Goblin Slayer 4 - Anime Center BR

Goblin Slayer 4

Capítulo 4

Meio-dia em um dia de festival se vivenciaria a praça cheia de gente, dando a aparência de um mosaico vivo.

O pilar que estava no meio da praça no lugar de uma torre de relógio fazia um ponto de encontro natural.

Ela parecia um pouco simples em meio aos homens e mulheres vestidos espalhafatosamente circulando à volta.

Ela usava uma blusa branca e bela, mas pouco notável. Ela tinha vestido uma saia-calça que era feita para facilitar o movimento acima de tudo, e meia-calça simples. Seu cabelo estava estilizado como de costume. Mas ela havia conseguido uma fita nova para segurar a trança atrás.

Simples roupas pessoais, isso era tudo o que tinha de usar na cidade no seu dia de folga.

Afinal…

— Ah.

…Entende?

Foi então que ele chegou, caminhando ousadamente no meio da multidão como se não estivesse ali.

Não havia como confundir ele e muito menos perdê-lo no mar de corpos. Ele estava com sua armadura de couro manchada e capacete de aço. Sua espada e escudo.

Ele estava tão completamente no seu eu habitual que foi o suficiente para fazê-la rir.

Assim, ela invocou um sorriso igual ao que sempre tinha. Apenas a sua roupa era diferente hoje.

— Aproveitou a sua manhã?

— Sim — disse desapaixonadamente Matador de Goblins, parando na frente dela e dando um dos seus acenos de costume. — Desculpe por te fazer esperar.

— Está tudo bem. Também acabei de chegar.

Uma pequena mentira da parte dela.

Ela não mencionaria que estivera tão animada que havia chegado antes do meio-dia.

Ela tossiu um pouco para disfarçar sua mentira e continuou:

— …Hee-hee. No entanto você está um pouco atrasado, Sr. Matador de Goblins.

— Desculpe.

— Nada, não faz mal. Afinal, eu…

…gosto de esperar.

Então, Garota da Guilda sorriu malevolamente, se virou e começou a levá-lo para longe.

Sua trança, vívida com sua nova fita, balançava como uma cauda.

— Bem, então vamos!

Ela sabia. Mesmo que tivesse se arrumado não teria conseguido chamar a atenção dele.

Ao contrário, ela queria que ele visse o seu eu real, não o rosto que ela mostrava no trabalho todos os dias.

Não Garota da Guilda. Apenas Garota normal. O jeito que ela era normalmente.

Parte da razão pela qual tinha se vestido simplesmente era para declarar: Essa sou eu!

— Você já almoçou?

— Não. — Matador de Goblins balançou a cabeça lentamente. — Ainda não.

— Está bem, então…

Vuup, vuup. Ela virou a cabeça tão rápido que poderia praticamente se ouvir.

Ela considerou um plano após outro, os comparou, dispensou alguns e finalmente escolheu um.

Ela sabia que guisado era uma de suas comidas favoritas, do jeito que eles faziam em sua aldeia, é claro.

Ela não podia competir nessa área. Mas ela poderia tirar vantagem do dia do festival.

— Que tal caminharmos enquanto comemos? — disse ela, sorrindo timidamente. — Sei que é pouco educado, mas hoje é especial…

— Não me importo.

— Sabia que não. Muito bem então, vamos comprar algo e depois dar uma olhada por aí…

Ela olhou para cima, espiando seu rosto por baixo. O capacete sujo. O mesmo rosto que via todos os dias.

— Mas me pergunto aonde…

— Hmm.

— Podemos ir a um lugar que goste, sabe?

— Hm.

Matador de Goblins grunhiu depois. Garota da Guilda sorriu para ele.

Esperando não incomodar ele. Não enquanto a outra pessoa estivesse tentando responder a ela, de qualquer forma.

Dos cinco anos de conhecimento, ela entendia o que ele estava pensando cuidadosamente.

Então, depois de um momento, Matador de Goblins assentiu e respondeu:

— Vamos começar por aqui então.

— Claro!

Ele partiu com seu passo ousado e ela o seguiu como uma cachorrinha animada.

Ela poderia ser capaz de se safar segurando sua mão para não se separarem.

Mas ela sabia que nunca iria perder de vista essa pessoa singular e inesquecível.

Garota da Guilda estava determinada a acompanhá-lo pela tarde. Ela seguiu atrás dele, com seu sorriso crescendo cada vez mais.

Os dois compraram maçãs caramelizadas de uma barraca de doces.

Não servia exatamente como uma refeição completa, mas alguém dificilmente poderia se queixar sobre a comida do festival.

Isso era o que ela pensava, de qualquer forma, e ela não conseguia imaginá-lo ficando insatisfeito com qualquer comida.

Falando de coisas que não posso imaginar…

Ele comeu facilmente o doce sem remover o capacete, um feito que ela teria — senão — considerado impossível.

— …Hee-hee.

— O quê? — O elmo dele se inclinou de uma forma curiosa quando ele quebrou em dois o já terminado palito.

— Nada — disse Garota da Guilda, balançando a cabeça e não tentando esconder seu sorriso. — Estava só pensando se havia alguma coisa que você não comesse.

Para essa pergunta, Matador de Goblins murmurou hmm e mergulhou no pensamento.

Garota da Guilda o observava de soslaio enquanto lambia a maça. Hm. Doce.

— Acho que eu comeria se fosse preciso — murmurou ele, e ela seguiu com um suave “É?”.

— Mas prefiro evitar peixe.

— Peixe?

— São fáceis o bastante para se conseguir se houver um rio próximo, mas rios também podem implicar em parasitas e a possibilidade de intoxicação alimentar. — Houve uma pausa e então ele acrescentou: — E eles fedem.

— Isso é verdade — concordou ela com uma risada. Mesmo o peixe defumado, seco ou salgado tinha um odor muito distinto. — Compreendo. Já vi aventureiros discutindo sobre isso.

— Oh?

— Alguém comprou peixe em conserva para provisão e tivera uma grande briga sobre se o odor era terrível ou não.

Ela estava exagerando um pouco, mas ele assentiu e disse “Entendi”.

Então, que grupo poderia ter sido?

Ela se lembrava do incidente, mas não o suficiente para recordar seus rostos.

Aventureiros eram fundamentalmente salafrários e sem rumo.

Alguns poderiam parecer se estabelecer, mas se de repente eles tivessem problemas um dia, ninguém pensaria duas vezes. Ele, ela ou eles, simplesmente iriam para uma nova cidade agradável e se sairiam bem por si mesmos.

Era normal, depois de tudo.

Um novo começo oferecia um alívio muito maior do que encarar o fato de que todos de seu grupo morreram devido ao seu próprio fracasso fazendo o trabalho. Encontrando regularmente todos os outros aventureiros dia sim e dia não, como poderiam evitar pensar nisso?

Não importa pensar muito nisso…

Essa pessoa que não tinha visto recentemente, ela estava morta?

A pessoa que você acabou de falar antes de ela sair em uma aventura, a veria novamente?

Esperar só era fácil quando você tinha certeza de que a outra pessoa voltaria.

Mas se não tivesse…

— Contudo, é eficaz em esvaziar um ninho.

Ele estava falando de um assunto sério — ele sempre estava sério — alheio aos pensamentos dela.

Garota da Guilda sabia que ele não estava brincando, mas ela sorriu.

Desde que eles partiram essa tarde, ele — ou melhor, eles — tinham sido assim.

Cada vez que havia uma escolha de caminho ele iria examinar da direita para a esquerda. Quando eles passavam por um bueiro, ele pisaria nele com um tum.

Matador de Goblins e Garota da Guilda chegaram ao fim da rua principal e caminharam pela margem do rio, onde ela olhou rio cima e rio abaixo.

Os borbulho do rio, o splash de peixe saltando, os barcos circundando pela água, nada disso parecia chamar a atenção dele.

— Hmm, isso não é adorável?

Garota da Guilda fechou os olhos enquanto a brisa fria do outono beijava suas bochechas.

Então ela se segurou no parapeito da ponte e se inclinou sobre a água tanto quanto podia.

— Você vai cair. — Para ela, o comentário brusco era uma simples evidência de que ele estava prestando atenção nela.

— Estou bem — disse ela, se virando de volta.

Com as mãos se apoiando no parapeito, ela arqueou as costas e voltou para a ponte.

Seu cabelo trançado dançou quando o vento o apanhou.

— Esse rio deve ir até o mar.

— Sim — disse ele. — Começa nas montanhas.

— Mas não é como a cidade da água. O que você achou daquele lugar?

— As ruas eram confusas — disse sem emoção Matador de Goblins. — Bom para defesa, mas problemático para se ir algum lugar.

— Você também quer dizer que é melhor ter cuidado com goblins não entrarem nessa cidade.

— Sim. — Matador de Goblins assentiu. — Exatamente.

Então…

— Oh.

Só por um segundo, Garota da Guilda encontrou os olhos de um turista em um barco passando debaixo da ponte.

Uma garota adorável com lindos cabelos dourados e bochechas pálidas tingida de vermelho-claro.

Ela não estava usando sua armadura dourada habitual. Hoje ela estava ostentando um vestido azul-marinho.

Ao lado dela estava um homem grande com uma expressão severa e um tanto confusa em seu rosto. A mulher deveria ser Cavaleira.

— …Hee-hee.

A cavaleira colocou o dedo em frente à boca e olhou para Garota da Guilda como se exigindo que isso permanecesse em segredo. Garota da Guilda não pôde deixar de rir ao ver a aventureira se comportar como qualquer outra garota jovem de sua idade.

Sim. Sim, é claro. Nosso segredo.

Ela pensava que todos já estavam bem cientes da situação, mas seus lábios ficaram selados.

Parecia estar indo bem com os dois. Isso é o que importa. Bem, me pergunto o que todos pensam de nós.

— Diga, Sr. Matador de Goblins. — Ela se afastou do corrimão e puxou seu braço. — Para onde vamos agora?

— Hmm…

Com um som gutural curto, ele partiu com seu modo de andar habitual, com Garota da Guilda atrás dele com o peito estufado orgulhosamente.

Aqui e ali, ele mudou as direções aparentemente por capricho, mas ele andava com tanta confiança que ela presumia que ele tinha algo em mente.

Ela estava apreciando o mero mistério de onde estavam indo, o que fariam lá.

Ele parou mais tarde em várias curvas na estrada, onde eles foram para uma rua movimentada.

— Ah, é aqui que estão todos os artistas, não é?

Artistas de todos os tipos com todas as fantasias que se possa imaginar proclamavam sua arte para todos ouvirem.

Os transeuntes sorriam, desfrutavam dos shows, aplaudiam e deixavam uma gorjeta, ou ignoravam todo espetáculo e continuavam caminhando.

Um músico rhea persuadia miados de um gato em seus braços, mesmo enquanto fazia malabarismos com um punhado de bolas. Uma entusiasmada canção sem sentido saia de sua boca.

A vida é uma jogada de dado

Jogue-os dias após dia

E sempre é um e um

Alguém disse       sorte é justa

Nada muda até o dia da sua morte

Rir ou chorar, é tudo a mesma coisa

Um e um aparece hoje de novo

Oh       um e um       um e um!

Mostre-me seis e seis amanhã!

 

Garota da Guilda ouvia a canção enquanto eles passavam, então observou seu companheiro.

— Qual é a sua jogada hoje, Sr. Matador de Goblins?

— Não sei — disse ele. — Ainda não.

— Hm… — Garota da Guilda tocou o dedo refletidamente contra seus lábios. An-ham. Certo.

— Você teve um encontro com uma garota de manhã e outra de tarde. — Ela franziu os lábios com o som ligeiramente rude disso. — Acho que a sua sorte é muito boa, não?

— É?

— Hu-hum.

— É mesmo?

— Com certeza.

A garganta de Matador de Goblins vibrou com um hmm evasivo. Não ficou claro se ele entendeu o ponto ou não.

Céus…

Qualquer um que agisse assim pareceriam irritantemente indeciso.

Mas esse não era o tipo de pessoa que ele era.

Se ele fosse algum aventureiro farrista, ela nunca teria o convidado dessa forma.

— Céus…

Ela repetiu deliberadamente seu aborrecimento em voz alta, mas no furor da multidão não chegou a ele.

Matador de Goblins, por sua vez, vistoriava a rua dos artistas.

Ele olhou para um ato onde um incompetente estava lançando faca e supostamente provocava risos. Mas ele perdeu o interesse imediatamente e passou para a próxima coisa.

A próxima coisa era um homem com um sobretudo.

Seu corpo inteiro estava coberto de roupa e ele fazia movimentos estranhos e amplos com seus braços…

— Ah…!

No instante seguinte, um dragão minúsculo apareceu em sua palma.

Nem tinha Garota da Guilda acabado de fazer um som de surpresa e o dragão foi coberto por um ovo. O homem cobriu o ovo com as duas mãos e ele cresceu se tornando uma pomba. O pássaro voou das mãos dele, mas seus dedos brilharam e o pássaro se transformou em uma nuvem de fumaça azul.

O homem puxou a fumaça como se fosse uma corda, transformando isso agilmente em uma espada longa. Ele segurou a arma com sucesso antes de colocá-la em sua boca.

Garota da Guilda ficou mais do que feliz em aplaudir seu ilusionismo.

— Isso é incrível, não é? Não sabia que alguém era tão bom nisso.

— Entendi — disse Matador de Goblins, com seus olhos não deixando o mágico.

Garota da Guilda ficou um pouco confusa, tendo em conta que ele não parecia nem um pouco surpreso com qualquer um dos truques.

Bem, não era exatamente confusão, isso chamou sua atenção de certa forma, despertando sua curiosidade.

No trabalho, ela não poderia perguntar muito sobre isso.

Mas felizmente, esse era um momento a sós entre eles. Ela aproveitou a chance.

— Você gosta de espetáculos assim?

— Sim. — Matador de Goblins assentiu e apontou para o homem, cujo dedos ainda estavam esfumaçando um pouco. — Ele nos distrai com seus gestos, depois executa seus truques.

— Eles dizem que isso é o básico em ilusionismo.

— Sim. E quando o público percebe que os gestos são apenas para exibição, então você faz desses movimentos a chave do seu próximo truque — disse Matador de Goblins. — É uma boa tática psicológica e bom treinamento.

Então ele balançou seu capacete e olhou para ela. Seu tom foi direto como sempre. Mas…

— …Fui enganado.

Caramba, esse cara…

Garota da Guilda deu um pequeno suspiro.

Ele era sério, teimoso, estranho e socialmente desajeitado.

Ela havia entendido tudo isso sobre ele desde que se conheceram.

Quer dizer, há cinco anos, desde que ela veio a essa cidade como uma empregada recém-formada com dezoito.

Mas Garota da Guilda só conhecia ele como um aventureiro.

Ela não conhecia o que estava sob — ou atrás — dessa personalidade, seu eu verdadeiro.

Mas o mesmo era para ele.

Ela sempre agiu como uma recepcionista adequada com ele.

— Humm, então agora…

Uma tática psicológica. Isso é o que ele havia dito. Está bem, então. Vou lhe mostrar um pouco de minha própria tática.

— …Há um lugar onde eu gostaria de ir. Tudo bem?

Era como o olho de um furacão.

Por mais agitada que a cidade estivesse, esse edifício por si só estava coberto de silêncio.

A Guilda dos Aventureiros.

Em um dia tão brilhante e festivo, não havia ninguém aqui para apresentar uma missão, tão pouco algum aventureiro para pegá-la.

Garota da Guilda destrancou a porta da frente, levando Matador de Goblins para dentro.

— Pode ficar à vontade. Já venho em um segundo.

— Entendi.

Suas vozes ecoaram em um lugar normalmente tão barulhento que era difícil de se ouvir.

Era impressionante quão solitário o edifício parecia sem ninguém.

Matador de Goblins estivera em inúmeras ruínas abandonadas, mas ele nunca havia sentido isso antes. É claro, ruínas raramente ficavam silenciosas por muito tempo depois de ele aparecer.

— Hmm…

A silhueta de um banco se estendia no interior escuro e a sua própria sombra dançava pelas paredes enquanto caminhava.

Apanhado entre o silêncio e as sombras, ele se sentia um fantasma.

Matador de Goblins fez o que sempre fazia, foi até o quadro verificar.

Todas as missões urgentes tinham sido retiradas em antecipação ao festival. Os pedaços de papel sobrando eram todos de aventuras não-críticas.

Remover ratos do esgoto. Coletar ervas. Livrar-se de um Miconide nas montanhas.

Recolher itens antigos para um colecionador de raridades. Patrulhar as estradas. Confirmar a linhagem do filho ilegítimo de uma casa nobre.

Explorar ruínas inexploradas. Escoltar uma caravana mercante…

— Hmm.

Matador de Goblins folheou tudo de novo, só para ter certeza.

Mas, não. Nenhuma missão de goblincídio.

— …

— Uhhh, ah, aí está você. Já estou pronta.

Ele se virou para ela, ainda com seu raciocínio.

Garota da Guilda estava acenando para ele da área de recepção, ela parecia segurar uma chave.

— Venha para cá! Está bem, vamos!

E então ela se abaixou atrás do balcão da recepção, deixando Matador de Goblins onde estava.

Com um último olhar para o quadro, ele finalmente a seguiu.

Ele havia se filiado a essa Guilda há cinco anos, mas nunca estivera na área das empregadas.

— Isso é permitido? — perguntou ele, à qual Garota da Guilda respondeu com ligeireza “Não” quando espiou de volta para ele.

— Por isso ficará só entre nós. Não diga a ninguém, está bem?

Ela mostrou a língua provocantemente e Matador de Goblins assentiu.

— Está bem.

— Sério? Ficarei triste se estiver mentindo.

— Sim, sério.

— Então acredito em você.

Ela se virou de novo, com sua trança saltando no ar. Matador de Goblins seguiu mais para dentro.

Ele ouvia um som estranho, Garota da Guilda cantarolando. Ele não reconhecia essa canção.

Por fim, ainda muito alegre, ela ficou diante de uma porta velha, girando a chave ruidosamente na fechadura.

Para além dela, havia uma escada em espiral desgastada.

— É aqui em cima. Vamos!

— Entendi.

A escada não rangeu quando Garota da Guilda pisou, mas sim quando Matador de Goblins começou a subir. Apenas pelos rangidos de passos, alguém presumiria que só havia uma única pessoa.

— Oh, graças aos céus! — disse Garota da Guilda, pondo a mão no peito e se endireitando. — Se tivesse rangido sob o meu peso, eu não conseguiria ficar de pé devido ao choque!

— É mesmo?

— Claro. Garotas são muito preocupadas com essas coisas.

— É mesmo?

An-ham, assentiu ela.

Ela olhou para trás sobre o ombro e provocou: — Teria sido melhor se eu estivesse usando uma saia, Sr. Matador de Goblins?

Ele balançou a cabeça e disse: — Mantenha seus olhos à frente. Não iria querer tropeçar e cair.

— Ahh, mas você está aqui para me pegar.

— Mesmo assim.

— Está bem…

Ela parecia bastante animada, embora ele não tivesse certeza do que ela estava se divertindo tanto.

Logo eles chegaram o nível máximo do espiral. Lá eles encontraram outra porta velha.

— Espere um momento — disse Garota da Guilda, usando uma chave enferrujada para abrir. — Esse é o lugar que queria te trazer.

— …Eu?

— Sim… Vá em frente.

Ela abriu a porta.

Assim que ela o fez, uma corrente de ar se precipitou e sua visão ficou repleta de dourado.

Montanhas de tesouros e joias, o suficiente para confundir os sentidos… não.

Era o próprio mundo, refletindo a luz profunda do sol.

Montanhas, rios, colinas cheias de margaridas, florestas e fazendas. A cidade, o templo, a praça. Tudo.

Essa era a torre de vigia da Guilda, e a partir dela uma pessoa poderia ver tudo em qualquer direção.

Por mais alto, por mais distante, era visível dali.

Multidões agitada, músicos tocando. Risos. Uma canção. Tudo alcançava a torre.

Se a Guilda era o olho da tempestade, esse era o lugar para visualizar a tempestade em si.

Viva e alegre, um dia bonito o suficiente para se celebrar.

E Matador de Goblins estava em seu âmago.

— …Que tal? Surpreso?

Garota da Guilda estava no corrimão, passando as mãos por ele. Ela espiou o capacete, mas não conseguia ver nada.

Mas — ela acreditava — que não havia ninguém mais fácil de se compreender do que ele.

Não exigiu muita atenção para entender o seu objetivo quando ele deu voltas na cidade.

— Estava patrulhando, não estava?

Pelas ruas, verificando os esgotos, observando os rios por algum sinal qualquer de goblins.

Isso era quem essa pessoa era.

Então certamente, se ele visse tudo da torre de guarda, ele poderia…

— …Relaxou um pouco?

— Não… — Matador de Goblins balançou a cabeça lentamente com a pergunta de Garota da Guilda. — Acho.

Ele soltou um suspiro suave.

— Isso está certo? — murmurou ela, se apoiando no corrimão.

Sua trança dançava ao vento. Ela não olhou para ele.

— Mesmo que você já tenha trabalhado tão tanto para matar todos os goblins?

— Mais uma razão.

A luz ficou fraca. O sol estava se pondo, afundando no horizonte. Mesmo os dias mais belos tinha que acabar.

— …

— …

No seu lugar, luas gêmeas se erguiam juntamente com uma fina névoa roxa. O céu estava cheio de estrelas, nítidos pontinhos frios de luz.

A cidade estava coberta de preto, tão quieta que parecia que todos estavam prendendo a respiração.

O vento se cortava nos dois na torre de guarda com um som triste.

Outono, afinal, era o prelúdio do inverno.

Eles já podiam ver suas respirações enevoando.

E de repente, ela sussurrou:

— Olhe, está começando!

O dourado desapareceu e o par mergulhou nas sombras.

Então, uma luz.

Uma.

Duas.

Três.

Quatro.

Cinco.

Por fim, muitas para se contar.

As lanternas pequenas brilhavam como estrelas refletidas em um rio. Pela cidade escura aqui e ali elas piscavam, balançavam e brilhavam.

Finalmente, as luzes alaranjadas começaram a flutuar em direção ao céu como vaga-lumes.

Como neve caindo ao contrário, elas flutuaram, dançando até os céus.

— Balões de papel.

— Sim. Achei que eles seriam lindos daqui. — A resposta de Garota da Guilda às duas palavras de Matador de Goblins soou bastante satisfeita. — Já que eu conseguiria finalmente fazer isso, queria te convidar.

— …Entendi.

Matador de Goblins olhou para cidade abaixo e exalou calmamente.

Os pontos dourados de luzes já estavam longe, e no brilho laranja das velas, a cidade ficou incomparavelmente bonita.

Estava cheia de criações dos humanos.

Casas e edifícios feitos de pedra, a roupa das pessoas nas ruas, seus risos aumentando.

Eles acenderam as velas de suas lanternas, com o papel inflando antes de levar as partículas de luz para o céu.

O olhar de Matador de Goblins seguia sua ascensão da cidade abaixo no ar da noite.

Ele sabia que o ar quente subia e era por isso que as lanternas voavam. Isso era tudo. Sem magia ou milagres envolvidos. Eventualmente, a chama iria terminar e as lanternas cairiam de volta ao chão.

— Sr. Matador de Goblins, você…?

Garota da Guilda abriu a boca para dizer alguma coisa, mas naquele momento…

Riiing.

Um sino soou, repercutindo pelo silêncio da noite.

Se as lanternas eram estrelas em um riacho, esse era o borbulhar da água.

Riiing, riiing, riiing, riiing.

O som repetia em um ritmo fixo, um ritual sagrado para purificar a área.

Garota da Guilda procurou pela origem. Vinha da praça, onde uma multidão de lanternas estava subindo pelo ar.

Pessoas estavam espremidas na praça, sentados em torno de um palco redondo.

Ela avistou uma lança familiar e um chapéu pontiagudo na multidão e riu.

Oh, já deu a hora?

Dias bonitos, dias festivos, dias comemorativos. Esses dias também pertenciam aos deuses.

Eles eram dias de agradecimento às colheitas e um outono frutífero, bem como a súplica para passagem segura durante o inverno.

Petições que eles faziam, naturalmente, à toda-compassiva Mãe Terra.

Logo, alguém apareceu na praça em meio às fogueiras para encarnar essas esperanças.

Uma jovem toda vestida de branco emergiu graciosamente, uma donzela de santuário. Não…

 

— Ó deuses que se reúnem à mesa das estrelas…

 

Era Sacerdotisa.

Ela estava vestida de forma muito diferente. Sua roupa se parecia com algum tipo de traje de batalha, mesmo assim mostrava uma boa quantidade de sua pele.

Seus ombros e decote, barriga e costas, suas coxas, tudo revelava sua pele pálida e pura.

 

— …pelos pontos dos dados do destino e acaso…

 

Seu rubor sugeria que ela estava envergonhada por ser vista assim, mas ainda assim ela girou seu mangual baseado em uma relíquia sagrada.

A Mãe Terra era a deusa da abundância, a governante do amor e por vezes até uma deidade da guerra.

E essas eram as vestimentas de sua sacerdotisa.

Então, na verdade, não era nada de que fosse preciso ter vergonha.

 

— Ó Mãe Terra, vos suplicamos…

 

Sacerdotisa agitou seu grande mangual com as duas mãos, com as chamas se refletindo em suas gotas de suor no rosto.

Sempre que a relíquia — originalmente uma ferramenta de colheita — cortava o ar, deixava uma trilha branca e o toque de um sino.

Uma dança dos deuses, pelos deuses e para os deuses. Uma exibição sagrada.

 

— Como a sua vontade, seja a minha vontade…

 

Matador de Goblins lembrou dela murmurando: Tenho praticado.

Ela tinha falado do seu novo equipamento. Ela ficara com tanta pressa para ir à oficina.

Ela devia ter ficado treinando para que pudesse manejar aquele mangual e ido à loja para preparar essa roupa.

Ele tinha finalmente compreendido o sorriso travesso de sua companheira elfa.

 

— Ofereço esse corpo, incansavelmente, inesitantemente…

 

Sua oração soava através da praça, pelas casas, até a torre de guarda.

Ele tinha certeza de que os deuses podiam ouvi-la de onde repousavam no céu.

A esperança era para que os seus dados pudessem rolar mesmo que só um pouco mais favoravelmente.

Oh       um e um       um e um!

Mostre-me seis e seis amanhã!

Onde ele tinha ouvido essas palavras?

 

— Lhe oferecemos essa oração…

 

Ela não estava exatamente possuída, mas ela aproximou mais o panteão.

É claro, se ela tivesse realmente usado o milagre Chamar Deus, certamente sua alma mortal não teria suportado.

Mas mesmo a imitação do milagre era preciso apenas um gesto, uma respiração, um som, para fazer os fundamentos parecerem santos.

A noite não pertencia às pessoas. Pertencia aos monstros e caos. E goblins.

 

— Ó formidável, Ó eterno, Ó vasto, Ó profundo amor…

 

Ela deu um grande passo de dança e seus trajes rodaram, revelando seus quadris.

Sua respiração intensificada esfumaçava e gotículas de suor voavam de cima dela.

Seus olhos lacrimejavam; seus lábios tremiam. Seu pequeno peito se erguia com cada respiração.

Mesmo assim ela não exalava nenhum erotismo, apenas santidade.

 

— E que seja assim sobre seu tabuleiro…

 

— …Eu nunca relaxei — sussurrou Matador de Goblins enquanto seguia a forma dela com seus olhos.

— O qu…?

As palavras vieram do nada. Garota da Guilda não sabia se estava mais surpresa ou confusa.

Levou um instante para perceber que ele estava respondendo sua pergunta de mais cedo.

— Não importa quanto eu faça, não importa quantos eu mate. Tudo o que eu ganho é uma chance de vencer. — Não importa o quanto seus companheiros e amigos o apoiavam, o encorajavam e lutavam ao lado dele. — E uma oportunidade de vitória não é uma vitória.

Não havia como ser.

O espectro da derrota estava sempre presente. Ele nunca poderia fugir da sombra que o tinha criado.

Certamente não quando essa sombra tinha uma forma concreta e poderia o atacar.

— É por isso que não fiz uma lanterna.

Para preparar. Para estar pronto contra os goblins. Para lutar.

Para se cobrir contra aquele 0,01 por cento enquanto tinha 99,99 por cento de certeza de que poderia vencer.

Ele concluiu que por tudo isso, ele não poderia poupar sua atenção para qualquer outra coisa.

Ele sabia.

Ele sabia que o que levava as lanternas voando para o céu era apenas um fenômeno natural. Que quando as velas esgotassem, elas iriam cair na terra como nada mais que lixo.

Matador de Goblins sabia disso.

Mas…

— Os balões de papel guiam as almas dos mortos — sussurrou ele com um pouco de arrependimento. — Gostaria de saber se eles conseguiram regressar em segurança.

De quem ele estava falando? Ou o quê? Como ele se sentia agora?

Garota da Guilda não podia dizer. Ela não sabia.

Mesmo assim ela disse “Tenho a certeza que sim” e sorriu.

No mesmo instante:

 

— Que nenhum mal perturbe a balança da ordem e do caos nos céus. Que tudo fique bem.

 

Sacerdotisa jogou seu cabelo enquanto erguia os olhos para o céu, oferecendo uma oração da terra aos céus.

Ela cantou com toda a sua força e esforço, seu pescoço pálido cintilava de suor. Alguém engoliu em seco audivelmente encantado com a sua beleza.

Então ela entoou uma súplica supostamente em nome de muitos crentes, aqueles que possuíam palavras.

 

— Abençoe o protetor da noite, traga a ele felicidade.

 

Mas ela falou só para um.

 

— Eu rezo para os céus distantes, ofereço minha petição…

 

Ela soltou um suspiro. Ele reverberou através do silêncio.

— …Olhe. — Garota da Guilda estava sorrindo para Matador de Goblins com um toque de surpresa. — Os deuses estão apreciando… todo o seu esforço.

E, de fato, estavam.

Se ele não tivesse resgatado Sacerdotisa naquela caverna, essa cena nunca teria acontecido. Todo mundo aqui na cidade, celebrando o festival. Tudo porque ele ajudou aquela garota e deteve a horda goblin com ela e seus companheiros.

Foi destino ou acaso? Isso dependia da jogada de dados dos deuses.

Embora, talvez, aqueles no tabuleiro não pudessem imaginar…

Garota da Guilda não se importava o que era. Porque seja qual fosse a causa, a tinha levado até ele.

Ela não sabia o que lhe trouxera para se tornar um aventureiro, para se tornar Matador de Goblins.

Mas ela sabia dos cinco anos que o tinha levado até esse momento, tudo o que ele tinha passado durante esse tempo. Ele estava aqui para proteger aldeias, pessoas, cidades, qualquer um.

Basta olhar ao redor dele.

Ela não podia acreditar, era ridículo ela não ter notado.

Matador de Goblins não era amargo. Ele não era triste.

Ela, ela era a única que mal conseguia aguentar.

Garota da Guilda tremeu com a humilhação de seu próprio egoísmo.

Naquela noite, naquele momento, ele tinha Sacerdotisa, Alta-Elfa Arqueira e Vaqueira também.

E embora ela soubesse disso, ela havia tentado ganhar vantagem sobre todas elas, e ela odiava o comportamento vergonhoso

Ela odiava como tinha evitado elas até o festival, sem saber o que diria a elas.

Mas… mas.

Ela estava esperando. Ela estava aqui.

Ela estava o apoiando, torcendo por ele.

Ela queria que ele visse.

Notasse.

Percebesse.

Ela. Outras coisas. Tudo que não fosse um goblin. Qualquer um.

Ela não tinha nada parecido com coragem que precisava para pôr tudo isso em palavras.

Mas agora que ela havia conseguido passar metade de um dia com ele, ela se perguntava se algo tinha mudado.

Ele me viu?

Ele viu alguém?

Ele pensa em alguma coisa além de goblins?

— Tenho certeza… de que eles foram capazes de voltar para casa em segurança.

Havia muita luz, afinal de contas. Deve ser verdade. Eles não conseguiriam se perder no caminho.

Essa fé inspirou as palavras de Garota da Guilda. Como sempre, ela escondeu os seus pensamentos mais íntimos atrás do sorriso.

Para sua tranquilidade, ele soltou um som fraco, uma palavra.

— …Sim.

No fim, isso foi tudo que Matador de Goblins disse, e depois ele assentiu.

O fim do ritual marcou a conclusão do festival e seu dia abençoado.

As fogueiras queimavam baixo quando as pessoas deixaram a praça, apenas algumas chamas restavam a se consumir nos céus da noite.

Os dois desceram de volta às escadas, retornando ao chão da torre de guarda.

O sol se fora completamente, deixando a Guilda escura.

Embora ela pudesse normalmente encontrar o caminho nessas circunstâncias, hoje não era normal.

— Oop… oh! Ops…

— Tenha cuidado.

Garota da Guilda tropeçou e agarrou o braço de Matador de Goblins.

Seu coração acelerou com a força dele.

Ela estava feliz por estar escuro. Ela não queria, sobretudo, que ele visse seu rosto naquele momento. Embora ela não pudesse esconder o problema em sua voz.

— Ah, s-sinto muito…

— Não — disse Matador de Goblins, balançando a cabeça. — Não foi… ruim.

— O qu…?

— Me refiro à hoje.

— Ah…

— De manhã até a noite… Então é assim que “dia de folga” se parece.

Seu coração acelerou de novo

Ela se sentiu um pouco mercenária, como ela pôde? Mas ela não conseguia ignorar a alegria que anulou o lado calculista de sua natureza.

— Ah, não, n-não foi nada demais. S-se gostou de hoje, isso é maravilhoso.

— Entendi.

Por qualquer razão, ela se apressou em direção à porta, desenredando do braço dele.

Os dois estavam sozinhos no escuro. Foi daí que o nervosismo veio.

Quando chegassem do lado de fora, ela tinha certeza de que essa sensação mudaria. Que iria respirar mais facilmente.

Com isso em mente, ela pegou a maçaneta…

— …O quê?

Ela inclinou a cabeça quando ela não girou.

— O que foi?

Matador de Goblins se aproximou com um passo perfeitamente normal apesar da escuridão.

— Estou mal da memória? — disse ela, ainda confusa. — Não… eu não tranquei a porta. Mas…

Está trancada.

As palavras começaram a se formar, não exatamente em seus lábios, quando Matador de Goblins se moveu.

Ele agarrou Garota da Guilda pela cintura e a abaixou ao chão.

— O quu?

Ele derrubou a mesa para os proteger.

Ela caiu de costas e uma lâmina se enfiou na mesa quase ao mesmo tempo.

— A-ai! O-o que está acontecendo?!

— Fique perto da parede. Tome cuidado e fique quieta.

Matador de Goblins sacou a espada de sua bainha enquanto sussurrava as ordens.

Mantendo-se discreto, ele se moveu de lado atrás de sua cobertura, mantendo sua distância.

Ele puxou a faca da mesa e viu como ela brilhava claramente na noite. Então ele partiu após o seu atacante.

Longe de Matador de Goblins permiti-lo escapar.

Uma forma pequena — um homem pequeno, cerca da metade do tamanho de um humano — esgueirado na escuridão.

— Um goblin?

A única resposta foi um ruído zombeteiro que cheirava ligeiramente a sangue.

Então o atacante avançou.

Ele segurava uma faca inversamente, a qual moveu de cima para baixo como a presa de um predador.

Matador de Goblins ergueu seu escudo para defender. Houve um som seco. Um esguicho de líquido.

— Coberto de veneno.

A secreção viscosa caiu em seu capacete. Mas ele tinha a viseira. Não o cegaria.

O inimigo deixou o contato e pousou no chão, tirando vantagem da distância que se abriu para um segundo ataque relâmpago.

Matador de Goblins desviou os golpes que se aproximaram com o escudo e atacou com a espada, esperando acertar o atacante no abdômen.

Faíscas dançaram, iluminando a escuridão.

O atacante tinha uma faca na mão esquerda também, que usou para empurrar a lâmina de Matador de Goblins para o lado.

Sua técnica era refinada, o agressor tinha evidentemente uma certa experiência.

— Você parece muito diferente de um goblin.

— M-Matador de Goblins…! — gritou Garota da Guilda.

— Não há problema.

Ela ouviu um som de rangido, o agressor rangendo os dentes, talvez?

Os olhos de Garota da Guilda estavam se adaptando a escuridão, mas as formas lutando ainda eram indistintas.

O atacante usava armadura de couro e proteção ao redor de seu abdômen. O pano ao redor era negro, assim como o rosto dele…

— Não… um elfo negro?!

Seu grito serviu como um sinal.

O atacante brandiu sua faca na mão esquerda rápido o suficiente para cortar o próprio ar e acompanhou imediatamente com algo em sua direita.

Faíscas deslumbrantes surgiram do escudo de Matador de Goblins quando bloqueou a lâmina pequena três vezes.

Dardos!

A breve iluminação também permitiu que ela visse o verdadeiro ataque por trás do despiste.

— Hrr…!

A saraivada forçou Matador de Goblins para trás em uma espécie de meio salto mortal.

Ele tombou na mesa com um barulho espetacular, lançando poeira para o ar escuro.

— Oh, ah, M-Matador de Goblins…?

Não houve resposta.

Mesmo pela silhueta, ela poderia ver inúmeros dardos enfiados em sua armadura.

Era demais.

— Não…

— Sim! — Um grande grito abafou seu sussurro aflito. Veio, obviamente, do inimigo que rugia saliva com “Eu consegui! Eu consegui! Hya-ha-ha-ha! Por causa dele… é tudo por causa dele!”.

Ele gritava horrivelmente enquanto saltava para cima e para baixo, batendo palmas.

Ele esbarrou em Matador de Goblins e lhe deu um chute por garantia.

— Ranque Prata, pfft! Presas fáceis e um pouco de sorte, isso é tudo o que tinha!

Outro chute. Um terceiro, depois um quarto.

A cabeça de Matador de Goblins balançava cada vez que a bota tosca se conectava. O visor do seu capacete sujo ruiu terrivelmente quando caiu como uma boneca barata.

Era insuportável ver.

Até alguns minutos atrás, eles estavam conversando juntos, andando juntos.

— P-pare com isso…

Ela só podia sussurrar, tão baixo que ninguém poderia ouvir.

Mas agora algo estava jorrando de seu coração.

— Eu disse para parar!

— É bem feito por manter todas as garotas para si. — O agressor se virou, com seu olho cintilante fixado em Garota da Guilda. Ela formou um punho na frente do seu peito. — E ele estava em relações tão próximas com uma empregada da Guilda, ainda por cima. Não tão justo quanto ele fingia ser, acho!

Ela deveria ficar em silêncio? Não. Tinha de ser dito.

Ela sentia arrependimento, mas também uma determinação que o superava. É claro. Ninguém tinha o direito de chutar ele assim.

O veneno escorria da adaga com uma cor nojenta.

Ela deveria gritar de novo, chamar alguém? Não… Mesmo se fizesse, seria tarde demais.

— !

Ao menos, ela não evitaria seus olhos.

Seu olhar intenso só parecia irritar o atacante ainda mais.

— Não ache que vou deixar você se safar dessa tranquilamente…!

— É mesmo?

A voz era tão fria quanto o vento das profundezas de um poço.

— …

— O quê? Gargh…!

Os olhos de Garota da Guilda se arregalaram e o agressor só conseguiu dar um som abafado.

Matador de Goblins se moveu.

Ele se levantou como um espectro, ainda crivado de dardos. Sua espada…

Sua espada estava enfiada nas vísceras do atacante, tendo encontrado cuidadosamente uma lacuna na armadura de couro do oponente.

Ele rompeu violentamente através das entranhas do homem, fazendo seu ex-agressor tossir e se engasgar.

O corpo caiu para trás, se contorcendo, perdendo sangue e força.

— Hmph.

Matador de Goblins bufou, colocando seu pé contra a forma ensanguentada enquanto puxava a espada.

O atacante tossiu uma última vez, então ficou parado.

— Ma… — A voz de Garota da Guilda estremeceu. — Matador de Goblins…?

— Sim?

— Você está bem?! Está ferido?!

— Eu uso cota de malha debaixo de minha armadura de couro — murmurou ele de forma natural, afastando gentilmente Garota da Guilda enquanto ela tentava freneticamente chegar perto. — Um simples dardo não pode penetrar nela.

Ele agarrou os dardos e puxou de sua armadura. As pontas estavam encharcadas de algo, presumivelmente o mesmo fluído que tinha revestido a adaga.

Matador de Goblins disse desinteressadamente: — Ele era bem rápido. Com minha habilidade, eu não poderia tê-lo abatido.

Isso significava que — para ele, pelo menos — a solução óbvia tinha sido um ataque surpresa. Ele não poderia ganhar em uma luta justa, então ele não entraria em uma.

Mas, Garota da Guilda não simpatizou inteiramente com essa perspectiva.

— E-eu pensei que você… estava morto……!

Mesmo enquanto falava, lágrimas se formaram em seus olhos e escorreram por suas bochechas.

Uma vez que começaram, não havia como impedi-las. Confrontado com a garota chorando, Matador de Goblins só conseguiu reunir um “Ugh…”. Ele sacudiu o sangue de sua espada para se distrair. — Sinto muito.

— Se… Se tivesse que se desculpar… você não devia… fazer isso para começar…!

— …Não vou.

Matador de Goblins assentiu, e então com a ponta de sua espada ele retirou a máscara do atacante.

— Sniff… Ele…? Ele é um elfo negro?

— Isso eu não sei.

Garota da Guilda ergueu a cabeça, ainda fungando.

Elfos negros estavam entre os povos que possuíam palavras, também conhecidos como Jogadores. Eles compartilhavam as mesmas raízes que outros elfos, mas se alinhavam com o caos.

Não se poderia presumir que eram todos Não-Jogáveis — aqueles seres que-não-rezam — porque de tempos em tempos, um elfo negro retornaria ao lado da ordem.

Com apenas um punhado de exceções, a maioria dos elfos negros eram maus e se divertiam em desafiar a lei e a ordem.

Os elfos negros tinham orelhas pontudas como os outros elfos, mas com a pele escura.

Ela tinha ouvido dizer que eles eram geralmente altos, como seus primos habitantes da floresta, mas o corpo no chão não tinha crescido tão bem.

— Mas isso é um rhea.

— O qu…?

Garota da Guilda se engasgou quando deu mais uma olhada no cadáver.

O rosto estava escuro e sujo, mas ela tinha uma memória distante disso.

E por que não? Por que ele cobriria seu rosto quando atacava?

Matador de Goblins usou o salto de sua bota para limpar o rosto do cadáver.

— Oh! Esse é…! — Garota da Guilda colocou inconscientemente a mão na boca. Ela reconhecia ele. — Ele é aquele que acusamos de cometer delito naquela entrevista…!

Os traços estavam distorcidos pelo ódio, amargura e desejo de vingança… mas era sem dúvida Rhea Batedor.

Um aventureiro que eles tinham entrevistado para uma promoção. O homem que tinha acumulado discretamente recompensas e tesouros para si mesmo e escondido dos membros de seu grupo.

Todos os entrevistadores tinham exilado ele… Ele tinha voltado? Ou ele estivera na cidade desde então?

Matador de Goblins ficou olhando para o rosto do rhea.

— Acho que me lembro dele.

— É. Você estava na nossa entrevista com ele. Foi por isso…

— Não. — Matador de Goblins balançou a cabeça. — Quando eu estava comendo na taverna, ele estava sussurrando com outra pessoa. Eu também o vi me observando na Guilda antes disso.

— Está dizendo…

— Mas se ele só me quisesse como alvo, ele não precisaria de roupas tão estranhas.

Matador de Goblins grunhiu.

Tantas possibilidades, tantas escolhas, ele não conseguia decidir o que devia fazer exatamente.

Mas só havia uma conclusão a se prosseguir, um aviso a se prestar atenção.

— Os goblins podem estar se movendo.

Com essa declaração, Matador de Goblins bateu sua espada na bainha.

— Estou indo. Consegue ficar de pé?

— Ah, hum…

Garota da Guilda não sabia bem onde olhar. Ela estava ajoelhada como se suas pernas estivessem fracas, mas era capaz de se mexer.

Mas, se ela dissesse que não podia, ele ficaria? Não seria melhor se ele ficasse?

— E… Estou bem.

Ela reuniu tudo o que tinha para dizer isso, depois estendeu a mão e a pôs na mesa.

Matador de Goblins recolheu os dardos na máscara do rhea, então os guardou na bolsa. Ele limpou a lâmina da adaga envenenada e a colocou no cinto.

Depois de uma verificação rápida em seu equipamento, inspecionou onde os dardos o atingiu. Ele decidiu que não havia problema.

— Nesse caso, por favor, cuide das coisas aqui.

Assentindo, Garota da Guilda usou a mesa como apoio para se pôr de pé instavelmente.

O que tinha acontecido? O que estava acontecendo? Ela não sabia. Como ela poderia saber?

O dia de celebração acabou. Seu dia de felicidade desapareceu.

— …Só, quero dizer, que eu… que eu mesma não entendo nada disso…

Certo. Ela só teria que voltar a ser a recepcionista da Guilda, tratar ele como outro aventureiro.

— M-mas seja o que for, por favor, faça o seu melhor!

Ela pôs o maior sorriso que conseguia em seu rosto, e Matador de Goblins respondeu com apenas duas palavras.

— Eu irei.

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