Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 03 – Vol 08 - Anime Center BR

Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 03 – Vol 08

Capítulo 3 – A luta silenciosa entre facções.

— …Agora há pouco, você ouviu alguma coisa? — Kuzaku estava na saída, em um ponto em que não dava para dizer se estava dentro ou fora, escutando com atenção. — Foi imaginação minha? Não… tenho quase certeza que ouvi algo.

— Sério…? — Shihoru se aproximou e se agachou ao lado de Kuzaku, virando o ouvido direito em direção ao lado de fora. — …Ah. Você está certo. É… o uivo de cães…?

— Se for alguma coisa, parece mais com lobos pra mim. — Kuzaku se inclinou para trás, mantendo a maior distância possível de Shihoru. — Bem, é uma floresta, então acho que não é tão estranho ter lobos, mas…

Não era porque era Shihoru; ele simplesmente não queria se aproximar muito de nenhuma garota agora. Embora ele não fosse como o Ranta, Kuzaku sabia que não era tão desinteressado quanto Haruhiro. Seria ruim se ele começasse a pensar de forma estranha, e as garotas eram um pouco despreocupadas e desatentas, então ele precisava ser o cuidadoso.

— Isso me incomoda — disse Kuzaku. — Você acha que eles estão bem? Não, eu acho que estão, mas…

— Esperar é difícil — Shihoru concordou.

— É mesmo. Mas é o que temos que fazer. Cada um tem seu papel a cumprir.

— É — Shihoru disse lentamente. — Eu preciso me exercitar mais…

— Hã? Você, Shihoru? Tipo, você vai ficar toda musculosa?

— N-Não vou chegar a tanto. Tenho dificuldade em ganhar músculos. Só consigo ganhar peso onde não preciso.

— Não, eu não acho que você não precisa—quer dizer, não que eu queira dizer isso de um jeito estranho ou algo assim. Não sei. É melhor estar com um peso saudável. Tipo, eu não acho que você precisa ser magra demais. Uh? Eu estou me complicando aqui? Er… Desculpa? Fui meio rude agora. Espero que não tenha te ofendido, ofendi?

— Está tudo bem. Não precisa pisar em ovos. Pode não parecer, mas eu sou casca-grossa — Shihoru disse, abaixando a cabeça com um sorriso irônico. — …Vem com o fato de ser gorda.

Uma piada autodepreciativa? Ele deveria rir? Ou dizer que ela estava errada e elogiá-la? Ele não tinha certeza de qual seria a melhor resposta. Honestamente, Kuzaku tinha dificuldade em lidar com esse lado de Shihoru.

— Mas é bem longe, sabe — disse Kuzaku. — Para Altana. Ainda assim, aqui é Grimgar, não Darunggar, então já é um avanço pelo menos.

— Hum…

— Sim?

— Foi meio chato… né? Agora há pouco — disse Shihoru. — Desculpa. Era pra ser uma piada, mas… eu nunca consigo inventar nada engraçado…

Whaaaa. Ela está trazendo isso de volta, agora? Sério? Normalmente, você deixaria isso passar.

Esse foi definitivamente um pensamento de Kuzaku, mas se ela estava trazendo à tona, ele precisava estar à altura. Ela não era uma estranha; afinal, era sua camarada.

— É, foi meio difícil de rir. Nossos corpos são um assunto sensível para alguns. Mesmo que a situação seja engraçada, eu me questiono se é certo rir disso. Além disso, você não é gorda. Na verdade, acho que todos nós emagrecemos bastante naquele outro mundo. Foi muito difícil lá…

— V-Você pode estar certo… — Shihoru olhou para Kuzaku com os olhos arregalados. — Obrigada por ser sincero comigo. Fiquei real… digo, muito grata por isso.

— Ah, você ficou? Que bom. — Kuzaku ficou aliviado. — Foi preciso um pouco de coragem pra dizer isso. Fiquei preocupado em te ofender. Mas eu não deveria ser tão reservado, como se você fosse uma estranha.

— Somos camaradas, né? — Shihoru perguntou.

— Somos, sim.

— Mas… você ainda é muito educado às vezes, né?

— Isso é, bem, mais um hábito, acho? Vocês todos são meus veteranos, então acho que isso faz parte.

— Não que sejamos veteranos muito confiáveis.

— Isso não é verdade — disse Kuzaku. — Eu estou sempre contando com vocês. Me faz sentir como se eu tivesse tido um irmão mais velho ou uma irmã mais velha. Não lembro, mas… Esse lado da minha personalidade, não é uma coisa boa. Afinal, eu sou o tanque da party. Realmente, preciso chegar ao ponto em que vocês possam contar comigo.

— Bem, pelo menos eu posso dizer que conto com você, Kuzaku-kun… Acho. Quer dizer, você está me protegendo.

— Eu gostaria de poder te proteger melhor — disse Kuzaku. — Sabe, eu sou alto e tenho braços bem longos também. Acho que, se eu me manejar da maneira certa, deveria conseguir atrair todos os inimigos pra mim. Eu preciso fazer isso, ou—

— Não! — Shihoru de repente agarrou o braço de Kuzaku como se estivesse se agarrando a ele. — …Você não pode. Kuzaku-kun, não se sobrecarregue. Não é bom tentar assumir tudo sozinho desse jeito.

— É isso que estou fazendo? Não acho que estou… —

— Você com certeza está… acho que sim — disse Shihoru. — Você foi sincero comigo, então vou ser sincera com você também. Moguzo-kun sempre se esforçava demais, achando que tinha que fazer isso e aquilo… e foi assim que ele acabou nós deixando. Acho que você está fazendo um pouco disso também. Ele se esforçava demais por nós, que ainda éramos imaturos. Nós o forçamos a se desgastar. Não quero que você repita isso, Kuzaku-kun. Eu não vou deixar. Não podemos permitir que alguém se sacrifique por todos nós. Uma pessoa não pode se desgastar por todos, todos nós precisamos trabalhar para compensar as falhas dos outros. É isso que eu acho.

— …Ohhhh — disse Kuzaku. — Isso faz sentido. Não quero parecer apressado. Sinto que estou atrasado em relação a vocês. Estou tentando alcançar todos. — Kuzaku começou a dizer, e então se deu conta do que estava falando. — …Ha ha. Você está certa, eu posso estar apressando as coisas. Mas é difícil, não é? Não consigo evitar me adiantar um pouco, sabe? Quer dizer, o Haruhiro, ele é incrível. Ele é bem desapegado, mas de um jeito bom. Ele é calmo.

— Haruhiro-kun… Acho que, na cabeça dele, muita coisa está acontecendo — disse Shihoru. — Ele só não fala sobre isso. Porque ele é o líder… Acho que ele não pode falar sobre isso. Se o líder estivesse preocupado e indeciso, todos ficariam inseguros. Tenho certeza de que é isso que ele pensa.

— Você acha que ele está se forçando demais? — perguntou Kuzaku.

— …Eu acho que não é fácil para ele. Mas não há muito o que possamos fazer… Haruhiro foi forçado a se tornar o líder porque nós somos pouco confiáveis. Não é que tenhamos jogado a responsabilidade sobre ele… mas ele não é o tipo que normalmente se voluntariaria para esse tipo de posição…

— Bem… é — disse Kuzaku. — Haruhiro odeia ser o centro das atenções. Ele não é exatamente o tipo de líder, eu acho. Mas eu gosto do estilo dele. É mais fácil de lidar do que alguém que diz: “Cala a boca e me segue.”

— Eu também gosto do estilo dele. — Shihoru sorriu um pouco.

Ela é fofa, Kuzaku pensou, e imediatamente se sentiu culpado por isso.

— Só que… — Shihoru olhou para baixo. — Acho que estamos causando muitos problemas para ele. Não importa como você olhe, é um trabalho que o machuca… Eu gostaria de pelo menos fazer algo para ajudar, mas não sei como…

— Fazer algo para ajudar, hein — disse Kuzaku. — Eu não sou bem o tipo para isso… mas, quero dizer, o Haruhiro também não é, e ele está se esforçando ao máximo. Por todos nós.

— Se ao menos houvesse algo pequeno que pudéssemos fazer para aliviar um pouco o fardo dele… — disse Shihoru.

Kuzaku cruzou os braços e olhou para cima, fechando os olhos. Parecia algo em que ele realmente deveria pensar. Ou melhor, ele queria refletir seriamente sobre isso. Mesmo que não tivesse uma ideia brilhante de imediato, se mantivesse isso em mente, poderia acabar surgindo com algo eventualmente.

— Ainda assim, é bom se preocupar com essas coisas. Especialmente enquanto se é jovem. Ter tempo de sobra para agonizar sobre essas coisas é um dos privilégios da juventude.

— Ah, você acha? Faz sentido…

— …Hã? — Shihoru engoliu em seco.

— O quê? — Os olhos de Kuzaku se arregalaram.

— Hm?

Tem alguém aqui…? Kuzaku pensou.

Era obviamente alguém além de Kuzaku e Shihoru. Além disso, não era Haruhiro, nem Yume, nem Ranta, nem Mary.

Aquele homem estava agachado logo do lado de fora da saída onde Kuzaku e Shihoru estavam, abraçando sua espada embainhada. Ele usava óculos, ou melhor, um tipo de óculos de proteção, então era difícil dizer como era seu rosto. Seu cabelo estava repartido no meio, e o rosto coberto de barba por fazer. Ele não parecia muito jovem.

Kuzaku achava que ele provavelmente era humano, mas usava um casaco um pouco comprido amarrado na cintura, junto com algo como calças de montaria, então ele parecia bem diferente das pessoas que viviam em Altana.

— Oh, me desculpem — disse o homem de óculos de proteção, levantando uma das mãos e sorrindo. — Não queria escutar a conversa, mas vocês não perceberam minha presença. Achei que seria errado ficar quieto, então decidi me inserir sutilmente na conversa de vocês.

— Não… — Kuzaku apressadamente colocou Shihoru atrás de si, posicionando a mão no cabo da sua espada negra. — Isso não foi nada sutil, sabe? E claro, eu nem sei quem você é.

— De fato, você tem razão — o homem de óculos de proteção coçou a cabeça e franziu o cenho. — Então permita-me dizer o seguinte: se eu tivesse intenção de machucar vocês, já teria feito. Não quero zombar de você, mas você estava completamente desprotegido. Mesmo com minhas habilidades medíocres, eu poderia ter acabado com você facilmente.

Kuzaku teve que admitir que ele estava certo. Ele estava tão absorto na conversa que não prestou atenção suficiente. E, além disso, ele estava ali para proteger Shihoru. Que patético.

Ainda assim, se fosse para lutarem de frente, era questionável se ele poderia vencer aquele homem. Kuzaku ainda não havia sacado sua espada. Ele não conseguia. Deixando a razão de lado, ele sentia isso. Se ele sacasse sua arma, estaria em sérios apuros.

— Somos soldados voluntários de Altana — disse Kuzaku. — Isso significa algo para você? Como explicação?

— Certamente — respondeu o homem. — Vocês são soldados voluntários do Exército da Fronteira de Arabakia, certo? Eu os conheço. Tenho conhecidos que também são soldados voluntários.

— Eu sou Kuzaku — disse Kuzaku. Shihoru, em voz baixa, completou: — Eu sou Shihoru…

— Sou Katsuharu — o homem levantou os óculos de proteção até a testa, semicerrando os olhos. — Se eu disser que sou da vila, vocês entenderiam o que quero dizer? Nós simplesmente chamamos de “a vila”, mas os forasteiros se referem a ela como a Vila Oculta.

— …A Vila Oculta — sussurrou Shihoru, parecendo ter uma ideia do que ele estava falando.

Kuzaku sentiu como se já tivesse ouvido falar disso antes, ou talvez não, ele não tinha certeza, mas podia perceber que era um lugar onde humanos como Katsuharu viviam, pelo menos.

O que significava isso?

— Huh? O que isso quer dizer? — Kuzaku inclinou a cabeça para o lado. — Não entendi muito bem…

— Significa que não somos inimigos — disse Shihoru. — O Reino de Arabakia, ao qual Altana pertence, e a Vila Oculta não são hostis entre si — explicou Shihoru em um sussurro. — Embora também não sejamos exatamente amigáveis… Como o nome sugere, não sabemos exatamente onde fica a Vila Oculta…

— Então é por isso que ela é oculta? — perguntou Kuzaku. — Hum… Então, Katsuharu-san é de lá e… o que isso significa? Huh…

— Vocês dois são tão tranquilos. Isso é bom — Katsuharu sentou-se no chão e coçou o nariz. Ele havia dito que Kuzaku e Shihoru eram despreocupados, mas ele mesmo transmitia uma atmosfera bastante relaxada. No entanto, ainda parecia que ele poderia sacar sua espada a qualquer momento. Ele era um homem misterioso. — Dito isso, acho um pouco estranho encontrar dois soldados voluntários em um lugar como este. Poderia ser que vocês dois acabaram de voltar do mundo além daquele buraco?

— …Você sabe sobre Darunggar? — Shihoru perguntou hesitante.

— O nome Darunggar não me é familiar — disse Katsuharu. — No entanto, alguns na vila sabem que aquele buraco leva a outro mundo. Este lugar, Vale dos Mil, é como nosso quintal, sabem?

— Vale dos Mil… — Kuzaku olhou para a névoa que cobria a área. De repente, teve uma realização. — Espere, se este é o seu quintal, você conhece os caminhos daqui? Certo? O caminho para Altana também?

— Certamente. Já fiz várias viagens para Altana, afinal.

— Então você poderia nos mostrar o caminho! — exclamou Kuzaku. — Ah, não, sei que não deveria pedir um favor assim do nada. Você não tem nenhuma obrigação de nos ajudar.

— Como você disse, não tenho obrigação nenhuma — Katsuharu respondeu. — Pelo menos por enquanto. Acabamos de nos conhecer, afinal. No entanto, sinto que nosso encontro aqui tem um certo destino, e, uma vez que nos conhecermos melhor, talvez eu me sinta inclinado a ajudar.

— O que quer dizer com isso…? — Kuzaku perguntou.

— Talvez eu tenha sido muito indireto — Katsuharu bateu a mão na própria cabeça. — A verdade é que estou procurando por alguém. Vocês poderiam me ajudar? Quando eu terminar meu negócio, eu os levarei para a vila. Devem estar exaustos da viagem, não? Por que não descansam na vila?

— …Acho que ele é meio suspeito — sussurrou Shihoru no ouvido de Kuzaku. — Ele não está sendo generoso demais, considerando que não nos deve nada? Além disso, se ele nos mostrar o caminho, vamos descobrir onde a vila fica…

— Estou ouvindo vocês — Katsuharu puxou o lóbulo da orelha e sorriu com ironia. — Tenho uma boa audição, sabem? Bom, acho que essa cautela de vocês é justificada. No entanto, estão entendendo uma coisa errado.

Será que podiam confiar nele? Kuzaku não conseguia decidir.

— …O que estamos entendendo errado? — ele perguntou cauteloso.

— São os forasteiros que chamam de Vila Oculta, não nós. Eu já disse isso, não? Relocamos a vila todo ano, às vezes mais de uma vez no mesmo ano. A maioria das vilas, bem, não aceita muito bem estranhos, digamos assim, mas não é como se os portões estivessem fechados para forasteiros. Na verdade, vocês já devem ter ouvido falar do soldado voluntário chamado Soma, certo? Ele foi reconhecido como samurai pelas quatro casas samurais.

— Sim… — disse Kuzaku. — Tecnicamente, somos camaradas do Soma-san…? Quer dizer, estamos no mesmo clã.

— Oh, é mesmo? Então devem ser bem habilidosos.

Kuzaku e Shihoru trocaram olhares, sem saber o que responder.

Enquanto Kuzaku ainda estava confuso sobre o que fazer, Shihoru falou. — Quem dera isso fosse verdade. Ainda temos um longo caminho pela frente.

— Como é humilde da sua parte dizer isso — Katsuharu sorriu.

De alguma forma, ele havia percebido completamente o nível de habilidade deles e os estava provocando com base nisso. Mas não parecia maldoso, e eles realmente eram inexperientes, então Kuzaku não conseguia se irritar com ele por isso. Kuzaku consultou Shihoru em um sussurro, sabendo muito bem que Katsuharu ouviria, e então decidiu contar a situação a ele.

— Katsuharu-san, temos mais pessoas com a gente — disse Kuzaku. — São quatro ao todo. Dois saíram para fazer reconhecimento mais cedo, e os outros dois foram procurá-los quando eles não voltaram. Então, ficamos aqui esperando.

— Nesse caso… — a expressão de Katsuharu escureceu um pouco. — Pode ser que seus amigos já estejam envolvidos em algo.

— O que isso quer dizer? — Kuzaku perguntou.

— Por onde começo? Para simplificar, há problemas acontecendo. Minha adorável sobrinha foi envolvida nisso, então não posso ignorar. Ela é quem estou procurando. Ahhh, que grande incômodo — Katsuharu abaixou os óculos de proteção, ajustou-os e então se levantou. — Vocês dois venham comigo. Vou explicar mais no caminho. Ou preferem ficar e esperar por seus companheiros? De qualquer forma, eu estarei indo.

— …Talvez devêssemos ir com ele — disse Shihoru.

Se ela achava isso—bem, na verdade, Kuzaku não conseguia tomar uma decisão, então não podia discordar.

Katsuharu seguiu na frente, claro, com Shihoru e Kuzaku logo atrás enquanto avançavam pela névoa. Estranhamente, era fácil caminhar. Katsuharu parecia escolher os lugares com o melhor piso. Ele havia dito que aquele lugar era como seu quintal, e ficou claro que ele não estava apenas falando por falar.

— Uh, Katsuharu-san — disse Kuzaku. — Agora que pensei nisso, ouvi algo que parecia uivos de lobos.

— Certamente são as feras de Forgan — Katsuharu não olhava ao redor. Apenas caminhava numa única direção.

— Isso é um problema? — perguntou Kuzaku.

— Tem um sujeito chamado Jumbo, sabe? Forgan é a facção que ele lidera.

— Hã? O que uma facção de orcs tem a ver com essas feras? — Kuzaku perguntou.

— Abaixe a voz — Katsuharu se agachou e colocou a mão no cabo de sua espada.

Shihoru abaixou a cabeça e prendeu a respiração. Parecia que Kuzaku também deveria se preparar e ficar parado.

Nos próximos dois ou três minutos, ele ficou ali, sem se mexer. Ficava cada vez mais difícil. Mas, no caso de Kuzaku, se ele se movesse descuidadamente, seu equipamento com certeza faria barulho. Até que alguém dissesse que estava tudo bem, ele teria que aguentar.

Será que já podemos ir? Ele se perguntou.

Em vez de pensar nessas coisas, ele deveria estar vasculhando a área e pensando no que faria se algo acontecesse, assim como no que deveria fazer.

Estou levando isso muito na brincadeira. Preciso refletir sobre isso. Se continuar assim, nunca vou alcançar Haruhiro e os outros. Mas não consigo ver nada através da névoa, não ouço nada, e se os inimigos atacarem, tudo o que poderei fazer será proteger Shihoru, então… já podemos ir?

— Houve um nyaa — Katsuharu disse em voz baixa.

— …Um nyaa? — Shihoru perguntou.

— Sim. Vocês nunca ouviram falar deles? São animais. Um nyaa selvagem raramente se mostra para as pessoas. Os espiões onmitsu da vila os criam, mas aquele não era um deles. Provavelmente era um dos nyaas treinados de Forgan.

Quanto mais ele ouvia, mais engraçada a palavra soava. Nyaa. Era muito fofa. Como se fosse um nyaa de estimação. Não, não era hora de rir. Provavelmente era algo sério. Kuzaku pigarreou.

— Mas não vejo nada que pareça com isso, e também não sinto nada — ele disse.

— Foi fraco, mas ouvi um leve miado antes — Katsuharu explicou. — Foi um nyaa. Já se foi agora. Não parece ter nos notado. Vamos seguir em frente rapidamente.

Se Katsuharu diz isso, então deve ser assim, pensou Kuzaku. É realmente relaxante apenas fazer o que alguém te diz. Obviamente, também é mais fácil. Ter que pensar por si mesmo, isso é difícil. Haruhiro é incrível, sério.

Honestamente, quando percebeu que estava fazendo tudo o que Katsuharu mandava, ficou um pouco exasperado consigo mesmo por se acostumar tão rápido com aquela situação.

— Parece que sou um cachorro — Kuzaku murmurou.

— Verdade — Shihoru, que estava à frente dele, riu. — Você tem um ar de cachorro, Kuzaku-kun.

— Oh, você ouviu isso? Huh. Eu realmente pareço um cachorro? Hmmm. Bem, acho que não sou do tipo felino. Você prefere cachorros ou gatos, Shihoru-san?

— …Acho que prefiro cachorros.

— Oh? Sério?

— Hã…? Ah, n-não tem nada a ver com você parecer um cachorro…

— Nah, não vou entender errado, pode ficar tranquila — Kuzaku disse. — Aposto que você nem me vê como um homem. Quero dizer, tenho certeza de que todas as garotas da nossa party pensam assim…

— …Eu não diria isso — Shihoru respondeu.

— Não, tenho certeza disso. Tipo, considerando como as coisas foram… Não, não deveria falar assim.

— Como as coisas foram…? Agora fiquei curiosa.

— Sim, acho que você ficaria — Kuzaku disse. — Se eu contar, você pode manter em segredo? Você guardaria, né? …Bom, você sabe como é. Confessei meus sentimentos para a Mary e levei um fora.

— Eu imaginava — disse Shihoru.

— Urgh. Você tinha notado…?

— Só vagamente.

— Bem, isso é constrangedor. Mas a verdade é que não tem o que fazer. No final, decidimos continuar apenas amigos.

— Isso é difícil, né. — Shihoru assentiu. — Saber o quão perto você pode chegar das pessoas. Mary é do tipo séria, muito organizada, afinal.

— Já superei isso. Estou tentando deixar para trás. Mas estou preocupado com Mary. Quero dizer, quem está com ela é o Ranta-kun…

— Quando ouço vocês dois conversando — Katsuharu disse, rindo e fingindo se coçar todo —, me sinto todo arrepiado.

— D-Desculpa… — Shihoru encolheu a cabeça no corpo.

— Não é nada para se desculpar — Katsuharu disse. — Eu era assim também, antigamente. Faz tempo, mas isso traz as memórias de volta. Deixando isso de lado…

Katsuharu parou. Ele se agachou e tocou o chão.

— Parece que algo aconteceu aqui. Essas pegadas são provavelmente humanas. De duas, talvez três pessoas. Eu diria que são duas. Essas duas pessoas provavelmente foram cercadas por uma matilha de lobos, e depois… não há sinais de luta. Os dois seguiram sozinhos depois disso. Foram em direção ao sudoeste. Espero que consigamos seguir o caminho…

 

 

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