Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 01 – Vol 01 - Anime Center BR

Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 01 – Vol 01

Capítulo 01

Sem saber nada

Em algumas partes da cidade, as ruas eram rodeadas por prédios de pedra, enquanto em outras não havia nada além de prédios de madeira. As ruas faziam curvas e voltas, dificultando a visão à frente. Ao lado da rua larga, havia um aqueduto, com água que fluía por ele, em sua maior parte pura. Às vezes, havia um odor desagradável, provavelmente de excrementos, mas, à medida que avançavam, isso deixou de incomodá-los.

 

Hiyomu liderou o grupo de doze homens e mulheres até a cidade além da colina. Pelo que ela havia dito, essa cidade se chamava Altana. Havia pessoas morando aqui, como era de se esperar de algo chamado cidade e, embora fosse de manhã cedo, eles passaram por um grande número de pessoas que pareciam ser residentes. Todos os moradores olhavam para os doze como se eles fossem uma visão incomum. Mas os doze se viram olhando de volta. Afinal, as pessoas estavam todas vestidas de forma estranha.

Espera… estranhas como? Em comparação com os doze, suas roupas eram simples e surradas, nada chamativas.

— Então, esse lugar… — , começou o animado — é, tipo… um país estrangeiro ou algo assim…?

— Uh… — o de cabelo bagunçado virou a cabeça, tentando encontrar uma resposta. — …Um país estrangeiro? Um país? Pensando bem, de que nacionalidade eu sou, afinal? O quê? Estranho, não consigo me lembrar… Na verdade, também não consigo me lembrar do meu endereço e tal. Ué?

— O quê, ainda não tinha notado? — disse o Gângster em voz baixa. — Meu nome é tudo o que eu ainda sei.

A frase “ainda sei” chamou atenção. Provavelmente significava algo diferente de simplesmente não saber nada. Talvez Gângster tivesse sido atingido pela sensação de tentar rastrear suas memórias de volta apenas para senti-las desaparecerem também.

— Meu nome… — o de cabelo bagunçado bateu no peito. — Meu nome é… Ranta. Fora isso… É. Não faço ideia. Caramba. É sério que eu tenho desaparecimento de memória… — Acho que você quer dizer… — o garoto interrompeu sem querer e se arrependeu imediatamente. Mesmo assim, ele não podia parar agora. —…perda de memória, talvez?

— Escute, amigo… — o de cabelo bagunçado disse com um suspiro. — Se você vai ser o cara esperto, não pode fazer isso melhor? Isso requer um certo espírito, sabe. Quando faz isso pela metade, é constrangedor pra mim, que tá fazendo o papel de bobo pra você.

Isso acaba com o clima. Mas, tanto faz. Vou ignorar isso dessa vez. Então, quem é você?

— Você vai… ignorar isso…

De que forma Ranta estava se fazendo de bobo? Que tentativa horrível de humor. Ele não estava totalmente convencido, mas…

Um nome.

Qual era seu próprio nome?

— …Eu sou Haruhiro. Eu acho?

O de cabelo bagunçado, também conhecido como Ranta, fez um gesto exagerado de tropeço, como se fosse uma queda de um gato. — Você acha? Espere aí, amigo, não sabe nem o seu próprio nome? Okay, nem estamos falando sobre como o nome é tudo o que lembramos, né…

Esse cara é muito chato, pensou Haruhiro, olhando de relance para o Gângster, que estava andando atrás de Hiyomu. Ele se perguntou qual seria o nome do Gângster. Ele até queria perguntar, mas estava com muito medo do homem. Embora não tivesse a intenção de substituir a pergunta ao Gângster, ele se virou para o homem esguio com cabelos sedosos e perguntou:

— E você?

— Oh —, que respondeu com um sorriso. Ele era um homem bastante eloquente. — Eu sou Manato. Você se importa se eu chamá-lo de Haruhiro? Sem honoríficos, nem nada?

— Hm, claro, tudo bem. Então posso chamá-lo apenas de Manato também?

— Por mim tudo bem, é claro.

Quando Manato sorriu, o garoto não pôde deixar de sorrir também. Ele parece ser um cara legal. Provavelmente posso confiar nele, pensou.

Ranta era irritante. Gângster o assustava, e o de corte militar tinha uma cara assustadora. A vistosa parecia vir de uma realidade muito diferente da dele, e era difícil se aproximar de um cara inteligente como o de óculos. Tranças, tímida e pequena. O que dizer dessas três garotas?

Tímida, com quem ele já havia conversado um pouco, e estava por perto. Ele achou que poderia pelo menos tentar saber o nome dela. Mas, quando se tratava de perguntar, ele estava muito nervoso.

Haruhiro limpou a garganta. — Uuh, então.

— S-Sim…?

— N-Não é nada importante, mas, uh…

— Eu sou o Kikkawa, tá bom! — O animado exclamou de repente, fazendo uma pose estranha. — Ei, ei! Esqueça os rapazes, vamos ouvir as moças! Você quer fazer algumas apresentações ou não?

A de tranças balançou a cabeça. — Não.

— De jeito nenhum! — O animado, também conhecida como Kikkawa, parecia pateticamente abatido.

Haruhiro não pôde deixar de se sentir um pouco alegre. Ainda assim, a tentativa de Kikkawa lhe deu o impulso de que precisava.

— Hum —, Haruhiro tentou perguntar da forma mais direta possível. — Qual é o seu nome? Seria mais fácil nos dirigirmos a você se soubéssemos. Pelo menos, em comparação com o fato de não sabermos.

— Ah… — A tímida olhou para baixo, puxando a franja. Será que ela estava tentando esconder o rosto? Seus olhos, nariz e lábios eram modestos, mas ela era muito bonita. Não havia nada que ela precisasse esconder. — …Eu sou… Shihoru. Esse é o meu nome, digo. Mais ou menos. Desculpe…

— Não, você não precisa se desculpar.

— Desculpe, é um hábito. Me desculpe, vou tentar não fazer isso… —  Shihoru estava tremendo como um cervo recém-nascido.

Será que essa garota vai ficar bem? Ele estava preocupado só de olhar para ela. Isso estimulou nele um instinto protetor.

— Você é um cara grande —, disse Manato, que estava conversando com o gigante gentil. — Qual é a sua altura?

— Hã? — disse o homem grande, piscando os olhos distraidamente.

— Minha altura? Tenho 1,60m…

— 1,60m?! — interveio Ranta. — Isso é menor do que eu de 1,70m sabia?!

— Eu confundi. Era 1,86m… 1,90m? Por aí. Acho que sim. Ah. Meu nome é Moguzo. Provavelmente.

— Me dê 10 centímetros, agora mesmo, Moguzo! — Ranta exigiu, dando um soco na lateral de Moguzo. Como se isso fosse possível. — Se eu conseguir mais 10 centímetros, terei 1,76m! Você terá 1,76m! Que reviravolta! Isso seria maravilhoso! Não é mesmo?!

— Se eu pudesse dar a você… — respondeu Moguzo.

— Espere um pouco… — Haruhiro só podia se amaldiçoar quando começou a corrigir o Ranta novamente. — Nesse caso, sua altura não é superior a 1,70m: você tem apenas 1,66m.

— Ah, cala a boca. De qualquer forma, você parece ter a mesma altura que eu!

— Eu tenho uns 1,70m.

— Você é um lixo, sabia?! É um demônio que discrimina as pessoas por causa de míseros quarto centímetros!

— Esse cara é um saco —, murmurou Haruhiro.

— Hã?! Eu não ouvi direito. Disse alguma coisa?! Disse, não disse?! Você disse alguma coisa!

— Não, nada. Eu não disse nada, é sério.

— Seu mentiroso! Seu maldito mentiroso, pervertido, bastardo depravado! Não subestime minha audição diabolicamente boa! Foi isso que você disse: ‘Você e seu cabelo bagunçado podem ir para o inferno, seu desgraçado!’

— Não, eu realmente não disse isso.

— Você me chamou de “cabelo bagunçado”! Essa é a única coisa que você não pode me chamar! Essa palavra é imperdoável, droga!

— Olha, eu não disse isso. Ouça direito quando as pessoas estiverem falando…

— Eu tava ouvindo! Eu estava ouvindo tão bem que tenho calos nas orelhas! De qualquer forma, não perdoo ninguém que me chame de ‘Cabelo bagunçado’! Mato qualquer um! Não se esqueça disso!

— Cabelo bagunçado —, o Gângster se virou e disse — você é irritante. Cala boca.

— …Sim, senhor — disse o de cabelo bagunçado também conhecido como Ranta, em voz baixa. — …Desculpe. Vou me calar agora.

Haruhiro deu de ombros. — Não era imperdoável?

— Seu idiota. — Ranta disse calmamente. — Sou um cara que escolhe a hora e o lugar certos. Eles me chamam de Mestre das Escolhas. Vou ser o Rei das Decisões!

— Sim, vá em frente e faça isso…

— Vou me tornar o rei do discernimento! O Grande Rei das Decisões! É isso que eu serei!

— Cabelo bagunçado —, o Gângster parou e se virou novamente. — Cala essa maldita boca.

Ranta rapidamente fez uma reverência saltitante. — E-eu imploro seu perdão.

— Em vez de ser o Rei das Decisões —, disse Haruhiro, olhando para Ranta, — por que não se tornar o Rei da prostração?

É isso aí! — Ranta levantou a cabeça e estalou os dedos. — Espere, não, não é isso! Ser o Rei da prostração seria muito ruim! Não importa o quão bom eu seja nisso.

— Cabelo bagunçado — O Gângster parecia pronto para matá-lo. — É a terceira vez.

— Eeeeek! — Ranta fez outra reverência, esfregando a testa no chão. — E-E-E-Eu sinto muitíssimo!

— Não vai acontecer de novo! Perdoe-me, por favor…

Esse cara já é o Rei das prostração, pensou Haruhiro, mas decidiu não dizer isso. Se ele dissesse alguma coisa, eles provavelmente começariam a discutir novamente, e isso seria muito chato. Depois disso, eles continuaram em silêncio até que Hiyomu parou em frente a um prédio de pedra de dois andares.

O prédio ostentava uma bandeira com uma lua crescente vermelha em um campo branco. Havia também uma placa na frente. Na placa, estava escrito: “Esquadr de Soldad Voluntári do Exércit da Fronteir Altana”, o que parecia estranho. Ao inspecionar melhor, muitas das letras haviam perdido a cor ou descascado.

— Ta-dah! —, disse Hiyomu, apontando para a placa. — Finalmente chegamos, chegamos, chegamos. Aqui é! O escritório lua vermelha do famoso Esquadrão de Soldados Voluntários do Exército da Fronteira Altana!

Haruhiro sussurrou “Lua vermelha” e olhou novamente para a placa. Agora ela fazia sentido. Se você a lesse com os pedaços que faltavam, ela dizia “ Esquadrão de Soldados Voluntários do Exército da Fronteira Altana.

— Entrem, entrem! — Hiyomu fez um gesto para que entrassem em uma grande sala que parecia um bar, com mesas e cadeiras espalhadas e, ao fundo, um balcão. Atrás do balcão havia um homem com os braços cruzados. Haruhiro, os outros e Hiyomu eram as únicas pessoas que estavam lá.

— Bem, fiz minha parte! — Hiyomu disse com uma reverência ao homem atrás do balcão. — Eu sei que falo isso toda vez, mas dê a eles o resumo, okay, Bri-chan?

O homem que ela chamou de Bri-chan deu um leve aceno em resposta com os braços ainda cruzados. Por alguma razão, ele balançou os quadris, além de acenar com a mão.

— Estou indo embora agora! Tchauzinho! —  Hiyomu disse ao sair. Quando ela fechou a porta atrás de si, uma estranha tensão se espalhou pela sala. Provavelmente porque Bri-chan estava examinando de perto Haruhiro e os outros. Deve ter sido isso. Afinal de contas, Bri-chan parecia bastante suspeito. Suspeito demais.

Bri-chan se curvou, apoiando os dois cotovelos no balcão, e descansou o queixo em cima das mãos entrelaçadas. Era um queixo fendido. Mas, bem, esse detalhe não importava tanto, porque foi a cor do cabelo que disparou os sinais de alerta. Era verde. Além disso, ele devia estar usando batom ou algo do gênero, pois seus lábios eram pretos. Ele tinha olhos azuis claros cercados por cílios longos e grossos e, embora a cor deles fosse bonita, isso só o tornava mais assustador. Parecia que ele tinha usado blush nas bochechas também. Ele tinha uma maquiagem grossa no geral, embora, não importa como você olhasse para ele, Bri-chan era um homem.

— Hm… — Ele acenou para si mesmo várias vezes e depois se levantou. —Muito bom. Venham cá, meus gatinhos. Sejam bem-vindos. Eu sou o Britney. Sou o chefe e anfitrião aqui no escritório lua vermelha do Esquadrão de Soldados Voluntários do Exército da Fronteira de Altana. Vocês podem me chamar de chefe, mas Bri-chan também serve. Mas, se forem me chamar assim, certifique-se de dizer isso com muito amor, ok?

O Gângster foi direto ao balcão, inclinando a cabeça para um lado. — Responda às minhas perguntas. Sei que esta cidade se chama Altana. Mas o que é esse tal de Exército da Fronteira e Esquadrão de Soldados Voluntários? Por que estou aqui? Consegue responder?

— Você tem coragem — disse Bri-chan com uma risada. — Tenho uma queda por garotos como você. Qual é o seu nome?

— É Renji. E eu odeio estranhos de merda como você.

 

(NT: No original, o Renji fala “Hentai”, que pode significar “Pervertido” ou “Estranho”, e dependendo do contexto, até “Transformação”.)

 

— Ah, hum…

Por um momento, Haruhiro não tinha certeza do que Bri-chan havia feito. Seus movimentos tinham sido não apenas rápidos, mas suaves e naturais demais.

— Renji, me deixe te dar uma dica. —Bri-chan pressionou uma faca contra a garganta de Renji, seus olhos se estreitando de forma ameaçadora. — Ninguém que me chamou de estranho viveu por muito tempo. Você parece ser um garoto inteligente; acho que entendeu o que eu quis dizer. Ou você quer tentar de novo?

— Bem — disse Renji.

Haruhiro engoliu em seco.

Renji agarrou a lâmina da faca com a mão nua. Embora ele tivesse fixado a lâmina no lugar com a palma da mão e os dedos, havia sangue pingando da base do polegar.

— Eu nunca quis uma vida longa e não me importo em ceder a ameaças — disse ele. — Se você acha que pode me matar, então tente, chefe estranho.

— Na hora certa —, Bri-chan respondeu, lambendo os lábios e acariciando a bochecha de Renji. — Eu vou te pegar com força. Quantas vezes eu quiser. E quando eu terminar, você nunca mais vai conseguir me esquecer.

—…Ei — Ranta sussurrou para Haruhiro. — Quando ele diz que vai pegá-lo, tenho certeza de que ele quer dizer isso de uma maneira diferente.

— De que maneira? — A garota de tranças perguntou a Ranta com um olhar vazio.

— Hã? Uh, bem, como colocar algo em um lugar de onde as coisas devem sair… Basicamente, uh, como posso dizer isso? Ei, Haruhiro?

— Não vem me pedir para tirá-lo dessa situação. Você cavou esse buraco, saia dele sozinho.

— Você é frio demais, cara… Você tem uma deficiência maldita de bondade… Você tá no zero absoluto da bondade humana…

— Bem, de qualquer forma! — Kikkawa, se colocou entre Renji e Bri-chan. — É nosso primeiro encontro! É provável que haja mal-entendidos! Vamos resolver isso pacificamente! Vamos tentar nos dar bem e ser alegres? Tudo bem? Tudo bem? Em consideração à minha boa aparência!

— Sua boa aparência? — Renji olhou para Kikkawa e bufou com desdém enquanto soltava a faca.

Bri-chan puxou sua faca de volta, limpando o sangue com um pano.

— Parece que temos alguns imprudentes aqui. Oito homens, quatro mulheres. Não há mulheres suficientes, mas eu prefiro assim, e os homens têm mais chances de serem úteis na batalha, então não há problema.

Manato ergueu uma sobrancelha. — Em batalha?

— Correto. — disse Bri-chan com um sorriso. Era bem assustador, francamente. — Útil na batalha.

— Este é um escritório de Soldados Voluntários — disse Manato, olhando para baixo.

— Então, isso significa que estamos nos tornando soldados voluntários ou algo assim?

— Oh, meu Deus! — Bri-chan bateu palmas. — Você também é promissor. É exatamente isso. Todos vocês serão soldados voluntários. Mas vocês têm alguma liberdade para decidir, sabem?

— Mestre das decisões —, disse Haruhiro, dando um tapa nas costas de Ranta. — É a sua vez.

— Ahn?! E… Eu?

— Todos vocês podem escolher — disse Bri-chan, levantando o dedo indicador e balançando-o. — Vocês podem aceitar minha oferta ou rejeitá-la. A oferta é para se juntar ao nosso Esquadrão de Soldados Voluntários como parte do Exército da Fronteira Altana. Bem, vocês começarão como soldados em treinamento com o objetivo de se tornarem soldados voluntários de pleno direito.

— Soldados voluntários… — disse a Vistosa, com uma expressão de medo no rosto. — O que eles fazem?

— Eles lutam — disse Bri-chan com um aceno de mão, parecendo querer acrescentar um “menina estúpida” em seguida. — Aqui nas terras fronteiriças há raças hostis a nós, humanos, além de muitos e muitos monstros. O dever do Exército da Fronteira é exterminá-los e proteger a fronteira. Mas, para ser sincero, não é uma tarefa fácil. Na verdade, o Exército da Fronteira  tem muito trabalho apenas para manter sua base de linha de frente em Altana. Então, é aí que entra o nosso esquadrão de Soldados Voluntários.

— Então, basicamente… — O de óculos ajustou a posição de seus óculos com o dedo médio da mão direita. — …enquanto as forças regulares protegem a cidade, o Corpo de Soldados Voluntários caça as raças e monstros hostis. É isso?

— Para simplificar, sim —, disse Bri-chan, abrindo as mãos como uma flor. Ele pode ter achado bonito, mas era bem assustador.

— Mas, dito isso, não é como se o Exército da Fronteira fosse puramente defensivo, sabe? Há ocasiões em que eles lançam forças expedicionárias para atacar as fortalezas de raças hostis. É que as operações militares em larga escala têm suas limitações. Afinal, com a logística de suprimentos e tudo o mais, muitas coisas precisam ser pensadas com antecedência. Soldados voluntários não são assim.

Kikkawa estava acompanhando com acenos de cabeça exagerados. — Tipo, como eles são diferentes?

— Nós, soldados voluntários… — Bri-chan começou, juntando as mãos e mexendo as pontas dos dedos. —…aparecemos repentina e inesperadamente, infiltrando-se no território inimigo a torto e a direito, pesquisando, causando confusão e encontrando maneiras de enfraquecer as forças oponentes. Embora cooperemos com a força principal, muito raramente nos envolvemos em operações organizadas. A maioria dos soldados voluntários age sozinhos ou em pequenos grupos de 3 a 6 pessoas, eu acho. De qualquer forma, usamos nossas próprias habilidades individuais e discernimento para reunir informações e atacar o inimigo. É assim que o Esquadrão de Soldados Voluntários, funciona.

— E? — Renji perguntou, flexionando os dedos de sua mão direita. Não havia sangue pingando dela. O sangramento já havia parado. — O que acontece se eu recusar sua oferta?

— Nada, na verdade, sabe? — Bri-chan inclinou a cabeça e balançou um pouco a cintura. Será que ele estava brincando? Talvez ele estivesse brincando e os ameaçando ao mesmo tempo. Era bastante assustador, afinal de contas. —Eu já lhe disse, você tem espaço para decidir. Você pode escolher. Se não quiser ser um soldado voluntário, pode ir embora agora mesmo e nunca mais voltar.

— Heh… — disse Ranta, coçando o cabelo bagunçado. — Talvez eu passe, então. Eu realmente não entendo, mas, sabe como é, eu sou fundamentalmente um pacifista e tudo mais.

— Tudo bem. Então, tchau. Se cuide.

— Sim! Cuide-se você também, Bri-chan! — Ranta se virou, caminhou em direção à saída e depois parou. — …Espere, mas quando eu sair daqui, o que devo fazer?

— Não posso me responsabilizar por você depois disso —, Bri-chan riu. — Se  não está se juntando ao esquadrão, você é livre para fazer o que quiser. Aqueles de vocês que se tornarem soldados voluntários em treinamento receberão dez moedas de prata. Isso será suficiente para vocês viverem por enquanto, eu acho.

— Moedas de prata… — Os olhos de Manato se arregalaram e ele começou a procurar em seus bolsos. — Ah, sim… dinheiro.

Haruhiro também tocou os bolsos. Eles estavam vazios. Ele não tinha nada com ele. O que, é claro, significava que ele não tinha um tostão.

— Um emprego de meio período, talvez… — O rosto de Ranta se contraiu e ele baixou a cabeça. — Eu poderia procurar um… Isso é tudo o que posso fazer, por enquanto…

— Espero que algo convenientemente caia em seu colo — disse Bri-chan com um encolher de ombros exagerado. —Mas qualquer outro emprego que você encontrar terá seus próprios problemas, sabe? Mesmo que você encontre alguém disposto a contratálo, ele não lhe pagará quase nada e, em geral, você começará fazendo tarefas braçais extenuantes ou cuidando das necessidades pessoais do proprietário ou do mestre.

— Ack! — disse Kikkawa, dando um tapa na testa. — É um mundo difícil, cara. Não sei o que dizer. Será que temos que, tipo, seguir o fluxo aqui?

—Acredito que eu tenha lhe dito? Com ou sem fluxo, quem decide se você entra ou não é… — Bri-chan apontou para cada um. — São vocês mesmo.

Renji respirou fundo. — Seja específico. O que preciso fazer?

— Oh, Renji. Não me decepcione. Não estava ouvindo? Use suas próprias habilidades individuais e julgamento para reunir informações e atacar o inimigo. Esse é o jeito do soldado voluntário.

— Então, como soldados em treinamento, também precisamos pesquisar e pensar por nós mesmos?

— É isso mesmo — Bri-chan assentiu e começou a alinhar algo no balcão. Objetos avermelhados, parecidos com moedas, e pequenas bolsas de couro. Doze conjuntos no total.

Bri-chan segurou um dos objetos semelhantes a moedas, que tinha uma lua crescente, entre os dedos. — Esse distintivo identifica o portador como em treinamento. É conhecido como distintivo de soldados em treinamento. Como tal, ele será a prova de sua condição. Se você pegar um, não o perca. Bem, também não é que carregá-lo seja muito útil para você. No entanto, quando você comprar o distintivo do Esquadrão de Soldados Voluntários comigo com 20 pratas e se tornar um membro pleno do Esquadrão, ele terá algumas vantagens.

Espera um pouco — disse o de corte militar em um tom agitado. — Você quer que paguemos pelo status?

— Sim. Isso é um problema?

— Eu não gosto disso.

— Não importa, mas sem dinheiro, você não pode comer, não pode se vestir, não pode fazer nada. Que escolha você tem? Pode ir morrer em uma vala, se preferir.

Renji riu um pouco com essa.

— Mesmo no inferno, o dinheiro é importante, não é?

— Inferno? — Bri-chan inclinou a cabeça para o lado, em tom de curiosidade. — Bem, é mais ou menos isso. De qualquer forma, sei que é estranho dizer isso depois de dizer para resolverem as coisas sozinhos, mas acho que o primeiro objetivo deve ser comprar um distintivo do Esquadrão e se tornar um soldado voluntário.

— Justo. — Renji pegou um distintivo de soldado em treinamento e uma bolsa de couro. — Eu não sei sobre esse negócio de soldado voluntário ou sei lá, mas vou fazer isso. Conversaremos depois disso.

Depois de Renji, o de corte militar pegou um distintivo e uma bolsa de couro. Um pouco depois dele estavam vistosa, Manato e o de óculos.

Kikkawa disse:

— Tudo bem, então, eu também vou participar! — e foi pegar duas bolsas, mas levou um tapa de Bri-chan.

Não havia muita escolha. Mas… por que fazer isso? Para conseguir dinheiro… ou, em outras palavras, para continuar vivo, talvez? Se era por isso, então ele supunha que tinha que fazer isso. Era inevitável, mas ele ainda tinha um mau pressentimento.

Shihoru, a de tranças e a pequena pareciam hesitantes. Ranta e o grandalhão, Moguzo, também ainda não haviam decidido.

Bri-chan voltou seus olhos azuis pálidos para eles. — E quanto a você?

— Sei não hein… — Ranta caminhou em direção ao balcão, murmurando para si mesmo. — Sinto que estou prestes a me ferrar aqui. Tenho um pressentimento vagamente ruim sobre tudo isso…

— Hmm. — A de tranças seguiu atrás de Ranta. — Onde há razão, há um caminho, dizem…

— Não —, Haruhiro balançou a cabeça. — Acho que ninguém diz razão…

— Ah? —  A de tranças se virou para trás, com a mão estendida para o distintivo e a bolsa. —  Não dizem? —  A Yume sempre disse:

— razão.

— Então você aprendeu errado. É apenas “onde há vontade, há um caminho”.

— Mas soa mais bonito com “razão” e “caminho”. A Yume também acha que fofura é importante.

— …Definitivamente, soou mais bonito dessa forma.

A de tranças, cujo nome aparentemente era Yume, deu uma risada genuína de alegria:

— Né? — Enquanto eles estavam brincando, a pequena pegou um distintivo e uma bolsa.

Moguzo, Shihoru e Haruhiro eram os únicos que restavam. Não querendo ser o último, Haruhiro pegou um distintivo e uma bolsa. Enquanto ele abria a bolsa para confirmar se havia dez pequenas moedas de prata dentro, Moguzo veio sem pressa e pegou o distintivo e a bolsa. Shihoru foi a última a fazer isso.

— Parabéns — disse Bri-chan, sorrindo e batendo palmas. — Agora, todos vocês são soldados voluntários em treinamento. Trabalhem duro e aprendam a se manter por conta própria rapidamente. Quando forem soldados voluntários de verdade, eu não me oporei a dar alguns conselhos a vocês.

— Então, de repente —

— Ei!

*Batida!

— Urgh!

Eles viram que o de corte militar estava agora de costas no chão. Aconteceu em um instante, então eles não podiam ter certeza, mas talvez Renji tivesse dado um soco nele. Dar um soco? Por que ele teria feito isso?

— Levante-se — disse Renji com uma expressão vazia.

— Seu desgraçado! — O de corte militar gritou e tentou se levantar, mas Renji imediatamente o chutou, fazendo-o se esparramar pelo chão.

— O que há de errado? Levante-se.

— Qual é o seu problema, seu miserável?

— Desde a primeira vez que o vi, fiquei imaginando qual de nós dois era mais forte.

—  Vou lhe mostrar a resposta. Levante-se.

— Drogaaa…!

Renji ia atacar assim que o de corte militar tentasse se levantar. Como isso era óbvio até para um espectador como Haruhiro, o quase careca só precisava evitar. Bem, ele até tentou se esquivar, mas Renji se adiantou para onde ele estava indo e lhe deu um soco, um chute, depois o agarrou pela orelha e o puxou. Quando o de corte militar soltou um grito de dor, ele lhe deu uma joelhada forte no plexo solar. Não apenas uma vez. Mais uma e outra vez. Depois disso, Renji pegou a cabeça do homem com as duas mãos. Ele balançou a própria cabeça para trás e lhe deu uma cabeçada. Houve um baque alto, e o de corte militar caiu e se ajoelhou.

— Você tem uma cabeça dura — disse Renji, esfregando a testa com um dedo. Ela havia ficado vermelha e estava sangrando um pouco. — Qual seu nome.

Ô do corte militar manteve as mãos longe do chão, colocando-as no joelho para se apoiar. Talvez ele estivesse suportando a dor por uma teimosa falta de vontade de engatinhar. — …É Ron. Poha, você é forte.

— Você também é muito forte. Venha comigo, Ron.

— Sim. Vou com você por enquanto.

— Ótimo. Agora, quem mais… — Renji olhou ao redor, parando em Manato.

Manato reagiu ao olhar de Renji com um estreitamento dos olhos.

Renji seguiu em frente, desviando o olhar de Manato para o de Óculos. — Você parece que pode ser útil. Venha comigo.

O de óculos cruzou os braços e piscou algumas vezes de surpresa. Depois, ajustando a posição dos óculos com o dedo médio da mão direita, ele fez um aceno brusco com a cabeça. — Claro, eu sou Adachi. É um prazer, Renji.

Renji respondeu levantando um dos lados da boca em um sorriso presunçoso, depois voltou os olhos para Haruhiro.

O quê? Talvez ele me queira também? Pensou Haruhiro, surpreso e um tanto encantado. Afinal de contas, Renji parecia musculoso e havia demonstrado ser forte o suficiente para derrubar Ron com facilidade. Ele era um cara acostumado com violência. Ele também parecia consciente. Ele era assustador e parecia difícil de conviver, mas se Haruhiro conseguisse superar isso, Renji era definitivamente confiável. Se Renji estivesse disposto a levá-lo junto, isso provavelmente facilitaria sua vida daqui para frente.

Ele não podia negar que se sentia assim. Mas esses sentimentos logo murcharam e morreram, porque Renji olhou para outro lugar. Ele havia sido ignorado.

— Você aí, Chibi.

— Sim…? —  A garota que era a menor entre os doze também tinha uma voz pequena.

Renji disse “Venha” e fez um gesto para que ela o seguisse.

Chibi-chan talvez estivesse olhando para o espaço. Ela cambaleou em sua direção e olhou para Renji.

Renji deu um tapinha na cabeça de Chibi-chan. — Parece que você vai ser útil. Venha comigo.

Chibi-chan disse “Sim…” e acenou com a cabeça. Seu rosto ficou vermelho. Havia algo nela que se assemelhava a um ovo cozido. Mais do que sua aparência, eram seus pequenos gestos e sua essência geral que lhe davam um ar de mascote adorável. Mas… útil? Haruhiro não sabia disso. E, espere, será que Renji decidiu que Chibi-chan seria mais útil do que ele? Ele não sabia se deveria se sentir humilhado ou apenas triste.

— Vamos nessa — Renji fez um gesto para a porta do escritório com o queixo. Quando Ron, Adachi, Chibi-chan e Renji começaram a se afastar, a Vistosa gritou:

— Espere! Me leve também!

Renji soltou um breve suspiro. — Eu não preciso de nenhuma bagagem inútil.

— Eu faço qualquer coisa! — A vistosa falou, agarrando-se a Renji. — Eu sou Sassa. Por favor.

— Qualquer coisa? — Renji disse, empurrando Sassa para longe. — Não se esqueça dessas palavras.

— Sim. Não esquecerei.

— E não me toque. — Disse Renji.

— Entendi…

— Ótimo. Venha então.

— Obrigada, Renji! — Sassa abriu a porta, e Renji e seus seguidores saíram. Sassa foi o última a sair. Quando a porta se fechou, as sete pessoas restantes pareciam derrotadas, como se tivessem perdido na loteria.

— Ack! — disse Kikkawa, fazendo uma careta e coçando a cabeça. — Queria ter entrado na equipe do Renji também… Entre Renji e Ron, eles provavelmente são imbatíveis em uma luta. O Adachi parecia inteligente, a Chibi-chan é linda como um pet e a Sassa era muito gostosa. Cara, estou com muita inveja. Mas, bem, é assim mesmo. Estou indo reunir informações. Até mais.

Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Kikkawa já havia deixado o escritório.

Haruhiro trocou olhares com Shihoru. Shihoru baixou a cabeça com vergonha.

— Bem, eu também vou — disse Manato, dirigindo-se para a saída. —Não vou aprender nada ficando aqui, então vou sair para dar uma olhada. Vejo todos vocês mais tarde.

— Sim, até logo. — Quando Haruhiro estava se despedindo de Manato, ocorreu-lhe que talvez ele devesse ir junto. Manato era acessível, ao contrário de Renji. Ele parecia bemhumorado e provavelmente era confiável. Mas, embora ele não pudesse se importar menos com Ranta, o que Shihoru e Yume fariam? Moguzo também estava aqui. Pois bem.

Se todos eles fossem juntos, isso resolveria o problema. Só que, quando Haruhiro percebeu isso, Manato já não estava mais no escritório. Mas ele tinha certeza de que ainda não era tarde demais.

— Escute, ficarmos aqui não vai ajudar em nada, então vamos todos atrás do Manato e… — Haruhiro só chegou até ali quando a porta se abriu. Talvez seja o Manato voltando!

Mas não era. Era outro homem que havia entrado no escritório. Ele usava uma roupa feita de couro, um boné com uma pena e tinha um arco e flechas pendurados nas costas. Parecia ser alguns anos mais velho que Haruhiro e os outros. O homem tinha olhos de raposa e uma boca torta.

— Olá, chefe.

— Oh, nossa — Bri-chan olhou para o homem. — Se não é o Kuzuoka. O que está acontecendo? Você precisa de mim para alguma coisa?

— Não, não foi por isso que eu vim —, disse Kuzuoka, dando uma olhada para Haruhiro e os outros. — Ouvi dizer que tínhamos alguns novatos, então vim dar uma olhada.

— As notícias chegam até você rapidamente. Mas tivemos doze desta vez, e apenas cinco deles ainda estão aqui.

— Ah, então esses são as sobras.

O rosto de Ranta se enrijeceu. — Idai, isso é uma coisa ruim?

— O que mais poderia ser além de ruim? — Disse Kuzuoka com um olhar fixo para Ranta, depois deu uma olhada em Haruhiro e nos outros para avaliá-los. — Hmm… Bem, de qualquer forma, é na linha de frente que estamos com falta. Ei, grandalhão, você serve.

Moguzo apontou para si mesmo:

— Eu?

— É isso mesmo. Estou me referindo a você. Quando digo ‘grandão’, você é o único aqui a quem me refiro. Vou deixá-lo entrar em nosso grupo. Vou lhe mostrar o caminho. Posso até lhe emprestar um pouco de dinheiro. É um ótimo negócio, não acha? Agora, se você me entendeu, venha comigo.

— Uh, ok…

— Moguzo, você vai mesmo ?! — Ranta agarrou Moguzo pelo braço esquerdo. — Não faça isso! Esse cara é claramente desonesto!

— Ah, está tudo bem…

— Venha logo! — Kuzuoka puxou seu braço direito. — Como soldado em treinamento, você deveria ser grato só por ser deixado entrar em um grupo! Além disso, eu não sou desonesto!

— Uh, uh, ok…

— Moguzo, não deixe ele te enganar! Um cara que é desonesto nunca vai te dizer que ele é desonesto!

— Ah, ah, uh… Ai, ai, isso… dói… — Oh! — Ranta soltou seu braço.

— Desculpe, desculpe, ah… — Moguzo se desculpou docilmente.

— Ok, vamos embora agora! — disse Kuzuoka, arrastando Moguzo selvagemente para longe.

Os ombros de Shihoru caíram. — Eles foram embora…

— Agora há… —Yume contou um, dois, três nos dedos enquanto apontava para Haruhiro, Ranta, Shihoru e, finalmente, para si mesma. — …quatro de nós, não é?

— Queridos —, disse Bri-chan, abafando um bocejo. — Quanto tempo vocês pretendem ficar aí parados? Estou ocupado com meu próprio trabalho. Se vocês ficarem apenas vagando por aí, eu os expulsarei, entendem?

Ranta olhou para Haruhiro e os outros como se fosse um cachorro abatido. — Devemos sair daqui?

Haruhiro imaginou que a expressão em seu próprio rosto devia ser pelo menos tão patética quanto a de Ranta. — …Sim.

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