Capítulo 2 –Se sentido funya-funya
Yume estava se sentindo realmente funya-funya.
O que era funya-funya?
Yume não sabia ao certo, mas como estava se sentindo funya-funya, era o único termo que conseguia usar para descrever.
Por estar se sentindo funya-funya, nem queria se levantar. Era por isso que Yume estava deitada de bruços no beliche de baixo da cama em seu quarto no alojamento dos soldados voluntários.
De vez em quando, ela se virava. Mas, como estava se sentindo funya-funya, até mesmo se virar era uma tarefa difícil.
Na verdade, fazia um tempo que ela estava com vontade de fazer xixi, mas estava segurando. Ela sabia que deveria ir ao banheiro. Na verdade, ela tinha que ir. Isso era algo que ela sabia com certeza, mas por estar se sentindo funya-funya, não conseguia se motivar.
— Yume — chamou Shihoru.
Yume queria responder. Mas estava se sentindo funya-funya, então até mesmo levantar a voz exigia muito esforço.
No fim, tudo o que ela conseguiu foi murmurar: — …Mmm?
— …Você está com fome? — Shihoru perguntou.
— Nnnn…
Yume se pergunta sobre isso, pensou. Yume não acha que não está com fome. Se Yume fosse comer, provavelmente comeria um bocado, sabe? Mas ela realmente não quer comer. Bem, se Yume não comer, Yume fica bem sem comer, acho.
— …Nnnn — ela disse.
— Você precisa comer — protestou Shihoru. — Não comer faz mal pra saúde, eu acho…
— Nnnn…
— Yume?
— Mmm?
— Você está me ouvindo?
— Mmm…
Isso não tá certo, pensou Yume, sentindo-se funya-funya. Yume precisa dar uma resposta adequada. Yume sabe disso, mas simplesmente não consegue.
Yume não tá fazendo isso pra irritar a Shihoru. Yume simplesmente não tem energia. Não é só o corpo dela, sabe? Os sentimentos de Yume também estão todos funya-funya.
— …Dá um tempo — Shihoru murmurou, com uma voz bem baixinha. Era uma voz tão baixinha que era difícil saber se ela queria que Yume ouvisse ou não.
De qualquer forma, Shihoru estava definitivamente irritada. Pelo jeito que ela falou, parecia zangada. Foi a primeira vez que Shihoru falou daquele jeito. Pelo menos, Yume nunca tinha ouvido ela falar assim antes.
Yume se virou para olhar para Shihoru, que estava sentada na cama ao lado dela. Shihoru estava olhando para baixo, com a cabeça baixa.
— …Desculpa — disse Yume.
Ao ouvir o pedido de desculpas, Shihoru balançou a cabeça de um lado para o outro. — …Não… Eu que devo pedir desculpas.
— Mas você não tem nada pra se desculpar, Shihoru — disse Yume.
— Mas…
— Shihoru, você não fez nada de errado.
— Isso não é… verdade.
— Você não fez.
— Eu não posso dizer… que concordo.
— Ah, é? — Yume perguntou.
Shihoru hesitou. — …Daqui pra frente… o que a gente deve fazer?
— Hmm…
Yume tentou pensar. Mas não conseguia pensar direito. Seus pensamentos simplesmente paravam de repente.
Mesmo assim, ela continuou pensando. Yume estava pensando desesperadamente, pelo menos pelos padrões dela. Tentou encontrar as palavras certas.
— Ei, Shihoru.
— Sim?
— Yume… não é boa em lidar com esse tipo de coisa — disse Yume. — Como se chama…? Coisas difíceis, coisas dolorosas, Yume realmente odeia isso. Todo mundo odeia.
— …Sim.
— Bem, escuta, isso é só um exemplo, mas imagine que começou a chover muito forte.
— Okay — disse Shihoru lentamente.
— Então, está chovendo muito forte, e você não pode andar por aí fora, então tem que ficar dentro de casa, sabe. Bem, o lance da chuva é que, mesmo se você pedir pra parar, ela não vai.
— Sim — disse Shihoru.
— É tipo, pra quem você pediria, sabe? Então, em momentos como esse, realmente não há o que fazer, né?
— Não há o que fazer… — Shihoru murmurou. — Você acha?
— Hmm, bem, você poderia dizer que não tínhamos como evitar que as coisas acabassem assim, e agora que acabaram, não há o que fazer. Era isso que Yume queria dizer. Tudo parece ser uma grande mentira, no entanto. Yume nunca achou que as coisas terminariam assim, sabe?
— Sim… Eu também nunca pensei — disse Shihoru, com tristeza.
— Por que Yume não pensou nisso? — perguntou Yume. — Não é nada estranho que isso tenha acontecido, sabe. Yume devia saber disso.
Essa não foi a primeira vez que aconteceu. Foi a segunda.
Mas, mesmo assim, ela nunca tinha imaginado que poderiam perder um camarada.
Que Moguzo morreria.
— Yume é tão burra. — Yume se deitou de bruços. Todo o corpo dela se sentia funya-funya e incrivelmente pesado. — …Yume é muito burra, sabe? Talvez por isso as coisas tenham terminado assim.
Shihoru não disse nada.
Yume estava começando a ficar cansada. Mas tinha certeza de que não conseguiria dormir. Yume tentou se deitar de costas. Seu corpo se sentia ainda mais funya-funya do que antes, e pesado.
Ela não queria se mover. Ela achava que não seria capaz de se mover por um tempo.