão apavorada. A palavra ecoou pelos corredores da caverna, deixando os seus cabelos em pé.

Os aventureiros olharam uns para os outros, e então Anão Xamã, afagando a barba, suspirou. — Ahh, parem com isso. Não faz sentido ficarem tensos com hipóteses. — Ele estendeu a mão (porque ele era muito pequeno) e deus uns tapinhas nas costas de Matador de Goblins. — Isso não é exatamente o que chamamos de “bater em uma espada famosa com um martelo”. Mas, Corta-barba. Temos que nos concentrar no que podemos fazer agora.

— Sim — disse Matador de Goblins depois de um momento. Ele levantou a tocha e deu mais uma olhada na parede, então assentiu. — Está aludindo um provérbio de anões?

— Estou — disse Anão Xamã com uma fungada satisfeita.

— Entendi. — Quando Matador de Goblins partiu com seu passo ousado habitual, murmúrios puderam ser ouvidos. “Não há necessidade de forjar ainda uma espada famosa”. E depois: “Hum. Nada mal”.

O leiaute da caverna não parecia muito complexo, e eles seguiram o caminho por algum tempo. Não havia sinal de goblins, apenas um fedor de podridão generalizado.

— Acho que vou ficar doente — murmurou Alta-Elfa Arqueira, puxando a gola até o nariz. Mais ninguém disse em voz alta, mas a maior parte do grupo parecia se simpatizar com ela; exceto Matador de Goblins.

Eventualmente eles chegaram em um cruzamento em forma de T. Alta-Elfa Arqueira se agachou de imediato, inspecionando o piso cuidadosamente por pegadas.

— Muitas impressões indo para a direita — reportou ela, batendo as mãos para retirar a poeira. Ela não conseguia analisar sempre edifícios feitos pelo homem, mas em lugares naturais como essa caverna, seus olhos eram fiáveis. Isso sugeria que à direita estava o dormitório, com um arsenal ou armazém à esquerda. Ou talvez…

— Da outra vez, começamos com o banheiro — disse Anão Xamã.

— Correto — disse Matador de Goblins. — Seria inconveniente perder alguém só porque se estava usando o banheiro.

— O mesmo plano dessa vez?

— Hm — grunhiu Matador de Goblins.

Eles deveriam fazer o mesmo que fizeram antes? Era seguro usar a mesma estratégia todas as vezes? Qual era a probabilidade de o inimigo prever o que iriam fazer?

Imagine. Pense. Se o armamento real de um aventureiro era sua primeira arma, o conhecimento e o planejamento era a sua segunda.

Se ele fosse um goblin, o que faria?

— Vamos atacar a direita primeiro. — Matador de Goblins fez a sua conclusão sem compunção. Não houve debate.

Alta-Elfa Arqueira colocou uma flecha em seu arco grande, enquanto Lagarto Sacerdote preparou uma lâmina de presa. Anão Xamã colocou a mão em sua bolsa de catalisadores, e Sacerdotisa agarrou seu cajado de monge firmemente.

Eles se moveram rapidamente pelos túneis, chegando em uma grande sala de estar esburacada. Lá, diante deles estava uma horda de goblins, carregando pás e picaretas como se preparando para um ataque surpresa…

— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, conceda tua luz sagrada para nós que estamos perdidos na escuridão!

Com essas palavras, Sacerdotisa empreendeu a iniciativa. Ela fez isso sem nenhuma capacidade especial; apenas um rolar de dados. Mas a forma como ela entoou o milagre Luz Sagrada sem hesitação, era um sinal de quanto ela crescera. Ela ergueu seu cajado, cujo qual era o anfitrião do milagre sagrado. Uma luz brilhante preencheu a caverna.

— GORARAB?!

— ORRRG?!

Os goblins, atingidos pela luz sagrada, pressionaram as mãos nos olhos e gritaram. Ela contou dez; não, quinze?

— Dezessete. Sem hobs, sem conjuradores. Arqueiros presentes. Vamos!

Para os aventureiros, que possuíam a luz em suas costas, a iluminação não era nenhum problema.

— A primeira morte é minha! — Tão logo Matador de Goblins emitiu sua ordem, uma flecha ponta-broto começou a voar. Alta-Elfa Arqueira puxou elegantemente a corda de seda de aranha de seu arco, liberando as três flechas que carregava com um único movimento.

A caverna poderia ser escura e confinada, mas isso não era obstáculo para a pontaria de um elfo. Sua habilidade era tão avançada que era praticamente indistinguível de magia. Três goblins desabaram onde quer que estivessem: catorze restaram. Uma salva de pedras começou a assolar as criaturas restantes.

— Saiam, seus gnomos, é hora de trabalhar, não se atrevam a fugir de seu dever; um pouco de pó pode não causar choque, mas mil fazem uma bela rocha!

Anão Xamã arremessou um pouco de areia para o ar, a transformando em rochas que choveram sobre os inimigos.

— ORGAAA?!

— GROOROB?!

Os goblins berraram e caíram para trás. A magia Impacto Pétreo os assaltou indiscriminadamente, quebrando ossos e rasgando carne.

Nesse momento, claro, magias que feriam o inimigo e aquelas que auxiliavam os aliados eram ambos úteis. Foi o próprio Anão Xamã quem optou por Impacto Pétreo, uma técnica ofensiva. Magias que atingiam uma área toda eram melhores enquanto mantinha a iniciativa, antes de engajar o inimigo.

Dez goblins restaram. Gritando e chorando suas lágrimas vis, os monstros avançaram.

— Vamos nessa! É a sua vez, Corta-barba! Escamoso!

— Hrrrooahhh!

— Ótimo.

Um grande rugido e uma resposta curta: os dois membros da vanguarda do grupo ficaram bloqueando a entrada da sala. Era apenas lógico que não entrariam; quando lutando contra um grande número de adversários, era sensato escolher um ponto estreito e defender.

O inimigo, que possuía a maioria de quase quatro para um, foi reduzido à metade da força. E apenas dois ou três goblins poderiam ficar lado a lado no túnel. Contra os dois guerreiros, e tendo em conta o terreno, a luta era quase equilibrada. Isso só foi para mostrar quão crucial era tomar a iniciativa de combate.

Afinal, haveria sempre mais goblins do que aventureiros. O destino dos aventureiros que tentavam enfrentar goblins sem reconhecer esse fato básico era cruel.

— GORROB!

— Eeyahhhh!

Os goblins ainda estavam meio cegos pelo clarão de luz; seus ataques nem valiam a pena se preocupar. Lagarto Sacerdote atacou com garras e cauda, lidando com um goblin com um golpe poderoso e dilacerando outro em pedaços. Oito sobravam.

Os homens-lagarto respeitavam a animalidade, pois era uma natureza bestial combinada com o intelecto astuto que definia os nagas. Violento e bravo, gritos de guerra se misturaram com orações, Lagarto Sacerdote se lançou nos goblins sobreviventes.

— Hmph. — Bem ao lado dele, Matador de Goblins apunhalou as criaturas em seus pontos vitais; silenciosamente, zelosamente, precisamente.

Garganta, coração, cabeça. Não importava. Criaturas humanoides tendiam a ter muitos pontos fracos. Matador de Goblins preferia pessoalmente a garganta. Uma estocada podia não resultar em uma morte instantânea, mas deixaria o alvo impotente. Ele chutou de lado o goblin asfixiando e arremessou sua espada em outro mais longe.

— ORAGAGA?!

— Dez, onze.

Seu alvo colapsou, perfurado na garganta. Mesmo no escuro, sua mira era precisa.

Seis restando. Matador de Goblins empurrou com o pé uma clava pertencente a um dos goblins mortos, chutando para cima sua mão. Ele parou um golpe de machado do goblin ao seu lado com o escudo, depois visou um ataque com a clava no estômago da criatura.

— ORARAO?! — Algo nojento foi derramado da boca aberta do goblin. Matador de Goblins atacou outra vez. Isso dava mais dois desde a última contagem.

Depois de dar um golpe cruel no crânio da criatura, Matador de Goblins agitou o escudo indiferentemente, retirando o vômito.

— Treze. O inimigo vai se recuperar em breve.

— Certo!

Quatro sobrando. Não era uma desculpa para terem calma, claro.

Apesar do nervosismo evidente em seu rosto, Sacerdotisa ergueu seu cajado de monge e invocou outro dos milagres desgasta-alma.

— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, conceda tua luz sagrada para nós que estamos perdidos na escuridão!

A Mãe Terra respondeu a oração de sua discípula fiel com outro milagre. Uma luz ofuscante preencheu o local mais uma vez, banindo a escuridão da caverna.

Os goblins, no entanto, não eram tolos. Eles certamente não eram intelectuais, mas quando se tratava em crueldade e malícia, não tinham iguais. E quando essa total falta de princípios estava unida a violência, o resultado era inevitável.

O cajado que a garota ergueu brilhara. Agora estava se levantando outra vez. Isso significava que brilharia de novo.

Um dos goblins, juntando esses fatos mais elementares, abaixou a cabeça. Infelizmente, ele era um dos arqueiros. Como seus três companheiros foram assassinados, ele manteve sua cabeça baixa, à espera de uma oportunidade, com arco e flecha em prontidão.

— Hh… Haagh!

O grito pareceu ser de choque. Alguém caiu: era Alta-Elfa Arqueira. A flecha do goblin havia passado entre os dois guardas da linha de frente para lhe acertar. Um acerto crítico, de fato.

— O que foi isso! — exclamou Lagarto Sacerdote.

— Hrrgh… — Uma flecha rudimentar, mas sinistra, perfurou a perna de Alta-Elfa Arqueira.

Matador de Goblins olhou para trás, então atirou sua clava antes de correr até a elfa.

— ORAAG?!

Fuush. A clava girou uma vez no ar e depois se conectou firmemente com a cabeça de um goblin, provocando um grito. Não foi o suficiente para matar a criatura, embora. Enquanto corria, Matador de Goblins pegou uma adaga do chão, abrangendo os últimos passos com um grande salto.

— GOAORR…?!

O goblin pegou sua flecha e se virou, tentando fugir, mas era tarde demais. A adaga enfiou em seu coração, torceu uma vez e acabou.

— Dezessete…

Isso era todos eles.

Olhando ao redor para a pilha de cadáveres, Matador de Goblins pegou uma espada nas proximidades e a pôs na bainha.

— Ei… ei, você está bem, Orelhuda?

— Hrr… r… sim. Estou… estou bem. Sinto muito. Eu falhei.

— Eu vou cuidar de você imediatamente — disse Sacerdotisa. — Está envenenada?

— Olha — disse Lagarto Sacerdote com a voz grave. — Primeiro, temos que retirar a flecha.

O rosto de Alta-Elfa Arqueira estava pálido, mas ela tentava atuar corajosa; ela mantinha as mãos na ferida enquanto murmurava “Está bem”.

Normalmente, Matador de Goblins teria ido direto até à sua camarada. Mas esse ainda era território inimigo. Eles precisavam estar alertas com eventuais emboscadas.

Pelo que Matador de Goblins poderia ver, o ferimento não era fatal; e de qualquer maneira, havia algo que ele queria verificar. Ele foi até o cadáver do último arqueiro goblin que matara e lhe deu um chute indiferente.

— Hmm.

O corpo rolou, expondo seu ombro. Nele, ele viu uma cicatriz, de uma ferida de flecha que já se curou. Ele se lembrava desse goblin.

— …Quê?

— O que foi?

Nesse momento, Matador de Goblins ouviu vozes de surpresa vindo de trás dele e se virou. Ele foi até onde Alta-Elfa Arqueira estava encolhida. Sacerdotisa olhou para ele do lado dela.

— M-Matador de Goblins, senhor… Veja isso.

Com a mão trêmula manchada com o sangue de Alta-Elfa Arqueira, ela ergueu a haste de uma flecha. Sim; só o cabo, sem ponta.

Fora esculpida de um galho, grosseira o bastante para sugerir o trabalho de um goblin; até tinha algumas penas feias e pequenas presas no final. A ponta, contudo, não estava bem presa. Ou… talvez tenha sido feito deliberadamente. Talvez a ponta da flecha tinha por objetivo romper e permanecer dentro do corpo de Alta-Elfa Arqueira.

Ele foi descuidado.

Não; a contemplação e o remorso teriam que esperar.

Imediatamente, Matador de Goblins se ajoelhou ao lado de Alta-Elfa Arqueira.

— Está doendo?

— E-e-estou bem, s-sério… Orcbolg, você se p-preocupa demais…

Parecia doer apenas de se mexer. Sangue fluía da perna de Alta-Elfa Arqueira, e ela estava gemendo.

— Mantenha pressão na ferida. Vai ajudar a conter o sangue. Embora não seja muito.

— E-está bem, eu vou… eu vou fazer isso. — Sem dúvida ela estava tentando soar forte, mas sua voz estava muito mais branda do que o habitual.

Matador de Goblins se virou para perguntar a Sacerdotisa.

— Algum tipo de veneno?

— De momento, acho que não. Mas… — Quando falou, Sacerdotisa olhou com preocupação para o ferimento de Alta-Elfa Arqueira. Mesmo com a elfa apertando o máximo que podia, sangue vazava por entre seus dedos. — Com a ponta da flecha ainda alojada, não haveria sentido em fechar a ferida com um milagre de cura…

Os milagres de um clérigo provinham dos deuses, mas seus efeitos eram limitados pela realidade física. Usar Cura Menor enquanto um objeto permanece no corpo era uma situação difícil.

Matador de Goblins olhou para Lagarto Sacerdote, mas ele balançou a cabeça também.

— Revigorar só é capaz de reforçar as capacidades naturais de cura do corpo.

Isso tornou a conclusão simples. Anão Xamã colocou a mão na bolsa enquanto falava. — Não podemos deixar lá, podemos? Corta-barba, me dê uma mão, está bem?

— Claro. — Ele e o anão se entreolharam e rapidamente foram ao trabalho. Sacerdotisa, que possuía uma ideia do que iam fazer, parecia bastante perturbada; Alta-Elfa Arqueira, que não, parecia só desconfortável.

Matador de Goblins sacou uma adaga — sua própria, não a que roubara de um goblin — e verificou a lâmina.

— Eu faço isso. Me dê fogo.

— Com certeza. Chama dançante, fama da salamandra. Conceda-nos uma parte da mesma chama. — Anão Xamã retirou uma pederneira dentre os seus catalisadores, lhe acertando enquanto falava. Uma pequena chama-fantasma se desenvolveu no ar, brilhando na adaga de Matador de Goblins.

Matador de Goblins aqueceu a lâmina com cuidado e depois apagou a chama com um movimento rápido. Quase ao mesmo tempo, ele pegou um pano de sua bolsa e jogou para Alta-Elfa Arqueira.

— Mantenha isso na boca.

— O-o que está planejando?

— Eu vou arrancar a ponta da flecha.

As orelhas longas de Alta-Elfa Arqueira ficaram de pé.

— Eu… eu não quero que faça isso! Depois que chegarmos em casa, podemos…!

Ainda sentada, ela recuou. Anão Xamã soltou um suspiro.

— Sem choramingar, Orelhuda. Corta-barba tem esse direito. Quer que essa perna apodreça e caia?

Ao lado deles, Lagarto Sacerdote falou friamente e com a firmeza de uma rocha caindo do céu. — Certamente não seria possível recolocar.

— Ooh… Ohhh…

— Qual é, pessoal, estão assustando-a. — Sacerdotisa, incapaz de se conter mais, repreendeu os homens do grupo; mas ela não fez qualquer esforço para impedir o que estavam fazendo.

Ela mesma teve uma flecha retirada de si à força uma vez. Ela sabia da dor e o medo; e o quão pior poderia ficar se deixassem para lá.

— …Pelo menos, tentem fazer da forma menos dolorosa possível.

— O que mais eu faria? — Matador de Goblins estava à espera da lâmina quente esfriar na temperatura certa. Um médico viajante lhe ensinou que isso se livraria de qualquer veneno na lâmina.

— Me mostre a ferida.

— Errgh… Ohh… Você realmente não vai fazer doer, vai…? — Bem devagar, com o rosto completamente sem sangue, Alta-Elfa Arqueira moveu sua mão.

Matador de Goblins não respondeu e inspecionou o ferimento, de onde o sangue ainda estava pingando.

— Vinho.

— Bem aqui. — Anão Xamã tomou um gole de vinho de fogo e cuspiu, como se estivesse lançando Estupor. Lágrimas surgiram dos olhos de Alta-Elfa Arqueira quando os espíritos alcoólatras queimaram na ferida.

— Hrr… rrgh…

— Morda o pano. Então não morda a língua.

— Só… só perguntando de novo, mas… você não vai fazer doer, vai…?

— Não posso prometer nada — disse Matador de Goblins balançando a cabeça. — Mas vou tentar.

Alta-Elfa Arqueira, parecendo resignada, mordeu o pano e fechou os olhos com força. Sacerdotisa pegou sua mão. E então Matador de Goblins enfiou a adaga na coxa da elfa, alargando a ferida, enfiando mais fundo.

— Hrrrrrgh… Ugh! Gaggghhh…!

O corpo flexível de Alta-Elfa Arqueira se debateu como um peixe que foi levado até a costa. Lagarto Sacerdote pressionou seus ombros para mantê-la firme, e Sacerdotisa continuou lhe segurando a mão. Matador de Goblins não parou o seu trabalho; sua mão era cruel, mas certa.

A remoção da ponta da flecha levou só alguns segundos, ainda que Alta-Elfa Arqueira teria jurado que horas se passaram.

— Feito.

— Hooo… hooo… — Ela soltou longos suspiros de alívio.

Lagarto Sacerdote colocou a mão escamada na coxa de Alta-Elfa Arqueira e recitou: “Gorgossauro, bonito mesmo ferido, permita-me participar da cura em seu corpo!” Foi-lhe concedido uma bênção: Revigorar. O poder dos temíveis nagas fez a ferida da elfa melhorar diante de seus olhos. Carne se juntou e pele se edificou, a ferida parecia evaporar. Um verdadeiro milagre.

— Consegue se mexer? — perguntou ele.

— S-sim — disse Alta-Elfa Arqueira, insegura, com lágrimas ainda nos cantos de seus olhos. Ela mexeu a perna para frente e para trás, verificando se funcionava. Suas orelhas caíram penosamente. — P-primeiros socorros humanos é terrivelmente violento. Ainda posso sentir isso.

— V-você está bem? — perguntou Sacerdotisa, oferecendo o ombro para apoiar Alta-Elfa Arqueira enquanto se levantava.

— Acho que sim…

— Consegue atirar com o arco? — perguntou Matador de Goblins.

— Claro que posso — respondeu a elfa, talvez um pouco mais ardentemente do que o necessário.

Ela não estava se gabando, exatamente. Mas mesmo que pudesse disparar, sua mobilidade estava prejudicada. Ao menos pelo resto do dia.

— Devemos fazer um recuo estratégico… — Matador de Goblins balançou a cabeça. — …mas não podemos fazer isso ainda.

— Não estou confiante com o número de nossas magias restantes — anunciou calmamente Lagarto Sacerdote.

Mesmo assim, o capacete se virou de um lado ao outro. — Ainda há mais deles mais adentro. Temos que investigar. — Matador de Goblins verificou sua armadura, capacete, escudo e arma. Satisfeito, ele se voltou aos seus companheiros. — Posso prosseguir sozinho, se preferirem.

A ferida Alta-Elfa Arqueira foi a primeira a responder. — Não tente ser engraçado. Vamos com você. Não é?

— Claro! Sem dúvida — disse Sacerdotisa assentindo energicamente.

— Hm — grunhiu Matador de Goblins. Lagarto Sacerdote riu e pôs a mão em seu ombro.

— Então, acho que isso significa que todos vamos.

— Pfft! Orelhuda, nunca pensa em quão cansado os outros estão — disse Anão Xamã com um sorriso e dando de ombros.

Alta-Elfa Arqueira o fixou com um olhar feio. — Ei, Orcbolg é aquele quem quer…

E eles começaram.

Matador de Goblins, ignorando o escândalo habitual de seus argumentos, deu outra olhada ao redor do local. Apesar de em desvantagem, os goblins não mostraram nenhum sinal de tentarem fugir.

Então havia um goblin que copiara seu pequeno truque. Um que recebera primeiros socorros pela ferida com a flecha. E um que os comandava.

— Eu não gosto disso — murmurou ele.

Ele não gostava nada disso.

— Hmph.

Matador de Goblins deu um pontapé em uma porta velha apodrecida, a trazendo abaixo. Quase no mesmo momento, os aventureiros se amontoaram no cômodo, tomando posições, com Sacerdotisa no centro da formação, segurando uma tocha.

— Hmm…

Eles esperavam um armazém ou um arsenal, ou, porventura, um banheiro. Mas o local em que a luz brilhava não era nenhum desses.

Muito parecido com a área de antes, essa era outra sala grande escavada da terra. Havia vários montes de terra que poderiam se passar por cadeiras. Mais longe na sala estava uma pedra oblonga que parecia ter sido trazida de outro lugar.

Era inequivocamente um altar.

Isso era uma capela: então essa caverna era um templo? Se sim, esse altar seria onde eles ofereciam seus sacrifícios…

— Oh…! — Sacerdotisa foi a primeira a notar, como frequentemente acontecia. Ela se apressou. A memória de uma armadilha que encontraram nos esgotos passou pela sua mente, mas isso não era razão para hesitar. Ela ficaria atenta, mas não se absteria de ajudar.

Uma mulher estava deitada em cima da pedra fria como se tivesse sido simplesmente jogada ali; ela não usava nenhum pedaço de roupa. Seu corpo exposto estava sujo, e a forma como suas pálpebras estavam fechadas evidenciavam sua exaustão. Seu cabelo emaranhado era de um dourado cor de mel.

— Ela está respirando…! — disse Sacerdotisa alegremente, apanhando gentilmente a mulher.

Seu peito robusto subia e descia suavemente: a prova da vida.

— Missão cumprida, hein? — murmurou Alta-Elfa Arqueira, obviamente não acreditando em tal coisa.

Nunca havia qualquer senso de satisfação ou de conclusão em matar goblins. Ela contraiu os lábios e olhou pela capela. Era um local primitivo de culto. Para um alto-elfo como ela, não parecia ser possível sentir a presença dos deuses em um lugar como esse.

— …Me pergunto se um sacerdote da Seita do Mal esteve aqui.

— Ou talvez essas sejam resquícios de uma ruína antiga — disse Lagarto Sacerdote, olhando em volta. A elfa podia ouvi-lo tirando a poeira enquanto examinava o lugar. — Embora eu não possa imaginar bem qual deus poderia ser adorado em um lugar tão ordinário…

— Espere só um momento — disse Anão Xamã, passando o dedo ao longo da parede. — Essa terra está fresca. Foi escavada recentemente.

— Goblins.? — perguntou Matador de Goblins.

— Provavelmente — assentiu Anão Xamã.

Eram os goblins rheas caídos? Ou elfos ou anões? Ou eles vinham da lua verde? Ninguém sabia. Mas como criaturas que faziam suas casas no subsolo, possuíam estimadas habilidades em cavar. Não importa quão remoto o local, goblins poderiam cavar um buraco e começar a viver nele antes que alguém soubesse o que estava acontecendo.

Eles podiam sair e surpreender um grupo de aventureiros tão facilmente quanto poderiam tomar café da manhã. Uma pessoa não precisava ser Matador de Goblins para saber isso. Na sua primeira aventura, Sacerdotisa descobrira…

— Hum… Olhem aqui…!

Com a exclamação aflita de Sacerdotisa, ele olhou mais uma vez para a aventureira cativa. Sacerdotisa segurava o cabelo da mulher, sem medo de sujar as próprias mãos. Ela estava apontando para a nuca da mulher.

Alta-Elfa Arqueira não conseguiu conter um murmuro de “Isso é horrível”, e era difícil de culpá-la. O pescoço da mulher inconsciente possuía uma marca que se destacava dolorosamente. A impressão vermelha e preta horrível manchava sua pele senão linda.

— Hmm…

Matador de Goblins pegou o marcador de metal que estava próximo no chão. Parecia uma ferradura perdida ou algo assim, que fora trabalhada em um formato complexo.

— É isso que eles usaram? — perguntou Lagarto Sacerdote.

— Parece que sim.

Parecia ser uma espécie de círculo, no meio do que estava algo parecido como um olho. Matador de Goblins pegou uma tocha e examinou cuidadosamente a marca, fixando ela em sua memória. Era a marca de uma tribo nobre ou de um clã? Restavam muitos mistérios sobre os goblins.

— Contudo… não parece ser um totem de goblins.

Os goblins possuíam pouca noção para criar coisas si mesmos. Eles iriam apenas roubar o que precisavam; isso era o suficiente para eles. Esse ferrete, no entanto — mesmo que fosse construído de uma combinação de itens encontrados — representava um ato de criação.

— Acho que é… a lua verde — disse uma voz trêmula. Era Sacerdotisa, acariciando gentilmente o pescoço da mulher. — É o sinal de um deus. A divindade do conhecimento externo… o Deus da Sabedoria.

…Muitos deuses se reuniam à volta desse tabuleiro, para vigiá-lo. Eles incluíam, é claro, o Deus do Conhecimento, que governava o conhecimento das coisas e encontrava muitos fiéis entre estudiosos e oficiais. Dizia-se que a luz do Deus do Conhecimento brilhava entre todos que se aventuravam rumo ao desconhecido, buscando a verdade e as coisas do mundo.

Sim: o que o Deus do Conhecimento concedia não era o conhecimento em si, mas sinalizadores, um caminho que leva à verdade. As adversidades em si era um importante tipo de conhecimento.

O Deus da Sabedoria, que era a divindade do conhecimento das coisas externas, tratava com algo sutilmente diferente. O Deus da Sabedoria não conduzia os suplicantes ao conhecimento, mas dava sabedoria a todos os que pediam. O que isso faria ao mundo, o tabuleiro, provavelmente não era do interesse da divindade.

Considere, por exemplo, um jovem que, confrontado com as infelicidades mesquinhas da vida diária, resmunga: “Talvez o mundo acabe…”. Normalmente, tais palavras seriam meras tolices, uma expressão inocente de insatisfação. Mas, quando o olho do Deus da Sabedoria cai sobre tal pessoa; e então?

Em um instante, uma forma terrível de acabar com o mundo entra na mente do jovem, e ele começa a agir. Alguns acreditam nesse deus, graças ao surgimento repentino de discernimento inexplicável. Mas…

— Nossa. Agora minha cabeça dói tanto quanto a minha perna — disse Alta-Elfa Arqueira, franzindo a testa como se estivesse de fato com dor de cabeça. — Eu fico de olho. Vocês continuam.

— Ei — disse Anão Xamã com um pouco de aborrecimento. — É tudo muito bom e tal você ficar de guarda, mas poderia ao menos ouvir o que estamos falando.

— Sim, claro… — Ela não parecia muito entusiasmada. Ela mexia na corda do arco, com uma flecha vagamente de prontidão. Ela mantinha suas pernas se mexendo impacientemente; talvez a dor estivesse a incomodando. As suas orelhas balançavam um pouco como se escutasse atentamente.

Matador de Goblins olhou em sua direção, mas depois olhou mais uma vez para o marcador.

— A lua verde, você disse?

— Sim, senhor. Aprendi só um pouco sobre isso durante o meu tempo no templo. — Sacerdotisa não soava que acreditasse bem. Seu tempo como uma aprendiz já parecia tão distante.

— Você quer dizer daquela que os goblins vêm? — murmurou Matador de Goblins, pegando a marca de metal. — Se sim, então não há dúvidas de que os nossos inimigos são goblins.

Ele falou se qualquer hesitação. — Um daqueles goblins mostrava sinais de ter sido curado.

Mas, quem chegaria ao ponto de usar um milagre para ajudar um goblin?

— Um agente do caos transbordando com misericórdia e compaixão? — zombou Lagarto Sacerdote. — Duvido.

— Então deveria ser um goblin, não é? — disse Sacerdotisa. — Mas… como poderiam…? — Ela pestanejou, como se não quisesse acreditar.

O deus que dava conhecimento do exterior era um imprevisível; não seria uma grande surpresa se a divindade falasse com um goblin.

Não seria estranho, contudo, uma dúvida desesperada permanecia no coração de Sacerdotisa. Ainda assim, se os goblins conseguissem completar um ritual… isso seria muito pior do que ouvir ocasionalmente a voz de deus.

— Tem certeza de que não é algum sacerdote maligno de ranque alto, um elfo negro ou algo assim? — perguntou ela.

— O quê? Não creio — respondeu uma voz clara e alta, em resposta a sugestão de Sacerdotisa.

Anão Xamã suspirou de novo e afagou a barba com mais do que um pouco de incômodo. — Você pode ficar vigiando ou conversar. Escolha um.

— Você é quem me disse para ouvir vocês. Se estou ouvindo, tenho o direito de contribuir, não tenho? — riu discretamente Alta-Elfa Arqueira.

— Hum — disse Lagarto Sacerdote, assentindo. — E senhora Patrulheira. O que gostaria de contribuir?

— Digo… — Ela girou seu dedo indicador em um círculo. — Se você tem um monte de goblins, e você só os usa para fazer algumas pilhagens… isso não o faz muito mais inteligente do que um goblin, não é?

— Inferno, Orelhuda, talvez um bando de bandidos descobriu a religião e pensaram que deveriam adorar os goblins!

— Você só está aborrecido porque não pode acreditar mais em sua própria explicação.

— Hum, bem.

— Heh. — Lagarto Sacerdote meio que bufou, cruzou os braços, e então começou a contar com seus dedos. — Ele pensa como um goblin, controla goblins, cura goblins, ataca pessoas e é um seguidor do mal.

Sacerdotisa colocou o dedo nos lábios, pensando nas possibilidades. — Um sacerdote goblin? Um sacerdote-guerreiro?

Nada parecia se encaixar bem. O que eles estavam enfrentando aqui? Um goblin de alguma espécie? Mas, de que tipo?

Naquele momento, uma ideia passou pela cabeça de Sacerdotisa, tão subitamente quanto fosse um presente dos céus.

Era uma ideia ultrajante e inviável. Mas…

As coisas começavam a fazer sentido se estivessem lidando com alguém que possuía um exército contra os descrentes.

— Não… Não pode ser. Isso é impossível.

— …

Ela se abraçou, pondo as mãos em seus próprios ombros enquanto balançava a cabeça, se recusando a acreditar.

Ao seu lado, ela podia ouvir o ferrete ranger na mão de Matador de Goblins.

Não era possível. Era ridículo. Mas, na verdade, nada era impossível.

Só havia uma resposta. Matador de Goblins reconheceu claramente a verdade de seu inimigo.

— Um goblin paladino…

 

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