Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 06 – Vol 05 - Anime Center BR

Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 06 – Vol 05

Capítulo 6 – Bem-vindo ao Reino do Crepúsculo

Décima segunda, décima terceira, décima quarta, décima quinta…

A busca pelas salas prosseguia.

À medida que avançavam, os ovos realmente aumentavam de tamanho, ainda que apenas um pouco a cada vez. Comparando os ovos de uma sala com os da próxima, a diferença era praticamente imperceptível, mas ao comparar a primeira sala com a décima sexta, havia uma grande diferença no tamanho dos ovos. Embora talvez não tivessem dobrado de tamanho, eram pelo menos metade maiores.

Desde então, eles não encontraram outro ri-komo.

O que era aquele ri-komo? O que estava fazendo antes de o encontrarmos? Esses eram ovos de ri-komo? Ou não? Haruhiro não sabia.

A décima sétima sala era grande. Ou talvez apenas parecesse assim.

— Não tem… ovos — disse Haruhiro lentamente.

Sem nada para iluminar, estava totalmente escuro. Não havia como saber se havia algum ri-komo.

Ele não sentia nenhuma presença ali, mas Haruhiro procurou minuciosamente pela sala com uma lanterna só para ter certeza.

Não havia ri-komos.

No entanto, havia um buraco em um canto. Não na parede. Era um buraco redondo no chão, com cerca de 1,2 metros de diâmetro. Um buraco vertical.

Todos cercaram o buraco.

Haruhiro se agachou e enfiou a mão que segurava a lanterna no buraco.

— O fundo não… é visível, de forma alguma. Vai bem fundo, pelo jeito.

— Hmm. — Mimorin acenou com a cabeça, inclinando o queixo. — Vamos investigar.

Por alguma razão, Mimorin estava agachada ao lado de Haruhiro. Bem, essa razão era clara—era porque ela queria cuidar dele como um bichinho de estimação. No entanto, mesmo agachada, ela era uma mulher gigantesca. Simplesmente enorme.

— Dá pra usar aquelas protuberâncias como apoios para as mãos e os pés, não acham? Ali — Kikkawa indicou a superfície das laterais do buraco com o queixo. — Mesmo sem uma escada, dá pra descer e subir. Não acham?

Era verdade, havia saliências que pareciam poder ser agarradas com as mãos ou onde podiam prender os pés. Não seria rápido, mas se se concentrassem, poderiam descer.

— Zodiac-kun. — Ranta se virou para o demônio. — Você desce primeiro pra gente.

— …Kehe… Ranta… Eu não me importaria de empurrar você lá pra baixo… Kehehehe…

Uma recusa direta.

— Heh… — Inui jogou uma moeda para cima e a pegou na palma da mão. — Vamos tentar com isso…

Ai! — gritou Anna-san. — Isso era o que Anna-san estava pensando em fazer, entendeu?!

— Tarde demais… Heh… — Inui jogou a moeda no buraco.

Eles ficaram atentos.

Logo, houve um som metálico. Parecia que o buraco tinha um fundo, pelo menos. Não poderia ser tão profundo assim.

— Bem… — Haruhiro suspirou levemente. — Eu vou entrar.

— Desculpe por isso, ladrão — Tokimune exibiu seus dentes brancos em um sorriso.

— Faça o seu melhor — disse Mimorin impassível.

Seria estranho ignorá-la completamente. Haruhiro amarrou a lanterna na cintura, com os cantos dos lábios tremendo levemente enquanto acenava com a cabeça. Sentindo-se incomodado, nada feliz, sobrecarregado, e carregando todos os tipos de sentimentos insatisfatórios, ele entrou no buraco. Ou melhor, desceu pelo buraco. Agarrando-se com as mãos e os pés nas saliências, ele desceu.

No meio do caminho, começou a se perguntar, Será que é realmente inteligente para o líder ir na frente? É algo que eu sempre faço, mas o líder tem o papel importante de tomar decisões para a party como um todo. Se perdermos o líder, por mais simples e medíocre que eu seja, isso terminaria mal. Explorar traz um número considerável de riscos. Pode levar a ferimentos graves ou, bem, à morte, então talvez não seja algo que o líder deva fazer…?

Foi algo que acabou de ocorrer a ele. No momento, eles tinham Tokimune, então as coisas se resolveriam mesmo que algo acontecesse com Haruhiro, teoricamente. Também havia a questão de se ele poderia deixar isso para algum de seus outros companheiros. Embora Ranta e Yume fossem ambos rápidos, devido a seus trabalhos, nenhum dos dois tinha a personalidade para isso. Eles careciam de capacidade de concentração.

Quem fazia isso pelos Tokkis? Talvez Inui, já que ele também costumava ser um ladrão?

Ele estava pensando nos Tokkis, afinal. Eles podem não se importar em explorar e simplesmente entrar e resolver tudo rapidamente com um bam e boom.

Não, não é que explorar seja algo sem importância. Ele não odiava fazer isso. Esses tipos de tarefas que eram bem simples, mas que alguém tinha que fazer, e que tinham um efeito real no resultado se fossem feitas corretamente, mas que não rendiam muitos elogios para quem as fazia, mas que ele ainda assim sentia uma certa satisfação pessoal, eram as tarefas que Haruhiro secretamente apreciava.

Eu devo dizer, não sou uma pessoa esperta, pensou. Mas tudo bem, estou bem assim. Mesmo que ele tentasse se forçar a mudar, logo seria desmascarado pelo que ele realmente era.

De uma maneira simples e comum, sem fazer barulho, ele desceu pelo buraco.

Ele chegou ao fundo. Havia um caminho. Ele não conseguia ver o que havia mais adiante, mas não sentia nada por perto.

— Parece que está limpo — Haruhiro chamou para cima. — Podemos continuar. Desçam.

Tokimune e, em seguida, cada um dos outros desceram. Em momentos como esse, Haruhiro pensou que talvez fosse melhor se Tokimune tivesse ficado em cima até que todos estivessem embaixo, mas ele optou por não dizer nada.

O caminho estreitava a partir dali. Tinha cerca de dois metros de altura e menos de um metro e meio de largura. Não era impossível andar lado a lado, mas seria apertado, então Haruhiro foi à frente, com Tokimune logo atrás à esquerda, Kikkawa diagonalmente à direita, atrás de Tokimune, e assim por diante. Eles avançaram em uma formação incomum, uma coluna em zigue-zague, ou uma e meia.

Agora, não era apenas Haruhiro e sua party que estavam em silêncio; os Tokkis também estavam quietos.

Provavelmente vai acontecer alguma coisa aqui. Tem que ter algo. Haruhiro sentiu seu coração acelerar. Não, calma, ele disse a si mesmo. Cabeça fria. Mantenha a cabeça fria. Se eu ficar muito nervoso, meu campo de visão vai se estreitar e meu corpo vai ficar tenso.

O caminho era mais ou menos plano e reto. Em algum momento, Haruhiro percebeu que estava indo muito devagar. Talvez fosse seguro acelerar um pouco o passo.

— Agora há pouco… — Haruhiro parou de andar e se virou. — Alguém disse alguma coisa?

— Hmm? — Tokimune deu de ombros. — Pode ser. Alguém disse alguma coisa?

Ninguém levantou a mão. Todos balançaram a cabeça.

— Você ouviu alguma coisa? — Tokimune perguntou a ele.

— Não… Bem, eu acho que ouvi… talvez? Foi só isso. Oh… — Haruhiro levou o dedo indicador aos lábios. Todos prenderam a respiração.

—Consigo ouvir, ele pensou.

Aruburuburah.

Furaguraburubaradirah.

Shurubiraburaharagureroh.

Pyuraryugadih.

Aburaguh.

Eram esse tipo de vozes que ele ouvia.

— Ri-komos… — Kikkawa disse em voz baixa. — Vocês acham que, tipo, tem um monte deles?

Haruhiro respirou fundo, colocando a lanterna no chão.

— Eu vou dar uma olhada.

— Você vai ficar bem? — Era incomum Tokimune soar preocupado com ele desse jeito.

Isso é um mau presságio, Haruhiro pensou nervosamente. Não, não.

— Se você quiser, eu posso ir com você, sabia? — Ranta disse, todo cheio de si.

— Se a única alternativa fosse ir com você, eu estaria oitocentos milhões de vezes melhor sozinho, então, não, obrigado — disse Haruhiro.

— Cara, você não nada fofo. Augh! — Ranta se encolheu. Alguém tinha batido nele com um cajado.

— Haruhiro é fofo — disse Mimorin, tão inexpressiva como sempre.

— Como? — Shihoru perguntou.

Ela provavelmente só fez a pergunta porque lhe veio à cabeça, mas ainda assim foi um pouco cruel.

Não, talvez não.

Não. Não foi. Haruhiro não era nada fofo. Ele não queria que ninguém pensasse que ele era fofo.

— A maneira como ele é lamentável, mas ainda assim faz todo esse esforço — respondeu Mimorin.

Entendi. Haruhiro beliscou o nariz. Entendi.

Era verdade, ele era lamentável, e talvez estivesse se esforçando demais apesar disso. De fato, ele ficou chocado por ela ter acertado em cheio, e não tinha certeza se conseguiria se recuperar disso. Bem, mesmo que ele estivesse bem com isso—o que ele não estava—como isso poderia ser fofo?

— Mimoriiiin… — Anna-san disse enquanto abraçava Mimorin pela cintura, o que era bem alto para ela, dado o quanto ela era baixinha. — Agora eu meio que entendo, tá?

— Né? — Mimorin acenou com a cabeça.

— Tão Bad assim… Anna-san acha que é… suportável. Não… Cativante? Um tipo, uma forma, de pena? Entendeu? Ele é patético? Certo? — perguntou Anna-san.

Mimorin inclinou a cabeça para o lado e pensou por um momento, mas, no final, não respondeu à pergunta de Anna-san antes de se virar para Haruhiro.

— Haruhiro, você é fofo.

— Uh… Obrigado — ele disse.

— Eu quero te manter como um bichinho de estimação. Deixa eu fazer isso.

— Não posso.

— Mesmo?

— Sim.

— Não morra.

— …Okay.

Haruhiro saiu como se estivesse tentando escapar.

Tenho que explorar. Vou me dedicar totalmente a isso. Vou fazer o trabalho de exploração mais perfeito de todos. Vou explorar como ninguém jamais fez. Eu sou o melhor batedor que existe. Quero ser capaz de encher o peito de orgulho e dizer isso. Okay, não exatamente, mas agora é hora de explorar. Por enquanto, vou explorar.

Usar Sneaking. Ahh, isso é realmente divertido, Sneaking. Eu adoro. Sneaking. Eu sou patético, mas vou me esforçar muito. O que há de errado em trabalhar duro?! Nada. Eu já sou patético, então se eu pelo menos não tentar, vou ser muito mais patético, sabe? Vou ficar igual a Anna-san. Suspiro…

Foco. Tenho que me concentrar.

O caminho continuava sem muitas curvas. Ele continuava ouvindo os ri-komos conversando. Ele não entendia muito bem, mas talvez estivessem batendo papo? Não parecia que havia urgência no tom. À medida que avançava, as vozes ficavam mais altas, então a única coisa de que ele tinha certeza era que havia ri-komos à frente. Foi uma boa decisão deixar a lanterna para trás… ele pensou. Provavelmente.

Ele podia ver uma luz à frente. Uma luz fraca e tênue. Ele se aproximou.

Antes de sair para uma área mais ampla, Haruhiro parou.

— Aburerah, burareryoh, samuragerasshuh.

— Bagashoburirah, faiabushuh, fakkashuburyoh.

— Rabureshuburaruroh, fanafarabushoh, ireburesshoruttoh.

Eles estão ali. Eles estão vindo agora. De lá.

A sala tinha uma altura, largura e profundidade consideráveis. Mas, como exatamente era por dentro? E de onde vinha essa luz fraca? Ele apertou os olhos. Não adiantava. Não dava para ver.

Haruhiro virou o pescoço, depois os ombros. Acenando com a cabeça, ele espiou um pouco.

É grande—mas, dito isso, não é ridiculamente ampla. Bem, talvez uns dez metros de largura. Por aí. Não sei o quão alto é o teto, ou até onde vai para o fundo. Há fontes de luz por toda parte. Há muitos buracos, grandes e pequenos, na parede de pedra, e parece que uma luz azul está saindo deles. Parece que os ri-komos estão dentro desses buracos. Onde os buracos estão—pendurados de cabeça para baixo?— também há ri-komos ali. E os ri-komos, eles estão falando sobre alguma coisa? Parece que sim.

É um ninho de ri-komos?

Provavelmente é isso que este lugar é.

Haruhiro voltou antes que os ri-komos pudessem encontrá-lo. Haruhiro foi recebido de volta por um grupo silencioso de onze soldados voluntários e um Zodiac-kun.

— Parece um ninho de ri-komos — disse Haruhiro. — Tem muitos deles. Mais de dez ou vinte. Avançar não é, bem, algo que eu gostaria de fazer. Pessoalmente falando.

— Hmm… — Tokimune tinha uma expressão pensativa no rosto.

— Deixe isso comigo — disse Tada, com a luz da lanterna refletindo em seus óculos enquanto ele falava. — Pelo que vejo, os ri-komos não vão atacar. Vou verificar isso agora. Vocês, pelo menos, estejam prontos para correr caso precisem.

— Espere aí — disse Ranta, com um sorriso não tão ousado, que na verdade era uma mistura de medo e bravata em seu rosto. — Não podemos deixar os Tokkis fazerem tudo por nós. Deixa eu ir também.

— …Kehe… Desista… Ranta… Kehehe… Você pode tentar bancar o legal, mas nunca vai ser…

— Isso não é verdade! Eu fui muito legal agora mesmo, não fui?! — gritou Ranta. — Foi num nível que vocês poderiam se apaixonar por mim, mesmo contra a vontade de vocês, né? Né? Vamos lá? Né?

Ranta olhou para as garotas. Ele não recebeu nenhuma resposta além de olhares frios.

— Não, uh… — Haruhiro coçou a cabeça. — Isso é claramente perigoso, então talvez seja melhor desistir?

— Não. — Tada ajustou os óculos com o dedo indicador esquerdo. — De jeito nenhum. Ouça, Tokimune. Se as coisas derem errado, fuja sem mim.

— Certo — disse Tokimune. — Okay, vamos fazer isso.

— Ele aceitou facilmente… — murmurou Kuzaku.

— Você está bem com isso, né, Haruhiro? — Tokimune perguntou. O fato de Tokimune ter perguntado a ele o pegou um pouco de surpresa. — Okay, vá em frente, Tada.

Bem, eu ainda não te dei uma resposta, né? Haruhiro pensou.

Tada colocou seu martelo de guerra no ombro, cantarolando enquanto caminhava em um ritmo tranquilo.

— E-Espere, espere! Eu também! Eu também! — Ranta e Zodiac-kun correram atrás dele.

— Uau… — Yume olhou, perplexa.

Mary pigarreou. Ela provavelmente estava tentando se acalmar.

Haruhiro suspirou. Ele parecia pontuar quase tudo com um suspiro. Suspiros eram a única coisa em que ele podia acreditar. Não, não era uma questão de acreditar ou não acreditar. Só que…

— Vou seguir um pouco atrás de Tada-san — ele disse. — Tokimune-san, só por precaução, prepare todos para correr.

— Okay. — Tokimune acenou com a cabeça. — Obrigado pelo seu trabalho duro.

— Haruhiro. — Mimorin também acenou com a cabeça para ele, sem expressar nenhuma emoção. — Viva.

— …Okay.

Ele ficou feliz que ela estivesse torcendo por ele, pelo menos. Não, talvez nem tanto.

Haruhiro manteve-se a três metros atrás de Ranta e Zodiac-kun.

Tada continuava cantarolando para si mesmo. O cara estava se divertindo demais. Ele só podia ser maluco.

O mais normal de aparência não era apenas louco, ele era o mais louco de todos. Esse era o padrão que os Tokkis haviam seguido.

Tada parecia estar indo para um passeio alegre, mas Haruhiro estava nervoso. Ranta também estava andando de forma estranha. Ele estava totalmente apavorado. Comparado a Tada, o comportamento de Ranta era quase fofo.

Esse foi um novo pensamento para Haruhiro. Ranta sendo fofo.

Tada não parou uma vez sequer, nem diminuiu o passo, antes de entrar no ninho. Ranta estava hesitante, mas Zodiac-kun o empurrou por trás.

— Ei… Ei! Zodiac-kun?! Para?! Eu preciso estar preparado mentalmente antes de fazer isso, sabe?!

— …Kehe… Cala a boca e morre…

— Eu não vou morreeeeeeer…!

— Ranta — Haruhiro o advertiu, mesmo que já fosse tarde demais —, você tá sendo barulhento demais, cara.

— O quê?! — Ranta pulou de susto.

— Haha! — Tada se virou para eles e balançou seu martelo de guerra. — Não se preocupe! Não tem problema! Se eu estiver certo, os ri-komos não vão nos atacar!

As vozes dos ri-komos… pararam.

Ficou tudo em silêncio.

— Viu? — disse Tada, com orgulho, olhando ao redor do ninho. — Exatamente como eu pensei. Esses caras são bem covardes. Eles não são exatamente beligerantes.

— Não, mas, Tada-san, você matou um deles na outra sala — disse Haruhiro.

— Foi aí que eu percebi — ele disse, confiante. — Pela sensação quando eu o acertei? Eu sabia que ele era fraco.

— Então, é esse tipo de coisa… Como eu deveria dizer…? Instintiva, né? — Haruhiro perguntou.

— A vida, mano — disse Tada. — Não se trata de razão.

— Ohhh! — Ranta caiu de joelhos, segurando o peito. — Uma grande frase nasceu! Você tá certo! “A vida não se trata de razão”, né?! Tada-san, você é incrível!

— Não me elogie tanto. — Tada bateu o martelo de guerra no ombro enquanto ajustava os óculos. — Eu vou pegar a sua estupidez!

— Wahaha! Não, não, nãoooo! Aí está você, sendo assim de novo, Tada-saaaan!

Qual é o problema desses dois? pensou Haruhiro. Ranta sempre foi um idiota, mas talvez Tada seja um idiota também? Será que ambos são idiotas?

Os ri-komos continuavam em silêncio, sem dar sinal de movimento. Dito isso, isso poderia ser a calmaria antes da tempestade, talvez? Haruhiro, honestamente, não se sentia nada seguro.

— Haruhiro, vem cá também — Tada fez um sinal para ele.

— …Acho que não quero.

— Só chega aqui — disse Tada.

— É, Parupiroooo — gritou Ranta. — Não amarela, seu idiota!

— Anda logo — disse Tada. — Ou eu vou te bater.

— Se você me acertar com isso, eu posso morrer facilmente, sabia…? — Haruhiro murmurou.

Ele provavelmente não estava falando sério. Mas, sendo Tada, Haruhiro não podia ter certeza, então não teve escolha a não ser obedecer.

Haruhiro caminhou hesitante para dentro do ninho. Era verdade que o ri-komo que eles encontraram na sala anterior não havia sido difícil.  Ainda assim, se os ri-komos os atacassem em massa, seriam uma grande ameaça. Ou melhor, a diferença em números era tão grande que Haruhiro e os outros dois poderiam ser dilacerados em pouco tempo. Ele podia sentir a morte muito perto. Mimorin havia dito para ele viver, mas isso talvez não fosse possível.

Ou talvez fosse.

Os ri-komos não se moveram, afinal de contas. Suas vozes estavam em silêncio.

— Ranta. — Tada gesticulou em direção ao caminho de onde vieram com o queixo. — Vai chamar o Tokimune. Haruhiro e eu vamos esperar aqui.

— Sim, senhor! — Ranta gritou.

— …Kehehe… Você é tipo um faz-tudo, Ranta… Kehe… Isso combina com você… Kehehehe…

— Cala a boca! Tá tudo bem! O Tada é o cara com a frase do dia! — Ranta fez essa declaração sem sentido e depois correu de volta pelo caminho. Zodiac-kun o seguiu.

Agora Haruhiro estava sozinho com Tada. Não… havia um monte de ri-komos ao redor deles. Era difícil chamar isso de estar sozinho.

— Haruhiro.

— …O quê?

Tada não disse mais nada imediatamente. Um momento se passou antes que ele dissesse:

— Cuide bem da Mimori para mim.

— …O quê?

— Ela é maior do que eu, e tem um gosto horrível, e eu nunca sei o que ela está pensando, e ela não me deixa chamá-la de Mimorin, e ela me irrita, mas ainda somos camaradas — disse Tada.

— Não… Eu não sou o cara certo para pedir isso — Haruhiro respondeu.

— Você não tá satisfeito?

— Hã? Não, eu não acho que esse seja o problema aqui…

— Os peitos dela são enormes, mano — disse Tada. — Embora ela seja grande em geral.

— Eu não acho que isso seja relevante — disse Haruhiro.

— É relevante — afirmou Tada com certeza. — Mano, você tira sarro dos peitos, depois vai chorar por eles.

— É assim que funciona?

— O quê? Você nunca chorou por peitos antes? — Tada perguntou.

— …Nunca.

— Eu já.

— Hã.

— Não vai perguntar? — Tada perguntou. — Não vai pedir todos os detalhes?

— Você quer falar sobre isso? — Haruhiro perguntou.

— Claro que não — respondeu Tada, irritado. — É um assunto particular. Você deve estar fora da casinha, mano.

Você é o último cara de quem eu quero ouvir isso. Haruhiro olhou ao redor. Os ri-komos continuavam quietos.

— Não me diga… você nos deixou a sós só para poder falar isso? — Haruhiro perguntou.

— Sim — disse Tada. — E não diga que fiz isso “só” por isso. É algo importante, entendeu?

— Eu não tenho nenhum sentimento especial por ela, então é isso — disse Haruhiro.

— Você é bem claro sobre isso, né. Você é um cara honesto. Como é que, sendo tão bonzinho, você é tão ferrado da cabeça? O que há de errado com você?

— O que há de errado, de fato — respondeu Haruhiro. Com você, no caso.

Logo, Ranta voltou com Tokimune e os outros. Ranta, Zodiac-kun e os Tokkis entraram no ninho como se não fosse nada demais, mas Kuzaku, Shihoru, Yume e Mary estavam receosos.

Isso é normal, pensou Haruhiro. É reconfortante ver isso. Normal é bom. Normal é o melhor.

— Ohh. — Tokimune sombreou os olhos com uma mão e olhou ao redor inquieto. — Este é o ninho dos ri-komos, hein. Hmm. Tem um monte deles.

Os ri-komos, que até há pouco tempo estavam em silêncio, agora faziam um barulho ensurdecedor. Haruhiro estava aflito de preocupação.

— O q-que fazemos? Daqui em diante — ele gaguejou.

— Continuamos, é claro — respondeu Tokimune.

— …Isso era de se esperar — Haruhiro murmurou.

— Quer voltar? Então volte. Nós vamos ficar. Na verdade, vamos avançar ainda mais, sabe?

Tokimune estava dizendo que não precisavam de Haruhiro para prosseguir com a exploração. Se Haruhiro quisesse desistir, os Tokkis continuariam explorando sozinhos.

— Vamos — disse Haruhiro.

— Não esperava menos de você — Tokimune respondeu, exibindo seus dentes brancos.

Não consigo evitar a sensação de que fui levado a essa decisão, pensou Haruhiro, frustrado. Tudo está acontecendo no ritmo dos Tokkis. Mas se eu tentar lutar pelo controle, não vejo como sairia por cima. Será que só preciso seguir o fluxo?

Se os ri-komos decidissem eliminar os intrusos, Haruhiro e os outros—naquele instante, seria o fim. Era difícil prever qualquer resultado que não fosse sua completa aniquilação.

Pegando a lanterna de Kuzaku e avançando em duas colunas, Haruhiro se questionava se aquelas pessoas compreendiam a situação. Não poderia ser que não tivessem consciência do perigo. Estavam assumindo um risco calculado. Isso provavelmente era algo natural para os Tokkis.

Então essas são as pessoas… Haruhiro pensou.

Essas são as pessoas certas para a vida de soldado voluntário. Não pessoas comuns e monótonas como Haruhiro, mas indivíduos como os Tokkis ou, bem, como Ranta, que tinham um toque de loucura.

Haruhiro estava fazendo algo para o qual não tinha aptidão. Havia algum sentido em fazer o que ele podia, mesmo sendo Inadequado? Ou havia coisas que ele podia fazer justamente por ser Inadequado para a tarefa?

Os gritos dos ri-komos não mostravam sinais de cessar—mas eles não tomavam nenhuma outra ação.

— Se fossem só esses caras — Tokimune inclinou o pescoço enquanto falava —, seriam esmagados em pouco tempo. O Buraco das Maravilhas não é um lugar para fracos.

Haruhiro mais ou menos entendeu o que ele estava dizendo. O Buraco das Maravilhas era um lugar onde apenas os mais aptos sobreviviam, onde os fortes devoravam os fracos. Criaturas que não conseguiam defender seu território seriam rapidamente exterminadas.

Até mesmo os três demi-humanos, vistos como as raças mais fracas no Buraco das Maravilhas, podiam ser bastante ferozes, dependendo de seus inimigos. Os ri-komos, baseando-se apenas nas impressões atuais de Haruhiro, eram passivos demais e muito fracos.

O caminho se estendia diretamente à frente. Havia aberturas para virar à esquerda, à direita, e novamente à direita, mas Tokimune as ignorou e seguiu em frente. Em seguida, chegaram a uma bifurcação.

Os ri-komos faziam um barulho infernal, mas não atacavam.

Haruhiro e os outros viraram à esquerda.

Havia duas aberturas à esquerda. Quando passaram por elas, pararam de ver aquele brilho fraco. Eles não ouviam mais as vozes dos ri-komos.

— Será que é o fim do ninho? — Haruhiro murmurou.

Tokimune apontou para frente.

— Não, ainda há um caminho. E além disso…

— Sim.

Eu sei, Haruhiro pensou. O vento.

Havia um fluxo de ar vindo da frente. Era justo chamá-lo de vento.

Haruhiro não estava relaxado, mas de repente se tensionou, esperando por algo. Ele não sabia o motivo. Haruhiro não tinha uma base clara para isso, mas suas expectativas para o que estava por vir estavam crescendo. Por alguma razão, todos os outros pareciam sentir o mesmo.

O caminho começou a serpentear. Além disso, passou a ter uma leve inclinação. Para cima.

— Hã? — Ranta levantou a voz, olhando para a esquerda, para a direita e para trás. — O Zodiac-kun sumiu…

— Não acabou o tempo dele? — perguntou Yume.

— Não pode ser isso. Hmm… — Ranta inclinou a cabeça para o lado. — Bem, tá tudo bem.

Tá tudo bem? Haruhiro pensou por um momento. Bem, acho que tá, reconsiderou, sentindo que talvez estivesse um pouco apressado. Quero chegar ao fim desse caminho o mais rápido possível. Sinto que algo estará lá. Não, definitivamente haverá algo lá.

O vento está frio.

Há luz adiante.

Aquela luz é…

— Heh… — Inui rosnou baixo. — Estamos lá fora, é?

Lá fora, pensou Haruhiro. Não, isso é absurdo. Quero dizer, estamos bem longe abaixo. Isso é subterrâneo. Não podemos estar lá fora. Mas… aquela luz é quase como se estivéssemos ao ar livre. E tem esse vento.

— Ohhhhhhh! Não consigo esperar! — Ranta correu.

— Você…! — Tada correu atrás dele.

— Hahahahahahahaha! — Tokimune começou a correr enquanto ria.

— Não é justo! Eu também, eu também, eu também! — Kikkawa gritou, seguindo-os.

— Heh… — Inui foi também.

— Hah! Não há cura para os tolos! — Anna-san gritou algo insultante e correu atrás deles. — Então, vou também, sabe! Eu tenho que ir, Yeah!

Mimorin estava sem expressão, em silêncio, e avançou com passos largos.

Haruhiro olhou para Kuzaku, Shihoru, Yume e Mary antes de começar a persegui-los em um trote. Ele entendia um pouco o que Ranta e os outros estavam sentindo, mesmo que não quisesse.

Afinal, e se realmente estivessem lá fora?

Claro, ele não achava que estavam. Isso era impossível.

Mas… e se, por uma chance em um milhão, estivessem? Isso seria um acontecimento. Não, poderia ser mais do que apenas “um acontecimento”. Pelo menos, para o pobre Haruhiro, o cara mediano que se esforçava demais, seria um grande acontecimento.

Mesmo sem estar correndo a toda velocidade, ele estava ficando sem fôlego.

Lá fora, ele pensou. Ahh.

— Uau! — Haruhiro gritou.

O céu. Ele podia ver algo como o céu.

— Hyohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! — Ranta soltou um grito bizarro de puro espanto.

— É isso! — Tokimune gritou, aparentemente já tendo ultrapassado Tada.

— Haha! — Tada riu.

Schwing! — Kikkawa não estava fazendo o menor sentido.

O que diabos “schwing” deveria significar?

— Heh… Hahahahaha! — Inui deu uma risada alta de vilão.

— Oh, meu Deus! Oh, meu Deus! — Anna-san estava enlouquecendo.

Mimorin havia parado e ficado imóvel logo após sair. O vento era revigorante. Forte o suficiente para fazer o cabelo espesso de Mimorin esvoaçar na brisa.

Haruhiro parou ao lado de Mimorin.

— Isso…

Encontrar uma cena como essa e só conseguir dizer “Isso…” era uma manifestação precisa da mediocridade de Haruhiro, e isso doía.

— Fuwahhhhhhh… — Yume estava com a boca aberta.

— Não acredito — Shihoru sussurrou, segurando seu chapéu.

— Sério? — Kuzaku estreitou os olhos.

— Isso é— — Mary balançou a cabeça de um lado para o outro, começando a estender a mão em direção a Kuzaku antes de recuá-la.

Havia um céu.

Haruhiro e os outros estavam sob um céu pontilhado de azul profundo, azul com um tom avermelhado, roxo, laranja, amarelo, vermelho e todas as cores intermediárias.

Era o céu do entardecer.

Atrás deles havia um buraco que simplesmente se abria no lado de uma colina, e o céu se espalhava em todas as direções. Eles viam o céu ao crepúsculo quase todos os dias, mas este era diferente. As cores eram muito mais vibrantes. Não, isso não era tudo. O sol nascia no leste e se punha no oeste. Quando o sol se punha, era o céu ocidental que ficava vermelho. Quando o sol nascia, era o oposto. Mas não neste céu.

Ele não conseguia identificar as direções cardeais, mas o céu estava todo vermelho, com toques de amarelo também.

Não havia sinal do sol.

Era quase como se o céu tivesse sido salpicado com diferentes cores de tinta.

Ranta e todos os Tokkis, exceto Mimorin, estavam correndo pela encosta coberta de grama. Havia rochas esbranquiçadas em forma de pilares espalhadas pela colina.

Haruhiro percebeu que Tokimune, os outros e os pilares não lançavam sombra. Claro, o mesmo acontecia com Haruhiro.

— Não — murmurou Mimorin. — Este não é o nosso mundo.

— É — Haruhiro assentiu. — É outro mundo.

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