Capítulo 3

O que é bravura? (Parte 1)

— Kuzaku-kun?! — Yume gritou sem parar de correr. — Kuzaku-kun?! Kuzaku-kun?! Shihoruuu, o Kuzaku-kun não tá mais vindo com a gente!

— Não, Yume, você não pode parar! — gritou Shihoru.

— M-Mas ainda assim!

— Primeiro, precisamos evitar que o inimigo nos capture! Essa é a prioridade! Tenho certeza de que o Kuzaku-kun vai ficar bem!

Será que isso era realmente certo? Yume não tinha tanta certeza. Também não parecia que Shihoru estava despreocupada. Mas, por enquanto, como Shihoru havia dito, elas precisavam evitar ser capturadas pelo inimigo. Em vez de lutar, precisavam correr. Depois poderiam se reunir com Haruhiro e Mary.

Yume precisava fazer isso, tentando não pensar em Ranta. Se pensasse nele, não conseguiria se mover. Isso seria péssimo.

Correr. Ela precisava correr.

De repente, pareceu que tudo ficou mais escuro. A névoa estava incrivelmente espessa. E não era só isso.

— Tá chovendo! — gritou Yume.

Uma chuva pesada, aliás. As gotas eram pequenas, mas logo começaram a cair em maior quantidade e com mais intensidade. Parecia que incontáveis lanças finas como fios de cabelo desciam do céu.

Amortecidos pela chuva, os sons da batalha pareciam incrivelmente distantes. A visão delas também estava extremamente limitada. Era quase como se a chuva formasse uma parede à sua frente.

Isso tornaria mais difícil para o inimigo encontrá-las. No entanto, se o inimigo se aproximasse, também seria difícil detectá-lo.

Mas, mais importante, e o Kuzaku?

Yume e Shihoru não conseguiam ver Kuzaku, e Kuzaku não sabia onde Yume e Shihoru estavam. Nesse caso, talvez permanecessem separados.

Mais à frente, o terreno à esquerda era mais elevado e denso de árvores. Yume achou que fossem árvores, pelo menos. Não eram humanos nem orcs.

— Shihoru! Por enquanto, vamos por ali! — chamou Yume.

— …Certo!

Quando se aproximaram, havia folhagens suficientes para que pudessem se esconder. Yume entrou nos arbustos junto com Shihoru, e ambas se agacharam.

Shihoru respirava com dificuldade. Ela era uma maga, afinal, e não tinha muita resistência física, mas também não era do tipo que reclamava com facilidade. Fazia tempo que Shihoru vinha se tornando mais forte. Lá no começo, ela vivia chorando.

— E agora? — perguntou Yume. — Shihoru, o que você acha que a gente devia fazer?

— Haruhiro resgatou a Mary.

— Aquele velho de Fonkon? Ele tava dizendo isso, né?

— Você quer dizer Forgan…

— Ohh — disse Yume. — Foi mal por isso. Yume tá sempre errando coisas assim.

— Tá tudo bem. Você é ótima do jeito que é, Yume. Eu é que devo desculpas. Foi mal por estar sempre te corrigindo.

— Yume agradece quando você corrige. Isso significa que ela pode melhorar.

— …Acho que é verdade. — Shihoru sorriu levemente. — Como aquele Takasagi voltou, acho que o Haruhiro e a Mary conseguiram escapar. Se conseguiram, devem ter ido para o ponto de encontro.

— É, faz sentido — concordou Yume.

— O melhor seria se eu, você e o Kuzaku-kun pudéssemos ir juntos ao ponto de encontro, mas…

— Mas o Kuzakkun sumiu, né…

— Não seria bom sairmos procurando por ele… — acrescentou Shihoru. — Por enquanto, vamos esperar aqui…

— Sabe, é bem difícil — disse Yume. — Só ficar esperando.

— É… — Shihoru colocou a mão na lombar de Yume. — Mas eu tô aqui com você.

— É verdade, huh. — Yume sorriu. Sentia que deveria sorrir, mesmo que precisasse forçar. — Pensando bem, Shihoru e Yume estão quase sempre juntas.

— Acho que é porque você sempre aguenta alguém como eu.

— Não é verdade isso — protestou Yume. — Você é fofa, Shihoru, e… você é fofa. Você é fofa, tá?

Shihoru riu baixinho.

— …Você tá só repetindo.

— Nngh, queria conseguir pensar em mais coisas pra dizer. Mesmo quando alguma palavra vem à cabeça, não parece ser a certa.

— Eu entendo. Seus sentimentos estão chegando até mim, então… acho que entendo.

— Sério? — perguntou Yume.

Por que isso aconteceu? Qual tinha sido o gatilho para isso?

Por um momento, sua mente ficou vazia. Então algo parecia infiltrar-se naquela cabeça vazia e preenchê-la. Crescia a cada momento, até transbordar, saindo pelos seus olhos.

— …Yume? — Shihoru olhou para o rosto de Yume. — O que… aconteceu?

— O que… aconteceu, huh? — Yume fechou os olhos com força. — Yume não sabe disso direito.

— …É por causa do Ranta-kun?

Agora que Shihoru disse isso, Yume percebeu que era.

Ranta.

Ela estava tentando não pensar nele, e achava que estava conseguindo. Pensar no assunto não resolveria nada. Só ia deixá-la com raiva. Ranta sempre fora assim. Sempre havia sido.

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