Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 18 – Vol 04 - Anime Center BR

Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 18 – Vol 04

Capítulo 18 – Uma metodologia para alcançarem o seu objetivo.

Haruhiro não sabia o que havia acontecido, e nem queria saber, mas Kuzaku havia mudado.

— Há! — gritou Kuzaku.

Enquanto usava Block para se defender da katana preta do samurai, ele estendeu o braço direito e desferiu um golpe contra o Soldado A. Não havia sinal do paladino tímido de antes, que se encolhia como uma tartaruga, focado apenas na defesa.

— Há! Ugh!

Como estava abrindo mais o corpo, ele dava ao inimigo várias oportunidades de atacar. Incapaz de bloquear completamente a katana preta do samurai, às vezes levava uma pancada forte no capacete. Outras vezes, era atingido por um contra-ataque do Soldado A, e parecia que ia recuar. Apesar disso, Kuzaku resistia, mantendo o samurai na sua frente enquanto atacava o Soldado A continuamente.

Nem o samurai nem o Soldado A podiam ignorar Kuzaku. Era difícil dizer que era um trabalho impressionante—ele estava se arriscando muito—mas Kuzaku estava enfrentando os dois ao mesmo tempo.

— Wahahaha! Viu só, você consegue quando se esforça! — gritou Ranta.

Ranta, bem, ele estava como sempre.

Ranta atacava com força, usando Leap Out e Exhaust para brincar com seus oponentes. Depois de derrubar o Soldado B com Avoid, ele imediatamente passou para o Soldado C. — Continue assim! Isso facilita para eu dar um show!

— Jess, yeen, sark, kart, fram, dart! — Shihoru lançou a versão mais poderosa do Lightning, o Thunderstorm, derrubando rapidamente três novos soldados que saíram do ninho. Outros dois soldados saltaram por trás deles, mas se Shihoru não tivesse eliminado os três primeiros, teriam sido cinco reforços.

— Boa, Shihoru! — Haruhiro gritou.

Haruhiro usou Swat com seu porrete no braço direito em forma de lâmina do Soldado D e também aplicou Swat com a adaga para repelir o braço esquerdo. Enquanto lutava contra os muryans, não havia esperança de utilizar Arrest ou Shatter, mas durante a noite passada, enquanto tinha dificuldades para dormir, ele passou um tempo pensando sobre isso.

Que tal isso? Haruhiro aproximou-se o máximo possível do muryan que tentou mordê-lo, mas ele já esperava por isso. Sem pressa e mantendo a calma, ele desferiu um golpe com seu porrete no rosto do muryan e, em seguida, enfiou sua adaga sob o maxilar da criatura. A partir daí, ele torceu a cabeça do ser até arrancá-la.

Os samurais eram bem robustos, com articulações espessas nos braços, pernas e pescoço, mas os soldados não eram tanto. Na verdade, eles eram bem frágeis.

— Miaaau! — Yume cortou um dos braços do Soldado E com seu facão, rapidamente girando a lâmina para perfurar o topo de sua cabeça. Enquanto ele cambaleava, ela desferiu uma série de ataques implacáveis. Completamente implacáveis. Ela não apenas cortou a cabeça do Soldado E, como também a esmigalhou.

Haruhiro sinalizou para Yume com os olhos, então foi em direção ao Soldado F. Yume foi atrás do Soldado G. Mary estava verificando seu pulso esquerdo. Protection ainda não tinha se desgastado.

— Ah! Ngh! Hah! — Kuzaku gritou.

Kuzaku estava sendo persistente, ainda mantendo tanto o samurai quanto o Soldado A ocupados. Ranta estava dominando o Soldado C, e parecia que iria derrubá-lo em breve. Haruhiro usou Swat no braço do Soldado F.

Vou derrubar esse aqui rapidamente também, pensou.

— Khhhh?! — Kuzaku soltou um grito estranho, então, por um momento, Haruhiro se perguntou se o seu tanque havia cometido algum erro, mas ele estava errado

É o samurai, Haruhiro percebeu. O samurai está fugindo.

— Espere… O que está acontecendo?! — Enquanto continuava a usar Block no braço do Soldado A, Kuzaku olhou para Haruhiro.

Cara, eu também não tenho ideia do que está acontecendo, Haruhiro pensou. Os samurais eram muryans incomumente beligerantes, e uma vez que identificavam um inimigo, lutavam tenazmente até a morte. No entanto, agora, um estava fugindo. Eles nunca tinham visto isso acontecer antes. Haruhiro estava tão desinformado sobre a situação quanto Kuzaku.

O que aconteceu a seguir não fez mais sentido para ele.

O samurai havia dado algum tipo de sinal? Não parecia, mas os soldados começaram a recuar.

— Que inferno?! Eu não vou deixar você escapar! — Ranta gritou, perseguindo o Soldado C para dar um último golpe.

Sim, tem algo estranho aqui, Haruhiro pensou.

— Espere, Ranta! — ele gritou. — Não vá!

— Hein?! — Ranta gritou.

— Isso está errado. Tem algo acontecendo.

— O que você quer dizer com “algo”?!

— Se eu soubesse, eu te diria — disse Haruhiro. — Eu não sei, mas definitivamente é perigoso.

Isso não é um palpite, ele pensou. A ecologia dos muryans é próxima à das formigas que eles se assemelham, e toda a colônia age como um único ser vivo. Pode-se dizer que os muryans não parecem ter um senso de individualidade—Seu papel sempre vem antes de qualquer outra consideração. Eles se sacrificam alegremente, se esse é o seu papel. Mais que isso, talvez os muryans nem sequer tenham a capacidade de se colocar em primeiro lugar ou um senso de autopreservação para isso.

E ainda assim, um desses muryans fugiu.

Provavelmente, o samurai não estava pensando em nada quando fez isso. Os muryans não são conscientes dessa forma. Muito provavelmente, este foi um caso em que eles sempre correm sem hesitação, fugindo da situação. É algo programado nos muryans.

Por que ele fugiria? Para recuar. Mas de quê?

Haruhiro olhou para todos os buracos ao redor. Isso incluía o buraco pelo qual o samurai e os soldados haviam fugido.

Nesta área chamada de ninho dos muryans, diferente do domínio dos três demi-humanos, o túnel tinha apenas cerca de dez metros de largura, e só metade disso de altura. Era cheio de curvas, então não podiam ver muito à frente. O buraco era apenas largo o suficiente para que dois muryans passassem um pelo outro. Humanos poderiam entrar.

— Vamos nos esconder — Haruhiro disse rapidamente.

Todos podiam sentir que algo estava fora do comum. Nem mesmo Ranta discutiu. Haruhiro e os outros se abrigaram no buraco dos muryans.

— O que você acha que é? — Shihoru perguntou em um sussurro.

Haruhiro balançou a cabeça. — Eu não sei.

— Hrmm… — Yume soltou um gemido baixo ao lado de Haruhiro.

— Calem a boca, todos vocês! — Ranta gritou.

— Você é o único fazendo barulho — Kuzaku reclamou.

— Ohh? Kuuuuzakuuuu — disse Ranta. — Você está ficando bem atrevido comigo, não é? Mesmo sendo um tanque sem talento.

— Isso não é meio irrelevante? Nessa situação?

— É — Mary concordou.

Haruhiro e os outros ficaram alinhados com as costas pressionadas contra a parede do buraco dos muryans. Em ordem de proximidade com a entrada, a linha era Haruhiro, Yume, Shihoru, Ranta, Mary, Kuzaku.

Mary está ao lado de Kuzaku, Haruhiro pensou. Sim, mas e daí? Isso não é, se é que importa, irrelevante? Sim. É completamente irrelevante. Haruhiro respirou fundo.

— Todos, fiquem onde estão — ele disse. — Eu vou verificar.

— Você vai ficar bem? — Yume perguntou. — Se você vai ficar lá fora sozinho, isso não é perigoso, Haru-kun?

— Eu estou melhor sozinho — disse Haruhiro. — Eu sou um ladrão, lembra? Isso é meio que minha especialidade.

Estava escuro no buraco dos muryans. Haruhiro tomou cuidado para não fazer barulho com os passos enquanto se dirigia cautelosamente para a entrada. Ele manteve a postura baixa, espiando para olhar ao redor.

Diferente do domínio dos três demi-humanos, que era mais parecido com um cânion do que uma caverna por ser aberto para o céu, o ninho dos muryans tinha um teto. No entanto, não era completamente coberto. Havia muitas lacunas, permitindo que a luz entrasse, então estava razoavelmente claro.

Parece que não há nada aqui. Por enquanto, ele pensou. Está quieto. Quieto demais. Estava tão incrivelmente quieto que, mesmo quando entrou em seu campo de visão, ele não percebeu imediatamente. No começo, ele apenas sentiu que havia algo um pouco estranho.

Há… alguma coisa ali?

O que é aquilo?

Tem algo ali… não tem?

Não, não questione isso, Haruhiro disse a si mesmo. Tem algo ali. Definitivamente há. Aquela coisa… é preta. Não, não é preta—é meio escura. E está vestindo algo como uma capa de chuva.

Parece uma pessoa?

Provavelmente. Tem uma cabeça, braços e pernas. Está andando. Andando para cá, vindo de mais fundo no túnel. Tenho certeza disso, mas não ouço passos. Ele é silencioso.

Está carregando algo longo. Isso é uma lança, talvez? Mas, a julgar pela ponta, eu não chamaria de lança. Em vez de uma lança, a ponta é mais parecida com uma espada, ou uma faca grossa, algo como um cutelo. É como uma naginata. Mas, mais do que isso…

Ele é enorme. Aquele cara. Ele deve ter mais de dois metros de altura. Duvido que tenha três metros, mas pode ter dois metros e meio.

A cabeça dele é estranhamente pequena, e ele tem ombros largos. Aquele formato de corpo não poderia ser mais triangular invertido, mesmo se tentasse. Ele está inclinado para frente, usando sua naginata como uma muleta para caminhar. Parece que a naginata toca o chão, mas não faz som.

Essa coisa é perigosa. Ele é perigoso, e o fato de não parecer perigoso só o torna ainda mais. Parece que ele poderia se aproximar sorrateiramente por trás de você, e então te derrubar. Isso é bem perigoso.

 

Ustrel.

Esse nome de repente veio à mente de Haruhiro. Soma havia mencionado isso antes.

“Se vocês passarem pelo domínio dos três demi-humanos e entrar no ninho dos muryans, há ustrels espreitando por lá,” ele tinha dito. Ele também disse: “Uma vez que vocês consigam derrotar um ustrel, a área em que poderão operar deve se expandir consideravelmente.”

Ustrels. Provavelmente foi de propósito que Soma não disse mais nada sobre eles. Haruhiro e os outros eram soldados voluntários. Talvez não fossem dos melhores, mas eram soldados voluntários, ainda assim.

Quando eles foram levados pela primeira vez ao escritório do Esquadrão de Soldados Voluntários, Bri-chan lhes disse: “Usem suas habilidades e julgamento individuais para reunir informações e atacar o inimigo. Esse é o jeito dos soldados voluntários.”

Soma havia reconhecido Haruhiro e sua party como soldados voluntários e os aceitado como camaradas. Por isso, Haruhiro e os outros teriam que aprender por conta própria.

Um ustrel, ele pensou. Esse cara. Esse cara é um ustrel. Temos que derrubar esse cara.

Em silêncio, em total silêncio, o ustrel se aproximava constantemente.

Devo voltar e chamar meus companheiros agora? Haruhiro se perguntou. Mas, se eu me mover agora, sinto que ele vai me notar. Ainda há uma certa distância entre nós, então devo estar bem, mas estou com medo.

Em algum momento, sem perceber, Haruhiro cobriu o nariz e a boca para impedir que o som de sua respiração escapasse.

Estou sendo cauteloso demais, ele disse a si mesmo. Calma. Preciso manter a compostura. Mas eu realmente não consigo me mover.

Enquanto estou perdendo tempo assim, o ustrel está se aproximando. Ele é mais rápido do que eu pensei, ou melhor, mais rápido do que parecia. Quinze metros? Dez? É essa a distância que ele já percorreu.

Ele não me notou… certo?

Haruhiro se abaixou, dobrando um dos joelhos, e se encolheu ainda mais, esticando o rosto só um pouco para fora. Há uma luz brilhando de cima, mas não muito. Ele não pode me ver… ou não deveria poder.

O ustrel estava caminhando em um ritmo constante. Ele não começou a andar mais rápido nem nada, então ele não me notou… Acho que não.

Eu quero puxar meu rosto de volta. Não consigo me mover. Isso não é bom. Eu falhei. Deveria ter voltado imediatamente. Estaria melhor escondido naquele buraco. Isso é ruim. Ele está perto. Droga, ele está muito perto. Cinco metros? Quatro? Três? Ooh.

Ele parou.

O ustrel fez uma volta à direita, tão silencioso quanto sempre. Ele estava se afastando.

Não, mas não posso ter certeza ainda, Haruhiro pensou. É muito cedo para me sentir aliviado. Só mais um pouco. Quando ele estiver um pouco mais longe. Agora está bom? Não posso dizer com certeza.

No final, assim que a figura do ustrel se dissolveu na escuridão e ele não podia mais vê-la, Haruhiro voltou para junto de seus companheiros.

— Havia um ustrel — ele disse.

— Parecia perigoso? — Ranta perguntou.

Normalmente, Ranta provavelmente teria saído correndo antes mesmo de perguntar isso. Talvez ele estivesse amadurecendo um pouco.

Haruhiro assentiu. — Sim, muito. Ele era grande, meio escuro, e carregava uma naginata.

— Soma estava dizendo que, uma vez que conseguirmos derrotar esse cara, a área onde podemos operar deve se expandir, né? — disse Ranta.

— Sim.

— Nesse caso, não há apenas um ustrel, há vários deles — Ranta disse. — Eles estão vagando pelo ninho dos muryans e mais adiante, e nunca podemos saber onde vamos encontrar um.

— Além disso… — Shihoru respirou fundo, depois soltou o ar. —…não somos apenas nós, humanos. Outras criaturas também têm medo dos ustrels.

— E agora? — A voz de Yume parecia mais tensa do que o normal.

Ranta de repente começou a entoar. — Ó Escuridão, Ó Senhor do Vício, Demon call.

Na frente de Ranta, algo como uma nuvem roxa escura apareceu. As nuvens giravam em um redemoinho, tomando forma. Era como um torso sem cabeça, com dois buracos no peito onde deveriam estar os olhos e uma boca em forma de fenda logo abaixo. Era o familiar de um cavaleiro das trevas, um demônio. Era o Zodiac-kun.

— Kehehehehe… Eu vim porque você me chamou… Kehe… Posso ir agora? — Zodiac-kun perguntou.

— Claro que não pode! Opa— — Ranta cobriu a própria boca. — Zodiac-kun. Sem brincadeiras hoje. Estamos prestes a enfrentar uma grande batalha, e é tudo ou nada.

—…Ehehehe… Entendi… Finalmente… chegou sua hora de morrer, Ranta… Ehehe…

— N-Não me amaldiçoe desse jeito! Caramba! — Ranta exclamou. — É… É assustador, tá?

— Vamos fazer isso? — Kuzaku estava claramente hesitante.

— Por mim, tanto faz. — Mary soava tensa. Quando olhou para o pulso esquerdo, a luz do hexagrama tinha enfraquecido. Ela piscava e estava prestes a se apagar. Mary fez o sinal do hexagrama.

— Ó Luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre você… Protection.

Num instante, a luz voltou aos hexagramas da party.

Mary respirou fundo. — Isso não muda o que eu tenho que fazer.

— Ele pode já ter ido embora — disse Haruhiro, fechando os olhos.

Estamos preparados para isso? ele pensou. Eu não sei. Quero dizer, eu não sei nada sobre o inimigo. Mas é estranho. Por alguma razão, simplesmente não consigo ver fugir como uma opção.

— Vamos esperar e observar por enquanto — disse Haruhiro. — Se aquele cara voltar, atacamos. Mas vamos atraí-lo para a zona segura. Vamos só testar. Se as coisas piorarem, fugimos. Podemos acabar correndo bem rápido, mas sou eu quem vai tomar essa decisão. Vocês absolutamente têm que seguir. Entendido?

Ranta estalou a língua. — Aí vai você, se achando todo importante. Okay, tá bom. Eu entendi.

— Kehehehe… — Zodiac-kun riu. — Tão submisso, Ranta… Você vai morrer… Kehehehehehe… Isso é uma bandeira da morte…

— E-Entendi — disse Yume, acenando com a cabeça tão vigorosamente que era perceptível até na escuridão.

— Vou me concentrar em magia de ataque… — disse Shihoru. — Mary, me proteja.

— Claro — Mary assentiu. — Deixe comigo.

— Então vamos fazer isso. — Kuzaku abaixou a viseira do capacete. — Será que eu consigo me defender contra isso?

— Só faça — disse Haruhiro. — Você é o tanque, não é?

Haruhiro se arrependeu das palavras assim que as disse. Ele achou que poderia ter formulado aquilo de uma maneira melhor. Mas Kuzaku riu.

— É, com certeza. Não sou lá grande coisa, mas sou um tanque, então vou fazer isso.

— Ele é incrivelmente difícil de perceber, então tomem cuidado — Haruhiro os advertiu.

Haruhiro assumiu a liderança, e eles voltaram para a entrada do buraco. Ele espiou. Ficou chocado.

—T-Tá perto!

Ele quase gritou alto, mas conseguiu se conter. Estava lá. O ustrel.

Haruhiro estava confuso naquele momento e não conseguia confiar em sua habilidade de estimar distâncias, mas o ustrel parecia estar talvez a cerca de dez metros, embora mais longe do que cinco metros.

Não estava andando. Apenas parado.

De repente, Ranta enfiou a cabeça ao lado de Haruhiro. — Whoa!

— Seu idiota — murmurou Haruhiro.

— Eu vou na frente! — Kuzaku pulou para fora.

O ustrel já estava em movimento.

Ele era incrível—realmente incrível. Não era apenas rápido, era extremamente rápido. Kuzaku tentou usar o Block, mas foi em vão. Com um grito de surpresa, Kuzaku e seu escudo foram lançados.

Ranta começou a dizer “Ó Escuridão…!” antes de perceber que não tinha tempo para terminar seu feitiço, e usou sua espada longa em vez disso. Não para atacar, mas para defender.

A naginata do ustrel. Lá vinha ela. Ranta de alguma forma conseguiu bloqueá-la com sua espada longa. Mas, claro, foi arremessado.

— —Waah!

Whoa, whoa, whoa, whoa! Isso é ruim! O que fazemos? Haruhiro pensou freneticamente. Isso é loucura! Mesmo se eu disser para correr, Kuzaku e Ranta não conseguem, e o ustrel já está vindo para cá. Uso Swat? Isso não vai funcionar. A naginata. Lá vem uma estocada.

Haruhiro soltou um grito estranho enquanto saltava para o lado e rolava. Ele não entendeu muito bem o que aconteceu, mas aparentemente se esquivou. O ustrel deslizou a naginata na palma da mão, ajustando rapidamente seu aperto antes de desferir outro golpe.

Claro, na direção de Haruhiro. Ele estava morto. Tão morto.

Ele queria gritar de irritação, mas não conseguia emitir nenhum som. Haruhiro rastejou, tentando se afastar. A naginata arranhou o chão.

Drogaaa, ele gemeu silenciosamente. V-V-V-Vou morrer. Vou morrer de verdade. O que é isso?

Com um grito, Yume disparou uma flecha de dentro do buraco. Ela acertou. Cravou-se no lado direito do peito do ustrel. O ustrel virou-se sem uma palavra, sem fazer barulho, na direção de Yume. Mary e Shihoru estavam atrás dela também.

Não, isso não é bom, pensou Haruhiro. Eu fui salvo, mas isso é ruim.

— Vuuuush! — Ranta emitiu um grito peculiar e saltou para se levantar antes de avançar em direção ao ustrel. Ele não estava apenas agindo de maneira imprudente por desespero; provavelmente estava tentando chamar a atenção do ustrel. No entanto, o ustrel nem se virou, atingindo o peito de Ranta com o pomo de sua naginata.

Ranta engasgou e quase desabou, mas Zodiac-kun o apoiou.

— Seu idiota… Ehehe… — Zodiac-kun riu.

— Maldiçããão! —  Kuzaku bateu no escudo com a parte plana da espada várias vezes. O ustrel o ignorou completamente.

Kuzaku levantou o escudo à sua frente e avançou contra o ustrel. O ustrel parecia não se importar. Ele fez parecer que ia atacar Yume e as outras garotas, então de repente se virou. Sua naginata brilhou. Kuzaku não conseguiu bloquear completamente.

Na verdade, a naginata se estendeu mais do que o esperado, acertando Kuzaku não no escudo, mas no braço esquerdo. A naginata cravou-se em seu braço.

Foi arrancado? Ou quebrado? De qualquer forma, Kuzaku deixou cair o escudo e caiu no chão, rolando de dor.

— wahhhhhhhhhhhh!

— Ack! — Yume gritou, recuando sem armar uma flecha. Mary e Shihoru fizeram o mesmo. Se continuassem assim, o buraco estava logo atrás delas. Elas acabariam entrando na toca dos muryans. O buraco? Haruhiro e os outros mal precisavam se agachar para entrar, mas e o ustrel? O ustrel tinha cerca de dois metros e meio de altura. Não era impossível que ele conseguisse entrar. No entanto, era menor do que os buracos que os três demi-humanos usavam. Se necessário, poderia servir como um lugar para se refugiar.

A toca dos muryans parece meio duvidosa como opção, pensou Haruhiro. Bem, então o que fazer? O que devo fazer? Primeiro—Primeiro, preciso garantir que Yume e as outras escapem. Isso. Essa é a minha maior prioridade.

O que ele poderia fazer para alcançar esse objetivo? O que Haruhiro poderia fazer? Será que essa era sua única opção?

Ele guardou seu porrete. Não gritou como Ranta e Kuzaku. Ele correu direto para o ustrel. Suas pernas estavam trêmulas. Era uma sensação estranha. Seu campo de visão estava se estreitando.

O ustrel não se virou para enfrentá-lo. Yume e as outras garotas já estavam na toca dos muryans.

Quando Haruhiro tentou pular sobre ele, como esperado, o ustrel foi para cima dele com o pomo de sua naginata.

Ele já tinha visto esse movimento antes. Ele conseguiu desviar, embora por pouco. Os movimentos do ustrel eram mais afiados do que o esperado, e Haruhiro estava se movendo lentamente. Mesmo assim, Haruhiro conseguiu agarrar-se às costas do ustrel.

— Yume! — ele gritou. — Saiam daqui! Enquanto ainda podem!

— Nyaahã?! —  Yume gritou.

Enquanto Yume permanecia rígida e imóvel, Mary a instigou — Rápido!

— Hm! —  Yume gritou.

— Ah! — Shihoru acrescentou.

Shihoru tomou a dianteira, saindo correndo da toca dos muryans. O ustrel preparou sua naginata para atacar.

Eu não vou deixar, pensou Haruhiro. Com uma punhalada invertida, ele golpeou a lateral da cabeça do ustrel. A adaga ricocheteou.

É duro, essa sensação… Um capacete? O capuz da roupa semelhante a uma capa de chuva foi puxado para trás, revelando a cabeça do ustrel. Isso é… um capacete? Não sei. Parece um crânio metálico.

— Uwahh! Ahh! Ahhhh! — Haruhiro golpeou repetidamente o crânio metálico do ustrel com sua adaga. Não estava claro se estava ferindo o ustrel, mas ele não parecia gostar. O ustrel se contorceu, tentando jogar Haruhiro para fora de suas costas, e o atingiu com o cotovelo. O ustrel era incrivelmente forte. A dor, ou melhor, o impacto dos golpes, era enorme.

Shihoru, Mary e Yume passaram na frente do ustrel.

— Suuuuuuuuuuuu…

Que som foi esse? O ustrel? Sua voz? Sua respiração? Não estava claro, mas o ustrel estendeu a mão esquerda. Parecia que ele planejava agarrar Haruhiro pela cabeça. No pior dos casos, ele poderia esmagá-la.

Bem, Yume e as garotas já fugiram, então talvez seja hora de largar. Haruhiro pulou das costas do ustrel. O ustrel instantaneamente virou-se à direita, e—

Está vindo. A naginata.

— Khhh! —  Haruhiro jogou-se no chão. Era tudo o que ele podia fazer.

Anger! — Se Ranta não tivesse feito um ataque imprudente contra o ustrel, Haruhiro certamente teria sido cortado ao meio pelo próximo ataque. Mas o ustrel usou o braço esquerdo para desviar a espada longa de Ranta.

— O quê— — Enquanto Ranta estava desequilibrado, o ustrel desferiu um golpe contra ele usando apenas o braço direito.

Ahh. Isso não é bom, pensou Haruhiro. Ele vai morrer. O Ranta vai ser morto.

— Gehe! — Era Zodiac-kun. Sem perder tempo, Zodiac-kun empurrou Ranta para fora do alcance do golpe.

Zodiac-kun tomou o golpe destinado a Ranta, sendo partido ao meio pela naginata do ustrel.

— …Uh… Uhe… Ranta… Morrer… — Zodiac-kun murmurou enquanto desaparecia.

— Depois de ter me salvado! — Ranta atacou o ustrel com raiva. — Não diga isso! Eu posso te invocar de novo a qualquer hora, entendeu? Rahhhhh!

— Não seja imprudente, Ranta! — Haruhiro se levantou. — Vamos recuar para a zona segura!

Exhaust! — Quando Ranta saltou para trás em uma velocidade incrível, o ustrel… não o seguiu.

Em vez de Haruhiro ou mesmo Yume e as outras garotas, o ustrel se virou para Kuzaku, que ainda não tinha se levantado.

— Espere…! — Haruhiro correu na direção dele, mas parecia que não chegaria a tempo, e mesmo que chegasse, não tinha certeza se conseguiria salvá-lo.

— Jess, yeen, sark, fram, dart!

Lightning. Era a magia de Shihoru. Um raio caiu sobre o ustrel. Seu corpo convulsionou e uma trilha de vapor, ou fumaça, ou algo semelhante subiu dele, mas será que o feitiço foi eficaz? Pelo menos, não parecia ter causado nenhum dano significativo.

O ustrel se virou suavemente para encarar Shihoru e as outras garotas.

Isso não é bom, pensou Haruhiro. Ele vai mirar nelas agora. Mas, graças a isso, Kuzaku sobreviveu.

— Ranta! Atraia ele de alguma forma! — Haruhiro gritou.

— Pode deixar! — Ranta respondeu.

— Levanta, Kuzaku! — Haruhiro correu para o lado do paladino. O braço esquerdo de Kuzaku estava completamente inutilizado. Era uma visão dolorosa. Estava cortado, quebrado, praticamente esmagado.

Kuzaku, por sua vez, fez o possível para resistir. Ele se levantou com suas próprias forças, acenando com a cabeça para Haruhiro. — …Estou bem. Eu consigo. Desculpe. Você pode pegar meu escudo pra mim? Se puder.

— Seu escudo? — Haruhiro perguntou.

— Quando eu curar meu braço, vou precisar usá-lo de novo. Sou praticamente inútil sem ele.

— Se as coisas ficarem ruins, vou largar ele, okay? — Haruhiro disse.

Ele pegou o escudo de Kuzaku. Será que Kuzaku conseguiria acompanhar a party? Seria difícil para ele, sem dúvida, mas ele teria que tentar.

Yume e as garotas estavam fugindo. O ustrel as perseguia. Ranta estava fazendo o possível para desviar a atenção do ustrel, mas não estava indo muito bem. O ustrel nem olhava para trás, parando facilmente a espada longa de Ranta com o pomo de sua naginata e, em seguida, com seu braço esquerdo.

— Droga! — Ranta gritou. — Que porra é esse cara?!

— Um ustrel, oras?! — Haruhiro respondeu.

Gritando coisas sem sentido enquanto movia as pernas, Haruhiro começou a pensar. Ele pensou sobre o que deveria pensar. Sobre o que ele deveria pensar?

Será que Yume e as outras conseguiriam escapar assim? Ele não sabia. Mas provavelmente não. Eventualmente, elas seriam alcançadas. Antes que isso acontecesse, Haruhiro e os outros precisavam parar o ustrel. Será que conseguiriam?

— Yume! Mary! Shihoru! — ele chamou. — Quando passarem pela zona segura, entrem nos buracos dos três demi-humanos!

Não houve resposta. As três estavam correndo com todas as suas forças.

Kuzaku estava ficando para trás. Claro que estava.

O ustrel ocasionalmente balançava sua naginata. Yume, que estava mais atrás, gritava toda vez que ele fazia isso. Parecia que a qualquer momento aquela naginata poderia alcançar Yume.

O teto se abriu e ficou mais claro. Já estavam na zona segura.

Eles chamavam de zona segura, mas não havia nada que definisse claramente os limites dela. Já estavam quase no domínio dos três demi-humanos. O túnel principal era reto, e havia buracos laterais em cada lado.

De repente, o ustrel acelerou e deu uma estocada com sua naginata.

— Ungh! — Yume saltou diagonalmente, mas a naginata do ustrel arranhou sua cintura, causando um corte.

— Yumeeee! Leap Out! — Ranta fez um salto louco, pulando nas costas do ustrel. O ustrel se virou, cortando-o diagonalmente enquanto fazia isso.

Ranta caiu no chão como se fosse uma bola ou algo parecido, e seu capacete se soltou com o impacto. O ustrel imediatamente levantou a ponta da naginata. — Iggzo…!

Parecia que ele estava tentando gritar Exhaust, mas não conseguiu. Ranta saltou para trás em uma pose semelhante a de um sapo, evitando por pouco a naginata.

Mary correu para um buraco lateral, praticamente carregando Yume com ela. Shihoru a seguiu.

Bom, pensou Haruhiro. Muito bem, Ranta. Certo…!

Seria difícil seguir pelo mesmo buraco que Mary e as garotas. Haruhiro levou Kuzaku com ele e se dirigiu a um buraco diferente, no lado oposto.

— Ranta, você vem também! — ele chamou.

— Claro, eu tô indo! Vai ser moleza! Como se fosse, droga!

Ranta ativou repetidamente seu Exhaust, de alguma forma conseguindo correr e evitar a naginata do ustrel. Haruhiro queria ajudar, mas esse era um truque que só Ranta sabia fazer. Mesmo que ele fosse até lá, provavelmente só atrapalharia. O máximo que conseguiria seria morrer enquanto comprava tempo para que Ranta pudesse escapar. Seria inútil.

— Você consegue, cara! Se você não conseguir, quem mais conseguiria?! — Haruhiro gritou.

— Seu idiota! — Ranta berrou. — Aí vai você, me dizendo que eu consigo! Todo mundo já sabe disso, então não diga! Leap Out!

Ranta não recuou; em vez disso, saltou para o lado do ustrel. O ustrel imediatamente virou para a direita, balançando sua arma atrás dele. No entanto, Ranta já tinha saltado de novo.

Leap! Leap! Leapow! Lea! Lea! Lea! Leap Out!

Ele saltou, saltou e saltou como um louco, e fugiu. Haruhiro não sabia se ficava impressionado, ou o quê.

Haruhiro e Kuzaku entraram no buraco. Todos os buracos dos três demi-humanos tinham pouco mais de um metro de altura e cerca de setenta centímetros de largura. Se era baixo o suficiente para que até mesmo Haruhiro tivesse que se abaixar para entrar, o ustrel teria ainda mais dificuldade.

O buraco se estendia por cerca de cinquenta metros. Não parecia haver nenhum duergar, bogies ou spriggan. Será que eles detectaram o ustrel e se esconderam mais profundamente? Será que Ranta conseguiu escapar?

Kuzaku não estava apenas respirando com dificuldade—ele também estava gemendo de dor, — Ai… Ai… Ai… — Seu braço esquerdo devia estar doendo muito. Haruhiro queria se reunir com as garotas e curá-lo, mas o buraco delas ficava do lado oposto da área principal. Ele não conseguia dizer se havia uma conexão entre este buraco e o delas.

— Kuzaku, espere aqui — ele disse.

— …Tá.

— Eu volto já.

Haruhiro deixou o escudo para trás e voltou para dar uma olhada na área principal.

O ustrel estava lá.

Ele estava parado em silêncio, como se estivesse ali há décadas, bem no meio da área principal.

E quanto a Ranta? Haruhiro não viu nenhum cadáver, então ele deve ter conseguido entrar em algum buraco lateral.

Haruhiro sabia em qual buraco Yume e as garotas tinham entrado. Ele se lembrava. Era praticamente direto à sua frente. O ustrel estava bloqueando o caminho, bem no meio dos dois buracos.

Por enquanto, parecia que o ustrel não entraria nos buracos dos três demi-humanos. No entanto, o ustrel também não tinha intenção de deixar Haruhiro e os outros escaparem. Ele estava planejando matá-los quando saíssem dos buracos.

Seria melhor tentar esperar? Se eles simplesmente ficassem nos buracos, talvez o ustrel desistisse. Eles também poderiam esperar por outros soldados voluntários passarem por ali. Eles poderiam ignorar os três demi-humanos, mas certamente não ignorariam um ustrel.

Mas, hoje, já haviam passado muitos soldados voluntários por Haruhiro e sua party, indo mais fundo no Buraco das Maravilhas. Embora pudessem haver soldados voluntários voltando, provavelmente não haveria mais entrando. Os soldados voluntários geralmente voltavam à noite ou mais tarde. Ainda era meio-dia. Isso estava longe. Além disso, ele não tinha como se comunicar com Yume, Shihoru, Mary ou Ranta.

Mesmo que Haruhiro tomasse uma decisão ali, ela não chegaria aos seus companheiros. E ainda havia Kuzaku para considerar.

Haruhiro voltou até onde Kuzaku estava. A respiração de Kuzaku ainda estava ofegante. Na verdade, provavelmente não era apenas cansaço. Devia ser uma lesão de algum tipo.

— Kuzaku, acha que consegue correr mais uma vez? — Haruhiro perguntou.

— Sim… afinal de contas… eu posso morrer… se não conseguir…

— Você está bem? — Haruhiro perguntou.

— Sim. — Kuzaku assentiu, respirando fundo. — Estou bem. Eu posso correr.

— Certo, venha comigo. — Voltando até antes da área principal, Haruhiro indicou o buraco em que Yume e as garotas deviam estar. — É longe, mas vê aquele ali? Mary estará naquele buraco. Corra até lá o mais rápido que suas pernas permitirem.

— …E você? — Kuzaku arfou.

— Eu, vou ser a isca. Vou atrair o ustrel para mim primeiro. Você corre assim que eu fizer isso.

— Isso não é perigoso? — Kuzaku perguntou.

— É perigoso, sim — disse Haruhiro. — Mas é nossa única opção. Se você não for tratado logo, não vai conseguir fazer nada.

— …Definitivamente não vou — Kuzaku concordou.

— Vou deixar seu escudo aqui — disse Haruhiro. — Estou indo.

— Hein? Já? — Kuzaku perguntou.

— Quando algo precisa ser feito, é melhor fazer logo — Haruhiro explicou.

Quero dizer, quanto mais eu esperar, mais vou ficar com medo, de qualquer maneira. Haruhiro bateu no peito. Ele debateu se deveria deixar sua adaga e o porrete ou não. Se eu for desarmado, talvez fique muito óbvio. Mas posso correr mais rápido de mãos vazias—Não, não se preocupe com isso. Vamos lá.

Haruhiro deslizou suavemente e silenciosamente para fora do buraco. O ustrel ainda não o tinha notado. O ustrel estava virado na direção da entrada do Buraco das Maravilhas. Haruhiro usou seu Sneaking para se esgueirar ao longo da parede na direção da entrada. Ele imaginou que logo entraria na linha de visão do ustrel.

Quando ele vai me notar? Pensou Haruhiro, e logo teve sua resposta. Lá vem ele.

O ustrel se virou em sua direção e começou a correr sem fazer barulho.

Ele está vindo. Ele é realmente rápido. Haruhiro correu. Ele sentiu como se todo o seu corpo estivesse sendo puxado para trás. Era terror? Pressão? Ele correu o mais rápido que pôde ao longo da parede, e não demorou muito para que o ustrel estivesse bem atrás dele.

E Kuzaku? Olha lá ele, indo devagar. Não posso vacilar agora. Não consigo correr como gostaria. Ele ainda não chegou ao buraco. Ainda não? Aguente firme. Só mais um pouco. Você está quase lá. Ele entrou.

Assim que viu que Kuzaku tinha conseguido chegar, Haruhiro rolou para dentro de um buraco próximo.

— Uooh!

O ustrel enfiou sua naginata no buraco atrás de Haruhiro. Ele entrou em pânico e começou a rastejar, afastando-se da entrada. O ustrel se inclinou mais de noventa graus, espiando para dentro do buraco.

Ele não vai entrar… vai? Haruhiro parou de rastejar. O ustrel não se moveu. Não parecia que ele ia entrar no buraco. Mas agora, estou preso aqui, não estou?

— Ei — uma voz chamou do fundo do buraco. — Eeei. Eeeeeei! Tem alguém aí? Heeeeeeeeeeeey!

— …Ranta? — Haruhiro chamou.

Ranta apareceu. — Ah, é só você, Haruhiro. Está sozinho?

— Sim, estou — respondeu Haruhiro. — Como você chegou até aqui?

— Entrei por outra entrada e, depois de andar aleatoriamente, acabei saindo aqui.

— Aleatoriamente… Tenho certeza de que, se encontrarmos algum dos três demi-humanos assim, estaremos ferrados… — Haruhiro comentou.

Haruhiro e Ranta estavam agachados, numa posição mais baixa que uma meio-sentada. Se não estivessem, suas cabeças teriam batido no teto. Eles não poderiam lutar desse jeito.

— Seu idiota — disse Ranta. — Não podemos nos preocupar com cada detalhe agora. — E, espera aí, o ustrel tá logo ali!

— Sim, está — Haruhiro concordou. — Mas ele não vai entrar. Precisamos nos juntar à Yume e às outras de algum jeito. Eu consegui levar só o Kuzaku até elas.

— Do outro lado, hein… — Ranta mordeu o lábio. — Tive uma ideia.

Haruhiro não estava muito inclinado a seguir qualquer plano que Ranta inventasse, mas não havia alternativas. Bem, talvez houvesse, mas ele não conseguia pensar em nenhuma.

Haruhiro seguiu Ranta mais fundo no buraco. O ustrel já estava fora de vista. A partir daí, ele e Ranta se separaram. Haruhiro ficou de espera. Ele provavelmente esperou por uns cinco minutos.

— Heeeeeey! — ele ouviu Ranta gritar ao longe.

Era um plano simples. Ranta sairia pelo buraco por onde entrou, então atrairia o ustrel para ele. Enquanto isso, Haruhiro iria para o outro lado. Basicamente, Ranta se voluntariou para ser a isca.

Haruhiro correu de volta. O ustrel não estava mais lá. Parecia que Ranta havia conseguido atraí-lo. Quando Haruhiro saiu correndo do buraco, viu Ranta sendo perseguido pelo ustrel. Em vez de tentar despistá-lo, Ranta deixava o ustrel quase pegá-lo, então usava Exhaust para ganhar distância.

Bom trabalho, Ranta, Haruhiro pensou. Mas, claro, não tenho tempo para ficar admirando isso.

Ele correu a toda velocidade em direção a um buraco do lado oposto. Era um longo caminho até o buraco onde Yume e as outras deveriam estar, então talvez ele não conseguisse chegar lá. Por enquanto, ele se contentaria com qualquer buraco em que pudesse entrar.

— —Hããhh?! O que há com você?! — Ranta gritou.

Será que algo aconteceu? Haruhiro olhou enquanto corria e viu que o ustrel havia parado. Ranta parou de correr, balançando os braços e tentando provocá-lo.

— Qual é o problema?! — Ranta rugiu. — Vem pra cima! Tá com medo?!

— Suuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu…

Que som era aquele? Uma voz? Respiração? Ele já tinha ouvido isso antes, mas desta vez era muito mais alto.

Ranta também deve ter notado algo estranho. Ele tentou correr. Antes que pudesse, o ustrel deu um passo à frente, estendendo o braço direito.

Ele realmente se estendeu. Seu braço direito—não, seu braço esquerdo—não, ambos os braços—cresceram até o dobro do comprimento usual. Então, usando seu braço direito estendido, ele desferiu um golpe com a naginata.

— Argh! — Ranta gritou.

Se aquele braço direito tivesse o comprimento normal, Ranta provavelmente teria conseguido desviar. Mas, como estava mais longo agora, ele não conseguiu. A naginata do ustrel cortou o braço esquerdo de Ranta.

— Ran—! — Haruhiro gritou. Ele tomou uma decisão instantânea, quase reflexivamente. — Todos, saiam! Vamos salvar o Ranta!

Será que temos uma chance? Haruhiro se perguntou. Ou não temos? Eu não sei. Mas estou confiante de que podemos fazer isso—acho.

Os braços do ustrel. Eles ficaram mais longos. Estavam longos agora, incrivelmente longos. Muito longos.

Se ele não deixasse isso assustá-lo, Haruhiro tinha certeza de que conseguiria se aproximar.

Haruhiro passou por Ranta, que estava sangrando enquanto recuava.

O ustrel. Ele era insanamente intimidador e estava vindo naquela direção. A naginata. Era um golpe lateral.

Sim, isso pode me matar, pensou Haruhiro. Mas ele não podia recuar agora.

A naginata veio. Ao mesmo tempo, Haruhiro se lançou para frente e rolou. Estava morto? Não, parecia que não. Na verdade, ele estava vivo. Aparentemente, ele conseguiu passar por baixo da naginata enquanto o ustrel a brandia.

Haruhiro continuou e se jogou nas pernas do ustrel. As pernas do ustrel eram incrivelmente curtas em comparação com sua altura, e também finas. Enquanto balançava a naginata para o alto com o braço direito, o ustrel tentou chutar Haruhiro. Mas isso não era tão assustador quanto a naginata, pois Haruhiro conseguia ver o chute vindo. Ele evitou a perna direita do ustrel, agarrando-se à esquerda. Aplicando uma torção severa no joelho do ustrel, Haruhiro rapidamente tirou sua perna de apoio do chão.

O ustrel foi derrubado. Ele bateu as costas no chão, mas imediatamente tentou acertar Haruhiro com o braço esquerdo. O ustrel tinha caído, e isso claramente era uma oportunidade, uma que talvez ele nunca tivesse novamente, mas Haruhiro recuou sem hesitação ou arrependimento. Se ele tivesse hesitado por um momento, o ustrel teria desferido um golpe poderoso nele com o braço esquerdo.

O ustrel usou seus dois braços longos para se apoiar, levantando-se silenciosamente.

Mary e Yume estão indo em direção ao Ranta, Haruhiro notou. Onde está o Kuzaku? Ali está ele. Ele está planejando pegar seu escudo? Shihoru está com Kuzaku. Parece que tanto Yume quanto Kuzaku estão completamente curados.

— Suuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu…

Lá estava novamente. Aquele som. O que era dessa vez? Seus braços—os braços do ustrel estavam encolhendo. Ficando mais curtos. Em pouco tempo, voltaram ao comprimento original.

Seus braços não só se esticam. Ele consegue tanto esticá-los quanto comprimi-los? Haruhiro se perguntou. Era muito mais fácil lutar com ele quando os braços estavam longos. Haruhiro estalou a língua em desapontamento, movendo-se para a esquerda. Ele se movia em círculos. Com o ustrel no centro, ele rapidamente se movia ao redor dele no sentido horário.

Se o ustrel desse um passo à frente, provavelmente conseguiria alcançar Haruhiro com sua naginata. Era por isso que Haruhiro se movia cada vez mais para a esquerda antes que ele pudesse. O ustrel girava no lugar, e no instante em que Haruhiro estivesse à sua frente, ele certamente desferiria um golpe com a naginata.

Essa tensão. Se ele baixasse a guarda por um momento, ou tropeçasse em um buraco ou saliência, seria cortado. Quando pensava em morrer, sentia suas pernas começarem a tremer.

Rápido, Haruhiro pensou. Rápido. Rápido. Rápido, rápido, rápido, rápido. Alguém.

— Ohm, rel, ect, nemun, darsh!

Shihoru. Era magia. Shadow Bond. Um elemental das sombras voou, fixando-se ao chão aos pés do ustrel. O ustrel pisou nele. O elemental sugou seu pé. Mas parecia que ele poderia se libertar a qualquer momento.

Shihoru não hesitou em lançar seu próximo feitiço. — Jess, yeen, sark, fram, dart!

Lightning. Acertou. O ustrel foi atingido por um raio.

Seu corpo convulsionou—mas foi só isso. O ustrel soltou seu pé, virando-se em direção a Shihoru. Ela recuava, parecendo que poderia cair de costas, quando Kuzaku saltou na frente dela.

— Eu vou…! — gritou Kuzaku.

Num instante, o ustrel se aproximou de Kuzaku. A naginata brilhou. Houve um som estridente quando Kuzaku usou Block. Ele se firmou contra o impacto. Não só conseguiu se manter firme. Ele avançou, estocando com sua espada longa. O ustrel deslocou o corpo para o lado para evitar o golpe, então usou a naginata novamente.

Kuzaku uso Block. Ele quase foi levantado no ar, mas conseguiu se forçar a descer. Sem recuar, avançou e desferiu um golpe afiado com sua espada longa. O ustrel demonstrou novamente aquele movimento de esquiva, e então brandiu a naginata. Kuzaku usou Block mais uma vez, seguido de sua espada longa. O ustrel se esquivou e atacou com a naginata de novo. Kuzaku recorreu ao Block mais uma vez e então partiu para o contra-ataque.

— Wahaha! — Kuzaku riu. — Isso é loucura! Que medo! Uou! O que é isso?! Droga! Que poha?! Wahaha! Não acredito! Wahahaha! Gwehehehe!

Esse cara está bem da cabeça? Haruhiro se preocupou. Ele realmente não parece estar, mas está lutando desesperadamente contra o terror, contra a pressão, e apenas conseguindo se segurar no limite.

Haruhiro, é claro, queria apoiar Kuzaku. Mas não conseguia se aproximar. Tecnicamente, ele estava atrás do ustrel, mas não conseguia se aproximar o suficiente para usar sua adaga ou porrete. Se ele se jogasse no ustrel de forma imprudente, talvez conseguisse, mas não podia correr esse risco ainda. As costas do ustrel pareciam tão distantes.

Mary estava tentando começar a curar Ranta. Seu braço havia sido cortado, e ele estava sangrando profusamente. Era um ferimento crítico, então Mary provavelmente usaria Sacrament. Ranta logo poderia voltar para a linha de frente. Yume estava tentando se aproximar dele, mas Haruhiro gritou para ela:

— Está tudo bem! Yume, fique aí! — e a fez parar. Ele queria que Yume estivesse pronta caso o pior acontecesse. Se o ustrel voltasse sua atenção para Mary e Ranta enquanto ela estava curando-o, Yume precisaria se arriscar para impedir isso.

Shihoru estava sempre atrás de Kuzaku, procurando oportunidades para usar sua magia.

Haruhiro desejava que o ustrel voltasse para o modo de braços longos novamente. Mas, enquanto o modo de braços longos facilitava as coisas para Haruhiro, talvez não fosse o mesmo para Kuzaku. O ustrel usou seu braço esquerdo para bloquear a espada de Kuzaku.

Seus braços são duros? Ou são revestidos com armadura? Haruhiro se perguntou. A flecha de Yume cravou no peito do ustrel. Como foi quando eu estava agarrado a ele por trás? Não acho que ele era todo duro e rígido. Será que são apenas os braços que são duros? Talvez seja realmente uma armadura, então.

No mínimo, o ustrel deve estar usando uma armadura em seu braço esquerdo. O poder ofensivo do ustrel era tão assustador quanto o do guardião da Fortaleza de Observação Deadhead, Zoran Zesh. No entanto, Zoran Zesh também se protegia usando uma armadura resistente e um capacete. O ustrel não tinha nem de perto o mesmo poder defensivo.

— Suuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu…

Lá estava. Aquele som. Os braços do ustrel se esticaram. Kuzaku ficou assustado e tentou recuar.

— Avance! — Haruhiro gritou para ele enquanto corria também. O que Kuzaku fez? Ele não sabia. Haruhiro se agarrou ao ustrel, cravando sua adaga nas costas dele. — Aqui!

A lâmina penetrou. Mas foi superficial, e—

De repente, o ustrel saltou. Foi um salto vertical. Ele se ergueu no ar e depois aterrissou. O impacto da aterrissagem foi incrível. Haruhiro não conseguiu se segurar.

— O quê…! — Haruhiro gritou.

Ele foi jogado longe. Haruhiro se preparou para o impacto da queda. Ele caiu.

Ah, Ugh, Haruhiro percebeu. É o ustrel.

O ustrel não usou a naginata. Ele pisou em Haruhiro. No estômago, no peito—naquela área em geral.

Haruhiro tossiu e engasgou de dor.

— Eeeeeeeiiii, vocêeeeeeeeeee…! — uma voz berrou.

Ranta. Era Ranta envolto em sua Dread Aura. Ele avançou, derrubando o ustrel e cravando sua espada longa nele. O ustrel imediatamente jogou Ranta para longe, mas havia um rasgo na vestimenta escura do ustrel em seu flanco.

Haruhiro tentou desesperadamente rastejar para longe. Da sua boca, olhos e nariz, ele estava pingando vômito, lágrimas, muco e sabe-se lá que outros tipos de fluidos, mas ele rastejava para longe.

— Haru?! — Era a voz de Mary.

Haruhiro gritou, — Tô be…m! — mas ele estava longe de estar bem, e pensou que, não, ele não parecia nada bem. Bem, isso mostrava que ele ainda tinha a compostura para pensar nisso, pelo menos. Limpando o rosto com um braço, ele se levantou.

Kuzaku estava de pé na frente do ustrel, enquanto Ranta estava à direita do ustrel. Nenhum dos dois conseguia se aproximar. Mas de alguma forma, eles estavam conseguindo evitar a naginata e o braço esquerdo do ustrel, ou bloqueá-los. Estariam se acostumando? No modo de braços longos, o ustrel tinha um grande alcance, e cada um de seus ataques era pesado, mas ele não conseguia manobrar rapidamente. Isso parecia ser parte da razão.

— Se for assim…! — Yume preparou seu arco e disparou uma flecha.

Parecia que ia acertar. Acertou. No ombro esquerdo. Então ela disparou outra logo em seguida. Desta vez, nas costas.

O ustrel parecia insatisfeito.

— Jess, yeen, sark, fram, dart! — Shihoru lançou o que agora era seu feitiço mais poderoso de magia Falz, Thunderstorm, nele. Houve um estrondo ensurdecedor, ou melhor, uma explosão. Normalmente, tratava-se de um feitiço com efeito em área, mas o ustrel era grande o suficiente para ser atingido por vários raios.  Mesmo o poderoso ustrel não conseguiu sair dessa apenas com algumas convulsões. Ele espasmou violentamente antes de ficar imóvel. Ele parou de se mover.

— Agora?! — Haruhiro gritou e avançou.

Isso é certo? Ele se perguntou enquanto avançava. É uma má ideia? Eu não sei, mas é tarde demais para pensar nisso agora.

Kuzaku, Ranta, Yume e até mesmo Mary, todos estavam correndo em direção ao ustrel. Provavelmente, todos haviam começado a se mover antes de Haruhiro gritar a ordem. Todos planejavam resolver isso imediatamente. Eles queriam terminar isso.

Mas isso não é agir com base na situação—é mais um desejo, não é?

Haruhiro sentiu um calafrio.

Isso não era apenas intuição. Ele tinha algo que o respaldava. No rosto do ustrel, aquele crânio metálico, a parte que provavelmente era a peça da boca do seu capacete, deslizou para cima com um rangido e se abriu.

— Espera! Segura! Afastem-se dele por enquanto! — Haruhiro gritou.

Haruhiro começou a recuar, e o ustrel começou a estalar a língua.

Chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik.

Acho que isso é ele estalando a língua, pensou Haruhiro. Nunca ouvi algo estalar a língua de forma tão ameaçadora antes.

No fundo da máscara de crânio metálico, o ustrel estava rangendo seus dentes amarelados e estalando a língua. Ele começou a espumar pela boca.

— —Ack?! — Ranta gritou, de repente voando pelo ar.

Isso foi rápido! Um chute voador—ele pegou ele?! Haruhiro pensou. Então o ustrel girou sua naginata com ambas as mãos, fazendo o escudo de Kuzaku voar.

— Argh?! — Kuzaku gritou.

— Nyun?! — Yume guinchou.

Yume foi chutada como Ranta. Por algum motivo, o ustrel parou logo em seguida. Ele estalou a língua, com os ombros e as costas subindo e descendo. Haruhiro, sinceramente, estava confuso. Mary também ficou parada. Shihoru foi a única que não.

— Ohm, rel, e— —

Shihoru tentou usar sua magia, mas antes que pudesse terminar o encantamento, o ustrel voltou a se mover.

O ustrel saltou, chutando Shihoru e a jogando para longe. Sem conseguir sequer soltar um som, Shihoru voou pelo ar como um objeto inanimado. Como um pedaço de lixo leve.

— Shi— — Haruhiro parou, sem palavras.

Por que consigo ver essa linha tênue de luz agora? O que está acontecendo? Por que meu corpo está se movendo por conta própria? Que inferno! Isso é só pode ser uma piada.

Quando Haruhiro começou a correr para seguir a linha, o ustrel virou-se para encará-lo.

É as pernas, ele pensou. As pernas. Se observarmos as pernas, saberemos quando ele vai começar a se mover.

O ustrel ergueu o joelho alto, impulsionou-se com força do chão e saltou. O ustrel veio voando. Haruhiro podia vê-lo. O ustrel esticou o pé direito.

Haruhiro moveu seu corpo para a esquerda, esquivando-se do pé direito do ustrel. Ele não apenas evitou o ataque, mas também desferiu um golpe diagonalmente sobre o joelho direito do ustrel. Haruhiro rolou por vontade própria e, ao se levantar, já não conseguia mais ver a linha.

O ustrel virou-se para encará-lo. Não foi um movimento suave. O ustrel estava claramente tentando proteger a perna direita. Isso significava que ele havia causado algum dano.

Mas—droga, Haruhiro pensou. Eu conseguia ver a linha, mas isso foi tudo o que fiz? Não consegui derrubá-lo. No entanto, apesar disso, encontrei uma pista. As pernas. São as pernas. Observe as pernas. De novo. Aí vem ele.

O ustrel levantou o joelho esquerdo alto, impulsionando-se vigorosamente do chão. Como usou a perna esquerda para o salto, parecia improvável que o ataque com o porrete tivesse causado muito efeito.

O ustrel veio voando. Haruhiro não conseguia ver a linha, e tudo o que conseguiu fazer foi desviar, mas pelo menos conseguiu. Haruhiro saltou para o lado esquerdo, evitando o chute voador do ustrel.

É agora que fica assustador! Ele pensou. Ele estava certo. Assim que o ustrel aterrissou, ele girou sua naginata com ambas as mãos. Se Haruhiro fosse atingido, seria o fim, mas se ele pudesse prever—Haruhiro deslizou por baixo da naginata, escapando.

— Mary, como está a Shihoru?! — ele gritou.

Não houve resposta.

Haruhiro sentiu uma tontura. Isso só podia ser uma piada. Não pode ser. Seu cérebro fervilhava.

Eu vou te matar. Desgraçado. Esse cara está morto, absolutamente morto. Mas a verdade era que Haruhiro estava mais perto de ser morto do que de matar o ustrel. O ustrel veio voando. Haruhiro estava observando as pernas do ustrel, então sabia o momento certo. O curso, também. Ele poderia evitar. Mas apenas por pouco. Isso era o melhor que conseguia fazer.

O balanço da naginata após um chute voador não era tão assustador. Havia uma razão clara para isso. O ustrel se impulsionava do chão com o pé esquerdo, tentava chutar Haruhiro com o direito e depois aterrissava no mesmo pé direito. No entanto, com o joelho direito machucado, havia um leve atraso antes que ele pudesse passar para a próxima ação.

Meu oponente não é um monstro, pensou Haruhiro. Bem, o cara é como um monstro, mas um que pode ser ferido. Espadas e flechas podem perfurá-lo. Ele não é invencível. Só que derrotá-lo vai ser difícil. Isso é um problema, sim. Um grande problema—Shihoru. Shihoru. Shihoru—Eu não tenho tempo para pensar em Shihoru. Tenho que me concentrar no ustrel.

— Grahhhhhh! — Kuzaku levantou-se. — Malditoooooo!

— Observe as pernas dele, Kuzaku! — Haruhiro gritou enquanto se esquivava de um chute voador.

— Se você observar as pernas dele, pode saber quando ele vai atacar! — Haruhiro gritou.

— Eu voltei à vida! — Ranta se levantou. — Vou ver através dos seus ataques!

Chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik, chik.

Assim que a luta virou três contra um, o ustrel desistiu de usar seu chute voador, e o som de sua língua estalando ecoou alto pela área. Seus braços se contraíram.

Ele desativou o modo de braços longos, mas o que ele planeja fazer agora? Haruhiro se perguntou. Seja o que for…

— Não se distraiam! — ele gritou. — Enquanto não tirarmos os olhos das pernas dele—

Haruhiro engoliu em seco. Ele está vindo. Lá vem ele.

Dessa vez, o ustrel não saltou. O ustrel disparou. Com uma postura incrivelmente baixa, a ponta da naginata à frente, ele avançava.

Eu vou ser atropelado, percebeu Haruhiro. Não. Torcendo o corpo, ele desviou da naginata por um triz. No entanto, não conseguiu se esquivar completamente. O corpo do ustrel o atingiu em algum lugar e, embora não tenha sido pisoteado, Haruhiro foi lançado para longe. — Urgh!

—  Whoa!

— Gah!

Logo atrás dele, Ranta e Kuzaku também foram arremessados. Haruhiro bateu as costas e os ombros ao cair, mas não foi nada grave. O ustrel havia corrido em um círculo distorcido, derrubando os três, e agora parou, com o corpo todo subindo e descendo—ele estava descansando?

Haruhiro sentou-se, olhando para Yume. Yume estava tentando encaixar uma flecha.

E então havia Mary. Mary estava—sentada ao lado da caída Shihoru, fazendo uma massagem cardíaca ou algo assim, talvez.

— Aqui está! — ela arfou. — O coração! Ó Luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre você! Sacrament!

Sacrament? Ela estava usando o milagre da luz, Sacrament?

Shihoru! O coração dela havia parado? Mary a havia ressuscitado desse estado. E então usou Sacrament, o feitiço que cura instantaneamente o alvo, desde que ainda esteja vivo. Ela já o havia utilizado uma vez em Ranta, então esta era a segunda vez que o usava. Seu último Sacrament.

Yume gritou — Miuaa! — e disparou uma flecha, que cravou no peito do ustrel.

O ustrel virou-se lentamente para Yume, fazendo aquele som ameaçador de chik, chik, chik, chik com a língua enquanto fazia isso.

Ranta e Kuzaku levantaram-se, gritando para se animarem. E então…

— T-Tudo bem! Já estou bem agora! D-Desculpa! — Shihoru também estava de pé.

— Não peça desculpas! — Haruhiro sentiu que poderia chorar—ou melhor, ele já estava derramando lágrimas. Mas não tinha tempo para limpá-las.

Haruhiro arregalou os olhos, encarando o ustrel. Vou observar você. Vou ver através de você.

O ustrel levantou o joelho esquerdo.

— É um chute voador! — Haruhiro gritou. — Yume!

— Miau! — Yume se encolheu como um rato de fossa e rolou, fazendo curvas rápidas para evitar o chute voador do ustrel. O ustrel aterrissou e depois baixou a postura. Ele havia se recuperado do dano na perna direita?

— O próximo é uma investida! — Haruhiro gritou. — Cuidado!

Mesmo enquanto dizia isso, Haruhiro queria retrucar para si mesmo, Sim, e como devemos tomar cuidado?

O ustrel começou a correr. Seus alvos eram Mary e Shihoru. Isso não era bom. Shihoru tinha acabado de ser curada. E se algo acontecesse com ela novamente? Mas Haruhiro não conseguia parar o ustrel. Não Haruhiro.

— Isso…! — Kuzaku se colocou no caminho. Parando na frente de Mary e Shihoru, ele estava pronto para um confronto direto com o ustrel, se necessário. Claro, isso era arriscado. Incrivelmente arriscado. Arriscado demais, mas…

— É por isso que eu sou um tanque!

Ele estava certo. Enquanto corria, Haruhiro havia gritado silenciosamente para ele, Vai! Ele não precisou dizer, porque Kuzaku fez isso de qualquer maneira. Ele bloqueou a investida do ustrel com seu escudo.

Então algo aterrorizante aconteceu. Ele se amassou. O escudo dele. Kuzaku avançou, como se não se importasse.

O ustrel continuou avançando também. A ponta da naginata que atravessou o escudo, deslizou pelo braço esquerdo de Kuzaku e perfurou seu ombro. Kuzaku girou sua espada longa no flanco do ustrel. Kuzaku, usando seu capacete, e o ustrel, com seu crânio metálico, colidiram as cabeças.

Kuzaku não saiu perdendo dessa colisão. Ele se manteve firme. Kuzaku tentou puxar sua espada longa, mas ela não saía.

O ustrel agarrou o capacete de Kuzaku com a mão esquerda, balançando a naginata para trás com a direita.

Não vou deixar, pensou Haruhiro.

Haruhiro não estava apenas sentado, mordendo os dedos em antecipação nervosa enquanto observava. Ele estava correndo. E agora, ele estava ali. Bem ao lado do ustrel.

Haruhiro não disse nada. Ele simplesmente agarrou o ustrel em silêncio, envolvendo o braço direito do ustrel por trás. Ele havia guardado seu porrete, mas estava segurando a adaga na mão. Com um golpe invertido, cravou a adaga no ombro direito do ustrel. Ele esfaqueou e torceu, torceu e rasgou.

Houve um som agudo e estridente. Não foi um grito. Não, era o ranger de dentes. O ustrel espumava pela boca, rangendo os dentes de forma extremamente violenta e agitando o braço direito. Ele estava tentando sacudir Haruhiro para longe.

Como se eu fosse soltar!

Da última vez, Haruhiro havia sido jogado por um salto vertical, mas com a espada longa de Kuzaku cravada no flanco do ustrel, ele provavelmente não conseguiria fazer isso agora.

Kuzaku soltou um grito de guerra, jogando seu corpo contra o ustrel e balançando sua espada longa em todas as direções. Incapaz de suportar mais, o ustrel tirou a mão do capacete de Kuzaku por um momento e o socou. Seu punho esquerdo golpeou repetidamente o capacete de Kuzaku com um clangor.

Kuzaku soltou grunhidos estranhos—Fugh! Gwah! Nuh!—e parecia que ele estava sentindo muita dor, mas estava aguentando firme. No entanto, desse jeito, ele não duraria muito tempo.

Essa é a sua deixa, não é?, Haruhiro pensou. Certo, cavaleiro das trevas?

Leap Out! Seguido de—Hatred!

Ranta avançou pela esquerda do ustrel, golpeando sua espada longa contra o topo do crânio metálico—não.

— É isso que você acha que vou fazer! — Ranta gritou. — Mas, na verdade, é Impulso do Tirano!

Não, não existe habilidade com esse nome, Haruhiro pensou. Você acabou de inventar isso agora? Bem, de qualquer forma, não é muito eficaz.

Quando a espada de Ranta já estava descendo diagonalmente, ele a puxou de volta, próxima às suas mãos, e então a balançou novamente quase horizontalmente. Ele não estava mirando no topo do crânio do ustrel—mas na boca. E, além disso, Ranta não usou a lâmina da espada—ele usou o lado plano da lâmina para acertar com força os dentes cerrados do ustrel.

Grash!

Não era uma voz, era a espada longa ricocheteando nos dentes do ustrel. De qualquer forma, os dentes dele não se quebraram. Quão duros eram esses dentes? Mesmo assim, o ustrel recuou.

Talvez pensando, Esta é a minha chance, Kuzaku puxou sua espada longa do flanco do ustrel. Ele deve ter esperado poder cravá-la mais algumas vezes.

Haruhiro entrou em pânico. — Você…! Você é estú—!

O ustrel imediatamente pulou.

Como você consegue pular tão alto? Isso nem faz sentido! Haruhiro queria protestar. Esse foi o quão incrível aquele salto foi. O corpo de Haruhiro foi lançado para cima.

O impacto quando aterrissarmos vai ser terrível, ele pensou. Ele tentou se preparar para isso, mas foi ainda pior do que ele imaginava.

Não parecia que ele havia caído, mas sim que havia sido lançado para cima. Seu cérebro chacoalhou dentro do crânio, e ele ficou desorientado. Mesmo nesse estado, Haruhiro não permitiu que o abalasse. No entanto, ele talvez não conseguisse manter isso por muito mais tempo.

O ustrel começou a se debater descontroladamente. Além disso, ele estava correndo para todos os lados.

Não dá. Não consigo mais segurar, Haruhiro pensou enquanto finalmente era lançado para o ar.

Vou morrer?, ele se perguntou por um momento. Não, não, não, não. Eu não vou deixar isso acontecer.

Eram em momentos como esse que as inúmeras vezes que ele havia sido lançado por Barbara-sensei se mostravam úteis. Haruhiro se preparou para a queda. Enquanto se levantava, o ustrel quase avançou contra ele e tentou jogá-lo novamente, mas, de alguma forma, ele conseguiu evitar isso.

Haruhiro gritou — Afastem-se! Afastem-se! — enquanto corria. Ele estava dolorido em todo o corpo, mas por agora precisava colocar alguma distância entre o ustrel e ele.

Eventualmente, o ustrel parou de se mover.

Havia o som de uma respiração pesada. O ustrel estava se apoiando na naginata, com os ombros subindo e descendo a cada respiração.

Parece que até mesmo o poderoso ustrel se cansa, pensou Haruhiro. Não. Isso não é tudo.

A vestimenta enegrecida do ustrel estava rasgada e dilacerada, revelando a pele marrom e os ferimentos por baixo. Um líquido viscoso que parecia óleo estragado escorria desses ferimentos. Aquilo era o sangue do ustrel? Quando olhou para baixo, Haruhiro viu que sua adaga e seu corpo inteiro estavam cobertos naquele líquido.

Não era apenas exaustão. Os ataques de Haruhiro e da party estavam realmente surtindo efeito.

Nossa formação está quebrada, Haruhiro pensou. Tecnicamente estamos cercando o ustrel, mas isso é apenas coincidência. Mary e Shihoru são as únicas que permaneceram juntas, enquanto o resto de nós se espalhou.

Então… devemos correr?

No momento em que essa opção cruzou sua mente, o ustrel levantou o joelho esquerdo. Haruhiro gritou:

— É um chute voador! Ranta!

Em vez de responder, Ranta usou Leap Out para desviar do ustrel que avançava.

No momento em que o ustrel aterrissar, ele vai virar para a direita e levantar o joelho esquerdo—ou não, Haruhiro pensou. Será que ele vai abaixar a postura e investir, então? Não. Ele não está se movendo. O ustrel estava ofegante, suas respirações estavam pesadas e difíceis.

Será que ele está bastante exausto? Haruhiro se perguntou. Devemos atacá-lo todos juntos? É uma decisão difícil. Sinto que o ustrel pode revelar reservas ocultas de força. Além disso, não temos mais Sacrament.

Nos meros dois a três segundos em que Haruhiro hesitou, o ustrel recuperou o fôlego mais uma vez.

Ele estava investindo. Na direção de Haruhiro.

Haruhiro soltou um Oh…

Dessa vez, a naginata que normalmente era projetada para fora durante as investidas estava, em vez disso, retraída.

Será que ele vai fazer um balanço? Haruhiro pensou freneticamente. Também pode ser uma estocada com o pomo. O que devo fazer? Difícil decidir. Eu tenho que ir. Ir para onde?

Vamos nessa. Haruhiro se dirigia para o ustrel. A naginata. Ela está vindo. Bem antes disso, ou exatamente ao mesmo tempo, ele deslizou. O chão era basicamente rocha nua, então ele não conseguiu deslizar muito bem. Apesar disso, ele conseguiu chegar até os pés do ustrel.

Haruhiro conseguiu agarrar as canelas esquerda e direita do ustrel, ou melhor, ele colidiu com elas. Quanto ao que aconteceu depois disso, ele não foi capaz de descobrir imediatamente.

A próxima coisa que soube foi que estava rolando pelo chão.

Meus pés, ou minhas pernas como um todo, doem tanto que parecem quebrados—ou será que não? Na verdade, não dói, mas o principal é que não consigo movê-los. Eles não se mexem e mal consigo senti-los. Cadê o ustrel? Ele está lá, claro, mas ele caiu.

Ranta e Kuzaku correram na direção do ustrel, tentando aproveitar a chance para acertá-lo enquanto podiam. Mas o ustrel estava tentando se levantar. Quem seria mais rápido?

Foi o ustrel. Usando sua naginata como apoio, ele se levantou. Ranta e Kuzaku conseguiram desferir um golpe cada, mas o ustrel não caiu. Além disso, ele balançou sua naginata de maneira selvagem, forçando Ranta e Kuzaku a recuarem.

Yume gritou — Toma essa! — e acertou uma flecha no ombro esquerdo do ustrel, mas ele nem se mexeu. Enquanto isso, Haruhiro não conseguia se mover.

O que está acontecendo? Isso é—

Enquanto começava a se perguntar, Mary e Shihoru correram até ele. Sem lhe dar chance de protestar, as duas o arrastaram para longe.

Sou grato e tudo, mas não sou um objeto… Haruhiro pensou. Acho que não posso culpá-las.

— M-Mary, c-como está sua magia…? — ele perguntou, quase desmaiando.

— Posso usar Cure mais algumas vezes! — Mary respondeu imediatamente.

Talvez devêssemos fugir, afinal, Haruhiro pensou. Mas como…?

— Ó luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre você… Cure!

Quando Mary o tratou com magia, Haruhiro logo voltou a sentir suas pernas. Graças a isso, a dor também voltou. Era intensa o suficiente para que ele não conseguisse ignorá-la, então provavelmente era um ferimento bastante sério, mas Mary iria tratar dele—ou deveria.

Ela vai curá-lo… certo? Enquanto Haruhiro suportava a dor, Kuzaku foi arremessado pelo avanço do ustrel, e Ranta se esquivou, conseguindo um golpe superficial enquanto o ustrel passava. O ustrel parou a uma certa distância deles, ofegando enquanto fazia uma pausa.

Yume gritou — Miau! — e atirou novamente no ustrel.

Kuzaku está bem? Ele conseguiu se levantar sozinho. O ustrel estava definitivamente ficando mais fraco.

— Podemos derrotá-lo — Haruhiro assentiu.

É isso mesmo. Podemos fazer isso. Mas não podemos nos deixar levar. Não podemos nos dar ao luxo de ser otimistas. Precisamos evitar acidentes. Em vez de tentar derrubá-lo de uma vez, precisamos desgastá-lo gradualmente, de forma dura e impiedosa.

O ustrel começou a se mover. Kuzaku gritou enquanto era derrubado, enquanto Ranta se esquivou como antes, conseguindo outro golpe, mesmo que fosse leve. O ustrel parou logo depois disso e, enquanto ofegava, Yume disparou outra flecha nele.

Infelizmente, a flecha errou o alvo, mas Ranta e Yume sabiam exatamente o que deveriam fazer.

Isso mesmo! Haruhiro os incentivou mentalmente.

A luz desapareceu da mão de Mary, que estava levantada na direção de Haruhiro. O tratamento estava concluído.

Okay. Tenho que fazer isso, então vou fazer. Eu vou fazer isso, Haruhiro disse a si mesmo, levantando-se com um salto.

— Vamos derrubá-lo! — Haruhiro gritou. — Foquem em desviar, mas contra-ataquem quando acharem que podem! Ranta, Yume, continuem assim! Kuzaku, pare de ser acertado tanto! Observe bem os movimentos dele! Já deveria ter entendido isso! O inimigo está ficando bem fraco!

— Gwah! — Kuzaku gritou.

Momentos após Haruhiro terminar de falar, Kuzaku não conseguiu evitar o ataque do ustrel e foi arremessado novamente.

Ranta usou Leap Out para saltar na diagonal, passando pelo ustrel e conseguindo um corte nele, soltando um grito de satisfação. O ustrel continuou avançando, mas parou de repente.

Yume gritou — Miau! — e disparou mais outra flecha, desta vez perfurando as costas do ustrel.

Kuzaku estava tentando se levantar, mas estava tendo dificuldades.

— Mary, ajude o Kuzaku! — Haruhiro chamou. — Shihoru, fique ao lado da Mary!

— Okay! — Mary respondeu.

— Certo! — Shihoru acrescentou.

Haruhiro correu com toda a sua força, escolhendo deliberadamente parar na frente do ustrel. Ele respirou fundo. O ustrel levantou seu joelho esquerdo bem alto.

Um chute voador, hein? Venha.

Ele veio.

Comparado a como as coisas estavam no início, a velocidade do ustrel havia caído consideravelmente. Ele não era mais assustador. Haruhiro manteve a calma, desviando do chute voador do ustrel. Quando se virou, o ustrel tentou desferir um golpe com a naginata.

Eu consigo ver isso também, Haruhiro pensou. Está lento. Muito lento. Talvez eu possa me aproximar? Não, melhor não arriscar.

Enquanto Haruhiro desviava facilmente e se esquivava da naginata, Ranta gritou — Toma essa! — e tentou acertar o ustrel. O ustrel bloqueou com o braço esquerdo, mas o contra-ataque foi fraco. Ranta manteve sua posição, sem ser arremessado para longe.

Brilho! — Ranta gritou, e se seus olhos tivessem a função de brilhar, eles sem dúvida teriam brilhado magnificamente. Claro, eles não tinham essa função. — Execução do Demônio do Inferno!

De novo, essas habilidades não existe, Haruhiro pensou.

Tudo o que Ranta fez foi usar sua resistência natural para balançar sua espada longa de forma errática. Era só isso. Não havia como aquilo funcionar contra o ustrel. Quando o ustrel tinha mais energia, ele teria desviado a espada de Ranta, e isso teria sido o fim. Mas agora, as coisas eram diferentes.

O ustrel usou o braço esquerdo e a naginata, que ele segurava mais próximo ao cabo, para bloquear a espada longa de Ranta. Ele bloqueou, e bloqueou novamente. Ele estava preso na defensiva. Ranta estava empurrando o ustrel para trás. Ele o estava encurralando.

Não adianta dizer para Ranta não ficar arrogante agora, Haruhiro pensou. Afinal, ele é o Ranta. Nesse caso, vou fazer algo antes que o Ranta perca o fôlego!

Haruhiro rapidamente se posicionou atrás do ustrel. Quando estava encarando as costas de um inimigo assim, era estranhamente reconfortante. O ustrel tinha um dorso largo. Com algumas flechas cravadas nele. Três, para ser exato.

Ali, talvez, Haruhiro pensou enquanto escolhia um alvo. Ustrel ou não, ele ainda era uma criatura humanoide, então, mesmo que Haruhiro não pudesse ver a linha, ele mais ou menos sabia onde atacar.

Se algo parece um ponto vital, vou confiar que é, Haruhiro pensou. Se eu estiver errado, bem, lidarei com isso quando chegar a hora. Backstab. Eu consigo.

Aproximando-se suavemente, ele cravou a adaga no ponto que havia escolhido. Não parecia ter sido um golpe ruim, e o corpo inteiro do ustrel tremeu por um momento, então talvez tenha sido—não. Haruhiro pulou para longe do ustrel imediatamente.

— Ohgoagogogogoahgoahohgaohgaohgoga!

— O quê…? — Ranta gritou.

A espada que Ranta usava para bloquear a naginata do ustrel foi arremessada para longe. O jeito que o ustrel se movia mudou de repente. Se fosse para descrever com não uma, mas duas palavras, seria violento e errático. Além disso, ele parou de ranger os dentes e começou a uivar.

— Uwahhhhhhhhhh?! — Ranta gritou. — Haruhiro, Maldito, o que você fez?!

O ustrel começou a perseguir o agora desarmado Ranta enquanto uivava loucamente.

Ranta usou uma mistura de Leap Out e Exhaust para fugir. Ele continuava correndo, ocasionalmente recebendo um arranhão da naginata do ustrel. De alguma forma, ele estava conseguindo escapar com vida por enquanto.

Foi o Backstab. Sem dúvida. Esse foi o efeito daquele Backstab. Alguém já havia dito que um animal ferido é o mais perigoso, e o ustrel estava encurralado. Ele estava usando suas últimas reservas de força para tentar matar seus inimigos. Em outras palavras, Haruhiro e a party. Se ele não conseguisse, o ustrel estaria acabado.

Este era o momento em que a batalha seria decidida.

— Ele só está adiando o inevitável! — Haruhiro gritou. — Vamos resistir! Aguentem firme e desgastem ele!

— Miau! — Yume disparou uma flecha na bunda do ustrel.

Ranta gritou. Ele provavelmente estava tentando chegar até sua espada longa, mas simplesmente não conseguia.

— M-M-M-Me ajudem, seus idiotas!

— Oh, sim, estou de volta! — Kuzaku estava de pé novamente depois que Mary usou Cure nele.

Bem, isso é bom e tudo, mas ele está parecendo estranhamente agitado, Haruhiro pensou. Será que ele está bem?

Bem ou não, Kuzaku investiu contra o flanco do ustrel. Quando o ustrel balançou sua naginata em sua direção, Kuzaku brandiu sua espada longa com as duas mãos, bloqueando-a com um som estridente e depois empurrando-a de volta.

Kuzaku gritou: — Ah, simmmmmm!

— Ogoagoahhhh! — o ustrel uivou, batendo sua naginata em Kuzaku. Ele o atingiu com ela repetidas vezes.

Kuzaku não cedeu, gritando de volta: — Gahhh! Wahhh! Zahhh! — enquanto desviava a naginata com sua espada longa. Por enquanto, ele estava conseguindo desviar, mas se errasse uma única vez, seria o fim.

Honestamente, estou com medo de assistir, Haruhiro pensou. Mas se eu gritar para ele sem cuidado, posso acabar atrapalhando. Agora, a concentração do Kuzaku está insana. Não quero quebrar isso.

Ranta pegou sua própria espada longa. — Nos encontramos novamente, minha Excalibur!

Excalibur? Haruhiro pensou enquanto se movia para ficar atrás do ustrel.

Yume estava preparando uma flecha, mas com Kuzaku e o ustrel travados em um combate feroz, ela não conseguia alinhar o tiro.

Os olhos de Haruhiro e Mary se encontraram. Mary imediatamente levantou dois dedos. Dois Cure sobrando, isso significava.

Shihoru deu um passo à frente.

— Jess, yeen, sark, fram, dart! — ela recitou, desenhando sigilos elementais com seu cajado.

Lightning. O trovão ribombou, e um raio de eletricidade perfurou o ustrel. Seu corpo estava convulsionando, e parecia que ele ia cair. No entanto, ele conseguiu se manter em pé, mas Kuzaku aproveitou essa oportunidade para desferir um contra-ataque.

— Gah! Gah! Gahhh!

Seus golpes eram desordenados, e ele claramente estava se aprofundando demais. Ainda assim, deu certo. Quando a espada de Kuzaku empurrou e a naginata do ustrel pressionou de volta, era como se seus punhos tivessem se entrelaçado. Eles não estavam realmente entrelaçados, porque uma naginata não tem guarda-mão, mas parecia que estavam. O cabo da espada longa de Kuzaku e o punho do ustrel, que segurava a naginata, estavam se chocando um contra o outro. De qualquer forma, eles estavam em um impasse.

Agora é nossa chance! era algo que Haruhiro não precisava dizer a ninguém.

— Miau! — Yume disparou uma flecha, atingindo o ombro direito do ustrel.

Leap Out, seguido deeeee—Golpe satânico! Foi um nome impressionante e tal, mas tudo o que Ranta fez foi pular no ustrel e cortar seu ombro esquerdo.

Haruhiro pulou nas costas do ustrel. O capacete metálico em forma de crânio cobria o pescoço também, mas Haruhiro sabia que o ustrel não tinha armadura cobrindo o peito, as costas, o tronco ou os ombros. Haruhiro enfiou sua adaga logo abaixo da borda daquele capacete. Ele o apunhalou com determinação e então recuou imediatamente.

— Gugohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! — o ustrel gritou.

— Merda?! — Kuzaku foi empurrado para trás e caiu de costas.

Ah, droga.

O ustrel não tentou atacar Kuzaku enquanto ele estava caído. Ele tropeçou com seu imenso corpo, balançando de maneira instável, enquanto apoiava o cabo da naginata no chão.

Será que conseguimos? Haruhiro pensou. Não, parece que ainda não.

— Ogoh! — o ustrel levantou sua naginata, girando seu corpo.

— Whoa, recuem! — Haruhiro saltou para trás.

Kuzaku gritou, rolando e se arrastando para escapar. Ranta também recuou. Yume, Mary e Shihoru já estavam à distância, então estavam seguras.

O ustrel girou sete vezes, depois se apoiou na naginata, exausto. Eles observaram por um tempo, mas ele não mostrou sinais de movimento.

Provavelmente está descansando, Haruhiro pensou. Nada bom.

— Ataquem! — ele gritou.

Assim que todos correram para atacar, o ustrel começou a girar novamente.

Quando eles recuaram apressadamente, o ustrel ficou sem forças após girar sete vezes e se apoiou na naginata.

Não vamos deixar você descansar mais, Haruhiro pensou ferozmente. Ele gritou: — Vamos!

Ranta e Kuzaku conseguiram acertar alguns golpes, Yume disparou uma flecha, e o próprio Haruhiro desferiu um golpe forte com seu porrete. Nesse momento, o ustrel começou a girar novamente, então eles recuaram. Dessa vez, ele não conseguiu girar sete vezes, apenas seis. Parecia que isso estava sendo bastante difícil para o ustrel. Nesse ponto, Haruhiro nem precisava mais dar o sinal.

Haruhiro e os demais atacavam, cada um desferindo um ou dois golpes, e então o ustrel iniciava seu grande giro. Eles recuavam, contando o número de rotações. Um, dois, três, quatro, cinco, seis giros. Um trabalho incessante. Não se permitiam perder tempo pensando em coisas desnecessárias antes de atacar novamente.

Eles cortavam, batiam, atiravam. O ustrel girava, forçando Haruhiro e os outros a se afastarem temporariamente.

Três, quatro, cinco, e ele parecia prestes a perder o controle no sexto giro.

Fazendo questão de não pensar Podemos fazer isso, ou Só mais um pouco, eles se aproximavam, quase mecânicos em seus ataques. Eles atacavam e atacavam.

O ustrel uivou, então todos recuaram e se prepararam, mas o grande giro não veio.

Haruhiro e Ranta trocaram olhares.

Ranta queria avançar. Haruhiro rapidamente balançou a cabeça. Ele não iria agir de forma imprudente depois de chegar tão longe. Ele temperou cautela com ainda mais cautela. Não importava o que acontecesse, ele não iria deixar ninguém morrer ali. Essa era sua principal prioridade. Tudo bem deixar algumas oportunidades passarem. Ele só teria que aproveitar a próxima.

Haruhiro olhou para o ustrel. Sentiu vontade de piscar, mas resistiu. O ustrel estava colocando mais peso na naginata do que em suas próprias pernas.

A boca do ustrel se abriu, emitindo um som sibilante, enquanto um líquido espesso e escuro escorria. Ele parecia tão pequeno, de alguma forma. O ustrel havia sido tão grande, mas agora parecia tão pequeno.

Primeiro, seus joelhos cederam. O ustrel prendeu a naginata entre as pernas, ficando em uma posição sentada, e então a máscara metálica em forma de crânio se virou para eles. Uma língua laranja caiu para fora, e um som de gemido escapou, depois cessou. Depois disso, o ustrel não se moveu mais.

Haruhiro usou Sneaking para se aproximar do ustrel por trás. Quando estava a cerca de um metro e meio de distância, o capacete metálico em forma de crânio de repente se virou na direção de Haruhiro, e ele pensou que seu coração poderia parar.

Caralho, ele pensou. Foi bem assustador. Ele vai vir? Vai mesmo? Okay. Se ele vier, eu consigo fugir. Estou preparado. Sem problemas. Eu dou conta disso. Mas não vejo nenhum sinal de que o ustrel esteja respirando.

Haruhiro mordeu o lábio. Ele respirou fundo e curto. — Finalizem ele!

No momento em que ele gritou, Ranta, Kuzaku e Yume correram em direção ao ustrel. Depois disso, foi só espadas longas, facão, e mais cortes, esmagando e espancando o ustrel.

Haruhiro também participou. Mary e Shihoru não.

Mesmo enquanto balançavam suas armas com toda a força, Haruhiro—não, todos, incluindo Haruhiro—estavam perfeitamente calmos. O objetivo deles era claro. Terminar com o ustrel. Erradicar completamente a ameaça que ele representava.

Mesmo quando o ustrel caiu no chão, eles continuaram por um tempo. Certamente não era uma sensação boa. Mas era necessário. Parar para verificar o pulso, para se certificar de que ele estava morto—não tinham tempo para isso. Eles tinham que matá-lo completamente.

Uma vez que o ustrel estava totalmente destruído, todos pararam.

Depois de tudo isso, estou exausto. Não tenho vontade de falar, Haruhiro pensou. Se eu disser uma única palavra, parece que minha alma pode escapar junto com ela. Eu morreria se minha alma escapasse assim.

— …Conseguimos. — Ranta exalou profundamente, inclinando-se para trás e balançando os braços. — Conseguimos! Conseguimos, maldito! Matamos aquele ustrel de vez! Você gosta disso, seu pedaço de lixo?!

— Isso foi tenso… — Yume desabou no chão. Ela estava encharcada de suor, seu cabelo grudado no rosto. Ela parecia exausta. Estava tão ruim que você podia se perguntar quantos quilos ela tinha perdido só com essa luta. — Chega disso…

— Eu… — Kuzaku estava agachado, com a cabeça baixa. — Eu… pensei… que ia… morrer…

— Haru. — Mary sinalizou para ele com os olhos. Ela fez um gesto para indicar que ela e Shihoru ficariam de vigia.

Haruhiro assentiu, como quem diz, Isso vai ajudar. Sério.

Isso foi loucura, ele pensou. Estávamos caminhando sobre gelo fino ali. Um gelo muito fino. Isso parece uma vitória? Nem um pouco. Isso é uma vitória? Não é uma derrota. Isso eu posso dizer com certeza. Não, o ustrel está morto ali, então deve ser uma vitória. E não por uma grande margem, também. Se tivéssemos que fazer isso dez vezes, não posso dizer que venceríamos todas, mas provavelmente ganharíamos seis delas. Houve várias crises, mas conseguimos superar de alguma forma, e faremos ainda melhor na próxima vez. Se assumirmos que, desta vez, vencemos uma batalha que tínhamos sessenta por cento de chance de vencer, da próxima vez, deveríamos conseguir aumentar nossas chances para setenta por cento. Depois disso, será oitenta. Depois noventa. À medida que repetimos o processo, podemos chegar ao ponto em que nunca perderemos.

Experiência. Isso era o que significava adquirir experiência. E a experiência adquirida na luta contra o ustrel poderia ser usada em batalhas contra outros inimigos.

Na verdade, se eles não tivessem enfrentado a luta até a morte em Deadhead, teriam entrado pânico apenas ao encontrarem o ustrel, o que facilmente poderia levá-los ao extermínio. Na verdade, não poderia; teria definitivamente causado.

Ficar mais forte não era apenas aprender habilidades, adquirir novos equipamentos, construir resistência e fortalecer os músculos—era mais do que isso.

Eles precisavam passar por isso. Precisavam usar suas próprias cabeças e corpos para aprender o terror, a dureza, as dores e as dificuldades. Depois, tinham que superá-las.

É verdade, Haruhiro e seus companheiros não eram fortes. Não importava o quanto treinassem, Haruhiro, por exemplo, nunca poderia se tornar como Renji. No entanto, a cada experiência como essa, eles talvez não se aproximassem da Equipe Renji, mas Haruhiro e a party poderiam crescer à sua própria maneira. Se tivessem experiências diferentes das de Renji e sua party, ganhariam conhecimentos diferentes, especialidades diferentes e expandiriam suas habilidades de forma distinta. Mesmo que fossem inferiores noventa e nove por cento do tempo, só uma vez, eles não perderiam. Era totalmente possível que isso acontecesse.

Potencial.

Ele está lá. 

Ainda temos potencial.

Moguzo. Mesmo agora que te perdemos, ainda há coisas que podemos fazer. Muitas, na verdade. Se for o caso, pode até haver coisas que teremos que fazer só porque te perdemos.

Se você pudesse ter ficado conosco para sempre, isso teria sido o melhor. Mas só porque te perdemos, não significa que está tudo acabado. Me sinto mal por você, e me sinto muito triste, muito solitário ao dizer isso, mas precisamos seguir em frente. Podemos continuar avançando.

Haruhiro colocou a mão no ombro de Yume. — Bom trabalho. Muitas das suas flechas acertaram o alvo hoje. Depois de todas as vezes que você falou sobre como era ruim nisso, você foi incrível.

— …É. — Yume olhou para Haruhiro, segurando sua mão com força. Não era só suor. Ela também tinha lágrimas nos olhos. — Yume, ela não podia continuar dizendo que era ruim nisso. Yume precisa fazer as coisas que Yume pode fazer, sabe? Não é sobre precisar se esforçar—Yume quer se esforçar.

— Yume, eu sei que você está se esforçando — disse Haruhiro.

— Bem, sim, mas Yume pode fazer muito, muito mais.

— Eu diria que está tudo bem se você for aos poucos, não acha? — disse Haruhiro. — Você não precisa fazer tudo de uma vez. Temos bastante tempo para trabalhar nisso.

— Talvez você esteja certo. — Yume franziu a testa e mordeu o lábio.

Se Haruhiro e a party continuassem assim, provavelmente sobreviveriam até o amanhã de alguma forma, mas isso não era verdade para todos.

O mundo não era nem igual nem justo. Alguém já havia dito que a única coisa que era igual para todos era o tempo. Mas isso não era verdade. Embora o tempo possa fluir igualmente para todos, o nosso pode ser facilmente tirado de nós. Isso era algo que Haruhiro e os outros não precisavam lembrar, porque sabiam muito bem.

Haruhiro apertou firmemente o ombro de Yume e, em seguida, soltou-o. Não tinha nada a dizer a Ranta. Deu-lhe um tapa nas costas, e Ranta respondeu com um “Heh”.

— Shihoru. — Quando Haruhiro a chamou, Shihoru encolheu o pescoço, parecendo culpada. Não, eu ainda nem disse nada. — Seu tempo de conjuração foi muito bom. Isso nos ajudou bastante.

— Ainda há muito espaço para melhorar… — disse Shihoru. — Na verdade, ainda não tenho poder de fogo suficiente…

Embora parecesse tímida, Shihoru tinha a coragem de enfrentar suas próprias fraquezas. Isso significava que, mesmo sendo fraca, ela poderia se tornar mais forte. No caso de Shihoru, provavelmente seria melhor incentivá-la a melhorar do que consolá-la.

— Sim — disse Haruhiro. — Do jeito que as coisas estão, sua magia não pode ser o golpe decisivo contra inimigos mais poderosos. Acho que você poderia buscar isso como um objetivo.

— Sim — ela respondeu timidamente.

— Não precisa ser tão submissa…

— D-Desculpe…

Shihoru baixou a cabeça, e Mary deu-lhe um tapinha nas costas.

É meio agradável vê-las assim, Haruhiro pensou. Não estou com ciúmes nem nada. Quando vejo garotas que são próximas, isso me acalma de uma forma estranha. Quando é um garoto e uma garota, isso é mais constrangedor, porém.

Mary estava olhando para ele, então Haruhiro lhe deu um sorriso. Mary sorriu de volta, só um pouco.

Isso não é ruim também. Sinto que Mary e eu realmente conseguimos nos comunicar. Apenas como colegas na mesma equipe, mas ainda assim. Quando se trata de algo além disso, ou diferente, não tenho tanta certeza. Não sinto que poderíamos. Não que precisemos. Afinal, somos colegas na mesma equipe.

Haruhiro se virou para Kuzaku e lhe ofereceu a mão. — Você vai ter que comprar um escudo novo, hein.

— …Acho que sim. — Kuzaku estendeu a mão, Haruhiro a segurou pelo pulso e o puxou para cima.

Ainda assim, esse cara é grande, hein? Haruhiro pensou. Quando você é alto e magro, isso é uma verdadeira vantagem. Mesmo que seu rosto seja bem normal, você ainda parece relativamente legal.

— Diferente de antes, você realmente fez seu trabalho como tanque — disse Haruhiro. — Vou exigir mais e mais de você a partir de agora, então prepare-se para isso.

— Eu vou fazer — disse Kuzaku. — O que for preciso. Para que eu não morra—na verdade, para que eu não deixe mais ninguém morrer também.

— Estou contando com você. — Haruhiro deu uma cutucada nas costelas de Kuzaku.

Talvez eu devesse criar uma regra contra romances dentro da party, ele pensou por um momento. Se as pessoas dentro da party começarem a namorar ou terminarem, isso pode causar muitos problemas, então talvez seja uma boa ideia.

Com um olhar para os restos do ustrel, ele olhou para a estreita fenda de céu visível do interior do cânion chamado Buraco das Maravilhas.

Aqui, neste Buraco das Maravilhas, vamos ficar mais fortes, Haruhiro decidiu. Vamos acumular uma tonelada de experiência, ganhar cada vez mais força e—essa parte me faria ser alvo de risos, então nunca vou dizer isso em voz alta—mas um dia, vamos chegar ao ponto de podermos ficar lado a lado com o Soma. Eu juro que vamos.


*

In this post:

Deixe um comentário

Ads Blocker Image Powered by Code Help Pro

Adblock detectado! Desative para nos apoiar.

Apoie o site e veja todo o conteúdo sem anúncios!

Entre no Discord e saiba mais.

Você não pode copiar o conteúdo desta página

|