Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 11 – Vol 01 - Anime Center BR

Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 11 – Vol 01

Capítulo 11

Não Vá!

— Tem um indo em sua direção, Ranta! — Haruhiro gritou, e Ranta respondeu imediatamente.

— Eu já sei disso!

Um dos três goblins que Moguzo e Manato haviam atraído para a linha de frente estava indo em direção a Yume e Shihoru na retaguarda. Haruhiro e Ranta eram a guarda intermediária, então eles deveriam tentar pegar os goblins por trás ou pelo lado, mas eles precisavam defender a linha de trás também. Então Ranta, que estava mais perto das duas, foi enfrentar o goblin.

Fazia treze dias que eles tinham começado a lutar contra os goblins na Cidade Velha de Damuro, então eles conseguiam fazer esse tipo de jogo em equipe sem dizer uma palavra um ao outro. No entanto, de vez em quando, Ranta ficava obcecado com seu próprio estilo de luta ou com suas habilidades, prejudicando completamente o trabalho em equipe. Felizmente, dessa vez ele estava bem.

— Há! Anger!

Ou não.

Ranta saltou para fora do alcance de seu oponente, com a espada longa estendida,  sua habilidade adquirida mais recentemente. Ela falhou de forma espetacular.

— O quê?! Você não é apenas um goblin qualquer, não é…?!

— É claramente apenas um goblin qualquer, cara! — disse Haruhiro, olhando para Manato com uma piscadela.

Podia-se contar com Moguzo e Manato para lidar com seus dois goblins. Haruhiro correu e ficou atrás do goblin que estava pressionando Ranta com uma espada enferrujada.l

— Droga…! — Ranta desviou sua lâmina enferrujada, olhando de relance para Haruhiro.

Não olhe para mim, pensou Haruhiro enquanto mirava.

Ranta não era o único que havia aprendido uma nova habilidade. Cada um deles havia aprendido uma nova habilidade em suas guildas. No entanto, como tinham acabado de aprendê-las, só sabiam como executá-las. Haruhiro não estava confiante de que poderia usar sua habilidade de forma eficaz na batalha, mas se não fizesse um esforço ativo para usá-la, nunca passaria desse ponto.

Paguei um bom dinheiro para aprender essa habilidade e juro que vou dominá-la, ele jurou. — …Mas é mais fácil falar do que fazer.

O goblin era cauteloso, virando-se com frequência para se proteger, pulando com agilidade e balançando sua espada enferrujada para manter o controle. Haruhiro simplesmente não conseguia alinhar um bom ataque.

Se Ranta conseguisse mantê-lo ocupado, ele estaria bem, mas achou que seria um erro contar com isso. Ranta não era do tipo que deixava o foco do inimigo recair inteiramente sobre ele. Haruhiro também não era. Os dois estavam com muito medo de entrar em uma troca séria de golpes, então tentaram fazer um círculo para ficar atrás dele, ou pelo menos ao lado dele. Por causa disso, eles andavam em círculos ao redor do goblin e, é claro, o goblin girava em círculos tentando não deixá-los chegar atrás dele, então ninguém tinha ideia do que estava acontecendo.

— Poxa! O que vocês dois tão fazendo! — Yume puxou seu facão e atacou o goblin com um golpe.

Parecia que ela o havia pegado de surpresa. Ele ficou paralisado por um segundo.

Yume balançou seu facão como se estivesse desenhando uma forma de X.

Diagonal cross!

O goblin gritou, caindo para trás devido ao ataque repentino, mas sofreu apenas um corte superficial no ombro. Ele estava de costas para Haruhiro.

Agora, pensou Haruhiro, mas seu corpo já havia se movido por conta própria. Em um fôlego, ele fechou o espaço e enfiou a adaga nas costas do goblin com um giro. Essa era sua habilidade, Backstab.

Talvez pelo fato do goblin estar usando apenas uma armadura de couro macio, a adaga de Haruhiro afundou uns bons 10 cm. O goblin tentou se virar, então Haruhiro arrancou a adaga dele, recuando. O goblin tossiu sangue e, o que quer que fosse tentar fazer em seguida, caiu. Ele ainda estava se contorcendo, mas Haruhiro podia dizer que estava às portas da morte. Se não estivesse, ele teria se debatido com mais violência.

— Hã…? — Haruhiro olhou de um lado para o outro, de sua adaga para o goblin caído. — Será que o acertei em um bom lugar? Talvez? Ou em um ponto vital…?

— Caramba?! Tenho que acabar com isso! — Ranta saltou sobre o goblin, cravando sua espada longa em seu pescoço. — Boa! Consegui meu vício!

Yume arqueou as sobrancelhas. — A Yume sempre pensa isso depois de cada batalha, mas os cavaleiros das trevas são mesmo selvagens, hein.

— Não diga “selvagens”! Use o termo mais elegante, “atroz”! Nós, cavaleiros das trevas, servimos ao Deus das Trevas, Lorde Skullhell. Somos atrozes e desumanos, cavaleiros frios e impiedosos, sem sangue nem lágrimas!

Ohm, rel, ect… — Shihoru desenhou sigilos elementais com seu cajado, começando a entoar um feitiço. — Vel, darsh…!

Os magos usavam o poder de criaturas mágicas chamadas elementais. Shihoru havia invocado um elemental das sombras, que parecia uma massa de algas negras. Ele fazia um ruído característico de vuuuuon enquanto voava. Esse era o feitiço Shadow Beat.

Em vez de Arve Magic, a magia do fogo, Kanon Magic, a magia do gelo, ou Falz Magic, a magia da eletricidade, Shihoru escolheu aprender Darsh Magic, a magia da sombra. De certa forma, Haruhiro sentiu que a própria personalidade de Shihoru havia se manifestado nessa decisão.

O elemental das sombras atingiu o goblin que Manato estava enfrentando na parte de trás da cabeça. Mas não foi apenas a cabeça do goblin que foi afetada: o corpo inteiro do goblin convulsionou por um momento e ele soltou um grito estranho. Em vez de calor, frio, eletricidade ou força bruta, Shadow Beat era um feitiço que usava a oscilação intensa para causar dano.

Manato imediatamente seguiu com um golpe de seu cajado curto e, em seguida, chutou o goblin para o chão. Ranta atacou o goblin caído.

— Toma esse Hatred…!

Atingi-los quando estavam no chão era uma especialidade do Ranta. Não havia necessidade de usar uma habilidade em um goblin já enfraquecido que já havia caído, mas esse tipo de raciocínio não tinha lugar na mente dele. Ranta tentou cortar o goblin com sua espada longa – e falhou. A espada longa atingiu a lateral da cabeça do goblin e ricocheteou em seu crânio com um baque úmido. Isso fez com que Ranta perdesse o controle.

— Droga! Você é apenas um goblin estúpido! Toma essa! E essa! E mais essa…!

Enquanto Ranta atormentava o goblin quase morto, Haruhiro foi cuidar do outro que Moguzo estava enfrentando.

Não, parecia que Haruhiro não precisaria fazer nada. O goblin brandiu sua espada enferrujada com um grito, mas Moguzo a bloqueou com sua espada bastarda. Suas lâminas se travaram. Moguzo tinha a vantagem agora. Ele era forte e tinha aprendido uma habilidade que lhe permitia passar do bloqueio de lâminas para o ataque.

— ungh…! — Moguzo envolveu sua espada bastarda ao redor da lâmina enferrujada, cortando o rosto do goblin com a ponta. Essa era sua habilidade, Wind. Moguzo não era rápido, mas era bastante habilidoso. O goblin vacilou e deu um passo para trás.

Haruhiro gritou:

— Pega ele Moguzo! —, e Moguzo foi. Ele se aproximou, cortando na diagonal com toda a sua força.

Obrigado…!

Rage Blow era a mais básica das habilidades ensinadas a um guerreiro no treinamento para iniciantes. Parecia algo que qualquer um poderia copiar depois de vê-la, mas provavelmente era difícil encontrar o momento certo para realmente acertar um golpe com ela. Sempre que Moguzo usava o Rage Blow, ele gritava “Obrigado!”, então o grupo o chamava de Thanks Slash. Era um nome bonito que escondia um golpe bastante poderoso.

A espada do Moguzo atravessou o ombro do goblin e chegou até a metade do seu peito. Com um grunhido, ele balançou a espada, e o goblin voou.

— Ihuull! — Ranta correu até o goblin, empalando-o com sua espada longa.

Haruhiro teve que concordar com Yume: Ranta era realmente selvagem. Ele agiu como um bárbaro total, cortando a orelha do goblin com a espada e gritando.

— Gyahaha! São três vícios seguidos! Isso totaliza onze vícios! Meu demônio tá upado! Sempre que ele tiver vontade, sussurrará no ouvido do inimigo para distraí-lo! Isso é incrível!

— Sempre que ele tiver vontade…? — Haruhiro disse com um suspiro. — Seu demônio com certeza é inútil, hein.

— Ei! Eu não vou deixar essa passar, Haruhiro! Não fique desdenhando do Zodiac-kun, ou eu vou te amaldiçoar maldito!

Zodiac-kun era o nome que Ranta tinha dado ao seu demônio. Bem, não, Zodiaco era seu nome correto. Zodiac-kun era mais um apelido. De qualquer forma, isso não importa.

— Mas, você só pode chamá-lo à noite, de qualquer forma.

— Idiota, quando chega a onze vícios, sua classificação sobe, então poderei chamá-lo ao anoitecer e logo antes do sol nascer!

— Geralmente, voltamos para Altana ao anoitecer, e você ainda está dormindo quando o sol nasce.

— Hmm. Bem, sim, mas… — Yume tinha as bochechas inchadas de raiva, com os olhos brilhando. Era uma expressão muito complexa. — Ao contrário de seu dono, o Zodiac-kun é até que fofo, sabe?

— Eu não sou o dono dele! Não se pode “possuir” um demônio como se fosse um animal de estimação. Na verdade, Zodiac-kun está me possuindo. Afinal, ele é um demônio!

— …O que significa — Shihoru olhou para o chão, rindo sinistramente, — que antes que ele pudesse amaldiçoar Haruhiro, Ranta já havia sido amaldiçoado…

— Bem, sim, acho que sim. E-Eu?! Sério? Zodiac-kun, você está me amaldiçoando? De jeito nenhum, não é? Zodiac-kun? Qual é a sua opinião sobre isso? Espere, não, é dia, não posso perguntar a ele ainda…

— Bom trabalho, pessoal — Manato olhou para cada um deles com um sorriso. — Vou curar seus ferimentos, então… Na verdade, parece que ninguém está ferido. Mesmo assim, se estiverem sentindo alguma dor, é só me dizer. Mas se todos acharem que estão bem, vamos checar as bolsas dos goblins.

— Eu, eu, eu! Eu vou fazer isso! Eu! Deixem que eu faço isso! — gritou Ranta.

Nas três bolsas dos goblins, eles encontraram sete moedas de prata, duas pedras que pareciam valer alguma coisa, três presas ou ossos que eles não sabiam se poderiam vender ou não, bem como algumas porcarias variadas que eles acharam que não valiam nada. Dependendo do preço das pedras, eles teriam mais de dez pratas se tivessem sorte, mas pelo menos oito se não tivessem.

Eles haviam saído de Altana às 7:00 da manhã para chegar à Cidade Velha de Damuro às 8:00. A julgar pelo ângulo do sol, já passava do meio-dia. Haruhiro e os outros deram aos goblins um enterro simples, ou melhor, apenas os limparam, e depois fizeram uma pausa à tarde em um local não muito distante. Cada um deles havia trazido pão, carne seca ou outros alimentos em suas mochilas. Era hora de desfrutar de um bom almoço.

— Oh, tenho que rezar. — Yume cortou uma fatia fina da carne seca com sua faca, deixando-a no chão enquanto juntava as mãos e fechava os olhos em oração. — Deus branco Elhit-chan, obrigada por tudo. A Yume vai dividir um pouco da comida dela com você, então fique de olho nela, ok?

— Então, sobre o que você está fazendo aí — disse Haruhiro, arrancando um pedaço de pão. Ele veio da padaria Padaria do Tattan, nos arredores da cidade oeste. Estava duro como pedra, mas era barato e tinha um gosto decente. — Esse é um ritual que está descrito nas regras da guilda dos caçadores, não é? Você tem que oferecer um pouco de sua comida ao seu deus, certo?

— Sim, isso mesmo. — os olhos de Yume estavam arregalados de entusiasmo e ela se virou para encará-lo. — O Deus Branco Elhit-chan é um lobo muito grande, sabe? E tem um Deus Negro muito grande chamado Rigel que também é um lobo. Elhit e Rigel se dão super mal um com o outro. Como Elhit-chan cuida de nós caçadores, podemos caçar diariamente sem nenhum acidente.

— Então, basicamente, é um ato de adoração. Os caçadores adoram o Deus Branco Elhit. Mas você está chamando seu deus de Elhit-chan e se oferecendo para compartilhar um pouco da sua comida. Isso tá certo?

— Não, está tudo bem — Yume deu uma risadinha. — Elhit-chan é bondoso, então Yume não acha que Elhit-chan ficaria bravo com ela por causa de algo assim, sabe. Na verdade, Elhit-chan nunca ficou bravo com Yume.

— …Seus sentimentos — disse Shihoru, enquanto segurava cuidadosamente algo que parecia uma rosquinha. — Acho que seus sentimentos são o que chega até seu deus. Mas, isso é apenas o que eu acho…

Manato tomou um gole de um odre de couro e depois disse:

— Sim —, com um aceno de cabeça. — As palavras que você diz são importantes, mas o sentimento que você coloca ao dizê-las é ainda mais importante. As orações que nós, sacerdotes, usamos em nossa magia de luz não funcionarão se dissermos as palavras erradas, mas não acho que seja o mesmo para suas orações.

— Yume coloca muito, muito, muito sentimento nisso. — Yume abriu bem os braços para mostrá-los. — A Yume vai dormir à noite, e bem, quando ela dorme, Elhit-chan aparece em seus sonhos com frequência. Yume perguntou: “Posso andar nas suas costas, Elhit-chan?” e, quando ela perguntou, Elhit-chan disse: Claro. Yume foi dar uma volta em Elhit-chan e nós corremos como se fôssemos um vuuuum. Elhit-chan é muito rápido. Aí Yume disse: “Isso é incrível”.

— …Essa história — Ranta mastigou ruidosamente sua carne seca enquanto fazia uma cara amarga. — é bom ela ter um bom ponto no final. Eu segurei minha língua e escutei por um longo tempo, então se não tiver um bom ponto, eu vou te bater. sério.

— Um bom ponto? — Yume inclinou a cabeça para o lado e piscou para ele várias vezes. — Não. Não há nenhum.

*Tropeça* Ranta gritou e fez uma careta incrível. — Você é idiota?! Não conte histórias longas e sem sentido! O que  fará se eu me afogar até a morte, incapaz de escapar da espiral de expectativas frustradas?

— oba… — Shihoru murmurou baixinho. — Adoraria que você se afogasse até a morte…

— Aah! — Ranta apontou para Shihoru. — Ah! Ahhhh! Eu ouvi isso! Eu ouvi você, Shihoru! Agora mesmo, você acabou de dizer para eu morrer, não foi, hein?!

— …Eu só disse que adoraria que você se afogasse.

— Você tá até pedindo para os outros morrer agora! Você é horrível! Essa é a coisa mais baixa que você pode fazer como pessoa! Você é a garota mais podre e horrível de toda a história, é isso que você é!

— Não se importe com ele, Shihoru. — Yume segurou Shihoru com força, dando-lhe um tapinha na cabeça. — O cara que está dizendo isso é o mais lixo dos lixos, afinal de contas. Você não fez nada de errado, Shihoru. A culpa é do Sr. Terrível. Ele é tão lixo que talvez nem seja humano.

— Eu sou humano, ok?!

— Mesmo que você tenha esse cabelo bagunçado — disse Haruhiro.

— Sim! Mesmo com meu cabelo bagunçado… — Ranta começou a concordar. Então ele se virou para encarar Haruhiro, puxando seu cabelo enquanto o fazia. — O cabelo não tem nada a ver com isso! Caramba, eu até consideraria torná-lo um requisito para ser humano! Quem não tem cabelo cacheado não é humano! O que acha disso?!

— …Se é assim que vai ser — disse Moguzo, engolindo um pão duro do tamanho de um punho, — talvez eu não queira ser humano.

— Yume, também.

— …Eu também.

— O mesmo.

— Espere um pouco. — Um olhar estranhamente sério caiu sobre o rosto de Manato. — Vamos pensar nisso com calma, ok? Vamos pensar se o cabelo cacheado é realmente o problema aqui. Acho que não. Os cabelos cacheados não nos fizeram mal. O cabelo cacheado não é o culpado. Na verdade, eu diria que o cabelo cacheado pode ser a vítima em tudo isso.

— Hm? — Ranta puxou seu cabelo. — …A vítima? Esse cara? Então, o vilão é… Euuue?! Está dizendo que é minha culpa que o cabelo cacheado tenha se tornado maligno?!

— Eu estava brincando, Ranta.

— Manato! Você está sempre sorrindo, então é difícil saber quando está brincando e quando está falando sério! É um safadinho de coração negro usando um sorriso como máscara!

— Ele não é! — Shihoru se levantou e gritou. Seu rosto estava vermelho vivo e parecia que o vapor poderia começar a sair de suas orelhas a qualquer momento. — Ele não é!  N-Não o Manato-kun! Retira o que disse! A-Agora mesmo! Faça isso!

— … C-Claro — Ranta ficou surpreso. — Mas será que preciso mesmo? Não é como se eu realmente pensasse isso, sabe? Se tenho que sofrer abusos, não é justo eu responder um pouco também?

— Retira!

— Tudo bem, o Manato não é um canalha.

Eu pensei que poderia ser o caso, mas isso praticamente confirma. Shihoru tem uma queda por Manato. Será que ele não percebe isso? Não acho que ele seja assim, então não é isso. Ele está fingindo não perceber, então? Se estiver, talvez Manato não sinta o mesmo por ela. Pobre Shihoru. Embora eu não tenha certeza se devo sentir pena dela.

— Nós nos tornamos um bom grupo.  disse Manato em voz baixa para si mesmo.

— Hm?

— Agora podemos enfrentar até três goblins de cada vez. Ninguém se machucou, então acho que é seguro assumir que podemos lidar com mais. A Yume é muito melhor com um facão do que com um arco. Ela tem muito espírito. Se estudarmos um pouco mais nossa estratégia, talvez possamos até lidar com quatro.

— Ah, quanto a isso… — Haruhiro imaginou isso. Moguzo e Manato dariam conta de um, Haruhiro, Ranta e Yume dariam conta dos outros dois. Se Shihoru pegasse um com Shadow Beat para que eles pudessem acabar com ele rapidamente, Haruhiro achava que eles poderiam fazer isso. — Sim, quatro parece possível.

— Eu sabia que poderíamos contar com Moguzo. Afinal de contas, ele tem um corpo enorme. Só de estar lá, ele sobrepuja o inimigo. E tem uma ótima  precisão com a sua espada, ele consegue fazer muito bem o que se espera de um guerreiro.

— Concordo. Também estava pensando nisso. Moguzo é muito talentoso com as mãos.

Moguzo engoliu um pãozinho. — …V-Vocês acham? Não sei o porquê, mas gosto de fazer trabalhos detalhados.

— Isso não combina com você! — Disse Ranta, descarregando sua frustração nele. Moguzo apenas deu de ombros.

— Ei, isso é uma coisa boa — disse Haruhiro, olhando levemente para Ranta. — Moguzo não é desleixado, ao contrário de uma certa pessoa.

— Oh? O quê, está dizendo isso para mim? Eu, o cara que eles chamam de Máquina de Precisão Turbinada?

Yume olhou friamente para o Ranta enquanto afagava a cabeça de Shihoru. — Ninguém nunca te chamou assim, Ranta.

— Ranta também é incrível. — A julgar pela expressão discreta no rosto de Manato, ele não estava brincando. — Especialmente pelo fato de ele estar sempre pronto para atacar. Ele não tem medo de falhar, então acho que ele melhorou no uso de suas habilidades mais rápido do que qualquer um de nós. O resto de nós, inclusive eu, somos mais cautelosos, pode-se dizer. Sem Ranta por perto, talvez não estaríamos dispostos a dar o próximo passo.

— Sim, acho que sim? — disse Ranta, olhando com preocupação. Será que isso o deixou incerto? — Bem, você sabe como eles me chamam. A Máquina do Avanço do Redemoinho, não é?

Haruhiro brincou:

— O que aconteceu com a Máquina de Precisão Turbinada?

— Quanto a Shihoru… — Manato fez uma pausa para respirar.

Afinal, ele notou os sentimentos de Shihoru por ele, supôs Haruhiro.

— …Shihoru está sempre atenta ao que a cerca. A magia Darsh tem muitos feitiços que podem confundir ou prender o alvo, não é? Isso permite que ela nos ajude quando necessário. Você queria aprender Magia Darsh para poder nos ajudar mais, não é mesmo, Shihoru?

Shihoru ficou olhando fixamente por um segundo, mas depois assentiu sem dizer uma palavra.

Achei que ela tinha deixado de lado as opções fáceis de entender, como fogo, gelo ou eletricidade, e escolhido uma opção mais específica, porque Shihoru é assim mesmo. Eu estava errado? Não era apenas uma questão de gosto dela. A Shihoru levou isso em consideração de forma genuína. Eu sou tão estúpido. Não sei nada sobre ela.

Manato olhou para Yume. — Acho que a Yume pode muito bem ser a mais corajosa de todos nós. Ela não tem medo de nada. Como curandeiro, eu gostaria que ela fosse mais cuidadosa, mas também estou feliz que Yume possa estar lá para ajudar se algo acontecer.

— A Yume é? — disse Yume, apontando para si mesma, com o rosto derretendo de alegria. — Tem certeza? A Yume é realmente tão corajosa assim? A Yume acha que nunca ouviu isso antes. Mas, talvez ela não ache que tenha muitas coisas que sejam assustadoras. E Yume espera que tenham um pouco de paciência com ela por ser uma caçadora que não sabe usar um arco.

— Todo mundo tem coisas que não consegue fazer — disse Manato, como se estivesse tentando se convencer disso também. — Quando se está sozinho, essas falhas podem ser fatais, mas nós somos um grupo. Podemos compensar as falhas uns dos outros.

— Ah, sim. — Yume acenou com a cabeça repetidamente. — É isso mesmo. A Yume pode causar problemas para todos vocês daqui para frente, mas ela fará o que estiver ao seu alcance.

Depois disso, eles continuaram conversando durante o almoço até chegar a hora de começar o trabalho da tarde. Quando estavam indo embora, Haruhiro lembrou de algo.

Manato elogiou todos os outros, mas será que ele falou alguma coisa sobre mim? Talvez ele tenha se esquecido. Ou será que não havia nada de louvável em Haruhiro? Será que o Manato tem uma opinião negativa sobre mim? Mas acho que conversamos muito. Talvez eu seja útil apenas como alguém com quem conversar?

Isso o preocupava, mas era um pouco tarde para perguntar: “Ei, Manato, e quanto a mim…?” Isso teria sido muito embaraçoso.

Ah, bem.

Ele provavelmente havia se esquecido, ou a conversa havia prosseguido antes que ele pudesse falar de Haruhiro, só isso. Isso ainda deixava Haruhiro um pouco ansioso, mas foi assim que ele decidiu encarar a situação.

Concentre-se, cara. Você precisa se concentrar.

— …Encontrei alguns.

Haruhiro levantou a mão, sinalizando para que o grupo parasse. Todos eles se esconderiam nas sombras até que as coisas fossem exploradas. É claro que Haruhiro iria fazer isso sozinho. Havia raras ocasiões em que Ranta queria ir junto, mas, sinceramente, Haruhiro achava que era mais fácil para ele ir sozinho. Dessa forma, ele só precisava se preocupar consigo mesmo.

Assim que eu juntar dinheiro suficiente,  conseguir ser furtivo é uma das técnicas de ladrão que eu definitivamente quero aprender. É claro que estou fazendo o possível para não fazer barulho enquanto ando, mas deve haver algum truque para isso. Quero saber o que é isso. Quero que a Barbara-sensei me ensine.

Os goblins estavam em um prédio de pedra de dois andares, que estava quebrado. O segundo andar havia desmoronado em grande parte, e parte da parede do primeiro andar também havia desmoronado em alguns lugares. No segundo andar, que mais parecia uma varanda aberta, havia um goblin vestido com uma armadura de metal de aparência sólida com uma espada pendurada nas costas, enquanto no primeiro andar havia outro goblin sentado no chão. Ele era grande.

A maioria dos goblins tinha entre 1,20m e 1,30m de altura. Se atingissem 1,40m, eram bem grandes para sua espécie. Eles eram uma raça de criaturas do tamanho de crianças humanas. Mas esse goblin não era nada disso. À distância, era difícil dizer sua altura exata, mas ele era facilmente um, talvez dois, tamanhos maiores do que o goblin do andar de cima.

Nunca vi um goblin como esse antes. Quanto ao equipamento, isso é uma cota de malha que ele está usando? Ele tem até um capacete simples. Não dá para saber quais armas ele tem daqui.

Procurei na área ao redor do prédio e parece que não há mais nenhum. Há dois goblins. O goblin de armadura e o goblin grande.

Haruhiro voltou para os outros.

— É perigoso. São apenas dois, mas um deles é enorme.

— Um hobgoblin. — Os olhos de Manato se arregalaram um pouco. — Eles são uma sub-raça de goblins, com uma constituição maior do que a dos goblins comuns. Eles são brutos estúpidos que os goblins usam como escravos, então talvez seja isso que esse seja.

— Ah, é mesmo? — Ranta lambeu os lábios. — Se ele tem um escravo, pode ser um goblin de alto escalão, não acha? Se for, deve ter um bom saque, com certeza.

Haruhiro acariciou seu queixo. — Um tinha uma armadura de metal. O hobgoblin também estava usando cota de malha. E um capacete. Talvez fosse grande o suficiente para um de nós usar.

— Ooh… — Moguzo soltou em aprovação. Como guerreiro, Moguzo enfrentava o inimigo em batalhas direta, os itens de defesa eram importantes para ele. Mas também eram caros. Os novos estavam bem fora de sua faixa de preço e, se optassem por produtos usados, teriam de procurar muito para encontrar um que servisse ou ir a um ferreiro de armaduras para ajustar. Era por isso que todos eles, inclusive Moguzo, ainda estavam usando o material que suas guildas lhes haviam dado.

— Dois deles, hein. — Manato baixou os olhos. Ele parecia indeciso.

— Hmm — Yume olhou para cima na diagonal em pensamento. — Mas a Yume acha que podemos lidar com dois deles.

— Se eu… — Shihoru segurou seu cajado com força. — …fosse mirar em um e conseguisse atingi-lo com um feitiço, seria mais fácil lidar com as coisas depois disso… Acho.

— A Yume vai tentar atirar algumas flechas nele também. Mesmo que ela erre, os goblinchi ficarão assustados, então poderá acertar com mais facilidade.

Manato olhou para o rosto de seus companheiros. Todos estavam ansiosos para lutar. Talvez seu elogio anterior tenha levantado a moral deles, pois estavam mais animados do que o normal. Haruhiro não estava, e ele se sentiu um pouco excluído por causa disso, mas não queria ser um estraga prazeres. Haruhiro disse:

— Acho que podemos fazer isso —, e Manato assentiu.

— Certo, vamos fazer isso.

O plano foi elaborado em pouco tempo. Haruhiro, Yume e Shihoru iriam primeiro, iniciando o ataque de longa distância. Quando o inimigo os notasse, Moguzo e Manato iriam para a linha de frente. Moguzo ficaria com o hobgoblin e Manato com o goblin de armadura. Haruhiro, Ranta e Yume atacariam por trás ou pelos flancos, enquanto Shihoru os apoiaria com magia à distância.

Eles formaram um círculo, todos colocando as mãos no centro. Manato gritou “Faito!” e todos levantaram as mãos ao mesmo tempo e gritaram “Ippatsu!”.

 

(NT: “Faito ippatsu” é uma frase japonesa que se traduz literalmente para “um tiro alto”. É frequentemente usada como um grito motivacional ou incentivo para fazer algo com grande esforço ou energia. Também pode ser usado para expressar entusiasmo ou surpresa.

 

Em algum momento, eles começaram a fazer isso para levantar o ânimo, mas o motivo pelo qual faziam isso permanecia um mistério para Haruhiro.

— …O que será que faito ippatsu significa? — ele comentou.

— …Vai saber… — Shihoru inclinou a cabeça para o lado, intrigada. — Mas fazer isso me dá uma vaga sensação de nostalgia.

— A Yume também tem essa sensação. Mas ela não sabe o que é isso. Estranho, não é?

Haruhiro se aproximou do prédio de dois andares com Yume e Shihoru. Manato, Moguzo e Ranta também estavam seguindo, cerca de seis ou sete metros atrás. Qualquer que fosse o alcance de um arco, a magia tinha um alcance de cerca de dez metros.

Podemos nos aproximar o suficiente a ponto de ficar a dez metros de distância? Isso pode ser um pouco difícil. Mais para impossível. Usando  essa parede. Ela fica a cerca de quinze metros do prédio, mas se passarmos por ela, os goblins vão nos notar.

Haruhiro aproximou seu rosto do ouvido de Shihoru. Ele estava prestes a sussurrar algo para ela, mas ela tinha um cheiro doce e característico, o que dificultava a respiração.

— …Shihoru, você está usando alguma coisa?

— …Hã? O que você quer dizer com isso?

— Não, deixa. Desculpe. Você acha que pode atingi-los daqui? É um pouco longe.

— …Vou tentar. Mas não tenho certeza.

Shihoru levou a mão ao peito, respirando fundo.  Yume preparou seu arco e lançou uma flecha. Os goblins não estavam olhando na direção deles. Os dois saíram de trás da parede, e Shihoru começou a desenhar sigilos elementais com seu cajado.

Ohm, rel, ect, vel, darsh…!

Com um vuuuon, um elemental de sombra que parecia uma bolha de algas negras foi lançado da ponta do cajado de Shihoru. Ao mesmo tempo, Yume soltou uma flecha. A flecha passou por cima da cabeça do goblin de armadura, enquanto o elemental das sombras atingiu o hobgoblin no braço esquerdo, fazendo com que ele gaguejasse e se contorcesse. Parecia que o goblin de armadura havia notado a flecha. Ele se virou na direção deles e Haruhiro gritou:

— Fomos vistos!

— Vamos avançar! — Manato deu a ordem imediatamente.

O hobgoblin pegou uma clava com espinhos que havia sido deixada a seus pés, levantando-se de forma instável. Parecia que a magia Shadow Beat havia funcionado.

O goblin de armadura tinha algo em suas mãos. O que era isso? Uma arma? Havia algo que parecia um arco montado na extremidade de uma coronha robusta. O goblin de armadura se virou para apontá-la para eles.

Haruhiro colocou uma mão nos ombros de Yume e Shihoru. Se protejam, ele tentou dizer. A flecha voou antes que ele pudesse.

Haruhiro empurrou Shihoru e Yume para baixo, fazendo-as aterrissar de costas. Haruhiro deu um passo para trás com um gemido. Então veio a dor. No lado esquerdo de seu peito. Ela estava lá. Uma flecha. Ela doeu. Doeu, doeu, doeu.

Haruhiro se agachou. Mudar de posição doía. Ficar parado doía. Doía tanto que ele não conseguia respirar.

Shihoru soltou um gritinho, enquanto Yume colocou a mão nas costas de Haruhiro.

— Haru-kun…?!

Ele ofegou, incapaz de dizer que estava doendo.

Não me toque. Apenas não toque. Está doendo. Isso é ruim. Eu vou morrer? Não é? Eu, morrer? Não, isso não vai acontecer. Acho que não. Eu não quero morrer. Mas está doendo. Dói muito. Socorro. Alguém! Isso não é bom.

— Haruhiro!

É Manato. O Manato está aqui por mim.

De repente, Manato arrancou a flecha. Parecia que algo importante havia sido arrancado com ela, e Haruhiro tossiu sangue.

Se você fizer assim, eu vou morrer, Manato.

Manato não se preocupou com isso, fez o sinal do hexagrama e fez uma oração.

— Ó Luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre você… Cure.

A luz saiu das mãos de Manato, fechando o ferimento de Haruhiro.

Acho que provavelmente estou curado. Mas a dor não vai embora.

Haruhiro inspirou, e inspirou, e inspirou. Doía muito para expirar. Com o tempo, a dor diminuiu. Ele conseguia respirar corretamente. Haruhiro tentou tocar o lado direito de seu peito. Estava encharcado de sangue, mas não doía.

— M-Manato…! — Ranta gritou. — Rápido! Não podemos continuar assim…!

Manato perguntou:

— Você está bem? — e, assim que Haruhiro assentiu, ele saiu correndo.

Ah, claro. Durante o tempo em que Haruhiro estava sendo curado após ser atingido, a batalha continuou. Ele olhou para o prédio. Havia uma batalha intensa acontecendo, com Moguzo contra o hobgoblin, e Ranta e Yume contra o goblin de armadura. Será que Manato estava planejando ir ajudar Ranta e Yume?

Um raio de luz do feitiço Magic missile de Shihoru atingiu o hobgoblin, mas nem sequer o abalou. Haruhiro se levantou apressadamente. Com a ajuda de Manato contra o goblin de armadura, eles conseguiriam de alguma forma. Ele precisava fazer alguma coisa com o hobgoblin.

— Moguzo, aguente firme…! —Haruhiro chamou Moguzo enquanto ele se posicionava atrás do hobgoblin. Sua atenção deve ter se concentrado apenas no Moguzo à sua frente, porque o hobgoblin nem sequer olhou para Haruhiro. Seria fácil dar um Backstab assim. Ou, pelo menos, deveria ter sido, mas ele simplesmente não conseguia se aproximar o suficiente.

A altura do hobgoblin estava mais ou menos entre Haruhiro e Moguzo. Também parecia ser mais grosso que o Moguzo. Sua clava com espinhos parecia ser feita de madeira, mas era bem grossa. Se levasse um bom golpe daquela coisa, nem mesmo Moguzo, com sua cota de malha, sairia ileso.

Cota de malha. Certo. O problema é a cota de malha do hobgoblin. Não é só na parte superior do corpo, ele está usando até calças feitas de correntes. E ainda tem o capacete. Pode-se dizer que é uma defesa perfeita. Será que posso fazer alguma coisa com minha adaga?

— Obrigado…! — Moguzo soltou seu ataque especial, o Thanks Slash.

Haruhiro estava pronto para aplaudir por um segundo, mas então se viu boquiaberto. A espada bastarda de Moguzo havia acertado o ombro esquerdo do hobgoblin e, ainda assim, o hobgoblin apenas cambaleou um pouco, sem perder o ritmo antes de contra-atacar. Moguzo quase desviou tarde demais da clava que se aproximava. Não, o estava empurrando para trás. A postura de Moguzo se desfez.

Isso é ruim. Moguzo vai ser morto.

— Ora, seu filho de uma…! — Haruhiro deu um chute no corpo do hobgoblin, e tentando esfaqueá-lo com sua adaga. Ouviu-se um barulho desagradável, mas… Não adiantou, a lâmina não atravessou. Ela ricocheteou. Mesmo assim, o hobgoblin se virou para encarar Haruhiro.

O clava está chegando.

Haruhiro pulou para fora do caminho.

Isso é assustador. Nem passou de raspão em mim. Eu tinha espaço de sobra. Mas isso foi perigoso. Parecia que meus órgãos estavam enrolados dentro de mim, como se eu estivesse mais morto do que vivo. Haruhiro se afastou. Ele não tinha outra escolha.

— Droga, não consigo fazer isso…!

Ohm, rel, ect, vel, darsh…! — Shihoru entoou um feitiço. Um elemental das sombras se chocou contra o flanco do hobgoblin, fazendo ele tremer violentamente.

Moguzo atacou com sua espada bastarda sobre o hobgob em convulsão. — Hungh!

Um golpe na cabeça. Faíscas voaram, o capacete foi amassado e o hobgob cambaleou.

Haruhiro gritou:

— Agora é a nossa chance! — e correu para ajudar. Ele chegaria com uma voadora. O hobgoblin era assustador, mas não se ele pudesse simplesmente derrubá-lo.

Antes que ele pudesse pular, Manato o chamou.

— Haruhiro, venha aqui! O Ranta…!

— O quê?! — Ele olhou e viu o Ranta no chão, sangrando pelo pescoço. — O pescoço dele…?!

Manato estava tentando verificar os ferimentos de Ranta, o que significava que Yume precisava enfrentar o goblin de armadura sozinha.

Merda, isso é péssimo.

Haruhiro atacou o goblin de armadura que estava gritando e balançando uma espada afiada contra ela enquanto perseguia Yume.

— Ei, goblin, aqui!

Isso chamou sua atenção, mas agora ele tinha que trocar golpes com ele. Não que ele conseguisse. O goblin de armadura agilmente balançou uma espada que tinha quase o mesmo comprimento da espada longa de Ranta.

Haruhiro corria de um lado para o outro. Ele estava se esforçando ao máximo para se esquivar, em geral, fugir. O goblin de armadura era mais perspicaz do que qualquer outro goblin que eles haviam enfrentado antes. Com a habilidade com a espada que ele estava demonstrando, ele começou a suspeitar que ele havia passado por algum tipo de treinamento especializado. Se ele tentasse desviar os golpes do goblin de armadura com algo tão frágil quanto uma adaga, quem sabe o que aconteceria com ele. Ele se preocupava em saber se Moguzo estava bem sozinho, mas não podia se dar ao luxo de olhar para o lado para verificar.

Brush Clearer… — Yume golpeou o goblin de armadura por trás, com uma poderosa varredura lateral com seu facão. No entanto, parecia que o ataque havia sido previsto. O goblin de armadura se virou e desviou facilmente do facão, arrancando-o das mãos de Yume, e então continuou com outro ataque.

— Não está dando…! — Haruhiro se lançou contra o goblin de armadura. Ele não queria pensar nisso, mas talvez o goblin tivesse previsto isso também, pois ele se virou, balançando a espada contra ele.

Droga! Haruhiro se esforçou para pegar o golpe com sua adaga. Não é bom. Não consigo pará-lo completamente.

Houve um grito de metal contra metal quando a espada do goblin de armadura correu pela lâmina e, quando ele não conseguiu pará-la, mesmo com o protetor de mão, ela mordeu o braço direito de Haruhiro.

— Ugh… — Haruhiro largou a adaga. O goblin de armadura avançou com força.

Anger…! — Era Ranta.

Ranta saltou pela lateral, golpeando. O goblin de armadura se agachou e saiu do caminho, sem perder o fôlego antes de mudar para o contra-ataque.

Ranta caiu para trás. Imediatamente, ele recuou na diagonal. — Merda! Isso é besteira! Não passa de um maldito goblin…!

Ranta não estava com uma boa aparência. Estava pálido e suando muito. Parecia que o ferimento havia sido curado, mas isso não trouxe de volta todo o sangue que ele havia perdido. Mesmo assim, ele tinha chegado bem na hora certa. Haruhiro havia sobrevivido.

Mas está doendo. Meu braço direito. Esse corte foi muito profundo. Vou pegar a adaga com o esquerdo. Não consigo mexer meu braço direito. Está doendo demais.

— Haruhiro! — Manato entrou correndo, preparando-se para usar sua magia de luz imediatamente. — Ó Luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre você… Cure.

Cerrando os dentes e suportando a dor, Haruhiro verificou o que estava ao seu redor enquanto Manato o curava. Moguzo estava se defendendo dos ataques ferozes do hobgoblin de alguma forma, mas estava tendo muita dificuldade. Ele estava começando a parecer um pouco instável.

Eles provavelmente não poderiam contar com mais apoio de Shihoru. Ela estava agachada, provavelmente depois de usar demais sua magia. Ranta, de uma forma ou de outra, estava conseguindo se esquivar dos ataques do goblin de armadura. Parecia que Yume estava machucada em algum lugar, possivelmente em seu braço.

Manato tocou o braço direito de Haruhiro e depois gritou para Yume. — Yume, venha até aqui! Eu vou curá-la!

— A Yume está bem! Ela pode continuar lutando!

— Apenas venha até aqui! Haruhiro, troque de lugar com a Yume!

— …É pra já!

Haruhiro fez o que Manato havia dito, mas tinha algumas dúvidas. Será que isso vai dar certo? Manato estava ficando sem fôlego. Será que ele não usou magia muitas vezes em um curto espaço de tempo?

Mas Haruhiro era um ladrão, ele não entendia muito de magia. E, além disso, entre ele e Manato, em quem ele confiava mais? Manato, é claro. Haruhiro não tinha tanta autoconfiança assim.

Vai ficar tudo bem assim. Deve ficar bem. Tem que ficar.

Haruhiro trocou de lugar com Yume.

Eu quero atacar o goblin de armadura. Mas não consigo me convencer a fazer isso. Se eu atacar, tenho medo de que ele me pegue com um contra-ataque. O mesmo acontece com o Ranta? O goblin de armadura é difícil. Não deixa aberturas para atacar. Além disso, ele colocou um capacete em algum momento. Uma armadura de placa e um capacete. Isso é inútil. Mesmo que eu tenha sorte com minha adaga, ela vai ricochetear. É questionável se a espada longa de Ranta se sairia melhor. Talvez a espada bastarda de Moguzo? Mas ele está com as mãos ocupadas lutando contra o hobgoblin, e provavelmente está perdendo essa luta agora mesmo.

Já perdemos, pensou ele de repente. Sim. Perdemos. Não podemos vencer. Não há nada que possamos fazer para vencer isso. Sinceramente, eu já devia saber. Devo ter percebido isso há algum tempo. É assim que é a derrota. Estamos perdendo? Se perdermos, o que acontecerá conosco? Seremos eliminados? Morreremos? Todos nós?

Haruhiro olhou para Manato. Manato ainda estava curando Yume. Não, parecia que ele já havia terminado. Eles estavam vindo em sua direção agora.

— Haruhiro, vá ajudar Moguzo! — disse Manato, e Haruhiro assentiu reflexivamente.

Está tudo bem? Bem, eu preciso ajudar o Moguzo. Isso é certo.

Haruhiro tentou ficar atrás do hobgoblin. Foi então que aconteceu.

— Grraaaahhh! — O hobgoblin soltou um rugido animalesco, cravando sua clava em Moguzo. Moguzo girou sua espada bastarda para o lado, bloqueando o golpe com um grunido de esforço, mas o hobgoblin não parou. — GRR! GRR! GRR! — Ele golpeou a espada bastarda com sua clava. De novo, e cada vez com mais força. A clava era de madeira, então por que não quebrava?

Moguzo permaneceu firme. Ele segurou sua espada bastarda pelo punho e pela lâmina, bloqueando a clava com ela. De alguma forma, ele estava conseguindo se segurar, mas o hobgoblin tinha uma vantagem esmagadora.

— GRR! GRR! GRR! Grraahh…!!! — ele gritou.

— Ungh…! — Moguzo foi finalmente forçado a se ajoelhar. Ele estava sangrando pela cabeça. Será que um dos espinhos da clava o havia atingido? O hobgoblin chutou Moguzo para baixo, tentando ficar em cima dele.

Não posso deixar isso acontecer. Vai ser ruim. Sério, muito ruim.

Então, quando se deu conta, Haruhiro estava agarrando o hobgoblin nas costas. Teria sido bom se ele pudesse prender seus braços atrás das costas, mas isso era impossível. O hobgoblin se debateu violentamente, tentando jogá-lo para fora, enquanto Haruhiro se segurava para salvar sua vida. — Nossa! Ohh! Aaaaaaaaah…?! —

— Você está indo bem, Haruhiro! Continue ganhando tempo assim…! — Manato estava tentando tratar Moguzo, aparentemente.

E você quer que eu continue com isso enquanto você faz isso? Está brincando comigo, certo? De jeito nenhum, isso não é possível.

O hobgoblin gritou e deu uma cotovelada em Haruhiro enquanto ele estava agarrado em suas costas.

Isso me atingiu na barriga. Não está apenas doendo; estou me sentindo fraco. Não é bom. Se eu desmaiar, é o fim. Se ele me jogar pra fora, será muito ruim. Eu vou morrer. Mortinho da Silva.

— Ah…!

O que aconteceu? Como? Ele não tinha ideia.

O hobgoblin jogou Haruhiro de suas costas, bateu-o no chão e depois o chutou. Haruhiro não conseguia respirar.

Haruhiro disse:

— …A-Ajuda. — Me ajude. Quem ele esperava que o salvasse? Ele não sabia. Mas a ajuda veio.

Smash…! — O cajado curto de Manato atingiu o hobgoblin na cabeça, mas o hobgoblin estava usando um capacete. Mesmo assim, parecia ter surtido algum efeito. Provavelmente, ele lhe causou uma leve concussão. Manato continuou a golpear o hobgoblin, gritando a cada golpe.

— Haruhiro, levante-se! Corram! Todos, fujam…!

É isso aí, pensou Haruhiro, levantando-se. É isso que fazemos. Nós corremos. Correr é tudo o que podemos fazer.

Ele começou a decolar, mas parou rapidamente. — M-Manato, e quanto a você…?!

— Eu também estou indo! Obviamente! Agora, se apresse e vá! — Mesmo enquanto atacava o hobgoblin, Manato estava tentando fugir. Moguzo, que havia se recuperado depois que Manato curou o ferimento na cabeça, gritou:

Obrigado! —, desferindo um Rage blow no hobgoblin. Embora não tenha acertado, fez com que ele recuasse.

Ranta e Yume rapidamente se viraram e fugiram. Shihoru também estava tentando fugir. Com um grito de guerra, o goblin de armadura cortou Moguzo nas costas, mas, graças à sua cota de malha, parecia que ele estava bem. Haruhiro correu tentando alcançar Ranta, olhando para trás por cima do ombro enquanto avançava.

— Manato, tá bom! Todo mundo fugiu!

— Eu sei! — Manato saltou para trás e desferiu um golpe duplo contra o hobgoblin quando este avançou contra ele. O hobgoblin parou no meio do caminho. Manato executou uma brilhante mudança de direção, deslizando pela espada do goblin de armadura. Em pouco tempo, ele estava quase alcançando Haruhiro.

No entanto, era muito cedo para respirar tranquilamente. Haruhiro foi se virar. No momento em que o fez, viu o goblin de armadura arremessar algo. A coisa girou no ar, provavelmente atingindo Manato pelas costas. Manato soltou um grunhido, quase tropeçando, então Haruhiro teve certeza disso.

— Manato…?!

— Estou bem! — Manato se firmou imediatamente.

Ele ainda tem um andar estável, então não parece que o ferimento seja profundo. O hobgoblin e o goblin de armadura estão vindo atrás de nós. Temos que correr. Por enquanto, só temos que correr.

Ainda bem que eles tinham feito um mapa. Graças ao trabalho que haviam feito nele, eles tinham a maior parte do layout da Cidade Velha de Damuro em suas cabeças. Isso permitiu que eles não se perdessem e evitassem áreas perigosas com muitos goblins. Haruhiro e o grupo correram. Mesmo quando o fôlego lhes faltava, os pulmões gritavam e eles sentiam que iam morrer, continuaram correndo, mesmo depois de terem perdido de vista o hobgoblin e o goblin de armadura por algum tempo.

Manato foi o primeiro a parar de correr.

Não, não foi isso.

De repente, Manato caiu no chão.

— …! — Haruhiro tentou chamar o nome de Manato, mas ele havia perdido a voz.

Suas costas. Nas costas de Manato, estava lá – algo – uma lâmina, uma lâmina curva, algo como uma faca de arremesso.

Ninguém disse nada. Todos ficaram olhando para Manato. Não podiam dizer nada. O que poderiam ter dito?

— Urgh… — Manato tentou se levantar. Não conseguiu. Só conseguiu se virar de lado. — …A-Ai… Acho que… Estamos bem… agora…

— Manato…! — Haruhiro se agachou ao lado de Manato. Mas será que podia tocá-lo? Ou não? Ele não sabia.

— Manato, seu ferimento, m-magia! É isso mesmo, use magia pra se curar…

 

— …Ugh — Manato levou a mão direita à testa. Ela caiu molemente no chão. — …E-eu não consigo… E-eu não posso… usar magia…!

— N-Não fale! — Ranta gritou. — Não fale! Apenas fique quieto, confortável… Espere, como vai fazer isso?!

Shihoru se aproximou de forma instável, afundando no chão ao lado de Manato, em frente a Haruhiro. Ela estendeu a mão. Seu dedo tocou a faca de arremesso. No momento em que isso aconteceu, ela puxou a mão para trás. O rosto de Shihoru ficou horrivelmente pálido.

O rosto de Manato estava ainda pior.

Moguzo ficou rígido, parado como se fosse uma espécie de ornamento enorme.

Yume bagunçou o cabelo. — …O que vamos fazer?

— O que…? — Haruhiro arranhou seu peito.

O que vamos fazer? O que podemos fazer? Pense. Tem que haver alguma coisa. Não pode ser nada. Diga-me. Por favor, Manato. Manato.

Manato estava ofegante, com a respiração instável.

— Você vai ficar bem, certo, Manato? Você vai ficar bem, não é? Apenas, apenas aguente firme. Aguente firme, Manato, tá bom?

Manato olhou para Haruhiro, movendo apenas os olhos.

— Haru… hiro.

— O quê? O que está acontecendo? Manato, o que foi?

— …Eu estou… Medo…

— Hã? O quê? P-Perdão? Por quê? Pelo quê?

— …Droga… é… Ahh… Por que….? Haru… hiro… Estou contando… com você…

— Contando comigo? Comigo? Para quê? O que você quer de mim? Espere, não, Manato, não.

— …Eu… não consigo… não consigo… ver… Todos… estão… ai…?

— Estamos aqui! Todos estão aqui! Manato! Nós estamos aqui! Não vá embora!

— Ah… é… Péssimo…

— Não vá! Manato! Você não pode nos deixar! Não vá embora! Por favor, Manato…!

Manato respirou fundo e expirou com força. Nesse momento, seus olhos ficaram vidrados.

Shihoru levou a mão ao peito de Manato. — O coração dele não está batendo!

— Faça RCP! — Ranta gritou.

Foi um incrível lampejo de inspiração, pensou Haruhiro. Parecia que eles tinham resolvido tudo, dizendo uns aos outros o que fazer enquanto tentavam ressuscitá-lo. Durante minutos, depois dezenas de minutos, eles bombearam o peito de Manato depois de retirar a faca e lhe fizeram respiração boca a boca. Eles devem ter continuado por mais de uma hora.

— … Não está na hora de pararmos? disse Moguzo, soluçando. — Eu me sinto mal pelo Manato-kun…

Haruhiro quase atacou Moguzo, mas se conteve. — … T-tudo bem, o que vamos fazer, então? Está me dizendo que devemos simplesmente deixá-lo? Vamos simplesmente abandonar o Manato?

— Magia — disse Shihoru, levantando o rosto. Seus olhos estavam inchados e vermelhos. — Talvez possamos fazer algo com a magia. Quero dizer, há magia que cura feridas, afinal de contas.

— Sim — Yume assentiu repetidamente. — Sim, deve haver algo que possamos fazer. Tem que ter. Na guilda dos sacerdotes, hum, o que era…? Templo!

— O Templo de Lumiaris, não é? — Ranta enxugou as lágrimas com as costas da mão. — É um território inimigo para um servo do Lorde Skullhell como eu, mas agora não é hora de se preocupar com isso.

Moguzo pegou Manato. — Eu o carregarei.

Haruhiro acenou com a cabeça. — Certo, vamos lá.

Sempre que Ranta ou Haruhiro se ofereciam para carregar Manato ou para ajudar, Moguzo dizia: “Estou bem”, e recusava. Até chegarem de volta a Altana e ao Templo de Lumiaris, no distrito norte, Moguzo realmente carregou Manato sozinho.

Quando entraram no templo, foram parados por homens que usavam vestes sacerdotais com o mesmo desenho de linhas azuis sobre tecido branco que as de Manato. Um deles parecia conhecer Manato e disse a outro homem que fosse procurar o Mestre Honen.

Esse Mestre Honen, quem quer que fosse, veio imediatamente. Ele era um homem de porte físico semelhante à de uma rocha e parecia ser um guerreiro melhor do que um sacerdote. Quando ele abriu a boca para exclamar:

— Oh, que terrível —, sua voz também estava anormalmente alta.

Pensando bem, Manato havia dito que seu mestre tinha uma voz muito alta e que seus ouvidos sempre doíam por causa disso, não é mesmo?

Quando Haruhiro se lembrou disso, incapaz de suportar mais, ele se prostrou diante do Mestre Honen. — Por favor, salve o Manato! Eu farei qualquer coisa, por favor! Estou lhe implorando…!

— Seu tolo! — rugiu o Mestre Honen. — Nem mesmo o brilhante Deus da Luz, Lumiaris, pode salvar os mortos! Manato, como você pôde ser tão tolo? Eu o reconheci como um jovem de rara promessa, por isso cuidei de sua educação com tanto amor e cuidado! Como pôde desperdiçar sua jovem vida dessa maneira?!

— Ora, seu…! — Ranta tentou agarrar o Mestre Honen, mas Yume disse:

— Pare com isso!

Ranta desistiu facilmente. Provavelmente porque ele viu a enxurrada de lágrimas saindo dos olhos do Mestre Honen.

Shihoru caiu no chão, sentado no piso frio do templo. Moguzo permaneceu imóvel, com Manato ainda em seus braços.

— Agora que isso aconteceu — a voz do Mestre Honen não vacilou, mas suas lágrimas nunca pararam, — vocês devem pelo menos dar a ele um enterro adequado. A maldição do No-Life King transforma em seus servos aqueles que não são enterrados na fronteira. Vocês tem no máximo cinco dias. Alguns até mesmo se transformam em zumbis no terceiro dia.

Por algum motivo, Haruhiro sentiu vontade de rir. Não era hora de rir, e ele sabia disso, mas mesmo assim. — … Quer dizer que devemos cremar o Manato?

— De fato. Há um crematório fora de Altana. Depois de purificar os restos mortais com fogo para que eles não ressuscitem, enterre as cinzas dele na colina.

— Posso perguntar uma coisa?

— O quê?

— Presumo que isso também custe dinheiro.

— Se você não puder pagar, eu pagarei.

— Não — Haruhiro suspirou. Foi um suspiro profundo, muito profundo. Ele estava com raiva. Mas ficar bravo parecia ridículo. — Não, obrigado. Não é como se não tivéssemos dinheiro. Se não tivermos o suficiente, daremos um jeito. Manato era meu – nosso camarada.

 

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