Capítulo 3
— Nos ajude! Você precisa nos ajudar! Os gubrins acabaram de chegar na nossa aldeia!
— Está apresentando uma missão? Por favor, preencha esse formulário, senhor.
O fazendeiro agarrou o papel com tanta força que o amassou, e Garota da Guilda pegou uma folha nova. Isso não era nada incomum na Guilda dos Aventureiros. Ela lidou com meia dúzia de pessoas assim antes do café da manhã.
Os aventureiros estavam ocupados durante o dia, então eles visitariam a guilda pela manhã na maioria das vezes ou à noite. Essas missões apresentadas, entretanto, não eram tão previsíveis.
As batalhas entre os deuses haviam durado tanto tempo que os monstros agora eram uma parte familiar do mundo. Quando uma aldeia era atacada, um ninho de criaturas terríveis seria encontrado inevitavelmente em algumas ruínas próximas ou algo do gênero. O homem diante dela naquela tarde era só mais um em um desfile de pessoas que apareciam desesperadas.
— Se isso continuar, apenas os deuses sabem o que vai acontecer com as pobres vacas! E os nossos malditos campos? Os gubrins vão queimá tudo…
A mão do fazendeiro tremia enquanto escrevia. Cada vez que ele cometia um erro, Garota da Guilda estava pronta com uma nova folha de missão.
Sim, cada vez; cada vez que apareciam monstros, cada vez que eles atacavam uma vila, os aventureiros viriam. Sejam dragões, demônios, olhos gigantes com seus nomes profanos, ou às vezes, até mesmo uma equipe de foras da lei sem coração.
Todos os que se situavam entre os velhos inimigos daqueles que possuem palavras: os Que-Não-Rezam.
Claro, esse era um termo duvidoso, uma vez que incluía sacerdotes servindo aos deuses das trevas. E os mais numerosos entre os Que-Não-Rezam eram — você adivinhou — os goblins.
— Nós nem sequer temos moças para eles levarem!
Garota da Guilda entrecerrou seus olhos, tentando entender as letras que rastejavam como vermes pela página. Elas não eram muito legíveis. Esse era o escriba mais talentoso que a aldeia pôde reunir?
De alguma forma, eram sempre essas pequenas cidades rurais fronteiriças que os goblins iam atrás. Os goblins realmente estavam visando as aldeias de propósito? Era só por que existia tantas aldeias, ou tantos goblins? No que diz respeito a Garota da Guilda, tais questões estavam acima de sua remuneração.
— Parece que a papelada está em ordem. Você tem a recompensa com você?
— Com certeza. Diga, é verdade que os gubrins às vezes pegam uma garota para conhecer ela, então a devoram todinha?
— Há casos em que isso aconteceu, senhor.
O fazendeiro ficou visivelmente mais pálido enquanto pegava um saco. Garota da Guilda aceitou sem hesitar com seu sorriso perfeito. Era terrivelmente pesado…
O saco estava cheio principalmente com peças de cobre, algumas pratas brilhavam entre elas. Não havia uma única peça de ouro no saco.
Garota da Guilda pegou uma balança debaixo do balcão. O valor das moedas seria avaliado em relação a um peso estabelecido.
— Tudo certo, confirmei o montante — disse ela depois de um momento. — Está tudo certo.
Ela duvidou que a recompensa chegaria a dez peças de ouro no total. Apenas o suficiente para contratar alguns aventureiros de ranque porcelana com as taxas da guilda. Leve em conta as taxas de processamento que a guilda cobrava por agir como intermediária, e os agricultores poderiam ficar realmente no vermelho.
Mas aquele monte de moedas — algumas cobertas de sujeira, algumas com ferrugem, peças novas e velhas jogadas juntas — tinham um significado.
Alguém que não entendia esse significado nunca poderia se tornar uma recepcionista da guilda.
— Não se preocupe, senhor. Alguns aventureiros estarão prontos dentro de alguns dias para matar seus goblins. — Não importava como ela se sentia por dentro, seu sorriso nunca vacilava. O fazendeiro assentiu de alívio.
Ele provavelmente imaginava um caçador de monstros com uma armadura resplandecente, lutando galantemente contra os goblins. Garota da Guilda sabia bem. Ela sabia que não eram esses que apareceriam. Os aventureiros que encontrariam o caminho para aquela aldeia seriam ranques porcelana. Completos novatos.
A maioria deles seriam feridos na batalha. Se as coisas ficassem ruins, eles morreriam. Havia até mesmo uma chance de — na pior das hipóteses — que a aldeia fosse destruída.
Então, embora pudesse simplesmente ser para fazer com que todos se sentissem melhor, todas as recompensas eram pagas no fim da missão.
Não havia fim para os goblins. Um provérbio afirmava que “cada vez que uma pessoa falha, um goblin nasce”. Eles só possuíam seus números como vantagem. Eles eram os mais fracos de todos os monstros que poderiam atacar uma aldeia. Mesmo os trolls não eram comparação.
Goblins tinham apenas a inteligência, a força e o tamanho de uma criança pequena. Então, novamente, essa era outra maneira de dizer que os goblins eram tão inteligentes, fortes e perspicazes quanto uma criança.
O extermínio de goblins pagava uma ninharia. Aventureiros experientes evitavam eles como pragas.
Os recém-chegados eram absolutamente os únicos que podiam ir.
Eles podiam ser feridos, eles podiam morrer, mas eles matariam os goblins. Mesmo que o primeiro grupo a ir fosse aniquilado, o segundo ou o terceiro conseguiria.
Sim, os goblins seriam expulsos. Então o Estado não teria que se envolver. O Estado possuía coisas maiores para se preocupar: demônios, caos em geral.
— Bem, senhorita, eu certamente irei esperar. Espero que você possa nos ajudar.
Os procedimentos burocráticos terminaram, o fazendeiro deixou o edifício da guilda, curvando a cabeça repetidamente em agradecimento. Garota da Guilda o observou ir com um sorriso, contendo um suspiro.
— Esse é o terceiro hoje…
Enviar três grupos de aventureiros inexperientes para a morte, ou deixar três aldeias serem destruídas? Só de pensar nisso dava um nó em seu estômago. Esse nó pairava nela como uma nuvem.
Claro, Garota da Guilda tentava explicar as coisas para todos os novatos. Ela contava a eles sobre o perigo, até mesmo recomendava outras missões que poderiam pegar.
Mas ninguém jamais queria que sua “aventura” fosse matar ratos nos esgotos.
Os aventureiros experientes, por sua vez, eram bastante felizes caçando as criaturas que viviam nas montanhas, longe de qualquer habitação humana.
Muito poucos aventureiros que assumiam uma missão de goblincídio voltavam ilesos.
A maioria que fazia essas tarefas eram aventureiros idealistas que estavam começado agora. O resto possuía apenas um pouco de experiência. A guilda sempre esteve incomodada por sua incapacidade de produzir um núcleo sólido de caçadores de goblins. E ali, simplesmente não existia aventureiros de renome que enfrentariam voluntariamente os goblins imensamente perigosos.
— Bem — disse ela a si mesma, se esticando no balcão — isso não é bem verdade. — O balcão bonito e polido contra a sua testa e bochechas ruborizadas dava uma sensação agradável. Ela sabia que esse comportamento não era condizente à sua educação como filha de uma família decente ou de sua posição como recepcionista da guilda, mas mesmo ela tinha que relaxar de vez em quando. E não havia visitantes para vê-la naquele momento, a propósito.
Como eu queria que ele se apressasse e chegasse aqui…
E bem naquele momento, a campainha da porta da guilda soou quando se abriu. Garota da Guilda se apressou para a postura correta.
— Minha querida Garota da Guilda, eu derrotei alguns bandidos!
Um aventureiro com uma lança veio pela entrada. A expressão distorcida no seu rosto parecia pouco feliz. Atrás dele, uma bruxa entrou com passos elegantes, com os quadris balançando enquanto caminhava. Ela encontrou os olhos de Garota da Guilda.
A bruxa piscou apologeticamente para ela. Garota da Guilda pôs aquele sorriso sem fim no rosto.
— Oh, meu, isso parece muito cansativo. Você poderia fazer o seu relatório, por favor?
— Bem, deixa eu te falar, não foi fácil! Eles estavam acampados bem na estrada principal!
— Oh, meu, isso parece muito cansativo. Por favor, nos conte tudo sobre isso no seu relatório por escrito.
— Devia ter pelo menos uns vinte, vinte e um bandidos escondidos lá, e eu peguei cada um!
— Oh, meu, isso parece muito cansativo. Talvez devesse experimentar uma poção de estâmina.
— …Sim, por favor.
— Aqui está. Obrigada por comprar conosco!
Os itens que a guilda vendia em nome dos comerciantes que frequentavam o lugar, compreensivelmente, não eram de qualidade excepcionalmente elevada. A poção de estâmina, por exemplo, não era uma boa poção mágica, mas uma mistura de algumas ervas diferentes.
Mas funcionava. Não havia nada de mal em manter uma na mão ou mesmo realmente a beber. E o lucro que a guilda fazia com tais itens poderia ser alocado em todos os tipos de propósitos úteis.
Eu nunca colocarei meu rosto naquele lugar de novo, contudo, prometeu a si mesma Garota da Guilda, com um sorriso apaziguador, enquanto observava Lanceiro se inclinar sobre o balcão bem onde ela estava deitada pouco tempo atrás.
Foi quando o sino tocou pela segunda vez.
— Oh!
— Ugh…
A figura que apareceu na entrada fez o rosto de Garota da Guilda se iluminar e Lanceiro dar um estalo indisfarçável com a língua.
Seu passo era ousado e despreocupado, de alguma forma ameaçador.
Ele usava uma armadura de couro suja e um elmo de aço. Seu equipamento era inferior, patético mesmo.
Ninguém na guilda tinha que olhar para a insígnia de prata em volta de seu pescoço para saber quem ele era.
Matador de Goblins.
— Bem-vindo de volta! Está tudo bem? Algum ferimento grave?
— Não que eu saiba.
Seu sorriso estampado se abriu em uma risada como uma flor a dançar. Enquanto Lanceiro ficava parado com uma expressão sufocante, Matador de Goblins assentiu e disse:
— Era um ninho pequeno, mas havia um hob lá. Problemático.
— Eu adoraria ouvir tudo sobre isso. Por favor se sente, descanse… Ah! Eu vou fazer um pouco de chá também! — Garota da Guilda correu como uma cachorrinha animada para a sala dos fundos, com sua trança saltando.
Matador de Goblins se sentou comodamente em uma cadeira próxima, e passou a olhar para Lanceiro. Pela primeira vez, ele pareceu perceber que Lanceiro olhava fixamente para ele com um olhar frio, e com um pequeno “hmph”, Matador de Goblins disse: — Peço desculpas se interrompi alguma coisa.
Houve uma longa pausa. Então, Lanceiro respondeu: — Não, não interrompeu. Eu já havia terminado de fazer meu relatório.
— Entendi.
O aventureiro da lança chutou uma cadeira com um grunhido venenoso. No banco de frente para ele, Bruxa, que assistia a tudo, estava esperando com um sorriso debochado.
— Bandidos, você disse? …Se não tivéssemos tomado aquela estrada, não teríamos feito nenhuma peça de cobre hoje.
— Oh, bem, me desculpe! E daí se eu quisesse me gabar um pouco?
— Mesmo que você diga isso… — disse Garota da Guilda, que acabara de voltar para a recepção, com seus lábios vermelhos se dobrando.
— Daí nada. Eu acho que me lembro de minhas magias ajudarem um pouco, não é…?
— …Eu sei que elas ajudaram.
— Aww, o mais forte da fronteira não pode ficar amuado…
Lanceiro cruzou os braços, mal-humorado. Bruxa, olhando para ele carinhosamente, deu um riso agradável.
Garota da Guilda bufou enquanto ouvia e mentalmente mostrou a língua para eles.
Ela sabia, é claro, que manter as gangues de bandidos sob controle era um trabalho perfeitamente digno. E ela sabia que Lanceiro, um aventureiro ranque prata, era conhecido pelo nome de “o Mais Forte da Fronteira”.
Então ela não pegou leve, e ela certamente não queria o ignorar. Ela realmente não queria. Era só isso; bem, há aventureiros cuja força é a sua única reivindicação de fama, e então existia aqueles que saiam da trilha para assumir os trabalhos que ninguém mais queria.
Como não posso os tratar um pouco diferente?
Não era só preferência pessoal. Com certeza. Provavelmente.
Ela abaixou a linda caneca de argila com um tap. Vapor subia do chá marrom-claro de dentro.
Quando ele bebeu, Matador de Goblins parecia estar só derramando o líquido em seu capacete. Ele não prestou atenção na fragrância ou sabor. Ou o fato de que as folhas eram de seu estoque pessoal, que ela havia conseguido da capital e foram misturadas com um pouco de poção de estâmina, para criar uma bebida única…
— Hum, de qualquer forma, bem-vindo de volta! — disse Garota da Guilda tão docemente quanto conseguiu. Era assim que ele sempre foi, então ela tentou não se incomodar com isso. — Eu sei que você esteve formando uma equipe com alguém ultimamente. Seu primeiro solo depois de um bom tempo deve ter sido difícil.
— Sempre trabalhei sozinho antes. Eu posso me virar. — Ele abaixou o copo, acenando com a cabeça. Ela ficou contente pelo menos, ao ver que não havia nenhuma gota sobrando.
Pelo menos, ele nunca disse não ao meu chá.
— Entendo — comentou ela, ansiosamente.
Bem… não era que não houvesse nada a reclamar.
Ela estava genuinamente feliz por ele estar orientando essa Sacerdotisa, a quem Garota da Guilda considerara como sem esperança. E ela se sentiu melhor só de saber que ele possuía uma companheira de armas agora.
Mas só ele e uma garota, sozinhos em uma masmorra…? Eu não sei…
A única coisa que lhe dava esperança era saber que ele sempre esteve se empenhando mais sobre o trabalho do que com as mulheres, e sua amiga era uma clériga devota.
Supondo que eu não os tenha julgado mal.
Bem, já era um pouco tarde para se preocupar, de qualquer forma. Há quanto tempo ele estava vivendo naquela fazenda?
Na verdade, Sacerdotisa estivera fora no templo por três dias, alegando algo sobre deveres religiosos. Supostamente, ela voltaria para se juntar a Matador de Goblins hoje ou no dia seguinte…
Garota da Guilda sorriu para si mesma. Era bem a cara dele continuar pegando missões por si mesmo enquanto isso.
— Algo errado?
— Ah, não. Só… não se meta em problemas, está bem?
— Se ao me meter em problemas eu puder matar alguns goblins, eu faria isso e não o consideraria um prejuízo.
Ele estava calmo e, como sempre, absolutamente focado no extermínio de goblins.
Enquanto preenchia alguns registros, Garota da Guilda roubou um olhar no seu capacete sob o pretexto de olhar sua papelada. É claro, ela não podia ver a sua expressão. E, no entanto…
Quanto tempo havia passado desde que ela o conheceu? Quase cinco anos? Ela havia acabado de terminar seu treinamento na capital e foi designada oficialmente para esse edifício.
Ele aparecera na guilda de repente, um novato até então. Ela estava bastante certa de que, naquela época, ela não pensou em nada disso.
Mas, sempre que ela não conseguia designar todas as missões de goblincídio, lá estaria ele.
Ele sempre voltava dessas missões. E ele sempre terminava o trabalho. Todas as vezes.
Ele nunca mostrou a sua força ou se vangloriou dos seus feitos. Ele fez simplesmente o que devia ser feito, de novo e de novo, até que finalmente alcançou o ranque prata.
Ele não tomava riscos desnecessários; ele sempre era gentil, se tranquilo. Valia a pena a longa e ansiosa espera pelo seu retorno.
Ele não trocou de equipamento desde que nos conhecemos. Mas essa é só uma outra maneira de dizer que ele é familiar.
Garota da Guilda percebeu que as boas lembranças fizeram sua boca esboçar um sorriso, mas ela não tentou esconder.
— Ah, você realmente é sempre de grande ajuda.
— Sou?
— Ah, sim!
Houve uma pausa. — Entendi.
Garota da Guilda lambeu o polegar e folheou seus papéis, olhando, como de costume, para todas as missões relacionadas aos goblins.
Ontem ele matou goblins. Hoje ele matou goblins. Existia muitas equipes iniciantes fazendo um bom trabalho também. E ainda assim, as missões de goblincídio nunca acabavam. Eles tinham pelo menos uma todos os dias. Talvez, à medida em que os aventureiros se multiplicavam, os ninhos de goblins também. Ou talvez mais ninhos de goblins significassem mais aventureiros.
— Por que os goblins estão atacando constantemente nossas aldeias? — perguntou Garota da Guilda, à toa. Seria mais fácil se fossem os homens-lagarto, entende? Então, pelo menos a única diferença seria a cultura. — Talvez os goblins simplesmente desfrutam atacar as pessoas. — Ela pensava que estava apenas puxando assunto. Goblins era algo que eles tinham em comum. Na verdade, ela estava meio que brincando.
— O motivo? — disse ele. É simples. Após uma pausa, ele continuou: — Imagine que um dia, a sua casa é atacada repentinamente por monstros.
Garota da Guilda se endireitou e colocou as mãos nos joelhos. Ela se concentrou em seus ouvidos. Ela estava preparada para escutar. Afinal, não era sempre que ele decidia iniciar a conversa.
— Imagine que um dia sua casa é atacada repentinamente por monstros.
— Eles se pavoneiam em sua aldeia como se pertencessem a eles. Eles matam seus amigos, eles matam sua família, eles saqueiam sua casa.
— Imagine que eles atacam sua irmã. Eles a torturam, eles a violam, eles a matam. Eles profanam os corpos de sua família, fazem o que querem, gargalhando o tempo todo.
— E você vê tudo de onde se escondia, tentando não respirar.
— Como você poderia deixar isso para lá?
— Então você pega uma arma, você treina a si mesmo, você aprende, você cresce. Tudo o que faz é para ajudar a se vingar.
— Você os procura, os caça, você luta, você ataca, e você os mata, e os mata, e os mata e os mata.
— Às vezes as coisas dão certo, e às vezes não. Mas cada vez que se pergunta: como vou os matar da próxima vez? Qual é a melhor maneira de os matar? Dia após dia, mês após mês, isso é tudo o que você pensa.
— Quando você tem uma chance, é claro que você testa cada ideia que tem.
— E quando você tem feito tudo isso a um tempo suficiente…
— …Você começa a gostar.
Garota da Guilda engoliu em seco.
— Hum, isso…? Você está…?
Ele ainda estava falando sobre os goblins? Ela não tinha certeza.
Talvez — o pensamento passou raspando a beira de sua mente — ele estava falando de si mesmo.
Mas, antes que ela pudesse expressar essa especulação, ele continuou: — Alguns tolos acham que estão sendo magnânimos dizendo que deveríamos poupar os jovens. — Eles não percebem que os goblins roubam animais para manter suas crianças alimentadas?
Tremendo ligeiramente, Garota da Guilda assentiu. Ela entendia muito bem o que ele dizia.
Os ranques porcelana e os jovens que esperavam ser aventureiros vinham o tempo todo, cheios de confiança. “Eu lutei contra alguns goblins quando eles vieram à minha aldeia uma vez. Eles são insignificantes. Vou ficar bem”.
Esses que os caras durões “lutaram”, não eram mais que alguns goblins, se afugentavam facilmente e batiam em retirada. Faça isso uma ou duas vezes, e deixe as pessoas pensarem que deveriam se tornar aventureiras.
Os goblins que sobreviviam a esses encontros, por outro lado, aprendiam e cresciam. Eles eram conhecidos como andarilhos. Muitos deles se estabeleciam eventualmente em ninhos novos, muitas vezes como chefes ou guardas.
Depois disso, as lutas com eles eram determinadas mais pela sorte do que pela força.
— É assim que as coisas costumam ocorrer, enfim — disse ele brevemente. — Em outras palavras, eu sou para os goblins o que os goblins são para nós.
Garota da Guilda prendeu a respiração, sem palavras. O que ela poderia fazer com essa torrente de emoção? Não, primeiro… primeiro, ele estava ali.
Deuses. Ela soltou a respiração. — Bem, me desculpe, mas…
— Sim?
Antes de pena, antes de tristeza, antes de simpatia: — Somos nós que damos as missões a você. Então por sua lógica, o que isso faz de nós?
— Hmm.
Por que me sinto tão zangada?
Ela trouxe seu sorriso habitual ao rosto e bateu no balcão com o dedo.
— Você está nos comparando aos deuses das trevas? Isso é terrível. Sou tão assustadora assim?
— …Não foi isso que eu quis dizer.
— Foi o que pareceu.
Quando ela bateu no balcão de novo, ele deu um gemido, intimidado.
— Como a guilda pode manter a sua reputação por falar assim por aí?
Outro gemido.
— Eu gostaria de evitar isso. Talvez seja melhor se eu não lhe oferecesse missões no futuro.
Uma longa pausa. — Isso seria um problema para mim.
— Seria, não seria?
De alguma forma seu problema de uso sincero de palavras parecia muito infantil.
O seu sorriso fixo parecia que estava prestes a se romper.
— Alguém tem que fazer essas missões, e você está fazendo elas. Você devia estar orgulhoso disso.
Ela balançou o dedo como se dissesse: Se você não for, isso refletirá na guilda… e em mim.
No fim das contas, era verdade. Ela era responsável por ele como um aventureiro. E o que era mais…
— Você é um aventureiro ranque prata.
Dessa vez, foi a vez de Matador de Goblins ficar em silêncio.
Verdade, ela não podia ver a sua expressão por detrás de seu elmo. Mas depois de cinco anos, não significava que ela não conseguisse adivinhar como ele se sentia.
Finalmente, ele disse: — E… onde estão os goblins de hoje? Quão grande são os ninhos?
— Muito bem, muito bem.
Acho que vou deixar passar… dessa vez. Enquanto ela ria consigo mesma, os dedos de Garota da Guilda voavam pelas pilhas de papéis de missões. Ela pegou três folhas, depois escolheu uma. Esteve lá por alguns dias; uma missão de goblincídio, é claro.
— Esse está nas montanhas do norte. Perto da aldeia há um… bem, um castelo, mais ou menos. Uma fortaleza na montanha.
— Eles fizeram o seu ninho lá?
— Sim. Nós já temos vítimas também. A irmã de quem registrou foi sequestrada, e… — Ela suspirou quando virou o papel, embora soubesse que era falta de educação. — Alguns aventureiros bem-intencionados que passavam por lá foram a resgatar, mas ainda não voltaram.
— …É tarde demais — disse Matador de Goblins, calmamente e friamente. — Considerando o tempo que a viagem vai levar, eles estarão perdidos antes de eu chegar lá.
Não obstante, ele estava de pé. Como sempre, não havia sinais de hesitação.
— Não podemos deixar assim. Se destruirmos o ninho agora, talvez não haja mais vítimas.
— …Certo.
Certo, era por isso. Era por isso que ele era a pessoa mais valiosa na fronteira.
Existia aqueles que poderiam lutar contra um monstro poderoso.
Mas, quantos poderiam continuar voltando para a luta?
Muitos foram salvos graças a ele. Ele estava fazendo um serviço de verdade ao mundo.
Pelo menos, ele me salvou.
Então, ela faria o que fosse preciso. O que pudesse.
— Tudo certo. Boa sorte, meu Matador de Goblins!
Ela o ajudaria a andar com a cabeça erguida.