Histórias extras
O Cliente Ruim de Olhos Sonolentos
Na cidade dos artesãos, no distrito sul de Altana, havia uma loja chamada Madam Yun’s. O marido dela tinha sido um famoso artesão de couro, que morreu de uma doença sexualmente transmissível conhecida. No entanto, Madam Yun, que herdou o negócio, não era artesã. Ela era apenas a esposa de um artesão.
Madam Yun mantinha os aprendizes de seu falecido marido na linha com uma mistura de rigor e incentivo, trabalhando duro para vender os produtos de couro que eles produziam. Com seu talento para conversar, personalidade afável e uma beleza que parecia não envelhecer, ela claramente tinha um grande potencial como empresária desde o início. Rapidamente, o negócio prosperou. Agora, dizia-se que, se você fosse comprar produtos de couro em Altana, a loja da Madam Yun era o lugar certo.
Para aprender com ela, Lenya se tornou sua aprendiz.
O pai de Lenya tinha sido um dos artesãos que trabalhava sob a supervisão da madam, e ele sempre dizia que não era possível uma mulher se tornar uma artesã—o que não era verdade, mas realmente era um ambiente dominado por homens, um trabalho pesado e que maltratava as mãos, além de que os salários não eram lá grandes coisas.
Olhando objetivamente, seu rosto era comum, seu corpo era mediano, sua voz não era especialmente atraente e, bem, ela era, no geral, uma garota bem simples. Se levasse uma vida “normal”, ela se casaria com um homem mediano, teria filhos medianos e viveria uma vida mediana.
Na verdade, se a vida que ela levasse fosse mediana, isso já seria algo bom. Ela poderia se casar com um homem que parecesse mediano, mas que na verdade fosse um inútil, e acabaria sofrendo por isso. Se isso acontecesse, como uma mulher mediana, não teria outra escolha senão suportar em silêncio.
Ela não queria isso. Era sua vida, e ela queria fazer algo com ela nos seus próprios termos. Ela queria poder viver como bem entendesse. Para isso, precisava de dinheiro…
Com isso em mente, ela procurou a madam e, agora, já trabalhava para ela há três anos. Lenya havia se tornado uma vendedora capaz. Seu pai tinha sido um artesão, então ela conhecia o produto, e depois de começar o trabalho, descobriu que era boa com números. Se ela usasse um top de couro justo, uma saia curta de couro e botas de couro amarradas, até mesmo a Lenya, de aparência comum, podia fazer o coração dos homens acelerar por um momento.
Aquele cliente não parecia promissor. O instinto de Lenya como vendedora estava lhe dizendo isso.
Ele havia passado quase uma hora olhando pela loja, onde os produtos de couro estavam lindamente expostos, às vezes de forma ousada, e depois ficou mais meia hora agachado em frente a uma das prateleiras, pegando os produtos, devolvendo-os, pegando-os de novo, examinando-os e, em seguida, colocando-os de volta na prateleira.
Ele ainda era jovem, um soldado voluntário em seus anos de adolescência. Tinha olhos incomumente sonolentos. Ele suspirava repetidamente, olhando para o teto e torcendo o pescoço. Quanto tempo ele planejava agonizar sobre aquilo? Se ela chamasse um cliente assim, ele geralmente se intimidaria e fugiria da loja. Ela o havia deixado em paz por saber disso, mas ele era do tipo que agonizava para no fim não comprar nada. Lenya decidiu intervir e se aproximou do soldado voluntário.
— Com licençaaaa — disse ela com um sorriso, empurrando o soldado para o lado enquanto arrumava os produtos.
O soldado voluntário se levantou rapidamente, dizendo: — Ah! D-Desculpe, — mas não fez menção de sair.
O que, ele não vai embora? ela pensou.
O soldado a olhava com os olhos virados para cima, como se quisesse dizer algo. Sem outra escolha, ela perguntou: — Você está procurando algo em específico?
— Pode-se dizer que sim — respondeu ele, sem chegar ao ponto.
Ela sabia exatamente qual produto ele vinha analisando de todos os ângulos, claro. Eram essas calças de couro. Ela empurrou um par de calças de couro bem na frente do rosto do soldado.
— Estas ficariam bem em você, sabe? Quer experimentar?
— N-Não. Ah, mas… Hm… Na verdade. Ah, desculpe, com licença… — disse o soldado enquanto recuava, e então se virou e saiu da loja.
Se você vai fazer isso, então já vai tarde, ela pensou, furiosa. Você e seus malditos olhos sonolentos.
Ela lançou veneno para ele mentalmente, mantendo um sorriso no rosto enquanto organizava as prateleiras e ajudava outros clientes a experimentar e comprar os produtos da loja… por cerca de uma hora. Então, quando voltou para aquela prateleira, o jovem soldado voluntário, que ela achava que havia saído da loja, estava agachado lá novamente, olhando para as mesmas calças. Quando foi que ele voltou?
— Oh… — Quando o soldado voluntário viu Lenya, ele inclinou a cabeça em sinal de cumprimento.
Lenya, instintivamente, respondeu: Bem-vindo de volta e o cumprimentou com um sorriso, mas… se ele tinha entrado na loja sem que ela percebesse, esse cara não era um cliente comum. Ela era uma vendedora habilidosa e tinha um controle firme de tudo o que acontecia na loja. Não, ela controlava tudo. Ela precisava controlar. Lenya se agachou ao lado do soldado voluntário.
— Aconteceu alguma coisa? Eu realmente acho que essas ficariam ótimas em você. Usamos um processo especial no couro, é incrivelmente durável. É silencioso e flexível também, sabe? Deixe-me te dizer, é uma pechincha por esse preço. O que acha?
Eu vou fazer ele comprar. Se chegou a esse ponto, não vou deixar ele sair daqui sem levar essas calças. Lenya começou a explicar o produto de forma insistente para o soldado voluntário.
— Não… hum… — O soldado piscou, com o rosto ficando vermelho.
Ela pensou: Só mais um empurrão
Ele se levantou.
— Posso experimentá-las?
— Fique à vontade — respondeu Lenya imediatamente, pegando o braço do soldado voluntário e o arrastando até o provador.
Dentro do provador, o soldado murmurou:
— …Sim. Elas caem bem — então, ela estava certa de seu sucesso. Agora ele estava na palma da mão dela. Sucesso. Ele iria comprá-las. Sem dúvidas. Naturalmente que sim. Quando Lenya usava sua magia, era fácil assim. O que ele achava disso?
Logo o soldado voluntário saiu do provador e entregou as calças de couro para ela.
— Vou deixar passar, afinal.
— …Hã? Mas, bem, elas cabem…
— Elas cabem perfeitamente. Desculpe, mas… bem, eu ainda posso usar as que tenho, então acho que não preciso comprar um novo par.
— Mas, hum…
— Já decidi. Desculpe mesmo — disse o soldado voluntário, com os olhos sonolentos e uma estranha determinação, antes de sair da loja como se estivesse fugindo. Ele estava hesitando. Realmente hesitando, então… o que foi isso? Ele parecia realmente que iria comprar.
Um dia, ela iria matar brutalmente esse soldado voluntário.
A vendedora competente, Lenya, manteve um sorriso como máscara enquanto se irritava pelo resto do dia.