Capítulo 4
Zona Escolar (2)
Tradutor: Th_rmh
Os três homens mudaram seus olhares entre os meninos e Kang Chan.
“O que é isso?”
“Aqueles desgraçados trouxeram isso com eles.”
“Quem?”
Kang Chan sorriu. Isso era tão importante?
“Responda-me. Quem o trouxe?
Kang Chan se virou e olhou para o garoto cujas costas estavam cobertas de sangue.
“Se foi ele quem trouxe, então eu diria que ele recebeu apenas as sobremesas. Você não deveria ter ido tão longe, no entanto. É difícil para nós encobrir isso agora que as coisas chegaram tão longe.”
‘O que ele está dizendo?’
“Ele é um valentão da escola que persegue outros alunos. Faz bem a ele por ter sido espancado, mas agora, você é o problema com o qual temos que lidar. De qualquer forma, esses seis atacaram você e têm uma arma. Quando o comitê de prevenção da violência escolar realizar uma investigação, cuidaremos disso, então me dê a faca e vá para casa primeiro.
Um professor com mandíbula angular estendeu a mão gorducha. Kang Chan entregou a faca sem dizer uma palavra.
“Se você fosse fazer isso de qualquer maneira, não deveria ter lhe ensinado uma lição antes?”
O professor deu um tapinha em Kang Chan. Ele parecia estar se sentindo um tanto amargo.
“Vá para casa e explique as coisas para seus pais. E a partir de amanhã, você tem que vir para a escola de qualquer jeito. Além disso, ouvi do Sr. Seo que você tem provas contra eles?
Kang Chan finalmente entendeu o que ele quis dizer.
“Traga-o amanhã para que possamos encaminhá-lo ao comitê de prevenção da violência.”
“Sim senhor.”
O professor continuou examinando Kang Chan. Parecia que havia algo em sua postura e em seu olhar que era muito familiar, o suficiente para chamar a atenção do professor. Os outros dois professores pediram aos outros alunos que trouxessem os meninos que haviam caído no chão de volta à escola.
“Onde você aprendeu a fazer isso?”
Kang Chan sorriu e olhou para o professor.
“Você deve ter ganhado aquela sua barriga treinando duro, certo?”
“Eu simplesmente nasci com isso.”
“Vamos ter outra conversa na próxima vez.”
Talvez o professor tenha sentido que Kang Chan não revelaria a verdade tão facilmente, então ele simplesmente se virou e saiu.
Kang Chan queria fumar um cigarro. No entanto, ele não podia fumar nas dependências da escola, não importa o quê, então ele se afastou lentamente. Os alunos se espalharam pelo campo como uma matilha de cachorros, e Kang Chan os observou, como se estivesse se despedindo.
Kang Chan entrou em uma lanchonete localizada próximo ao portão principal da escola.
“Bem-vindo.”
“Eu vou querer uma costeleta de porco, por favor.” Kang Chan sentou-se e desviou o olhar para a TV.
Havia dez mesas e dois homens estavam sentados à sua frente. Havia também uma jovem na frente deles, comendo tteokbokki e kimbap de maneira limpa e organizada.
(NT: “tteokbokki” são bolos de arroz coreanos. “Kimbap” são rolos de arroz de algas coreanas.)
“Aqui está.”
Uma senhora de avental deu-lhe a sua costeleta de porco.
Fatias finas de carne e cheiro de molho barato e gordura velha. Kang Chan olhou para a costeleta de porco sem dizer uma palavra. Foi a última coisa que ele comeu antes de deixar Seul. Ele estava morrendo de vontade de comer um pouco, mas mal comeu apenas algumas vezes porque não tinha um centavo em seu nome naquela época. Mesmo tendo comido bife inúmeras vezes, ele sempre pensou nisso.
Kang Chan usou garfo e faca para cortar a carne de porco em longas tiras e depois em quadrados. Ele descobriu que tinha um gosto melhor quando fazia isso e depois comia com pauzinhos. Não foi tão incrível, mas ele comeu mesmo assim. Assim que ele estava terminando—
Buzzz— Buzzz— Buzzz—
“Olá?”
— Chan, é você? Onde está você? O que aconteceu?
Yoo Hye-Sook fez um monte de perguntas, parecendo confusa.
“Estou comendo uma costelinha de porco na frente da escola.”
— Está caótico na escola agora. Ouvi dizer que até a polícia foi lá. O que aconteceu?
“Te conto quando chegar em casa.”
— Chan, onde você está agora? Eu irei até você!
“Eu disse que vou te contar quando eu for para casa, não disse?” A voz de Kang Chan ficou um pouco menos grave e houve um momento de silêncio.
Kang Chan desligou o telefone. Ele ficou irritado com o pensamento de que a superproteção de Yoo Hye-Sook poderia ter contribuído para tornar o dono de seu corpo um fracote.
“De qualquer forma, é melhor do que matar alguém ou cometer suicídio.”
Kang Chan murmurou para si mesmo. Ele comeu tudo no prato, inclusive o repolho picado, e se levantou da cadeira. Depois de pagar a comida, ele caminhou um pouco antes de se sentar em uma cadeira em frente a uma loja de conveniência e fumar um cigarro.
“Huu.” O cigarro atingiu o ponto certo.
Um mundo sem balas voando para ele do nada, um mundo onde as pessoas usavam roupas coloridas e saias curtas e tinham corpos esguios, um mundo que estava cheio de carros de luxo. Kang Chan respirou naquela visão – e lentamente exalou a fumaça do cigarro.
‘Consegui o que queria.’
Esse era o caso quando ele era criança. Se ele vivesse em um mundo onde não precisasse se preocupar em pagar as contas, Kang Chan achava que provavelmente se sairia muito bem na escola.
‘Devo ir para a França assim que me formar, ou talvez ser reprovado?’
Houve um tempo para estudar. Como ele administraria seus estudos se de repente se tornasse um aluno do último ano do ensino médio? Ele tinha sido péssimo em estudar em sua vida anterior também.
***
Kang Chan pegou um táxi de volta para o apartamento.
‘Senha?’
Era uma fechadura inteligente sem chave. Kang Chan tocou a campainha, ele havia recebido alta do hospital recentemente e não conseguia se lembrar da senha. Atrás da porta, ele ouviu passos apressados antes de Yoo Hye-Sook abri-la. Kang Dae-Kyung estava atrás dela, com uma expressão confusa no rosto.
Kang Chan entrou na casa de maneira digna.
“Por favor sente-se. Tenho algo que gostaria de lhe mostrar em um momento.
O rosto de Kang Dae-Kyung se contorceu e, apesar de parecer sem vontade, ele caminhou até a mesa de jantar na cozinha. Kang Chan queria aproveitar esse momento para aliviar a injustiça e as frustrações que o dono de seu corpo havia sentido. Ele pegou a apostila de matemática onde o menino havia descarregado seus pensamentos e sentimentos e a colocou sobre a mesa.
“Por favor, dê uma olhada nisso.”
Kang Chan deu a pasta de trabalho para Yoo Hye-Sook e mostrou a Kang Dae-Kyung as mensagens de texto em seu telefone.
Ao aceitarem, a linguagem corporal deles parecia dizer-lhe para dizer tudo o que quisesse. Eles olhavam para Kang Chan de vez em quando, mas logo seus rostos começaram a endurecer.
No momento em que Kang Dae-Kyung desligou o smartphone, Yoo Hye-Sook ainda não havia lido a primeira metade do que seu filho havia escrito na apostila. Ela estava cobrindo a boca enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto.
Muito tempo se passou assim.
“Por favor, troque o que você tem um com o outro e dê uma olhada nisso.”
“Não, é o suficiente.”
“Por favor dê uma olhada.”
O rosto de Kang Dae-Kyung se contraiu mais uma vez, mas ele abriu a apostila de matemática dada a ele por Yoo Hye-Sook. Ele olhou para a última página por um tempo antes de erguer os olhos.
“Eu fui para a escola hoje. Ele me disse para dar a ele o dinheiro que eu devia para comprar cigarros e comida enquanto eu estivesse fora.”
“Huu.”
“Fui para a escola determinado a enfrentá-los. Então, outras seis pessoas tentaram me atacar. Um deles tinha uma faca…”
“Ó meu Deus…!”
“Eu não tive escolha. Entreguei a faca ao professor e o comitê de prevenção à violência da escola fará uma investigação”.
“Por que você não disse nada esse tempo todo?”
“Eu também não sei. Como você pode ver escrito lá… eu apenas pensei que seria melhor do que cometer suicídio ou matar aquelas crianças.”
Kang Chan estava falando tão friamente, em um tom tão natural, que as duas pessoas pareciam ter se acalmado muito como resultado.
“A escola disse que, como muitos alunos viram o que aconteceu, seria difícil para você ir para a escola assim. Como seu pai, o que posso fazer para melhorar as coisas para você?”
Pai? Kang Chan olhou para Kang Dae-Kyung sob uma nova luz.
Houve alguém que ficou do meu lado assim quando eu fiz algo errado? Em vez de me bater depois de beber, ele vai me ajudar a resolver o incidente que causei?
“Sinto muito pelos alunos que ficaram feridos, mas desde que você esteja são e salvo, isso é tudo que importa. Estou feliz que você não acabou morrendo ou matando-os.”
Kang Dae-Kyung desviou o olhar da visão chocada de Yoo Hye-Sook.
“Foi assim que me senti quando você estava no hospital também. Eu só queria que você continuasse vivo.”
“Querida?”
Kang Dae-Kyung lançou um breve olhar para Yoo Hye-Sook e a impediu de dizer mais.
“Mas me prometa uma coisa.”
Que sentimento é esse que estou experimentando?
A sinceridade de Kang Dae-Kyung estava fazendo Kang Chan experimentar algum tipo de sentimento caloroso e confuso.
“Prometa-me que se algo assim acontecer novamente no futuro, você virá até mim primeiro e me contará sobre isso. Ficarei contente se você fizer isso.”
“Pode haver mais lutas no futuro.”
“Você não vai matar os outros ou ser morto, certo?”
“Eu te dou minha palavra.”
“Isso é bom o suficiente para mim.”
O fato de Kang Dae-Kyung estar agradecido por estar vivo permaneceu no coração de Kang Chan. Era uma emoção que ele nunca havia experimentado antes, mesmo do líder do pelotão ou do comandante da companhia após uma árdua batalha.
“Disseram-me para começar a frequentar a escola a partir de amanhã.”
“Não seria perigoso?”
Quando Kang Chan sorriu, o olhar no rosto de Kang Dae-Kyung mudou quando ele entendeu o absurdo de suas próprias palavras, enquanto Yoo Hye-Sook apenas parecia petrificada.
“Hum. Bom. Você lida com isso do seu jeito.”
“E você?” Yoo Hye-Sook perguntou a Kang Dae-Kyung.
“É o bastante. Você ainda não sabe como nosso filho se sente depois de ler seu diário? Garotos podem realmente escolher a morte se você os encurralar assim. Você quer que nosso filho morra? Ou você quer que ele vá para a prisão por assassinato? Não compare Chan com os filhos de seus amigos. Nosso filho é simplesmente diferente.”
“Eu disse alguma coisa? Ainda assim, ele tem que se formar no ensino médio!” Yoo Hye-Sook respondeu.
Ela não queria deixá-lo ir. Seguiu-se um silêncio constrangedor.
Bip Bip. Bip Bip. Bip Bip.
O telefone de Kang Dae-Kyung começou a tocar.
“Olá?”
Kang Dae-Kyung atendeu a ligação, com uma expressão confusa. Um olhar de terror apareceu nos olhos de sua esposa, mas ele balançou a cabeça, como se estivesse dizendo a ela para não se preocupar.
Kang Dae-Kyung só conseguiu gaguejar enquanto a voz tensa continuava a sair do outro lado da linha.
As orelhas de Kang Chan ficaram em pé – era árabe. Era um tom um pouco mais suave do árabe, comum entre os falantes de francês. O interlocutor do outro lado da linha provavelmente era um argelino que vivia na França.
“Passe-me o telefone.”
“Huh?”
Kang Chan pegou o telefone do perplexo Kang Dae-Kyung.
“Olá. O Sr. Kang Dae-Kyung está ocupado, então vou atender a ligação para ele. Por favor, repita o que você disse lentamente.”
Francês fluente? Kang Dae-Kyung e Yoo Hye-Sook se entreolharam com os olhos arregalados. Eles enviaram Kang Chan para uma academia inglesa cara, mas agora ele de repente era fluente em francês por algum motivo.
– É urgente. O preço e a quantidade deste carregamento de carros não correspondem, então eles não podem passar pela alfândega.
Era evidente que a pessoa do outro lado da linha estava olhando para eles.
“Por favor, espere um segundo.”
– Se apresse.
Kang Chan descobriu que seu interlocutor era do tipo que fica agitado com muita facilidade e começa a falar besteiras quando fica com raiva, e a maneira mais eficaz de lidar com essas pessoas é ser firme.
“Ei, corte o vômito verbal. Eu disse para você esperar, não disse?”
Como Kang Chan parecia muito fluente, ele estava assumindo a liderança nesta conversa. Talvez a pessoa do outro lado da linha tenha se assustado porque tudo o que podia ouvir eram apenas sons respiratórios.
“Ele disse que o carregamento de carros não pode passar pela alfândega porque o preço e a quantidade não combinam. Do que ele está falando? O que devo dizer a ele?
“O que?”
“Ele disse que é urgente e está tudo uma bagunça.”
Kang Dae-Kyung lançou seus olhos ao redor por um momento
“Diga a ele que cinquenta carros chegarão hoje. E talvez os documentos que enviamos e os itens não coincidam, então vamos verificar imediatamente e informar a alfândega e seu escritório.”
Kang Chan repetiu as palavras de seu pai para seu interlocutor.
— Está uma bagunça aqui. O que deveríamos fazer? Se não movermos os itens até o final de hoje, os custos de envio e mão-de-obra incorridos serão muito altos.
“Espere.”
A outra parte não se intimidou com seu tom áspero. Depois que Kang Chan transmitiu o que havia dito a Kang Dae-Kyung, este último respondeu que assumiria a responsabilidade por quaisquer perdas incorridas devido a discrepâncias nos documentos.
“Assumiremos a responsabilidade por isso, verifique o valor total dos danos sofridos e ligaremos pessoalmente para a alfândega, então me dê o nome e o número de telefone da pessoa responsável.”
– O que?
“Estou pedindo o nome e o telefone do responsável.”
Kang Chan de repente ficou desconfiado. Ele teve um pressentimento. Eles não podiam arrastar as coisas em situações como esta.
“Ou posso enviar um amigo mercenário para resolver o problema primeiro.”
Esses bastardos estão tentando puxar um rápido?
(NT: Não achei um significado certo para essa frase, mas aparentemente é linguagem militar, parece significar “tentando vazar, ou sair de um lugar para o outro”)
“Se for necessário, podemos fazer uma grande confusão na alfândega, então me diga qual é exatamente o problema. Onde está você? Diga-me a sua localização. Vou enviar três dos meus homens argelinos.
— Bem, uhm, nós realmente temos que ir tão longe? Ah! Está bem. Encontrei os documentos certos.
Kang Chan riu tão alto que a outra pessoa pôde ouvi-lo.
“Ei, da próxima vez, organize seus documentos adequadamente. Ok?”
– Sim.
Assim que seu interlocutor desligou, Kang Chan colocou o telefone na frente de Kang Dae-Kyung.
“Ele encontrou os papéis certos, então o assunto já foi resolvido.”
Uma estranha tensão encheu o ar ao redor da mesa.
“Aprendi francês na internet todas as noites. Os sites de bate-papo estão bem desenvolvidos atualmente e os sites franceses são facilmente acessíveis, então não foi tão difícil.”
Quem acreditaria nisso? Os olhos de Kang Dae-Kyung expressavam fortemente sua dúvida, mas não havia nada que ele pudesse fazer a respeito. Seu filho nunca tinha aprendido francês na escola, e eles também nunca o mandaram para aulas particulares, mas ele soava como um falante nativo.
“Eu não sabia disso. E fiquei tão perturbado porque pensei que você estava olhando coisas terríveis no computador à noite.
Os olhos de Yoo Hye-Sook brilharam, ainda cheios de lágrimas. Isso meio que deu arrepios em Kang Chan, mas ele simplesmente permaneceu em silêncio.
“Procure outras empresas para fazer negócios. Parece que eles estavam tentando jogar a culpa em você por causa da barreira do idioma.” ele disse depois de um momento.
Kang Dae-Kyung assentiu e lambeu os lábios.
“Três pessoas do escritório da França virão no próximo mês. Estávamos planejando vender seus carros. É um ótimo negócio, mas mudaremos para outra empresa assim que tudo estiver resolvido.”
“Por favor, faça isso. Estarei no meu quarto.”
“Tudo bem.”
Sem querer, Kang Dae-Kyung deu sua permissão, então Kang Chan foi para seu quarto.
“Querido! Nosso filho é realmente um gênio, não é?”
“As pessoas só chegam ao nível dele se viverem no exterior entre os locais por pelo menos dez anos. As crianças estão adquirindo habilidades tão rápido hoje em dia?”
“De que outra forma eles teriam aprendido? Devemos aproveitar esta oportunidade para atualizar o computador? Oh, certo! Eu deveria ir a um restaurante francês para um brunch com Seong-Hee. Ela é aquela cujo filho vai para uma escola internacional. Eu odeio quando ela se gaba dele. Isso é ótimo!”
Olhando para Yoo Hye-Sook batendo palmas, Kang Dae-Kyung ficou tão tentado a dizer: ‘Eu gostaria de ser tão simplório quanto você’, mas ele se conteve.