Capítulo 3 – O banheiro proibido.
Quando os seis juntaram todo o dinheiro que tinham, somaram 1 moeda de ouro, 87 de prata e 64 de cobre. Quanto aos outros pertences, só tinham seus itens pessoais.
Eles foram de loja em loja mostrando o que tinham, começando pela loja de roupas e bolsas, depois a loja de máscaras e a mercearia, mas os donos não mostraram interesse e os ignoraram completamente.
O ferreiro estava ocupado trabalhando, e eles não queriam incomodá-lo, ou melhor, tinham medo de serem mortos se o fizessem.
Quanto à loja de variedades, eles presumiram que o dono estava lá dentro, então bateram na porta. Três vezes. Sem resposta. Desistiram.
Parecia que seria difícil adquirir mais das moedas pretas dentro da aldeia; Isso seria facilitar demais. Os estômagos, que haviam sido temporariamente enganados com a água, já estavam roncando de novo, e a sensação de crise crescia. Mesmo que fossem só uma ou duas, precisavam encontrar mais moedas pretas lá fora.
Haruhiro apertou seu estômago vazio enquanto eles deixavam a aldeia. O objetivo era óbvio: encontrar moedas pretas. Enquanto caminhavam, discutiram o plano. Era perigoso, ou melhor, não sabiam se era perigoso ou não, então decidiram não ir muito longe. Fariam um mapa mental da área, com a aldeia como ponto central, e expandiriam sua área de exploração pouco a pouco.
Primeiro, cruzaram a ponte e seguiram em linha reta. Depois de uns cem metros, deram de cara com uma floresta densa, cheia de plantas altas e esbranquiçadas que provavelmente eram árvores. Não parecia fácil atravessá-la. Não poderiam continuar por ali.
Voltaram e seguiram pelo redor do fosso, descendo o pequeno penhasco. O leito do rio era basicamente areia, e era estranhamente quente.
Haruhiro e os outros foram até a margem. O rio parecia fundo, com uma correnteza forte. Haruhiro, hesitante, enfiou a mão na água preta e pura. Arregalou os olhos de surpresa.
— …Está morna.
— Sério? — Ranta tirou os sapatos e as meias, entrando no rio descalço. — Uau! Tem razão! Não está quente, mas é morna! Podíamos usar isso como banho!
— Um banho… — Shihoru murmurou distraída. — Eu quero tomar… um banho…
— É isso aí… — Mary suspirou, olhando para o céu. — Um banho…
Yume soltou uma risada boba. — Banho deve ser uma coisa boa, né.
— É… — Kuzaku assentiu. — Todo mundo tá com um cheiro horrível. Incluindo eu, tenho certeza.
— Vamos entrar! — Ranta mostrou um polegar para cima. — Todo mundo junto! Quer dizer, qual o problema, só dessa vez? Não tem nada como ficar pelado junto pra fortalecer a camaradagem, dizem por aí! E tá bem escuro! Ninguém vai ver muita coisa! Gehehehehehehehe!
— Isso nunca vai rolar, e você sabe disso — Haruhiro sentiu uma forte vontade de dar um soco em Ranta, mas preferiu não desperdiçar energia. — Desculpa, mas vamos deixar isso pra depois. Precisamos encontrar umas moedas pretas e arranjar algo pra comer. O banho pode vir depois disso. Primeiro, verificamos se é seguro, e depois os homens e as mulheres tomam banho separados, em turnos.
— Vai se ferrar, Haruhiro! Sou contra! Contra, contra, contra! Contraaaa! — Ranta fez o maior barulho, mas o resto da party concordou com Haruhiro.
— Hein? — Yume, que ainda estava brincando na água na beira do rio, relutante em sair, pegou algo. — Oh? O que é isso? Tava enterrado na… areia? É redondo e…
Haruhiro pegou o objeto de Yume.
— …É uma moeda preta.
— Deve ter mais, né?! — Ranta se jogou no chão de quatro, começando a procurar moedas pretas com tanta energia que parecia que ia acabar nadando. — Comecem a procurar! Todos vocês! Deixa eu dizer logo, o que é de vocês é meu, e o que é meu, claro, é meu também!
Todo mundo estava bem—não, muito—sério na busca.
Eventualmente, a luz flamejante no topo do cume distante desapareceu completamente, e a área ficou mergulhada em uma escuridão total. Não estavam longe da aldeia, e tinham ouvido o barulho do martelo do ferreiro não muito tempo antes, mas agora o som havia desaparecido completamente.
Era noite. Quanto tempo tinham passado procurando as moedas? Haruhiro não sabia ao certo, mas, de qualquer forma, agora era noite.
— Era só isso! Não encontramos mais nenhuma! — Ranta socou a água.
— Acho que não é tão fácil assim… — Kuzaku sentou-se no leito do rio.
— D-De qualquer forma… — Shihoru torcia a bainha encharcada de seu robe. — A gente pode voltar, ver se dá pra comprar comida com aquela moeda…
— Isso é verdade — Yume parecia à beira de chorar. — Yume tá ficando faminta, e isso tá deixando ela muito triste…
— Talvez valha mais do que imaginamos — Mary tentou consolá-los, o que era um pouco incomum para ela.
— É, você tá certa… — Ranta abaixou a cabeça. Ele parecia sem muita energia, e não dava pra culpá-lo por isso.
— Vamos fazer isso… acho… — Haruhiro disse, desanimado, mas logo se corrigiu mentalmente. Não, não, isso não é suficiente. Um líder não podia se deixar abater assim. — V-Vamos lá, pessoal! Hora de comer!
No entanto, até subir o penhasco de dois metros no caminho de volta foi uma tarefa difícil. Eles voltaram para a ponte com passos vacilantes e ficaram chocados com o que encontraram.
A Torre de Vigia C, do outro lado da ponte, servia como um portão. Se não conseguissem passar por esse portão, não teriam como entrar na aldeia. O portão, que estava aberto há pouco tempo, agora estava fechado, por algum motivo.
— O q-quê…? Por quê? — Haruhiro pressionou o punho contra a testa. — Porque já é noite?
— Quem se importa?! — Ranta abaixou a viseira e começou a correr pela ponte.
— E-Ei! — Haruhiro nem precisou detê-lo.
O vigia da Torre de Vigia C armou uma flecha no arco. Quando apontou para Ranta, ele não apenas parou de repente; fez uma incrível dogeza, ajoelhando-se e curvando-se ao chão.
— Desculpa! Não atira, não atira! Eu tô implorando, por favor, não me mata!
Talvez tenha funcionado a seu favor. Embora o vigia não abaixasse o arco, também não disparou. Ranta recuou ainda com a cabeça baixa, até voltar para onde Haruhiro e os outros estavam.
— Seu idiota! desgraçado! Eu quase morri lá!
— Não fique com raiva de mim… — Haruhiro sentia-se tonto. Estava tão fraco de fome que mal conseguia falar. — Vamos ter que esperar o portão abrir… Acho. Ou, já que é meio bobo só ficar esperando, a gente pode procurar mais moedas pretas? Não, isso não vai rolar… Ninguém de nós tem energia pra isso…
Eles não tinham mais forças para se mexer. Ou energia. Haruhiro e os outros sentaram ou deitaram ali mesmo. Mesmo deitados, a sensação de fome os atacava implacavelmente. Contudo, não podiam fazer nada além de aguentar. E mesmo que começassem a cochilar, a fome intensa logo os acordava.
Dava vontade de descontar em alguém. Enquanto lutavam contra esse impulso, a consciência deles começava a se apagar de novo. E aquele sono superficial era interrompido facilmente pela fome latejante.
As três garotas estavam juntas, dormindo e acordando de tempos em tempos.
Yume acariciava a cabeça de Shihoru. — Tô com tanta fome… Ei, Shihoru, só um pouquinho, Yume pode te comer?
— Se você não se importar de eu comer você também…
— Oooohhh — Yume gemeu. — Se isso significa que posso ter um pouco de Shihoru, talvez Yume não se importe de ser comida…
— Quer tentar nos comer uma à outra…? — Shihoru murmurou.
— Isso parece bom… Shihoru, você tá com uma cara gostosa…
— Hum, se vocês não se importam, posso comer também…? — arriscou Mary.
— Claro… Coma a Yume… Se eu puder comer, topo qualquer coisa nesse ponto…
— Hah. — Ranta se enrolou no chão, parecendo uma larva morta. — Do que vocês, mulheres desgraçadas, estão falando? Droga… Tô com inveja… Sério, sério…
Kuzaku estava deitado de costas, com os braços e pernas esticados, cantando alguma coisa. — Ela conchas do mar na praia… Peter Piper colheu uma safra de pimentões… Quanta madeira uma marmota poderia derrubar se uma marmota derrubasse madeira…
(NT: É uma música antiga intitulada ‘Piter Piper’.)
— Bom, acho que ainda não chegamos no nosso limite… — Haruhiro sorriu fracamente. — Não chegamos no limite, ou o que é um limite, limite… limiti… ribiti… heheh…
Nesse mundo de escuridão infinita, era difícil acreditar que o amanhecer viria novamente, mas eventualmente, ele veio.
Mesmo antes que a luz surgisse atrás do cume, ouviu-se um rugido ominoso, e o vigia da Torre de Vigia C abriu o portão por dentro. Logo em seguida, o cume distante se iluminou.
Haruhiro e os outros se levantaram com um salto, correndo para serem os primeiros a atravessar a ponte. O ferreiro ainda não tinha começado a trabalhar, mas a panela na mercearia já estava soltando vapor. Haruhiro ofereceu a moeda preta ao grande caranguejo que estava mexendo a panela com uma concha. O caranguejo olhou da moeda para Haruhiro e os outros com seus olhos que se projetavam por trás da máscara.
— Nos dê algo pra comer! — Haruhiro implorou imediatamente. — Estamos morrendo de fome! Qualquer coisa serve, sério, qualquer coisa, desde que seja comestível!
O grande caranguejo pegou seis tigelas, feitas de madeira ou algo assim, e serviu o conteúdo da panela—um ensopado ou algo parecido—nelas.
Haruhiro e os outros agradeceram e pegaram suas tigelas. Seria bom ter colheres, mas eles não precisavam realmente delas.
Haruhiro deu um gole no ensopado espesso, quente e escuro. Ele não entendeu bem o sabor. Mas era tão bom que ele podia morrer. Ao olhar ao redor, viu que todos estavam devorando o ensopado com avidez.
Estamos tão felizes, pensou Haruhiro do fundo de seu coração. Estamos felizes. Estamos felizes demais. É de tirar o fôlego, como se houvesse uma essência de alegria transbordando por cada poro de nossos corpos. Estamos incrivelmente felizes.
Ele terminou de beber o caldo espesso em questão de segundos. No entanto, ainda não tinha acabado. Ainda havia os ingredientes sólidos. Haruhiro cutucou o que estava no fundo de sua tigela.
— Ahhh?! — ele gritou surpreso.
Afinal, aqueles ingredientes… claramente pareciam centopeias. Isso são… insetos… não são?
— Gahahah! A comida de um homem é seu castelo! — Ranta disse algo incompreensível e jogou corajosamente os insetos na boca, mastigando. — —Guwaaeh?! Eugh?!
Aparentemente, eram amargos. Ranta cuspiu os insetos. Era de se esperar, realmente. Eles pareciam bem nojentos. Provavelmente era melhor não comê-los. Mas… Não era o suficiente. Honestamente, aquilo estava longe de ser o suficiente para saciá-los.
Haruhiro olhou para o enorme caranguejo. Quando fez isso, o caranguejo ofereceu a ele algo como um espeto de carne frita. A fé começou a brotar no coração de Haruhiro. Seu deus era um caranguejo gigante que comandava uma mercearia.
Enquanto Haruhiro segurava as lágrimas, pegou o espeto de carne com imensa gratidão. Mordeu-o antes mesmo de pensar se a carne era segura. Estava fria, dura, e parecia mais defumada do que frita, mas não era ruim. Era seca e difícil de engolir, mas liberava mais e mais sabor conforme ele mastigava. Parecia que aquilo o manteria saciado por um tempo.
O grande caranguejo deu a cada um dos outros um espeto de carne defumada também. Isso significava que uma moeda preta valia pelo menos seis tigelas de sopa de inseto e seis espetos de carne misteriosa defumada.
Com a fome saciada, agora eles queriam água. No entanto, provavelmente precisariam de outra moeda preta para usar o poço novamente. Teriam que se virar sem ela por enquanto e ferver a água do rio mais tarde. Enquanto Haruhiro pensava nisso, aquele idiota do Ranta foi direto até o poço, abaixou o balde, puxou um balde de água e bebeu com vontade. O guardião do poço não se moveu.
—Hein? Pode?
Quando Ranta terminou, Haruhiro também bebeu um pouco da água. O guardião do poço realmente não ia fazer nada. Talvez fosse porque eles tinham pago no dia anterior? Se uma moeda preta valia por seis tigelas de sopa de inseto e seis espetos de carne defumada, talvez uma moeda preta por água para seis pessoas tivesse sido um pagamento excessivo. Talvez fosse por isso que estavam sendo autorizados a beber novamente… ou algo assim.
Seja como for, uma vez que todos se reidrataram, começaram a se sentir um pouco mais como eles mesmos. Ainda assim, não completamente.
— Hum, Haruhiro-kun… — Shihoru levantou a mão. — Eu gostaria de tomar um banho agora…
Ele não conseguia se obrigar a dizer: Temos preocupações mais urgentes.
Bem, Haruhiro raciocinou, provavelmente poderíamos pensar em como conseguir mais moedas pretas enquanto nos preparamos para o banho e durante o banho. Tenho certeza que podemos. Quando estivermos devidamente revigorados, algo pode vir à mente, afinal. Sim. Um banho. Vamos tomar um banho.
Haruhiro e a party deixaram a vila e foram rapidamente até a margem do rio. Talvez não precisassem ter tanta pressa, mas não conseguiam evitar.
Primeiro, cavaram um buraco próximo ao rio. Depois, conectaram o buraco ao rio com um canal. Assim que o buraco se encheu de água do rio, fecharam o canal. Decidiu-se que as garotas iriam primeiro, e depois os rapazes. Enquanto as garotas estavam no banho, os rapazes esperariam a uma certa distância.
O buraco que estavam usando como banheira tinha cerca de um metro e meio de largura e um metro de profundidade. A água do rio estava na temperatura do corpo, o que era bem melhor do que estar fria. Eles levantaram uma lanterna para iluminar o buraco; a água não estava turva e não tinha cheiro. O trabalho foi concluído conforme o planejado, sem interrupções, e o banho morno ao ar livre estava pronto.
— Bem, vamos ficar por ali — disse Haruhiro às garotas.
Haruhiro, Ranta e Kuzaku deixaram Yume, Shihoru e Mary para trás e se afastaram cerca de vinte metros do banho ao ar livre, ficando ao lado do penhasco. Mesmo quando o sol nascia, ou melhor, as chamas surgiam, o mundo ainda estava escuro. Não havia como ver as garotas daquela distância, então provavelmente era longe o suficiente.
Ainda assim, era estranho. Ranta estava estranhamente quieto.
Ele estava quieto havia um tempo.
— Bem, hora de começar a operação, não é? — disse Ranta.
— Sabia… — Haruhiro suspirou. Como ele ia impedir esse completo canalha?
Felizmente, Haruhiro não precisou fazer nada. Isso porque Kuzaku subitamente segurou Ranta.
— Não vou deixar você fazer isso.
— Ai! Ai, ai! Espera, droga, Kuzacky! O que você tá fazendo?! Não pega nas juntas, cara, sério, vai com calma nas juntas! Isso dói, caramba! Me solta, seu gigante idiota!
— Não, você é bem forte, Ranta-kun. Se eu não fizer isso, você vai escapar.
— Vai quebrar meu braço! Meu ombro! Vai estourar meus órgãos! O que você vai fazer se eu morrer, hein?! Seu imbecil!
— Você não vai morrer tão fácil, Ranta-kun. Assim tá bom.
— Não tá bom, não tá bom, não tá bom. Dói, dói, dói. Tô morrendo, tô morrendo, tô morrendo. Me solta, me solta, me solta.
— Dá pra ver que você tá exagerando, sabe?
— …Droga, você é metido demais, Kuzacky! Não pode mostrar o devido respeito pelos seus superiores?!
— Eu mostro. Na verdade, tenho um certo respeito por você, pra falar a verdade.
— Então me solta! Peladas! Eu vou ver as garotas peladas! Peitos! Eu tenho uma doença que vai me matar se eu não ver uns peitos nus! Sério, cara, não tô mentindo aqui!
— …Bem, lá se vai parte do meu respeito — disse Kuzaku. — Isso foi um pouco demais.
Ranta não é uma pessoa que mereça respeito, então acho que tá tudo certo, pensou Haruhiro. Ainda assim, Kuzaku foi bem rápido em agir. Será que é isso? O lance dele com a Mary? Deve ser. Ele não quer que ela seja vista. Ela é o quê dele? Namorada? Amante? Dá na mesma. Ele não quer deixar outros homens verem a pessoa com quem ele tem esse tipo de relacionamento nua. É assim que é. Provavelmente. É natural sentir isso.
Até Haruhiro conseguia entender isso.
Eu ainda sou virgem, no entanto, mas e o Kuzaku? Será que eles já… já estão fazendo isso…? Tipo, você sabe?
Haruhiro se sentou no chão e cobriu o rosto com as mãos. No que ele estava pensando? Era estúpido. Que diferença fazia? Ele não tinha tempo para isso.
Isso mesmo. Ele realmente não tinha tempo para isso.
Moedas pretas. Como poderiam encontrá-las? Em cadáveres, ou na margem do rio. Métodos que dependiam de sorte assim não eram bons. Havia uma maneira mais certeira? Se tivessem que ganhar dinheiro, poderiam trabalhar? Fazendo algum tipo de serviço para os moradores daquela vila? Isso seria viável? Mesmo sem falar a língua deles? Não parecia ser o caso.
Dinheiro. Dinheiro, hein. As moedas pretas eram dinheiro. Seriam a moeda daquela vila? Se fossem, havia uma economia monetária ali—mas um sistema onde o dinheiro era trocado por mercadorias seria prático para uma vila tão pequena? Havia, no máximo, umas cinquenta pessoas ali. Todas as lojas tinham uma seleção bastante ampla de produtos. Não era um pouco demais para uma vila de cinquenta pessoas? Eles tinham outros clientes? Outros como Haruhiro e sua party…?
— Hah! — Eles ouviram uma voz.
Não só uma voz. Um grito.
— Ei! — Ranta empurrou Kuzaku de cima dele.
Kuzaku se levantou rapidamente. — Mary… san?!
Haruhiro começou a correr assim que estava de pé. — Mary?! Yume?! Shihoru?!
— Miau-chah…! — Esse era o grito de batalha de Yume. Ela estava lutando? Contra o quê? Um inimigo?
Havia um som violento de água sendo agitada.
— Kya…! — Essa era a voz de Shihoru? Ela tentou fugir e caiu no rio, ou algo assim?
— Hah! — Essa era a Mary. A voz dela. Parecia que ela estava lutando.
— V-Vamos nos esforçar para não ver nada! — Haruhiro sacou sua adaga e o porrete. Mas, sim, ele meio que achava que esse não era o momento de se preocupar com o que poderiam ou não ver.
Ele correu o mais rápido que pôde. Conseguiu distinguir algumas formas vagas. Parecia que Yume e Mary estavam se movendo com suas armas, como ele pensava. Elas estavam fora do banho. Onde estava Shihoru? No rio? Seria esse o inimigo?
A princípio, Haruhiro achou que fosse um lagarto ou algo assim. A postura da criatura era baixa, como se estivesse rastejando. Era rápida. Pulava para a esquerda e para a direita, desviando dos ataques de Yume e Mary. Tinha mais ou menos o tamanho de uma pessoa.
Antes que pudesse pensar em qualquer coisa, Haruhiro agiu. Ele agarrou seu inimigo por trás. Spider.
Não era um lagarto. Aquela coisa era toda peluda—Tanto faz. Ele tentou enfiar sua adaga na lateral do pescoço da criatura, mas o inimigo lutou ferozmente.
Boing. Ele pulou bem alto em diagonal.
— Whoa…! — Haruhiro gritou, instintivamente se agarrando ao inimigo.
Ah, cacete. O inimigo se curvou para trás no ar. Do jeito que estavam agora, a criatura ia cair de costas. Haruhiro estava segurando essas costas, o que significava que ele seria esmagado no chão, não é?
Quando tentou se soltar, o inimigo se enrolou ao redor dele. Houve um barulho desagradável. O impacto atingiu quase todo o seu corpo. Ele não conseguia respirar. Sua cabeça estava girando.
O inimigo saltou para longe de Haruhiro. Em seguida, atacou imediatamente. Haruhiro levantou ambos os braços para tentar proteger o pescoço e o rosto. Tinha que, ao menos, evitar morrer, de alguma forma.
— Gahhh! — Kuzaku saltou, tentando acertar o inimigo com sua espada longa.
O inimigo recuou rapidamente e, em seguida, disparou em direção oposta.
— Aí está você! — Ranta correu em direção à criatura, cortando o inimigo.
Bom trabalho em equipe, pensou Haruhiro, mas era questionável se ele podia realmente se dar ao luxo de relaxar e mentalmente elogiar seus companheiros.
Ele tentou se levantar. Sem chance. Até mesmo se virar de lado doía. Em todo lugar.
Sinto que vou vomitar. Patético. Fui descuidado. Perdi a cabeça. Por que não consegui manter a calma? Isso é frustrante. Que vergonha. O que eu sou, um novato? Isso foi um erro de iniciante. Não há desculpa para isso. Dói demais…
Kuzaku e Ranta estavam perseguindo o inimigo ao redor. Mary e Yume correram em direção a Haruhiro.
— Haru?! — Mary gritou.
— Haru-kun! — Yume exclamou.
Não, isso é bom—na verdade não é. Quer dizer, vocês duas estão sem roupa, não estão? Estava escuro demais para ver qualquer detalhe, mas ele ainda se sentia mal por isso. Haruhiro fechou os olhos, achando que era o mínimo que podia fazer.
— Onde… está a Shihoru…? — ele sussurrou.
— Miau?! Isso mesmo! Shihoru! Onde você está, Shihoru?! Tá tudo bem?! — gritou Yume.
— T-t-t-tô b-b-bem… — Shihoru respondeu, o que foi o suficiente para Haruhiro sentir um grande alívio.
Mas ainda era cedo para relaxar, não era? Não era uma situação para isso.
— Haru! Vou usar minha magia agora! — Mary gritou.
— Não, você não pode… quero dizer, magia de luz… emite luz… Antes de fazer isso… coloca umas roupas…
— É sério que você vai falar isso agora?! — Mary ficou brava com ele.
Sinto muito. Sinto muito mesmo, de verdade.
— Mary-san, aqui, suas roupas! — Kuzaku voltou correndo, jogando as roupas de Mary para ela.
— Eu realmente não me importo! — Mary gritou, mas ainda assim vestiu o que pôde rapidamente. Então, começou a tratar Haruhiro.
— Drogaaaa! — Ranta gritou. — Ele escapou da gente, seu idiota!
— Ranta estúpido, não vem pra cá! — Yume berrou.
— Ah, cala a boca! Como se eu fosse fazer questão de ver seus peitinhos minúsculos!
— A Shihoru tá aqui também, sabia?!
— Claro que eu quero ver os dela! Adoraria ficar encarando, com certeza! Gwehehehehe!
— Jess, yeen, sark, kart, fram…
— Ei, ei, ei, calma, calma, Shihoru! Sem magia! Essa é a magia Thunderstorm, não é?! Se eu levar uma dessas, vou virar churrasco!
Haruhiro manteve os olhos bem fechados.
Se eu abrir, posso acabar vendo todo tipo de coisa, sabe? Quero dizer, a Mary tá perto. Ela tá tão perto que consigo sentir parte do corpo dela encostando em mim. Mas eu não vou olhar, eu juro que não vou, beleza? Me sinto tão envergonhado por tudo isso que tenho vontade de chorar.
Mesmo assim, será que nem pra tomar um banho em paz? Cara, isso é difícil…